Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 43
Capítulo 44




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/644677/chapter/43

São sete horas da manhã, mas a casa nunca esteve tão animada e movimentada como agora, hoje é o dia da luta, ela começa as 9 horas da manhã, mas já estamos correndo com tudo, Louise e Pérola também estão aqui em casa, elas e Keyse estão terminando de arrumar os pompons e faixas coloridas, Iris está junto delas rindo e se balançando pra ver a saia rosa e cheia de babados e brilhos se agitar, todas elas estão com camisetas rosa com a foto do Lucca na frente e ele está sorrindo todo orgulhoso, ele não está nervoso mesmo que a luta seja em algumas horas, ele está apenas extremamente ansioso e confesso que eu também, mesmo que eu tente não transparecer isso pra ele.
— Tá cheio de câmeras lá fora – Theo avisa enquanto entra em casa depois de ter ido até a casa dos meus pais, Lucca ri animado e corre pra janela.
— Eles me amam – ele fala e eu acabo rindo, mas passo a mão na cabeça dele e o afasto da janela.
— Se concentra na luta, depois na fama – ele concorda e começa a verificar tudo que precisamos levar, como eu sou o treinador e talvez um pai babão, tenho que ir mais cedo junto com ele e por isso também verifico minha mochila, depois de confirmar que está tudo certo, jogo-a nas costas – Nós estamos indo! – quase tendo que gritar para que elas nos ouçam, mesmo assim a única que realmente me dá atenção é a Iris, ela vem correndo e saltitando até a mim, eu abaixo e a pego no colo e ela me dá um beijo na bochecha enquanto as mãozinhas seguram cada lado do meu rosto.
— Eu posso ir com vocês? – seus olhinhos castanhos brilham ansiosos, ela está com o rosto pintado em dois riscos brancos de cada lado e isso só a deixa ainda mais encantadora.
— Achei que nós tínhamos um acordo – eu falo tentando não ceder imediatamente aquele meio sorriso que me desarma.
— Eu vou depois com a mamãe – ela revira os olhos meio contrariada, mas sempre que ela chama a Keyse de mamãe e a mim de papai, eu sinto que poderia fazer qualquer coisa que ela pedisse, mesmo com ela revirando os olhos.
— Você fica comigo, mocinha – Keyse já se aproxima pegando-a no colo, mas ela não reclama, Keyse também está com o rosto pintado, usa a mesma camisa com a foto do Pyter, mas está com um short jeans meio curto demais pra mim, mas como eu não sou louco, não reclamei, ela se inclina e me dá um beijo rápido.
— Eu vejo você daqui a pouco – ela concorda, já indo dar um beijo no Lucca, Theo decide ficar com elas pra depois ir junto com o Pietro e a Luiza, assim que eu e Lucca saímos de casa ouvimos as vozes desesperadas já do lado de fora, perguntas que mal podem ser ouvidas se misturam umas as outras, Lucca sorri orgulhoso e antes de entrar no carro acena na direção do portão onde eles estão, eu acabo rindo.
— Entra logo – ele ri e escorrega pra dentro do carro.
— Isso é muito maneiro – ele fala ainda olhando pra eles, não é a primeira vez que ele luta, mas é a primeira vez que ele entra num Campeonato entre os Distritos e a repercussão é muito maior do que aquelas competições por aqui, eu ligo o motor e saio com o carro, quando passamos do portão da Vila, eles entram na frente do carro com câmeras desesperadas para conseguir uma imagem, fecho o vidro do carro e buzino antes de voltar a andar, eles se afastam e alguns já correm para os carros para nos seguir, nós vamos direto pro Ginásio, pelo caminho nós conversamos sobre a luta, o que vamos focar agora no treino e em como ele precisa se concentrar, mas assim que descemos do carro de novo tem quase uma multidão de repórteres, a frente do ginásio está com alguns seguranças e algumas pessoas que já querem garantir suas entradas, elas acenam e apontam quando nos veem, Lucca é claro que acena todo sorridente de volta, mas eu o agarro e levo junto comigo quando vejo alguns jornalistas querendo furar o bloqueio, Ryan corre na nossa direção assim que entramos no Ginásio, os outros atletas já estão se organizando pra iniciar o treino antes da luta, todos tem espaços reservados e mesmo concentrados em suas coisas, os olhos sempre tentam espionar um dos adversários, não é diferente com Lucca, que enquanto troca a calça olha para o espaço onde Trenton, um dos adversários dele, está se aquecendo, ele percebe o Lucca e eles se encaram, Trenton é um pouco mais alto que Lucca, embora os dois tenham a mesma idade e Lucca seja um pouco mais forte, a técnica dele é bem afiada, não é a toa que ele é o preferido do Distrito 2,  Lucca tem 3 lutas hoje, mas sem querer desmerecer os outros dois, o único que realmente nos preocupa é o Trenton, Lucca nunca lutou com ele e eu o venho estudando a um bom tempo, ele também não tem nenhuma luta perdida.
— EI! – estalo os dedos chamando atenção do Lucca que só então desvia os olhos do garoto pra mim – Concentração – ele assente e não olha pra lá de novo.
— Ok, vamos começar com o aquecimento e depois a gente treina aquela entrada de perna da sexta... – Ryan avisa e eu faço sinal pro Lucca começar.
Nós aquecemos, treinamos e acertamos alguns pontos de ultima hora, revisamos algumas técnicas e quando o som das pessoas que começaram a lotar a arquibancada fica muito alto que percebemos que já está prestes a ter abertura, por isso depois de uma chuveirada, Lucca se veste, pega o fone de ouvido grande que ele tem e vai pro seu canto, ele sempre faz isso antes da luta, é o momento dele e nem eu nem Ryan falamos ou ficamos perto dele nesses minutos, enquanto isso nós organizamos nossa parte, recebemos as instruções do pessoal da organização, pegamos nossas malas com kits de emergências que eu torço pra não utilizar e só quando nos chamam para nos posicionarmos na abertura que eu vou até o Lucca, ele está de olhos fechados, sentado no chão e a cabeça apoiada na parede, basta um toque no seu joelho e ele abre os olhos, apenas um aceno de cabeça e ele entende, se levanta, tira o fone, respira fundo e nos acompanha, paramos junto com os outros atletas esperando o discurso do prefeito e do presidente do comitê de esportes, que é nada mais nada menos que o Cláudio Prado, um imbecil que achou que pudesse me comprar no passado, no meio da minha lua de mel e depois tentou fazer o mesmo com Ryan, bom nas duas vezes ele se ferrou e acho que isso tem a ver com o motivo que não me deixa suportar ele, mas quando anunciam o Campeonato aberto eu consigo dar um sorriso, eles chamam os atletas e seus treinadores, Lucca me olha com um sorrisinho de quem sabe que verá uma multidão gritando por ele e então entramos no meio do Ginásio que está extremamente lotado, faixas, cores, mãos e gritos, tudo ao mesmo tempo, se misturando a flashes e muito barulho, mesmo assim meus olhos vão direto até eles, como se fosse algum tipo de magnetismo surreal ou sei lá que tipo de ligação louca seja essa, mas ela é forte, por que em menos de um segundo vejo Iris sentada na corcunda do Theo batendo palma e gritando entre altas risadas, Theo também grita mas mantem as mãos nos joelhos dela pra que não caia, Keyse segura um cartaz escrito “O MAIS BONITO É MEU FILHO” e eu acabo rindo, Lucca me olha e pela sua risada sei que ele também viu o cartaz, não que ele não possa ser visto né, afinal é o cartaz com mais brilhos e cores de toda arquibancada, nós paramos em duas filas, a fila da frente ficam os atletas, atrás deles, nós, os treinadores, Ryan me olha fazendo uma cara de impressionado e eu acabo rindo, então começa o hino nacional, colocamos as mãos pra trás e cantamos todos juntos, é incrível como as vozes juntas conseguem quase fazer o ginásio tremer e mesmo não sendo uma pessoa muito sentimental ou emotiva, sinto um leve arrepio enquanto as vozes se unem em uma só. Quando acaba, somos dispensados para nos prepararmos, Lucca prefere não assistir as duas lutas que vem antes da dele e eu não insisto, mas faço questão de ver, pra pelo menos me inteirar da maneira que o júri anda avaliando. As duas lutas são demoradas e a decisão foi técnica, um lutador do 7 e o outro do 9 são vencedores e passam para a próxima etapa, então anunciam a primeira luta do Lucca com o adversário do 5, ele respira fundo e quando me olha abre um sorriso divertido, estala os dedos, estica o pescoço pra cima e entra no tatame dano pequenos pulos, mesmo que o ginásio estremeça gritando por ele, a voz da Keyse, da Louise e os gritos da Iris parecem me alcançar acima de tudo e eu sorrio, Ryan me dá um tapa e me aponta nossas posições, jogo a bolsa com os kits no chão e então a luta começa, Ryan parece mais calmo do que eu e sorri nos golpes que Lucca acerta, mas eu mal consigo me conter.
— Fecha essa guarda, porra – eu reclamo quase entrando no tatame, no segundo que ele tem de pausa, me olha e sorri, eu estava prestes a reclamar, quando em um golpe, ele agarra as pernas do garoto, o levanta e joga no chão, mantem o braço dele preso e então o garoto bate no tatame e Lucca sorri e levanta as mãos, o nome dele pisca no telão e ele sobe de colocação.
— Acho melhor você tomar um suco de maracujá – ele fala rindo enquanto pula pra fora do tatame parando ao meu lado.
— Cuidado que não é tão fácil me derrubar assim – eu dou um tapa na cabeça dele e ele ri, Ryan o puxa bagunçando seu cabelo.
— Bora que tem mais uma – ele lembra e então voltamos para o lado de dentro.
A próxima luta é do Trenton e essa o Lucca faz questão de assistir, mal a luta começa e Trenton derruba o garoto, a luta dele é basicamente no chão, é lá que ele é bom e realmente é muito bom, Ryan me olha na mesma hora e levanta a sobrancelha.
— Ok! Melhor a gente ir se preparando que a próxima é nossa – eu falo tentando afastar o Lucca, mas ele não se move – Lucca!
— Você mesmo diz que a gente tem que conhecer o inimigo, não é? – ele me encara e Ryan dá de ombros, como não tenho argumento volto a encarar a luta, a tempo de ver o Trenton fazendo o garoto desmaiar depois de um mata leão, o treinador e um cara dos socorros entram no tatame, um segundo de silêncio se segue e então eles levantam as mãos afirmando que está tudo bem, o garoto abre os olhos e sai quase arrastado, o árbitro levanta a mão do Trenton e o nome dele pisca, Lucca desvia os olhos do telão e me olha, ele não diz nada, apenas passa por mim até nosso espaço.
— Ele consegue – Ryan fala pra mim enquanto aperta meu ombro, eu afirmo com a cabeça e por mais que eu conheça as habilidades dele, ele é meu filho, tenho o direito de ter o estomago embrulhado imaginando no que pode acontecer e Ryan sabe disso, tanto que logo se afasta, eu estico o pescoço e encontro Keyse na primeira fileira da arquibancada, ela está rindo enquanto Iris tenta assoprar uma das cornetas barulhentas que elas compraram ontem, e como num passe de mágica essa imagem me acalma e eu volto a me concentrar. Tem mais uma luta e então é a vez do Lucca de novo, dessa vez eu mal tenho tempo pra me irritar e o adversário bate no tatame, Lucca sai sorrindo orgulhoso, mas quando o nome dele pisca na tela ao lado do Trenton indicando que os dois estão na luta final eu sinto meu estomago embrulhar mais uma vez e o sorriso dele se torna menos empolgado.
