Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 47
Capítulo 47




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Hoje já é sexta e eu finalmente termino a pilha de relatórios que tinha em cima da minha mesa e me jogo pra trás na cadeira, esfrego o rosto e respiro fundo encarando a tela do computador ainda ligada, por um minuto apenas não penso em nada, só fico encarando o brilho, então o telefone toca.
— Pietro!
— Se for mais um relatório, eu juro que me enforco com a minha gravata e você que vai ter que limpar a sala – ouço a risada da Francine, minha mais nova (e primeira) estagiária.
— Pode soltar a gravata, é que sua irmã está aqui...
— Pérola? – realmente fico surpreso, por que ela nunca veio me visitar no trabalho, na verdade, acho que nem ao Ian, que é o marido dela.
— Pode mandar entrar – Fran concorda e eu desligo o telefone tentando imaginar o que a trouxe aqui, ela aparece e eu mal consigo esperar ela passar da porta – Por favor, não me diz que é algum problema com a roupa...
— Relaxa aí, ô noivinho ansioso – ela fala e ri – Tá tudo certo com as roupas, aliás, vocês dois tem sorte, estão nas mãos da melhor estilista desse país...
— A mais humilde também né? – falo com ironia e ela sorri orgulhosa e dá de ombros, mas logo se distrai olhando em volta.
— Nada mal, ein? Então quer dizer que você tem mesmo um trabalho e uma sala só sua...
— Eu disse que eu sou importante – minha vez de sorrir orgulhoso fazendo uma pose enquanto finjo endireitar a gravata, ela ri e anda até a parede que tem todas as molduras com meus certificados de cursos.
— Em pensar que eu que te ensinei a tabuada...
— Ok, você tá ficando velha, já entendi – recebo um tapa antes de dizer que era brincadeira, mesmo assim ela ri.
— Olha, e ele trabalha mesmo – ela levanta as folhas espalhadas pela minha mesa – Ou isso é só encenação?
— Tive que adiantar tudo por causa da lua de mel – ela sorri assim que eu falo.
— Nervoso?
— Depende, o que você veio fazer aqui? – ela ri e revira os olhos.
— Como você é dramático, ein, eu só vim por que eu tenho uma ótima noticia e queria te contar pessoalmente e não conseguia esperar até você ir pra casa – ela parece realmente ansiosa e isso também me deixa ansioso.
— Fala logo – apresso ela que começa a aumentar o sorriso.
— Você lembra do pedido que me fez mês passado?
— Que ped... – eu paro assim que me lembro – Você disse que não tinha conseguido...
— Mas eu disse também que não ia desistir, não disse?
— Ai meu Deus, Pérola, isso é sério? Você conseguiu? – o sorriso orgulhoso dela é a confirmação que eu precisava – CARALHO VOCÊ É A MELHOR IRMÃ DO MUNDO – eu pego ela no colo, tirando seus pés do chão e fazendo-a rir enquanto eu giro no meio da sala – Isso é incrível, perfeito, isso é...
— É, eu sou mesmo incrível – ela sorri quando a coloco no chão, fazendo uma pose de superior, mas dessa vez não posso negar, ela foi incrível mesmo, mês passado eu tive a ideia de fazer uma surpresa pra Luiza, no dia do nosso casamento, que já será no próximo domingo, eu queria que a banda preferida dela tocasse durante a cerimônia e como a Pérola conhece muita gente desse meio por causa dos desfiles, eu pedi ajuda dela, acontece que por ser uma banda que está em alta, eles estavam com a agenda lotada e não tínhamos conseguido a data.
— E como você conseguiu isso? – ela faz uma cara de ofendida.
— Meu nome é Pérola Everdeen Mellark, me respeita, por favor? – ela faz uma cara de esnobe e depois sorri – Eu só precisei falar com a pessoa certa... A noiva do vocalista apareceu em uma revista ontem usando um dos meus modelos e ela disse na entrevista que tem várias peças minhas, então... Eu só precisei de um número de telefone e cinco minutos de conversa – eu volto a abraçar e beijar a bochecha dela várias vezes.
— Você... Foi... Perfeita... Muito... Obrigado – ela ri.
— Mesmo tendo um escritório só seu e estando a 48 horas do seu casamento, ainda assim você é o caçula – ela segura meu rosto com as mãos – Eu sequestrava eles, se fosse preciso – eu sorrio e também seguro o rosto dela.
— Você é a melhor
— É, eu sou – ela sorri e eu beijo sua bochecha de novo.
— E o valor? Como eles querem? Dinheiro, cheque...
— AHHH nem pensa nisso... O meu presente tem que ser melhor que o do Pyter, não é possível que ele sempre acerte mais...
— Sério? Você vai bancar? – ela abre um sorriso orgulhoso e dá de ombros – É impossível ele te superar...
— Bom, então agora eu vou fazer uma surpresinha pro meu marido – ela pisca um dos olhos.
— Meu Deus, eu tô te amando tanto agora – aperto ela de novo que ri, mas me empurra.
— Seu interesseiro cara de pau – ela tenta parecer reprovar, mas ri – A gente se fala depois – ela manda um beijo no ar e sai do meu escritório, não me importo de parecer um maluco, mas dou um pulo enquanto dou vários socos no ar comemorando, eu achei que já não tivéssemos chance, principalmente por que já estamos na beirada do casamento, daqui a dois dias apenas, exatamente no domingo eu serei um homem casado e por mais que isso me deixe extremamente nervoso, eu só quero que chegue logo esse dia, então volto pra minha mesa, termino de enviar todos os relatórios revisados, guardo os papéis nas pastas e chamo a Fran pra poder lhe dar as ultimas instruções de como deve agir nas próximas duas semanas, ela vai ficar como estagiaria do Roger, que trabalha junto comigo e que pode responder no meu lugar quando não estou, resolvo algumas ultimas coisas da agenda e então no fim do expediente, junto minhas coisas e me despeço deles.
Quando chego na Vila Lucca e Pedro estão chegando de bicicleta, eles fazem uma manobra escorregando-as e levantando poeira.
— Bem discretos – eu falo e os dois estão comemorando que conseguiram fazer sem acabar de cara no chão.
— Já tá pronto pra botar a coleira?
— Garoto, tu tá meio abusado, sabia que sou seu tio? – ele revira os olhos.
— Um tio que tá prestes a colocar a coleira...
— Quando chegar sua vez eu vou me lembrar disso
— Ah vai demorar muito ainda
— Eu também dizia isso
— A diferença é que eu tô falando sério
— Aham, então conta aí, como tá essa lista? – ele abre um sorriso orgulhoso.
— Lembra da Cândice?
— Hum?
— Tô tentando fazer ela largar do meu pé – ele sorri daquele jeito malicioso, os olhos azuis brilham e eu acabo rindo.
— E a Bruna e a Polyanna e a Evellyn... – Pedro completa meio que revirando os olhos e Lucca sorri orgulhoso.
— Ah moleque, não me mata de orgulho – eu puxo o Lucca pra perto mesmo ele já estando quase da minha altura e provavelmente sendo mais forte que eu já que ele malha o dobro, talvez o triplo do que eu costumo malhar, mesmo assim eu bagunço seu cabelo do mesmo jeito de quando ele ainda batia na minha cintura – E você, Pedro? Sobra alguma coisa pra você?
— Eu não gosto muito disso... 
— Ele é o romântico – é a vez do Lucca revirar os olhos.
— Não é isso, é só que... – ele dá de ombros sem saber o que dizer.
— Ele é o romântico – Lucca reafirma e Pedro revira os olhos.
— E você é o babaca – Lucca não se ofende, pelo contrário, ele ri.
— Pronto, a dupla perfeita – mesmo que antes parecesse meio irritado, Pedro acaba sorrindo, mas logo revira os olhos de novo.
— LUCCA E PEDRO, VEM LANCHAR SE NÃO EU VOU TIRAR A MESA – Keyse grita da porta de casa e só então me vê – AÊ NOIVINHO! PRONTO PRA BOTAR A COLEIRA? – Pedro e Lucca riem na hora que ela fala.
— VOCÊ É UMA PESSIMA INFLUÊNCIA, SABIA?
— ACHEI QUE ESSA FOSSE UMA EXIGÊNCIA PRA FAZER PARTE DA FAMÍLIA – ela faz uma cara de confusa e eu acabo rindo, mas mostro o dedo do meio pra ela.
— ÓTIMO EXEMPLO – ela bate palmas com ironia, eu rio e vou pra casa, assim que entro papai está descendo as escadas.
