Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 5
Pérola e Ian!


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, esse capitulo e o próximo serão da Pérola e Ian, na visão dela, okay? Espero que gostem, amo vocês, comentem... rs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/644677/chapter/5

Hoje eu consigo entender perfeitamente o que meu pai sempre me dizia, que quando ele me pegou no colo pela primeira vez foi como se só então ele entendesse o quão forte pode ser o amor e mesmo que eu sempre sentisse o quanto ele me ama e o amasse de volta, foi realmente assustador o tipo de amor que me invadiu a primeira vez que eu a peguei em meus braços, senti como se a minha vida inteira antes fosse preta e branca e só naquele segundo, naquele pequeno momento em que eu a toquei tudo se colorisse, da forma mais brilhosa e alegre possível, quando aqueles olhinhos se abriram pela primeira vez eu soube que nada jamais iria ser tão importante pra mim quanto ela, e hoje, seis meses depois eu ainda perco o ar toda vez que me aproximo do berço e a vejo dormindo tão tranquilamente, ela já parece tão grande, tão maior do que aquele pequeno ser que saiu de dentro de mim que sinto que o tempo tem passado muito mais rápido desde que ela chegou na minha vida e pode parecer clichê pros filhos quando escutam dos pais o quanto o tempo passa rápido, mas agora eu sei que é a mais pura realidade, parece que foi ontem que eu descobri que estava grávida e hoje ela já está com seis meses, é tão assustador e ao mesmo tempo...Mágico.
– A banheira já está pronta – os braços passam em volta do meu corpo e ele me abraça apertado, apoiando o queixo no meu ombro, eu sorrio e ele beija logo abaixo da minha orelha.
– Ela parece maior do que ontem – eu falo e Ian ri.
– Todo dia você diz isso! – ele fala enquanto me faz virar de frente pra ele, eu coloco minhas mãos em seu ombro, subindo uma delas até o seu cabelo – E você cada dia está mais linda! – ele fala com aquele sorriso que me faz sorrir de volta, ele passa os dedos pelo meu ombro afastando a alça do vestido, ela escorrega e cai pro meio do meu braço, ele olha e sorri, então seus dedos sobem lentamente até minha orelha – Sabe o que eu estava pensando? – ele pergunta aproximando o rosto do meu.
– O quê? – eu pergunto com a voz baixa e fechando os olhos enquanto viro minha cabeça de lado dando a ele espaço pro meu pescoço.
– Que eu adoraria tomar esse banho com você – ele fala com os lábios já tocando e subindo pela minha pele.
– E eu acho que você tem excelentes ideias! – ele ri e o som da risada dele ainda dá borboletas no meu estômago tanto quanto quando éramos apenas dois adolescentes, então ele me pega no colo, eu solto um som um pouco alto de surpresa e tampo minha boca rapidamente, nós olhamos pro berço, mas ela continua dormindo tranquilamente, então ele me aproxima do abajur e eu o acendo, ele anda e para próximo a porta onde eu apago a luz do quarto, deixo a porta aberta e então ele entra no nosso quarto, mas ao invés de ir pro banheiro ele para em frente a cama, ele me coloca no chão.
– O banheiro é aquela porta ali – eu falo apontando pra porta atrás dele.
– Eu gosto daqui – ele fala dando de ombros.
– E eu tenho que tomar banho! – a reposta dele vem em um beijo, seus lábios encontram os meus demoradamente, enquanto suas mãos rapidamente descem o zíper do meu vestido, ele desce as alças dele e o vestido cai aos meus pés, ele aumenta o beijo segurando minha cintura e meu cabelo, enquanto é a minha vez de desabotoar a camisa dele, ele só tira as mãos de mim para tirar a camisa que logo é jogada no chão.
– Eu acho que o banho vai esperar – ele fala rindo e então segura minha cintura me deitando na cama.
– A água vai esfriar – eu falo, mas também estou sorrindo.
– Água fria previne resfriados – ele fala enquanto beija minha barriga.
– Eu odeio agua fria!
– Xiii, quietinha – ele estende a mão pra tampar minha boca, eu empurro a mão dele e consigo escorregar pra fora da cama correndo pro banheiro, quando alcanço a porta ele me agarra pela cintura, eu solto uma gargalhada alta demais e ele também ri.
– Isso não foi legal – ele fala ainda me segurando.
– Eu tenho mesmo que tomar banho! – ele me vira de frente pra ele e dessa vez o beijo é forte e cheio de paixão, eu agarro o cabelo dele e ele me encosta na parede de dentro do banheiro, sua mão sobe pela minha coxa e me prende nele, ele segura meu outro braço acima da minha cabeça e seus lábios descem pelo meu pescoço e assim como ele já sabe, eu também sei. O banho ficará pra depois, bem depois.
– Pérola! – a voz me chama e eu me espreguiço me recusando a abrir os olhos, sinto os lábios no meu pescoço e sorrio passando meu braço em volta do seu pescoço – Bom dia pra você também – ele fala e me beija rapidamente – Hora de acordar! – ele fala e quando abro os olhos vejo que ele já está arrumado, a camisa branca impecavelmente passada com os dois primeiros botões abertas e o terno preto por cima dão a ele o perfeito equilíbrio entre casual e profissional.
– Eu ainda não entendo por que você tem que ir trabalhar tão bonito assim – ele trabalha no controle dos aerodeslizadores que chegam e saem do Distrito, o emprego que ele tanto sonhou.
– Amor, nós já conversamos sobre isso... – ele fecha o sorriso e me encara – Eu sou bonito sempre! – ele fala liberando um sorriso divertido e pisca um dos olhos, eu também sorrio.
– O que eu disse sobre se iludir? – pergunto e ele ri, então vem pra cima de mim apoiando um joelho na cama.
– Eu.amo.você! – ele fala pausadamente e sorri.
– Tá, você é até que é bonitinho – eu falo enquanto faço um careta, ele ri e me beija, quando o beijo para ele pega a caneca que estava na cômoda ao lado da cama e me entrega, sinto o cheiro do café e sorrio satisfeita.
– Acho que a coisa está meio feia lá na casa dos seus pais – ele fala e isso me alerta.
– Então é verdade o lance da briga?
– A Hazel não teria por que inventar – ele fala dando de ombros e se afastando pra pegar algo no guarda roupa, e eu sei que realmente Hazel não inventaria isso, além do mais somos melhores amigas, nunca mentimos e nem deixamos de contar nada uma pra outra – Eu vi a Keyse saindo de lá agora pouco – Ian fala e eu olho pro relógio, ainda está cedo demais pra visitas, com certeza aconteceu algo grave, dou um gole no café e me levanto da cama rapidamente.
– Eu vou lá!
– É claro que você vai – ele sorri e se aproxima de mim, ele passa o braço pela minha cintura e fica bem próximo a mim – Não esquece do jantar hoje – ele pede me lembrando que hoje marcamos um jantar na casa do Victor, um amigo do trabalho dele e que já tem nos convidado a algum tempo.
– Não vou esquecer – ele sorri e me beija rapidamente, então o choro começa.
– Você tem cinco minutos, já estou quase atrasado – ele me avisa, eu sorrio, o beijo de novo e corro pro banheiro enquanto ele corre para o quarto ao lado, quando saio do banheiro aproveito pra trocar minha camisola por um vestido e então vou até o quarto ao lado, Ian está sentado na poltrona segurando Louise em pé enquanto finge morder a barriga dela, sua risada enche a casa, mas quando ele me vê para e fica em pé – Eu tenho que ir – ele avisa enquanto me entrega ela que choraminga um pouco, ele beija sua testa e depois a minha, então eu saio junto com ele, porém paro na casa dos meus pais enquanto ele segue pra fora da Vila, já estava abrindo a porta que nunca fica trancada quando ouço as vozes altas e tenho a certeza que realmente aconteceu algo, entro devagar não querendo chamar muito atenção mas quando ouço papai dizer que Pyter está suspenso do Campeonato não consigo me controlar e acabo me metendo na conversa, Pyter está nervoso como eu nunca vi antes, papai o encara ainda mais irritado que qualquer outra vez, mamãe está meio assustada como se não soubesse o que fazer e quando eu começo a falar Pyter simplesmente tem um ataque de raiva e grita comigo e por mais que briguemos desde sempre, eu acho que nunca o vi falar com tanta raiva assim comigo, talvez seja esse o motivo que me faz ficar sem palavras, por que eu realmente não esperava esse tipo de reação dele, eu só estava tentando entender o que aconteceu e então ele grita me mandando calar a boca, Louise começa a chorar provavelmente assustada, já que papai também começa a gritar com Pyter recriminando seu comportamento, eu tento acalmá-la, mas ela chora ainda mais alto, Pyter sobe as escadas correndo e logo em seguida mamãe vai atrás dele.
– Por que ele tá assim? – pergunto pro papai que tenta distrair a Louise.
– E você não conhece seu irmão?! – ele fala irritado e um pouco contrariado.
– Eu nunca vi ele assim – ele me olha, respira fundo e sobe as escadas, eu continuo embalando Louise e ela começa a se acalmar, eu digo a ela que está tudo bem mesmo que ela não entenda minhas palavras, mas acho que de alguma forma ela entendeu, por que o choro praticamente para, já estava subindo as escadas quando Pyter aparece, Pietro encontra com ele no topo da escada, mas ele apenas o responde rápido e desce, passando por mim como um foguete.
– Satisfeito? – a voz da mamãe é alta enquanto ela desce as escadas, papai vem logo atrás dela e pega Pietro no colo também descendo as escadas.
– Alguém pode me explicar o que tá acontecendo nessa casa? – pergunto alto e bloqueando a passagem deles na escada.
– Pergunta pro seu pai e em como ele sempre tem que provocar seu irmão! – mamãe fala com raiva.
– Eu estou provocando ele? Ele se mete em uma briga, consegue ser afastado do Campeonato e dizer que ele está errado é uma provocação? – papai se defende tão exaltado quanto ela.
– E você adora isso, não é?
– Eu não vou nem te responder!
– Se ele não voltar pra essa casa, eu juro... Eu não vou te perdoar – ela avisa encarando ele e se espreme pra passar por mim, eu libero sua passagem e ela sai de casa.
– Cadê o Pyt? – Pietro pergunta segurando o rosto do papai e o fazendo olhar pra ele.
– Chamando atenção, como sempre – ele responde irritado, termina de descer as escadas e coloca Pietro no chão.
– Ele saiu de casa? – pergunto preocupada.
– Só até sua mãe ir lá e passar a mão na cabeça dele, então ele volta – ele fala e balança a cabeça irritado e contrariado – Pietro, escovar os dentes – ele avisa apontando o corredor.
– Mas papai...
– AGORA! – ele exige sério e irritado, Pietro faz uma cara triste e segue pro corredor – Vai ficar pro café? – ele me pergunta enquanto mexe com Louise.