— Acho melhor um revael metal agora – Ryan brinca enquanto estica o fone pro Lucca, ele ri, coloca o fone e vai pro canto dele, ainda tem a disputa pro segundo e terceiro lugar, então isso nos dá alguns minutos de descanso, ele está sentindo um pouco de dor no ombro então enquanto ele ouve sua música e se concentra eu faço uma massagem com uma pomada nele e Ryan faz algumas manobras na perna dele pra aquecer, nos mantemos ocupados até que anunciam a luta final, nós paramos, nos levantamos e ficamos em um pequeno círculo, nos olhamos sem dizer nada por alguns segundos, então é o Ryan quem coloca a mão no meio, Ryan coloca a dele por cima e eu por cima da dele.
— Eu sei do que você é capaz, seu pai sabe e você sabe, tudo que você tem que fazer é entrar lá e dar tudo de si... Independente de qualquer coisa você é o meu campeão favorito – ele abre um sorriso e Lucca também, com a mão desocupada ele bagunça o cabelo dele e beija sua testa, Lucca sorri aliviado e depois olha pra mim.
— Eu não me importo que nome vai subir naquele telão, eu já tenho orgulho do que conseguimos até aqui – ele sorri e nós apertamos as mãos e damos um grito quando levantamos, ele respira fundo e somos levados até o tatame de volta, quando ele coloca o primeiro pé pra fora e todos gritam, ele para e olha pra trás, pra mim e pro Ryan.
— Mas só pra ficar registrado, o nome que vai subir é o meu – ele garante, então sorri daquele jeito de sempre e corre com as mãos pra cima pedindo mais barulho e então eu posso jurar que sentir o lugar tremer, Ryan sorri orgulhoso.
— Ninguém pode negar que ele é seu filho – ele fala rindo enquanto se posiciona e eu sorrio orgulhoso, olho na direção da Keyse e ela me manda um beijo no ar, depois grita “MEU CAMPEÃO” tão alto que eu acho que todos escutaram, eu acabo rindo, mas quando Trenton aparece eu me mantenho 100% concentrado na luta, assim que começa ele avança no Lucca, agarra suas pernas e o joga no chão, o som do corpo dele no tatame ecoa mil vezes mais alto na minha cabeça e eu prendo a respiração, eu queria gritar, mandar Lucca reagir, mas me sinto paralisado e é Ryan quem grita os comandos, Lucca não fica no chão por muito tempo, logo se levanta e recua um passo tomando fôlego, os dois trocam golpes fortes, certeiros e cheios de técnicas, ele consegue derrubar Lucca mais uma vez e inicia uma chave de braço, mas ele escapa e o primeiro round acaba, Lucca está cansado, mas firme.
— Eu quero essa defesa a todo vapor, tá me ouvindo? Essas pernas abertas é o quê? Tá assado? – Ryan reclama, enquanto esfrega a toalha na cara dele limpando o suor, ele concorda, mas não olha pro Ryan, olha pra mim e eu sei que ele espera que eu fale, então me recomponho.
— Ele tá entrando pela esquerda, suas duas quedas foram por isso, eu quero você trocando o peso do corpo antes de avançar, e seu tio tá certo, a menos que você esteja assado fecha a porra dessas pernas – ele assente mas libera um sorriso e eu também.
— Bora! – Ryan o coloca de pé e ele volta pro tatame.
A luta recomeça e ele derruba Trenton uma vez, mas passa longe de uma finalização, logo eles estão de pé de novo e trocando golpes fortes, até que Trenton cai com tudo em cima do Lucca, ele inicia uma chave de braço, mas Lucca escapa e ele já estava se levantando do chão quando ele acerta exatamente na articulação dele por pelo menos 3 vezes seguidas, o grito do Lucca soa mais alto que os gritos da multidão e eu tenho certeza disso quando todos se calam, Trenton não para, ele pega impulso se joga com o cotovelo no ombro do Lucca, o grito é ainda mais alto e ele se contorce no chão.
— QUE PORRA É ESSA?! – não me contenho e subo no tatame, ignorando qualquer regra, eu vou até o Lucca antes mesmo que o arbitro nos alcance, ele está se contorcendo e gemendo de dor, as lagrimas descem e o silêncio da torcida continua.
— Isso é ilegal! Que porra foi essa? – dessa vez Ryan nos alcança, mais dois homens sobem no tatame e o júri se agita, mas minha atenção está no Lucca.
— Ele precisa ir pro hospital – um dos caras do socorro falam depois que tentam encostar no ombro dele e ele estremece.
— NÃO! – Lucca logo nega – Não, eu consigo – ele tenta ficar sentado, mas solta um grito quando tenta mover o braço, eu o seguro.
— Não tem mais luta!
— Eu consigo, eu juro que consigo...
— NÃO! – eu falo firme, ele para a cara de dor e me encara.
— É a MINHA luta, você não pode decidir – ele respira fundo e se senta, tentando não fazer tanta careta, o cara do socorro me ajuda e nós o levantamos.
— Ele deveria ir pro hospital – ele me avisa e Lucca puxa o corpo pra longe dele.
— Eu vou lutar!
— É uma pena, por que não tem mais luta – Ryan avisa e nós olhamos pra ele, enquanto ele aponta pro lado onde Trenton, o treinador, o arbitro e mais dois jurados estão reunidos, o treinador fala meio exagerado com gestos e um jeito meio intimidador – Ele deve ser suspenso e a luta encerra – Ryan dá de ombros.
— Não, eu quero lutar com ele – Lucca fala e já sai na direção deles.
— Lucca, para! Você vai pro hospital – eu o seguro pelo ombro que está bom, mas ele logo se esquiva.
— Eu não vou pro hospital agora, pai!
— Eu tô falando como seu treinador – ele me encara, então respira fundo e fica mais sério.
— Como meu treinador você só pode me dar sua opinião, eu agradeço, mas é a minha luta, não sua – ele vira as costas e vai até eles, Ryan corre atrás dele.
— O ombro dele tá deslocado, o corpo dele pode estar quente agora, mas a dor já deve ser quase insuportável, o melhor seria o hospital – o cara do bombeiro avisa e eu sei que ele tem razão.
— Pyter! – a voz me faz virar rápido demais, não sei como, mas Keyse ultrapassou a barreira da arquibancada e me alcança – Como ele tá? – eu balanço a cabeça tentando me concentrar.
— Ele tem que ir pro hospital
— Mas ele não vai, você sabe disso e eu também – ela olha nos meus olhos.
— Eu sei.
— Então vai lá – ela aponta com a cabeça – Você é o treinador dele, anda – ela aponta de novo, eu concordo e vou, chego no meio da discussão.
— Isso não é um banho de sangue...
— Isso não é ganhar! Eu posso lutar, eu tô dizendo que posso, eu posso – Lucca fala firme e irritado.
— Eu sinto muito, mas não podemos encorajar esse tipo de comportamento, Trenton já foi advertido, não vamos tolerar esse tipo de coisa...
— E que castigo seria melhor do que ganhar do garoto que só vai usar um braço pra vencer ele? – Lucca fala com um sorriso divertido, Trenton ri.
— Você acha mesmo que me ganha assim? – Lucca levanta o outro ombro.
— Eu tenho certeza – ele sorri e olha pro jurado.
— Deixem ele lutar, não é isso que ele quer? Então – o cara fala me olhando e é ele, Cláudio Prado, sinto meu punhos cerrando, mas me controlo – Eu digo que deixem ele lutar, Trenton estava empolgado, passou um pouco dos limites, mas eu não vi ninguém batendo no tatame, então a luta pode continuar...
— A responsabilidade é sua! – um cara de terno que é um dos jurados aponta pra ele – Isso não quer dizer que você não será devidamente punido, isso não é um banho de sangue – ele aponta pro Trenton e ele concorda, então balança a cabeça de um jeito contrariado e se afasta.
— A luta recomeça em 3 minutos – Cláudio avisa me olhando com um sorrisinho animado que eu suspeito muito que seja de satisfação por achar que Lucca não vai conseguir – Eu sugiro que vocês comecem a pensar em um milagre – ele se vira e sai, Trenton e o treinador também.
— Você não tem que fazer isso – Ryan fala olhando pro Lucca que segura um som de dor enquanto tenta mover o braço, mas logo para e o encara.
— Eu tô treinando o ano inteiro, tio, o ano inteiro pra isso, eu sei que eu posso ganhar dele, isso... – ele olha pro ombro – Isso não é justo.
— Mas não foi culpa sua, ele deve mesmo ser punido e você ganha...
— Não assim! Eu não quero ganhar assim, não foi pra isso que eu treinei, droga, tio, você sabe, eu deixei de fazer um monte de coisa, isso... Eu não quero ganhar assim – ele segura as lagrimas que eu sei que não são apenas da dor física dele, mas da situação, eu também já tive um campeonato nas mãos e o vi escorrendo delas, a situação foi completamente diferente da dele, mas ainda assim eu entendo o sentimento de revolta que isso causa, assim como eu na época, Lucca abriu mão de vários momentos, seja de horas na piscina com os amigos ou festinhas ou até mesmo passeios no lago, ele se dedicou o ano inteiro e eu entendo o por que ele não pode entregar a luta, por isso quando ele me olha eu sei que não posso negar isso a ele – Por favor, pai, acredita em mim...
— Eu acredito mais em você do que em mim – eu sorrio e coloco a mão na cabeça dele – Nós vamos lutar! – ele abre um sorriso encorajado.
— Obrigado! – eu concordo.
— Se ele vai lutar mesmo, eu preciso colocar o ombro dele no lugar – o cara do socorro avisa e Lucca perde o sorriso, ele fica sério, puxa o ar e concorda.
— Ele precisa de algo pra dor, pelo menos pros próximos 10 minutos – eu peço sabendo exatamente a dor que ele está suportando, já passei por isso uma vez quando estava treinando e meu ombro deslocou, eu juro que mal consegui levantar do chão, já o Lucca está em pé na minha frente disposto a continuar a luta, eu realmente não consigo sentir mais orgulho do que já estou.
— Cinco! Ele consegue terminar essa luta em cinco – Ryan fala e Lucca abre um sorriso grande.
— Façam o seu pior – ele fala e vira o braço pro cara.
— Isso vai doer! – o homem avisa mas ele só fecha os olhos, o homem apalpa a região com os dedos, depois segura o braço dele, com a outra mão no ombro, manda ele respirar fundo e contar ate 3, mas no 2 ele faz o movimento rápido que arranca um grito de dor, Lucca tampa a boca com a mão livre e eu tenho certeza que fica xingando baixinho, só depois de alguns segundos que ele libera a boca e solta o ar.
— Quase uma picada de mosquito – ele fala o que Keyse sempre dizia quando eles tinham que tomar alguma injeção, eu sorrio, seguro a nuca dele e paro nossos rostos frente a frente.
— Você oficialmente é o moleque mais foda que eu conheço – ele sorri orgulhoso.