— Aí está ele! Eu preciso saber qual a cor da tinta e o papel de parede pro quarto? – eu paro e levanto as mãos pedindo calma.
— Eu tenho que falar com a Lu
— Você disse isso semana passada e na passada e na passada também – eu faço uma careta.
— Eu vou falar hoje...
— Pietro, eu PRECISO saber qual a cor e o papel de parede ou eu não tenho como fazer nada...
— Eu sei, eu vou falar com ela...
— Quer saber? Esquece, eu mesmo vou ligar pra ela e eu resolvo, no que depender de você, vocês voltam da lua de mel e o quarto está a mesma coisa...
— Eu gosto dele assim...
— É o quarto de um solteiro, você vai voltar casado...
— Ela nunca reclamou do quarto – dou de ombros e ele revira os olhos.
— Eu vou ligar pra ela – ele sai, indo apressado pro escritório.
— O que houve com ele? – mamãe pergunta vindo da porta dos fundos.
— Tintas, papel de parede e mais algum drama que eu não consegui entender muito bem – ela ri.
— Ele passou o dia inteiro reclamando que vocês ainda não escolheram nada e que assim ele não pode começar a reforma, acho que ele tá mais ansioso que vocês...
— Ele vai ter 15 dias pra isso
— Você conhece seu pai, ele quer tudo perfeito logo... Além do mais, eu até concordo com ele, quem sabe se tudo estiver perfeito, vocês demoram mais pra achar o apartamento – ela dá de ombros e eu sorrio e a abraço apertado.
— Nós não temos pressa nenhuma – eu garanto, não apenas pra ver o sorriso aliviado que ela dá, mas por que é verdade, eu e Luíza conversamos sobre isso e ela não só adorou a ideia de morarmos aqui até acharmos o apartamento do jeito que queremos, como também ficou super empolgada, ela sempre disse que se sente em casa aqui e é verdade, ela sempre ficou a vontade perto do papai e da mamãe e quanto a mim, eu não tenho pressa nenhuma de sair daqui.
— Eu vou subir, tomar um banho e começar a arrumar a mala...
— Não se acostuma mas eu deixei as roupas que eu lavei em cima da sua cama, passadas e dobradas...
— EU TE AMO – beijo a bochecha dela de forma exagerada e ela ri, mas me empurra pra subir as escadas, subo correndo e já arrancando a gravata e abrindo a camisa, quando abro a porta do meu quarto levo um susto, mas que dura apenas 1 segundo, logo identifico a figura jogada na minha cama, jogando meu vídeo game.
— Eu ainda não acredito que tu não tinha passado dessa fase...
— Seu filho da...
— Olha a boca – ele aponta pra mim e sorri – Eu não deixo xingarem minha mãe e continuarem com todos os dentes – ele dá de ombros e eu vou até ele e puxo o controle da sua mão.
— Eu tava esperando ter tempo pra poder jogar E passar dessa fase, seu imbecil
— Bom, não precisa mais, eu já passei... Ah e comprei aquele reforço extra...
— Você o quê? – eu mexo indo até as opções, apenas pra confirmar que ele gastou todo dinheiro que eu estava juntando.
— Eu ia comprar aquele baú de ouro, seu animal...
— Ei, me respeita, moleque – ele joga almofada na minha cara – Eu sou mais velho...
— E mais imbecil – ele me acerta outra almofada.
— Por que o papai e a mamãe não avisaram que você tava aqui? Eles viram você subindo?
— Eu subo a hora que eu quiser...
— Você não tem nada melhor pra fazer não?
— Eu vim falar com você... Uma conversinha rápida...
— NÃO! Eu não vou falar com a Luiza – aviso antes mesmo que ele comece a falar.
— Ah qual é? Por que não?
— Por que não, Pyter, eu já te disse isso umas cem vezes, eu não vou falar nada com ela e nem você...
— Escuta, eu só quero...
— Eu disse não!
— Isso é ridículo!
— Não, o que é ridículo é você ficar me enchendo o saco por causa disso, era por isso que eu só queria contar na véspera, eu sabia que você ia encher o saco...
— É claro que eu vou encher o saco, ela quer casar no meio da madrugada
— Não é no meio da madrugada, é no começo do dia...
— É no nascer do sol, que é sim NO MEIO DA MADRUGADA – ele fala como se fosse óbvio.
— Eu não vou trocar, já tá tudo certo, tudo combinado, tudo organizado, apenas lide com isso... Você é o único que tá reclamando
— Por que sou o único que tem coragem... Pietro, ninguém, NINGUÉM casa sei lá... 5 horas da manhã
— Bom, eu vou casar – dou de ombros enquanto caminho pelo quarto terminando de tirar minha roupa.
— Você mesmo acorda meio dia, nem você ia tá acordado pra ir num casamento essa hora...
— Pra esse eu vou estar
— São cinco horas da manhã – ele fala se levantando, eu respiro fundo pra não me irritar, eu sei que é cedo demais e que é diferente, eu também levei um susto quando a Luiza falou, mas ele já está me irritando com isso. Termino de tirar minha calça, fico só de cueca e abro o guarda roupa – Eu nunca vi um casamento essa hora, isso deve ser até crime, se você falar com ela e explicar que...
— EU NÃO VOU FALAR COM ELA – eu perco a paciência e grito me virando de frente pra ele que para a frase na hora – Porra, caralho, quantas vezes eu vou ter que repetir isso? EU... NÃO... VOU... FALAR... NÃO VOU – ele continua me olhando e eu solto o ar frustrado – É o sonho dela, ok? É importante pra ela. Por que? Eu não sei. Ela disse que é, então é. Ela quer casar no começo do domingo, com o nascer do sol, então o casamento será no começo da porra do domingo, junto com o nascer do sol e ponto final. Não tem discussão, não tem conversa. Tem um convite, tem um casamento, tem um horário e tem você que como a porra do meu irmão mais velho e do meu padrinho deveria tá do meu lado pra não me deixar pirar e não me pilhar mais ainda por causa da merda do horário – eu desabafo, solto o ar e volto a encarar o guarda roupa, sem nem conseguir decidir que roupa pegar – Eu sei que é estranho, tá? Mas eu não vou negar um pedido dela. E eu tenho certeza que se fosse a Keyse dizendo que queria casar sei lá, duas horas da manhã, no alto de uma colina tu ia e ainda ia fazer todo mundo estar lá com um sorriso na cara, não ia? – me viro pra ele de novo e ele levanta os ombros.
— Mas eu ia reclamando o caminho todo – mesmo irritado, eu acabo rindo, por que provavelmente ele reclamaria mesmo.
— Eu só quero que tudo saia exatamente como ela quer, você pode pelo menos tentar fingir que entende isso? – o sorriso dele começa a se aumentar, do mesmo jeito que aumenta quando um dos meninos ganham uma luta ou um jogo.
— A Luíza tem sorte – ele se aproxima de mim, coloca a mão na minha nuca e me puxa pra perto dele pra encostar a testa na minha – Ela tem muita sorte... Quer dizer, não tanto quanto a Keyse né, mas já é um bom começo – ele fala com ironia e ri, qualquer irritação que eu estava vai embora e eu acabo rindo – Então vamos ao casamento no nascer do sol – ele sorri revirando os olhos e então me solta – Resolvido esse ponto, vamos aos detalhes... Já escreveu seus votos? – eu faço uma careta.
— Eu pensei que fosse ser mais fácil...
— Novatos – ele revira os olhos.
— Ah vai me dizer que você fez o seu sem nenhum problema?
— Tá brincando? Eu só consegui escrever o meu cinco minutos antes do casamento – ele ri e eu também.
— Alguma dica?
— Você só precisa se lembrar por que você tá fazendo isso...
— Por que eu amo ela e não me imagino sem ela...
