Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 36
As piores horas da minha vida




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Não falo nada no caminho até a delegacia, logo sou levado para uma sala pra aguardar o delegado, fico sozinho por cerca de 15 minutos então um outro policial aparece, esse eu conheço, ele é pai de um dos meus alunos.
— Isso é mentira, ela armou pra mim... – ele abaixa a cabeça e toca meu ombro pra que eu siga o corredor – Eu juro que não fiz nada, quando eu cheguei lá...
— Eu sinto muito, não posso te ajudar, só conte sua versão ao delegado – ele fala e bate numa porta, então a abre e me manda entrar, o delegado está sentado em sua cadeira e me olha com um jeito meio sem graça.
— Pyter! – eu também o conheço, a filha dele treinou comigo por uns anos até decidir seguir a carreira na música, ele me aponta a cadeira e eu me sento.
— Eu posso explicar...
— Eu espero que sim, a acusação é... Grave!
— Eu nem encostei nela, eu... Ela me chamou pra ir até lá por causa de uma doação pro projeto, ficou faltando assinar um documento, então eu fui, quando cheguei lá ela simplesmente ficou de lingerie e tentou me convencer a ter algo com ela, eu não quis, ela me atacou e então eu sai. Foi só isso! – ele se joga pra trás na cadeira e coça a cabeça parecendo pensativo.
— E por que você não se apresentou na recepção quando chegou? – quando ele pergunta então eu entendo, eu cai numa armadilha.
— Ela me pediu pra passar direto – ele balança a cabeça concordando mas não parece realmente acreditar – Ela me ligou, disse que tinha muitos paparazzis...
— E nenhum deles viu você chegar...
— Eu... Eu passei sem chamar a atenção, pelo canto...
— Escondido?
— Sim, mas ela pediu pra não chamar a atenção...
— Alguém estava com você na hora do telefonema?
— Não!
— Alguém sabe que você estava indo lá a pedido dela? – esfrego o rosto sabendo que estou realmente encrencado.
— Não, ninguém...
— Nem sua esposa? – é então que eu tenho um estalo.
— Eu preciso ligar pra casa!
— Depois do depoimento...
— O senhor não entende, preciso ligar agora, minha esposa, ela tem um evento importante hoje...
— Você não vai fazer nenhuma ligação agora, sugiro que responda minhas perguntas mais rápido possível, então... Ninguém sabe do telefonema, ninguém sabe que você foi até lá...
— Ninguém!
— E o documento que você foi assinar?
— Ficou lá, mas ela já deve ter rasgado ou sei lá o quê...
— O senhor não tem nenhuma testemunha da sua versão...
— E ela tem? – pergunto meio ríspido demais.
— Sim, ela tem! – ele responde firmemente – O advogado garantiu que não tinha documento algum pra assinar e a recepcionista disse que tentou impedi-lo de subir por que a Senhorita Lancaster não queria receber ninguém...
— MENTIRA! – eu grito e fico em pé.
— É melhor você se acalmar! – ele avisa e eu respiro fundo – Eu não posso ignorar isso e deixa-lo sair sem nenhuma outra prova além da sua palavra...
 - Você me conhece...
— Eu conheço a maioria dos presos que passam por aqui, mas infelizmente as pessoas conseguem nos surpreender...
— Eu sou inocente!
— Todos eles dizem isso...
— Ela armou pra mim! – ele abaixa a cabeça e parece respirar fundo, mas quando me olha está sério.
— Eu sinto muito por isso, eu admiro tudo que você faz por essas crianças, mas... – ele aperta um botão no telefone que está na mesa e a porta se abre, olho pra trás e dois policiais entram – Coloquem na cela!
— O QUÊ? Isso não é possível! Eu não fiz nada!
— Pyter, não torne isso mais difícil do que já é...
— Isso é um erro!
— Levem-o – ele avisa um deles pega meu braço, eu me esquivo.
— Eu tenho direito a um telefonema. É meu direito, não é camaradagem... – ele me encara e manda o policial me soltar, pego o telefone e vira pra mim.
— Você tem 3 minutos pra falar e se ninguém atender não posso fazer nada... – eu não preciso pensar, apenas digito os números, demora apenas um toque e ele atende.
— Tio Benny... Sou eu, Pyter, presta atenção, você precisa se trocar agora e ir pro evento com a Keyse, ela já deve ter saído de casa, mas você só precisa se apresentar como pai e acompanhante dela...
— Eu achei que você fosse...