— Tomara que a mamãe não ouça você falando palavrão
— Acho que ela ia me liberar dessa vez – ele abre ainda mais o sorriso.
— Eu quero aquele trófeu!
— Então vai buscar – ele concorda e olha pro Ryan.
— Eu só preciso de 5 minutos...
— Esse é meu garoto – Ryan bagunça o cabelo dele.
— Isso deve fazer ele aguentar até o fim da luta – o socorrista estende uma seringa com um liquido meio amarelado, esfrega um algodão no bíceps dele e faz uma careta – Só arde pra caralho – ele não dá tempo de pensar, apenas injeta.
— Puta que pariu – dessa vez o palavrão sai em alto e bom som, enquanto ele cerra os punhos e se estremece.
— Eu avisei – o cara se desculpa e me olha – Isso segura por meia hora, depois disso ele não vai aguentar abrir ou fechar a mão.
— Ele só preciso de 5 minutos – eu falo e ele concorda e se afasta.
— Prontos? – o arbitro se aproxima de nós.
— Prontos – Lucca é quem concorda, eu o olho e ele sorri me acalmando – Eu já entendi a luta dele – ele avisa e então sorri tocando o ombro – Isso funciona mesmo – ele move um pouco o ombro e não faz mais aquela careta de dor.
— Por enquanto... Lembre-se 5 minutos – Ryan avisa e ele concorda, então anunciam que a luta será retomada, nós nos posicionamos fora do tatame e Lucca sobe sendo ainda mais aplaudido, mas dessa vez ele não agradece e nem sorri, seus olhos estão fixos no Trenton e eu nunca o vi tão concentrado antes, por isso quando o gongo soa, ele desvia de forma impressionante do golpe que ia receber nas pernas, ele consegue acertar Trenton e desvia novamente, então Trenton tenta acertar o braço dele machucado, mas Lucca é mais rápido e o faz cair no chão, novamente ele é mais rápido que Trenton e consegue prender a cabeça dele com as pernas, enquanto estica o seu braço, Trenton tenta se soltar, mas eu posso ver Lucca dando tudo de si, então 10 segundos depois ele bate no tatame e o ginásio explode em gritos e barulho, novamente eu não espero pelo arbitro e subo no tatame junto com Ryan, nós levantamos Lucca nos ombros e ele está rindo e gritando, por mais que a voz no microfone tente ser ouvida, é impossível, os gritos são mais altos e eu nunca vi Lucca tão feliz antes, o trófeu é trazido e nós colocamos ele no chão que ergue o mais alto que consegue, os flashes quase nos cegam, mas não nos importamos, até que eu olho pro cara do socorro e ele já está fazendo sinal pra mim, então me lembro e vou até o Lucca.
— Nós temos que ir
— Qual é, pai, eu ganhei...
— E tá com o ombro deslocado ainda, o efeito do remédio vai passar – ele faz uma careta, mas não reclama.
— MEU CAMPEÃOOOOOO – Keyse invade a área que era proibida e o agarra, segurando e beijando seu rosto, ele ri e Iris também está todo animada no colo do Theo.
— A ambulância está esperando –o cara avisa.
— A gente se encontra lá no hospital, eu preciso resolver uma coisa antes e já vou pra lá – aviso enquanto Keyse acompanha Lucca junto com o pessoal da ambulância – Vai pro hospital, por favor, vê como ele tá, eu já vou – Ryan me dá um aperto no ombro concordando e vai atrás deles, eu olho em volta e ignoro as câmeras e jornalistas que me chamam, encontro-o dando uma entrevista, não tento ser gentil, nem educado e não me importo se estamos ao vivo, eu passo por ele e o seguro pelo braço trazendo junto comigo até um espaço mais reservado.
— O que significa isso? – ele puxa pra fora do meu aperto e ajeita o terno me olhando feio.
— Presta atenção por que eu só vou avisar uma vez... – eu encosto o dedo no peito dele e o encaro nos olhos – Você pode me odiar, pode tentar me ferrar, pode fazer o que você quiser comigo, mas nunca mais tenta fazer nada que prejudique o meu filho, você entendeu? – ele empurra meu dedo do seu peito.
— Eu não faço ideia do que você esta falando, ele quis lutar...
— Você poderia ter acabado com aquilo... Aquele golpe, você sabe tanto quanto eu que era motivo de expulsão – ele dá uma risada fraca.
— Bom, me parece que seu filho é mais forte e corajoso do que você
— Disso eu não tenho dúvida – eu afirmo sentindo um orgulho mesmo que esteja pensando no que poderia ter dado errado – Mas você não o liberou por que achou que ele fosse conseguir...
— Acho que você tem um péssimo pensamento sobre mim
— Acho que você fez por merecer cada pensamento
— Escuta, você está certo, eu não suporto você, nem esse seu jeito arrogante – ele me olha com desprezo – Mas aquele garoto é melhor do que você era... Eu não liberei a luta por que achei que ele fosse perder, mas também não foi apenas por que eu o acho incrível, digamos que... Como um homem de negócios eu vi a oportunidade...
— Que oportunidade?
— Pyter, Pyter, Pyter... Você consegue ser um dos melhores e ainda assim ter uma mente tão pequena... Isso é um negócio! Simples assim. Não é só entrar naquele tatame e vencer, você começa a vencer fora dele e continua vencendo após... Esse foi o seu maior erro, não perceber isso e recusar tantas propostas boas...
— Você tentou me comprar, isso é uma proposta boa pra você?
— Bom, eu confesso que nosso primeiro encontro foi... Complicado
— E o segundo também – ele dá uma pequena risada.
— Não foi uma boa ideia tentar pegar o Ryan também... Bom, eu errei nessas duas vezes, eu assumo – ele leva a mão até o coração – Mas acho que um homem pode se redimir, certo? – eu não respondo – Lucca tem futuro! Um futuro muito maior do que você teve, do que o Ryan ou do que qualquer outro atleta que esteja aqui hoje...
— Você não vai comprar meu filho!
— Ah, eu sei que não... Persistir no erro é burrice, já entendi esse ponto... O que eu quero aqui é o mesmo que você...
— Eu duvido muito
— Olha, Lucca venceu! Comemora com ele, veja os olhos dele brilhando quando segurar aquele troféu de novo e então depois nós nos falamos...
— Eu não tenho nada pra falar com você, só... Não mexe com meu filho – ele levanta as mãos em inocência e eu me afasto, quando tento sair sou sugado por várias pessoas, fotos, perguntas, câmeras, tenho que ignorar tudo isso pra conseguir chegar até meu carro e mesmo assim quase 20 minutos depois que consigo chegar no hospital, vou direto pra sala de espera, está cheia como sempre acontece quando um de nós para aqui, mas também está bem animada e falante, mal chego perto da Keyse e Lucca aparece ao lado do médico, ele está imobilizado, deixando apenas o braço direito livre, mas todo seu braço esquerdo, ombro e peitoral estão enfaixados, mesmo assim ele está com um sorriso no rosto e levanta o braço livre comemorando, todo mundo aplaude e ri, o médico acaba sorrindo também, mas nós fazemos silêncio enquanto ele explica os cuidados e que deve ficar assim por 15 dias, depois voltar para avaliação, nós agradecemos e então ele nos libera.
— Ainda vai ter festa né? – ele pergunta e todo mundo ri.
— Meu sobrinho acabou de ganhar o Campeonato Nacional com um ombro fudido, é claro que tem festa – Pietro fala e mamãe dá um tapa nele.
— Estamos num hospital e tem crianças perto – ela fala, mas deixa um sorriso escapar.
— Anda, nós temos que comemorar – Theo fala abraçando o irmão.
Então nós saímos do Hospital e vamos direto para a festa que está tendo no salão principal do Distrito, assim que descemos do carro, os fotógrafos e jornalistas cercam o Lucca, ele está rindo todo animado e pede calma.
— Eu vou falar com todo mundo – ele garante quando as perguntas começam a ser feitas, Keyse sorri e me olha daquele jeito orgulhoso enquanto vemos ele respondendo sobre como ele está, a luta, o que ele pensou na hora, se pensou em não lutar e mais umas dezenas de perguntas e eu sei que ele passaria o dia fazendo isso, mas sou obrigado a interromper.
— Achei que você quisesse participar da festa – ele concorda com um sorriso.
— Foi mal, pessoal, mas agora eu tenho que entrar, sabe como é né? Eu sou o novo Campeão Nacional, tenho algumas mãos pra apertar – as risadas são realmente divertidas e eles o liberam, nós entramos na festa de recepção e aqui dentro são bem menos fotógrafos, mesmo assim ele ainda faz poses segurando o troféu e com o casaco do Campeonato pendurado em seus ombros, depois mais algumas comigo e com Ryan e outras com os dois vencedores, só então ele pode curtir a festa.
— Ah eu também quero uma foto, você não vai virar um esnobe metido, vai? – Bella pergunta implicando com ele.
— Só não encosta – ele faz uma cara de metido e ela acerta um tapa na cabeça dele, mas logo se junta segurando o celular a frente do rosto.
— EI! Eu quero pacote completo – ela fala puxando Theo, ele sorri e se junta a eles.
Nós conseguimos aproveitar a festa, várias pessoas vem nos cumprimentar, tem música, comida e várias propostas interessantes para o projeto, eu já estou bastante empolgado até que vejo Lucca numa conversa que parece bem animada com o Cláudio, eu deixo Pietro falando sozinho e vou até eles, assim que me aproximo Lucca se vira pra mim.
— Você tem que escutar isso – ele fala e eu já me preparo pra alguma proposta idiota – Ele disse que estão montando um grupo pra representam o país todo e eu posso ser um deles...
— Uau, isso parece muito bom – tento não parecer estar a ponto de socar o Cláudio, mas ele percebe e logo se apressa a explicar.
— Nós temos um comitê olímpico, estamos montando uma equipe apenas com os melhores e depois de hoje acho que fica claro que não podemos deixar o Lucca de fora...
— Isso é muito maneiro!
— Eu não acho que esteja na hora de pensar nisso, você não pode voltar a treinar nem tão cedo e sem falar que tem a escola...
— Ah mas isso não será um problema, na verdade podemos facilmente resolver isso
— E como você faria isso? Levando ele pra Capital do mesmo jeito que tentou fazer comigo ou com Ryan? Botar ele numa espécie de clube da luta, o que é? – Lucca se vira pra mim rapidamente.
— Eu não quero me mudar – sorrio um pouco aliviado, ainda assim volto a encarar o Cláudio.
— Eu entendo seus motivos pra pensar isso, mas não, na verdade nós estamos com ótimos recursos, eu posso garantir o melhor tratamento pra ele, com os melhores médicos, fisioterapia e preparador físico, além dele receber por todo trabalho duro que vai ter pela frente, não vai ser moleza – ele brinca com Lucca.
— Eu ia ganhar, tipo, um salário?
— Ah é, e com bastante números... – Lucca ri e me olha.
— Qual é o joguinho dessa vez? – eu pergunto e ele nega.
— Nenhum! Eu reconheço um talento quando vejo, e não estou disposto a perder a chance de fazer certo pela terceira vez...
— Ele não vai sair daqui – ele concorda.
— Eu já esperava por isso – ele olha pro Lucca – O que você acha de ganhar o mundo, sem sair do Distrito Doze? – Lucca abre um sorriso.
— Eu só tenho que tirar meu gesso...