— Ok, isso ela já sabe, aliás, todo mundo já tá cansado de saber, vocês vão se casar né – ele revira os olhos parecendo entediado – Eu tô falando dos motivos que te levaram a isso... Por que ela? Por que não a Mariazinha ou a Aninha ou sei lá, qualquer uma, por que a Luiza? E nem vem com esse papo de que ela é perfeita, ninguém é, essa é a chave pra um casamento dar certo... Você saber que a outra pessoa tem um milhão de defeitos e mesmo assim querer ela perto... ÓH, a Keyse é linda, ela é tipo gata pra caralho, os olhos, a boca, o corpo e tudo isso na cama... Porra – ele sorri de um jeito malicioso e eu acabo rindo, mas faço uma careta – Mas ela consegue ser a pessoa mais impulsiva que eu já conheci, ela grita, briga, quebra, bota fogo e depois que vai saber o motivo... Ela é orgulhosa e as vezes é tão mimada que dá vontade de jogar ela do segundo andar, ela também adora deixar tudo pra fazer na ultima hora, ela sempre tenta reverter a situação ao favor dela, ela é exagerada e meio escandalosa... Ela tem todos esses defeitos e mais alguns, e ainda assim eu nunca encontrei uma amiga tão leal, honesta e sincera quanto ela, nunca me senti tão a vontade pra ser eu mesmo com alguém como me sinto com ela, ela é a mulher mais forte e decidida que eu conheço, não importa se tem mil pessoas falando que ela não deveria arriscar, ela joga tudo pro alto e arrisca, ela me ensina mil coisas todos os dias, ela me faz enxergar quando tô sendo um babaca, um machista, um ogro, ela me faz ver o mundo de um jeito totalmente diferente do que eu veria, ela me dá força quando eu tô na merda, e me inspira, me faz querer ser uma pessoa melhor todo dia e eu tenho certeza absoluta que minha vida seria um milhão de vezes chata sem ela... E é por isso que eu sei que ela é não só a mulher, mas a pessoa da minha vida...
— Cara, você precisa escrever meu voto – eu falo e ele ri – É sério, isso foi incrível, eu nem sou a Keyse e casaria com você agora e olha que eu sou seu irmão e te acho um imbecil – ele finge uma risada e acerta um tapa na minha nuca – Mas é sério, eu não vou conseguir escrever algo assim...
— Claro que consegue
— Não consigo, não
— Você ama aquela garota? – ele pergunta olhando nos meus olhos e já sabemos a resposta – Então você consegue. Só relaxa e bota isso daí pra fora, ah e não poupe elogios e se der até umas lágrimas, isso vai te dar uma lua de mel inesquecível – ele sorri de um jeito malicioso.
— Ótimo conselho...
— É, eu sei, agora vamos falar de coisas mais importantes ainda... O que a Pérola vai dar de presente pra vocês? – eu acabo rindo.
— Vocês dois são dois idiotas, sabia?
— E somos os mais velhos, então fala logo...
— Eu não sei – dou de ombros e me afasto indo na direção pro banheiro, por que ele sempre sabe quando tô enrolando ele.
— Não sabe? – balanço os ombros de novo – Ta mentindo!
— Então você deveria se empenhar bastante pro seu presente ser melhor – eu dou uma piscada e entro no banheiro, vou direto pro box e abro o chuveiro já começando meu banho.
— Com certeza ela te disse alguma coisa... – ele fala abrindo a porta do box.
— Eu tô tomando banho – ele revira os olhos.
— Responde que eu saio...
— E perder a maior disputa de presentes que a gente vai receber? Sem chance! – ele tenta parecer bravo, mas acaba sorrindo meio orgulhoso, ele já ia fechando a porta do box, então abre de novo se estica, pega o sabonete e joga no chão, então ri e sai.
— IDIOTA – eu grito e ainda ouço a risada dele.
Quando saio do banheiro ele já não está no quarto, então aproveito pra começar arrumar minha mala, já que vamos viajar amanhã a tarde e depois do casamento vamos direto pra lua de mel.
— Pronto! Já tenho a cor e o papel de parede – papai fala entrando no meu quarto assim que termino de fechar minha mala.
— Você encontrou ela? – ele revira os olhos como se fosse uma pergunta idiota
— Eu mandei fotos pelo celular...
— Humm, tá ficando moderninho é? – ele dá de ombros e sorri.
— Até que serve pra alguma coisa mesmo – ele fala pegando o celular do bolso, eu acabo rindo.
— Eu sempre te disse isso – ele dá de ombros e sai do quarto do mesmo jeito que entrou, eu acabo rindo e então guardo minha mala no canto, já separo a roupa que vou amanhã e dou uma última conferida em tudo, inclusive na caixinha com as alianças, um sorriso aparece quando toco elas com a ponta dos dedos, já imaginando uma delas no dedo da Luíza, por mais que o pensamento de virar um homem casado em menos de 48 horas ainda me assuste e as vezes me faça querer sair correndo, eu confesso que nunca iria correr, por que não consigo mais me imaginar sem ela, inclusive passar o dia de hoje sem ver ela vai ser complicado, mas ela tem que adiantar as coisas no ateliê pro próximo desfile que vai acontecer enquanto estivermos na lua de mel e ainda preparar as coisas pra viagem amanhã, então combinamos de nos vermos só na hora da viagem.
Por isso fico confuso quando já são quase 9 da noite e recebo uma mensagem dela me pedindo pra passar lá no apartamento, eu estranho, mas como já estava entediado sem ver ela durante o dia inteiro eu me troco em menos de cinto minutos e aviso que já estou indo.
  - Tô indo lá na Lu! - eu falo pro papai e pra mamãe que estão na cozinha.
  - Não vai jantar?
  - Quando eu voltar. Fui! - abro a porta, pego a chave do carro e corro até ele, eu saio da vila e pego a rua pro prédio da Lu, futuro ex prédio, já que essa será a ultima noite dela lá, amanhã já vamos para o Distrito Quatro e quando voltarmos de lá estaremos casado, eu estou com esse pensamento quando um carro avança o meu, eu solto um palavrão e então o carro freia e quase rodopia na minha frente, eu freio o mais rápido que consigo e evito a batida, mas a poeira da estradinha sobe ainda mais, outro carro freia logo atrás de mim, me fechando e fechando a rua também, quando me dou conta estou cercado pelos dois carros, olho pelo retrovisor e dois caras pulam pra fora com mascaras pretas que tampam o rosto, eles saem do carro e vem na direção do meu, olho pra frente e mais um cara sai do outro carro e esse com um cassetete de madeira na mão, eu mal tenho tempo de pensar em alguma coisa e a porta do meu carro é forçada, mas como sempre tranco eles não conseguem abrir, o que acaba irritando eles e o soco no vidro é forte, eles fazem sinal pra abrir, mas eu volto a ligar o carro tentando sair, mas é impossível por que estou cercado, a porta é forçada de novo e um dos caras correm pro outro lado, eu ainda me estico pra trancar a porta do banco de trás, mas é tarde demais, ele abre e logo agarra minha camisa.
  - Abre essa porra! - ele fala irritado e eu levanto as mãos pedindo calma.
  - Eu vou abrir. Ok? Relaxa. Tô abrindo - devagar eu tiro o cinto e abro a porta do carro, os dois que ficaram do lado de fora me puxam e eu quase caio de cara no chão - Ei, eu tô saindo, Ok?
  - Cala a boca! - um outro fala enquanto segura meu braço e me empurra na direção do carro a frente.
  - Eu não vou entrar aí
  - Entra logo, porra
  - O que vocês querem? - então tudo fica preto quando um pano é colocado na minha cabeça por trás, também sou imobilizado por trás e minhas mãos são amarradas em uma espécie de algema talvez, não tenho como reagir, enquanto eles me arrastam até o carro eu tento pensar em como sair disso, mas eles são rápidos, me jogam no banco e um deles continua segurando meu braço, eu tento respirar fundo e manter a calma.
  - O que vocês querem? - dessa vez pergunto com a voz mais controlada e medida, mas a única resposta que eu tenho é a do carro saindo a toda velocidade, eles não falam nada, embora eu tente forçar minha visão além do pano preto, é inútil, eu não enxergo nada, então o carro para com a mesma força com que me fechou na estradinha, as portas se abrem e me puxam pra fora, dessa vez com as mãos amarradas tenho menos equilíbrio ainda e acabo caindo de joelhos no chão, duas mãos me levantam e depois me empurram pra frente, ouço o barulho de algo de metal sendo arrastado, talvez um portão e sou empurrado pra frente de novo, nós andamos alguns metros e subo alguns degraus, então me colocam sentado com as mãos ainda amarradas e começo a pensar em que tipo de proposta fazer quando o pano é arrancado da minha cabeça e na minha frente todos gritam, eu levo um segundo pra conseguir enxergar, a luz forte brilha logo na minha cara e sou obrigado a semicerrar os olhos, apenas pra começar a identificar as pessoas que gritam e riem logo a minha frente.
  - SEUS FILHO DA... VOCÊS SÃO MALUCO, PORRA? - eles riem.
Pyter, Ryan e Chris agora estão sem as máscaras, ao lado deles Ian, Léo que é o namorado da Paty e mais um pessoal do trabalho, todos estão rindo e me zoando, perguntando se eu ia chorar - Eu vou matar vocês... Me solta logo, merda.
