Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 46
Pov Keyse




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Eu termino o dia na obra do Prego mais cedo e decido passar no galpão pra ver os meninos e Pyter e então voltarmos juntos pra casa.
As vozes e risadas das crianças só são interrompidas pela voz alta de comando do Ryan, eu passo pelos portões mais uma vez me impressionando com o que eles fizeram com o lugar, o que começou em um galpão meio velho, hoje é um espaço incrível, tem a parte onde tem os treinos com o tatame, a parte para os exercícios antes do treino, tem uma parte especifica pra musculação que está com equipamentos novos e tem ainda os lugares para os pais assistirem o treino, eu caminho até lá e cumprimento duas mães que estão aguardando o final do treino.
— MÃE – Íris vem correndo e se agarra nas minhas pernas, ela não e muito fã de treinar, mas se tem algo nessa vida que ela adora é estar perto dos irmãos e do Pyter, então quando ela não tem atividades á tarde ela vem pra cá e fica com eles.
— Você não devia estar treinando?
— Aí é muito chato – ela faz uma careta e eu acabo rindo.
— Bom, não deixa seu pai ouvir isso...
— É nosso segredo – ela fala e eu concordo piscando um dos olhos e fingindo trancar minha boca, ela ri e corre de volta pro tatame, eu olho e sorrio vendo-a, até que outra coisa me chama a atenção, uma mulher que eu nunca vi antes, ela sai de dentro do escritório com o Pyter, os dois estão rindo sem reservas, ela segura o braço dele e fala mais alguma coisa que o faz jogar o corpo pra trás e dar uma daquelas gargalhadas que sempre me fazem rir, que eu consigo tirar dele, mas não agora, não sou eu quem o faz rir e tudo que consigo fazer é encarar os dois juntos, ela parece ter no máximo 30 anos, é ruiva, o cabelo está preso em um rabo de cavalo perfeito, está com uma calça lycra preta justa, uma camiseta tipo regata com um top preto por baixo e um casaco amarrado na sua cintura, mesmo assim ainda consigo ver o quanto sua cintura é quase um insulto de tão modelada. Eu continuo encarando os dois e então Pyter olha na minha direção, ele não se abala nenhum pouco, pelo contrário, ele acena pra mim e vem andando na minha direção, ainda sorrindo e ainda conversando com ela.
— Eu tava falando de você agora mesmo – ele comenta achando graça e me dá um beijo na boca rápido.
— De mim? Nossa, então deve ter sido algo muito engraçado né? – não tento soar simpática e eles percebem.
— Eu só comentei sobre quando os meninos colocaram corante no seu shampoo...
— Ah nossa, foi hilário – eu forço um sorriso e olho pra ele, depois encaro a mulher.
— Meu nome é Beatrice, mas pode me chamar de Bia...
— Eu sou a Keyse e pode me chamar de Keyse mesmo – forço um outro sorriso.
— É, então eu acho que já vou indo, ainda tenho que organizar algumas coisas pra amanhã – ela fala e olha rapidamente pro Pyter, mas logo volta a me olhar e estica a mão – Foi um prazer conhecer você... Até amanhã...
— Até amanhã – ele parece meio receoso quando fala, mas sorri e acena um adeus, eu fico parada na frente dele, apenas o olhando séria – Nós tivemos que trocar o preparador físico do Lucca, o cara descobriu que vai ser pai e decidiu voltar pro 2, então...
— Então vocês decidiram botar uma gostosona no lugar?
— Não! ELES avaliaram as opções e escolheram o melhor profissional, que coincidentemente é uma mulher, eu só soube quando ela chegou aqui, há uns... – ele olha no relógio – 40 minutos atrás.
— Uau, 40 minutos? Ficaram amigos bem rápido, né? – ele ri, se aproxima de mim  e coloca as mãos na minha cintura.
— Ela tem um ótimo currículo, disponibilidade e não tem problema nenhum em se mudar pra cá...
— Ah que maravilha, ela vai morar aqui também... Bom, talvez você devesse convidar ela pra se hospedar lá em casa pra continuarem o papo, que tal?
— Keyse!