— Vamos com calma – eu aviso e Cláudio concorda.
— Uma reunião amanhã, as 18 horas, você sabe onde estou... – ele estica a mão pra mim.
— Eu posso ir? – Lucca parece ansioso.
— Amanhã – eu aperto a mão do Cláudio e ele se afasta sorrindo.
— A gente tem que aceitar... Já imaginou? Eu na equipe nacional? – ele ri todo orgulhoso e eu forço um sorriso tentando não mostrar meu desprezo pela ideia.
— Agora vamos, por que eu tenho certeza que sua mãe preparou algo em casa também – ele sorri.
— Talvez eu até dê o meu primeiro salário pra ela - ele fala já sonhando alto.
— Menos, menos, quase nada - eu o puxo junto comigo até a Keyse que está ajeitando os cachos do cabelo da Iris que estão escapando da presilha de borboleta que ela mesma escolheu - Vamos? Acho que a festa aqui já deu...
— Finalmente - Keyse se anima e logo se levanta, eu me abaixo e pego Iris no colo.
— Eu já disse o quanto você tá linda hoje? - ela abre um sorriso quando eu pergunto.
— Viu minha borboleta? - ela mostra o cabelo.
— Eu vi e ela é QUASE tão bonita quanto você - ela segura meu rosto e dá um beijo na ponta do meu nariz, do mesmo jeito que eu faço com ela antes de dormir, então ela vai até o meu ouvido.
— Tem festa em casa também - eu sorrio e a aperto nos meus braços.
— Então vamos correndo - ela ri e nós saímos da festa, demoramos quase 20minutos pra conseguirmos entrar no carro, mas logo chegamos a Vila.
Keyse desce correndo e vai na frente, ela abre a porta e quando Lucca entra eu ouço a gritaria, vou logo atrás e a casa está cheia de balões, faixas e com a mesa coberta de doces, bolos, sanduíches e tudo que ele gosta, papai acaba de tirar uma fornada de pão de queijo e mamãe e Lucca quase devoram o tabuleiro.
A festa dura o resto do dia inteiro e só quando anoitece que eles se vão, mamãe e Perola nos ajudam a terminar de limpar as coisas e quando terminam vão embora, os meninos estão no quarto deles junto com a Íris jogando vídeo game.
— Hora do banho - escuto Keyse anunciar e também escuto eles reclamando - Anda, vem Iris...
— Mas, mãe... - chego na porta do quarto deles e ela está fazendo aquela cara triste, mas Keyse não se abala e pega o controle do vídeo game.
— Vamos! A banheira tá cheia - ela abre um sorriso.
— Com espuma?
— MUITA espuma! - ela se levanta quase pulando e Keyse dá a mão pra ela e eu dou a passagem pra elas.
— Lucca! - aponto o banheiro.
— Eu nem posso me molhar - ele mostra o gesso.
— Aí você vai ficar duas semanas sem banho?
— Tenho perfume...
— Eu não vou nem te responder... BANHO, agora - ele revira os olhos e se levanta - Depois é você Theo - ele levanta o dedo fazendo sinal de positivo.
— Amanhã a gente pode ir pro lago? - Lucca pergunta parando na porta do banheiro, eu sorrio.
— Saímos as 8 - eles comemoram e eu saio.
Vou pro quarto e escuto Keyse e Iris cantarolando no banheiro, vou até lá e paro na porta olhando as duas e é uma das cenas que eu mais gosto nessa nova fase, já estamos com Iris a um mês e parece que ela sempre esteve aqui e ao mesmo tempo sempre parece o primeiro dia, eu amo toda alegria que ela tem e todo sentimento bom que ela despertou na nossa família, eu realmente não consigo ser mais grato a vida do que eu sou.
— Eu posso ver desenho depois? - ela pede pra Keyse.
— Já está tarde - ela faz beicinho, Keyse ri - Não adianta fazer essa cara, tá tarde mesmo...
— E amanhã nós vamos no lago - ela me olha com um sorriso animado.
— Vamos é? - Keyse pergunta tentando parecer discordar, mas acaba sorrindo.
— O Lucca pediu...
— Bom, então amanhã vamos no lago e a senhorita vai pra cama quando sair do banho - dessa vez Iris não reclama.
— Eu vou arrumar sua cama - aviso e saio, passo pelo quarto dos meninos e Lucca tá no celular e Theo deve estar no banheiro, então vou pro quarto da Iris, tiro os ursos e todas as bonecas que Keyse já encheu ela de cima da cama e coloco nas estantes que tem na lateral do quarto, tiro a colcha de flores e arrumo os travesseiros e o cobertor dela, tiro alguns brinquedos que estavam espalhados no chão e paro na frente do quadro de fotos, um sorriso bobo aparece quando vejo algumas das nossas fotos que em apenas um mês já enchem o quadro, em todas ela está rindo e eu tenho quase certeza que o sorriso dela é a coisa mais linda do mundo, ela passa correndo pela porta do quarto e se joga na cama, eu acabo rindo e vou até lá.
— Tá animada é? - faço cócegas na barriga dela e ela gargalha se contorcendo toda.
— O Lucca ganhou!
— É, agora seu irmão é o Campeão - ela sorri com o mesmo orgulho que eu tenho.
— Mas agora você precisa dormir - Keyse avisa enquanto se aproxima da cama - Amanhã a gente acorda cedo – ela puxa o cobertor dela até seus ombros, passa os dedos pelos cabelos cheios de cachos e beija a testa e depois cada uma das bochechas, assim que ela se afasta Iris faz sinal com a mão me chamando, eu sorrio e vou até ela, beijo sua testa e a ponta do seu nariz, ela sempre ri e eu sempre me derreto, nós deixamos o abajur aceso como ela sempre pede e depois saímos do quarto.
Quando entramos no nosso quarto eu me jogo na cama.
— Você tá com uma cara estranha, o que houve? – ela pergunta me observando.
— Lembra do Cláudio Prado?
— Aquele babaca da lua de mel e que tentou levar o Ryan pro lado dele?
— Esse mesmo. Tenho uma reunião amanhã com ele... E o Lucca – isso sim chama a atenção dela e ela me encara.
— Como assim, o Lucca?
— Ele foi até ele e jogou todo aquele papo que ele pode ter o mundo inteiro e tal... E bom, você conhece o Lucca...
— Eu não quero ele perto do nosso filho
— Nem eu...
— Mas? – ela levanta a sobrancelha me encarando.
— Mas o Lucca quer ir ouvir a proposta e eu não posso simplesmente impedir ele...
— Pode, é isso que os pais fazem, eles proíbem. Se não for pra isso nem existiríamos – eu acabo sorrindo e puxo ela pra junto de mim na cama.
— Nós temos que deixar ele fazer parte das escolhas da vida dele também...
— Ele tem 15 anos, a escolha dele é sair em todas as capas de jornal ou revistas
— Eu confio nele, você não? – ela levanta o rosto e me olha, dessa vez só parece preocupada.
— Que proposta é essa que ele sugeriu?
— Não sei dos detalhes, mas eles estão montando uma equipe nacional e ele quer o Lucca, disse que consegue a melhor equipe médica, fisioterapia e até preparador físico, tudo aqui no 12 e ele ganharia um salário... – ela solta o ar e encosta a cabeça no meu peito.
— Que horas é a reunião?
— As 18!
— Ok! Vamos a reunião – eu aperto ela nos meus braços e beijo sua cabeça – Mas agora eu realmente preciso de um banho e dormir – concordo com ela e ela se levanta indo pro banheiro.

Quando acordo ela ainda está dormindo, saio da cama e vou pro banheiro, depois arrumo a mochila com frutas, salgados que sobraram de ontem, sanduiches e faço duas garrafas de suco de laranja, além de separar mais duas com leite e com café.
Subo as escadas e quando entro no nosso quarto ela já está vestida e com um sorriso animado no rosto.
— O dia tá lindo – ela vem até a mim e me dá um beijo rápido – Vou acordar  a Iris, você acorda os meninos – ela passa por mim quase saltitando, eu sorrio e vou pro quarto ao lado, enquanto ela vai para o de frente, abro a porta e os dois já estão acordados e rindo de alguma coisa.
— Já estão prontos?
— Sempre estamos prontos – Theo fala pegando a mochila dele de cima da cama.
— Nós nascemos prontos – Lucca completa e entrega a mochila dele pro Theo que faz uma careta, mas pega.
— Mas eu não sou seu empregado...
— Claro que não, é o melhor irmão do muno – Lucca passa o braço bom pelos ombros dele e Theo tenta parecer reprovar, mas sorri.
— Só falta a Iris e saímos – eu aviso e eles descem as escadas, vou até o quarto a frente e Iris está tagarelando sem parar enquanto Keyse amarra o laço do biquíni dela.
— A gente vai pro LAAAAAAAGO – ela levanta os braços quando me vê e eu acabo rindo.
— VAMOOOOOOOS – ela e Keys riem, Keyse coloca um vestido azul por cima dela e joga algumas coisas que pode precisar dentro da mochila roxa e cheia de brilho, Iris bota nas costas e descemos as escadas, quando chego na cozinha Lucca e Theo estão devorando o queijo – Eu tô levando café da manhã...
— Mas a gente tá com fome agora – Theo explica já pegando um pedaço generoso de queijo e dando pra Iris que enfia quase tudo na boca fazendo os dois rirem.
Nós logo saímos de casa, Boldo também vai e é o primeiro a entrar no carro, passo na Pérola pra chamar Louise, pra evitar qualquer ciúmes, mas ela não dormiu em casa, então nós logo seguimos pro lago, Iris faz os meninos cantarem a música da mariposa e eles fazem até coreografia e ela gargalha no banco de trás enquanto eu e Keyse sorrimos como dois idiotas.
Descemos no carro de frente pra cerca, cada um pega sua mochila e seguimos a trilha com Boldo correndo a frente e voltando quando se afasta demais, quando chegamos ao lago é como se todos nós estivéssemos no melhor lugar do mundo, Boldo vai pra atividade preferida dele que é caçar os patos e os pássaros, os meninos já largam a mochila no chão e correm para o lugar do arco e Iris tira o vestido já querendo entrar na agua.
— Vamos tomar café primeiro – eu aviso enquanto tiro as coisas da mochila.
— Eu tomo depois...
— Toma agora, Iris, depois você vai pro lago – eu falo mais sério, então ela vem até a mim e como estou abaixado ela segura meu rosto com as duas mãos.
— Oh papaizinho, por favor, deixa, por favorzinho... – ela usa aqueles olhos castanhos brilhantes e quase faz um beicinho.
— Tá, mas toma pelo menos um copo de leite – ela sorri, e beija meu nariz, Keyse enche um copo de leite e ela engole em menos de 10 segundos e já corre pra agua.
— Inacreditável como ela já sabe como te dobrar – Keyse fala, mas está sorrindo.
— Puxou a mãe... – eu falo e ela se inclina e me beija.
— Eu te amo – ela fala com um sorriso bobo.
— E eu amo você – nós nos beijamos mais demorado dessa vez e depois voltamos a arrumar o café da manhã sobre a toalha quadriculada, quando terminamos chamamos por eles, Lucca e Theo chegam primeiro depois Iris que vem sacudindo os cachos, dessa vez ela não reclama, se senta e tomamos café juntos, quando acaba Theo vai com ela pro lago mergulhas enquanto Lucca fica pela beirada com Boldo, já que ele não pode entrar por causa do gesso e eu e Keyse ficamos encostados na arvore olhando eles e mais uma vez agradecendo por nossa família estar completa.
