Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 29
Extra//Luiza




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Eu esperei tanto tempo por isso, por tantos anos que mal consigo acreditar que realmente está acontecendo. Eu estou sentada na areia da praia, debaixo de um céu perfeitamente azul, o sol brilhando enquanto eu olho o barco que está chegando a orla, depois de uma rápida ida até uma ilha vizinha, o dono do barco desce, dando um pulo na agua que espirra para os lados e molha a barra da sua calça, ele sorri, molha as mãos na agua do mar e passa no rosto, fala algo e ri junto com um outro homem que desce do barco, então ele olha na minha direção e abre um sorriso, o sorriso que eu sonhei tantas vezes e que ainda consegue superar minha imaginação e tudo que eu consigo fazer é sorrir também, ele anda até a mim e se inclina beijando minha testa.
— Demorei? – ele pergunta sorrindo e eu nego, ele se senta ao meu lado na areia e passa o braço pelos meus ombros, me grudando nele, eu sorrio e encosto minha cabeça no seu ombro, o homem que estava no barco com ele, passa por nós, sorri e me dá um aceno, o nome dele é Paul, fui apresentada a ele e pra praticamente a vila inteira ontem, quando meu pai fez questão de apresentar a filha pra todos os conhecidos, confesso que mesmo envergonhada eu adorei conhecer todos eles, foram muito simpáticos – Desculpa ter que te acordar tão cedo, mas eu já tinha marcado essa viagem, não podia cancelar em cima da hora...
— Não tem problema, eu já estou acostumada a acordar cedo, desde pequena – confesso e ele me olha interessado.
— O orfanato? – concordo e o sorriso dele diminui um pouco, parecendo culpado ou triste, talvez.
— Nós tínhamos que acordar as seis pra arrumar as camas, as seis e meia era o café e as sete em ponto... “nem um minuto a mais” – falo imitando a voz da diretora que era meio grossa demais – Começavam as aulas.
— Então você não foi pro colégio normal?
— Fui, mas só depois dos 12! Antes disso nossas aulas eram no orfanato mesmo – ele volta a parecer culpado – Mas até que era legal, tirando as notas baixas em matemática, isso rendia alguns gritos e nada de sobremesa – eu falo fazendo uma careta e rindo, ele também acaba rindo.
— Também nunca fui muito bem com números
— Deve ser genético então – ele ri e me puxa pra mais perto dele de novo.
— Então te devo um pedido de desculpas...
— Em compensação ninguém me superava em história ou línguas – ele ri e faz uma cara de impressionado.
— E agora você aparece em revistas e comerciais... – ele fala e eu tampo meu rosto com as mãos.
— Você tem que jurar que não vai ver o comercial, é horrível, quer dizer ta tudo incrível, mas eu pareço um E.T
— Ah eu já vi e se E.T quer dizer Extremamente Talentosa então concordo com você – eu dou uma risada.
— Você tá me zoando!
— Não tô não, eu posso não entender muito de bolsas ou moda, mas sei reconhecer algo bonito – ele dá de ombros.
— Então você só tá sendo puxa saco...
— Talvez eu seja um pai puxa saco – ele fala e me dá uma piscada e eu sorrio por que cada vez que ele fala a palavra pai eu me sinto mais ligada a ele do que no segundo anterior.
— Talvez eu goste disso – eu falo e ele me olha e dá um sorriso largo.
— E de tomar café da manhã, você gosta? – ele pergunta e me estende a mão, eu aceito e nos levantamos da areia – Acordar cedo com uma vista dessas não é nenhum sacrifício né? – falo olhando pro céu que parece ainda mais azul agora, ele ri.
— Eu sou suspeito pra dizer, eu amo esse lugar – ele fala enquanto já entramos na casa – Uma pena que o garoto não pôde ficar – ele fala e eu também sinto muito por isso, Pietro teve que voltar pro Doze, mas eu ainda não podia ir embora, não depois de conhecer meu pai e é claro que ele entendeu e até me incentivou a ficar e isso é apenas mais uma das muitas coisas que vou ter que acrescentar na lista de coisas incríveis que ele já fez por mim e é só pensar nele que o sorriso no meu rosto se torna impossível de esconder – Você gosta mesmo desse rapaz, não é? – ele pergunta me olhando.
— Gosto! Muito, muito mesmo... – admito enquanto tento disfarçar meu sorriso idiota arrumando os copos e prato na mesa.
— Bom, sem querer soar como um pai controlador, mas... Você e ele. É sério? - ele pergunta me olhando de um jeito curioso e preocupado, mas que me faz sorrir.
— É sim! A gente tá namorando há alguns meses, mas ficamos amigos antes.
— Então não preciso me preocupar com ele? - eu acabo rindo da pergunta - Quero dizer ele parece ser um bom rapaz, eu gostei bastante dele, só quero saber se ele está fazendo tudo certo com você...
— Ele é... Incrível! - assim que penso nele o sorriso no meu rosto se torna natural e meio idiota também, mas é que pensar nele me traz uma paz e calma tão grande que transborda mesmo quando não quero mostrar, meu pai está me olhando também com um sorriso.