– Não, eu... Tenho que resolver umas coisas! Mais tarde eu passo aqui – aviso e beijo sua bochecha, ele beija minha testa e depois a da Louise, saio da casa e vou pra minha, torcendo pra que tudo se ajeite e as coisas se consertem, não gosto de ver mamãe e papai brigados, por que nenhum dos dois fica bem, mamãe fica aérea e quieta, parece perdida e papai fica irritado, mal humorado, pensativo demais e isso também não é bom. Eu subo pro quarto da Louise e preparo o banho dela, depois de deixar ela arrumada, eu mesma começo a me arrumar, faço todo o ritual de separar as coisas na bolsa, preparar mamadeira, juntar papéis e então parece que levei horas e horas quando consigo sair de casa, encontro Pyter ainda na Vila e tento falar com ele, porém ele mal para pra me ouvir e parece realmente chateado comigo, eu só não consigo entender o por quê, quando ele vai embora, eu também sigo meu caminho em direção ao ateliê, o lugar onde eu recebo as clientes, onde são feito as provas do vestidos e onde parte da minha criação acontece, já que além de fazer as coleções que seguem para a Capital eu também tenho clientes por fora, principalmente noivas, eu amo desenhar vestidos de noiva, amo inspecionar cada detalhe e as garotas que trabalham comigo sempre dizem que eu sou muito chata com isso, mas é que eu acho que principalmente o vestido da noiva deve ser algo perfeito e não aceito nada a menos que isso, eu amo o que eu faço e é ainda melhor saber que as pessoas também gostam. Acabo de entrar no ateliê e já sou praticamente barrada.
– AAAAAI MEU DEUS, que coisa mais gostosa! – Hannah corre na minha direção já praticamente arrancando Louise dos meus braços, eu sorrio, mas sou ignorada, ela já está beijando e brincando com Louise – A Hazel tá no escritório – ela avisa já saindo cantarolando.
– A bolsa! – eu aviso e corro até ela lhe entregando a bolsa da Louise, que está falante e risonha, eu sorrio vendo ela contente e sigo atrás da Hazel, dou uma batida e abro a porta – Hazel! – chamo quando não a vejo no escritório.
– Já vou! – ela grita do banheiro, eu entro e vou direto para a mesa dela, lá estão todos os papéis, documentos e também a lista com os vários materiais que iremos precisar para adiantar a próxima coleção, Hazel não é só minha assistente, ela é minha secretária, agente, diretora, contadora, além de melhor amiga e braço direito, e mais qualquer outro cargo que possa existir, é ela quem me ajuda a elaborar os modelos, escolher quais devem ir pra aprovação ou não, também é responsável por me lembrar dos prazos de entregas, desfiles, apresentações, me ajuda a organizar todo dinheiro que entra e o material que falta, enfim, não existira uma Pérola sem ela e não existe salário no mundo que a pague por isso – Trabalho depois, primeiro me conta como estão as coisas lá com o Pyter... – ela fala saindo do banheiro e se sentando na cadeira dela.
– Ainda tô tentando entender! Ele surtou hoje de manhã, eu entrei na casa e eles estavam brigando, alguma coisa sobre ele ter sido expulso do Campeonato...
– Expulso? Não acredito! Desgraçado... O George estava provocando ele o tempo todo! Todo mundo viu... Você tinha que ter ouvido as coisas que ele estava falando da Keyse... Ele é... Nojento – ela fala irritada e inconformada.
– Eu imagino! Na verdade ele nunca esqueceu o que Pyter fez com ele na escola! – falo e ela ri se lembrando.
– Seu irmão é o melhor! – ela fala se divertindo.
– É, mas graças a isso conseguiu a raiva do George toda pra ele...
– Ah Pérola nem começa! Ele tá certo, o George mereceu o que ele fez antes e mereceu os socos que levou ontem!
– E agora ele está suspenso e saiu de casa!
– Saiu de casa, como assim?
– Ele gritou, surtou, subiu as escadas, desceu com a mochila, passou direto, bateu a porta e foi embora, mamãe foi atrás dele, mas ele parecia bem decidido, já o papai não se conforma dele ter perdido o campeonato...
– Ah dane-se! Esse é só o primeiro, o Pyter é ótimo, o melhor lutador de todo o Distrito, talvez do país inteiro, logo ele tem outra chance! – ela fala dando de ombros.
– Deixa o Lucca ouvir todos esses elogios – eu falo rindo e ela abre um sorriso ainda maior que qualquer outra vez, eu me alerto – O que houve? Pode falar, aconteceu alguma coisa – ela sorri concordando.
– Ele me pediu em casamento! – ela conta empolgada e radiante.
– Oh meu Deus! Sério? Quando? Como? Onde? Que horas? E por que você não me contou no minuto seguinte? – ela ri.
– Foi ontem, depois da confusão com o Pyter, ele disse que quase desistiu mas... Ainda bem que não – ela fala rindo.
– E como foi? Cadê o anel?
– Foi na roda gigante, foi lindo... Foi perfeito! Ele esperou até estarmos no alto, então tirou a caixinha no bolso, disse que era assim, o mais perto das estrelas possível que ele queria me fazer o pedido... Pérola, ele se ajoelhou! Naquele espaço mínimo, ele se ajoelhou! – eu vou até ela e a abraço apertado, nós rimos.
– E cadê o anel? – ela faz uma careta, abre a gaveta e pega uma caixinha preta, ela abre e dentro está o anel, ele é dourado e tem uma pedra levemente rosada em cima, parece lapidada com todo cuidado, o anel é lindo – E por que está guardado e não no seu dedo?
– Meu pai! – ela fala e não precisa mais de explicação, se o papai era ciumento o pai dela é cinco vezes mais, Lucca precisou passar por quase um teste psicológico pra conseguir a aprovação pro namoro e ainda assim só passou por que o pai dela sabia que não teria outra opção, se bem que talvez pode ser por que eles já estavam namorando escondido a algumas semanas e o tio Gale descobriu pegando eles no meio de um beijo lá na praça e conhecendo a Hazel como eu conheço, com certeza não era apenas um beijo inocente, acredito que isso o deixou ainda mais enciumado.
– Ele vai acabar aceitando numa boa – eu falo o mais otimista e animada que consigo.
– Claro que vai, ele não tem outra opção – ela fala rindo despreocupada – Só tô esperando por que ele a mamãe andaram se estranhando ontem então o humor dele não está dos melhores – ela fala e então abre o livro que estava separado ao lado da mesa – Agora falando sobre coisas ainda melhores... – ela faz suspense e então vira o livro caixa pra mim – Nós conseguimos triplicar os lucros do mês passado – ela bate palminhas animada.
– Como?
– Você é a melhor, simples assim – ela dá de ombros totalmente confiante e então começamos a trabalhar, ela me mostra com maiores detalhes nossos lucros, o que temos que comprar e ainda discutimos sobre o próximo desfile, os modelos já estão quase prontos, nós vamos ver um dos vestidos que deu um problema na costura e depois a Marcelly, filha de um dos mercadores do Distrito, chega pra tirar as medidas pro vestido de noiva dela, quando eu mostro pra ela o esboço do vestido ela quase chora de emoção e eu de satisfação, ela vai embora ainda mais animada.
– Ah aliás, chegou o véu pro vestido da Keyse! – Hazel avisa enquanto voltamos para o escritório – E é tão, tão lindo! Com certeza vai ser um dos melhores vestidos que você já fez!
– Mas não o melhor! Por que o melhor eu ainda vou começar a desenhar... – falo e faço cócegas nela, que ri se esquivando e correndo até sua cadeira.
– Sobre isso, eu quero um vestido tipo aquele...
– Ei, ei, ei! Pode parar! Não quero ouvir – falo enquanto tampo meus ouvidos – O vestido é um presente meu! Da sua madrinha e melhor amiga!
– Mas sou eu quem vai vestir!
– Problema seu! A ideia vai ser toda minha e não aceito opiniões!
– Isso não é justo! – ela fala mas está sorrindo ansiosa, eu me inclino sobre a mesa e olho pra ela com o máximo de mistério que consigo.
– Eu só posso te garantir que esse será o vestido de noiva mais fantástico de todo o Distrito, de toda Capital, de toda Panem, do mundo inteiro! Palavra de melhor amiga... – falo cruzando os dedos e o beijando, do mesmo jeito que fazemos quando queremos jurar alguma coisa, ela sorri animada, levanta de braços abertos e me abraça apertado.
Eu acabo almoçando com ela num restaurante na praça enquanto resolvemos algumas coisas sobre a coleção nova, Louise passa a maior parte do tempo brincando com seus brinquedinhos e conseguimos finalizar tudo, depois disso ela volta pro ateliê e eu aproveito pra olhar algumas lojas e dar uma volta pela praça, o lugar está movimentado e a todo tempo alguém lança um sorriso, um aceno e alguns até se aproximam elogiando Louise ou a mim e ainda tem aqueles que perguntam dos meus pais, é engraçado como eu já me acostumei com isso, por mais que mamãe odiasse, eu passei a vida inteira sendo observada e mesmo que um dia eu tenha me sentido mal por isso, hoje em dia consigo lidar com isso com mais normalidade, até por que por causa dos comerciais de tv das roupas e das coleções, fica um pouco impossível não ser reconhecida, eu bem que tentei não fazer parte da propaganda, mas todos os envolvidos e até mesmo Hazel me garantiram que essa era a melhor opção, então as vezes quando estou assistindo tv me deparo com minha própria imagem ao lado de algum modelo meu, com o tempo isso também acaba parecendo normal. Eu entro em uma loja de roupas de criança e como sempre acontece quero levar tudo e preciso de um grande auto controle pra não fazer isso, no entanto acabo comprando vários vestidos novos pra Louise, além de algumas camisetas e bermuda pro Pietro, eu amo a mamãe mas o senso de moda dela nunca foi um dos melhores, saio da loja quando Louise começa a se irritar e pra acalma-la acabo entrando numa loja de brinquedo, ela vê um urso de pelúcia rosa e seria realmente muita crueldade separar eles dois, por isso compro ele e mais um carrinho novo pro Pietro, o urso a acalma e eu deixo com ela dentro do carrinho, como também não sou de ferro acabo entrando em uma loja pra mim, o macacão na vitrine me chama atenção e quando eu entro e o vejo de mais perto descubro que não existe nenhuma possibilidade de eu não compra-lo, ele é simplesmente perfeito, acabo comprando um sapato também e saio da loja com um sorriso tão grande quanto o da Louise olhando pro seu novo brinquedo, já estava saindo da praça quando passo pela loja do joalheiro e sou obrigada a parar quando vejo o relógio na vitrine, me aproximo com os olhos fixos nele, ainda me lembro do Ian olhando pra ele na ultima vez que passamos por aqui, ele mal conseguiu disfarçar o quanto ficou encantado, e não é pra menos, o relógio é perfeito, ele é preto com detalhes em dourado na sua pulseira, assim como o ponteiro e os números dentro do visor, minha suspeita se confirma quando o vendedor me diz que o detalhe em dourado é ouro, então eu não tenho nem mais o que pensar, levo o relógio que ele me garante ser o único de sua edição, peço um embrulho especial e além da caixa preta e dourada ele coloca um laço também preto, eu o carrego morrendo de ansiedade pra ver a reação do Ian, ele vai simplesmente amar, eu sei disso. Quando chego em casa, dou um banho na Louise, brinco um pouco com ela até que ela adormece e então me apresso em fazer as coisas de casa, lavo algumas roupas que já estavam acumuladas, passo e guardo as que já estavam limpas, organizo os quartos, aproveito também pra começar alguns rascunhos de vestido e parece que mal passaram as horas quando ela acorda e então nada é mais importante que ela, eu paro tudo e me dedico a minha melhor ocupação, mas quando Ian chega ela já está chorando desesperadamente a quase 10 minutos e não existe nada que eu faça que consiga fazer ela parar, então ele se aproxima e a pega dos meus braços, ele aproxima a lateral do rosto dele ao dela e sussurra alguma coisa em seu ouvido, o choro diminui um pouco e ele a embala docemente, aproxima o corpo dela do encaixe de seu próprio corpo e como ele sempre faz ele passa o polegar levemente pelo contorno do seu rosto e então como num passe de mágica ela para de chorar e sorrir, o rosto ainda vermelho por causa do esforço, as lagrimas ainda marcadas, mas o sorriso totalmente evidente.