— Eu aposto meu pedaço de bolo de chocolate que subo naquela arvore mais rápido que você – Theo desafia Iris que ri e nega.
— Eu que vou ganhar...
— Ah não sei não, você é pequena mas depois da tia Louise eu sou o mais rápido escalando arvores da família toda... – ela ri.
— Mas eu vou ganhar, era nessa arvore que eu subia pra dormir – a revelação tira qualquer sorriso do rosto do Theo, aliás, de todos nós, ele me olha e posso ver ele cerrando os punhos, isso sempre acontece quando aos poucos Iris fala sobre como era a vida dela antes e mesmo que um lado meu queira que ela esqueça disso e nunca mais fale, a psicóloga que a levamos disse que é importante pra ela falar, por que assim ela não guarda sentimentos ruins, então por mais que qualquer um de nós odeie lembrar do quanto ela já sofreu, ninguém a impede de falar.
— Bom, então acho que é pra você que eu vou pedir um pedaço do bolo – Lucca fala conseguindo devolver o mesmo clima de antes, Iris ri e Theo faz uma careta, então os dois se posicionam de cada lado da arvore e é Lucca que grita valendo, assim como ela disse Iris ganha, embora um lado meu tenha quase certeza que Theo deu vantagem pra ela, mesmo assim ela desce comemorando e correndo até a toalha pra abrir o pote e comer o bolo que ela ganhou.
Passamos o dia no lago e antes da tarde cair voltamos pra casa, Iris e Theo ficam com meus pais e eu, Keyse e Lucca vamos a tal reunião. Cláudio nos esperava com um sorriso meio animado demais e eu tive que manter muita compostura pra não dar as costas, mas Lucca estava tão animado que entramos no restaurante do hotel e fomos até a mesa que ele reservou e então sem muita enrolação ele mostrou os papéis e esclareceu a proposta.
Lucca fará parte da equipe Nacional, a elite da academia de luta, ele lutará em nome não apenas do 12 mas de toda Panem, por isso ganhará o melhor acompanhamento médico e um preparador físico, eles já estão com projeto de montar uma academia para treinos de musculação com aparelhos mais sofisticados e tudo isso sem precisar sair do 12, pelo menos nos treinos, já que as lutas podem ser em qualquer um dos Distritos, inclusive na Capital, porém respeitando o cronograma escolar dele, além disso, ele terá algumas obrigações com o grupo, como entrevistas, fazer alguns comerciais pra alavancar o nome do grupo como um topo e óbvio render aumento no dinheiro que Cláudio irá receber, mas em contra partida, Lucca receberá um salário e tenho que admitir que é um ótimo salário, quase tanto quanto ele chegou oferecer pro Ryan naquela época, mesmo assim Keyse me olha meio desconfiada e eu a entendo, a proposta é realmente maravilhosa, se fosse de qualquer outra pessoa eu aceitaria sem nem pensar duas vezes, o problema é que não é qualquer pessoa, é desse cara, que já tentou me tirar o Ryan e que agora aparece oferecendo o mundo pro meu filho.
— Meu pai ainda ia ser meu treinador né? – Lucca pergunta.
— Sim, mas você terá uma equi...
— Não! É o seguinte, eu adorei tudo isso aí, principalmente a parte das entrevistas e do salário, mas eu não quero mais ninguém me treinando, nem preparador físico...
— Você estará em um nível mais avançado agora, sua preparação deve ser no mesmo patamar que seus adversários...
— Bom, eu sou o Campeão Nacional, o preferido não só do 12 mas de fora dele também, eu acabei de receber uma proposta quase milionária sua, então quer dizer que eu tô mandando bem, certo? – eu libero um sorriso orgulhoso e vejo Keyse também sorrindo.
— Certo, eu só...
— Bom, eu aceito, com essa condição... Eu não preciso de mais ninguém além do meu pai e do tio Ryan, então ou você contrata eles pra equipe ou pode esquecer e eu tô fora – Cláudio dá uma pequena risada, balançando a cabeça meio pensativo.
— É, ninguém pode negar que ele é seu filho – ele me olha e eu sorrio.
— É, parece que não!
— E aí? – Lucca o apressa, ele respira fundo.
— Bom, eu só preciso preparar o contrato deles – Lucca sorri orgulhoso e estica a mão pra ele.
— Então, então eu tô dentro – eles apertam as mãos e Cláudio me olha.
— Mas como você ainda é menor de idade, seus pais são seus responsáveis – ele nos olha, eu olho pra Keyse e ela acena com a cabeça, então eu respiro fundo e mesmo que eu ainda não vá com a cara dele, sei que tenho que fazer o certo pro Lucca e negar essa proposta seria burrice.
— Quando os contratos estiverem prontos, meu advogado vai avaliar – ele sorri e estica a mão pra mim.
— Justo – eu aperto sua mão, mas logo me levanto.
— Nós vamos aguardar...
— Eu entro em contato logo – Keyse e Lucca também se levantam, eles apertam a mão deles e então saímos.
Só quando entramos no carro que Lucca fala.
— Mesmo com salário eu ainda ganho mesada né? – eu acabo rindo e Keyse também.
— Aí eu acho que você pode começar a nos dar uma mesada – ela brinca e ele faz uma careta.
— Eu te compro um presente maneiro...
— Sem querer ser o estragar prazer, mas que tal ir com calma?
— Seu pai tá certo, vamos esperar pra ver o contrato...
— Mas eu preciso dizer que o que você fez lá dentro, por mim e pelo tio Ryan, foi... Demais!
— Você é meu pai, ele é meu tio... Nada é mais importante que a família, certo? – eu olho pelo retrovisor e ele dá de ombros – Ainda bem que vocês são bons se não eu tava ferrado – nós acabamos rindo.
Chegamos na Vila e vamos direto para casa dos meus pais, ouço a risada da Iris antes mesmo de abrir a porta, quando entro ela está na corcunda do Pietro enquanto ele faz zigue zague pela sala, Luíza e Theo estão tacando bolinhas de papel tentando acertar eles e mamãe e papai estão rindo parados na entrada da cozinha.
— Eu sou só pai de dois, não me responsabilizo – aviso me aproximando deles, eles riem enquanto Lucca vai até Luiza e Theo e pega bolinhas também.
— Eu adoro quando eles vem pra cá – papai fala com um sorriso feliz.
— Ela se adaptou tão rápido, é... Incrível – mamãe sorri olhando pra Iris e eu sinto meu peito explodindo de alegria mais uma vez.
— Eu tenho sorte – eu falo dando de ombros, ela sorri e beija minha bochecha.
— Não é sorte, você merece cada detalhe disso tudo – ela afirma e eu devolvo o beijo na sua testa, depois puxo ela pra mim num abraço que ela recebe sorrindo.
— Eu tô morrendo de fome – Keyse avisa se aproximando da gente com a mão na barriga, papai ri.
— Eu estou terminando de preparar um cozido
— Espero que isso seja um convite – ele ri.
— É uma ordem – ela sorri e beija a bochecha dele, depois apoia a cabeça no seu ombro.
— O melhor sogro do mundo – ele sorri todo bobo.
Nós almoçamos com eles, Luiza e Pietro também e como sempre a comida estava ótima, mas logo depois de ajudarmos na louça vamos pra casa, amanhã é segunda feira e é o primeiro dia de aula da Iris, ela já tem um mês aqui, porém como nunca tinha tido aulas e nem sabia nenhuma letra, achamos melhore preparar ela um pouco antes de jogá-la na escola e ela só provou o quanto é esperta, por que já reconhece todas as letras e consegue até formar algumas silabas, tudo isso em apenas 30 dias, ela está animada pra amanhã, quando saiu pra comprar o material semana passada ela nem queria tirar a mochila das costas e foi preciso muita conversa pra ela não ficar andando com o uniforme o dia inteiro, por isso quando avisamos que ela tem que dormir cedo pra ir pra escola no dia seguinte ela nem reclama, apenas se deita e fecha os olhos ainda sorrindo.
Eu acordo um pouco antes da Keyse, mas assim que saio do banheiro ela já não está na cama, quando chego no corredor vejo a porta do quarto da Iris aberto e escuto a voz delas, vou até o quarto dos meninos e abro a porta, Theo ainda está na cama dormindo e Lucca no banheiro, me aproximo da cama do Theo e o sacudo levemente.
— Tá na hora! – ele resmunga e puxa o lençol pro rosto – Você vai se atrasar – eu puxo o lençol e ele faz uma careta, mas abre os olhos – Eu vou levar a Iris de carro, se quiser carona esteja pronto em 20 minutos...
— Eu vou precisar de ajuda – Lucca avisa saindo do banheiro com a camisa enrolada no pescoço e no braço bom, eu acabo rindo e vou até ele tiro a camisa e depois de uma rápida avaliação percebemos que a camisa do uniforme não vai entrar com todo gesso que ele está – Eu posso ir sem – ele dá um sorrisinho.
— Você não vai sem camisa – ele faz uma careta, eu ando até o guarda roupa, pego um casaco dele e mostro.
— Tá calor...
— Você não vai pra escola sem camisa – ele faz outra careta, mas se vira e eu encaixo o braço ele bom, depois fecho o zíper do casaco – Pronto!
— Bom, eu ganhei o troféu, acho que chegar parecendo um espantalho vai manter as cosias equilibradas – eu acabo rindo.
— 20 MINUTOS – dou o ultimo aviso e saio do quarto deles, entro no da Iris e ela já está vestindo o uniforme.
— Eu vou pra escola! – ela fala toda animada quando me vê.
— Tomara que mantenha essa animação até os 18 – Keyse ri.
— Não seja pessimista – ela avisa terminando de ajeitar a calça da Iris, então quando está pronta ela sorri toda orgulhosa.
— Vamos? – Iris me olha ansiosa.
— Tomar café antes – ela dá um leve revirar de olhos, mas passa por mim correndo pra descer as escadas, Keyse me entrega a mochila e lancheira dela e eu desço enquanto ela vai se trocar, preparo um sanduiche com queijo pra Iris e o seu copo de leite, os meninos aparecem e também tomam café, então vinte minutos depois estamos todos no carro com uma Iris ainda mais animada que o normal, quando paro na frente da escola ela sorri colocando a mochila nos ombros.
— Se comporta – Keyse pede e se abaixa na frente dela, ela sorri e faz bico pra ganhar um beijo, Iris dá um selinho rápido nela e logo se vira pra mim eu também me abaixo.
— Faça muitos amigos – ela sorri empolgada e eu beijo a ponta do seu nariz, depois ela beija o meu.
— AI MEU DEUS me digam que vocês não fizeram esse drama todo na nossa vez, por favor – Lucca fala fazendo uma careta, eu me levanto e o puxo pra mim.
— Quer um beijinho também? – eu aproximo do seu nariz, ele ri e se esquiva.
— Sai, que nojo – ele dá uma corrida de alguns passos, mas para rindo – Vamos, Iris, não deixa eles queimarem seu filme – ele estica a mão e ela vai toda animada.