  - Relaxa aí, a gente comanda, você só aproveita - Pyter fala rindo e aponta a faixa "Despedida de solteiro".
  - Vocês quase me mataram - eu falo rindo agora que o susto passou e eles riem.
  - Eu sempre falei pra você trancar a porta de trás - Chris fala rindo.
  - Seu filho da mãe...
  - Achei que eu tivesse te ensinado alguma coisa, foo meio decepcionante... - Ryan faz uma cara de desprezo.
  - Me solta daqui que eu te mostro a decepção - ele ri, Chris que vem até a mim e com uma tesoura corta o que prendia minha mão, eu dou um tapa na cabeça dele assim que me solta.
  - Vacilão! Por que não me falou?
  - Por que não seria uma surpresa, ô imbecil - ele me devolve o tapa na cabeça.
  - Eu não acredito que vocês fizeram isso tudo - olho em volta prestando mais atenção na arrumação, eles fecharam a boate que eu costumo vim, a faixa grande está logo na frente do bar, no balcão tem calcinhas e sutiãs espalhados e alguns pendurados por fitas no teto, tem também luzes de neon e copos coloridos para bebidas e muita, muita bebida sobre o balcão.
  - E que comece a festa - Pyter anuncia apontando pro palco e só então vejo o DJ posicionado, ele só estava esperando e então libera a música animada e o pessoal vem pra cima de mim, rindo, me zoando e me arrastando pro balcão das bebidas.
  - Olha quem eu achei aqui - Ryan aparece segurando pela orelha, um de cada lado, Lucca w Pedro.
  - O que vocês tão fazendo aqui?
  - A gente veio pra festa de despedido do meu tio - Lucca da de ombros como se fosse óbvio.
  - Era pra vocês estarem com seus avós, isso não é lugar de criança.
  - CRIANÇA? Fala sério, pai, eu tenho 16!
  - 15  e meio - Pyter conserta e ele revira os olhos.
  - A gente já ta aqui - Pedro dá de ombros.
  - Era pra você pôr juízo na cabeça dele e não ele tirar da sua - Pyter reclama e Pedro dá de ombros.
  - Só to dizendo que até alguem levar a gente... Seria melhor a gente ficar - Lucca sorri todo orgulhoso enquanto Pedro tenta negociar com o Pyter.
  - Eu pago um táxi...
  - Se passar algum por aqui né?
  - Ah moleque...
  - É questão de praticidade
  - Você pelo menos sabe o que significa essa palavra?
  - Fala sério, minha nota mais baixa é 9,8 e é em Artes - Pedro fala com uma confiança e ironia que me faz rir e aplaudir.
  - Fechado. Vocês ficam! - eles olham pra mim animados.
  - Sério?
  - Sério. A festa é pra mim e pelo esforço e o belo discurso, vocês mereceram - os dois comemoram e Pyter me encara.
  - Achei que eu fosse o pai
  - Achei que você fosse mais legal - eu dou de ombros e ele sorri dando de ombros.
  - Eu vou avisar o papai que vocês estão aqui... Aliás, como vocês conseguiram fugir? - eles se olham e sorriem.
  - A gente pulou a janela
  - Do segundo andar? - Pyter parece surpreso.
  - Relaxa, eu aprendi uns nós fortes e a gente fez no lençol...
  - Ah nossa, estou bem relaxado agora, só tenho dois adolescentes que saem pulando janelas amarrados en lençóis, obrigado, Pedro, tô bem tranquilo agora - Pyter fala com ironia e nós acabamos rindo.
  - Perai... Se vocês dois vieram então cadê o Theo e a Bella? - Ryan parece mesmo preocupado.
  - Eles ficaram - Lucca dá de ombros.
  - Sozinhos
  - Não, com o vovô e a vovó...
  - Que podem muito bem pegar no sono e deixar eles SOZINHOS - eu acabo rindo quando entendo o desespero dele.
  - Melhor não pensar nisso, Ryan, o que tiver que acontecer vai acontecer...
  - Acontecer? Não vai acontecer nada. Pyter! Faz alguma coisa...
  - Ele tá te zoando, eles não vão fazer nada - Pyter garante sério - Nada que nós não faríamos - ele dá um sorrisinho.
  - Eu vou lá agora - nós rimos.
  - Relax, eles estão com a Iris, ela não vai desgrudar da Bella - Pedro que o acalma.
  - É Ryan relaxa ai pô - eu uso o mesmo jeito que os meninos e ele me encara, Pyter acaba rindo.
  - Eu vou ligar pro meu pai, relaxa aí ô desesperado...
  - É quero ver quando chegar a vez da Íris
  - Eu sou um pai moderno
  - AHAM! - todos nós falamos juntos e cheios de ironia, ele mostra o dedo do meio e sai pra fazer a ligação.
  - Vamos a festa? - pergunto pros meninos e eles sorriem empolgados enquanto nos juntamos aos outros.
Eu tenho que confessar que eles realmente se superaram, o dj animou o lugar, as bebidas mais ainda, todos que já são casados aproveitaram pra ficar me zoando e me dando dicas de como “sobreviver” ao casamento, embora todos falem das partes ruins, como ter que aguentar as DR’s, TPM’s e ciúmes, todos sorriem como uns idiotas quando contam histórias sobre eles mesmos e tudo acaba sendo muito divertido, até que eu vou até o freezer do bar pegar uma bebida e encontro Lucca com um copo na mão, Pedro arregala os olhos assim que me vê.
— Quê isso?
— Água – Lucca responde rápido demais, tiro o copo da sua mão e cheiro o liquido, eu o encaro sério e só pra comprovar dou um pequeno gole, é vodca.
— Não fala pro meu pai – ele pede já sabendo que não tem como me enrolar.
— Quanto você bebeu?
— Um gole – eu o encaro desconfiado.
— Foi só um gole mesmo – Pedro confirma e eu fico olhando para os dois.
— Por favor, tio, eu não vou fazer de novo, eu só experimentei...
— Seu pai avisou pra vocês não beberem
— O Pedro não bebeu, só eu e foi um gole...
— Você não tem idade pra isso – eu levanto o copo e ele não retruca.
— Eu não vou mais fazer isso...
— O que vocês tão fazendo aqui? – Pyter pergunta rindo de alguma coisa e se aproximando, mas quando nos olha fecha um pouco do sorriso – O que vocês aprontaram?
— NADA – os dois falam juntos e Pyter olha pra mim.
— Eu só tava pedindo pra eles me contarem sobre o que a Keyse deve estar aprontando com a Lu, por que eu tenho certeza que ela não ia deixar você fazer uma festa de despedida de solteiro, sem ela montar outra, certo? – minto e ele sorri orgulhoso.
— Elas estão se divertindo, é tudo que eu sei – ele levanta as mãos em inocência.
— Ah eu imagino...
— Agora, anda, chegou a sua surpresa
— Minha surpresa? – ele sorri de um jeito meio assustador.
— O que vocês aprontaram?
— Só uma surpresinha...
— Elas chegaram – Ryan vem avisar com um sorriso grande e divertido.
— Elas? – olho pro Pyter e ele ri, se aproxima e segura meus ombros.
— Preparado?
— Pyter, quem são elas?
— Relaxa, maninho, relaxa, só aproveita – ele começa a me empurrar pra fora do bar e eu tento recuar.
— É sério, Pyter, me diz que você não chamou nenhuma stripper – ele ri.
— OK, eu não digo
— O QUÊ? AH NÃO, NÃO, NÃO... – eu tento voltar, mas ele e Ryan me seguram pelos ombros e me empurram pro meio do salão, o pessoal já está rindo e eles praticamente me arrastam até o palco, onde a cadeira ainda está centralizada – Pyter, é sério, a Lu me mata, aliás, a Keyse e a Nathy também matam vocês, eu vou contar pra elas, escutou, eu juro que eu conto... – os dois riem ainda mais.
— Nem casou e já tá chorando de medo? – Chris implica comigo rindo tanto quanto os outros.
— Relaxa aí, bonitão, elas mesmo que ajudaram a escolher – Ryan fala e eu o olho confuso, então Pyter faz sinal e as luzes principais se apagam, as coloridas logo a minha frente se acendem e a música muda pra uma mais sensual, eles se afastam rápido e me deixam sozinhos no centro sentado na cadeira, então não sei de que lado saíram, mas sinto as mãos escorregando pelo meu peito, viro meu rosto pra trás e tem duas drag queens começando sua performance, eu começo a rir e todo mundo ri, aplaude e grita animados e então eu relaxo um pouco e deixo o resto da festa curtir, depois da performance deles a bebida segue ainda mais solta e eu mal lembro como cheguei em casa, mas acordo com mamãe sentada na minha cama e acariciando meu cabelo, abro os olhos e a luz me faz fechá-los ainda mais fortes.
