Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 39
A pequena Iris




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Eu não consigo dormir, por que cada vez que meus olhos se fecham imagens da Iris apanhando e chorando invadem minha mente e me obrigam a abrir olhos rapidamente e me certificar que era apenas um sonho ruim, olho pro relógio ao lado da cama e ele marca 4 horas da manhã, Keyse está deitada com a cabeça no meu peito e dorme um sono profundo, tento não me mexer pra não incomodar ela mas quanto mais os minutos se passam a tarefa parece ainda mais difícil até que quando são 5 horas da manhã fica insuportável e eu desisto de continuar deitado na cama, com todo cuidado eu retiro Keyse de cima de mim, coloco-a apoiada no meu travesseiro e puxo o lençol até metade do seu corpo, não consigo resistir e passo a ponta dos dedos pelo seu rosto me lembrando mais uma vez da sorte que eu tenho em ter ela do meu lado, não por que ela é absolutamente linda, mas por que ela é a melhor companheira que eu poderia imaginar, coloco um beijo de leve na sua testa e saio da cama, caminho na ponta dos pés até o banheiro, fecho a porta e me encaro no espelho, minha aparência não é nem de longe uma das melhores, meus olhos estão fundos e eu estou tão cansado quanto pareço, mas ainda assim não consigo descansar, por que só existe uma coisa que vai me dar o que preciso, quando eu conseguir colocar aquele monstro atrás das grades e fazer ele pagar por tudo que já fez a Iris, o pensamento do nome dela me desperta muitas emoções diferentes e é algo muito novo pra mim, eu me lembro quando Keyse me disse que estava grávida, nós não planejamos nada, eu não queria ter filhos e achava que não estava pronto, eu fiquei apavorado, demorou aqueles nove meses pra que eu finalmente entrasse no papel de pai e quando eu os vi pela primeira vez foi a maior alegria da minha vida, foi algo mágico, pegar eles no colo foi uma experiência que troféu nenhum jamais se igualará, nada mais importava só eles, a felicidade e o bem estar deles, mas por mais que fosse surpreendente, era o natural, é o que todo pai sente ou deveria sentir ao ver seus filhos, um amor incondicional e algo que jamais será comparado a nada que eu já tenha sentido, assim como o que eu sinto em relação a Iris, eu nunca senti algo assim tão forte por alguém que eu conheci em menos de 24 horas, eu não tive uma preparação pra isso, eu não sai de casa com a consciência de que iria encontrar ela, mas encontrei e por mais que eu só tenha dito isso no fim do dia, a verdade é que no momento em que eu soube que ela estava sozinha naquela mata eu também soube que jamais a deixaria sozinha de novo, foi um tipo de ligação sobrenatural e que se enraizou em mim da forma mais rápida que qualquer outro sentimento, eu passei esse mês evitando de conversar com a Keyse sobre a possibilidade de outra gravidez, fiquei esperando ela chegar até a mim e dizer que era uma loucura, que ela estava sensível apenas e que pensou melhor e viu que deveríamos seguir nossas vidas, apenas nós 4 e eu tinha certeza que isso aconteceria por que eu não estava pronto pra ter outro filho, então ela apareceu e é como se não faltasse mais nada, eu estou pronto e eu posso fazer isso, eu quero fazer isso, quero ter ela aqui em casa, perto de mim, da Keyse, dos meninos, quero mostrar pra ela o que é o amor e que ela pode e merece sim ser amada e esse é um sentimento tão forte que eu não deixa espaço pra duvidas, por isso respiro fundo, joga uma agua no meu rosto e me encaro novamente no espelho, dessa vez o cansaço já está de lado, agora eu estou decidido e preparado pro longo dia que teremos pela frente. Saio do banheiro e Keyse ainda está dormindo, pego uma camiseta na gaveta e saio do quarto devagar, eu vou até o quarto ao lado, abro a porta com cuidado e a cena me faz parar, Lucca está dormindo profundamente na cama dele, o colchão entre as camas e está vazio e Theo está na cama junto com Iris, ele está acordado e ela deitada sobre o peito dele, ele mexe nos cabelos dela e sua boca se mexe como se estivesse falando algo mas eu não consigo ouvir, então ele olha na direção da porta e me vê, ele faz sinal de silêncio e assim como eu tive todo trabalho de sair da cama sem acordar a Keyse, ele faz o mesmo, cobre Iris e então sai na ponta dos pés até a mim, ele faz sinal pra eu sair e fecha a porta quase prendendo a respiração, repete o sinal de silêncio e anda na direção das escadas, eu o sigo e só quando já estamos no andar debaixo e que ele acha seguro é que ele fala e mesmo assim quase sussurrando.
— Ela teve um pesadelo – ele explica e parece realmente impressionado com algo – Ela tava tremendo, eu levantei pra ir no banheiro e ela tava toda encolhida na cama, ela tava chorando baixinho, mas tava dormindo ainda e quando eu encostei nela que eu vi que ela tava tremendo, eu demorei um tempão pra fazer ela acordar e ela levou um susto e só depois que viu que era eu que ela ficou mais calma, ela não quis falar o que foi, mas tava muito assustada e perguntou se eu podia deitar com ela... Eu não tive coragem de deixar ela dormir sozinha, aí deitei com ela e cantei aquela música que a mamãe sempre cantava quando eu tinha pesadelos... Ela dormiu de novo quase agora – eu não consigo esconder um sorriso orgulhoso e o puxo pra um abraço, ela já está alto e forte e bem longe da aparência daquele menininho que não parava quieto, eu apoio meu queixo na sua cabeça e ele também me abraça, ficamos alguns segundos sem dizer nada e então sua voz é baixa e assustada – Como que um pai tem coragem de fazer essas coisas? – eu teria várias maneiras de tentar explicar como existem pessoas ruins no mundo, mas me contenho ao que parece mais certo no momento.
— Ele não é pai! Nunca foi! – ele concorda e me abraça mais apertado.
— A gente não pode deixar ela voltar pra ele... Nem pras ruas... – eu concordo, então ele levanta a cabeça do meu peito e me olha com aqueles olhos azuis brilhando – Ela podia ficar aqui! Tem o quarto de hospedes, podia ficar pra ela, você a mamãe podem adotar ela, aí ela ia ser da família e ele nem ninguém nunca mais ia poder fazer nada com ela... – a solução que pra mim só apareceu depois de tantas horas, pra ele foi simples como um piscar de olhos.
— Um dia você ainda me mata de tanto orgulho, sabia? – ele ri e eu o abraço apertado e de um jeito exagerado.
— Então isso é um sim né?
— É, isso é um sim. Ela não sai mais dessa casa – ele abre um sorriso tão grande que parece que acabou de ganhar um super presente.
— Maneiro! Agora eu tenho uma irmã, eu vou ensinar tudo de computador pra ela, só tomara que ela seja inteligente igual a mim e não uma anta como o Lucca... – eu acabo rindo, mas não posso deixar passar.
— Não chama seu irmão de anta!
— Até por que ele saiu de dentro de mim – Keyse fala já descendo as escadas, ela sorri e abre os braços pro Theo que me solta e se joga nela, ela o abraça apertado e beija sua bochecha.
— Então você já sabe da novidade... – ele confirma sorrindo animado – E o que você achou?
— Demais! – Keyse me olha e sorri com uma mistura de alegria e alivio.
— E por que você tá acordado tão cedo se eu preciso quase perder a voz todo dia pra te acordar? – ele ri.
— A Iris teve um pesadelo e ele acalmou ela – o sorriso orgulhoso que eu dei é o mesmo que Keyse dá então volta apertá-lo ainda mais, fazendo ele se esquivar e fazer caretas.
— Já que os dois estão acordados, me ajudem a preparar o café da manhã – assim que ela fala eu e Theo jogamos a cabeça pra trás e fingimos estar roncando, ela ri e segura nossas orelhas, nos levando pra cozinha e só nos libera lá dentro, fazemos caretas e reclamamos.
— Vai ser o primeiro café da manhã dela com a gente... – Keyse explica e eu sorrio com isso.