– E é assim que se conquista uma garota – ele fala orgulhoso e me olha sorrindo.
– Eu ainda descubro qual é o truque!
– Não existe truque! É um lance de pai e filha – ele fala e olha pra ela que está hipnotizada por ele – Não é meu amor? Fala pra invejosa da sua mãe – ele fala rindo e vira ela pra mim, mas sou totalmente ignorada, ela só tem olhos pra ele e eu sei que não tenho como disputar.
– Ok, eu sei reconhecer uma vitória – falo, beijo seus lábios rapidamente e vou pro banheiro, quando saio de lá ele está deitado na cama com ela sentada sobre sua barriga.
–Tenho que concordar, ela tá crescendo rápido demais – ele fala e eu sorrio e me deito na cama junto com eles, ele a coloca no nosso meio e ela tenta escalar a barriga dele, então eu saio da cama e pego o urso novo dela, trago e assim que o vê ela ri falando embolado como sempre – Urso novo! – ele fala enquanto olha pra ela.
– Ela agarrou ele e não quis mais soltar – eu falo achando graça dela tentando segurar ele.
– E com certeza não foi só o urso que você comprou né? – ele me olha com uma sobrancelha erguida.
– Eu já disse que você fica muito sexy quando faz essa cara? – pergunto me arrastando pra mais perto dele e o beijo, ele ri, mas afasta um pouco me olhando.
– Mais o que? – ele pergunta e eu faço uma careta.
– Apenas necessidade! Você sabe! Ela estava ficando sem roupas – falo dando de ombros e então antes que ele reclame eu abro um sorriso animado e o beijo novamente – Eu tenho um presente! – ele me olha curioso.
– Um presente?
– Não “um presente”, o melhor presente do mundo – corrijo pulando da cama e indo até a sacola no canto do quarto.
– Você finalmente vai pensar sobre dar um irmãozinho pra Loui – ele fala fingindo animação.
– Você é um terrível estraga prazeres, sabia? – falo fazendo uma careta, pego o embrulho e volto correndo pra cama, me jogo quase ajoelhada na frente dele e lhe entrego a caixa, ele parece curioso e ansioso, me olha tentando desvendar a surpresa e eu mordo o lábio pra me controlar, então enquanto Louise está distraída com o urso, ele se senta e começa a abrir o embrulho deixando o laço largado pelo chão, ele rasga o papel e encontra a caixa preta e dourada, seus olhos ficam ainda mais questionadores e quando ele a abre mal consigo decifrar o que ele está pensando, seus dedos tocam o relógio e ele parece hipnotizado.
– Eu vi o jeito que você estava olhando pra ele naquela vez e aí eu passei lá, ele ainda estava na vitrine então, acho que foi um sinal... – falo empolgada sem conseguir esperar ele dizer mais nada, ele pega o relógio da caixa e segura na sua mão, então me olha um pouco confuso.
– Esse era o relógio mais caro da loja – ele fala me olhando.
– Eu disse que era o melhor presente do mundo! – sorrio orgulhosa.
– Pérola, ele custa mais da metade do meu salário! – faço uma careta.
– É um presente! Agora coloca que eu quero ver no seu pulso – tento pegar da mão dele, mas ele não deixa, então o coloca de novo na caixa.
– Isso não é um presente! – ele me estica de volta e eu levo alguns segundos pra entender.
– Como assim?
– Eu não vou aceitar isso e você não devia ter comprado! – seu tom de voz parece frio e irritado.
– Como assim não vai aceitar? Eu comprei pra você, eu vi como seus olhos brilharam pra ele...
– Meus olhos brilham quando vejo um dos novos aerodeslizadores, você vai comprar um pra mim também?
– Ian, eu... Eu realmente não estou entendendo sua reação! É um presente, eu vi, lembrei de você e comprei! – falo já começando a me sentir magoada além de frustrada.
– O problema é que esse seu presente custa quase o meu salário inteiro!
– Mas não é você quem vai pagar, sou eu! – eu tento esclarecer e isso só faz ele me olhar ainda mais irritado, sei disso por que ele cerra os dentes deixando a mandíbula contraída e ele só faz isso quando está bem irritado, ele levanta da cama.
– Esse é o problema Pérola! É você quem vai pagar! – ele fala passando a mão pelo cabelo como se estivesse explicando algo pra uma criança.
– E qual o problema disso?
– Esquece! Você nunca vai entender – ele fala balançando a cabeça contrariado e se afastando.
– Se eu posso pagar por que não posso comprar?
– Por que eu não quero nada do seu dinheiro – ele fala meio alto demais e isso me pega completamente despreparada, eu tenho que administrar as palavras e ainda assim não parecem certas, ele respira fundo e para me olhando – Eu já tenho que aguentar suas compras, seus presentes pra Louise, as dezenas de brinquedos, as coisas pra casa... Agora isso... – ele aponta pra caixa que ficou em cima da cama – Acho que você já quer muito de mim!
– Quero muito de você? Então dar um presente pro meu marido é querer muito dele?
– Um presente assim? É! Pra mim é! – ele afirma sem nem precisar pensar duas vezes – Pessoas normais dão carteiras, cinto, uma camisa nova ou sapato, mas você não, você tem que ser diferente!
– Eu não tenho culpa se eu posso pagar por isso!
– Claro que não tem culpa, assim como não perde uma oportunidade de lembrar isso!
– Como é que é?
– Eu sou o homem dessa casa! Pode não parecer ou você pode ter se esquecido, mas a responsabilidade de sustentar essa família é minha! – ele fala sério e pela primeira vez eu não o reconheço, nós já havíamos discutido sobre compras, mas isso, passa de todos os limites.
– Essa família é minha também, você ainda se lembra disso, certo? – pergunto com certa ironia – Eu só quis te dar um presente, eu vi como você gostou do relógio e não encontrei nenhum motivo pra não comprar ele, as coisas estão indo super bem no ateliê, temos várias encomendas, a coleção nova já vai sair, eu estava feliz e quis te deixar feliz também, foi só isso... – falo tentando amenizar o clima, eu saio da cama, pego a caixa e vou até ele – Por favor, aceita! Bandeira branca... – eu peço entregando a caixa a ele, mas ele se recusa a pegar.
– É melhor você devolver enquanto ainda pode pegar o pagamento de volta – ele avisa e me dá as costas.
– Você é um idiota, sabia? – falo alto e irritada, deixando de lado qualquer vontade de apaziguar as coisas, ele para e se vira pra mim – Eu só quis te agradar, só queria te dar um presente, te deixar feliz, só isso!
– Você quer me deixar feliz? Então para de esfregar na minha cara a cada segundo que você tem mais dinheiro do que eu – ele fala e eu não consigo evitar ficar ofendida.
– Eu nunca fiz isso – minha voz sai quase sem som, por que ainda não consigo acreditar no que ouvi.
– Não? Tem certeza? – ele me encara e antes que eu diga algo ele continua – Você faz isso sempre que volta pra casa cheia de sacolas recheadas das coisas mais caras que encontra pelo caminho ou quando enche a Louise de brinquedos que eu mal poderia comprar sem ficar cheio de contas ou quando você simplesmente resolve mudar os móveis da sala ou do quarto sem nem ao menos me perguntar o que eu acho – ele fala sem desviar os olhos do meu e eu mal consigo abrir a boca – Você faz isso todo dia Pérola, todo dia! E eu já tô cansado disso!
– Eu não faço isso pra provar nada ou pra te provocar, eu só...
– Só gosta de ter dinheiro!
– E você não gosta? – ele solta um sorriso irônico.
– Como eu vou saber? Todo o grande dinheiro que entra nessa casa é seu!
– É nosso! – eu falo irritada, então me aproximo e seguro o rosto dele entre minhas mãos – Tudo que é meu é seu, lembra? – tento falar o mais suave que consigo, ele segura meus pulsos e afasta minhas mãos dele.
– Mas eu não quero seu dinheiro!
– Eu sei que não! Eu nunca disse isso!
– Então para com isso! – ele pede me olhando fixamente.
– Parar com o quê?
– Com tudo isso! Com essa mania de querer comprar tudo! É o meu dinheiro que deveria sustentar essa família!
– Ian, isso é... Eu não consigo acreditar que você realmente pensa assim – eu admito e ele esfrega as mãos no rosto.
– Não sou só eu Pérola! Todo mundo, todo mundo pensa assim!
– Que todo mundo? E o que eles pensam?
– Que eu vivo do seu dinheiro...
– O que? – pergunto surpresa e confusa – Por favor, me diz que você não tá dando ouvidos a esse tipo de boato!
– Boato? Será mesmo? Essa casa, o carro, todas as centenas de coisas que você compra pra casa...
– Ian! Fala sério, eu não acredito nisso! A casa foi um presente dos meus pais, o carro nós combinamos juntos de comprar e as coisas da casa são... Só coisas pra casa, só isso! – ele balança a cabeça negando.
– Sabe o que estão falando agora? Que até a promoção que eu estou pra receber é por que eu sou o seu marido... O marido de Pérola Everdeen Mellark! Nem o meu sobrenome ninguém se lembra – ele fala alto, irritado e com ironia.
– Seu trabalho não tem nada a ver comigo, você sabe disso! Ian, eu me lembro o quanto você estudou e correu atrás dessa vaga, você perdeu noites de sono, se dedicou pra isso, conseguiu e continua se dedicando cada vez mais, é por isso que você vai ser promovido, não tem nada a ver comigo, agora se você não consegue valorizar seu próprio trabalho não joga isso em cima de mim! – eu desabafo e ele me olha por alguns segundos sem dizer nada – O que está acontecendo com você, Ian? Você nunca foi assim, nunca ficou dando ouvidos a esse tipo de coisa, o que mudou? – pergunto realmente sem entender.
– Mudou que eu estou cansado de viver na sua sombra – ele fala baixo, firme e parece magoado, só que são as palavras dele que me magoam, que realmente me machucam, por que eu não esperava isso dele.
– E o que você quer que eu faça? Que eu pare de trabalhar, que eu pare de fazer o que eu gosto, fique trancada dentro de casa, como uma dona de casa perfeita esperando o marido chegar, por que qualquer coisa fora disso te incomoda? É isso? – pergunto e tenho que segurar a lagrima que ameaça descer.
– Eu só quero pelo menos uma vez ter uma esposa normal, que não saia por aí fazendo questão de mostrar o quanto ganha e o quanto pode ser melhor que todo mundo, que pare de jogar na minha cara que eu, ou o que eu tenho não fazem a menor diferença quando comparado a você... – ele ainda ia continuar falando quando eu lhe acerto um tapa forte no rosto, ele me encara.
– Eu não admito você falar isso de mim, não admito! – falo apontando o dedo pra ele com o máximo de controle que consigo – Não me importo com o que ninguém fala de mim, mas você me conhece melhor do que eles, e em todos esses anos juntos eu tenho certeza que você sabe que eu nunca faria nada disso, eu não quero e não preciso ser melhor do que ninguém. Eu não sei qual é o seu problema, mas é melhor você resolver ele logo por que isso já passou de todos os limites – eu falo o mais séria que consigo, ele estava pronto pra dizer algo quando o seu olhar se torna assustado e então ele avança passando por mim como um furacão, eu me viro e vejo quando ele segura Louise um segundo antes dela levar um tombo de cabeça no chão, como ele a pegou rápido demais, acabou assustando ela que começa a chorar alto, ele tenta acalma-la mas parece completamente impossível de realizar, por isso eu me aproximo e a pego dos braços dele, ele nos observa por alguns segundos enquanto eu balanço ela no meu colo e repito que está tudo bem, ela começa a se acalmar, eu saio do nosso quarto e vou pro quarto dela embalando-a e cantando baixinho sua música preferida, levo um tempo até que ela realmente pare de chorar, volto pro nosso quarto pra pegar o urso que ficou no chão e assim que me sento na cama Ian sai do banheiro arrumado, ele vem até a cama, se senta e calça os sapatos, eu me lembro do jantar que teríamos hoje.