— É, eu posso ver que ele é importante pra você
— Muito! Eu... Eu acho que talvez ele nem saiba o quanto, mas é, ele é muito importante pra mim. Eu realmente não me lembro de ninguém em toda minha vida que tenha me feito me sentir tão protegida e amada e merecedora disso tudo isso.
— Eu sinto muito que você não tenha se sentido assim mais vezes. Eu...
— Ei, relaxa! - eu toco sua mão e a seguro - Tá tudo bem! Eu não tive uma vida horrível, nem nada, é só que... Alguns dias eram mais difíceis que outros, na verdade, depois que eu saí do orfanato que pareceu mais complicado, pelo menos lá dentro sempre tinham muitas pessoas e regras e coisas pra se ocupar, quando eu saí, mesmo que tenha conseguido logo um emprego, foi complicado me acertar como uma adulta independente sozinha, sabe?
— Eu sei! Sua avó morreu quando eu tinha 8 anos então tudo que eu tinha era o seu avô, nós éramos bem ligados, você teria gostado dele - ele fala com um sorriso nostálgico - Ele me ensinou tudo sobre pescas e barco! E quando eu fiz 19 anos ele morreu, foi quando eu fiz a viagem pra Capital... - ele força um sorriso e eu forço outro - Então eu sei um pouco sobre ter que se virar sozinho.
— É, é um pouco complicado!
— Mas você nunca teve outra pessoa antes? Um namorado?
— Nada muito sério, na verdade eu saí com dois outros caras antes do Pietro. Um queria que eu fosse alguma espécie de boneca de luxo pra ele, eu não podia andar sozinha ou falar com outras pessoas, ele me proibiu até de arrumar um trabalho, então... A gente terminou quando eu apareci pra vaga de garçonete numa lanchonete! E o outro, bom... Ele me traiu, três vezes em uma única noite, ele disse que estava muito bêbado e que achou que fosse eu em todas as três vezes – eu dou de ombros rindo e ele também ri, mas logo para.
— Eu sinto muito!
— Tudo bem, eu com certeza tô bem melhor agora - falo e ele sorri concordando.
— Então o garoto é mesmo o cara certo?
— É né, parece que sim... - tento parecer reprovar mas não consigo.
— Que bom, eu gosto dele! - nós dois rimos.
— É, se você conseguir ignorar toda aquela nuvem de sabedoria suprema que ele tem, de sempre achar que tá certo em tudo e a incrível capacidade que ele tem para auto elogio, junto com aquele orgulho idiota que faz ele empacar no meio do caminho e também o fato de as vezes ele parecer que tem 5 anos de idade, então, é, ele é fácil de se gostar... - eu falo dando de ombros e ele ri.
— Mas você não parece odiar esses defeitos...
— E não odeio! - confesso sorrindo – Eu amo tudo nele! Ele é exatamente o que eu preciso. Eu lembro a primeira vez que vi ele, nós estávamos numa Balada que tem lá no Distrito e então ele veio me chamar pra dançar, sendo que eu já estava dançando com outro cara, mas ele chegou lá cheio dessa marra que ele tem e praticamente fez o cara correr, eu lembro que eu pensei que ele devia ter feito algum tipo de aposta com os amigos, mas ele tinha alguma coisa que não me fez botar ele pra correr - eu falo rindo e meu pai também ri - Aí depois eu descobri que ele era irmão da Pérola e um grande galinha... - eu confesso e ele parece surpreso com a novidade.
— Um galinha?
— E dos grandes! Ele tem uma longa lista.
— Bom saber... - ele fala fazendo uma cara de pensativo e eu acabo rindo.
— Nós ficamos amigos e quanto mais eu o conhecia mais eu via que ele não era só um cara bonito e com fama de pegador, ele é engraçado, divertido, completamente louco, ótima companhia se você quer se divertir, mas também tem a centena de outras qualidades que nem todos sabem... Ele é um ótimo ouvinte, eu perdi a conta de quantas conversas intermináveis tivemos naquela época, mesmo eu sendo só a amiga... E ele sempre fala o que ele pensa, todas as verdades que você precisa ouvir ele diz, sempre que eu quero saber uma opinião sincera, seja num desenho ou numa decisão importante, eu falo com ele... Sem falar que eu nunca tinha conhecido ninguém com um coração tão grande, ele é um idiota pra varias coisas, várias mesmo, mas quando se trata de lealdade e generosidade ele é perfeito... E com certeza ninguém me diverte tanto quanto ele e não tô falando de sair pra balada ou sei lá, fazer essas coisas pra conquistar a garota, não, é só que ele me faz rir com as coisas mais idiotas do mundo, mesmo quando eu tô mal humorada ou zangada ou completamente enfurecida, ele simplesmente consegue me fazer rir e esquecer qualquer outra coisa. Eu sinto como se antes dele eu estivesse apenas... Esperando por ele. Sabe? Como se tudo que eu vivi fosse uma preparação até eu conhecer ele, por que agora tudo faz sentido, ele dá sentido a tudo e eu realmente não consigo imaginar como ou onde eu estaria sem ele – termino de falar e ele está me olhando sorrindo – Mas ele não precisa saber de nada disso, ele já se acha o suficiente – eu brinco e ele ri.