— O quê? Você prefere ir visitar ela no hotel? – assim que as palavras saem da minha boca, eu sei que posso ter passado do limite, tocando em um assunto que já está encerrado, mesmo assim não volto atrás e continuo o encarando, dessa vez ele fecha a cara e desencosta as mãos de mim.
— Ok! Eu vou finalizar o treino e você pode aproveitar pra sei lá... Pensar um pouquinho antes de abrir a boca, que tal? – ele vira as costas e começa a andar, pra longe de mim.
— Você é um babaca – não me importo com os olhares das mães ou se as crianças vão ouvir, apenas quero botar minha raiva pra fora.
— E você é uma imbecil – ele se vira e fala me olhando, mas não para, apenas continua o caminho até o tatame, assim que ele pisa lá, Iris corre e se gruda as pernas dele, ele abaixa e a tira do chão fazendo-a rir, a cena que sempre me faz sorrir, me deixa ainda mais irritada e como estou a ponto de explodir, apenas viro as costas e saio, eu piso forte na tentativa de descarregar um pouco de toda essa raiva que ferve dentro de mim e mal enxergo o caminho a minha frente.
— Keyse – a voz me chama meio apressada, me viro e ela vem correndo até a mim, Beatrice.
— Ah tá de brincadeira – eu sussurro já sentindo minha cabeça pulsar.
— Será que eu posso falar com você? Tem uma lanchonete ali do outro lado – ela aponta para o outro lado da rua - Só vai durar dois minutos...
— Eu tenho que ir, eu...
— Por favor, são só dois minutos, eu realmente preciso falar com você – ela insiste e mesmo com ódio da cara dela, não consigo desprezar o tom nervoso e meio angustiado da sua voz, eu olho para os dois lados, como se pedisse aos céus pra mandar alguém que me impeça de falar com ela, mas nada acontece – Por favor...
— Dois minutos – eu aviso e ela me dá um pequeno sorriso aliviado, eu ando na frente e entro no lugar, uma mesa de canto está vazia, eu me sento e logo ela se senta a minha frente, a garçonete aparece toda sorridente com os cardápios, eu nego mas peço uma agua, ela pede uma vitamina de laranja com cenoura e um sanduiche natural, não escondo meu revirar de olhos.
— Eu ainda não comi nada desde o almoço – ela explica, mas não me sinto culpada.
— E o que você quer comigo?
— Esclarecer as coisas... Eu posso imaginar o que você pensou ao me ver com o seu marido agora pouco – ainda estou irritada, mas o fato dela ter chamado ele de “meu marido” e não pelo nome, me deixa um pouco mais satisfeita.
— E então? - pergunto querendo acabar logo com isso.
— Eu posso imaginar que você não tenha gostado do que viu...
— Uau, você é mesmo esperta - uso toda minha ironia e ela parece um pouco sem jeito.
— Eu posso entender seus motivos, mas eu preciso que você saiba que na verdade não existe motivos pra isso, nós estávamos apenas conversando...
  - Era só isso? - eu seguro minha bolsa pronta pra me levantar.
  - Não, só um minuto, por favor... Eu... Eu realmente preciso te contar por que estou aqui... - minha vontade ainda é me levantar e deixar ela falando sozinha, mas acabo soltando a bolsa e a encarando, não digo nada e ela entende que pode falar - Eu vim pra cá por causa da vaga de Educadora Física,  eu sou professora de Educação Física e trabalhava com os atletas de judô na Capital, eu fiquei sabendo da vaga e resolvi arriscar.... Eu já não tinha mais nada que me prendesse lá... Eu... Eu perdi meu marido há... 3 meses e essa vaga veio na hora certa - ela fala com uma mudança visível tanto no seu semblante quanto na sua voz e parte de toda aquela raiva começa a sumir - Nós estávamos juntos há 8 anos, nos conhecemos e eu logo fiquei grávida, não tínhamos nada sério mas ele foi perfeito, em tudo... E foi quando nossa filha nasceu que eu realmente o amei, por que ele foi o melhor pai e companheiro que eu podia imaginar... - ela faz uma pausa e deixa um sorriso escapar - Nosso relacionamento não foi o mais convencional, mas foi o perfeito, até que ele sofreu um acidente de carro, ele morreu na hora... - por mais que eu estivesse odiando-a há