– Eu não vou! – aviso caso ele ainda não tenha entendido.
– Não estou te pedindo pra ir – ele fala, se levanta e sai do quarto sem nem ao menos me lançar um único olhar ou pelo menos se despedir da Louise que fica apontando na direção da porta, eu fecho os olhos segurando toda a raiva e magoa que praticamente gritam dentro de mim e tento me controlar, ela volta a chorar apontando e querendo o pai, eu pego o urso e tento brincar com ela mas é em vão, ela mal me olha, então eu a pego no colo e começo a andar de um lado pro outro pelo quarto, voltando a cantar a musica que ela gosta, ela me olha atentamente e sorri, ela já está brincando com meu cabelo quando dessa vez sou eu quem começo a chorar, as lagrimas descem rápido e eu tenho que me controlar, todas as palavras do Ian voltam e me atingem com ainda mais força do que quando ele as disse, eu prendo o som engasgado que ameaça sair então ouço meu nome sendo chamado, eu enxugo as lagrimas rapidamente e saio do quarto, quando alcança a escada, vejo vovô parado, eu forço um sorriso e desço as escadas.
– Parece que você esqueceu que tem um avô – ele reclama enquanto me aproxima.
– Eu nunca me esqueço de você, é que o dia foi corrido hoje – nós vamos para a sala e ele senta no sofá já pegando Louise dos meus braços, ela se anima quando o vê e seus dedos passam pela barba dele enquanto ele se derrete por ela, os dois sorriem um pro outro e quando ele coloca vários beijos na bochecha dela, sua risada é tão gostosa que me faz sorrir também.
– Você andou chorando – ele fala sem nem ao menos está me olhando.
– Eu... Tô bem – garanto e então ele me observa.
– Eu ainda tenho um bom gancho de direita – ele fala e eu sorrio.
– Não duvido disso! Já jantou? – ele nega.
– Aquela casa tá maluca! – ele faz uma careta.
– Pyter tá com você não está? – ele confirma.
– Por enquanto!
– Como assim?
– Seu pai nunca saberia ficar muito longe de vocês – ele explica dando de ombros e eu concordo, afinal esse foi o motivo dele nos dar a casa de presente pra que eu não me afastasse muito, a mesma casa que Ian jogou na minha cara que foi dada apenas pra provar superioridade, sinto toda raiva e magoa voltando, então me levanto e respiro fundo.
– Vou preparar alguma coisa pra gente – aviso forçando o melhor sorriso que consigo, então vou pra cozinha e deixo ele brincando com Louise no sofá, começo a me organizar na cozinha vendo o que posso preparar e essa é uma das coisas que eu gosto, a distração que cozinhar me proporciona, enquanto eu estou aqui me sinto mais concentrada e menos abalada com outras coisas e o resultado acaba sendo muito bom, nós jantamos e eu faço também a papinha da Louise, depois assistimos a televisão.
– Já está tarde – vovô fala olhando o relógio.
– É, já passou da hora dessa garotona dormir – eu falo pegando ela do colo dele e beijando seu pescoço.
– E seu marido? – ele pergunta e me olha preocupado e curioso.
– Foi jantar na casa de um amigo, já deve estar chegando – tento parecer o mais despreocupada possível, ele me observa e então se inclina beijando a cabeça da Louise, em seguida a minha.
– Durmam bem!
– Você também – ele se levanta e sai com sua bengala reclamando sobre estar fazendo muito calor ultimamente, eu sorrio por que ele sempre reclama, ou do calor ou do frio ou de qualquer coisa, olho até que ele entre na casa dele e então fecho a porta, apago as luzes de baixo e subo as escadas, vou pro quarto da Louise e gasto quase uma hora pra conseguir fazer ela dormir, quando finalmente consigo a coloco no berço com todo cuidado, beijo sua testa, acendo o abajur e me sento na poltrona ao lado do berço enquanto releio um dos livros que deixo por aqui, as horas passam, a leitura avança, paginas e mais paginas são terminadas e Ian ainda não voltou, me levanto começando a me preocupar, olho o relógio e piora quando vejo que já são mais de uma hora da manhã, eu desço as escadas, olho pela janela, mas não existe ninguém do lado de fora da Vila, peço em pensamentos que ele esteja bem e subo as escadas de novo, Louise continua dormindo serenamente, eu tento voltar a ler mas mal consigo me concentrar em uma única frase, então tento rabiscar algum rascunho e mal saem dois traços decentes, amasso a folha e a jogo na lixeira, vou até o meu quarto e trago as sacolas com os vestidos que comprei pra ela, guardo tudo em seu guarda roupa, organizo algumas outras coisas pelo quarto, mesmo que já esteja arrumado, troco as bonecas de lugares e quando olho o relógio de novo, são 02:20 da manhã, olho pela janela e tudo continua em silencio, sento na poltrona e tento não surtar de preocupação, encaro o teto e peço novamente pra não ter acontecido nada e de alguma forma acabo cochilando até que ouço um barulho e levo um susto quase pulando da poltrona, meu coração dispara tão rápido que parece que irá sair pela minha boca, eu paro tentando entender o que é então ouço o barulho da porta se fechando, saio do quarto e encontro Ian entrando em casa, ele sobe as escadas cambaleando e eu estranho, então quando me alcança ele passa direto por mim e consigo sentir o cheiro de álcool que sai dele, ele entra no quarto e se joga na cama, eu vou até ele.
– Não quero... Ouvir... Sua voz! – ele fala pausando e enrolando as palavras, enquanto estica a mão em um gesto para que eu não me aproxime, em seguida ele rola na cama e fica de barriga pra baixo, a lagrima que escorre do meu rosto não é de pena ou culpa, nem mesmo mágoa, é de raiva, ódio por ele ter me feito passar as ultimas horas preocupada enquanto ele resolvia seus problemas com uma garrafa, eu saio do quarto e entro no quarto de hóspede que tem em frente ao nosso chorando de raiva, me jogo na cama e continuo chorando agarrada ao travesseiro, passo o resto da madrugada acordada, não consigo dormir e minha mente não consegue se desligar de nada, mesmo assim continuo deitada encarando o teto, vejo o dia amanhecer e ouço Louise começar a chorar, vou até o quarto dela, ela para assim que eu a pego no colo, mas como já está totalmente despertada sei que não adianta tentar fazer ela dormir de novo, por isso saio do quarto, desço as escadas e vou preparar meu café enquanto deixo ela brincando animada com o coelho de pelúcia que era meu, os gritos e risadas dela conseguem me fazer sorrir, eu preparo a mamadeira dela e lhe dou, quando ela acaba eu tomo meu próprio café, deixo a cozinha arrumada e subo para o quarto dela, separo um vestido pra ela, as sandálias, uma tiara pro cabelo, deixo tudo arrumado em cima da cama que tem na lateral do seu quarto, e preparo a banheira dela, coloco os patinhos na agua do jeito que ela gosta e isso deixa ela um pouco mais calma e me dá mais chance de realizar essa dura tarefa, na hora de sair do banho ela reclama e grita contrariada, o que acaba dificultando na hora de vestir ela e demoro mais tempo que o necessário, porém consigo terminar, a pego no colo e vou pro meu quarto, Ian ainda está jogado na cama e apagado, hoje ele não trabalha mas sempre acorda cedo pra ficar com Louise, mas parece que hoje isso não vai acontecer, sinto a raiva renovada assim que o olho de novo, por isso viro as costas e pego o que vim buscar, saio do quarto com minha roupa e a sacolas das coisas que comprei pro Pietro, volto pro quarto da Louise e tenho que colocar ela dentro da cesta pra conseguir tomar meu banho, deixo a cesta no banheiro de frente pro box enquanto ela brinca com o coelho e tomo um típico banho de mãe, aquele sem nenhuma privacidade e demoras exageradas, mesmo assim cada sorriso que ela me dá me faz sorrir de volta, estava terminando de me arrumar e deixo ela brincando no berço enquanto vou ao banheiro, quando seu grito e risada alta me chamam a atenção, volto rápido pra ver o que aconteceu e encontro Ian inclinado sobre o berço brincando com ela, meu sorriso se fecha imediatamente e volto pro banheiro, termino de me arrumar e saio, ele me olha e eu passo por ele pegando ela no colo.
– Minha mãe tinha chamado a gente pra almoçar lá hoje! – ele fala com a voz baixa e meio receoso, ignoro ele, endireito o cabelo da Louise que acabou se bagunçando, coloco ela na cesta novamente, pego a bolsa dela e as sacolas que eu tinha separado e saio do quarto – Você tá indo pra lá? – ele pergunta e eu continuo descendo as escadas, ele me segue – Você pode responder pelo menos? – eu paro e me viro séria encarando ele que também para e me olha.
– Agora você quer ouvir minha voz? – pergunto com ironia e ele parece confuso.
– O que? – eu reviro os olhos e viro as costas novamente – Você vai ou não? – ele pergunta parecendo irritado, então abro a porta e saio, deixo-a bater sozinha, Louise começa a choramingar e eu a distraio falando o nome do Pietro, ela sorri e começa a balançar os braços e pernas animadamente, entro na casa e já consigo ouvir Pietro falando alto, sigo a voz dele e vou pra sala, ele está em pé no sofá, pulando e apontando pra televisão onde está passando um dos programas infantis que ele tanto gosta, o grito de Louise nos entrega e ele se vira rapidamente na nossa direção.
– LOOOOOOUI! – ele pula do sofá e corre até a mim, eu me abaixo, coloco a cesta no chão e ele beija a bochecha dela que se gargalha – Deixa eu pegar ela! – ele pede meio animado demais.
– Então senta aqui no sofá – mamãe fala apontando para o lugar ao lado dela, ele corre até lá e abre os braços, eu me aproximo e a tiro da cesta colocando-a sentada no colo dele, mamãe é claro que fica colada neles dois preparada pra qualquer coisa.
– E o papai? – pergunto olhando em volta.
– Também queria saber – ela fala, mas não parece irritada e nem preocupada, então acredito que não seja algo ruim.
– E o Pyter? – dessa vez ela me olha.
– Eu espero que seu pai tenha ido resolver isso! – ela responde e pelo modo como ela fala, eu também espero que papai tenha ido fazer isso, por que se não as coisas vão começar a realmente se complicar.
– Por que o Pyt ainda não veio pra casa? – Pietro pergunta parecendo realmente chateado com isso.