— Ele também gosta muito de você, dá pra ver só pelo jeito que ele te olha.
— É? – pergunto um pouco orgulhosa e curiosa, ele ri.
— Com certeza e se eu tivesse alguma dúvida ele estaria encrencado, eu acabei de descobrir que tenho uma filha, não vou entrega-la a qualquer um – ele fala e me dá uma piscada divertida e mais uma vez eu me pego sem acreditar em tudo que está acontecendo, que eu finalmente estou aqui com ele.
— Eu ainda acho que é alguma espécie de sonho, sei lá... Eu esperei tanto pra conhecer você, minha mãe... enfim... Pelo menos um de vocês valeu a pena.
— Eu ainda não acredito que ela pôde ser tão fria assim, ela não tinha o direito de me esconder algo assim, eu sei que nós mal nos conhecíamos, mas você é minha filha também, ela devia ter me contado...
— Será que a gente pode não falar dela, eu... Eu não quero perder nem mais um segundo da minha vida pensando ou falando dela, ainda mais se for o tempo que eu tenho com você – ele sorri, vem até a mim e me abraça beijando minha cabeça.
— Como você quiser! – eu sorrio agradecendo – Então você tem que ir embora amanhã mesmo?
— Tenho! Eu preciso terminar uns esboços e inspecionar umas bolsas ainda – eu falo e ele me olha com um sorriso orgulhoso me fazendo me sentir muito importante – Mas eu queria te fazer um convite...
— Um convite?
— Eu queria que você conhecesse meu apartamento, meus amigos, na verdade eu quero te apresentar pra todo mundo... – eu falo e ele ri.
— Eu ia adorar!
— Então isso é um sim?
— É um com certeza! – eu comemoro animada e dessa vez sou eu quem o abraço e beijo sua bochecha, ele ri e eu volto a ajudar no preparo do café da manhã e pela primeira vez me sento a mesa só com meu pai.
Nós continuamos conversando e é incrível como sempre surgem assuntos, não importa quanto nós falemos, sempre tem uma novidade dele pra eu saber ou uma curiosidade minha que faz ele rir, nós combinamos que ele irá comigo amanhã pro Doze, ele diz que não poderá ficar por muito tempo, apenas um dia, por que tem o trabalho aqui, ele é o presidente do grupo de pesadores e barqueiros, eu concordo e não fico menos animada por isso, na verdade mal posso esperar pra apresentar ele a todos, depois disso eu o ajudo a limpar a cozinha e o acompanho de volta a praia.
Estávamos esticando e verificando uma rede no barco quando ele para e o sorriso dele se alarga de um jeito que ainda não tinha visto.
— Rosa! – ele grita e quando olho na direção da areia vejo uma mulher, ela para e abre o mesmo sorriso que ele, ela está com uma saia longa, branca e de tecido leve e a parte de cima é um biquíni azul, o cabelo loiro voa conforme o vento aparece, ela parece ter uns 30 anos e é muito bonita, os olhos são escuros, a pele bronzeada, as bochechas coradas como se tivesse maquiada, mas no caso dela, é impressionantemente natural.
— Isac – ela anda ao encontro dele que já pulou do barco e anda pela areia ao seu encontro – Eu soube da novidade, meus parabéns – ela abre os braços e eles dão um rápido abraço, então ele se vira pra mim e me chama, eu pulo do barco e vou até ele.
— Rosa, essa é a Luiza, minha filha! Luiza, essa é Rosa, uma grande amiga – ele fala e sorri de um jeito suspeito e que eu conheço muito bem, mas sorrio e abraço a mulher, que tem um cheiro natural de flores.
— Meu Deus, mas você é linda! – ela fala segurando meu rosto e sorrindo simpática – Você teve muita sorte, meus parabéns! – ela fala olhando pra ele.
— Eu estou tendo mesmo!
— Vocês estão me matando envergonhada – falo escondendo o rosto com a mão, eles dois riem.
— Não deveria se envergonhar de ser linda – ela dá de ombros e me olha com um sorrisinho.
— Não tanto quanto você... Desculpa, posso te chamar de você? É que você parece muito nova pra senhora – eu falo e ela sorri.
— Não tão nova assim, mas claro que pode.
— E você mora por aqui?
— Na casa verde bem ali – ela aponta na direção da casa que fica a alguns metros da do meu pai.
— Então vocês já se conhecem há muito tempo? – os dois sorriem.
— Desde que eu me mudei pra cá, há uns... Dois anos? – ela fala e ele sorri ainda mais.
— Dois anos e cinco meses – ele completa e eu tenho que me controlar pra não rir.
— E você veio sozinha?
— Vim, resolvi mudar um pouco de ares...
— Aqui realmente é um ótimo lugar pra se acordar todo dia – falo olhando em volta.
— Eu não trocaria por nada!