minutos atrás, agora eu quase consigo sentir sua dor, meu peito se aperta e tento por um segundo me colocar no seu lugar, mas a dor me faz largar o pensamento rapidamente - Foram os oito anos mais felizes da minha vida e eu não posso reclamar de nada, por que eu tive em oito anos o que a maioria das pessoas busca a vida inteira, então eu não tenho arrependimentos, mas eu tenho uma filha, uma filha de oito anos que  sente a falta do pai a cada minuto do dia... Ela era uma das crianças mais animadas que eu conhecia e agora tem se fechado cada vez mais, eu não sabia o que fazer, então quando apareceu essa chance eu resolvi agarrar, por que eu acho que um lugar novo, com novas pessoas e novas histórias, pode pelo menos distrair ela, por isso eu vim pra cá... Eu confesso que também porque eu já conhecia o projeto de luta daqui e sempre achei incrível o modo como o Pyter leva e eu acho que pode fazer bem pra ela, mas eu não tenho intenção nenhuma de ser um problema ou uma dor de cabeça pra alguém, eu só quero recomeçar... E eu não estou te falando isso pra te comover ou pra que sinta pena de mim, por que como eu disse, não me arrependo de nada, nós duas tivemos anos incríveis, só precisamos continuar tendo, então eu peço desculpas se deixei alguma primeira intenção ruim, mas eu não quero nada além disso - ela termina de falar e eu estou envergonhada de mim mesma, por ter a julgado sem nem ter dado a chance dela mostrar algo, por isso agradeço mentalmente quando a garçonete volta com os pedidos,  ela coloca o pedido na mesa e sai, mas me dá um minuto pra respirar e processar o que acabei de ouvir.
  - Eu sinto muito pela cena, é que... As vezes eu sou uma ciumenta psicótica impulsiva - ela dá um sorriso e eu também.
  - Todo mundo já fez isso alguma vez na vida
  - Eu espero que sim - falo cruzando os dedos  e nós rimos - E qual o nome da sua filha?
  - Eva! - o sorriso dela é o típico sorriso de mãe babona - Ela ficou com a minha irmã enquanto eu vim resolver e confirmar tudo, eu já estou morrendo de saudade dela, queria trazer ela amanhã logo, mas ainda tenho que conseguir um lugar pra alugar...
  - Acho que posso te ajudar com isso...
  - Sério?
  - Sério! Assim que você terminar, eu acho que posso resolver seu problema... - ela sorri parecendo realmente aliviada e enquanto ela termina de lanchar eu peço licença e pego meu celular de dentro da bolsa, me afasto da mesa e disco para alguém que pode me ajudar com isso, quando volto, ela ainda está lanchando então apenas volto a me sentar e tento imaginar por tudo que ela está passando, tendo perdido o amor da vida dela, ter uma filha sofrendo a perda do pai e ainda assim continuar tentando deixar tudo da melhor maneira possível, eu não teria essa força que ela tem e é assim que formulo esse pensamento que eu sei que não existe mais raiva, nem cisma, nem ciúmes, o que existe é uma admiração verdadeira e a quase certeza que seremos boas amigas, pelo menos do que depender de mim.
  - Pronto. Acabei - ela praticamente joga o guardanapo na mesa e abre outro sorriso.
  - Então vamos - pego minha carteira de dentro da bolsa e faço sinal pra garçonete, ela também pega a carteira - Essa é por minha conta - ela sorri e levanta as mãos, eu pago e nós saímos da lanchonete - Você tem problemas com apartamento?
  - Nenhum, eu só quero trazer a Eva logo, não quero ficar muito tempo longe dela...
  - Eu imagino, não consigo me imaginar muito tempo longe dos meninos, mesmo que eles me deixem louca quando estão por perto – nós rimos – Aliás, a Iris vai ficar doida com uma amiga nova, acho que elas vão se dar bem...
  - Isso seria perfeito - sorrio e tomo a frente andando na direção dos prédios novos que ficam próximos do centro, a faixada ainda está perfeita e continua sendo a mais bonita da rua inteira, eu trabalhei com a equipe que trabalhou aqui, então tenho bons conhecidos, assim que toco a campainha da portaria, ela se remexe meio nervosa.
  - É um prédio bem novo né?