— Eu acho que vai ser o primeiro café da manhã da vida dela – Theo fala com certa indignação na voz e nós não podemos negar, então apenas começamos a ajuda a Keyse a preparar as coisas, ela decide fazer um bolo de chocolate, mesmo que não goste que eles comam chocolate logo de manhã, mas hoje abre uma exceção e eu e Theo comemoramos fazendo uma dancinha ridícula atrás dela que ri, mas revira os olhos dizendo que estamos ridículos, Theo fica responsável por espremer as laranjas para o suco e eu faço o café e depois vou colocando as coisas na mesa, já está tudo pronto e só falta esperar o bolo assar, eu e Theo vamos para o quintal pra soltar o Boldo pra ele fazer suas necessidades enquanto Keyse sobre pra ver se acha alguma roupa que dê para colocar na Iris. Quando entramos ela está descendo as escadas com uma cara de decepcionada.
— Não sobrou quase nenhuma roupa deles pequenos, nós doamos tudo, sem falar que é roupa de menino... – a frustração dela chega ser fofa por querer fazer o melhor assim tão em cima da hora.
— Eu tenho certeza que deve ter alguma coisa em uma daquelas lojas que você tanto adora passar as horas dentro – ela sorri animada e quase pula para os meus braços.
— Eu tenho uma parceira de compras agora... – eu acabo rindo – Pyter Mellark, prepare sua carteira por que nós vamos precisar de um guarda roupa inteirinho novo... – eu sorrio e a aperto nos meus braços.
— O que vocês quiserem! – ela saltita animada e me dá um beijo rápido.
— Bem que você pode incluir aquele tênis laranja – Theo fala fazendo uma carinha triste, eu acabo rindo.
— Quem sabe até aquele boné que você queria... – Keyse fala piscando um dos olhos pra ele, que comemora com um soco no ar.
— Acho que eu vou ter que roubar a ideia do Ryan e colocar uma piscina aqui pra poder comprar ingresso – Keyse ri e acha a ideia ótima.
— Caraca, quero ver a cara da Bella quando descobrir que agora a gente tem uma irmã... Ela que tava querendo ter uma e a gente que ganhou... – ele fala rindo e eu sorrio pela animação dele.
— Ai o bolo – Keyse corre pra cozinha e vamos logo atrás dele enquanto eu tento prender a cabeça dele numa chave de braço. Pra nossa sorte o bolo não queimou e Keyse sorri animadíssima e orgulhosa de sua obra de culinária, ela desenforma o bolo e prepara uma calda, eu e Theo lambemos a panela, mesmo que ela reclame e quando tudo fica pronto, nós subimos pra acordar o Lucca e a Iris, eu mal encosto nela e seus olhos se arregalam assustados, sua respiração fica forte e ofegante.
— Sou eu, o Pyter – toco sua mão pra acalmar, ela parece confusa, olha em volta e só então seu rosto suaviza e ela consegue sorrir então se levanta e me dá um abraço forte, sinto a mesma emoção de ontem e sorrio abraçando-a de volta – Bom dia!
— Bom dia! – ela sorri esfregando o rosto pra se despertar, Lucca também já acordou e cumprimenta ela com bom dia.
— E aí gostou de dormir na cama? – ele pergunta e ela balança a cabeça que sim e sorri.
— É legal e quente – meu sorriso diminui um pouco quando me lembro da realidade que ela vivia, a mão da Keyse toca meu ombro e ela logo está ao meu lado.
— Bom dia – ela fala pra Iris e assim como fez comigo, ela fica em pé na cama e a abraça apertado, Keyse beija o rosto dela e sorri – O que você acha de tomar um café da manhã muito gostoso que a gente preparou? – os olhinhos dela brilham quando aceita animada.
— Então descemos todos juntos.
— CARACA! Bolo de chocolate de manhã?! – Lucca se impressiona já pegando um prato – Iris, você tem que morar aqui pra sempre – ele fala e eu vejo quando Iris sorri com ideia, mas seu sorriso logo fecha e ela balança a cabeça como se estivesse se livrando de algum pensamento, Keyse me olha e aponta pro Lucca, pra que eu fale com ele.
— Preciso falar com você...
— Agora? Tem bolo de chocolate no café da manhã – ele fala como se fosse um crime não comer agora, então eu acabo rindo.
— Ok, depois do café – ele concorda e entrega o prato pra Keyse colocar o pedaço dele.
— E aí, Iris, gostou do bolo? – Theo pergunta e ela arregala os olhos e balança a cabeça que sim enquanto coloca mais uma colher de bolo na boca suja de chocolate, nós rimos.
— Posso comer outro? – ela pergunta mesmo que ainda tenha metade do pedaço no seu prato.
— Claro que pode, eu fiz pra vocês comerem... Mas termina esse primeiro, combinado? – ela concorda e sorri pra Keyse já pegando mais um pedaço com a colher.
— Só não se acostuma, por que não é todo dia que tem bolo de chocolate no café da manhã não... – Theo fala e Lucca cutuca ele como se ele tivesse dito algo errado.
— Como que ela vai se acostumar se ela vai embora hoje? – ele tenta falar baixo mas pela mudança no sorriso da Iris, ela escutou, ela me olha e logo abaixa os olhos pro prato, dessa vez é o Theo quem cutuca ele e aponta pra Iris que agora evita olhar pra qualquer um de nós, Lucca coloca a mão na boca e pede um desculpas silencioso, eu faço sinal pra ele se levantar junto comigo e dessa vez ele vai, nós saímos da cozinha e paramos perto das escadas, ele começa a se defender antes que eu fale algo – Eu juro que saiu sem querer. Eu não queria deixar ela triste, só saiu sem querer. Por mim ela nem precisava ir embora - eu sorrio quando ele diz isso.
— Você tá falando sério?
— Tô! Pai, eu nunca ia falar isso pra ela ficar triste, ela já passou por um montão de coisa...
— Eu sei que foi sem querer, eu não to falando dessa parte, to falando sobre não querer que ela vá embora... – ele parece confuso, mas concorda.
— É! Quer dizer, a tia Luiza morou no orfanato e ela disse que não é legal... A Iris é pequena, já dormiu até sozinha na mata e passou por um montão de coisas, eu acho que ela não merece ainda ficar no orfanato... – ele parece ainda mais confuso quando vê meu sorriso.
— Então você não veria um problema dela ficar aqui com a gente, tipo... Pra sempre?
— Sério? Tipo, uma nova irmã?
— É! – ele solta uma risada alta.
— Legal! Ela pode começar a treinar e criar as lideres de torcida pro pessoal da luta, é sempre bom ter alguém gritando meu nome... – eu rio da ideia dele.
— Ela só tem 6 anos, acho que vai demorar um pouquinho pra ser aceita em alguma equipe – ele revira os olhos.
— Tá, eu ensino uma coisinha ou outra até lá... – assim como fiz com Theo, eu o puxo para um abraço apertado – Você tá me esmagando... E eu quero comer mais bolo de chocolate – eu o aperto mais ainda e depois o solto, ele faz uma careta e eu bagunço seu cabelo enquanto voltamos para a cozinha, ele logo se senta e já pega outro pedaço de bolo, Iris recuperou um pouco do sorriso, mas está quieta enquanto come o seu pedaço de bolo, Keyse me olha curiosa e eu abro um sorriso e faço sinal de positivo, ela também sorri e continuamos a tomar café.
— Theo e Lucca, escovar os dentes e uniforme...
— A gente bem que podia faltar hoje ein, mãe – Lucca pede forçando um sorriso.
— É mesmo, só pra fazer companhia pra Iris e ela não ficar sozinha – Theo faz o mesmo sorriso que o irmão.
— Eu vou embora! – Iris fala de novo pela primeira vez desde que ficou cabisbaixa.
— Você não quer ficar? – Lucca pergunta e ela olha pra mim.
— O Pyter disse que eu vou pra um lugar legal... – ela não parece nada animada, mas dá de ombros.
— E aqui não é legal? – ela olha pro Theo e faz que sim com a cabeça – Então! – ele dá de ombros – Você já tá num lugar legal – ele conclui e ela me olha.
— Você ia gostar de ficar aqui com a gente?
— Hoje de novo? – ela parece confusa, mas esperançosa.
— E amanhã e depois de amanhã e depois e depois... – eu falo e o sorriso começa a voltar pro rosto dela.
— É tipo... Pra sempre, você ia ser nossa irmã mais nova! – Lucca explica pro caso dela não ter entendido.