— Que bom! Ou iriamos perder os melhores luais e festas que a vila já teve – ele fala e ela sorri sem graça.
— Seu pai é um pouco exagerado
— Não é exagero! Ela sabe como organizar uma festa – os dois riem e ela esconde o rosto com a mão ficando ainda mais vermelha – Além de chefiar praticamente todos os bordados e rendas que você viu por aí
— É você quem faz? – pergunto realmente surpresa por que enquanto andava pela praia, vi cada coisa linda, eles montam pequenas lojas fora da areia que vendem produtos feitos aqui – Eu adorei aquele top todo bordado, um azul com verde...
— Ah ele é lindo mesmo! Mas... Não sou só eu – ela olha pro meu pai consertando-o - Eu apenas faço parte doo grupo e ajudo as novatas – ela dá de ombros.
— Bom, vocês estão de parabéns!
— Obrigada! – ela sorri agradecida e os dois ficam se olhando por alguns segundos – Eu... Tenho que ir... Preciso ficar na loja agora – ela fala sorrindo, então se inclina, me beija na bochecha se despedindo – Vejo vocês depois – ela apenas acena para o meu pai e sai caminhando pra fora da areia.
— UAU! – eu falo fazendo uma cara de impressionada e ele me olha confuso.
— O quê?
— O quê? Tá brincando né? Vocês dois.
— O que tem? – eu o encaro desconfiada e ele continua confuso.
— Então você não é afim dela? – ele parece surpreso e olha em volta como se alguém estivesse espionando.
— Não, eu... Ela... Somos amigos – ele tenta falar firme e eu acabo rindo.
— Homens! – dou as costas e volto pro barco, ele vem logo atrás de mim, já pegando a rede e continuando o que estávamos fazendo.
— Mas por que você disse isso? – ele tenta parecer desinteressado.
— Ah por nada, só por que a baba estava escorrendo pelo seu rosto e por que ela mal conseguia parar de corar toda vez que você olhava pra ela – ele para o que está fazendo e me olha avaliando o que eu disse.
— Acho que você tá vendo demais
— Ou você tá vendo de menos! – ele ri mas balança a cabeça.
— Ela não tá procurando ninguém
— Eu também não estava, nem o Pietro
— É diferente
— Por?
— Por que vocês são jovens – dessa vez quem para o que está fazendo e o encara sou eu.
— Sério? Essa é sua melhor desculpa?
— Não é desculpa, é só que...
 - Você tá com medo de levar um não ou um pé na bunda – ele ri.
— Ela realmente não está interessada...
— Se você quiser me convencer, vai ter que ser melhor do que isso
— Todos os solteiros e os viúvos também, já tentaram chamar ela pra sair e a resposta foi a mesma...
— Todos? Todos mesmo? Tem certeza? – eu o encaro e ele me encara de volta, então ri e volta a mexer na rede – Eu só estou dizendo que se você não tem coragem ok, mas não diga que ela não quer ou invente desculpas esfarrapadas... – ele me olha meio que de lado, mas não diz nada, apenas volta a atenção pra rede.
— Você leva jeito – ele fala me observando enrolar uma corda no canto do barco, eu sorrio.
— Vai vê tá no meu DNA – ele sorri orgulhoso e continuamos trabalhando e conversando sobre outras coisas, quando está quase no fim da tarde, ele me leva com ele pra buscar o casal que ele deixou na ilha vizinha, a viagem é rápida, cerca de vinte minutos, o casal parece encantado com tudo, tirando dezenas de fotos no trajeto de volta pra praia e estão sorrindo todo o tempo, eu fico com meu pai na cabine e ele tenta me ensinar os comandos básicos, embora seja muita coisa e ele garante que com o tempo ele irá me ensinar o que sabe, ou pelo menos tentar, deixamos o casal na praia, eles agradecem, pagam, garantem que irão voltar e se despedem, então nós dois vamos prender o barco e o deixar em segurança.
— Então... Sobre aquele assunto... – ele começa como quem não quer nada.
— Que assunto? – finjo não saber do que ele está falando.
— Sobre a Rosa...
— Ah sim, a Rosa! Sobre ela estar a fim de você e você dela? – ele quase tropeça na corda que está prendendo o barco e isso me faz rir – Eu não sei por que você fica tão assustado.
— Não tô assustado, só... Surpreso de você pensar assim
— E eu por você não pensar assim... Agora posso falar sério? – ele concorda – Você gosta dela, não gosta? – ele desvia os olhos se concentrando no nó na corda.
— Ela é uma boa amiga, nós nos aproxima...
— Você GOSTA dela, não gosta? – repito e ele me olha.
— Gosto! Mas não acho que é uma boa ideia arriscar uma amizade por...
— Ok, hoje ela janta com a gente...
— O quê?
— Ela vai jantar com a gente, já que você trava e não consegue chamar ela pra sair – dou de ombros, solto a sacola que peguei do barco ao lado dele e corro quando vejo a Rosa passando, ele apenas fica lá parado – OI! – aceno pra ela quando me aproximo e ela para já com aquele mesmo sorriso.
— Oi!