— A gente vai ficar de olho nela – Theo garante quando percebe nossas caras, eu faço sinal de positivo com o polegar e eles entram na escola com ela segurando a mão de cada um e saltitando.
— Uau, eu não lembrava que isso era tão difícil – Keyse fala já me abraçando, eu afundo meu rosto em seu cabelo concordando exatamente com ela.
Deixo ela na loja e vou pro galpão, quando chego Ryan já está lá, conto pra ele sobre a proposta e ele também acha que é uma boa e que devemos considerar e até incentivar o Lucca, já que continuaríamos como treinadores dele, além disso ele acha que deveríamos sim aceitar o preparador físico, já que nós dois ainda temos o projeto para lidar e Lucca realmente vai precisar de um preparo maior, eu falo sobre estar com o pé atrás com o Cláudio e ele entende, mas diz que é diferente e talvez ele esteja certo, mas de qualquer jeito só vou ficar um pouco mais tranquilo depois que estiver com o contrato e que o advogado avaliar, ele concorda com isso também e então nos concentramos no treino quando os alunos chegam.
Eu saio na hora de buscar eles no colégio por que faço questão de ver os olhinhos brilhantes da Iris, passo na loja e pego Keyse então vamos direto pra lá, paramos no portão de saída e em poucos minutos ela aparece, mas antes mesmo dela se aproximar eu sei que tem algo errado, os pulos e saltos animados que ela tinha mais cedo não existem e ela não levanta o rosto, apenas segue reto até nós.
— Oi – eu me abaixo assim que ela se aproxima.
— Oi – seus olhos vão pra qualquer coisa atrás de mim, menos pra mim, então seguro seu queixo.
— Tá tudo bem? – ela faz que sim com a cabeça.
— Então por que você tá com essa carinha? – Keyse se abaixa ao meu lado e Iris levanta os ombros sem dizer nada.
— O que aconteceu?
— Eu quero ir pra casa – ela pede e então olha pra Keyse, não pra mim.
— Então nós vamos pra casa – Keyse dá um sorriso e se levanta segurando a mão dela, os meninos aparecem e vem até nós rindo junto com a Bella.
— Vocês sabem se aconteceu alguma coisa com a Iris? – eles param de rir na hora e olham pro carro onde Keyse já está prendendo-a com o cinto.
— O que houve com ela? – Lucca parece realmente preocupado.
— Eu não sei, ela tá calada, quieta... Não sei...
— A gente viu ela no final do recreio dela indo pra sala e ela tava bem, tava rindo com umas garotas – Theo fala e Lucca e Bella concordam.
— Tá, eu falo com ela quando chegar em casa... Vamos? – eles concordam e vão pro carro, Bella vai até Nathy que acaba de parar o carro próximo ao nosso, dou um aceno pra ela, mas não paro pra conversar, entro no carro e vou direto pra casa, Iris passou o caminho quieta, os meninos ainda perguntaram sobre a aula, o que ela achou, se foi legal, e ela só dava de ombros ou dizia “legal” com a voz mais desanimada que eu já ouvi ela fazer, então assim que chegamos em casa, eu abro a porta do carro pra ela, novamente ela evita me olhar e pula pra fora do carro carregando a mochila e lancheira, Keyse me olha e sei que também está preocupada.
— Eu vou preparar seu banho, cheio de espuma – Keyse fala e ela apenas balança a cabeça e entra em casa – Acho que você vai ter mais sorte que eu...
— Avisa o Ryan que eu não volto a tarde – ela concorda e vai até o telefone – Bom, eu que vou preparar seu banho – eu falo o mais animado que consigo, ela sobe as escadas e vai pro quarto dela.
— Quer que a gente fala com ela? – Lucca se oferece, mas eu nego.
— Eu falo – ele concorda e vai pro quarto dele, eu vou pro nosso e vou direto pro banheiro, coloco a banheira pra encher e já encho com aqueles líquidos que ela e Keyse adoram, depois vou pro quarto dela, ela está deitada na cama, pegou um urso verde que ela ganhou da Louise e está encolhida na cama, a cena faz meu coração apertar, isso não combina com ela, ela é a alegria e bagunça da casa, e eu sei que alguma coisa aconteceu e uma parte minha já desconfia do que seja e isso só me deixa irritado, mas tento não demonstrar isso, vou até a cama e me sento na beirada atrás dela, meus dedos passam pelo seus cachos, a pele cor de chocolate combina perfeitamente com os fios escuros e o sorriso com dentes brilhantes que ela sempre exibe, porém não agora.
— Nós somos amigos, certo? – ela concorda com a cabeça, eu aproximo meu rosto do seu – Então conta pro papai, o que aconteceu?
— A banheira encheu – Keyse avisa da porta do quarto, eu me levanto da cama e pego ela no colo, ela libera um pequeno sorriso, mas nem de longe é o sorriso de sempre, eu a levo no colo até o banheiro, me ajoelho no chão perto da banheira e a coloco no chão, eu tiro o uniforme e então a coloco dentro da banheira, ela se senta, eu pego a espuma e espalho no corpo dela.
— Então, já pensou se vai me contar? – ela passa a mão nas espumas e assopra – O que falaram pra você? – ela desvia os olhos pra mim – Pode me falar...
— Tem shampoo de morango? – ela muda de assunto, eu abro o armário e pego o shampoo, ela vira a cabeça pra trás e me deixa esfregar seu cabelo enquanto ela fecha os olhos, eu lavo tirando a espuma com cuidado, quando termino ela mesmo fica em pé pra sair – Já? – eu estranho por que geralmente nós que temos que mandar ela sair.
— Eu tô com sono – ela mente, eu sei disso, mas pego a toalha e a tiro de dentro da banheira, levo ela no colo até o seu quarto, Keyse deixou a roupa separada em cima da cama, eu a seco e a visto, então ela se deita na cama agarrando o urso de novo – Ok, agora eu que tô triste – ela se vira pra mim – Eu achei que a gente fosse amigo...
— A gente é – ela balança a cabeça com rapidez.
— Mas você não quer conversar comigo e isso me deixa triste...
— Eu sei o que foi – Theo entra no quarto, ele vai direto até ela, se ajoelha na frente da cama e passa os dedos no rosto dela – Você é minha irmã, sim – ela desvia os olhos dele e afunda no travesseiro, então ele olha pra mim – Eu falei com o Roger e ele disse que a irmã dele chegou em casa contando que teve umas crianças que... – ele engole as palavras e fica tenso, então eu sei que é algo realmente ruim, Iris continua com o rosto escondido no travesseiro e isso só me deixa ainda mais irritado por não saber.
— Fala...
— A Iris tava dizendo que o irmão dela ganhou o Campeonato e essa garota disse que ela não era nossa irmã de verdade e outro garoto disse que... Ela nem se parece com a gente e que... – ele balança a cabeça sem querer falar.
— Theo...
— Que a gente só ficou com pena e que ela é muito diferente da gente, então nunca vai ser da família de verdade – dessa vez é meu corpo que fica tenso, eu cerro os punhos e minha vontade seria quebrar a cara de quem disse isso, mas são duas crianças, e além disso, agora a minha menina precisa de mim, então preciso engolir qualquer raiva, quando olho pra Iris seu corpo tá estremecendo levemente, eu toco suas costas e acaricio seus bracinhos, ela aperta o urso mais forte, então eu a pego no colo.
— Ei, olha pra mim – ela nega – Por favor – ela nega de novo.
— Você acredita nisso, Iris? – Theo pergunta e ela só aperta o urso no rosto, mas ele tira o urso dela e ela mantem os olhos fechados com as lagrimas escorrendo.
— Seu irmão te fez uma pergunta... – ela abre os olhos.
— A gente não é irmão de verdade – posso ver a decepção no rosto do Theo e tento não transparecer a minha também, por que eu sei que ela só está confusa, já ia abrir minha boca quando ele é mais rápido que eu.
— Quem te ensinou a jogar vídeo game? Quem te ensinou as vogais? – ela continua olhando pra ele – Quem ensinou você a dar o laço no tênis e a subir as escadas de dois em dois degraus e a comer queijo escondido de noite?
— Ei, essa parte do queijo fui eu – Lucca fala entrando no quarto, ele se aproxima e faz uma careta – Você acreditou naqueles idiotas?
— Eu sou diferente – ela levanta os ombros - De todo mundo...
— Ah, mas tem o mesmo bom gosto que eu – Keyse fala sorrindo e também se aproximando, mas Iris não sorri.
— Você quer saber por que você é dessa família? – ela me olha curiosa – Por que todo mundo aqui escolheu você... Todo mundo aqui ama você
— Mas não é de verdade – ela tenta explica com lagrimas rolando pelo rostinho.
— Você me ama de verdade ou de mentira? – Lucca pergunta.
— Verdade.
— E eu? – Theo olha pra ela.
— Verdade!
— E o papai e a mamãe?
— De verdade.
— Então pronto, é de verdade sim...
— Escuta, você realmente não nasceu aqui igual o Lucca ou o Theo, você sabe disso, mas essa é a única diferença, o jeito que eu amo eles, é igual eu amo você, eles são dessa família igual você e sabe por que? – pergunto e ela nega – Por que família não é só de quem se parece, é de quem ama de verdade, então se você ama a gente de verdade e a gente te ama de verdade, então você é sim dessa família...
— Você acredita que a gente te ama? – Keyse pergunta e ela confirma.
— Então por que você acreditou neles? – ela não me responde – Escuta, Eu sou o seu pai – quando digo isso sei que não importa qual a situação, essa frase sempre vai parecer certa pra mim – Ela é a sua mãe, eles são seus irmãos... E isso não tem nada a ver com você ser diferente da gente, se a sua cor é diferente da nossa ou seu cabelo ou seus olhos, isso não importa... Você sabe o que quer dizer família?
— Pai, mãe, irmão... – eu nego.
— Não é só isso, família são as pessoas que mais te amam no mundo, são as pessoas que SEMPRE vão segurar sua mão, enxugar suas lágrimas, é quem vai te ensinar as coisas certas e brigar quando fizer as coisas erradas, família é quem escolhe te amar. Eu escolhi amar você...
— Eu também.
— E eu também.
— E você é minha princesa – Keyse sorri.
— E você? Escolhe a gente?
— Eu amo vocês – eu sorrio e enxugo as lagrimas dela e a coloco em pé na cama.
— Então você é dessa família! Não importa se vão falar que não, você é. Você duvida disso? – ela olha um por um e depois abre um pequeno sorriso balançando a cabeça negando – Então será que eu posso ganhar um abraço? – abro os braços e ela se joga em mim me abraçando forte.
— Ahhh eu também quero – Keyse nos abraça junto e depois os meninos também e acabamos caindo na cama e finalmente ela ri, aquela risada que enche essa casa inteira – Agora... Eu fiz macarrão com queijo – Iris e os meninos arregalam os olhos e pulam pra fora da cama.
— Quem chegar por ultimo só pode comer uma vez – Lucca fala e eles saem correndo do quarto.
— CUIDADO COM A ESCADA – Keyse grita, mas quando volta a me olha não está mais sorrindo – Acho que já sabíamos que isso podia acontecer, mesmo assim, eu... – ela respira fundo e eu a abraço.
— Eu sei – ela afunda o rosto no meu peito – Eu vou amanhã mesmo na escola e vou falar com os pais deles, isso não vai ficar assim...