— EU não posso, estou no meio de algo que não posso parar, mas pega um terno com meu pai ou um dos meus, tem o smoking no armário, apenas pegue e vá até lá, não deixa ela ficar lá sozinha, eu explico tudo depois, só vai AGORA – o delegado faz sinal do tempo – Vai até ela – desligo e solto o ar torcendo pra que ele chegue a tempo.
— Você deveria ter ligado pros eu advogado... – ele avisa e faz sinal pra que os policiais me levem, dessa vez não resisto, eles ficam de cada lado meu e eu sou levado para um corredor, andamos um pouco e chegamos ao fundo da delegacia, a cela já tem um homem e eu entro e me sento na cama que está desocupada, os policias trancam a porta e saem.
— Pyter? – o homem me reconhece e eu levanto a cabeça pra olhar, ele já é um senhor e tem alguns bons cabelos brancos , mas não o reconheço – Tá aí, a ultima pessoa que eu imaginei encontrar aqui... – eu o ignoro e me deito na cama olhando pra cima sentindo minha cabeça a ponto de explodir.
Os minutos parecem horas e as horas parecem uma eternidade, não consigo nem ao menos respirar sem sentir minha cabeça latejar, meu corpo está tenso e sinto raiva, ódio, frustação e uma sensação gigante de ter sido um grande imbecil, eu nunca devia ter ido até lá sozinho, nunca devia ter ido até lá na verdade, nunca deveria ter mentido pra Keyse, nunca deveria ter ignorado tudo que ela me disse. Eu passo a noite inteira em claro, não consigo dormir nem por um minuto e isso só faz minha cabeça doer mais ainda, quando amanhece vejo o pequeno brilho do dia pela pequena janela no canto superior, fecho os olhos tentando acordar desse pesadelo mas quando abro vejo apenas um policial parados na porta da cela, ele traz uma carrinho com duas bandejas, abre a cela e as coloca no chão, o homem que já estava aqui, pega uma delas assim que o policial sai, eu apenas continuo deitado encarando a cena, a bandeja tem um pão, uma banana e um copo descartável com algo que parece café.
— É melhor você comer, ninguém fica em pé sem comer... – o homem avisa já comendo o pão dele.
— Eu não planejo ficar em pé, esse colchão é ótimo – ele ri.
— Senso de humor é bom! Quer dizer, é só o que nos resta né – ele aponta em volta e eu não digo nada – Se você não pegar eu vou pegar pra mim...
— Fique a vontade – mal termino de falar e ele avança e pega minha bandeja.
— Você tem que reagir – ele fala e eu não digo nada – Você não lembra mesmo de mim, né?
— Desculpa minha memória não é minha prioridade no momento – ele ri novamente.
— Eu sou o Paulo, pai do Cláudio – então eu me lembro, nós nos vimos poucas vezes, mas sim, esse é o pai do Cláudio, eu sabia que ele tinha sido preso depois de ficar tão bêbado que invadiu a casa de um policial pra procurar por mais garrafas de aguardente, mas tinha me esquecido disso completamente, antes que eu possa dizer algo um policial aparece e começa a destrancar a cela.
— Pyter! – ele me chama e eu me levanto indo até a porta – Visita! – sinto uma frustração por não ter dito que poderia ir embora, mas o sigo sem dizer nada, volto pelo mesmo corredor que passei antes, mas dessa vez uma porta na lateral é aberta pra mim e assim que entro na sala mamãe corre até a mim e me abraça o mais apertado que consegue, ela começa a chorar e tenho que me controlar pra me manter firme.
— Como você está? Eu não acredito que você teve que passar  a noite aqui... Não minta pra mim, como você está? O que fizeram com você? – ela passa as mãos pelo meu rosto e eu seguro para acalmá-la.
— Não fizeram nada, eu estou bem! Eu prometo – ela volta a chorar e me abraçar, quando olho pra trás dela, vejo papai nos olhando, ele se aproxima e toca no ombro dela, ela me solta e se afasta enquanto eu me preparo pra ouvir o maior sermão da minha vida, mas tudo que ele faz é tomar o lugar dela e me abraçar forte, não digo nada apenas o abraço de volta.
— Eu vou te tirar daqui e nós vamos provar que isso tudo é uma armação – sua voz é firme e ele me aperta ainda mais, ficamos alguns segundos assim.
— Como vocês souberam?
— Tá passando em todos os canais – papai fala visivelmente reprovando isso – Nós viemos ontem assim que vimos, mas não nos deixaram ver você!
— Eu sinto muito! Você não tinham que passar por isso...
— Nem você! – ele afirma e me segura pelos ombros – Eu vou te tirar daqui, eu prometo!