— Eu nunca tive irmão – ela fala olhando pra eles dois.
— A gente nunca teve irmã – Theo dá de ombros – E aí?
— Eu posso? – ela olha pra mim e depois pra Keyse.
— Só se você quiser – Keyse fala e o sorriso da Iris quase rasga o rosto dela.
— Eu quero! – dessa vez o meu sorriso quase rasga meu rosto, mas então seu sorriso se fecha.
— Mas se o Phill descobrir...
— Você não precisa mais ter medo dele! – eu falo sentindo a raiva voltando.
— Agora você tem dois irmãos e eu luto, você viu ontem na televisão né? Eu vou ser o campeão nacional, eu dou um soco nele que ele fica sem dentes na hora – Iris ri.
— Sem violência – Keyse avisa apontando pra ele, mas não digo nada por que eu mesmo gostaria de quebrar cada osso desse desgraçado – Mas eles estão certos, Iris, você não precisa mais ter medo dele, nem de ninguém... – ela concorda, mas não parece muito segura disso.
— E eu vou morar aqui?
— Vai!
— Você tem que conhecer o vovô e a vovó, eles são muito maneiros...
— E o tio Pietro ele é muito maluco, você vai gostar dele...
— Eu só não sei se quero você andando muito com a Loui. Ela é nossa prima, mas ela vive com roupa curta e você agora é nossa irmã né? – Lucca fala já pensativo e eu e Keyse acabamos rindo.
— Acho melhor você se controlar e ela vai poder usar o que quiser... Falando nisso, nós temos que comprar roupas pra você – os olhos da Iris se arregalam.
— Eu nunca comprei roupa!
— Bom, então hoje nós vamos comprar muuuuitas roupas – Keyse bate palminhas animada.
— Mas eu gosto dessa – ela olha pra roupa que está.
— Você pode ficar com essa, mas vai precisar de mais roupa...
— E do uniforme da escola – Theo lembra.
— Eu vou pra escola? – ela se anima como se tivessem dito que ela vai para um parque.
— Vai! Mas não agora, ainda temos que resolver algumas coisas – Keyse fala e Iris ri, mas depois para.
— O Phill disse que eu não podia ir por que eu sou muito burra por isso que ninguém ia me querer lá...
— O único burro é ele – Lucca fala irritado e ninguém nega.
— Você passou um mês inteiro na mata, o papai disse que você fez um arco e quase me ganhou no vídeo game ontem, eu não conheço ninguém burro que conseguiria fazer isso – Theo é o único que consegue colocar o sorriso de volta no rosto dela, eles contam pra ela como é na escola e ela vai se animando, mas isso me lembra que precisamos resolver essa situação, então chamo Keyse e saímos da cozinha, nós decidimos agilizar logo as coisas e pra isso temos que contar pro resto da família e decidimos contar logo, por isso Keyse vai ligar pros pais e pedirem para vir até a Vila, peço pra ela falar com o Ryan também e eu volto pra cozinha e aviso que os meninos ficarão em casa hoje,  eu e Keyse limpamos a cozinha e então deixamos eles na sala mostrando pra Iris os desenhos na tv, por que ela também nunca viu um desenho antes e vamos direto até a casa da Pérola, dou uma batida na porta e abro.
— Ihhhh não tá muito cedo pra vocês virem perturbar não? – Pérola reclama enquanto para a subida na escada e nos olha.
— A gente precisa conversar – eu falo e ela perde qualquer ironia quando vê minha cara séria, ela olha pra Keyse buscando alguma dica, mas Keyse também está séria.
— O que aconteceu?
— Aqui não, tem que tá todo mundo – ela parece preocupada – Eu tô indo lá no papai e na mamãe...
— Ok, eu só vou avisar o Ian – concordo, saímos da casa e os dois carros estão entrando na Vila, um com os pais da Keyse e outro do Ryan, Nathy e Bella.
— O que aconteceu? Foi um dos meninos? – tia Grace pergunta quase pulando pra fora do carro.
— Eles estão ótimos, é outra coisa – Keyse garante e ela se acalma.
— Os meninos estão em casa? – Bella pergunta ansiosa.
— Estão, pode ir lá – ela dá um beijo em cada um de nós e corre pra lá.
— Vamos? – Keyse pergunta e todos concordam.
— Vocês decidiram? – Ryan pergunta já achando que sabe o que é.
— Mais ou menos isso – ele me olha curioso, então vamos até a casa dos meus pais, eu entro primeiro e mamãe está sentada no sofá e logo estranha todos entrando ao mesmo tempo, Pérola e Loui também chegam, papai ouve as vozes e sai do escritório confuso.
— É aniversário de alguém e eu esqueci? – ele pergunta rindo e cumprimentando.
— Eu e Keyse precisamos dar uma noticia e seria melhor que todos estivessem aqui... – eles se espalham pela sala e mamãe parece confusa.
— É invasão é? – Pietro desce as escadas junto com Luiza, que deve ter dormido aqui e se junta a nós.
— Ai, Pyter, pelo amor de Deus, fala logo, eu já tô nervosa... – Pérola pede e eu concordo, olho pra Keyse e ela indica que eu fale, então respiro fundo.
— Bom, ontem eu fui dar uma volta pela floresta, pra esfriar a cabeça e pensar um pouco e enquanto eu estava lá eu encontrei uma garotinha... – um misto de sentimentos começa a surgir quando lembro do momento que a encontrei – O nome dela é Iris, ela tem seis anos e tava morando na mata há mais ou menos um mês... Ela fugiu de onde morava com o... – eu me recuso a chamar de pai – Com o homem que criava ela... Ela apanhava todo dia, era castigada e punida de formas que não vale a pena dizer... Ela tava sozinha, dormindo na mata, em cima de arvores, machucada e comendo restos, então trouxe ela comigo pra tentar ajudar de alguma maneira, ligar pra policia, levar pra um abrigo, eu não sabia... Só sabia que não podia deixar ela lá sozinha – Keyse segura minha mão me dando força – Eu trouxe ela, nós demos comida, banho, colocamos uma roupa dos meninos e a colocamos pra dormir, ela tava assustada, na defensiva e mesmo assim confiou em mim, e quando eu comecei a pensar no que faríamos hoje, eu soube exatamente o que fazer... Eu e a Keyse decidimos e... Nós não vamos abrir da mão da Iris...
— Nós vamos adotar ela! – Keyse completa com um sorriso orgulhoso, leva alguns segundos para as reações começarem a aparecer, eles se olham e depois olham pra nós, Luiza é a primeira a sair do lugar e nos abraçar.
— O que vocês vão fazer, é incrível – ela fala parecendo emocionada, logo em seguida os outros começam a nos parabenizar pela atitude e estão ansiosos para conhecer ela.
— Nós precisamos resolver toda parte burocrática antes, eu preciso do advogado e eu não aceito nada a menos do que esse desgraçado na cadeia – eu falo e eles concordam.
— Eu vou pegar agora mesmo o numero do Dr. Herman – papai fala e vai pro escritório, mamãe se aproxima de mim e me dá um abraço apertado.
— Eu nunca tive duvida nenhuma do tamanho do seu coração, mas agora, você realmente conseguiu me surpreender... – eu sorrio e ela beija minha bochecha.
— O que vocês vão fazer por essa menina, vai mudar a vida dela – Luiza fala se aproximando de nós – Eu posso não ter passado por tudo que ela passou, mas eu sei o que é ser criada em um orfanato e posso te garantir que o que vocês estão fazendo é o maior presente e demonstração de amor que ela poderia receber...
— Vocês tem que ver ela, ela é tão linda, ela é... – Keyse respira fundo como se procurasse a palavra certa – É a filha que eu estava esperando...
— Ah meu Deus, eu vou ser vovó de novo – tia Grace fala já abraçando a Keyse.
— Eu estou torcendo muito por vocês, mas e se ela tiver mais alguém na família, isso não seria um problema, eles quererem a guarda? – Pérola pergunta e mesmo que a intenção dela seja boa consegue colocar mais fogo na raiva que havia diminuído.
— Eu vou te levar até ela, levantar a camisa dela e enquanto você tiver olhando cada marca no corpo dela, você me responde se ela tem ou não uma família... – minha voz acaba saindo ainda mais forte e ríspida do que eu esperava, as vozes diminuem e o clima pesa.