— Eu... Queria te fazer um convite... Como você sabe, eu acabei de conhecer meu pai então tudo é muito novo... Eu quero saber tudo da vida dele e parece que o tempo voa...
— Eu imagino – ela fala sorrindo e então olha na direção do barco onde ele ainda está parado – Ele é um bom homem, você tem muita sorte. Quando eu cheguei aqui, eu não conhecia ninguém e ele foi a primeira pessoa a vir falar comigo e me mostrar como o lugar funciona, ele tem sido um... Grande amigo! É bom tê-lo por perto, você vai ver isso – ela sorri e volta a me olhar – Sua mãe, deve ter visto também – o sorriso dela agora  já não é tão radiante.
— É, eu já tô vendo. Ele é realmente mais do que eu esperava, considerando que minha mãe é uma bruxa, louca, desalmada e cruel, então eu realmente tirei a sorte grande com ele – ela ri, recuperando um pouco daquele brilho que estava antes.
— Então você e sua mãe não se dão bem?
— Com certeza não! Eu quero distância dela, meu pai também! Só espero que ele ainda encontre alguém que ele mereça – ela concorda meio sem jeito.
— Ele irá encontrar, garanto que deve ter alguém por aí interessada...
— É, talvez! Mas enfim, como eu disse eu quero me enturmar na vida dele e por mim eu sairia conversando com todo mundo mas só tenho essa noite, então eu vim aqui pra te convidar pra jantar com a gente hoje, vocês disseram que são amigos, então se tiver algum podre dele, você pode deixar escapar durante o jantar, que tal? – ela ri.
— Eu aceito!
— Ótimo! As oito então
— As oito – ela concorda sorrindo e eu volto correndo pra junto dele.
— Você tem... – eu olho as horas no meu relógio de pulso – Duas horas pra fazer o seu melhor prato, pelo menos eu espero que você saiba cozinhar, por que eu não sou tããão boa assim de improviso...
— Ela aceitou? – ele parece surpreso.
— Claro que eu aceitou, mas isso não tem nada a ver com você! Eu sou incrível e linda, as pessoas não costumam me negar as coisas – falo sorrindo e jogando o cabelo pro lado, ele ri.
— Eu não negaria!
— Então... Termina logo isso aí e vai pra cozinha, eu prometi um jantar dos deuses, não me faça passar vergonha – ele ri.
— E o que você disse pra ela? – ele pergunta já pegando a sacola que deixei lá e andando para casa.
— Que você é apaixonado por ela, mas que não sabe como dizer com palavras então quer mostrar em uma noite inesquecível tanto no sabor quanto nas emoções... – ele para de andar, eu olho pra trás e os dois olhos azuis estão arregalados, o que me faz soltar uma gargalhada alta – Eu só disse que queria conhecer mais sobre você e como ela é sua amiga... – quase sinto os músculos dele relaxando.
— Eu estou na idade de ter problemas cardíacos – ele coloca a mão no coração fazendo uma careta.
— Você parece bem em forma – falo e é verdade, ele tem 40 anos mas parece ter 30, ele é bem alto, os braços fortes, o corpo muito bem conservado, além dos olhos e sorriso que fariam muitas mulheres suspirar.
— Então ela vem mesmo? – a ansiedade está clara tanto no seu olhar quanto na sua voz, eu sorrio.
— De nada! – dou uma piscada e entro na casa, ele ri e também entra já indo direto pra cozinha.
— Eu faço a sobremesa, eu mando bem nos doces – falo já animada, ele concorda e então nos dividimos pela cozinha, eu termino primeiro que ele e coloco meu mousse na geladeira e então deixo-o cozinhando e vou tomar banho. Fico um bom tempo debaixo do chuveiro, aproveito pra lavar meu cabelo, visto um vestido que comprei hoje em uma das lojinhas daqui por que já não tinha mais roupa minha, penteio meu cabelo e o deixo solto pra secar naturalmente, até por que aqui não tem secador. Quando saio do quarto o cheiro já está inundando a casa e sou quase levada até a cozinha, ele está terminando de jogar uns temperos na panela e sorri quando me vê.
— O cheiro está ótimo!
— Que bom! Agora eu vou tomar banho, é só desligar daqui uns cinco minutos – ele avisa, me joga o pano de prato e sai da cozinha, pra não correr o risco de estragar a receita, fico colada ao lado do fogão, assim que dá os cinco minutos desligo o fogo, então começo a preparar a mesa, eu remexo nas gavetas do armário e encontro uma toalha para mesa branca de renda, troco, depois pego a louça, as taças e talheres, arrumo tudo, pego também alguns lenços, dobro-os sobre os pratos e sorrio orgulhosa de como tudo ficou, vou até a sala, ajeito algumas coisas que estavam fora do lugar, remexo no velho aparelho de som e coloco uma música, nada muito agitado e não muito alto, abro as janelas ainda mais, afasto as cortinas e deixo a porta aberta pra que entre a brisa da noite, outra coisa que eu adorei daqui, abrir a porta da casa e encontrar o mar bem a sua frente, com esse ventinho gelado e esse céu impecável, é como um presente divino e essa visão me deixa hipnotizada, o balanço do mar, junto com brilho das estrelas e algumas pessoas que andam pela beira da agua, crianças rindo e esse espirito de algo bom e contagiante.