— Pode abrir de novo e bebe logo isso – ela me entrega a caneca com aquele liquido esverdeado que eu já conheço e detesto, mas que sempre alivia minha ressacas.
— Como eu vim pra casa? – ela ri.
— A festa foi boa mesmo ein... Seu pai foi buscar vocês, o Pyter ligou...
— Ele ainda tá reclamando ou parou pra hidratar a garganta? – ela ri.
— Você vai casar amanhã... Ele achou até engraçado
— Acho que eu deveria arranjar um casamento toda semana – ela ri, mas me dá um tapa leve no ombro.
— Bebe logo e desce pra tomar café, nós temos que deixar tudo preparado pra viagem – eu sorrio me lembrando que é hoje que nós viajamos pro Quatro, ela percebe meu sorriso e beija minha testa – Desce logo – ela avisa antes de sair do quarto, viro a caneca de uma vez só e sinto meu estomago revirando, mas me contenho a fazer uma careta e me levantar, vou pro banheiro e me livro da roupa que ainda estava, entro debaixo do chuveiro coma  agua gelada e me desperto, quando saio já estou um pouco melhor, me visto com uma das poucas roupas que estão fora da mala e então desço.
— BOM DIAAAAAA – papai grita com os braços abertos assim que eu apareço na cozinha e minha cabeça lateja.
— Só um pouco mais baixo – eu faço uma careta e ele ri, vem até a mim e me abraça meio exagerado.
— Animado?
— Acho que um pouco menos que você – ele ri.
— É por que eu não tô de ressaca...
— É deve ser isso – eu acabo rindo por que essa é uma das poucas ou talvez a primeira vez que ele não reclama por que eu estou de ressaca – Aliás, você já teve alguma ressaca? – ele sorri e olha pra mamãe de um jeito divertido, ela tenta não sorrir, mas falha.
— Não olhe pra mim – ela fala e vai até a pia e eu olho curioso pra ele.
— Talvez, uma ou duas vezes – ele sorri e eu faço uma cara de impressionado, por que realmente não imagino ele de ressaca, eu já até o vi bebendo algumas vezes, mas sempre pouco e sempre que eu passo da conta, o que confesso que acontece algumas vezes, ele me olha de cara feia e me dá seus intermináveis sermões.
— Agora eu fiquei curioso...
— Pietro! – a voz que me distrai, me viro pra trás e Luíza está parada na porta da cozinha, provavelmente a porta de casa estava aberta e ela entrou.
— Lu? – me levanto meio confuso, mas animado por vê-la.
— A gente precisa conversar – assim que ela fala eu sei que tem algo de errado e pelo modo como papai e mamãe pararam o que estavam fazendo, eu tenho certeza que essa impressão não foi apenas minha.
— Aconteceu alguma coisa?
— Tem que ser agora – ela está séria e eu concordo, me aproximo dela que recua um passo antes que eu a toque.
— Lá em cima? – ela concorda e eu deixo que ela suba primeiro, seus passos são fortes e firmes e em cada degrau eu tento adivinhar do que pode se tratar, ela entra no meu quarto e eu vou logo atrás, fecho a porta e me viro pra ela que para no meio do quarto.
— Se for sobre ontem, eu posso explicar... O pessoal organizou uma despedida de solteiro, mas...
— Não é sobre ontem, quer dizer, meio que é, mas não sobre isso...
— Eu não tô entendendo
— As meninas também organizaram uma despedida de solteira...
— E? Contrataram um dançarino muito gato e você não resistiu?
— Quê?
— E agora quer cancelar o casamento e fugir pra dançar pole dance por aí com ele? – eu faço uma cara de assustado e por um segundo aquela seriedade toda que ela estava se desfaz e ela ri, então eu consigo respirar aliviado, sabendo que se ela riu não é algo tão grave assim.
— Você tem uma ótima imaginação – eu sorrio e vou até ela, mas antes que eu consiga passar meus braços em volta da sua cintura ela recua.
— A gente precisa mesmo conversar... Eu não vou fugir pra dançar pole dance com ninguém, mas nós precisamos conversar...
— Ok! – eu levanto as mãos em inocência quando ela começa a ficar séria de novo – O que aconteceu?
— As meninas montaram uma despedida de solteira, foi lá no galpão e foi muito maneira, só que...
— Que?
— A Keyse e a Pérola montaram algumas brincadeiras e tava tudo super legal, até que teve algumas perguntas... Sobre nós dois, nosso relacionamento, elas já tinham suas respostas e tinham que comparar com as minhas...
— É, a Pérola me fez um monte de pergunta semana passada, ela disse que era pra uma brincadeira no dia do casamento... Eu respondi algo tão errado assim? – ela nega.
— Você acertou todas! – eu sorrio orgulhoso, mas então fico mais confuso ainda.
— Ok, agora não entendi nada mesmo, se eu acertei tudo, isso seria uma coisa boa...
— Eu sei, e todo mundo disse isso, me parabenizou e parabenizou nós dois por nos conhecermos tão bem, por não termos segredos e sermos tão abertos um pro outro, só que... Só que isso não é verdade
— Como não? – ela desvia os olhos do meu parecendo nervosa.
— Eu não te contei tudo sobre mim e... E eu não quero que você entre naquele trem sem saber TUDO mesmo sobre mim, sobre a mulher que você vai se casar... Ou não...
— Lu, isso é ridículo, não tem nada que você fale que... – ela bota a mão na minha boca me impedindo de continuar.
— Eu não quero que você prometa nada antes de me ouvir, pode ser? – eu penso em negar, em dizer pra ela que nada do que ela disser vai mudar o que eu sinto, mas quando olho nos olhos dela vejo a necessidade que ela tem de fazer isso, então apenas balanço a cabeça concordando, ela tira a mão da frente da minha boca, respira fundo e desvia os olhos dos meus – Um dia depois que eu completei 18 anos eu tive que sair do orfanato, eu não tinha noção de quem eram meus pais ou de qualquer outro parente, então eu estava sozinha e tive que me virar... Eu tinha um pouco de dinheiro, por que no orfanato quando a gente fazia 16 a gente trabalhava e ganhava um dinheiro pra guardarmos, graças a isso eu consegui um quartinho numa pensão, era bem barato e deu pra ficar por lá, eu comecei a procurar emprego, mas sempre que eu falava que vinha de um orfanato e não tinha experiência em muita coisa, logo era dispensada, só que os dias foram passando e passando e passando e nada, eu não conseguia nada e meu dinheiro já tinha praticamente acabado, nesse meio tempo eu perdi contato com a Paty, por que ela tinha saído um ano antes de mim do orfanato e nós ficamos sem nos falar por vários meses... Eu não tinha ninguém e estava praticamente sem dinheiro, eu... Eu não sabia o que fazer, eu tentei voltar no orfanato, falei com uma das inspetoras e com a diretora, mas elas disseram que não podiam me ajudar, então eu comecei a ficar desesperada por que eu não sabia o que fazer, e dois dias depois eu realmente fiquei sem dinheiro nenhum, sem nada, nem uma moeda, eu fui colocada pra fora da pensão e tive que dormir na rua... – seus olhos não encaram os meus e tudo que eu quero é que ela se esqueça de toda essa época, é arrancar todas essas lembranças dela, mas ela ainda continua – Uma semana depois de ficar na rua, eu acabei num beco qualquer e conheci uma garota que morava na rua a alguns anos, ela me contou o que fazia pra sobreviver e conseguir dinheiro... E eu... Eu não tinha mais nada, Pietro, nada, a Paty tinha sumido, meus outros amigos só iriam sair alguns meses a frente, eu não tinha ninguém e nem um ponto de partida, então quando ela me falou eu achei que fosse a única solução... Ela... Ela era garota de programa – dessa vez ela me olha, apenas por um segundo enquanto eu tento registrar essa informação – Eu me arrumei naquela noite e sai com ela pro lugar que ela disse que era bom, os carros passavam por lá, escolhiam a garota e... Eu fui e um carro parou, eu entrei, mas... Mas eu não conseguia, não consegui. Eu pedi pra ele me deixar descer e ele parou o carro e disse que tava tudo bem, ele era o Mark...
— O ex babaca e traidor – ela balança a cabeça confirmando.