– Ele tá vindo! – mamãe afirma o mais confiante que consegue, ele faz uma cara triste mas concorda. Nós ficamos pela sala vendo eles dois brincarem, ela me pergunta como vai as coisas no ateliê, eu conto sobre como anda a coleção nova e que estamos com algumas encomendas também e acabo falando sobre o vestido de noiva da Hazel e ela me olha curiosa, eu conto que o Lucca pediu ela em casamento mas que ela ainda não contou pro pai por que é capaz do Gale colocar ele num trem e o mandar pro mais longe possível, ela ri e diz que no fundo ele vai acabar aceitando por que ele tem coração mole, eu concordo rindo, mas torço pro papai nunca ouvir isso, por que por mais que a relação entre nossas famílias sejam boas e eles se deem bem, ainda tem um pequeno ciúme do papai em relação ao Gale, não apenas da mamãe e ele, mas até de mim, do Pyter e do Pietro, outro dia mesmo, Gale foi fazer uma brincadeira sobre papai ter tido sorte de ter dois meninos e ele nenhum e que talvez o papai pudesse alugar um deles apenas pra ele saber como seria, acho que nem preciso dizer que o papai quase caiu da cadeira com a “proposta”, todo mundo riu e mamãe logo mudou de assunto mas tenho certeza que depois ele deve ter reclamado sobre aquilo ter sido uma piada idiota, quase consigo ouvir ele dizendo isso, eu amo meu pai mais do que tudo nesse mundo, mas as vezes ele exagera um pouquinho.
– Chega, ela tá me babando – Pietro reclama afastando o rosto enquanto Louise tenta morder o nariz dele, nós rimos e mamãe a pega no colo.
– Ela só quer brincar com você – eu tento explicar e ele faz uma careta.
– É nojento!
– E você é um chatão – eu implico com ele e também faço uma careta enquanto aperto a barriga dele, ele ri se contorcendo – Eu tenho um presente pra você – eu falo e ele se alerta animado e se senta no sofá me olhando ansioso, eu pego as sacolas e entrego uma delas pra ele, assim que vê a caixa do carrinho ele arregala os olhos daquele jeito empolgado de criança, ele rasga a caixa e tiro o carro vermelho e preto de dentro.
– Olha mamãe! – ele levanta o brinquedo orgulhoso.
– É muito lindo! – ela fala e ele pula do sofá em cima de mim me abraçando e beijando minha bochecha, depois se afasta já colocando o carrinho no chão.
– Ele estava louco por um desses, mas eu ainda não tinha conseguido voltar na loja – mamãe confessa e eu sorrio orgulhosa vendo a alegria dele, pelo menos alguém ficou feliz com um presente meu.
– Ah, também passei na loja de roupas – falo levantando a outra sacola, ela me olha fazendo aquela cara de sempre.
– Eu comprei roupas pra ele semana passada!
– E eu o amo demais pra deixar você escolher todas as roupas dele!
– Eu vestia você e seu irmão! – ela fala dando de ombros.
– E por que você acha que eu tento salvá-lo? – ela tenta parecer ofendida – Mamãe, eu te amo, mas você é péssima nisso – ela faz uma careta e dá de ombros.
– Coloca lá no quarto dele e guarda nas gavetas por que eu já deixei tudo arrumado – ela avisa e eu levo as sacolas comigo, subo as escadas e entro no quarto dele, guardo tudo como ela mandou e quando olho ao redor sinto uma saudade do tempo em que esse era o meu quarto, a época em que eu não tinha que me preocupar com ter uma casa e uma família pra cuidar, ou da época em que eu não tinha o meu marido me acusando de querer aparecer e me mostrar superior a ele ou a qualquer outra pessoa, fecho os olhos e respiro fundo e devagar, quando os abro encontro a realidade, eu cresci, já não sou aquela menininha e querendo ou não tenho que encarar meus problemas, mesmo que eles pareçam tão sentido quanto esses, eu saio do quarto, encosto a porta e desço as escadas, Pietro continua brincando pela sala com o carrinho e mamãe avisa que preciso trocar a fralda da Louise, faço isso na sala mesmo, ela me ajuda enquanto Pietro grita dizendo que isso “Nojeeeeento” e tampa o nariz se afastando o máximo possível, nós rimos e quando eu ameaço jogar a fralda suja nele ele solta um grito desesperado e se esconde atrás do sofá, eu jogo a fralda no lixo do banheiro e volto pra sala, mamãe avisa que vai fazer o almoço já que papai ainda não voltou e eu fico com eles dois pela sala, estávamos brincando no sofá quando a porta se abriu, Pietro se esticou todo pra poder ver quem era e então o rosto dele se ilumina imediatamente, ele dá um pulo do sofá e corre desesperado na direção da porta, me viro pra poder ver ele pulando no colo do Pyter e os dois caindo no chão, mas isso não parece ter a menor importância pra ele, por que se recusa a soltar Pyter e o beija varias e varias vezes, a alegria dele é tanta que até mamãe que estava na cozinha aparece e quando Pyter garante que voltou pra casa, ela se junta a eles dois no chão e eles riem e se beijam animados, papai também está sorrindo satisfeito, vem até a mim e beija minha cabeça e da Louise e então volta pra perto da mamãe, Pietro não se solta do Pyter e ele tem que se levantar com ele no colo, eles vem pra sala e quando para em frente ao sofá que Pyter parece me enxergar, ele solta um sorriso meio sem graça e se ajoelha na frente da cesta onde Louise está, ele brinca com ela e Pietro se mantem perto, Pyter parece evitar me olhar e então como eu não aguento mais estar brigada com ninguém e muito menos com ele sou eu quem puxo assunto falando do coelho que era meu e ele pintou quando eramos mais novos, ele ri se lembrando da história e conta pro Pietro que gargalha quando ele diz que eu chorei, nós ficamos sozinhos na sala e eu digo a ele o quanto odeio brigar com ele e é a mais pura verdade, Pyter e eu sempre brigamos, desde sempre, mas eu sempre soube que não importava o quanto isso acontecia bastava eu precisar dele e ele estaria ali, e se a qualquer segundo ele precisasse de mim eu moveria o meu mundo por ele, eu amo tanto quanto eu amo a Louise e não consigo ficar brigada com ele por muito tempo, por isso quando ele me abraça eu sinto parte dos meus cacos se juntando imediatamente, nós fazemos as pazes, rimos e tudo volta ao normal, mas quando ele pergunta do Ian sinto ainda o gosto amargo da magoa na minha boca, mesmo assim desconverso por que conhecendo Pyter como eu conheço ele iria agora mesmo atrás do Ian e não seria pra uma conversa amigável entre cunhados, ele não parece muito convencido com minha desculpa mas quando mamãe aparece anunciando o almoço que ela mesma fez ele parte pra diversão favorita dele, implicar com ela na cozinha, acaba sobrando até pro papai, mas quando nos reunimos em volta da mesa e o vovô aparece reclamando, sinto que pelo menos uma parte da minha vida continua intacta e perfeita como sempre foi. Quando o almoço acaba eu saio da casa deles e vou pra minha, Ian não está em casa e eu subo as escadas, entro no quarto, vou pra cama junto com a Louise tentando fazer ela dormir um pouco e então eu também acabo adormecendo, quando acordo a cama está vazia, dou um pulo já olhando se ela não caiu e meu coração não se acalma quando não a encontro, saio do quarto desesperada e então ouço sua risada desço as escadas e vou pra sala, ela está no colo do Ian enquanto ele brinca de girar com ela.
– Você é maluco? – pergunto alto demais e com raiva, ele para de girar e me olha confuso – Como você tira ela da cama sem me avisar... Eu quase morri do coração!
– Você estava dormindo e ela já tinha acordado! – ele fala como se fosse a coisa mais natural do mundo.
– Quando eu acordei ela não estava lá, o que você queria que eu pensasse? – pergunto ainda com o coração disparado.
– Que talvez você devesse ter mais cuidado em deixar ela dormir na cama sem proteção – ele fala de um modo acusatório.
– Olha aqui... – eu falo com raiva me aproximando e apontando o dedo pra ele – Você pode me acusar do que você quiser, mas não tenta me ensinar a ser mãe! – eu aviso com toda a raiva que estou.
– Não tenta dizer quando eu posso ou não pegar a minha filha! – ele devolve me encarando friamente.
– Engraçado, você não lembrou que tinha uma filha ontem quando saiu e mal se despediu dela, assim como também não lembrou quando passou a madrugada bebendo e chegou em casa mal aguentando ficar em pé...
– Isso não tem nada a ver com ela! – ele fala e desvia o olhar do meu.
– Tem a ver com o que então?
– Você sabe!
– Não, Ian, eu não sei! E eu não tenho a menor noção do que está acontecendo com você – admito sinceramente, ele volta a me olhar e invés do jeito carinhoso e protetor que ele sempre teve, encontro olhos frios e intocáveis.
– Se você não entende, então nós não temos mais nada pra conversar! – sua voz é tão fria quanto seu olhar, eu me aproximo um pouco mais dele e o encaro olhos nos olhos.
– Eu não sei o que aconteceu com você, mas eu espero que o Ian que eu conheço, que eu amo e que ainda sou completamente apaixonada esteja aí dentro em algum lugar por que eu não vou suportar continuar do lado de alguém como você! – eu falo e por um segundo seu olhar suaviza, mas leva realmente apenas alguns segundos.
– Vai ver esse Ian finalmente acordou! – quando ele fala isso toda esperança de reconciliação que eu tinha pra hoje, se desfaz dando lugar para mais raiva e magoa, dessa vez sou eu quem o olho friamente, então dou as costas e subo as escadas, entro no nosso quarto, abro o guarda roupa e pego o macacão novo que eu comprei, entro no banheiro e só saio de lá arrumada, me olho no espelho que temos no quarto e aprovo, o macacão é branco com alguns nuances de azul que dão a ele uma leve impressão de estar manchado porém as ondas azuladas são perfeitamente desenhadas, ele tem um decote entre os seios e é mais justo nessa parte, nas costas ele é praticamente todo aberto, com excessão de alguns riscos que formam um X, ele vem com um cinto branco que fica na altura da minha cintura e deixa ela mais destacada, coloco o sapato branco que comprei, os cabelos estão presos em um rabo de cavalo deixando apenas algumas mechas soltas, a maquiagem eu deixei um pouco mais suave, coloco os brincos longos que eu comprei a algumas semanas, passo o perfume, pego uma bolsa de mão azul clara, respiro fundo e tomo coragem, se ele acha que eu vou ficar brigando e gritando como um maluca só pra ele poder comprovar que eu sempre quero as coisas do meu jeito, ele está enganado, mas também não vou abaixar a cabeça e fazer o que ele quer, abandonar tudo que eu mesma conquistei só pra ele se sentir mais importante ou seja lá o que passa na cabeça dele, eu me recuso a fazer qualquer uma dessas coisas, mas eu juro que ele vai engolir cada palavra que ele me falou e eu não vou conseguir isso trancada dentro de casa chorando pelos cantos, se ele espera me ver arrependida, chorando e desesperada, eu vou dar a ele exatamente o oposto, por isso depois de uma ultima avaliada eu saio do quarto, encontro com Ian enquanto ele começa a subir as escadas, ele para e me olha parecendo impressionado e ao mesmo tempo confuso, eu me aproximo e beijo Louise.
– A mamãe te ama, muito, muito, muito – falo beijando o pescoço dela varias vezes e ela ri.
– Onde você vai? – ele pergunta me olhando dos pés a cabeça.
– Tem mamadeira pra ela na geladeira, a papinha também já está pronta e quando for dar banho nela cuidado com o ouvido... – aviso e saio em direção a porta.
– Onde você vai? – ele repete e eu paro e me viro pra ele.
– Ah, também tem janta pra você, eu trouxe da casa da mamãe, só precisa esquentar! – então abro a porta e saio, não olho pra trás mas tenho certeza que ele esta me olhando, vou até o carro, entro e preciso só de alguns segundos pra me sintonizar, é que mesmo sabendo dirigir eu quase nunca faço isso, por que na maioria das vezes o carro está com Ian e quando não está eu prefiro ir andando mesmo, mas hoje não, finalmente eu consigo sair com o carro da Vila e vou direto pra casa da Hazel toco a campainha e é ela mesma quem atende.