— OU... – ela levanta o rosto do meu peito e me olha como quem teve uma ideia – Podemos dar uma festinha aqui em casa e chamar os colegas da sala dela...
— Pra quê? Comemorar que eles são uns babacas e fizeram nossa filha chorar? – ela toca meu rosto e sorri.
— Essa é uma das coisas que eu mais amo em você, sabia? Esse seu jeito protetor... – ela me dá um beijo rápido – Mas não acho que gritar e fazer ameaças não é a melhor opção agora
— Também não vejo uma festa ajudando...
— Por que você é um ogro – ela dá de ombros e eu a encaro – Olha, se você falar com os pais, eles podem até brigar com eles mas e aí? Isso só vai deixar eles com raiva entende? Eles são crianças, Pyter, meio cruéis, mas crianças... Eles não entendem e talvez nem seja culpa deles, só é tudo novo e como você faz eles aceitarem algo novo? Obrigando a entender ou mostrando que o diferente pode ser o certo também? – dessa vez eu suavizo o olhar – Nós damos uma festa, a maior festa que eles já foram, tenho certeza que seu pai vai adorar fazer um bolo gigante bem colorido, a gente coloca um pula pula, um daqueles escorrega, contrata alguém pra fazer umas brincadeiras... Eu tenho certeza que eles não vão nessas coisas sempre...
— Isso parece meio esnobe – eu falo e ela dá de ombros.
— Não é por que eu não quero brigar que quero sorrir como se nada tivesse acontecido... Acho que eu posso ser um pouco esnobe com esses idiotas que fizeram ela chorar – eu libero um pequeno sorriso e beijo sua testa.
— Faça o seu pior – ela abre um sorriso.
— Vou precisar de dinheiro extra...
— Acho bom o Lucca começar a receber logo – ela ri e me dá um beijo rápido.
— Anda eu também tô com fome – ela sai me arrastando pra fora do quarto.
Quando chegamos na cozinha eles estão comendo e rindo, nos juntamos a eles e almoçamos juntos, depois eles vão botar comida pro Boldo e as gargalhadas são ouvidas mesmo de dentro de casa e eu fico mais aliviado.
No dia seguinte na hora da saída Keyse já está com os convites pra festinha do domingo impressos e distribui para os pais das crianças da sala da Iris, ela realmente está confiante que isso vai fazer eles se aproximarem ela, por mais que o motivo não seja o ideal, ela acredita que depois eles vão acabar percebendo que agiram errado e tudo ficará bem, eu espero que ela esteja certa por que se não será do meu jeito e tenho que concordar com ela que não será nada amigável.

— Fala sério, isso é ridículo, eu não posso ir sem você – a voz irritada vem do quarto dos meninos, eu vou até lá e Theo tá jogado na cama e Lucca em pé no meio do quarto.
— Você não é grudado em mim
— Sorte a sua por que eu ia tá quebrando sua cara agora
— Posso saber o que tá acontecendo? – só o Lucca me olha.
— O Theo disse que não vai amanhã lá pra Bella – Lucca está realmente irritado, amanhã terá uma festinha que eles já tinham combinado de fazer se Lucca ganhasse o Campeonato, Ryan deu carta branca pra eles chamarem todos os amigos e fazerem uma festa na piscina, eles estavam todos empolgados, inclusive gastaram quase a mesada inteira nisso e Theo resolveu mais da metade das coisas, então eu realmente fico surpreso.
— Por que você não vai?
— Por que eu não quero
— Fala sério, Theo, a ideia foi sua – Lucca rebate e ele levanta da cama meio entediado.
— A gente tem teste na segunda...
— E desde quando vocês deixam de sair por causa de teste? – ele me encara.
— A mamãe vai adorar esse incentivo
— Ela iria estranhar tanto quanto eu – ele revira os olhos.
— Eu não quero ir, só isso, não é o fim do mundo
— Se você não for, eu nunca mais falo com você – Lucca ameaça e Theo ri.
— Você não fica 5 minutos sem falar comigo – Lucca repensa e assim como eu ele sabe que Theo tem razão.
— OK, não tem festa!
— Para de graça, a festa é pra você...
— Você é meu irmão, se você não for então eu não vou, não tem sentido – eles se encaram e mesmo sem saber o que está acontecendo confesso que me sinto um pouco orgulhoso dessa relação que eles tem, eles sempre estão juntos e sei que Lucca fala sério dizendo que não faz sentido ir sem o irmão e por mais que Theo tente se manter firme vejo ele repensando – Você vai estragar a festa de todo mundo – Lucca dá o ultimato e sai do quarto passando direto por mim, Theo solta o ar e se joga deitado na cama, eu entro no quarto.
— Explicação?
— A festa é dele, não minha, não sei por que esse drama todo – eu o encaro.
— Quando você ganhou o campeonato do time de basquete quem foi que organizou sua festa? – ele tampa o rosto com o travesseiro – Ele tava lá, Theo! – ele empurra o travesseiro.
— Eu sei, tá?! – ele parece irritado – Eu vou, pronto! – ele fala mesmo contrariado.
— Assim? Não, assim não – ele me olha confuso – Ele tava lá FELIZ por você, ele não tava lá obrigado e com essa cara de que preferia estar trancado no porão...
— Eu tô feliz por ele, pai, isso não tem nada a ver com eu não querer ir
— Então tem a ver com que? – ele se senta e encara os pés que se remexem no chão, então me sento ao lado dele.
— Eu não tô com inveja, juro que não, ele arrasou lá e merece tudo isso, é só que... Todo mundo só fala disso, entende? Todo mundo que vem falar comigo é sobre isso... E eu sei que ele merece, eu nem ligo pra isso, não ligo mesmo não, mas é... Ninguém tem outro assunto, tudo é a festa, não tem mais outro assunto, eu tento puxar outro assunto, mas todo mundo só quer saber dessa droga de festa...
— Todo mundo ou a Bella? – Lucca pergunta entrando no quarto de novo, Theo revira os olhos e olha pro irmão.
— Cala a boca!
— Por que é verdade?
— Não – Lucca ri.
— Você mente mal...
— Ok, que parte que eu perdi? – Lucca me olha rindo.
— A parte que seu filho é maluco – Theo encara o irmão.
— Não, não, foi a parte que o Theo tá todo apaixonadinho pela Bella...
— Lucca, cala a boca, só fala merda...
— EI! – eu levanto a mão e Theo solta o ar irritado – Lucca, apresente suas provas...
— PAI! – Theo bate as mãos no colchão, eu levanto os ombros – Você tá botando pilha...
— Só quero entender, se ele tiver provas eu quero ver
— A prova sou eu dizendo que ele é maluco
— Bom, vocês fazem parte dessa família, maluco é a exigência mínima – mesmo contrariado ele ri – Lucca, apresente-se
— Ok, bom, em primeiro lugar, ele fica todo irritadinho se outro garoto chega na Bella...
— Ela é nossa amiga, eu acho que temos que ficar de olho
— Até no Erick? – Lucca pergunta rindo e Theo revira os olhos.
— Quem é Erick?
— É o maior nerd e principezinho da escola, ele chamou a Bella pra tomarem sorvete outro dia e eu vi o Theo encurralando ele no corredor
— Você o quê? – eu olho pra ele surpreso, isso não é bem o tipo dele, talvez do Lucca, mas não dele.
— Eu tava perguntando do trabalho de ciências – ele dá de ombros.
— Por isso você tava segurando a camisa dele e ele saiu correndo assim que você soltou?
— Ele tá vendo demais – ele me olha, mas eu volto a atenção pro Lucca.
— Eu não tô vendo demais... E tem a prova numero dois – ele faz o numero dois com dedo de um jeito todo misterioso – A Candice pediu pra ficar com você e você disse não...
— Eu não queria ué...
— Fala sério! É a Candice! TODO MUNDO QUER FICAR COM ELA
— Eu não!
— Por que você é apaixonadinho pela Bella...
— Cara, para de ficar falando isso, é sério...
— Eu paro, se você admitir – Theo cruza o braço nada disposto a isso.
— Ok, você me obrigou a isso... Prova numero 3 – ele encara o Theo, depois sorri, então anda até a estante de livros dele, Theo descruza os braços meio que surpreso, Lucca passa os dedos por alguns livros que eles tem e pega um.
— Você não tinha o direito de fuxicar minha coisas – ele se levanta e vai até o Lucca, tenta pegar o livro, mas Lucca levanta o braço e se esquiva.
— Ei, eu tô machucado – ele avisa quando Theo avança de novo.
— EI, vai machucar seu irmão – eu me levanto e vou até eles e pego o livro da mão do Lucca, Theo não tenta pegar da minha mão.
— E eu não tava fuxicando, eu só fiquei curioso pra saber o que tinha nesse livro de tão bom pra você ficar lendo sempre... Aí eu achei – ele vem até a mim e abre o livro que estava na minha mão, a foto está entre as paginas, uma foto da Bella rindo, uma foto linda eu tenho que admitir, ela está sentada em cima de uma mesa de cimento, de uniforme, provavelmente na praça perto da escola.
— Então, isso quer dizer? – levanto a foto pra ele.
— Essa foto, eu só... É que... Quer saber, não interessa, é meu livro, minhas coisas – ele pega a foto e o livro da minha mão, eu olho pro Lucca e então começamos a rir.
— Tá apaixonadinhoooooo – eu implico e ele me encara – Ah que lindo!
— Não é fofo? Ele tá vermelho – Lucca vai pra cima dele tentando apertar sua bochecha, mas ele se esquiva.
— Quanto tempo você solta corações?
— PAI! – eu acabo rindo de novo.
— Eu só não aceito colocar papel de parede de coraçõezinhos – Lucca faz cara de nojo.
— Lucca respeita seu irmão, ele tá apaixonado...
— É sério, isso é ridículo. E você é o adulto, você sabe né?
— Ahhhh ta irritadinho... – dessa vez sou eu que aperto sua bochecha.
— PAI! Para! – ele se irrita e cruza os braços – Eu não tô apaixonado por ninguém!
— OK!
— É sério! – eu e Lucca nos olhamos.
— Tudo bem... Foi mal – Lucca levanta as mãos – Mas eu preciso avisar que se isso for verdade então eu vou ajudar o Erick!
— O QUÊ? Ajudar em que?
— Bom, ele veio me pedir ajuda, então eu vou chamar ele pra amanhã e falar bem do cara...
— Você só pode tá me zoando né? Ele é um... Ele é um panaca! E não tem nada a ver com a Bella, nada mesmo... Fala sério, você sabe disso...
— Bom, as vezes o amor é assim, junta duas pessoas que parecem que não tem nada a ver, os opostos se atraem, é o que dizem...
— AMOR? Qual é pai, ele só quer ficar com ela por que ela é bonita
— HUMMMMMMM TÁ APAIXONADO – ele me encara.
— É impossível conversar com vocês, é sério, eu não falo mais nada até a mamãe chegar – ele joga o livro em cima da cama.
— Se você não é afim dela, então deixa o Erick tentar, ué – ele encara o Lucca.
— Isso é ridículo!
— Também acho, você dispensou a Candice pra ficar olhando a Bella com outro?
— Em primeiro lugar, eu não queria ficar com a Candice, por isso dispensei e segundo até onde eu sei a Bella não tá com outro...
— Exatamente, até onde VOCÊ sabe – Lucca dá de ombros.