— Eu só quis dizer que vocês devem estar preparados pra tudo...
— Eu entendi, Pérola – Keyse fala de um jeito mais calmo e amigável – É só que tá sendo tudo muito rápido, uma loucura na verdade e nossas cabeças ainda estão bem agitadas, mas eu tenho certeza que o Pyter também entendeu, não foi? – ela me olha e eu não digo nada.
— Pronto, já falei com Dr. Herman ele está vindo pra cá agora mesmo, não entrei em detalhes, só pedi que viesse...
— Obrigado – ele sorri e vem até a mim.
— E quando eu vou conhecer minha nova neta? – ele pergunta com um sorriso orgulhoso.
— Ela tá lá em casa com os meninos...
— A Bella já deve ter transformado ela numa boneca – Ryan avisa e eu acabo rindo.
— Eu fiquei sabendo que ela tá doida pra ter uma irmã – Nathy faz uma careta e nega.
— Ela vai ter que se contentar com uma nova melhor amiga – ela garante e eu faço uma cara de dúvida, então vejo a única pessoa que ainda não falou nada, Loui está parada encostada no sofá me olhando de um jeito concentrado demais, eu deixo os outros falando e vou até ela.
— Má ideia? – eu pergunto e ela abre um pequeno sorriso e nega.
— Excelente ideia!
— Por isso toda essa empolgação? – ela aumenta um pouco o sorriso e me abraça forte.
— Eu não tenho duvida que ela tem muita sorte... – ela fala ainda abraçada a mim.
— Então qual o problema? – ela leva alguns segundos e então afrouxa os braços e me olha.
— Numa escala de um a um milhão, quanto ruim e egoísta eu seria se dissesse que estou com medo que não sobre mais tempo pra mim? – eu acabo sorrindo e abraço apertado.
— Zero! Mais você ganha o um milhão na escala de tonta por achar que existirá um dia que eu não tenha tempo pra você... – sinto o sorriso no rosto dela, e então a faço olhar pra mim e seguro seu rosto com as duas mãos.
— Você SEMPRE vai ser a princesinha do tio...
— Tá, também não vamos exagerar né – ela faz uma careta – Eu me conformo em ser a sobrinha preferida...
— Além de ser a única? – ela finge uma risada.
— É sério, eu tô muito feliz por vocês e por ela, eu tenho certeza que ela nunca poderia ter pais melhores, só tenho um pouco de pena por que agora ela vai ter 3 ogros dentro de casa no pé dela né?
— Você adora quando eu pego no seu pé – ela revira os olhos.
— Só um pouquinho – ela faz sinal com os dedos, então os passos fortes invadem a casa enquanto Bella entra correndo.
— Tio! Aconteceu alguma coisa com Iris, os meninos tavam brincando, aí ela gritou, saiu correndo e se trancou no banheiro, ela não quer abrir e não fala com a gente – Bella fala tudo num fôlego só e eu não espero por mais nada, apenas saio correndo pra casa, ela vem correndo ao meu lado, entro dentro de casa e escuto quando Lucca pede pra ela abrir a porta e que está tudo bem, Theo me vê e vem até a mim.
— A gente tava jogando e o Lucca começou a me zoar, aí eu disse que ia virar ele do avesso e fui pra cima dele mas era brincadeira, eu nem cheguei encostar nele direito, aí ela gritou, saiu correndo e se trancou, ela não quer abrir, mas eu juro que vou sem querer, a gente sempre brinca assim, eu não quis assustar ela... – ele está nervoso, culpado e assustado.
— Tudo bem, eu vou falar com ela – eu garanto com a voz mais calma que consigo, passo a mão no cabelo dele e vou pro corredor do banheiro, Lucca ta na porta batendo e pedindo pra entrar – Lucca, deixa comigo... – ele para e vem até a mim.
— A gente não queria assustar ela, foi só uma brincadeira...
— Eu sei, eu não culpo vocês, tá tudo bem, só me deixa falar com ela, ok? – ele concorda e se afasta – Iris! Sou eu, o Pyter, tá tudo bem, será que você pode abrir a porta pra eu falar com você? – espero resposta mas não tem nada, nem um único som, Keyse aparece no corredor e me entrega a chave extra, eu aceito mas não abro a porta, respiro fundo e uso toda calma pra poder falar novamente – Olha, eu entendo que você se assustou, mas era só uma brincadeira, eles não vão brigar e nem te machucar... Se você abrir a porta pra mim eu te explico melhor... – nenhuma resposta – Iris, eu tenho uma chave aqui na minha mão e ela abre essa porta, mas eu não vou abrir, por que eu quero que você confie em mim, você confia em mim? Eu só quero conversar com você, eu prometo que só eu que vou entrar – espero e já estava preparando outra fala quando ouço o barulho da porta sendo destrancada, olho pra Keyse e ela faz sinal pra que eu entre, eu empurro a porta um pouco mais e entro, fechando-a atrás de mim, Iris está com os olhos vermelhos, a camiseta molhada das lagrimas e eu me abaixo a frente dela – Você se assustou? – ela confirma.
— Ele disse que ia virar ele do avesso... O Phill falava isso – eu entendo o medo dela, então me sento no chão encostado na porta, eu a puxo e coloco sentada na minha perna, puxo a toalha que está pendurada ao lado e uso pra enxugar seu rosto, ela abaixa a cabeça e evita me olhar – O Lucca e o Theo são irmãos, eles vivem juntos o dia inteiro e gostam de luta, então as vezes eles fazem essas brincadeiras, mas são só brincadeiras, eles nunca se bateram de verdade, por que eles são irmãos e irmãos não brigam assim, eles se amam e agora você vai ser a irmã deles, então você não precisa se preocupar por que eles nunca vão machucar você... – ela levanta os olhos pra mim – Você gostou deles, não gostou? – ela balança a cabeça confirmando – Eles também gostaram de você... Eu sei que você levou um susto, mas não precisa ter medo deles, ninguém aqui vai machucar você... Você acredita em mim? – ela balança a cabeça – Você confia em mim? – ela abre um sorriso – Eu nunca mais vou deixar ninguém machucar você, eu prometo! – então tem uma batida na porta.
— Pyter – reconheço a voz da Keyse – Veio todo mundo pra cá...
— Ok, nós já vamos sair – eu falo e olho pra Iris – Tem algumas pessoas lá fora que querem muito te conhecer... São meus pais, meus irmãos, eles são bem legais e ficaram muito feliz quando eu disse que você ia morar com a gente... Então, se você quiser, eu ia gostar muito que eles te conhecessem...
— E se eu não quiser?
— Então eu saio sozinho e peço pra eles irem embora e outro dia você conhece eles – ela me analisa por uns segundos e parece pensativa.

— Eles não vão falar pro Phill?
— Não, ninguém vai falar pro Phill, ele tá muito longe daqui e todo mundo que tá aqui é nosso amigo
— Promete?
— Eu prometo!
— Então eu quero – eu sorrio e tiro ela do meu colo e me levanto, coloco a toalha presa ao lado da porta e então pego ela no colo, ainda me impressiono com o quanto ela é leve, mas deixo um sorriso escapar quando ela passa os bracinhos pelo meu pescoço e seu rosto fica perto do meu.
— Eles são muito feio, então se assusta tá? – eu falo fazendo careta e ela ri, uma risada que faz meu coração se aliviar, eu coloco a mão na maçaneta da porta e olho pra ela – Posso? – ela confirma – Tem certeza? – ela balança a cabeça mais forte ainda e eu sorrio e beijo sua bochecha, ela ri e beija a minha também, então eu abro a porta e saio, Keyse está no corredor e me libera um sorriso ansioso.
— Você tá bem? – ela pergunta pra Iris que concorda sem se desgrudar do meu pescoço.
— Vamos? – eu ofereço a mão pra Keyse e ela sorri e segura, então os cinco passos até a sala parecem gigantes, as vozes como sempre são agitadas, risadas e palavras sendo ditas juntas, nós já estamos acostumados, mas Iris me olha meio assustada.
— Pessoal! – eu chamo a atenção deles, então se viram pra nós e as vozes vão diminuindo até pararem.