  - Ah é, eles tem uns 6 meses, mas ainda tem apartamentos livres, não se preocupa...
  - Não é bem essa minha preocupação - eu a olho confusa, mas o porteiro atende o interfone, eu me identifico e como ele já me conhece, me libera a entrada, ela vem logo atrás de mim, o hall de entrada está tão impecável como no dia da inauguração, o piso cinza brilhante, o lustre com pedras penduradas destaca todo o lugar, assim como o arranjo grande e colorido que fica em cima da mesinha no centro, ainda assim o espelho que pega toda lateral ao lado dos elevadores ainda é a minha parte preferida, talvez por que tenha sido minha ideia e modéstia parte, foi uma ideia excelente.
  - Dona Keyse! - Leonan, o porteiro vem me cumprimentar com um sorriso largo e a mão estendida, ele tem quase a minha idade, poucos anos a menos.
  - Dona não, Leonan, me sinto velha, eu já disse - faço uma careta e ele levanta as mãos pra se desculpar - O Richard tá me esperando...
  - Quer que eu anuncie?
  - Quero sim, mas eu já vou subir - ele faz sinal de positivo e corre de volta pro seu balcão - Vamos - me viro pra ela e caminho até o elevador - Notícia ruim... A cobertura já tem dono - faço uma careta e aperto o C da cobertura, o espelho no elevador também prende minha atenção, mas quando olho pra Beatrice, ela parece meio nervosa - Relaxa, você só não fica aqui se não gostar do apartamento...
  - Ou não puder pagar - ela completa parecendo realmente preocupada - É que... Esse lugar... É lindo e eu agradeço muito, só não sei se consigo pagar - eu acabo sorrindo e dou de ombros.
  - Você tá perdoada por que ainda não me conhece mas... Eu nunca ajudo pela metade - dou uma piscada e então a porta do elevador abre, ela me olha curiosa e confusa, mas eu quase a empurro pra fora sem dar tempo dela perguntar mais nada, a porta larga de madeira é a primeira coisa que eu mais amo nessa cobertura, eu toco a campainha e logo a porta é aberta, Richard faz uma careta quando me vê.
  - Sempre que você aparece eu termino fazendo reforma em alguma coisa...
  - Não precisa me agradecer - ele ri e então me abraça rapidamente e trocamos um beijo na bochecha, conheço-o a anos, desde a época de escola, éramos da mesma turma, embora não nos falássemos muito já que eu vivia com o Ryan e o Pyter ou com as meninas, mas quando ele começou a obra, me procurou na loja e me convidou pra fazer parte da equipe, então acabamos nos aproximando e nos tornamos bons colegas, até por que consegui ótimos descontos pra ele, não só na loja minha e da mamãe, mas também com todos os nossos fornecedores, ele com certeza economizou uma boa grana com todos aqueles descontos, por isso eu sabia que ele não me negaria um favor, ele mantém a porta aberta pra que eu entre - Essa é a Beatrice...
  - Prazer! - os dois se cumprimentam com apertos de mãos e entramos – Então é você que está procurando um apartamento pra alugar? – ele pergunta e ela parece meio surpresa dele já saber, eu sorrio.
— É pra ela e a filha, elas estão se mudando pro Doze, ela é a nova preparadora do Lucas, então, por favor, ela precisa estar bem alocada pra trabalhar bem – eu sorrio – E eu quero muito aquele do 5° andar, com a vista pra praça...
  - É claro que você quer - ele implica comigo por que desde a época da construção eu falava que esse era o meu preferido depois da cobertura - Pra sua sorte ele ainda tá vago - eu comemoro com pequenos pulinhos e ele ri.