— Então? – a voz me desperta, me viro pra trás e vejo meu pai parado com os braços levemente abertos, ele está com uma calça branca e uma camisa verde claro simples e ainda assim ele está bonito.
— Tá ótimo! Um gato – eu falo fazendo uma cara de impressionada.
— Eu tô falando sério
— E eu também! – ele me olha meio desconfiado – Eu juro, você tá bem! Aposto que ela vai ficar toda corada de novo – ele ri.
— Eu vou ver o jantar – ele fala já indo pra cozinha, eu continuo parada olhando pro lado de fora.
— Talvez ela não venha – ele fala e quando olho pra ele, está olhando pro relógio.
— Ainda falta 5 minutos! – reviro os olhos.
— Ela pode ter aceitado só por que ficou sem graça de te dizer não, isso não quer dizer nada...
— PAAAAI! – reclamo fazendo uma cara feia, mas ao invés de reclamar também, ele abre um sorriso grande.
— Eu já tinha perdido as esperanças de que alguém iria me chamar assim um dia – ele confessa e eu acabo sorrindo.
— E eu sempre sonhei em falar isso um dia – ele vem até a mim e me abraça forte, eu também o abraço apertado, ele beija minha cabeça.
— Minha filha! – ele me balança de um lado pro outro me fazendo rir.
— Oi! – a voz faz ele parar e antes de olhar pra ele sei que já está com um sorriso bobo.
— Rosa! Entra – eu que tomo a frente, já indo até ela e dando um abraço rápido, ela entra e eles se cumprimentam com um beijo na bochecha.
— Eu não queria atrapalhar...
— Não atrapalhou, é só que... ele é meio grudento – eu falo fingindo sussurrar, ela ri e ele também.
— Bom, eu acabei de descobrir que tenho uma filha – ele me puxa de novo para os braços dele me balançando e beijando minha cabeça, eu faço uma careta pra ela e reviro os olhos, mas sorrio.
— Eu acho justo, vocês tem que aproveitar um ao outro
— É, eu sei, ainda não sei se tô preparada pra ir embora amanhã – eu falo fazendo uma cara triste.
— Não acho que isso tenha a ver só comigo – ele me olha rindo.
— Você não pode culpar ela – Rosa me defende se divertindo.
— Viu, a Rosa me entende... Você não pode querer competir com essa vista...
— Ok, estou conformado!
— E que tal a gente jantar? Eu tô morrendo de fome – falo um pouco exagerada.
— O cheiro está ótimo! – Rosa fala enquanto chegamos na cozinha.
Nós nos sentamos, meu pai ficando no meio, nós nos servimos, ele abre uma garrafa de vinho e enche nossas taças e está tudo realmente delicioso, ele fez um camarão com um molho branco que mal me deixa respirar direito pra não perder nenhum segundo desse sabor.
— Isso está... Incrível – Rosa fala fechando os olhos pra saborear melhor.
— Eu preciso dessa receita – eu falo e ela nos olha curiosa.
— Você que cozinhou? – ela pergunta olhando pro meu pai.
— Eu já disse que era bom na cozinha...
— Não tão bom – ela sorri e come mais uma garfada.
— Você me subestimou – ele fala e ela fica levemente corada e remexe no garfo.
— Bom, espere até a sobremesa, não quero me gabar, mas... Eu me garanto – falo dando uma piscada para os dois que riem.
Nós continuamos o jantar e a conversa vai fluindo naturalmente, a garrada de vinho já está quase no fim e continuamos sentados a mesa, ela conta sobre a chegada dela aqui, que foi meu pai quem apresentou ela para as mulheres que fazem bordado e renda, ele conta sobre os famosos luais que acontecem por aqui e que geralmente são organizados por ela e então a conversa começa a ficar divertida.
— Eu não deveria falar, já que ele é seu pai, mas... Teve um lual que ele bebeu metade do ponche sozinho e eu nunca vi alguém ter tanta disposição pra dançar – ela conta já rindo.
— Achei que tínhamos combinado que aquilo não aconteceu – ele fala também rindo.
— Ah desculpa, mas foi hilário, é sério, ele puxou a Dona Vegha, uma senhorinha, de quase oitenta anos, pra dançar e ela mal conseguia dar um passo, aí ele pegou ela no colo e dançou uma música inteira – eu acabo rindo também imaginando a cena.
— Ela parecia bem feliz – ele fala tentando fingir superioridade mas rindo.
— Ah ela ficou, disse que fazia muito tempo desde que um homem tirou ela pra dançar, você com certeza marcou a noite dela...
— E ela a minha, depois daquilo as minhas costas nunca mais foram as mesmas...
— Pelo menos agora você se controla...
— Ou teriam filas de senhorinhas de todo Distrito aqui – eu falo rindo e me divertindo.
— Não só as senhorinhas... – Rosa fala e sinto uma certa mudança na sua voz.