— O que ela te disse?
— Nada, só... Nada, eu só... Você é meu irmão, se eu tiver que ajudar alguém, é você, mas se você não quer... – ele se encaram alguns segundos.
— Eu sei que você adora seu tio, mas se quer um conselho, não siga o exemplo dele, ele quase demorou tempo demais com a tia Luiza... – eu aviso e Theo se joga sentado na cama.
— A gente só... Nós somos amigos – ele fala meio desanimado.
— É, era o que ele dizia também – ele me olha – Acho que você deveria ir na festa amanhã...
— E abrir seu coração pra ela – Lucca fala fazendo uma pose ridícula enquanto pisca os olhos e faz biquinho, Theo ri, mas joga uma almofada nele.
— Vocês são dois idiotas – ele fala e eu me sento ao lado dele.
— Eu não acredito que você tá apaixonado pela Bella... O Ryan vai pirar
— Eu não disse isso...
— Então nega – eu olho direto nos olhos dele.
— ALGUÉM TIRA ESSE CACHORRO DO MEU SOFÁ – Keyse grita e ele sorri e se levanta.
— Diferente de vocês vou fazer algo útil e salvar o Boldo – ele sai do quarto e eu olho pro Lucca.
— Ele é apaixonado por ela, NINGUÉM dispensaria a Candice se não tiver muito afim de outra pessoa... – eu acabo rindo.
— E você? – dessa vez ele que ri.
— Eu acabei de ganhar um campeonato, tô quase entrando no time nacional, vou ter esse rostinho lindo aparecendo em todo lugar... Eu não planejo me apaixonar antes dos 30 nem se eu fosse muito romântico – nós dois rimos, eu me levanto e vou até ele passando a mão no seu cabelo.
— Você só esqueceu de um detalhe... NINGUÉM planeja se apaixonar – ele faz uma careta.
— Vai agorar outro vai... – ele me empurra e eu acabo rindo.
— Eu planejo uma longa vida de solteiro – ele dá um sorriso divertido, então Iris entra correndo no quarto e sobe na cama do Lucca com um pulo rápido, ficando em pé e logo passa os braços em volta do pescoço dele.
— A mamãe disse que eu posso comer chocolate se você me ajudar a fazer – ela arregala os olhos.
— Vai custar dois beijos e o nome do irmão mais legal do mundo – ela abre um sorriso e dá um beijo em cada bochecha dele, depois joga a cabeça pra trás e grita o nome dele, ele ri e com um braço só ele pega ela no colo – Acho que eu já sou apaixonado – ele me olha e eu sorrio, mas pego Iris do colo dele.
— Você não pode ficar pegando peso, se quer mesmo entrar pra equipe tem que ficar bom logo – ele faz sinal de positivo.
— Me carrega nas costas? – Iris pede me olhando ansiosa, eu beijo a ponta do nariz dele, então a coloco na cama, me abaixo e ela monta nas minhas costas, eu seguro suas pernas e ela ri enquanto eu desço as escadas, deixo-a na cozinha com o Lucca e vou pra sala, Theo e Keyse estão lá.
— E então, já falou com a sua mãe?
— Caraca, você é muito fofoqueiro – ele reclama e eu acerto um tapa na cabeça dele.
— Eu sou seu pai, tá doido – ele me faz uma careta.
— O que eu tô perdendo? – Keyse nos olha curiosa.
— O Theo tá apaixonadoooo – eu aperto a barriga dele e ele se esquiva rindo, mas querendo parecer irritado.
— Pela Bella – eu paro e Theo também a encara surpreso – Bom, acho que explica por que tem uma foto dela no seu livro...
— Você não me contou – eu a encaro e ela revira os olhos.
— Eu já contei antes e você disse que eu tava vendo coisas...
— E estão! – Theo fala.
— Então por que você tem uma foto dela? – ele a encara sem resposta – Tá apaixonado, tá apaixonado, tá apaixonado... – eu me junto a Keyse com o coro enquanto batemos palmas, ele ri mas balança a cabeça.
— Por que eu não nasci numa família normal? – ele olha pra cima, mas Keyse vai pra cima dele fazendo cócegas.
— Meu bebê cresceu, e tá apaixonado...
— MÃE! – ela para e ri.
— Vocês já se beijaram?
— MÃE! – ele ri, mas faz aquela cara de quem não vai responder.
— Ela ainda não sabe, ele vai se declarar amanhã...
— Eu não vou me declarar, pai, para
— Ah, você vai, ou o Erick vai – ele fica um pouco mais sério.
— E se o Erick beijar bem, aí já era pra você – Keyse faz uma careta.
— Eu odeio vocês – ele fala mas libera um sorriso – Eu vou ajudar o Lucca e a Iris – ele avisa e sai pra cozinha.
— O Ryan vai pirar né? – ela me olha já sorrindo divertida.
— AH vai, com certeza, eu mal vejo a hora de contar pra ele – ela ri.
— Eu vou ter um pouco de pena do Theo...
— Ah mas eu ajudo eles – eu sorrio já imaginando em como vai ser engraçado ver o Ryan pirando por que  afilha está namorando e o meu filho.
— Aí isso vai ser tão legaaaaal, tomara que ele se declare logo – ela dá pulinhos animados e eu acabo rindo e a puxo pros meus braços.
— Acho que ele tá certo... A gente não é muito normal – ela dá de ombros.
— Mas eu sou tipo a pessoa mais feliz do mundo, então...
— Então que se dane ser normal – ela sorri e me beija.
No sábado eles saem depois do almoço pra casa da Bella e Theo não aceita carona por que disse que eu não tenho modos, então eles vão de bicicleta e eu e Keyse ficamos em casa com a Iris, nós assistimos um filme de desenho com ela na sala, depois ela pede pra ir tomar sorvete, então levamos ela na praça, na volta encontramos Louise entrando na Vila e ela chama Iris pra ir jogar vídeo game, é claro que Iris vai toda animada então voltamos só eu e Keyse pra casa, assim que ela abre a porta e entra eu a puxo pela cintura, beijando logo abaixo da sua orelha fazendo-a rir.
— Eu tenho que ver se tá tudo certo pra festinha de amanhã...
— Ah isso pode esperar com certeza isso pode esperar – eu falo já trancando a porta, já que nenhum de nós tem o hábito de bater antes de entrar na casa do outro, assim que tranco volto a atenção pra Keyse, eu a puxo pra mim de novo e dessa tiro seus pés do chão, ela passa as perna sem volta do meu corpo e me beija, eu ando até a sala e acabamos no sofá curtindo um pouco do nosso tempo sozinhos.
Iris volta pra casa depois de quase uma hora e ela e Keyse se animam vendo as coisas que terão pra festa de amanhã, eu já estava quase entediado quando Pietro aparece e me chama pra ver um jogo que vai ter na tv, junto com ele, papai, Louise e Ian, então eu corro pra lá, tem cervejas e papai preparou alguns tira gosto, mamãe está dormindo e então ele avisa que nada de gritos, mesmo assim nos divertimos, ainda mais quando Louise chega e o time que ela torce está perdendo, nós rimos e zoamos ela durante o resto do jogo e quando acaba eu vou embora, mas quando estou chegando em casa, o carro entra na Vila, eu reconheço que é do Ryan e assim que para os meninos descem.
— Achei que tivessem ido de bicicleta – então a porta do motorista abre e Ryan desce, olho para os meninos de novo e Lucca está rindo enquanto Theo está meio inquieto e nervoso – O que houve?
— O QUE HOUVE? Você quer saber o que houve, é isso? Bom, eu vou te contar o que houve, houve que o Theo decidiu que poderia sair beijando a minha filha dentro da minha casa – assim que ele fala eu acabo rindo – Você tá rindo? Qual é Pyter...
— Eu tenho certeza que ele não agarrou ela – eu falo e olho pro Theo.
— Não agarrei!
— Ela é uma criança, ele também...
— Bom, na idade dele, se eu bem me lembro...
— Não se atreva – ele aponta o dedo pra mim, mas libera um sorriso divertido – E esse é exatamente o problema, ele é seu filho, eu ainda lembro o que você e Keyse faziam no quartinho do almoxarifado...
— Que quartinho? – Theo pergunta curioso.
— Ah garoto, não testa minha paciência – Ryan fala apontando pro Theo que levanta as mãos em inocência.
— Relaxa tio, nem existe mais quartinho de almoxarifado – Lucca o tranquiliza – Só a sala de vídeo – ele finge sussurrar.
— Ah moleque – ele tenta pegar o Lucca mas ele é mais rápido – Eu vou fazer um treino só de pernas pra você a semana inteira – ele ameaça, sabendo que Lucca odeia treinar pernas, mas Lucca ri.
— Acho que você tá sendo dramático – ele me encara – É o Theo, pô...
— É, é o bonitão do seu filho que tem o seu dna e já mostrou que sabe muito bem como sair de fininho e ficar pelos cantos – eu acabo rindo.
— Foi só um beijo – Theo se defende.
— NA MINHA FILHA! – ele fala como se fosse o fim do mundo – Por que vocês não podem ser só melhores amigos do mundo, que tal? Beijar na boca nem é tão bom assim, isso é super estimado – ele fala e eu acabo rindo de novo.
— Eu gosto dela, tio, mais do que só amigos... – Ryan faz uma careta.
— Eu não tô pronto pra isso, eu me sinto... Velho
— Você é velho!
— Eu sou um ano mais novo que você, ô seu imbecil – ele me acerta um tapa na cabeça.
— Deixa os garotos curtirem – ele me encara feio, mas depois olha pro Theo.
— Ela é pra casar, ein?!
— Eles tem 15 anos – eu falo ele dá de ombros.
— Se eu souber que você entregou a chave da casinha pra eles, eu chuto seu traseiro – ele me ameaça e eu acabo rindo,  a tal casinha é o lugar secreto dos casais, já foi meu, dele, do Pietro, é quase um rito de passagem.
— Eu não vou entregar... AINDA – ele tenta me dar um soco no braço mas eu esquivo.
— Então... tudo bem? – Theo pergunta meio duvidoso.
— Eu quero um pedido, oficial, com flores, chocolate, garrafa de vinho, jantar, essa coisa toda... – ele avisa e Theo concorda.
— Pode ser amanhã...
— Amanhã é a festinha da Iris – eu lembro.
— Sabado que vem – Ryan avisa – E até lá, é beijo na bochecha, no máximo um selinho, passou de 10 segundos e eu arranco sua língua – Theo ri, mas faz uma cara de que entendeu – Agora sai da minha frente por que eu só consigo me lembrar de vocês... AI MEU DEUS EU TÔ TRAUMATIZADO – ele fecha os olhos fazendo drama, Lucca e Theo entram em casa rindo e eu aperto o ombro do Ryan.
— É, pelo menos tá tudo em família – ele faz uma careta.
— Eu vou pra casa agora e vou colocar o plano do Ryan Junior em ação, aí eu vou juntar ele com a Iris – eu solto uma risada alta.
— Se você convencer a Nathy eu já ficaria muito surpreso – ele mostra o dedo do meio.
— Eu odeio você – ele avisa e se afasta entrando no carro – E segura o pinto do teu filho ou eu mesmo arranco – eu entro em casa rindo sabendo que vou me divertir bastante com esse namoro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nova fase'" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.