— Oh meu Deus! Eu tenho mesmo uma nova neta – papai é o primeiro a sair do lugar e vir até nós,ele se aproxima e sorri todo bobo – Eu sou o Peeta, mas pode me chamar de vovô...
— Você vai assustar a menina! – mamãe reclama já se aproximando também, então ela olha pra Iris como se tivesse impressionada, seus olhos se enchem de uma emoção que eu vi raras vezes – Oi?
— Oi! – Iris fala ainda meio desconfiada.
— Meu nome é Katniss!
— Meu nome é Iris!
— É um nome lindo!
— O seu também – mamãe sorri encantada.
— AI MEU DEUS, que vontade de apertar essa menina – tia Grace como sempre é a mais animada e isso assusta um pouco a Iris que aperta os braços ainda mais em volta do meu pescoço.
— Mãe, você tá assustando ela – Keyse reclama e ela pede desculpas.
— É que você parece uma princesa de tão linda...
— É que eu tomei banho e tinha creme de morango – eu não consigo segurar o riso e Keyse também não.
— Ah então deve ser isso...
— Na verdade, eu acho que você já era uma princesa linda antes do banho mesmo – Pérola fala e Iris sorri, mas nega.
— Eu tava toda suja. Tinha folha no meu cabelo!
— Posso te contar um segredo? – ela finge sussurrar – As folhas só caem na cabeça de quem é uma princesa –Iris parece meio desconfiada e me olha esperando confirmação, eu dou de ombros e depois faço sinal que ela é doida e isso faz ela rir, então aos poucos todo mundo vai cumprimentando e se apresentando, ela as vezes parece meio assustada com tanta gente, mas sorri na maioria das vezes, porém se recusa a ir para o chão e quando Keyse para ao meu lado, ela praticamente se joga no colo da Keyse que abre o sorriso mais orgulhoso que eu já vi, as duas cochicham algo, Keyse ri e então pede licença e passa por mim, elas sobem as escadas e eu fico com eles, até que batem na porta, eu vou atender e é o Dr Herman, Pietro e Luiza se despedem por que vão trabalhar, Pérola e Louise também, Ryan vai para o galpão e aos poucos a casa esvazia, ficamos apenas meus pais, o advogado e os meninos, eu vou com Dr Herman e meu pai para o escritório e os meninos ficam minha mãe enquanto Keyse e Iris não descem. Fecho a porta do escritório, nos sentamos e então eu começo a contar tudo que aconteceu desde a hora em que atravessei a cerca chegando na floresta, até agora, não esqueço nada, conto tudo que ela me disse, falo das marcas no corpo dela, de como ela era castigada, do medo que ela tem dele acabar conseguindo ela de volta e de como eu vou fazer de tudo pra ele nunca mais encostar nela, eu conto sobre a decisão de pegar a guarda dela e respondo todas as perguntas dele.
— Eu não acredito que teremos algum problema pra tirar a guarda dele, por enquanto nosso maior problema é encontra-lo, depois disso, eu posso garantir que nenhum juiz em sã consciência negaria a guarda dela a vocês... – por mais aliviado que eu esteja em ouvir isso, ainda tem uma coisa que preciso garantir.
— Eu quero ele preso! – falo sentindo minhas veias pulsarem, ele me olha e concorda.
Keyse bate na porta e entra no escritório, então ele começa a nos dar todos os passos que devemos seguir, devemos deixar tudo preparado e ele nos orienta a levarmos a entrarmos com a denuncia, ele conta como será toda parte formal, ele irá nos auxiliar com tudo e garante que deixarão ela conosco mesmo enquanto estiver rolando o processo, papai se encarrega de pedir alguns favores para os conhecidos dele e mais uma vez agradeço por essa influência que nosso sobrenome causa, ele diz que provavelmente Iris vai ter que fazer um exame de corpo de delito pra poder anexar ao processo e se encarrega de ver tudo isso, depois de quase uma hora e meia de conversa saímos do escritório e começamos a correria para agilizar tudo, deixo Keyse em casa e vou com ele para a delegacia, não demoramos a ser atendidos e então relatamos tudo ao delegado e iniciamos a denuncia, assim como ele disse o delegado pede um exame de corpo de delito que será feito ainda hoje no hospital, quando ele fala que uma assistente social irá buscar ela lá em casa, eu já ia me exaltar, mas Dr Herman é mais rápido do que eu e usa todo seu conhecimento e táticas, então o delegado concede, me faz assinar o depoimento e um termo de responsabilidade, nós saímos da delegacia e enquanto ele vai até o Edificio da Justiça correr alguns papéis, eu vou pra casa pegar a Iris, quando chego lá os meninos estão brincando no quintal com o boldo.
— Cadê a Iris? – pergunto estranhando ela não estar perto deles.
— Ela e a mamãe foram até a praça e compraram umas roupas, agora estão lá em cima... – eu sorrio já imaginando todas as sacolas, entro em casa e subo correndo, quando chego na porta do quarto, paro vendo a cena, Iris está em pé em cima da cama girando e rindo enquanto olha para o vestido rosa e com flores que se move, Keyse também ri e bate palmas.
— OLHA! EU TENHO UM VESTIDO – Iris fala animada quando me vê.
— E você tá ainda mais linda – eu vou até ela e seguro sua mão pra que ela dê mais um giro.
— A gente compramo um monte de coisa – ela fala impressionada apontando para as cinco sacolas no chão.
— Isso não foi nem o começo – Keyse me avisa sorrindo animada.
— EU TENHO UM TÊNIS TAMBÉM – ela fala e pula da cama, indo até uma das sacolas, ela abre a caixa e mostra o tênis que também é rosa.
— Esse tênis é lindo! – eu falo e ela sorri toda boba – Eu acho que você pode usar ele agora, por que a gente vai ter que sair – ela me olha ansiosa – Nós temos que ir no médico! – ela para na hora.
— Minha mão já tá boa – ela fala meio nervosa.
— Não é só pela sua mão... – eu me abaixo na altura dela – Eu fui falar com as pessoas que vão deixar você morar aqui e pra você ficar tem que ir lá no hospital pra fazer alguns exames... – ela nega.
— Eu não vou! – olho pra Keyse e ela também se abaixa pra falar com ela.
— Nós vamos com você, são só alguns exames rápidos.
— Eu não vou – ela fala mais firme e solta o tênis no chão.
— Olha pra mim, eu fiz uma promessa não fiz? – ela concorda.
— Você disse que eu ia ficar aqui.
— E vai! Mas você precisa me ajudar e ir no médico, ninguém vai te tirar daqui, mas nós precisamos ir lá...
— O Phill vai saber!
— Você não precisa mais ter medo. Você está com a gente agora – Keyse garante e ela ainda parece indecisa – Vamos eu, você, o Pyter e os meninos, ninguém nem vai chegar perto de você, só os médicos... – ela pensa por alguns segundos.
— Promete? – ela olha pra mim.
— Eu prometo! – mesmo parecendo não gostar da ideia, ela aceita quando Keyse lhe estende a mão, calçamos o tênis nela e descemos, os meninos entram no carro junto com a gente e vamos para o Hospital com os papéis que precisava mostrar, uma assistência social se apresenta assim que contamos por que viemos e então somos levados a um outro andar do shopping, Iris está no meu colo com o rosto enscondido no meu peito e se recusa a olhar pra qualquer pessoa, aguardamos numa sala e os meninos aproveitam pra brincar e distrair ela, quando nos chamam, eles aguardam na sala de espera e eu e Keyse entramos junto com Iris, ela não aceita quando um enfermeiro tenta tirá-la dos meus braços e eu converso com ela, só então ela concorda, eles tiram sua roupa, deixando-a apenas de calcinha e o olhar de choque deles é impossível de não ser visto. O exame todo dura quase 30 minutos e quando saímos da sala os meninos correm até nós e voltam a tentar animar ela e conseguem em menos de dois minutos, ela vai pro colo do Lucca e ri alto quando ele conta que o Theo levou uma injeção uma vez e gritou tanto que todo o Hospital parou, nós saímos do hospital na hora do almoço e vamos direto para a casa dos meus pais, almoçamos com ele e mal acabamos quando Dr. Herman aparece, ele conta que já localizaram o Phill e que ele já entrou com o pedido de urgência de caso, papai conta que ligou para o promotor amigo dele e ele garantiu que o processo correrá rápido, eu relaxo um pouco mais depois dessas noticias e quando voltamos pra nossa casa sinto que logo logo tudo isso se resolverá, então devemos começar a nos adaptar as mudanças, pra isso eu junto os meninos e começamos a arrumar o quarto, Keyse liga pra mãe e pede que ela traga algumas latas de tinta, eu falo com papai e ele se anima quando peço pra ele fazer algum desenho na parede do quarto de hospedes e antes que eu pisque de novo, ele já está com todo seu material entrando no quarto com várias ideias e no fim do dia o quarto que antes era todo branco, agora está colorido, com duas paredes rosa, uma lilás e a outra cheia de flores, corações e balões, quando mostramos o quarto pra Iris ela não consegue segurar um gritinho de alegria e nós rimos.