– UAU! - ela fala assim que me vê fazendo uma cara de impressionada.
– Vai fazer alguma coisa agora? – pergunto e ela ainda está me examinando pedaço por pedaço.
– Você tá muito gata... A gente tem algum evento hoje e eu esqueci?
– Vai ou não fazer alguma coisa? – repito e ela solta o ar como se estivesse tentando se concentrar, então olha pro relógio.
– Eu vou encontrar com o Lucca daqui a pouco, as oito!
– Correção, você ia encontrar com ele! Liga e desmarca – aviso e ela me olha ainda mais curiosa.
– O que tá acontecendo com a “Senhora não saio sábado a noite por que é coisa de adolescente”? – ela pergunta com toda ironia.
– Liga e desmarca – eu repito.
– Posso pelo menos saber onde nós vamos? – ela pergunta já entrando e indo na direção do telefone, eu a sigo.
– Sei lá, pensei em ir lá no tal do Delphic – ela para a mão no ar a caminho do telefone e me olha com os olhos arregalados, o tal Delphic é uma das novas modas por aqui e além de ficar do outro lado do Distrito é exatamente o tipo de lugar que não tem muito a minha cara, ele tem como publico alvo os jovens, é um bar meio restaurante e tem algumas bandas que se apresentam lá e todo mundo garante ser super divertido, praticamente todos os meus amigos já foram lá e adoram o lugar, eu por outro lado nunca fui, só sei o que ouço.
– Tá bom! Quem é você e o que você fez com a minha melhor amiga? – Hazel pergunta usando todo seu talento teatral pra isso.
– Liga logo pro Lucca e avisa que você não vai sair com ele hoje – eu aviso pegando o telefone e entregando a ela.
– Não sei quais são seus planos, mas já gostei dessa frase – Gale fala enquanto entra na sala, Hazel revira os olhos.
– Pai, nem começa!
– Não disse nada – ele levanta as mãos em inocência, vem até a mim e beija minha bochecha – Você está linda! – ele fala com um sorriso, eu agradeço e ele vai pra cozinha enquanto eu espero Hazel falar com Lucca.
– Pronto! Sou toda sua! – ela fala e abre os braços – Só preciso de umas meia hora pra me arrumar – ela fala já indo na direção das escadas então para e se vira pra mim – Se bem que pra chegar aos seus pés acho que vou precisar da noite inteira – ela fala e eu faço uma careta enquanto empurro ela na direção das escadas, nós subimos e entramos no quarto dela, ela leva as meia hora só pra escolher a roupa e mais uma inteira pra conseguir se arrumar – E então? – ela pergunta quando finalmente termina, ela para com a mão na cintura fazendo uma pose de modelo, ela está em um vestido preto justo no corpo que destaca todas as suas curvas, ele vai até a metade das suas coxas, tem apenas um caminho de pedras pretas brilhosas nas laterais, ela deixa o cabelo castanho escuro solto, a maquiagem destaca seus olhos que já são fatais, o batom é vermelho e o salto maior do que o meu.
– Você tá linda! Mas que fique claro que eu não mandei você ir vestida pra matar – ela solta uma risada satisfeita.
– Agora você pode me contar o que está acontecendo? – ela pergunta enquanto pega sua bolsa e me lança aquele olhar penetrante.
– Quando a gente chegar lá eu conto! Agora vamos – eu falo e fico em pé, ela concorda e descemos as escadas, saímos da casa dela e entramos no carro.
– Eu ainda não acredito que isso tá acontecendo! – ela confessa e eu dou de ombros.
– É bom mudar de vez em quando!
– Cada vez mais eu acho que trocaram seu cérebro pro de algum alienígena – ela fala e eu acabo rindo, demoramos quase 30 minutos pra alcançarmos o lugar, mas conseguimos uma boa mesa, o lugar é realmente bem interessante, é uma espécie de cabana de madeira, espaçosa e muito bem dividida, de um lado tem um palco, a frente dele está o bar, grande e bem visível e do lado onde nós estamos fica a parte das mesas e sofás para os casais mais “apaixonados”.
– Ok, chegamos, sentamos, agora pode falando – ela exige e coloca os cotovelos sobre a mesa me encarando e eu sei que não consigo mais adiar, por isso eu conto tudo, sobre o relógio, em como eu pensei que ele iria ficar feliz e em como ele simplesmente surtou, falo das acusações dele, de como eu não entendo o por que ele está dizendo essas coisas e em como ele saiu ontem e voltou pra casa bêbado e que eu só sai hoje por que não suportaria ficar perto dele com tudo isso acontecendo, ela ouve cada palavra com toda atenção que poderia ter, ela não me interrompe e sempre me incentiva a falar mesmo quando o nó na minha garganta se aperta, eu solto o ar terminando de falar e afundo meu rosto entre minhas mãos.
– Hey, calma! Não fica assim – ela pede segurando minhas mãos e tentando me acalmar.
– Hazel, você é minha melhor amiga, é praticamente minha irmã, a pessoa que mais me conhece no mundo, sabe tudo sobre mim, então por favor, não mente pra mim... Alguma vez eu fiz essas coisas? Alguma vez eu quis ficar superior a alguém, alguma vez eu fiz isso com você ou com qualquer outra pessoa? – pergunto realmente confusa, ela me olha séria e segura minhas mãos mais forte.
– Olha pra mim, eu nunca menti e nem nunca vou mentir pra você! Então você pode acreditar em mim quando eu digo que eu nunca vi ninguém tão pé no chão quanto você! Eu nunca vi você querer aparecer por nada, pelo contrário, você faz exatamente o oposto disso! Pérola, você é a pessoa que eu conheço que mais poderia ser esnobe e sair por aí pisando em todo mundo, no entanto, você é a única que nunca fez isso, sabe por que? – ela pergunta e me olha, eu apenas a olho de volta – Por que você é a melhor pessoa que eu conheço e por que eu sou sua melhor amiga e nunca permitiria isso – ela sorri tentando me animar, mas ainda não consigo sorrir.
– Ele disse que todo mundo no trabalho fala que ele só está sendo promovido por que é casado comigo, ele disse que todo mundo fala que sou eu quem banco tudo! Eu nunca quis parecer assim, Hazel, nunca! – confesso e uma lagrima escorre.
– E você não é! Essas pessoas não sabem nada sobre você, elas só são um bando de invejosas e rancorosas, só isso!
– Alguma vez você ouviu algo assim? Sobre eu e você? – pergunto e ela revira os olhos.
– É claro que já Pérola, um milhão de vezes ou mais... – ela fala dando de ombros sem se importar – E ainda vou ouvir mais vezes, mas o que importa é que eu sei a verdade! Sei o quanto você é incrível e o quanto você ficaria completamente perdida sem mim e meus lembretes – ela fala e ri me balançando pelos ombros – Ei, para de pensar que o problema é você, por que não é! O problema é ele e logo, logo ele vai entender isso! – ela garante e eu concordo mesmo sem estar animada, muito menos confiante.
– E enquanto isso não acontece? – eu pergunto e ela abre um sorriso daqueles que ela lança quando acaba de ter uma boa ideia.
– Eu tive uma ideia!
– Por que eu sempre sinto um frio na espinha quando você fala isso? – ela solta uma risada e dessa vez eu acabo rindo também.
– É o seguinte, ele quer uma dona de casa sem graça e sem brilho não é? – ela pergunta sorrindo animada.
– Não sei essa parte do sem graça e sem brilho!
– Donas de casa são sem graça!
– Minha mãe é dona de casa – eu revido e ela finge tampar a boca.
– Mas algumas são dona de casa e mulheres incríveis – ela se conserta feliz com sua reviravolta, eu sorrio e indico que ela continue – Enfim, mas você não! Você vai ser só o que ele quer que você seja!
– O quê? – pergunto sem entender – Eu não vou fazer isso! Desculpa Hazel, mas esse foi o plano mais idiota que você já teve em toda sua vida – eu falo e ela me ignora.
– Presta atenção, ele sempre te conheceu assim, você sempre foi incrível, foi assim que ele se apaixonou por você, então se você parar ele vai ver o quanto isso é idiota...
– E se ele não perceber isso?
– Ele vai perceber!
– E se ele não perceber? – ela solta o ar e me olha séria.
– Então eu sinto muito, mas o seu marido se transformou num babaca – ela fala e eu sinto um medo enorme que isso realmente tenha acontecido.
– Eu o amo, Hazel – confesso e ela me olha com compreensão, me força um sorriso e coloca a mão sobre a minha em um gesto de carinho.
– E ele te ama, Pérola, eu tenho certeza disso! Ele só deve estar confuso! Se deixou levar pelo que ouviu, mas ele te ama e eu tenho certeza que ele não acredita de verdade em nada disso, talvez ele queira acreditar pra justificar alguma coisa que esteja errada nele e não em você! – ela fala com a voz doce e calma, um pouco diferente da Hazel sempre agitada e isso só me faz amar ainda mais ela, eu me inclino e a abraço, ela me aperta e beija minha bochecha – Eu sei que o plano parece idiota, mas pensa assim... Ele passou todo esse tempo com essa Pérola, talvez ele tenha esquecido dos detalhes que tornam você tão... você! Ele só precisa lembrar disso, então se você tirar essas coisas ele logo vai ver que essa não é a mulher que ele se apaixonou – ela fala e eu tenho que concordar que faz um pouco de sentido.
– Eu não posso parar as coisas no ateliê, tem um monte de coisa pra fazer! – eu lembro e ela concorda.
– É, eu sei, mas... você pode fazer a maior parte das coisas em casa, se precisarmos de você no ateliê, então quando ele sair pra trabalhar você vai rapidinho lá e depois você volta pra casa pra ser a esposa e dona de casa mais sem graça que o Distrito Doze já viu! E bom, caso isso dê errado, tem um cara super gato na mesa perto da janela que não tira os olhos de você – ela fala sorrindo e apontando discretamente para o homem, eu acabo rindo mas reconheço o homem.
– É o Max, ele é amigo do Ian – eu falo e sorrio com um leve aceno quando ele também acena pra mim.
– Bom, ele estava de olho em você! – ela fala e dá de ombros, então ele se levanta da mesa dele e vem na nossa direção – Uau, ele não perde tempo – ela fala e eu só tenho tempo de dar um beslicão nela por baixo da mesa, ela faz uma careta e me empurra.
– Pérola! – ele abre um sorriso grande demais enquanto me estica a mão, eu aperto com um sorriso sem graça – Hazel, acertei? – ele pergunta e Hazel sorri concordando – E o que vocês fazem sozinhas aqui? - Curtindo uma noite de melhores amigas – ela fala e me olha sorrindo.
– Então não vou atrapalhar – ele fala rindo e levantando as mãos – Só quis dar um “Oi”!
– Oi! - eu falo sorrindo.
– Aliás, você está ainda mais linda que qualquer outro dia – ele fala e seu sorriso não é tão grande como antes mas traz algo por trás que eu prefiro nem descobrir o que é – E você também, é claro – ele fala pra Hazel, mas logo volta a me olhar, faz um aceno com a cabeça e se afasta.
– UAU! – Hazel fala e me olha.
– Nem começa!