  - Vamos lá ver? Você tem que gostar também... - eu falo e Beatrice ainda está com aquela cara assustada, eu ignoro e saio na frente, Richard vem com a gente e paramos no 5° andar, são três apartamentos aqui, mas o que eu quero é o da porta de frente para o elevador, ele tira a chave de um molho de outras chaves e abre a porta, não tão bonita quanto a dele, mas ainda assim bonita, entramos e já sorrio quando vejo a sala toda mobiliada em preto e amarelo, a TV grande também já está no lugar, o tapete fofo e preto me faz quase suspirar mesmo sem pisar com os pés descalços nele - Olha isso - eu vou até a janela e abro, a vista da praça no entardecer é ainda melhor, o sol já está no ultimo suspiro, algumas crianças correm pela praça e entre os brinquedos, quando olho pra ela, um sorriso satisfeito e encantado aparece - Espera até ver o quarto – caminho na frente pelo corredor e abro a porta da suíte, a cama gigante esta com colcha preta e branca, outra TV a frente dela e o banheiro todo preto tem uma banheira - Tem o outro quarto que pode ficar pra Eva, não sei se vocês dormem juntas, mas com certeza daqui um tempo ela vai querer um cantinho só dela, então... - já ia mostrar o outro quarto quando ela segura meu braço.
  - Eu não tenho como pagar... - reviro os olhos.
  - Claro que tem!
  - Ahhhh não tenho não...
  - Ok, se isso vai te deixar mais tranquila podemos interromper o tour pra falar de negócios - dessa vez ela não me segura quando saio na frente, vou até o Richard que ficou na sala, ele estava mexendo no celular, mas para quando me vê.
  - Então? Pra quando é a mudança?
  - Na verdade ela quer resolver a parte chata primeiro - reviro os olhos fazendo sinal de dinheiro com os dedos, ele ri.
  - Claro! Vamos a parte chata - ele fala e como já falei com ele antes, eu sei que ele vai fazer algo bem razoável, não só por que ele é gente boa, mas por que ele economizou com todos descontos que eu consegui pra ele, o dinheiro que sobrou provavelmente paga esse apartamento e eu só comprovo isso quando ele rabisca o valor num bloco de papel e entrega pra ela, seus olhos se arregalam.
  - Esse valor é... É sério? - ele ri.
  - Você veio com a pessoa certa, certifique-se de levar ela pra todos os lugares - ele brinca e ela ri, olha pro papel e depois pra ele de novo.
  - Já tá tudo incluído?
  - Tudo que você precisar... AH, só temos uma taxa extra se você tiver algum animal de estimação...
— Não temos
— Então está tudo aí - ele garante e ela sorri aliviada e animada.
— E quando eu posso me mudar?
— Hoje mesmo se você quiser – ele sorri e ela ainda mais.
— Eu só preciso buscar minhas coisas no Hotel...
— Eu vou com você até o centro – ela concorda e então Richard entrega a chave, eles combinam de assinar o contrato quando ela voltar, já que ele ainda vai imprimir uma cópia.
— Obrigada – eu falo enquanto Beatrice pego o celular pra ligar avisando a filha que amanhã mesmo ela pode vir pra cá.
— Não foi nada, eu tava te devendo uma...
— É, eu sei, eu fui incrível com você – ele ri.
— Pior que eu não posso negar...
— É, não pode, mas pode trocar aquela mesinha do corredor ein, se colocar uma de madeira envelhecida...
— Tchau, Keyse – ele fala apontando a porta, eu sorrio e dou de ombros.
— Depois eu volto pra ver a mudança – ele ri, mas depois acena me expulsando de novo.
Eu deixo Beatrice no Centro pra ir pro hotel e pego o caminho de casa, mas quando passo pela sorveteria acabo fazendo uma parada, eu sei que um sorvete não vai melhorar nada entre eu e o Pyter, mas pode me ajudar, então eu entro e compro dois potes, um de chocolate e um de frutas vermelhas que é preferido dele, apresso meus passos e sem muita demora eu chego na Vila, a tarde já se foi e o céu já está escurecendo, Ian também está chegando, nos cumprimentamos rapidamente e eu logo corro pra dentro de casa, assim que abro a porta ouço a voz da Íris cantando alto uma música de um dos desenhos favoritos dela, imediatamente meu sorriso se alarga, vou até a sala e ela está sentada no colo do Pyter, virada de frente pra ele, cantando e sacudindo os bracinhos no ritmo da música.
  - Mãe! - ela logo grita quando me vê e pula do colo do Pyter, meu sorriso se abre ainda mais, assim como sempre acontece quando ela me chama de mãe, eu me abaixo pronta pra recebê-la e ela se joga nos meus braços me abraçando apertado - O Boldo espalhou o lixo no quintal todo, mas o papai já limpou - ela conta toda animada.