— Você gostou? – papai pergunta e ela está de boca aberta, olhos arregalados e parece em choque.
— É a coisa mais linda de todo o mundo – seu exagero é ingênuo e faz todos rirem novamente.
— Esse é o seu novo quarto – ela me olha e começa a rir.
— Eu tenho um quarto – ela pula comemorando.
— Mas hoje você ainda dorme no quarto dos meninos, por que o cheiro tá um pouco forte – isso não diminui sua animação, ela continua pulando animada.
Depois da alegria do quarto, nós descemos e enquanto os meninos vão estudar, ela fica brincando com o Boldo, eu e papai conversamos um pouco e Keyse faz o jantar.
Na hora de dormir ela se deita na cama do Lucca dessa vez e ele no colchão e dessa vez o brilho nos olhos dela antes de dormir é contagiante.
— Amanhã eu posso dormir no meu quarto né?
— Pode! Amanhã o quarto é todo seu – ela ri e esconde o rosto nas mãos, eu também rio, faço cócegas na sua barriga, beijo sua testa e saio, Keyse vai dar boa noite pra eles e eu entro no banho.
Dessa vez o cansaço fala mais alto e eu consigo dormir a noite inteira, quando acordo Keyse está saindo da cama, eu a puxo de volta e ela ri.
— Bom dia – falo com a boca já próxima da sua.
— Bom dia – ela fala sorrindo antes de me beijar – Eu pensei em tirar a manhã pra compras... – eu acabo rindo.
— Claro que pensou... – eu lhe dou um beijo rápido e a libero dos meus braços – Eu tenho que encontrar o Dr. Herman as nove... – aviso e então saímos da cama e começamos a nos organizar, eu vou pro banheiro primeiro enquanto ela vai acordar os meninos, quando saio eles já estão vestindo o uniforme e Keyse e Iris estão na cozinha, não consigo evitar o sorriso quando vejo as duas rindo, Iris está com um vestido cheio de coração e quando me vê ela abre um sorriso.
— A gente vai comprar mais coisa – ela fala com a mesma animação que a Keyse.
— Você já está fazendo a cabeça dela – eu tento parecer sério mas sorrio e Keyse dá pulinho animado, então os meninos descem, pegam uma fruta cada e bebem meio copo de leite já apressados, eles nos beijam e beijam a Iris.
— Eles vão onde?
— Na escola! E daqui a pouco é sua vez – Keyse fala e ela sorri animada – Mas hoje, nós vamos as...
— COMPRAS – as duas falam juntas e eu acabo rindo.
Elas vão escovar os dentes e saem junto comigo, deixo elas na praça e vou ao encontro do Dr. Herman, em seu escritório.
— Boas e más noticias! – ele anuncia e espera eu me sentar – Já temos a ficha completa do pai dela, Phill Brenton, 35 anos, perdeu a esposa quando a filha nasceu e então já foi pego algumas vezes por perturbação, brigas e desrespeito a autoridade, mas nunca ficou preso, no máximo uma noite na cadeia...
— Não dessa vez! – ele concorda.
— Essa é a noticia boa... O telefonema do seu pai fez toda diferença, a audiência será amanhã, agora mesmo devem ter policiais indo notificar ele pra comparecer ao Edificio da Justiça daqui, a denuncia contra ele já está em ativa e o corpo de delito confirmando tudo que foi dito, não tem como você perder essa e nem ele sair livre – eu respiro mais aliviado – Só tem um problema... Ela vai ter que depor...
— O quê?
— Eu sei, ela é uma criança, mas ela precisa dizer que quer ficar com vocês...
— Não tem outro jeito?
— Infelizmente não! – eu respiro fundo e começo a pensar em como contar isso pra ela, mesmo assim saio do escritório mais aliviado.
Ligo pra Keyse e encontro elas na praça, são tantas bolsas que quase lotam a parte de trás do carro e ela e Iris parecem explodir de tanta alegria.
— Parece que você achou uma parceira a altura – eu falo e Keyse sorri animada.
Quando chegamos em casa elas vão guardar as coisas e eu aproveito pra adiantar algumas coisas, quando terminam, Iris fica vendo tv enquanto nós dois conversamos, eu conto a ela tudo que o Dr. Herman disse e vamos juntos falar com a Iris.
— Eu tenho uma coisa muito importante pra falar com você – ela me olha curiosa – Você quer mesmo ficar aqui, não é? – ela sorri.
— Muito!
— Então nós vamos precisar da sua ajuda... Amanhã, nós temos que encontrar com algumas pessoas que vão me dar o papel que deixa você morar aqui pra sempre – seus olhos brilham de animação – Mas pra isso eles querem que você diga se quer ou não ficar com a gente...
— Eu quero muito! – Keyse sorri.
— Eu sei, mas eles precisam ver você e escutar isso...
— Tá bom, eu falo! – ela dá de ombros sem problemas – Eu posso ir com o vestido azul? – ela pergunta olhando pra Keyse.
— Claro que pode – ela comemora levantando os braços animadas.
— Mas eu preciso te contar uma coisa – ela me olha ainda sorrindo – O Phill vai estar lá! – seu sorriso desaparece, o marrom da sua pele parece sumir e ela arregala os olhos.
— Você prometeu!
— Eu sei, eu sei que prometi e ainda vou cumprir...
— Você disse que eu não ia ver mais ele – ela começa a tremer e lagrimas descem do seu rosto.
— Ei, olha pra mim... Eu vou estar com você! Nós dois estaremos! – seguro nas mãos dela e ela puxa as mãos.
— Você prometeu!
— Ele não vai te fazer nada...
— ELE VAI ME LEVAR EMBORA DE NOVO – ela grita me empurrando – VOCÊ PROMETEU! VOCÊ PROMETEU... EU ODEIO VOCÊ!
— Eu vou cumprir, eu juro que vou, ele vai tá lá com os guardas, não vai chegar perto de você, eu juro, mas se você não for comigo, eles vão mandar você pra outro lugar, onde tem outras crianças, vai ser longe do Phill mas vai ser longe da gente também – ela se encolhe no sofá, esconde o rosto entre as pernas e começa a chorar, ela treme, soluça e chora cada vez mais, eu olho pra Keyse sem saber o que dizer.
— Me deixa falar com ela... – me dói ver ela sofrer assim e dói mais ainda sair da sala, mas eu saio.
Vou pro lado de fora da casa e encaro o céu.
— Aconteceu alguma coisa? -  a voz é preocupada, me viro e vejo Pérola se aproximando, ela parece meio incerta, mas vem até a mim, solto o ar cansado.
— Eles localizaram o Phill, a audiência é amanhã, Dr. Herman está confiante, mas eles precisam do depoimento da Iris, ela precisa dizer que quer ficar aqui...
— E ela não quer? – ela parece confusa.
— Quer! Mas o Phill vai estar lá e eu prometi a ela que nunca mais veria ele, então agora ela está lá dentro me odiando... – Pérola me dá um sorriso confiante e para do meu lado.
— Eu vi o jeito que ela olhou pra você, o jeito que ela estava agarrada no seu colo, a confiança que ela já tem em você...
— Tinha.