— Ele não me forçou a nada, disse que entendia e nós acabamos conversando por horas naquele dia, eu contei pra ele como tinha chegado até ali e então ele fez questão de me dar o dinheiro que geralmente elas cobravam, eu tentei negar, mas ele não aceitou, me deixou em frente uma pensão mais barata e no dia seguinte, ele apareceu lá de manhã e me levou até uma lanchonete onde consegui meu primeiro emprego de garçonete, foi assim que eu conheci ele, ele ficava aparecendo de vez em quando, mas eu acabei perdendo esse emprego por que eu fui acusada de ter roubado dinheiro do caixa, eu não roubei, eu te juro que não, mas eu fui parar na delegacia e foi ele, o Mark, quem me tirou de lá e me arranjou outro emprego, depois disso eu tinha certeza que ele era o amor da minha vida, a Paty reapareceu, meus amigos saíram do orfanato também e por um tempo tudo estava bem, até que o Mark começou a ficar controlador e estranho, eu só podia sair com ele ou os amigos dele e eles eram todos uns imbecis, mas eu tentava relevar, mesmo que eu já não me sentisse bem no nosso relacionamento, nem comigo mesma por aceitar aquilo tudo, mas eu achava que ele tinha salvado a minha vida e ele sempre fazia questão de me lembrar disso, então eu suportei tudo que pude por 2 anos, até que... Bom, você sabe o final, eu só... Eu nunca te contei sobre essas coisas por que eu não queria que você me olhasse diferente, que... Me olhasse como todo mundo me olhava, entende? Você foi a única pessoa na minha vida que me olhou de verdade, desde a primeira vez... Eu só não queria que nem você, nem sua família, me vissem assim, por que eu não sou mais assim, eu não queria que vocês sentissem nojo ou pena ou ficassem envergonhados... Eu sei lá, só não queria que as coisas mudassem, mas eu não posso me casar com você amanhã, entrar na sua vida desse jeito tão claro sem que você saiba exatamente com quem você está se casando... Eu não posso, eu só precisava te contar e deixar você decidir... – eu fico em silêncio ainda registrando tudo que ela contou, coisas que eu nem imaginava que ela tinha passado, o desespero que ela deve ter sentido – Antes de você decidir qualquer coisa, eu só quero que saiba de mais uma coisa... – ela fala e quando olho as lagrimas descem ainda mais fortes e rápidas pelo seu rosto e ela não faz questão nenhuma de enxuga-las, se bem que nem se tentasse acho que ela conseguiria – Eu amo você, eu amo tudo que eu consegui do seu lado e eu sempre vou te amar, por cada segundo da minha vida, mas eu entendo, eu entendo qualquer coisa que você decidir...
— Casa comigo amanhã? – pergunto segurando o rosto dela com as duas mãos, ela parece confusa, mas sorri com as lagrimas ainda rolando pelo seu rosto – Por que eu não consigo pensar em nenhuma outra mulher que eu queira me casar, nem amanhã, nem em nenhum outro dia...
— Pietro...
— Luíza Brachantes, futura Senhora Brachantes Everdeen Mellark, eu amo você... Quando você vai realmente entender isso?
— Eu não entendo – ela balança a cabeça ainda chorando – Você ouviu tudo que eu disse? Eu escondi isso tudo de você, eu... Eu não sou quem você pensava que eu era...
— Ah isso é verdade! Eu não tinha a menor ideia do quanto você é forte, do quanto você já passou e pra ser honesto, eu ainda não sei, só posso imaginar, mas eu sei de uma coisa... – eu solto seu rosto e seguro suas mãos – Eu vou fazer tudo que eu puder e as vezes até o que eu não puder, só pra fazer tudo isso ficar cada dia mais distante de você... É uma promessa! E como o Pyter diz, um Mellark nunca quebra sua promessa – ela chora ainda mais e então me abraça, apertado, suas lagrimas molhando minha camisa, mas eu não me importo com isso, apenas a abraço ainda mais apertado, acariciando seus cabelos – Eu nunca vou ter vergonha ou nojo ou pena de você, por que pra mim você é a pessoa mais forte e corajosa que eu conheço – ela levanta o rosto pra mim.
— Você é a minha força! – eu limpo as lagrimas do seu rosto, mas nego.
— Não sou não, mas adoraria ser pelo menos um dos motivos – então beijo sua testa e volto a abraçar ela – Então nada de fugir com stripper pra dançar no pole dance? – ela ri, uma risada que faz seu corpo tremer junto do meu e me faz sorrir também.
— Você não vai se livrar tão fácil assim de mim
— Então ainda temos um casamento amanhã? – o sorriso dela aumenta.
— Com certeza temos...
— Droga – eu faço uma careta e ela ri, eu seguro o rosto dela com as duas mãos e aproximo o meu, deixando nossas bocas e olhos alinhados – Eu amo você – em resposta ela se inclina pra mais perto e me beija, a batida na porta que nos faz separar, eu abro a porta e mamãe está parada com um olhar preocupado, mas quando eu sorrio ela parece aliviada.
— Vocês deveriam mesmo tomar café, nós já vamos começar a organizar as coisas...
— Nós já vamos – eu falo e ela sorri e se afasta, volto pra dentro do quarto e Luiza está no banheiro, paro na porta dele enquanto observo ela lavando o rosto, quando ela se levanta e para na frente do espelho nos encaramos pelos nossos reflexos.
— Eu prometo que vou tá com uma cara melhor amanhã – ela fala e eu acabo rindo.
— Eu espero que sim ou quem foge pra dançar pole dance sou eu – ela ri e joga a toalha em cima de mim.
— E como foi ontem? – eu conto pra ela sobre as bebidas e as drag queens, ela ri e conta que também não faltou tequila.
— Tequila? – eu sorrio puxando ela pela cintura – Eu gosto de você quando bebe tequila – ela ri e passa os braços por trás do meu pescoço.
— Talvez eu tome uma dose ou outra amanhã – ela dá uma piscada, eu sorrio e a beijo, mas não avança muito.
— LUÍZAAAAAAAA – o grito da Keyse é inconfundível e poderia ser ouvido pelo Distrito todo.
— Eu não entendo como ela tem tanta energia – Lu fala fazendo cara de choro.
— Ela é casada com o Pyter – dou de ombros e ela ri no momento exato que Keyse invade o quarto.
— A gente viaja em 3 horas pra poder começar a organizar o casamento de vocês, será que vocês não podem se agarrar depois? – ela reclama já agarrando o braço da Luiza e a levando.
— Eu posso tomar café com ela antes?
— Não! Vocês vão enjoar de tomar café um com outro em um mês...
— Você é a pior madrinha de casamento do mundo
— Deveria ter pensado melhor antes de me chamar então – ela manda um beijinho no ar e sai rindo junto com a Luiza, eu também desço e então o andar debaixo já começou a se transformar naquela loucura, Pérola e Louise estão falando animadas sobre seus vestidos, Iris pula querendo chamar atenção e todos os outros começam a chegar e agitar ainda mais o lugar, então acabo tomando café no meio da bagunça.
Quando chega a hora de irmos pra Estação não só a casa está uma confusão, mas a Vila inteira, por que todo mundo veio pra cá pra irmos juntos, ou seja, cerca de 30 pessoas loucas com malas correndo de um lado pro outro e apressando uns aos outros, mal vejo Luiza que apenas é arrastada por Keyse, Paty, Louise e Pérola, mas nas poucas vezes que a vi um sorriso largo estava em seu rosto, diferente daquele olhar que ela tinha quando veio conversar mais cedo e eu me sinto bem melhor de vê-la assim. Na hora de embarcarmos no trem demora quase cerca de 40 minutos pra todo mundo conseguir se ajeitar em seus lugares, nós fechamos os dois últimos vagões e a viagem continua a mesma loucura de antes, Pérola e Keyse ficam no celular em contato com o pessoal no Quatro e as vezes vem correndo atrás de mim pra que eu autorize algo a ser feito urgentemente, assim que eu dou a carta branca elas desaparecem pelo corredor correndo atrás de alguma outra coisa, enquanto isso Pyter, Chris e Ryan estão sempre rindo delas e me perturbando, além de me trazerem um ou outro copo de bebida que eu bebo longe dos olhares do papai, mas ele está tão animado com esse clima de festa que nem liga pra nada, apenas fica babando em cima da Iris que se grudou nele contando sobre como o vestido dela está lindo e em como foi “maneirona” a sessão de fotos que ela fez outro dia e  a correria é tanta que quando chegamos ao Quatro eu mal peecebi a viagem e então levamos quase os mesmos 40 minutos pra descermos, nosso transporte já está esperando e saímos em carros maiores que conseguem levar mais gente e assim ninguém vai muito apertado, quando chegamos na Aldeia do pai da Luiza, ele já está nos esperando com aquele sorriso largo de sempre, a pele bronzeada e os olhos azuis brilhantes, ele cumprimenta a todos e ele mesmo nos leva até a pousada que está praticamente fechada para os convidados.