  - Eu vou amarrar o Boldo num poste - ela arregala os olhos e ri tampando a boca com as mãos - Cadê os meninos? - pergunto olhando em volta.
  - Tão lá em cima com a Bella e o Pê - Iris fala usando o apelido que deu para o novo amigo do Lucca.
  - Eles vieram com vocês? - pergunto mas olhando pro Pyter, ele se levanta do sofá e vem na nossa direção.
  - Vieram, eles tem um trabalho pra apresentar amanhã e vieram pra cá pra estudar, pelo menos foi isso que disseram - ele da de ombros sem acreditar muito nessa versão.
  - Bom, então eu vou aumentar o jantar...
  - Eu vou pedir pizza - eu olho pra ele de cara feia pronta pra reprovar - Eu já prometi a eles... Não sabia se você ia chegar pra fazer o jantar - ele me olha e então eu sei que não está tudo bem, eu errei com ele e seria muita ingenuidade minha achar que isso não teria reação, então resolvo usar meu plano B.
  - Tudo bem, eu trouxe sorvete pra sobremesa - levanto as sacolas e Iris pula animada.
  - De chocolate?
  - De chocolate! - ela pula ainda mais.
  - Mas antes você vai tomar um banhooooo - Pyter tira ela do chão, levantando-a e mordendo sua barriga, ela ri alto demais e mesmo que ele tenha olhado pra mim daquele jeito sério e chateado, pra ela, ele olha com um sorriso bobo e derretido e mais uma vez eu sei que preciso consertar isso o mais rápido possível, por que eu o amo demais pra perder tempo.
  - Eu dou banho nela e você pede as pizzas - ele concorda e passa ela pro meu colo, pega as sacolas com o sorvete e eu subo com a Iris pra dar banho nela, passamos pelo quarto dos meninos e eles estão rindo jogados pelo chão, mas um cartaz está no meio deles, embora ainda incompleto, então resolvo deixar eles e ir direto dar banho na Íris.
  - Eu posso usar meu vestido de pirulito? - ela pergunta toda ansiosa enquanto corre pra dentro do quarto.
  - É vestido novo, pra sair, não pra ficar em casa - ela faz uma cara triste - Mas pode usar aquele pijama que tem os passarinhos - ela renova o sorriso e corre pra abrir o guarda roupa.
  - Mãe, quando que eu vou desfilar de novo?
  - Você gostou?
  - Muito, é muito maneiro - eu sorrio sem conseguir esconder meu orgulho, ela realmente combina com esse mundo, até o Pyter admitiu isso depois do desfile.
  - Bom, você tem as fotos pra fazer semana que vem e... O casamento do tio Pietro e da tia Lu! - ela arregala os olhos animada.
  - Eu vou ser dama!
  - A dama mais linda de todos os casamentos do mundo - ela sorri e eu pego o vestido - Mas agora...
  - BANHO! - ela fala junto comigo, eu sorrio e aperto o nariz dela de um jeito que faz ela rir mas se esquivar – Pode ser na banheira?
  - Hoje não, amanhã você toma na banheira - ela faz aquela cara triste, com direito a beicinho e tudo - Seu pai vai pedir pizza se você demorar no banho os meninos vão comer tudo...
  - Chuveiro - ela concorda e corre pro banheiro, dessa vez ela nem enrola no banho e quando sai coloca o pijama sozinha só pra me mostrar que ela tá ficando mocinha, eu bato palmas e a  elogio, mas não consigo evitar de sentir uma pequena ponta de tristeza em saber que ela está mesmo crescendo.
  - PIZZA! - ela grita animada quando ouve a campainha, eu sorrio e quando descemos as escadas Pyter está indo pra cozinha segurando as caixas de pizza, ela logo corre atrás dele e eu volto a subir pra chamar os meninos.
  - Pausa pra pizza? - pergunto e os quatro praticamente pulam em pé - Vocês não comem há quanto tempo?
  - A gente ta em fase de crescimento, tia - Bella explica dando de ombros.
  - E o estudo gasta energia - Theo completa e eles sorriem um pro outro de um jeito cúmplice.
  - Então o Lucca tá com a energia 100% ainda -  Pedro zomba com um sorriso divertido, bem diferente do garoto tímido que veio aqui pela primeira vez e mal falava.