— Eu nunca devia ter ido lá, a Keyse avi... Como ela tá? – ele e mamãe se olham.
— Ela ficou com os meninos...
— Ela me odeia!
— Ela te ama, não duvide disso – papai fala sério.
— Eu menti pra ela e expus ela e nosso casamento ao ridiculo em rede nacional, ela tem todo direito de me odiar...
— Você é a vitima aqui e nós vamos provar – ele afirma e aperta meu ombro.
— Eu sinto muito, mas o tempo acabou – o policial avisa abrindo a porta, mamãe volta a chorar e me abraça.
— Nós vamos tirar você daqui...
— Eu estou bem, não se preocupa! – ela me beija minha bochecha acariciando meu rosto, então me solta e papai me abraça mais uma vez.
— Nós estamos bem, fique bem também – ele pede e então são retirados da sala e eu sou levado de volta a cela.
Me sento na cama, apoio a cabeça nos joelhos e peço a qualquer força maior que tudo se esclareça, não por mim, por que honestamente não acho que eu mereça, mas por eles, pelos meus pais, Keyse, meus filhos, eles não merecem passar por isso.
— Ninguém acredita nessa história – a voz me desperta, Paulo está deitado mas olha na minha direção – Até eu que não te conheço direito sei que você é inocente...
— E como você sabe disso?
— Por que alguém que fez tudo que você fez pelo meu filho e por tantas outras crianças, não seria capaz dessas coisas...
— Pelo visto nem todos pensam assim...
— É o trabalho deles, mas se alguém sabe quem você é e conhece seu trabalho sabe que isso é uma armação... – eu penso em dizer a ele que isso não me ajuda em nada que eu ainda estou aqui, preso e minha família ainda está la fora sofrendo e provavelmente sendo assediada pela imprensa, mas não digo nada, apenas deixo meu corpo escorregar e caio deitado encarando a parede. Não sei quanto tempo passa mas outro policial aparece e deixa mais duas bandejas com nosso almoço, meu estomago ronca apenas de sentir o cheiro de comida, Paulo novamente é o primeiro a pegar e dessa vez mesmo sem força e sem animo pra isso, eu pego a minha, trago pra cama e encaro o prato com uma sopa rala com alguns pedaços de legumes e um de carne.
— Não é tão ruim quanto parece – ele avisa já comendo, eu pego a colher e começo a comer também, talvez minha fome esteja muito grande ou realmente não é tão ruim assim por que eu como tudo e ainda desejo mais um pouco, mas me contento em beber o copo de suco ralo de maracujá. Depois de algum tempo o policial reaparece e leva as bandejas, volto a me deitar e encarar o teto, vejo quando a noite cai e é impossível não pensar nos meninos e na Keyse, no quanto o dia de hoje deve ter sido difícil pra eles e pela primeira vez eu estou longe deles e o que é pior, eu nem ao menos sei quando vou vê-los de novo, meu peito queima de dor, saudade e culpa, eu fecho os olhos pelo que se parecem alguns segundos, mas quando os abro vejo que já amanheceu, a bandeja é deixada de novo na cela e dessa vez eu pego e como novamente, alguns minutos depois e sou chamado pra mais uma visita, me preparo pra encontrar minha mãe e sei que vou precisar de muito mais força do que tive ontem, por que eu não aguento vê –la chorando por minha culpa, mas assim que a porta é aberta e eu entro gostaria que fosse minha mãe, por que as figuras que me encaram rasgam o meu coração do jeito mais dolorido possível, eles correm até a mim e me abraçam forte, eu me ajoelho e os abraço de volta, mas o choro deles destrói minha alma e eu gostaria de sumir só pra não ter que encará-los ou fazê-los sofrer.
— O que eles estão fazendo aqui? – pergunto pro Ryan que está parado me olhando como se soubesse exatamente o que eu sinto.
— Eu não queria! Mas eles disseram que iam te ver de qualquer jeito e nós dois sabemos que eles iam acabar conseguindo, então só achei melhor que fosse desse jeito... – eu fecho os olhos e os aperto ainda mais em mim.
— Você tem que sair daqui, pai! – Lucca fala se afastando um pouco do meu peito.
— Fala pra eles que tudo isso é mentira, que aquela vaca tá mentindo... – Theo embora esteja chorando parece irritado e com raiva.
— Eu tô bem! Eu vou dar um jeito nisso, ok? – seguro minha emoção e tento parecer confiante, mas eles me abraçam de novo, olho pro Ryan e ele faz sinal pra que eu seja forte, concordo e afasto os meninos do meu peito, enxugo as lagrimas de cada um com meus dedos – Escuta bem, eu amo vocês, mais do que tudo na minha vida, mas eu não quero ver vocês aqui de novo, ok?