— TEM! – ela garante – Pyter, ela tem 6 anos, ela é uma menina, uma criança que ainda nem teve tempo de ser criança, ela já passou por mais coisas que todos nós juntos, ela sofreu mais do que eu consigo imaginar e nem me forçando muito consigo pensar em como está a cabeça dela, mas ela encontrou você, ela confiou em você, um cara que ela nunca tinha visto na vida, ela veio pra cá com você e ela te escolheu, assim como você escolheu ela, o seu sangue pode não correr dentro dela, mas o que eu vi ontem, o modo como vocês estavam juntos... Ninguém diria que vocês não são pai e filha... Se ela está confusa? É claro que está. Ela nunca teve em quem confiar, você só precisa ter um pouco de paciência, por que o resto eu sei que você já tem, vocês serão ótimos pais pra ela, assim como pros meninos... – ela me dá um sorriso confiante e aperta meu ombro como se pra me dar força.
— Desde o aniversário da Bella, a Keyse tinha colocado na cabeça que queria ter outro filho, uma filha na verdade e eu achava que era uma loucura, aliás, eu tinha certeza que era uma loucura... Eu tinha ido na mata justamente pensar em como contar pra ela que eu não queria isso... E ela apareceu – um sorriso escorrega quando me lembro de quando vi os olhos dela pela primeira vez – E foi como se eu ficasse pronto na hora – Pérola sorri e encaixa o braço no meu, encostando a cabeça no meu ombro.
— Se você for como pai dela, metade do irmão que você é pra mim ou do tio que é pra Loui, então ela é uma garotinha de sorte – eu olho pra ela e seu sorriso é sincero, ela beija minha bochecha e volta com a cabeça para o meu ombro – Mas eu ainda te acho um idiota! – eu acabo rindo.
— Pelo menos eu não invento namorados invisiveis pra minha própria filha – ela ri.
— Você ficou todo irritadinho, foi muito engraçado... Eu gostaria de ter levado por mais alguns meses, mas foi bem divertido – ela fala ainda rindo e eu faço uma careta.
— Pyter! – Keyse me chama, paro de rir e olha pra ela que está parada na porta de casa.
— Vai lá! Tenha paciência – Pérola fala e eu vou até a Keyse, paro na sua frente, mas sem coragem de perguntar nada.
— Ela quer falar com você – ela abre a porta um pouco mais e eu entro, caminho até a sala e Iris está sentada com os joelhos dobrados e junto ao corpo, o queixo apoiado neles e com os olhinhos um pouco inchados devido ao choro, mas agora estão sem lagrimas, eu me aproximo do sofá e me ajoelho a frente dela, que fica apenas me olhando.
— Eu não menti pra você, eu ainda prometo que ele não vai te fazer mais nada... – falo sem saber como fazê-la acreditar em mim.
— Eu não odeio você! – ela fala e sinto uma espécie de alivio, um sorriso escapa do meu rosto.
— Não? – ela nega.
— Eu gosto de você! – me permito sorrir de novo, olho pra Keyse que está atrás dela no sofá e ela também sorri – Eu odeio o Phill! – ela completa e meu sorriso se fecha, mas concordo com ela, então ela abaixa os joelhos, se arrasta pra mais perto de mim e olha nos meus olhos – Eu não quero ir embora daqui.
— E você não vai! Essa é a sua casa agora... Eu só preciso que você fale isso para algumas pessoas... – ela respira fundo.
— Eu falo! - eu sorrio.
— Eu posso te dar um abraço? – em resposta ela apenas se joga nos meus braços e eu a mantenho apertada em mim, olho pra Keyse e vejo que ela parece emocionada.
Depois que resolvemos esse problema, eu deixo elas em casa e vou para o galpão, Ryan já iniciou um dos treinos e eu me junto a ele, fazemos o horário normal dos treinos e já está de noite quando terminamos e fechamos tudo, eu conto pra ele sobre a audiência amanhã e ele confirma que estará lá e me dá toda força que eu sempre preciso, então vou pra casa, os meninos já estão lá e ouço as risadas antes mesmo de abrir a porta, quando entro vejo Lucca, Theo e Iris quase rolando no chão de tanto rir do Boldo que está tentando tirar uma roupa colorida que colocaram nele, Keyse tenta não rir, mas falha algumas vezes.
— Eles até largaram o vídeo game pra isso – ela fala achando graça e eu acabo rindo também, Boldo se joga no chão e fica se esfregando pra todos os lados tentando arrancar a roupa e se irrita quando não consegue, então ele corre de um lado pro outro e depois se joga no chão novamente como se tivesse desmaiado, eles riem ainda mais e eu rio pela alegria deles, até que Boldo já está muito cansado e o Theo decide tirar a roupa dele e acaba recebendo várias lambidas na cara de agradecimento, eu subo pra tomar banho e quando desço eles já estão me esperando pra jantar.
— Eu ajudei a fazer a comida – Iris fala toda orgulhosa.
— Ah então deve tá uma delicia... – eu falo já fazendo uma cara de satisfação.
— Tomara que você seja igual a mamãe e não igual o papai – Lucca fala e eu faço uma careta pra ele.
Nós jantamos e tirando a Keyse, todos repetimos, eles estão satisfeitos e depois de ajudarem a limpar a cozinha nós subimos pra dormir cedo por que amanhã o dia será longo, os meninos vão direto pro quarto já brigando sobre quem irá usar o banheiro primeiro e eu e Keyse levamos Iris para o quarto dela e ela solta minha mão e corre se jogando na cama numa alegria contagiante.
— Tem que escovar os dentes antes – Keyse fala e ela faz uma careta, mas logo pula pra fora da cama e corre até o banheiro que também tem no quarto dela, Keyse vai logo atrás dela e enquanto isso eu pego abro uma das gavetas do guarda roupa e pego um dos muitos pijamas que elas já compraram, preparo a cama pra ela dormir e quando elas saem do banheiro Keyse a ajuda colocar o pijama que é cheio de coroas e corações, ela fica toda boba e se joga na cama sorrindo, nós beijamos a testa dela e deixamos o abajur ligado, já ia encostando a porta quando ela pede pra ficar aberta, concordo e então passamos no quarto a frente do dela, bato uma vez e abro a porta, os telefones que estavam acima do cobertor são rapidamente escondidos.
— Nossa, eu realmente não vi nada – falo com ironia e eles riem, aponto pra mesa que tem na parede a frente da cama, eles reviram os olhos, empurram os lençóis, saem da cama e colocam os celulares em cima delas, depois voltam pra cama.
— Tecnicamente você sabe que a gente pode voltar lá e pegar né? – Theo fala e eu sorrio.
— E vocês sabem que eu posso enviar algumas fotos constrangedoras de vocês para alguns amigos seus né? – eles perdem o sorriso.
— Isso é chantagem! – Lucca fala fazendo cara de decepção, Keyse ri.
— Será que vocês não podem só dizer boa noite e pronto?
— Não tem graça assim – Theo dá de ombros, eu vou até eles, beijo a testa deles e então saio, Keyse faz o mesmo.
Entramos no nosso quarto e eu me jogo sentado na cama, soltando o ar.
— Amanhã será um longo dia, melhor a gente descansar – Keyse fala e eu tenho que concordar com ela, amanhã será um dia longo, mas decisivo.
Acordo cedo e começamos um pequena correria para nos arrumarmos, os meninos faltam aula por que não abrem mão de ir na audiência, Iris amanheceu sorridente, mas quando se lembrou pra onde vamos, ela fechou o sorriso e não disse mais nada, se recusou a tomar café e nem os meninos conseguem animá-la, saímos de casa e encontramos meus pais, eles também vão pra lá, assim como Pérola, Ian e Loui, Pietro dormiu na Luiza, mas ele tinha dito que também iria, como já estamos em cima da hora, coloco eles no carro e vamos para o Edifício da Justiça, Keyse pega Iris no colo, os meninos vão ao lado dela e eu vou um pouco a frente pra falar com Dr. Herman, ele nos leva uma sala para esperarmos nossa vez, me conta que o Phill já chegou, e está falando e se esclarecendo com o juiz, ele me coloca a par de como serão as coisas e está confiante, nos deixa sozinho um pouco para resolver algo e quando olho pra Iris ela continua quieta, sem dizer nada, sentada na cadeira ao lado da Keyse, eu vou até ela e me ajoelho na sua frente.
— Você não tá sozinha – eu falo e coloco minha mão em cima das dela, ela não me olha, apenas encara nossas mãos.