— Hum, então quer dizer que o senhor anda por aí arrancando olhares? – entro na onda pra ver como ela vai reagir e a risada dela se torna apenas um sorriso não muito animado.
— Eu não sei de nada
— Ele FINGE que não sabe de nada – Rosa fala talvez um pouco mais solta por causa do vinho.
— Uhh, acusação grave
— Eu realmente não sei do que vocês estão falando
— Ah, Isac, a Francis do artesanato – ela olha pra ele que nega parecendo não saber do que ela está falando, então ela olha pra mim – Toda sexta feira ela faz uma torta de maça e traz pra ele
— Uma torta de maça? – ele balança a cabeça.
— Ela só é simpática, eu comentei uma vez que gostava...
— Mas toda sexta? Ou ela quer muito te impressionar ou quer te matar com diabetes – eu falo e Rosa solta uma risada tão alta que me faz rir junto com ela.
— Vocês duas, beberam demais – ele fala e pega a garrafa da mesa, já colocando na pia, eu reviro os olhos.
— Desculpa, eu... Foi só uma brincadeira – ela fala um pouco sem graça.
— Não, eu... Eu também só estava brincando, embora ache tudo isso um exagero
— Homens – sussurro pra ela e reviro os olhos, ela ri.
— Sobremesa? – ele pergunta já pegando a travessa da geladeira, eu me levanto e pego os potinhos, ele nos serve e olho para ver a reação dos dois, que arregalam os olhos fazendo uma expressão boa.
— Perfeito – eles falam juntos.
— É, eu sei, sou muito boa
— Muito humilde também – ele fala e eu dou de ombros.
— Agora que já provei o meu ponto e meu valor inestimável na cozinha, vocês me dão licença – falo já me levantando da cadeira, meu pai me olha como se eu estivesse deixando-o com algum inimigo, ou sei lá o que, eu sinto vontade de rir mas me controlo e olho pra Rosa – Eu tenho que ligar pro meu namorado, não falei com ele hoje e bom, como dizem por aí melhor não se ausentar muito...
— Ah é verdade! Sem problemas – ela sorri, eu olho pro meu pai ainda me controlando pra não rir, dou um aceno e saio.
Pego meu telefone que estava na sala e saio da casa, desço a varanda e ando pela areia enquanto espero Pietro atender, acabo de sentar na areia a alguns poucos metros da agua quando ele atende e o sorriso que aparece no meu rosto não tem nada a ver com a visão que está logo a minha frente e sim com a voz que me faz fechar os olhos e visualizar o sorriso dele.
Nós conversamos por um bom tempo, ele me conta sobre as atualizações que fizeram no trabalho e que está indo melhor do que eles esperavam, na verdade ele se empolga bastante falando sobre esse assunto e mesmo sem entender mais da metade das coisas deixo que ele fale e o sorriso no meu rosto não diminui, depois ele me pergunta e quer saber cada detalhe do meu dia com meu pai, dessa vez meu sorriso tem outro motivo e eu conto animada sobre tudo que descobri sobre ele hoje, sobre como foi nosso dia e em como foi ainda melhor do que eu podia ter imaginado, ele também me ouve sem me interromper e fazendo ainda mais perguntas e eu só desligo quando a mão toca meu ombro, me viro e Rosa está sorrindo sussurrando um boa noite, eu peço que ela espere e me despeço do Pietro, então me levanto pra falar com ela.
— Eu só queria me despedir... – ela fala abrindo os braços, eu sorrio e a abraço.
— Foi ótimo o jantar, muito obrigada pelas histórias – ela ri.
— Imagina, eu que agradeço! E espero que faça uma boa viagem e volte logo
— Obrigada e pode ter certeza que eu vou aparecer antes que vocês sintam minha falta...
— Bom, acho meio difícil, alguém já está meio nostálgico – ela fala diminuindo a voz e apontando pro meu pai que está na varanda de casa nos olhando, eu sorrio.
— É, também tô um pouco...
— Vocês tem sorte de ter um ao outro, ainda podem recuperar todo tempo perdido – ela garante com um sorriso animador, então olha pra varanda onde ele está – Ele é um bom homem, tenho certeza que será um ótimo pai.
— Ele já está sendo! – afirmo com um sorriso orgulhoso.
— Sem querer soar egoísta, mas, não o prenda lá por muito tempo – suas bochechas coram levemente quando ela fala e seus olhos se desviam do meu por alguns segundos e depois voltam a me olhar um pouco tímidos – Ele é um bom amigo!
— Claro, pode ficar tranquila eu não vou prender ele por lá, eu quero que ele seja feliz e algo me diz que ele não seria totalmente feliz por lá...
— É, ele ama esse lugar, o mar, os barcos, os olhos dele sempre brilham quando fala nisso...
— Não apenas quando fala nisso – eu falo olhando pra ela, suas bochechas ficam ainda mais vermelhas, ela sorri de um jeito engraçado e fingi arrumar o cabelo.
— Eu... Espero te ver logo, então... – ela me dá outro abraço.