— Você vai ficar aqui quanto tempo?
— Eu não sei!
— Você tem que ir pra casa, com a gente, com a mamãe... – Theo fala como se fosse óbvio.
— Eu sei e eu vou voltar, só tenho que resolver isso antes...
— Você tá preso, pai, como que vai resolver? – Lucca me encara esperando resposta.
— O vovô tá me ajudando, o Ryan, tem um monte de gente que tá me ajudando...
— Eu quero você em casa, pai, eu sinto sua falta!
— A gente sente!
— A mamãe chorou de madrugada, ela achou que a gente tava dormindo, mas eu vi, ela também sente sua falta – Theo complementa e isso termina de me destruir, mesmo que não seja a intenção deles, por isso quando o policial aparece, eu apenas os abraço apertado.
— Eu vou voltar! Sejam fortes e cuidem da mãe de vocês... – eles concordam me abraçando apertado também, me levanto e Ryan vem até a mim e me abraça.
— A gente vai tirar você daqui!
— E a Keyse?
— Assim como todos nós, só quer que você saia daqui – ele garante e segura meu rosto – Fica forte! Eu to de olho neles – ele avisa e nos abraçamos de novo.
Eles se vão e eu volto pra minha cela, me jogo na cama, viro pra parede e apenas choro, choro por que saber que todas as pessoas que eu mais amo no mundo estão lá fora sofrendo por minha culpa. É torturante ficar aqui sem nada pra fazer, encarando o teto e apenas torcendo pra que todos fiquem bem e tudo que eu queria era poder voltar a atrás e nunca ter ido até aquele hotel.
— Pyter! – a voz alta me distrai, viro pra porta da cela e o policial está abrindo – Visita! – esfrego meu rosto, me levanto e o sigo, entro na sala e meu pai está com um outro homem e Pietro também está com eles, antes que eu possa dizer algo ele me abraça.
— Você não devia ter vindo aqui...
— Você não deveria nem estar aqui... – ele fala e segura minha nuca encostando a testa na minha – Você não tá sozinho! – ele garante com os olhos fixos no meu.
— Pyter, esse é o Senhor Umberto, ele é advogado, o melhor que eu consegui – papai fala assumindo a frente da conversa e assim que ele confirma isso, sei que estou realmente encrencado, mesmo quando nós tivemos problemas ao longo dos anos, nunca precisamos de um advogado e pra ele se preocupar em ser o melhor é por que eu realmente preciso de um, então concordo, nos sentamos e ele abre o jogo pra mim, como meu advogado ele teve acesso a todas as informações do caso, inclusive ao depoimento da Maya e ele não tenta parecer otimista quando me conta que ela pensou em todos os detalhes, ela afirma que eu apareci no apartamento dela, ela ficou sem graça de não me receber e então me deixou entrar, eu comecei com assuntos pessoais, dizendo que estava entediado no meu casamento, que estava procurando algo novo, ela tentou me fazer mudar de assunto, mas comecei elogiando-a e ela ficou sem saber o que fazer, então num ato de distração dela eu a puxei e a beijei, ela tentou se soltar mas eu sou muito mais forte que ela e consegui tirar o roupão que ela estava, ela me bateu pediu que eu parasse, mas eu não parava e tentei leva-la pro quarto, mas ela não desistiu de lutar e disse que iria continuar gritando até um dos paparazzis subir e eu ser desmascarado, com medo eu xinguei ela e sai do apartamento.
— Isso é ridículo! Tá na cara que é armação... Eu só fui lá por que ela pediu...
— Acontece que não tem nem sobra do documento que você disse, o advogado negou ter algo ainda assinar...
— Mas ela me ligou! – eu afirmo e agora é a vez do meu pai falar.
— A primeira coisa que eu fiz quando cheguei na delegacia ontem foi pedir pra fazerem a quebra do telefone, você recebeu uma ligação de um numero desconhecido, não tem como rastrear, provavelmente é descartável...
— Então, foi ela, ela pensou nisso...
—É, ela pensou, inclusive manteve o telefone dela ocupado durante esse tempo enquanto falava com o advogado dela... – eu afundo na cadeira, ela realmente pensou em tudo.
— Pyter, sua situação é muito delicada, não vou desistir, nós vamos tentar todas as alternativas, mas tenho que dizer que não será nada fácil, toda essa história foi muito bem pensada, a mídia não para de falar sobre isso e a maioria deles estão do lado dela, eu infelizmente não posso garantir te tirar daí tão rápido quanto gostaríamos... – eu ouço e por mais que isso me faça perder um pouco da esperança, só uma coisa importa, por isso me viro pro meu pai.