   

Depois que estamos instalados a correria só aumenta, Pérola, Keyse e Luiza, ligam algum botão invisível que as deixa elétricas, correndo de um lado pro outro e isso parece ser contagiante por que até o pessoal da Aldeia começa a correr pra todos os lados, o pai da Luiza começa a montar o que altar com galhos secos, do jeito que ela pediu e eu vou ajudá-lo, na verdade todos ajudam em algo e ninguém fica parado por mais de dois minutos, até mesmo os gêmeos, Bella, Iris e Pedro ajudam e se divertem com isso, quando a tarde cai, conseguimos parar um pouco e eu me jogo na areia sentado olhando o mar e o sol que já está desaparecendo.
  - É lindo né? - mamãe fala quando se senta do meu lado, eu apenas encosto minha cabeça no seu ombro e contínuo olhando pra frente, seus dedos alcançam meu cabelo e ela me faz deitar a cabeça no seu colo, do mesmo jeito que fazia quando eu era menor, não me importo com a areia e me permiti aproveitar esse momento, ficamos apenas assim olhando o sol sumir e ela acariciando meus cabelos.
  - Você não precisa ter medo, é mais fácil do que parece - ela fala e eu olho pra ela que abre um pequeno sorriso.
  - Eu só não quero errar com ela...
  - Impossível! Você vai errar e vai errar muito, não tenha duvidas disso, ela também vai errar bastante, e é aí que você vai perceber o quanto ama ela, por que mesmo quando os dias forem ruins, ainda assim vai estar valendo a pena...
  - Foi assim com você e o papai?
  - Ainda é! Não importa quantos anos de casamento se tenha, isso não muda... Nós somos pessoas diferentes, pensamos diferente as vezes e isso não é sempre fácil de lidar, mas quando é a com a pessoa certa vale a pena...
  - Ela já passou por tanta coisa, mãe, coisas que... Ela não deveria ter passado, eu só quero que ela esqueça disso...
  - Então ela não será a sua Luíza - ela me dá um leve sorriso - Tudo que ela passou transformou ela na mulher que ela é hoje e por pior que tenha sido, esse caminho foi o que a trouxe até aqui, até você, então não se preocupa em apagar o passado dela, já foi, ninguém pode fazer nada com isso, só... Faça o que puder agora, não amanhã, não na semana que vem, só... Agora! - ela passa a mão pelo meu rosto e libera um sorriso - Só essa sua preocupação já mostra que ela escolheu a pessoa certa - ela se inclina e beija minha testa - Fim da pausa - ela aponta a alguns metros onde o pessoal já voltou ao trabalho, eu devolvo o beijo na bochecha dela e nos levantamos.
  Se eu achava que tudo já estava pronto, me enganei feio, por que nós ainda passamos horas e horas organizando tudo, as mulheres ficaram com a parte da decoração, roupas e qualquer outro detalhe desses e nós ficamos com qualquer trabalho pesado que aparecesse, o resultado disso é todo mundo caído pelos cantos mas sorrindo satisfeitos e as dez horas em ponto todo mundo já foi dormir, afinal temos que acordar muito cedo.
Eu mal caí na cama e o despertador começou a tocar, exatamente as 4 da manhã, eu odeio acordar cedo, mas pela primeira vez na minha vida pulo da cama rapidamente, eu mal consigo raciocinar direito, única coisa que se passa na minha cabeça é que eu vou me casar em um hora.
  - OLHA ELE!!!!- Pyter, Ryan e Chris invadem meu quarto numa animação que deve ter terminado de acordar todos na pousada.
  - Achei que você tivesse odiando acordar essa hora - falo pro Pyter enquanto ele está me sacudindo.
  - Ah e tô odiando, mas vocês tem o resto da vida pra me pagar por isso - ele abre um sorriso que me causa frio na espinha.
  - Agora você precisa se arrumar, por que elas já estão enlouquecidas...
  - Elas já estão acordadas?
  - Acordadas? Eu acho que elas nem dormiram
  - Vocês viram ela?
  - AHHHHHH tá ansiosinho é? - Chris aperta minha bochecha e eu me esquivo e acerto um tapa na mão dele, nós rimos.
  - Anda, vai tomar um banho por que eu não acordei cedo pra você aparecer fedendo e ela cancelar o casamento - Pyter fala me empurrando pro banheiro, eu entro e meu banho é praticamente assistido por que eles não saem do quarto e toda hora invadem o banheiro pra perguntar algo ou zoar com alguma coisa e enquanto eu me arrumo consigo me distrair com eles, quando fico pronto eles também estão e então descemos.
  - Aí está ele - papai vem andando de braços abertos na minha direção, ele esta com um sorriso grande e alegria dele é impossível de não ser percebida - Tá lindo - ele sorri segurando a lapela do meu blazer branco com alguns nuances em azul claro, obra exclusiva da Pérola, a camisa de gola V branca baixo combina com a calça de tecido leve e largo, os chinelos também são brancos e ele ta com um visual muito parecido com o meu, aliás, a maioria está assim, essa foi uma das coisas que a Luiza mais queria, nada de roupa formal, por isso papai esta com uma camisa de mangas cumpridas verde clara e calça branca.
  - Já está quase na hora - eu falo começando a ficar nervoso de novo.
  - Você ta lindo - mamãe aparece vindo até a mim.
  - E você tá ainda mais linda - seguro sua mão e a faço dar uma voltinha, ela esta com um vestido da mesma cor que a camisa do papai.
  - Aí está você, anda... Nós temos que nos apressar - Keyse aparece puxando meu braço e me arrasando pro lado de for.
  - Ela já ta pronta?
  - Tá! E tá tão lindaaaaaa - ela faz aquela cara ansiosa, eu sorrio e quando alcançamos a areia de frente pro mar que percebo o quanto ela estava certa. a vista daqui é perfeita, o azul do mar ainda está escuro por que o sol ainda não apareceu, ainda tem algumas estrelas brilhando e as luzes coloridas que colocamos nas cadeiras e no altar estão impressionantes, tudo isso combinado com as flores espalhadas e com o som das ondas quebrando nas pedras, eu não consigo pensar em um lugar melhor que esse.
  - Ainda vai demorar? - ela me olha sorrindo.
  - Já está tudo pronto. ELES CHEGARAM - Pérola aparece dando pulinhos em seu vestido azul claro com nuances em verde claro também obra prima dela, feita pra ela e para as madrinhas iguais, assim como Pyter, Chris e Ian estão com o mesmo blazer azul claro.
— A banda chegou? – eu começo a me aliviar, por que eles tiveram que ficar em outra pousada e eu estava com medo de que acontecesse algo errado e eles não chegassem a tempo.
— Chegou, eles ainda estão escondidos, mas os instrumentos já estão sendo colocados no lugar – ela aponta Ian, Chris e papai colocando os pedais e eu sorrio ainda mais.
  - Então podemos começar?
  - Devemos! Seu sogro disse que o sol já vai sair e eu não aguento mais segurar a Luíza e evitar que ela surte - eu sorrio ansioso então ela e Keyse começam a organizar tudo para o início da cerimônia.
As pessoas se posicionam em seus lugares, o senhor já de idade, barbas e cabelos brancos que sempre realiza os casamentos aqui na Aldeia toma seu lugar no altar, mamãe vem pro meu lado e encaixo seu braço no meu, papai entraria com a mãe da Luíza, mas como ela é uma babaca, ele entra com a Rosa, namorada do pai dela, os músicos da Aldeia se posicionam e tocam uma melodia simples para nossa entrada, quando todos já estamos posicionados, Isac, o pai da Luíza, vai busca-lá, enquanto isso a banda se posiciona, então ela aparece com o braço encaixado ao do pai, o sol começou a dar seus primeiros suspiros e quando a luz dele reflete nela é a imagem mais linda que eu já vi e verei em toda minha vida, seus olhos são mais azuis do que o céu, o cabelo cai em várias camadas com cachos volumosos a frente dos ombros, florzinhas brancas e azuis estão espalhadas pelo fio, o vestido branco é todo rendado, justo ao seu corpo o suficiente pra ressaltar suas curvas, mas sem se tornar exagerado, mesmo com o decote entre os seios, ele é de alças finas e as costas ficam de fora, ela já estava absolutamente perfeita, mas quando a banda começa a tocar a sua música preferida, seus olhos se arregalam e quando ela os encontra parado ao altar, sua boca se abre num grito mudo que ela tenta abafar com a mão, seus olhos desviam deles pra mim e então ela abre o maior sorriso que eu já vi, ainda faltava metade do caminho até a mim, mas ela apenas se solta do pai e corre na minha direção, eu abro os braços na hora exato e ela se joga entre eles, eu a seguro apertando-a em mim.