– Ele é gato! – eu a encaro como se ela tivesse dito uma besteira, então ela ri e dá de ombros, mas realmente ele é muito bonito, é alto, forte, loiro e tem olhos verdes além do mais a voz dele é grossa e forte, mas mesmo se ele fosse o homem mais lindo do mundo, não é ele que eu amo – Você também achou né? – ela pergunta me sacudindo quando me percebe olhando pro cara.
– Você é a pior madrinha de casamento do mundo! – ela faz uma careta e me abraça apertado.
– Eu dou uma semana e ele vai estar implorando de joelhos que você o perdoe!
– Espero que sim!
– Mas agora... Vamos aproveitar a noite, onde pela primeira vez em... sei lá quanto tempo, eu tenho minha amiga só pra mim! – ela fala me abraçando de novo, eu a abraço também sorrindo e quando nos soltamos ela chama o garçom e pede dois drinks. - O meu é sem álcool! – eu falo e ela já ia brigar comigo – Eu tô dirigindo, eu sou mãe, estou amamentando e alguém tem que ser a responsável! – eu falo levantando um dedo pra cada motivo. - O dela é sem álcool – ela confirma pro homem que sorri e sai. Mesmo com o verdadeiro motivo que me fez fazer essa loucura de sair de casa assim do nada, tenho que confessar que acho que eu precisava mesmo disso, uma noite sendo só a Pérola, não a mãe, não a esposa, não a estilista, não a filha mais velha, só... eu! E a Hazel realmente sabe como me fazer rir e esquecer dos problemas, ela é de longe a melhor amiga que eu poderia pensar em ter, mesmo quando implica comigo e me chama de careta ou diz que eu estou ficando velha e chata, ainda assim ela é praticamente uma irmã pra mim e eu sou grata cada segundo por tê-la em minha vida e quando eu a deixo em casa já me sinto bem melhor e minha barriga está doendo de tanto que ri durante toda a noite, ela entra em casa levando os saltos na mão e me manda um beijo antes de fechar a porta, eu sorrio e vou pra casa, paro o carro e quando olho pra minha casa sinto uma mistura de sentimentos, saudades, ansiedade, nervoso mas acima de tudo um medo terrível que as coisas não se acertem, preciso de muito auto controle pra conseguir afastar esses sentimentos e então saio do carro e entro em casa, as luzes de baixo estão todas apagadas, eu acendo a da cozinha e olho o relógio, são uma hora da manhã, desde que Louise nasceu esse é horário mais tarde que eu já cheguei em casa, eu estava apagando a luz da cozinha quando ouço os passos, saio da cozinha e encontro Ian terminando de descer as escadas, ele para me olhando e eu o olho de volta, então decido que só irei colocar o plano de esposa submissa amanhã, por que por hoje minha paciência está bem esgotada, por isso eu apenas passo por ele e subo as escadas sem dizer nada, entro no quarto da Louise e ela está dormindo tranquilamente no berço, me aproximo e apenas de olhar pra ela sinto uma paz invadir meu peito, eu toco com a ponta dos meus dedos os fios de cabelo negros como os do Ian e sua pele tão macia e quentinha que só aumenta ainda mais a vontade que eu tenho de abraça-la e afastar todo mal que possa existir pra longe dela, por que nada no mundo é mais importante pra mim do que a ter bem e feliz.
– Ela chorou metade da noite e só conseguiu dormir por que eu andei pela casa inteira tentando acalmar ela, espero que a noite tenha valido a pena – Ian fala e eu sinto um aperto de culpa no peito, mas imediatamente me lembro que a culpa não é só minha, ele que começou com isso, além do mais, ele é o pai, algumas horas sozinho com ela não é o fim do mundo, eu respiro fundo e me viro na direção dele, seus olhos estão fixos em mim e ele parece disposto a começar uma briga, mas eu não vou entrar nesse jogo com ele, então desvio os olhos dele e vou até o guarda roupa no canto do quarto, onde tem algumas camisolas minha, eu pego uma delas e entro no banheiro, fecho a porta e me encosto nela de olhos fechados tentando não perder o controle, as lagrimas insistem em descer e eu as empurro pro fundo do meu peito, respiro fundo e começo a tirar minha roupa pra tomar banho, quando saio do banheiro ele não está mais no quarto, observo Louise por mais alguns minutos e então o cansaço da noite começa a falar mais alto, eu me deito na cama que tem no quarto dela e durmo rapidamente. Quando acordo no dia seguinte Louise ainda está dormindo, desço e vou pra cozinha preparar o café da manhã, decidindo, depois de pensar muito, que talvez Hazel tenha razão e o plano não seja tão idiota assim, por isso coloco todos os meus truques culinários em prática e faço o melhor café da manhã que consigo, estava terminando de virar as omeletes no prato quando Ian aparece na cozinha com uma Hazel chorosa nos braços, eu paro o que estou fazendo e vou até eles, ela se joga no meu colo e o choro para, beijo e aperto ela o máximo que consigo.
– Achei que a gente fosse tomar café da manhã na sua mãe – ele fala olhando a mesa de café.
– Achei melhor a gente ficar em casa hoje – eu falo e ele parece satisfeito porém não demonstra muita coisa além disso, ele se senta e começa a se servir enquanto eu amamento a Louise e só depois me junto a ele pro café, não trocamos nenhuma palavra e se não fosse pela Louise e suas silabas enroladas o silêncio seria quase palpável.
– Minha mãe chamou a gente pra almoçar lá hoje, já que vocês não foram ontem! – ele fala e eu balanço a cabeça confirmando – Mas se você não quiser ir, eu posso só levar a Louise! – ele sugere e mesmo que minha vontade seja jogar o prato na cara dele eu forço um sorriso.
– É claro que eu vou! Não perderia a macarronada da tia Delly por nada nesse mundo – eu falo e ele me olha meio confuso, mas dá de ombros e sai da cozinha depois de beijar a testa da Louise, ouço ele subindo as escadas e solto o ar que estava engasgado, termino de tirar a mesa do café a lavar a louça e vou até a casa dos meus pais, Pietro está rindo tão alto que ouço antes de abrir a porta, entro e vejo ele e papai no chão da sala se arrastando como se estivessem se escondendo de alguma coisa, mamãe está descendo as escadas.
– O que tá acontecendo com eles? – pergunto apontando pra eles dois no chão da sala.
– Estão se escondendo de um esquilo raivoso – ela fala revirando os olhos e pega a Louise do meu colo, beijando a bochecha dela.
– É um coelho mãe, eu já falei – Pietro fala como se estivesse cansado de explicar.
– Que seja, eu só sei que eu quero os sofás e o tapete no lugar quando vocês forem capturados – ela fala tentando parecer brava mas se divertindo também.
– A gente vamos cozinhar ele – Pietro fala fazendo a cara mais malvada que consegue.
– E salvar a nossa casa – papai entra na onda dele e ele comemora fazendo outra cara de mal, nós rimos e eu vou pra cozinha com a mamãe.
– E o Pyter?
– Onde mais ele estaria? Dormindo! – ela fala e eu acabo rindo – E você? Tudo bem? Parece preocupada – ela fala me olhando com atenção enquanto Louise brinca com os cabelos dela.
– Não, só... Um pouco cansada! Acho que concordo com você quando dizia que ser mãe é um tanto cansativo – eu falo sorrindo e ela também sorri, se aproxima de mim, beija minha testa e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
– Você é minha filha, não tenta mentir pra mim, até por que se tem algo que você me puxou, é que você não sabe fazer isso! – ela fala e me dá um sorriso encorajador.
– Eu e Ian discutimos, só isso – eu falo dando de ombros como se não tivesse importância.
– Vai ficar tudo bem! – ela garante e me puxa pra um abraço, Louise também coloca a mão na minha cabeça e eu sinto como se todo choro que eu estou segurando sairá a qualquer momento.
– Será que um jovem cansado não pode dormir nessa casa? – Pyter reclama fazendo uma careta pra gritaria do Pietro, mamãe e eu rimos.
– Se esse jovem acordasse antes do meio dia – ela fala e ele faz outra careta já pegando Louise e levantando ela no alto, o que rende boas gargalhadas dela.
– Ela mamou! – eu brigo com ele e a pego nos meus braços.
– Tô com fome! – ele fala já procurando por algo pra comer.
– E eu tô saindo... – os dois olham pra minha cara.
– Hoje é domingo! – ele fala como se fosse óbvio, afinal todo domingo nós almoçamos aqui.
– Eu sei, mas é que ontem eu não fui lá na tia Delly e ela já ta reclamando!
– E por que você não foi? – Pyter pergunta me olhando curioso.
– Por que eu estava aqui esperando a volta do filho rebelde – eu falo e ele faz uma careta e tenta morder minha bochecha, eu me esquivo e graças a Louise ele desiste, aproveito antes que venham mais perguntas e vou pra porta – Vejo vocês mais tarde! – aviso e saio rapidamente, entro em casa e Ian está descendo as escadas, Louise estica os braços se jogando pra ele, então ele a pega sorrindo.
– Vou tomar banho e me arrumar – aviso e subo as escadas.
O almoço não foi completamente terrível mas qualquer um podia perceber que tinha algo errado entre eu e Ian, o que acabou gerando perguntas da tia Delly pra mim quando eu fui até a cozinha, eu disse que foi apenas uma coisa boba e mesmo assim ela não pareceu acreditar, não posso culpa-la até por que Ian mal olhou na minha cara por mais de 10 segundos e ao contrário do seu lugar que sempre foi ao meu lado, ele foi se sentar ao lado da mãe, ela não reclamou mas o olhar pareceu ainda mais confuso, felizmente bastava um riso da Louise e todos estavam com atenção nela e consegui sair de lá sem mais nenhum interrogatório, o caminho pra casa foi silencioso e pareceu incrivelmente longo, assim como cada segundo do dia. Na segunda eu acordei mais cedo que ele, preparei o café, deixei a mesa arrumada e subi pra cuidar da Louise, como ela ainda estava dormindo desci e comecei a arrumar a casa, quando ele desceu arrumado me olhou um pouco curioso e confuso. - Bom dia! O café tá na mesa! – o olhar parece tentar desvendar algum segredo, mas desiste.
– Bom dia – ele fala e vai pra cozinha.
Depois que ele sai pra trabalhar, Louise acorda e eu tenho que conciliar todas as minhas tarefas, arrumo a casa, embora não tenha muita coisa pra se fazer, lavo o restante das roupas e depois vou pro escritório trabalhar nos meus esboços enquanto Louise brinca com seus brinquedos no chão perto de mim, paro pra fazer o almoço pra nós duas e depois, a tarde, quando ela dorme volto pro meu trabalho, finalizo dois vestidos e começo a criar um novo modelo, por incrível que pareça os traços são perfeitos e a cada forma sinto minha mente menos pesada, perco a noção da hora e só paro de desenhar quando Louise chora, não demoro muito pra acalmar ela e enquanto ela assiste um desenho animado eu adianto o jantar, seguindo o plano de ser a esposa tão perfeita que Ian deseja.
– Achei que você tivesse pego comida na minha mãe – ele fala já que sempre que vamos almoçar lá eu trago uns potes com o que será nosso jantar no dia seguinte, por que tenho que confessar que as vezes bate uma preguiça, e isso já era uma rotina pra gente, no dia seguinte do almoço na mãe dele, sempre comemos comida requentada.
– Achei que você ia preferir algo que não fosse requentado – falo com um sorriso digno de aplausos, ele me olha confuso, mas pega o prato e se serve, nós jantamos e sinto as vezes o olhar dele em mim, mas ele não diz nada, então quando acabamos de jantar eu me levanto e junto nossos pratos e toda louça.
– Eu lavei na ultima vez – ele fala enquanto se levanta.