— Como eles estão? – ele aperta os lábios e toca minha mão num aperto solidário.
— Estão bem na medida do possível... A Bella está com eles, tentando distrai-los um pouco, eles não foram na escola e nem estão saindo por que... – ele parece pensar se deve ou não falar, mas quando me olha ele cede – Tem uma equipe na entrada da Vila 24 horas por dia... É como um reality... – ele dá de ombros – A Keyse é... A pessoa mais forte que eu conheço, ela não abaixou a cabeça e está cuidando dos meninos da melhor forma possível... Sua mãe só está preocupado com você e a Pérola já está cuidando de tudo pra sua festa de volta pra casa.
— Eu sinto muito! Vocês não mereciam isso, nenhum de vocês – olho pro Pietro também e ele dá de ombros.
— O que seriam dos Everdeen Mellark’s se não fosse uma boa dose de drama e aventura? – ele força um sorriso e papai também.
— Nós vamos sair dessa! – ele afirma e eu tento parecer confiante, mas quando volto pra minha cela, só peço que eles fiquem bem, o resto eu aguento.
Passar mais uma noite na cela parece menos difícil que antes e eu apenas fico deitado sem me mexer ou falar nada.
Quando amanhece, me sento na cama  e espero pelo café, mas quando o policial aparece ele não traz nenhum carrinho com bandeja, eu estranho, ele abre a porta e sorri pra mim.
— Finalmente! – ele mantem a porta aberta e faz sinal pra que eu saia.
— Visita? – ele ri e bate no meu ombro quando eu saio.
— Você tá livre, cara – as palavras parecem confusas e ele ri da minha expressão – Parece que vai ter muita gente pra te pedir desculpa – ele fecha a cela de novo, me guia pelo corredor e eu ainda estou tentando entender o que aconteceu, mas quando finalmente saio daquele corredor e vou para a sala do delegado eu sou recebido por minha mãe que dessa vez me abraça com uma mistura de choro e riso, eu aperto ela em mim.
— O que aconteceu?
— Nós conseguimos! – Ryan fala com um sorriso orgulhoso.
— Ela confessou?
— E está tudo aqui em vídeo... – o delegado mostra o pen drive.
— E em todas os canais até o fim do dia! – Ryan ri animado.
— Você está livre, todas as acusações foram retiradas... Eu espero que entenda que só estava fazendo meu trabalho – ainda estou confuso, mas aperto a mão dele e me deixo ser arrastado pela minha mãe para o lado de fora, papai aparece saindo de algum corredor com o advogado e me abraça forte, animado e meio exagerado, ele beija minha bochecha e ri comemorando.
— Pronto pra ir pra casa?
— É tudo que eu mais quero – ele ri e nós caminhamos pra fora da delegacia, algumas camêras estão nos esperando e microfones são colocados na nossa frente, eu me esquivo e vou até o carro, nós entramos no carro do papai e o advogado vai para o dele – Eu ainda não entendi, achei que não tínhamos muita chance...
— E não tinha, mas acontece que você tem o melhor amigo do mundo, um irmão razoavelmente inteligente e temos os filhos mais inteligentes que eu conheço...
— O que eles tem a ver com isso e o que vocês fizeram?
— Simples! O único jeito era se ela confessasse, então eu falei com o Pietro e ele me ajudou na ideia, os meninos, pegaram aquele helicóptero que tem uma câmera, o Pietro arrancou e conseguimos colar numa camisa minha, Bella e os meninos arrancaram uma bateria de alguma boneca e juntaram com alguma coisa de um carrinho deles, eu sei que eles conseguiram bolar um gravador pro caso da camera falhar, então eu fui até o hotel, entrei escondido e o que você vai ver agora deveria ganhar o prêmio de melhor atuação fodona da história... – ele me entrega o aparelho celular dele e da play em um vídeo.
Maya aparece rindo de algo que ele diz, então ele começa a dizer a ela que faria o que fosse pra me tirar da cadeia, por que ele precisa do projeto e isso mancharia a carreira dele também e ele faria o que ela quisesse, desde que ela retirasse a queixa, e claro como sendo o Ryan ele passou vários segundos se vangloriando do quanto era melhor do que eu, eu reviro os olhos e olho pra ele, ele ri e aponta pra tela pra que eu preste atenção, então quando ele elogia ela dizendo o quanto ela era linda, ela simplesmente se entrega e diz que eu deveria ter percebido isso também, por que ela me deu a chance de ter a melhor noite da minha vida e eu apenas desperdicei por pura burrice, ainda disse que não entendia como eu poderia preferir a Keyse do que uma mulher como ela que certamente faria tudo que eu quisesse, ela ainda continua seu discurso mas apenas isso já me livra da acusação e eu tenho que confessar que não teria pensado em uma saída melhor que essa.