  - HÁ HÁ, engraçadão! Mas a casa é minha e a comida que ta nela também...
  - Bom, o Pedro é meu convidado - dou de ombros pro Lucca e puxo o Pedro, passando as mãos pelos ombros dele em proteção, ele sorri pra mim agradecido e depois levanta os ombros pro Lucca.
  - Ah moleque, tá ficando abusado ein...
  - Deve ser a convivência, vocês dois vivem juntos agora - Theo fala implicando com o irmão, mas talvez seja impressão minha, porem sinto um tom meio enciumado.
  - Deve ser por isso que você anda tão sensível ultimamente, vive com a Bella...
  - Eu não sou sensível, seu imbecil... – Bella retruca meio brava.
  - Na verdade, mulheres são sim mais sensíveis que os homens, é um dado cientificamente comprovado...
  - Cala a boca, Pedro...
  - Ele só ta dizendo a verdade - Lucca o defende achando graça.
  - Bom, quer uma verdade? Vocês dois são dois idiotas, fato cientificamente comprovado também...
  - Ok, DR's pra depois, agora vamos descer que isso deve ser falta de comida... - dessa vez não tem brigas, todos concordam e descem juntos como se nada tivesse acontecido.
  Pyter abriu as 3 caixas de pizza na mesa e os quatro voam em cima delas como se fosse a ultima comida da terra, Iris já esta com o pratinho dela ao lado do Pyter e devora as calabresas da fatia dela e as que ela rouba do prato dele como se fosse a coisa mais saborosa do mundo, Pyter me estica um prato com uma fatia da de muzzarela, a minha preferida, eu aceito e sorrio, mas o sorriso dele não é aquele que sempre faz meu estômago borbulhar, então parte da minha fome desaparece.
  - Mãe, pai, eles podem dormir aqui? É que a gente ainda não treinou as falas e é um trabalho importante pra apresentar amanhã - Theo pede e eles me olham cheio de expectativas, eu olho pro Pyter e ele dá de ombros dizendo que não vê problemas.
  - Se o Ryan e os pais do Pedro deixarem... - eles comemoram e o Lucca vai com o Pedro pra ligar pra casa dele.
  - Você bem que podia falar com o tio Ryan, ein? - Theo pede com um sorriso ansioso pro Pyter.
  - Eu vou adorar fazer isso - ele se levanta já com o celular na mão e um sorriso de quem vai fazer o Ryan arrancar os cabelos.
  - Arrumem as camas no quarto...
  - Eu posso dormir com eles também? - Iris pergunta ansiosa.
  - Só se for na minha cama - Lucca fala e sorri piscando um dos olhos pra ela que ri e sai da sua cadeira pra sentar no colo dele.
  - Ele ronca, é melhor ficar comigo - Bella finge sussurrar e Lucca faz uma careta pra ela.
  - Melhor do que babar, o travesseiro dela dá até pra torcer...
  - Nossa, Lucca, como você é idiota...
  - Você que começou ué, já vai chorar?
  - Chorar? - ela finge uma risada - Quer saber? Nem fala mais comigo hoje...
  - E eu posso saber por que eu tô sendo premiado?
  - Ok, hora da sobremesa – eu aviso e a discussão se encerrra tão rápida como começou, eu coloco os sorvetes na mesa e eles quase pulam dentro dos potes, enquanto eles devoram eu começo a lavar a louça e arrumar a cozinha, quando eles terminam, eles mesmos lavam seus potes e colheres que comeram o sorvete, eu apenas verifico que tudo está em seus lugares e mando eles subirem e arrumarem as camas, eles obedecem e eu ajudo Iris a escovar os dentes, depois ela corre pro quarto dos meninos, quando entro no nosso quarto, Pyter está pegando roupa na gaveta.
— A Nathy pediu pra lembrar que amanhã é a ultima prova do vestido...
— Como se a Pérola e a Luiza me deixassem esquecer...