— Vamos, é agora – Dr. Herman fala assim que abre a porta, Iris se levanta da cadeira e continua segurando minha mão, saímos da sala e entramos em um corredor, dois guardas vem na nossa direção e nos mostram o caminho, vejo um pequeno movimento e então o aperto na minha mão é mais forte, ela me segura com as duas mãos e tenta se esconder atrás de mim, quando olho pra ela está assustada e sua respiração forte, então quando olho pra frente novamente vejo o homem algemado entre dois guardas, ele é mais escuro que ela, tem o cabelo cortado a maquina, é alto, forte e está com uma cara séria, Lucca e Theo percebem e então se colocam um na frente da Iris, eles estão sérios, de um jeito que nunca vi antes, as mandíbulas tensas e os olhares fixos no homem a frente, eu pego Iris no colo e ela se agarra a mim já tremendo, então os guardas o arrastam para o outro lado.
— Ela não vai precisar ver ele de novo, eu pedi que fosse separado, alegando o trauma na criança, ele já deu o depoimento dele – Dr. Herman fala e eu agradeço com um breve sorriso.
Eu tenho que entrar primeiro sozinha e dar meu depoimento, a sala parece um pequeno auditório com algumas cadeiras, ocupadas por nossas famílias, íris aguarda numa pré-sala, no colo do Lucca, depois que respondo a tudo e conto o estado em que achei Iris, Dr. Herman apresenta o laudo do hospital que comprova todo o mau trato e violência que ela sofreu, eu mesmo ainda não tinha lido o laudo, então quando ele faz a leitura sinto minha pele queimar, minhas veias pulsam de ódio e náuseas, quando ele diz que foi encontrado marcas de queimaduras feita com garfos e cinzas do cigarro, na sua cabeça um corte de aproximadamente 5 centímetros foi encontrado, porém não foi possível afirmar como foi causado, além disso tem as cicatrizes espalhadas pelo corpo, provavelmente causadas por fivelas de cinto, pedaços de madeira e de próprio punho, ela foi diagnosticada com anemia e não tinha tomado todas as vacinas, o silêncio é absoluto no lugar e então o juiz pede que Iris entre, há uma pequena confusão na porta onde ela deveria entrar e então um dos guardas me chama, o juiz autoriza e eu vou até lá.
— Ela só entra se for com você – Keyse avisa, passo por ela e então pego Iris do colo do Lucca, ela se agarra em mim ainda tremendo nervosa.
— A gente vai voltar pra casa né? – ela pergunta e eu lhe dou um sorriso confiante.
— E vamos colocar uma roupa bem bonita no Boldo – ela não sorri mas se aperta ainda mais em mim, escondendo o rosto no meu pescoço, nós entramos e me posiciono no lugar indicado.
— Bom, Iris, eu preciso te fazer algumas perguntas, tudo bem? – o homem de cabelo e barba branca pergunta, ela libera apenas metade do rosto pra olhar pra ele e concorda – Muito bem, então você pode me dizer por que estava na mata? – ela me olha e eu faço sinal pra ela falar, ela levanta o rosto totalmente dessa vez.
— Eu fugi!
— Por que?
— O Phill me batia e eu não quero mais apanhar, ele é muito ruim comigo, ele disse que queria que eu morresse e eu não queria morrer... – sua sinceridade consegue chocar até mesmo ele, que balança a cabeça absorvendo o que ela disse.
— Então você encontrou o Pyter lá na mata? – ela concorda e agora libera um pequeno sorriso e me olha.
— Ele tinha um arco grandão e acertou todas as arvores, eu tava escondida e ele me viu e achou que eu era um lobo – eu sorrio também – Ele lavou minha mão e me levou pra casa dele, ele também colocou remédio no meu machucado – ela mostra a mão ainda com curativo – Pra eu não morrer de flexão – o homem parece confuso e eu acabo rindo antes de explicar.
— Infecção! – ele assente tentando não sorrir.
— E foi o Phill quem fez esse machucado em você? – ela nega.
— Eu machuquei na arvore, eu tava dormindo no alto por que tem muito bicho de noite aí quase que eu cai e me cortei – ela explica e ele assente novamente.
— E o que você está achando de morar lá?
— É muito legal! Tudo lá é legal, eu tenho até um quarto com uma cama minha e a parede é pintada de flor, foi o Peeta que pintou – ela aponta pra ele que está sentado junto com os outros – Os gêmeos são legais também eles me ensinaram a jogar vídeo game mas eu nunca ganhei e a gente colocou uma roupa no Boldo e ele ficava correndo querendo tirar – ela ri se lembrando e eu também – A Keyse parece uma princesa e a gente comprou um monte de coisa em um monte de loja e ela disse que a gente pode voltar lá de novo...
— Então você gosta de ficar lá?
— Gosto!
— E gostaria de continuar lá?
— Pra sempre! – ela responde sem precisar pensar, eu sorrio.
— Muito obrigado, Iris, você é uma menina muito esperta – ele diz e ela sorri, somos dispensados e levados até uma outra sala para esperarmos o resultado, nossos amigos e família, aparecem e nos dão força, todos estão confiantes e Iris está mais calma com todos juntos, ela até ri e aceita sair do meu colo enquanto fica junto do Pietro e da Louise, até que cerca de uns 30 minutos depois somos chamados para o resultado, nós voltamos para a sala e depois de ler uma folha inteira eu quase sinto meu coração explodir quando ele diz que a guarda de Iris passa a ser minha e da Keyse, ela me abraça e sorri animada, Iris está entre nós e me olha curiosa.
— Pronta, agora você não sai mais de perto da gente – eu falo e ela abre um sorriso largo.
O homem continua e avisa que a guarda é permanente não tendo possibilidade de anulação, além disso Phill será condenado, ele já está preso e continuará assim, perdendo qualquer direito que tivesse sobre Iris, assim como visita ou qualquer tipo de ligação e mesmo não sendo o ambiente certo nós comemoramos e quando saímos do Edificio da Justiça dessa vez carregamos nossa filha nos braços, agora legalmente e sem nenhum medo de perde-la.
Nós vamos todos para nossa casa, todos animados e comemorando, Iris leva Loui e Luiza pra conhecer o quarto dela e todas as coisas que compraram, papai e mamãe me abraçam ainda emocionados, Ryan ri e me zoa dizendo que agora sim eu saberei o que ele sofre sendo pai de menina, a alegria na casa é contagiante e eu não consigo parar de agradecer por ter entrado na mata aquele dia e ter encontrado-a, por isso não reclamo de passar do resto do dia comemorando, muito menos quando vejo a alegria da Iris em estar aqui conosco e eu tenho certeza que nada poderia ser mais certo do que isso.
Papai vai pra cozinha e com ajuda faz algumas das suas especialidades e então temos uma mesa cheia de pães, bolos, sanduiches e doces, todos estão atacando a mesa sem parar, então percebo que Keyse não está aqui, já ia chamar por ela quando Iris vem correndo da sala falando com alguém.
— É a Keyse? – pergunto e ela concorda rindo de alguma outra coisa – Chama ela pra comer, se não vai ficar sem – então o que ela faz a seguir consegue me deixar sem reação, ela para no caminho e na maior naturalidade do mundo se vira pra trás e fala.
— Ô mãe, o pai disse que se você demorar vai ficar sem nada – as vozes diminuem até tudo fica em silêncio, eu não me mexo por que simplesmente quero congelar esse momento pra sempre, quando olho pra porta cozinha, Keyse está parada com os olhos cheios de lagrimas, tão emocionada quanto no dia em que pegamos os meninos no colo pela primeira vez, Iris parece não perceber e continua saltitando animada enquanto pega pão de queijo no prato em cima da mesa, Keyse corre até a mim e me abraça apertado, eu faço o mesmo com ela e quando se afasta de mim ela está rindo.
— É incrível como você sempre consegue me dar exatamente o que eu preciso – ela fala e eu sorrio.
— É incrível você sempre saber do que eu preciso antes mesmo que eu perceba – ela sorri e então nos abraçamos de novo. Quando olhamos pro lado Iris estão no colo do Pietro rindo enquanto os outros estão comendo, rindo e falando alto e juntos como sempre e aqui no nosso meio ela parece simplesmente que sempre fez parte disso e eu sinto que estamos ainda mais completos e felizes do que antes.


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