— Eu vou ficar te devendo essa pro resto da minha vida...
— E eu vou me lembrar todas as vezes que precisar de alguém pra ficar com a Bella – ele fala e eu acabo rindo e o abraço.
— Muito obrigado!
— Você é meu melhor amigo, não foi nada – ele afirma e então chegamos a vila, ainda tem a equipe que papai disse mas eles não entram na Vila apenas filmam de longe, eu ignoro e entro em casa, Lucca e Theo avançam em mim  e quase me fazem cair, mas não me importo, me abaixo e abraço e beijo eles por varios minutos.

— A gente ajudou o tio Ryan e Pietro!
— Eu fiquei sabendo. Vocês são os melhores...
— Eu também ajudei! – Bella avisa já se aproximando, abro os braços e ela também me abraça.
— Você é a menina mais esperta que eu conheço – ela sorri e então me levanto, Louise que pula no meu colo e me abraça chorando.
— Eu tô muito feliz que você voltou! Nunca mais faz isso – ela pede eu beijo seu rosto.
— Eu prometo – ela sorri, me abraça mais um pouco e então me solta, dando espaço pra Pérola, ela apenas me abraça por vários segundos.
— Eu amo você – ela fala olhando nos meus olhos.
Ian também me cumprimenta, Nathy, Pietro e Luiza também estão aqui e me abraçam, me confortam e comemoram, mas quando olho pro canto da sala meu coração se aperta novamente, Keyse está me olhando, os braços envolvendo o próprio corpo e os olhos ainda tem as marcas de lagrimas e cansaço, eu me viro pra ela e já estava alcançando-a quando ela vira as costas e vai pro escritório, papai me olha e faz sinal pra que eu vá, eu vou, quando entro ela está parada virada de costas pra porta, fecho-a e não sei por onde começar, mas tento assim mesmo.
— Eu sinto muito! – ela nega com a cabeça – Eu deveria ter escutado você, não devia ter ido, não devia ter perdido o seu grande dia...
— Cala a boca, Pyter! – ela fala firme e então se vira pra mim – Você não tem direito de falar... – eu concordo e então vejo a lagrima escorrendo dos seus olhos, meu coração sangra e eu sei que não posso fugir disso – Eu não estou nem aí pro que aquela mulher disse ou se você me achava louca ou se eu tive que ir pro evento sozinha, eu realmente não ligo de ter ficado te esperando lá e ao invés disso ter visto meu pai, não me importo se o dia que eu estava sonhando a semanas não foi nem de longe o que eu esperei, não me importo se fomos exposto em rede nacional, não me importo se meus filhos tiveram que ir numa delegacia e se tivemos cada ponto da nossa vida revirado numa tela de tv por causa daquela mulher, eu realmente não me importo com nada disso, nada disso me machucou, nada disso me abalou, nada disso me fez me sentir pequena e fraca. Só uma coisa me fez sentir isso. Só uma coisa me fez questionar tudo que eu vive esses anos... O fato que você mentiu pra mim, que você achou necessário mentir pra mim, pra mulher que você chama de esposa, de melhor amiga, pra mulher que você jurou nunca mentir, Pyter, você mentiu pra mim. Você entende isso? Entende o quanto isso me machucou?
— Eu me arrependo disso cada segundo...
— Por que? Por que deu errado? Por que você acabou preso? Por que sinceramente, você se arrependeria se tudo tivesse dado certo? – ela me encara.
— Eu odiei ter mentido pra você!
— Foi a maior dor que eu senti... – as lagrimas descem de novo e ela as enxuga rapidamente – Eu sempre achei que fossemos melhores amigos, que fossemos aquele casal que conta tudo um pro outro que resolvemos as piores coisas falando um com outro, que nada nunca estaria entre nós, nenhuma mentira, mas você mentiu, Pyter, você mentiu pra mim... – eu não sei o que dizer ou como me desculpar ou se isso realmente tem desculpa, mas não tenho tempo pra isso por que a batida na porta nos interrompe, papai abre a porta e parece meio sem graça por nos interromper.