— Você é louco! E eu te amo tanto – ela beija minha bochecha várias vezes e eu acabo rindo.
— Eu ainda preciso te avisar pra cuidar dela – o pai dela fala quando se aproxima de nós, ela ri e me solta, então o abraça, ele beija sua testa, segura sua mão e olha pra mim – Faça ela feliz, ela merece...
— Eu vou fazer – eu garanto com a maior certeza que eu tenho na minha vida, ele aperta minha mão e então vai para o seu lugar, Luiza olha pra mim sorrindo empolgada e agora de mais perto, ela está ainda mais linda, as bochechas levemente coradas, os lábios num tom rosado, os olhos destacados e um sorriso de tirar o fôlego, por isso enquanto o senhor fala e dá inicio a cerimônia, na verdade eu mal ouço o que ele diz, por que eu só quero guardar cada segundo dela nesse momento, mas quando ele anuncia a entrada das alianças, então outro sorriso aparece no meu rosto vendo Iris em seu vestido azul claro, os cabelos cheios de flores iguais as da Luíza, o sorriso no rosto dela é contagiante, ela segura a pequena almofada com as alianças com uma mão e com a outra ela acena pra todo mundo e é impossível alguém não se derreter todo vendo essa cena, quando chega até nós, ela entrega a almofada para o cermimonista e sorri ainda mais pra Luíza.
— Você tá igual uma princesa – ela fala e Luíza se abaixa e abraça e beija sua bochecha, ela fala alguma coisa e Iris ri, depois olha pra mim – Você também parece um príncipe – eu também me abaixo pra abraçar e beijar a ponta do nariz dela, ela sai rindo, então voltamos a atenção para o homem que já está segurando as alianças.
— Pietro Everdeen Mellark, você aceita Luíza Brachantes como sua esposa? – o sorriso é involuntário.
— Sim! – ela também sorri.
— Luíza Brachantes, você aceita Pietro Everdeen Mellark como seu esposo?
— Com certeza sim – ela faz uma cara de exagerada e acabamos rindo, então ele me estica a almofada e eu pego uma das alianças, ele faz sinal pra dizer que posso falar o que quiser, então eu quase sinto meu coração parando nessa hora, mas quando olho nos olhos dela de novo, eu sei exatamente o que eu quero que ela saiba.
— Eu amo você e não por que você é sem duvida nenhuma a mulher mais linda que eu já vi na minha vida, mas por que você é a mulher mais incrível que eu conheço... Eu poderia passar o dia inteiro falando sobre o por que eu te amo, mas eu acho que o Pyter me mataria – todo mundo ri e ele faz sinal que eu estou certo – Mas eu quero resumir isso dizendo que você é a melhor amiga que eu já tive e continua sendo, eu não consigo me lembrar de nada em que você não estivesse e nem quero imaginar um dia não ter a sua mão segurando a minha, você faz tudo ter sentido e eu não poderia ter feito uma escolha melhor do que ter ido até você naquele dia na balada, você entrou na minha vida e me fez homem e agora esse homem que está na sua frente é completamente seu... Pra todo sempre – ela enxuga as lagrimas que escorreram, mas abre um sorriso doce, então eu seguro sua mão e deslizo a aliança em seu dedo, coloco um beijo em cima e olho pra ela que está emocionada, mas pega a outra aliança e volta a olhar nos meus olhos.

— As vezes eu acho que tudo isso é um sonho e que eu vou acordar a qualquer momento, mas ao mesmo tempo, tudo isso supera qualquer sonho que eu já tenha tido, eu nunca me imaginei tão feliz, completa e realizada como eu me sinto em cada segundo que eu passo do seu lado. Sempre foi assim, você foi a primeira pessoa que olhou pra mim, a primeira pessoa que realmente me enxergou e eu nunca vou ser grata o suficiente por você ter aparecido na minha vida e me feito não apenas acreditar que eu pudesse ser feliz, mas realmente me fazer feliz... Eu não sei como, nem por que, mas tinha que acontecer, pela primeira vez na minha vida eu me sinto completa e eu não preciso de mais nada, você me completou e curou todas as feridas abertas que eu ainda tinha, então, essa mulher que eu sou agora também é completamente sua, para todo sempre – as lagrimas ainda escorrem pelo seu rosto acompanhadas do sorriso doce e emocionado, ela desliza aliança no meu dedo e eu não espero permissão apenas a puxo pra junto de mim e a beijo, todos aplaudem, assoviam e gritam, sinto-a sorrindo e isso quase faz meu coração explodir, mas paro o beijo quando sinto alguma coisa caindo sobre nós, olho pra cima e então as pétalas brancas e azuis estão caindo sobre nós, centenas delas, como uma chuva de pétalas, feitas por pequenos drones, olho pra Luíza e seu sorriso é encantador, ela olha pra frente e ele aumenta ainda mais, quando olho entendo, o sol acaba de sair totalmente de trás da montanha e torna a cena memorável, seus raios refletindo no mar, as pétalas caindo sobre nós e o sorriso dela, eu poderia viver essa única cena pra sempre e pelo modo como ela volta a me beijar, desconfio que ela também.
Depois disso somos declarados casados e a cerimônia se encerra, então todos vem nos cumprimentar, abraços, beijos, choros, risos e muita alegria, Iris logo se anima querendo tirar muitas fotos e a nova amiguinha dela, Eva, também vem atrás no mesmo pique, o pessoal da Aldeia também vem nos cumprimentar, papai quando me abraça chora tanto que eu começo a ficar preocupado, mas logo mamãe aparece, manda ele parar de drama, embora ela também esteja emocionada, ele reclama, mas em dois minutos  eles acabam se entendendo, Pérola vem falar com a gente também, ela quase me esmaga de tanto que me aperta e pelos olhos levemente vermelhos sei que ela também chorou, aliás, ela tem uma facilidade absurda pra chorar, embora realmente tenha sido tudo perfeito.
— Uma chuva de pétalas?! Foi realmente uma coisa maravilhosa, não é? Romântica e linda, quem pensaria em algo assim? – Pyter se aproxima cheio e ironia e sorrisos orgulhosos.
— Desculpa, eu não vi essa parte, ainda estava emocionada com a banda preferida da noiva tocando logo na entrada dela – Pérola devolve a implicância com um sorriso ainda mais orgulhoso.
— Fala sério, você não quer comparar uma chuva de pétalas, na hora do beijo com uma música quer?
— Tem razão a chuva nem entraria nessa lista – ele dá uma risada alta e irônica.
— Anda, digam pra ela – Pyter fala e eu e Luiza rimos.
— Vocês foram incríveis! – eu falo sinceramente e eles param com a discussão – É sério, muito obrigado, por tudo...
— Você não tem que agradecer por nada – Pérola fala já me abraçando emocionada de novo, eu beijo sua bochecha demoradamente e depois a solto.
— Pra mim precisa agradecer sim, eu fiz chover rosas no seu casamento – ele fala, mas não tem um sorriso esnobe, só um sorriso bobo e então eu o abraço, ele aperta os braços em volta de mim e passa a mão pelo meu cabelo – Meu menino cresceu – ele sorri e segura minha nuca mantendo nossas testas encostadas uma na outra – Eu desejo toda felicidade do mundo pra vocês...
— Obrigado!
— Mas é impossível vocês serem um casal mais foda que nós dois – Keyse aparece com aquele sorriso divertido e eu acabo rindo.
— Vocês realmente são insuperáveis – eu falo fazendo uma cara de impressionado, ela ri e me abraça também apertado, depois abraça a Luiza e elas riem de provavelmente alguma besteira que Keyse falou. Depois disso nós nos juntamos aos outros para a festa, que acontece dentro da tenda que está montada e é incrível ver todas as pessoas que eu amo e que são importantes pra mim celebrando o dia mais inesperado, surpreendente e feliz da minha vida.


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