– É eu sei, minha vez! – eu falo já abrindo a torneira e começando a lavar, sinto ele parado atrás de mim, provavelmente esperando a longa tentativa que eu sempre faço pra me livrar da louça, mas não hoje, eu apenas começo a lavar e alguns minutos depois ele pega a Louise e sai da cozinha.
Ele fica responsável por colocar ela pra dormir e eu aproveito pra tomar banho, arrumo a cama e me deito, alguns minutos depois e ele entra no quarto, tira a camisa, colocando na cadeira no canto do quarto como ele sempre faz e então se deita ao meu lado.
– Lembrei de pegar o lençol extra hoje! – eu falo quando ele pega no meu lençol já que ele sempre diz que eu puxo o lençol todo pra mim e ele fica descoberto – Você sempre fala e eu sempre esqueço – falo forçando o melhor sorriso e ele apenas concorda, mas empurra o lençol extra e apaga a luz do abajur, preciso segurar todos os meus instintos pra não me envolver nele e sentir meu corpo relaxar junto com o corpo dele, talvez por isso eu demore tanto pra pegar no sono. O resto da semana as coisas se repetem e eu entro numa rotina, faço todas as minhas coisas e quando ele chega o jantar está perfeitamente preparado e a mesa impecavelmente arrumada, a discussão e as chantagens pra lavar a louça acabaram, eu sempre lavo antes mesmo que ele se levante, o lençol extra permanece na cama todos os dias, mesmo que ele não o tenha pego, além disso, nenhuma compra, nada mesmo, na verdade eu mal saio da Vila, tirando o meio da semana onde tive que passar no ateliê pra aprovar um modelo, mas logo voltei pra casa e mantive a rotina, no dia do Campeonato nós fomos juntos e ele pintou o rosto dele e da Louise com as cores da bandeira do Distrito, mas eu acho que não ficaria bom pra uma esposa dedicada sair com o rosto pintado por aí, por isso rejeitei e sorri, ele pareceu meio decepcionado, ainda tentou me convencer a entrar na brincadeira mas rejeitei e ele parou de insistir, pra festa que teve depois da premiação nós deixamos a Louise com meus pais e fomos sozinhos, logo depois dele lavar o rosto, a festa estava muito movimentada e com comida e música boa, ficamos com Hazel e os outros por um tempo mas depois eles saíram pela festa animados e nós demos uma volta pelo espaço, até que uma das equipes de filmagem nos encontram, rapidamente eu desvio entre umas mesas de comida e só paro no canto quando eles se perdem de mim.
– Por que você fez isso? – Ian pergunta quando me alcança.
– Fiz o quê? – pergunto fingindo não entender.
– Você fugiu da câmera, você nunca fez isso – ele fala como se estivesse me recriminando.
– Não quero expor ainda mais nossa vida! Isso não tem nada a ver com a coleção então não tem nada a ver comigo, muito menos com você! Só quero curtir a festa como pessoas... ‘normais’ – eu falo usando o que ele mesmo me disse.
– E você não poderia apenas sorrir e agradecer o carinho como você sempre fez?
– Não acho que isso seja carinho! – falo dando de ombros e Hazel nos alcança antes que ele diga mais alguma coisa.
– Preciso de você! – ela fala já segurando meu braço e me levando junto com ela, Ian fica pra trás nos olhando ainda confuso.
– Onde é o incêndio? – pergunto quando ela me deixa parar.
– Acho que fiz uma besteira! – ela fala e quando olho pra ela, realmente parece preocupada.
– O que você fez? – me alerto imediatamente.
– Eu juro que não queria confusão...
– Hazel, fala logo!
– Eu tava falando com o Lucca sobre você e o Ian terem brigado por que ele acha que você tem que ficar trancada dentro de casa como uma empregada dele...
– Hazel... Essa parte eu já sei... Só fala logo o que aconteceu
! - Eu não vi que o Pyter estava atrás de mim! – ela fala rápido e então tampa a boca.
– Droga! – eu murmuro já sabendo que não conseguirei me livrar disso.
– Eu juro, juro mesmo que foi muito sem querer! É que o Lucca perguntou se tinha algo errado com vocês e eu me empolguei!
– O que ele ouviu exatamente?
– Acho que só algumas partes... Que vocês brigaram e que não estão bem! Ele logo me interrompeu e perguntou o que eu sabia, eu disse que era coisa de casal boba, mas você sabe, ele me olhou daquele jeito – ela fala parecendo nervosa e eu sei que jeito foi esse, o jeito de quem sabe que você está mentindo e que vai descobrir tudo e fazer você se arrepender, ele me olha assim desde que éramos crianças e eu ainda tremo do mesmo jeito.
– Tá, eu vou embora antes que ele apareça atrás de mim – eu falo e beijo bochecha dela.
– Desculpa – ela pede sincera.
– Você nunca precisa me pedir desculpa por nada, ok? – eu sorrio e ela faz uma carinha triste e nós nos abraçamos, eu encontro Ian de novo e ele nem reclama quando eu digo que quero ir embora.
Nós saímos e quando ele para o carro, eu desço em direção a casa dos meus pais.
– Achei que ela fosse dormir lá hoje – ele fala e eu paro no caminho, eu sei exatamente o que ele está pensando mas não existe a menor chance disso acontecer enquanto esse clima continuar.
– Não gosto de dormir longe dela – eu falo forçando um sorriso.
– Não pensei em dormir – ele fala com o olhar fixo no meu, esperando que eu fale algo.
– Ela pode acordar no meio da madrugada – eu falo, viro as costas e vou pra casa dos meus pais, entro e papai está subindo as escadas com Pietro dormindo no seu colo, eu o sigo, subindo devagar, ele vai pro quarto do Pietro e como o berço fica lá eu também vou, mamãe está terminando de ajeitar a cama do Pietro e papai o coloca com cuidado, mamãe vem até a mim.
– Achei que ela fosse dormir aqui hoje – ela fala me olhando confusa.
– Nós chegamos mais cedo do que eu pensei!
– Ela acabou de dormir, se você tentar levar ela agora vai te custar uma noite inteira – ela avisa e me olha – Deixa ela dormir! Eu acho que consigo tomar conta dela né – ela fala e eu sorrio revirando os olhos.
– Eu sei que consegue!
– Então está decidido, aproveita pra se entender com o seu marido – ela fala me empurrando pra fora do quarto – Boa noite – ela fala acenando um adeus, eu sorrio e desço as escadas, vou pra casa, ouço o barulho vindo da cozinha e vou até lá, Ian está procurando por alguma coisa dentro do armário, eu me aproximo e ele se vira me olhando.
– Não consigo achar aquela geleia de laranja – ele fala ainda afastando as coisas da frente na esperança de encontrar.
– Acabou! – eu falo e ele para de procurar e me olha – Eu até pensei em comprar mas tem queijo e realmente eu fiz as contas e aquela geleia é muito cara, acho que podemos substituir por outra coisa – eu falo com a maior naturalidade do mundo – Inclusive o chocolate também acabou, ah e aqueles damascos também! – ele me observa por alguns segundos.
– Parece que tudo tá acabando! – ele fala e começa a fechar as portas dos armários que estavam abertas – Meu perfume também acabou e eu não achei o extra que você sempre compra! – ele fala e volta a me olhar.
– É por que eu não comprei! Nem fui na praça essa semana! Mas se você fizer uma lista do que você quer que eu compre, eu posso passar lá na segunda! – falo enquanto pego um copo de agua pra mim.
– Uma lista? Desde quando você precisa de uma lista?
– E vou precisar do dinheiro também – completo dando de ombros - Ah e as cortinas da sala eu acho que estão muito escuras, se não tiver problema eu queria comprar uma mais clara, pra entrar um pouco de luz, o que você acha? – ele está parado me olhando como se eu fosse alguma pessoa desconhecida – Você pensa e me dá a resposta amanhã, agora eu preciso tomar um banho e dormir – eu aviso, coloco o copo na mesa e saio da cozinha, entro no nosso quarto e solto o ar que parecia preso, me sento na cama pra tirar minhas sandálias, meus pés estão doloridos e sinto o alivio imediato, empurro-a pra debaixo da cama e me levanto, abro o zíper da lateral do meu vestido e o deixo escorregar do meu corpo, então no momento que o vestido alcança o chão a mão toca minha cintura, um choque imediato percorre cada pedaço do meu corpo, a mão é quente e o aperto é perfeitamente medido, a outra mão vai até meu ombro e desce lentamente pelo meu braço, sinto o calor do seu corpo tão próximo do meu que sua respiração pode ser sentida na minha pele, meus olhos se fecham automaticamente e me permito lembrar dessa sensação por alguns segundos, por que por mais que eu ainda esteja magoada e machucada com ele, eu ainda o amo tanto quanto sempre amei, eu ainda o desejo como meu marido, sinto falta de como éramos até uma semana atrás, sinto falta do seus beijos, seu toque, a maneira como ele sempre me olhou e tudo fica ainda mais forte quando sua mão escorre para minha barriga, ele me puxa um pouco pra trás e me encosta no seu corpo, seu rosto se aproxima da minha nuca e seus lábios tocam minha pele, mas é nessa hora que me lembro de todas as palavras que ele me disse, do quanto ele me acha fútil e arrogante, me lembro de como ele simplesmente me largou em casa uma madrugada inteira pra poder beber, tudo isso aparece como uma tempestade na minha mente e ao invés de me deixar levar pelo seu toque, eu me afasto rapidamente como se realmente quisesse fugir dele.
– Eu vou tomar banho – eu falo sem nem ao menos o olhar, vou pro banheiro e já estava fechando a porta quando ele a para com a mão.
– Posso tomar com você! Eu vou ter que tomar de qualquer jeito então já adianta – ele fala com a sombra de um sorriso.
– Eu vou ser rápida – falo e fecho a porta, ele não tenta impedir dessa vez, assim que a porta se fecha eu apoio minha testa nela e respiro fundo várias vezes tentando acalmar meu corpo e minha mente, entro no chuveiro e deixo a agua escorrer na minha cabeça, saio de lá um pouco menos abalada e com meu corpo mais controlado, mas quando o vejo de cueca preciso desviar os olhos dele imediatamente, eu vou pro lado oposto onde ele está e finjo procurar algo na gaveta, ouço a porta do banheiro fechando e solto o ar me jogando sentada na cama, eu encaro a porta do banheiro e peço com os mais fortes pensamentos que as coisas voltem ao normal, por que não aguento mais ficar tão distante e fria com ele, mas ao mesmo tempo não consigo esquecer tudo que ele me disse, então apago a luz e me enfio debaixo do cobertor, ouço quando ele sai do banheiro e fecho os olhos fingindo estar dormindo, leva alguns minutos e o sinto deitar ao meu lado, mantenho minha farsa e então os dedos passam pelo meu cabelo, os afastando do meu rosto, a ponta dos seus dedos fazem um caminho pela lateral do meu rosto e então ele beija minha bochecha, seu rosto escorrega até o espaço entre meu ombro e meu pescoço e ele inspira meu perfume, preciso me controlar pra me manter imóvel e de olhos fechados, ele sobe o cobertor pelo meu corpo e passa o braço pela minha cintura me mantendo junto dele e mesmo ainda com esse clima ruim e com tantas coisas pendentes, meu corpo ainda relaxa quando o sinto tão perto de mim, assim como sinto o dele relaxar, uma lagrima escorre dos meus olhos ainda fechados e mais uma vez eu imploro em pensamentos que tudo volte ao normal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nova fase'" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.