— Eu sinto muito, mas preciso falar com vocês... – Keyse acena pra que ele entre – Tem dezenas de repórteres lá fora e eles queriam uma declaração, eles não iriam sossegar, então tudo que eu consegui foi uma entrevista hoje, serão algumas perguntas, mas eles não voltam aqui na Vila e esse assunto está encerrado, vai ser ao vivo, no próximo programa, que é daqui uma hora...
— Você vai, eu não consigo aguentar eles nem mais um segundo – Keyse avisa e sai do escritório.
— Eu acabei com meu casamento! – eu falo sentindo a dor de cada palavra.
— É um momento difícil, parece o fim, mas não é!
— E se for? – ele me olha e me dá um sorriso fraco.
— Você a ama?
— Mais do que a minha vida!
— Então não é o fim, por que eu tenho certeza que você vai fazer o impossível pelo tempo que for necessário pra consertar isso, não é? – ele me olha e eu concordo, ele está certo, eu errei, agora é minha vez de consertar, ele me puxa pra um abraço e me leva pra fora do escritório, todos ainda estão aqui e nós lanchamos juntos, mas não posso demorar muito, por isso subo e tomo um banho pra me livrar de toda essa sujeira desses dias, visto minha calça jeans e uma camisa de botões branca e então desço, meu pai vai comigo até o estúdio que fica do outro lado do Distrito, somos encaminhados para um camarim, passo por uma maquiadora e logo estou com microfones preso na minha camisa, sou colocado em uma cadeira preta confortável e todas as câmeras estão focadas em mim, o entrevistador aparece, me cumprimenta e então avisa que estamos no ar, ele começa contando sobre o que aconteceu nas ultimas 48 horas, do caso, da repercussão e de como se resolveu, então começa a me fazer perguntas sobre a minha versão de tudo, como me senti, como foi o momento da prisão, o que me disseram, como me trataram e todas essas coisas, quando ele me pergunta o que foi mais difícil a resposta é imediata.
— Saber que as pessoas que eu amo estavam sofrendo por minha causa...
— É, eu imagino! Nós soubemos que os gêmeos foram te visitar, imagino que essa parte foi difícil... – eu relembro daquele momento, do momento que meus filhos tiveram que me ver naquela situação e um nó se forma na minha garganta.
— Eu só queria poder apagar aquele momento da mente deles...
— Eu imagino... Também deve ter sido difícil pra sua esposa, aliás, ela está aqui? Veio com você? Nós poderíamos conversar com ela também...
— Não, ela não veio – confesso e forço um sorriso.
— Oh sim, tenho certeza que mesmo sendo uma mulher forte, deve ter sido complicado viver essa situação, nós sempre vimos vocês tão felizes espero que isso não mude – uma dezena de versões de resposta diferentes passam pela minha cabeça, até mesmo em mentir e dizer que estamos mais fortes que nunca, mas a verdade é que eu não quero mentir novamente, além do mais, Keyse teve que aguentar toda parte ruim das nossas vidas sendo exposta, então o mínimo que devo a ela é consertar isso, por isso decido dar o primeiro passo pra consertar as coisas.
— A Keyse é uma pessoa maravilhosa, melhor do que eu posso ou tento ser e isso sempre foi muito óbvio pra mim. Ela, desde que éramos adolescentes ainda, sempre foi essa pessoa alegre, forte, corajosa, companheira e eu realmente não me lembro de nenhum momento, seja ele bom ou ruim, em que ela não estivesse do meu lado, ela sempre esteve... Eu lembro da primeira vez que ganhei um troféu por melhor atleta na escola e por conta de alguns problemas meus pais não puderam ir, aquilo tinha tudo pra ser o pior momento da minha vida, mas ela estava lá, quando ela viu que ninguém apareceria ela tomou a frente e foi lá me entregar o troféu, ela me abraçou e fez de tudo pra melhorar meu humor, ela... Ela sempre faz isso, ela sempre está lá. E eu não estive lá por ela, na quinta ela recebeu o premio de destaque do Distrito Doze por que, bem... Ela é a melhor em tudo que faz... E eu não estive lá com ela. Eu estava sendo preso e por mais que eu seja inocente disso, eu sei o quanto eu a magoei, sei o quanto eu machuquei a mulher que eu amo e eu sinto que nunca vou me perdoar por isso, por um erro idiota que a faz passar por isso, eu só... Sinto que falhei vergonhosamente com ela... Há 17 anos atrás eu prometi a ela e a todos os nossos amigos e parentes que eu a faria a mulher mais feliz do mundo, que eu seria o marido que ela merecia ter do lado e por mais besteiras que eu tenha feito, por mais erros que eu possa ter cometido durante esses anos esse ainda é o maior desejo da minha vida, fazer dela a mulher mais feliz do mundo e não é fácil fazer isso quando a mulher que você tem do lado é a melhor pessoa do mundo, ela é exatamente tudo que eu preciso na minha vida e eu sinto que falhei com ela, mas eu não me importo de passar mais 17 anos me desculpando por isso, não me importo de passar cada dia da minha vida lembrando-a do quanto eu a amo e do quanto eu sou grato por ter ela na minha vida. Tudo que aconteceu nesses dois dias foi horrível sim e não sei como foi pra ela ver toda nossa vida exposta e remexida por pessoas que não sabem nada sobre nós, mas tem uma coisa que eu sei... Eu sei que eu vou gastar cada minuto do meu dia pra que isso seja uma lembrança tão pequena que ela apenas se perca no meio de todos nossos dias bons – o homem bate algumas palmas e sorri encantado.