  - Recado dado - ele dá de ombros e passa por mim, indo pro banheiro, eu respiro fundo sabendo que temos que resolver isso agora, até por que temos uma promessa de nunca dormirmos brigados, então saio do quarto pela ultima vez apenas pra dar todas instruções e regras pros meninos, mando escovarem os dentes, colocarem o pijama, emprestarem algum pro Pedro e pra Bella, não ligarem o vídeo game e dormirem cedo por que amanhã tem aula, eles prometem obedecer a tudo, mas ainda assim tenho minhas duvidas, mesmo assim, saio do quarto deles, apago as luzes da casa e entro novamente no nosso quarto, fecho a porta e vou direto pro banheiro, assim que abro a porta a fumaça fina indica que Pyter já está há bastante tempo com o chuveiro aberto, mas não reclamo, eu tiro minha roupa e abro a porta do box, ele não parece surpreso, apenas me olha e então recua um passo me dando espaço pro chuveiro, ele está sério e pensativo, então fecho o chuveiro e resolvo ir direto ao ponto.
— Você tava certo, eu fui uma imbecil – confesso e ele balança a cabeça negando – Eu fui uma idiota, exagerada, dramática e louca, e eu juro que sinto muito por isso...
— Você não precisa se desculpar...
— Preciso sim, eu agi totalmente sem pensar, eu só... Vi você com ela e surtei, não deveria ter feito isso, eu deveria ter confiado em você...
— Acho que nós sabemos que você teve seus motivos pra isso, são consequências, eu...
— Não, eu não tive motivos, eu realmente não tenho motivos e nunca, nem por um segundo eu deveria ter deixado você pensar isso, aquilo que eu disse... Sobre o hotel, eu... Não é que eu não soubesse o que estava falando, eu sabia, sabia que isso ia te atingir e foi por isso que eu falei, por que eu estava com raiva e com ciúmes e quis fazer você sentir algo também, eu só... Só fui mesquinha e egoísta...
— Você não é assim – ele garante tocando meu rosto e liberando a sombra de um sorriso.
— Mas eu fui, eu agi propositalmente pra te atingir por uma coisa que não existia usando algo que já está encerrado... Eu realmente não sei a palavra pra definir o quanto eu fui idiota hoje...
— Não defina então... Eu sou um idiota, você é uma idiota... Acho que isso nos torna oficialmente o casal perfeito – dessa vez o sorriso dele é aquele que faz meu estômago revirar.
— Eu te amo tanto – eu confesso e ele sorri e se aproxima de mim, segurando meu rosto com as duas mãos.
— E eu amo você, mais do que eu consigo tentar te mostrar... Eu nunca, jamais, por motivo ou por mulher nenhuma, eu trocaria você... Você tem que saber disso...
— E eu sei, eu juro que eu sei, é só que... Eu odeio o fato que alguma outra mulher te faça rir... É a minha função entende? É nisso que eu sou boa, eu não suporto ver alguém fazendo isso...
— Ahhhh eu consigo pensar em pelo menos umas dez outras coisas que você é muito boa – ele sorri de um jeito malicioso e aproxima nossas bocas...
— Ah é? E o que seria? – ele finge pensar, então olho nos meus olhos.
— Você é a melhor amiga que eu tenho, é a melhor mãe pros meus filhos, sabe fazer o melhor macarrão com queijo que eu já comi na minha vida – ele fecha os olhos exagerando – E olha que o do papai é muito bom... Hum... Ah você é a melhor vendendo martelos e tintas – eu acabo rindo – É sério, eu poderia gastar meu dinheiro todo com isso... É a melhor arquiteta que eu conheço, sabe escolher os melhores presentes de aniversários e... – ele faz um suspense, sua boca desliza pela lateral do meu rosto até a minha orelha – É uma loucura na cama – eu acabo rindo e ele também – É sério, eu realmente não tenho do que reclamar...
— Bom, então talvez devêssemos terminar o banho... – ele sorri.
— Keyse Mellark fugindo do banho? – ele faz uma cara surpresa - Depois eu que não gosto de tomar banho né? Coisa feia – ele ri e eu acerto um tapa nele.
— Quer saber? Acho que seu banho vai aumentar, só você e sua amiga aqui – eu seguro e levanto sua mão, ele ri, uma gargalhada alta e divertida que faz meu coração perder uma batida.
— MEU DEUS COMO EU TE AMO – ele exagero jogando a cabeça pra trás e logo em seguida me puxa pra junto dele e me beija.


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