— Eu tenho certeza que ainda veremos muitas fotos de vocês dois mais felizes do que qualquer outra vez – eu forço um sorriso – Muito obrigado por ter vindo, Pyter, nós desejamos que supere toda essa confusão – ele aperta minha mão, agradeço e a câmera se vira pra ele, uma mulher sinaliza pra que eu saia e então ele continua o programa sozinho.
— Acho que foi um belo pedido de desculpas – papai fala quando me vê.
— Eu espero que sim! – ele sorri e bate no meu ombro de um jeito amigável.
Saímos do estúdio e vamos direto pra Vila, dessa vez sem nenhuma câmera ou paparazzi por perto, respiro aliviado por isso, ele estaciona o carro e mamãe aparece saindo da minha casa, ela vem até a mim, segura meu rosto e beija minha bochecha.
— Vai falar com ela – ela avisa e aponta pra casa, eu concordo, papai me faz um sinal de força e eu respiro fundo antes de entrar em casa, ando até a sala e a tv ainda está ligada, mas só Keyse está na sala, ela olha pra trás e se levanta quando me vê, eu caminho até ela e paro a distância de um passo.
— Eu faço qualquer coisa... O que você quiser, mas me deixa consertar isso? – ela quebra nosso espaço e encaixa a mão na minha, nossos dedos se encaixando.
— Sem mentiras! Eu... Eu não aguento isso de novo! – ela pede, sua voz é assustada e frágil e eu sou capaz de tudo pra nunca mais ouvi-la assim.
— Sem mentiras! Eu prometo! Eu sei que não posso mudar o que já passou mas eu posso e vou fazer tudo pra consertar isso, eu vou ser o homem que você merece ter do lado, eu ainda posso te fazer feliz...
— Mas eu nunca tive dúvidas disso... Você sempre me fez feliz e por isso doeu tanto saber que você achou que precisava mentir pra mim...
— Isso não vai mais acontecer, eu... Eu estava tão preocupado em fazer o melhor pro projeto que eu não percebi que o maior projeto da minha vida é você, nosso casamento e nossa família... Vocês são minha prioridade e eu te prometo nunca mais esquecer disso.
— Eu não tenho planos de deixar você esquecer – ela libera um pequeno sorriso e eu toco seu rosto querendo guardar esse  momento pro resta da minha vida – Agora, você realmente perdeu o sucesso que eu fiz naquela vestido vermelho – seu sorriso é divertido e eu sorrio também.
— Aposto que ninguém tirou o olho de você...
— Na verdade eu acho que foi por isso que eu ganhei, eles não desviaram os olhos de mim e acharam que eu era a única presente... – ela sorri dando de ombros, mas eu nego.
— Você mereceu ganhar. Não por ser a mulher mais linda presente, mas por ser a mais talentosa e merecedora – ela sorri.
— Eu só ia te beijar amanhã, mas... – ela revira os olhos, mas quando me olha novamente seus olhos me dizem muito mais que nossas palavras poderiam fazer, eles dizem que eu sou o cara com mais sorte no mundo e eu não estou nem um pouco a fim de desperdiçar isso, por isso eu a beijo.


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Notas finais do capítulo

Oiiiii... Gente, não me deixem no vácuo, pleaaaaase, me respondam...
PRECISO saber se eu botar uma novidade aqui no Nyah (tipo, uma história original minha) vocês iriam acompanhar? Mas tem que falar a verdade hein rsrs...
Pq quero fazer isso mas é tão chato quando ninguém acompanha, então, se vocês toparem, eu topo...
PS: E gente comentem aqui na fic pra eu saber que cês tao vivos também tá? Pode ser só um "muito bom" ou "isso tá uma merda" kkk eu só quero interagir com vocês, pode ser? :)



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