— Até logo! – sorrio quando ela sai ainda corando, eles acenam um para o outro e ela vai na direção da casa de cor verde e eu vou na direção dele – E então?
— Tá, eu gosto muito dela! – ele admite levantando os ombros como se não tivesse mais desculpa.
— OH, finalmente – levanto os braços e ele tenta me fazer parar, então o abraço – Quer ouvir uma boa notícia? – pergunto e paro meu rosto na frente do dele que confirma – Ela também gosta muito de você e sim, eu tenho certeza – ele ri e me abraça forte fazendo meus pés saírem do chão.
— Agora, hora de dormir... – ele aponta pra dentro de casa.
— Sabe, essa é única coisa que eu nunca senti falta – ele dá de ombros.
— Azar o seu, aqui o serviço é completo! Dormir – ele reforça apontando pra dentro de casa novamente, eu sorrio e preciso ficar na ponta dos pés pra beijar a bochecha dele, ele sorri e nós entramos juntos.
Acordo cedo e quando vou procurar por ele, já está arrumado e passando o café.
— UAU! – eu falo impressionada e ele ri.
— Quando você estiver pronta... – eu corro pra me trocar, nós tomamos um café com pedaços de pão e logo estamos indo pra Estação de Trem, como é um pouco distante da casa vila, tivemos que pegar um carro alugado, mas chegamos na hora certa, assim que compramos os bilhetes o trem para e nós embarcamos, aviso pro Pietro que já estamos a caminho e um pouco antes das 11 horas estamos chegando no Distrito 12, descemos do trem e logo a alguns metros vejo Pietro parado olhando atentamente para os passageiros que descem e quando ele me vê um sorriso tão grande abre no rosto dele que sinto meu coração acelerar, eu aceno pra ele, mas ele já vem na nossa direção, então sem se preocupar com meu pai ao meu lado ou com qualquer outra pessoa a nossa volta, ele simplesmente me abraça apertado, tirando meus pés do chão e girando comigo no meio da Estação, mesmo devendo brigar com ele e mandar me colocar no chão, eu apenas começo a rir e me seguro nos seus ombros.
— Eu tava morrendo de saudade! – ele fala já me colocando no chão de novo.
— Foram 24 horas!
— 1.440 minutos! – ele fala fazendo uma cara espantada.
— Você fez essa conta enquanto esperava o trem – eu falo e ele ri e segura meu rosto com as mãos.
— É por isso que eu te amo – eu sorrio e ele me dá um beijo rápido – E por que você é muito gata – ele sussurra e nós dois rimos, então dessa vez o beijo é um beijo de verdade, mas não muito demorado, quando para eu faço sinal pro meu pai e ele me libera dos braços dele.
— Bem vindo ao Doze! – eles apertam as mãos sorrindo um pro outro – Não temos mar e nem aquela vista toda, mas... A Campina e a floresta são lindas!
— Eu tenho certeza que também é um ótimo lugar – meu pai fala e então nós vamos para o carro, Pietro logo sai da Estação.
— Meus pais fazem questão que vocês dois almocem lá em casa, eles estão ansiosos pra conhecê-lo...
— Eu? Mas... Ah não, não quero incomodar!
— Não é incomodo e meu pai já está desde cedo na cozinha, a Lu sabe como ele é, não aceita um não...
— E você não vai se arrepender, ele cozinha muito bem – eu falo fazendo uma cara de animada.
— Eu ainda acho um exagero!
— Não é, acredite, ele adora essas coisas! – Pietro garante, mas sinto meu pai meio indeciso ainda, mas logo Pietro está mostrando o Distrito enquanto passamos pelo Centro de carro e eles deixam o assunto de lado até pararmos na frente do prédio, nós descemos do carro – Eu só não vou poder subir com vocês, ainda tenho que passar no mercado, mas eu volto pra buscar vocês – ele avisa, se aproxima de mim me dando um beijo rápido, acena pro meu pai e entra no carro de novo, ele vai embora e nós entramos no prédio.
— Eu não sei se o almoço é uma boa ideia – ele fala quando entramos no elevador, eu o olho confusa e um pouco decepcionada também – Eu não acho que tenho roupa pra isso... – ele confessa e eu acabo sorrindo.
— É por isso?
— É, bom, eles são Peeta e Katniss Everdeen, nunca conhecia ninguém tão importante...
— Pai... – eu sorrio aliviada – Eles não são como você pensa, na verdade, por mais que eu tenho escutado todas as histórias, eu nunca conheci pessoas tão normais e sem frescuras quanto eles – ele me olha meio desconfiado.
— Eu não sei, não sei me comportar direito, eu... Eu não quero te envergonhar
— Isso é impossível – falo rapidamente e ele me olha meio incerto – Mesmo que eles se comportassem como estrelas, você nunca me envergonharia... – ele abre um sorriso e então a porta do elevador abre e saímos – Agora eu espero não te envergonhar, eu e Amanda dividimos o apartamento mas digamos que nenhuma das duas é a pessoa mais organizada do mundo – falo e ele ri, abro a porta e nós entramos, antes de alcançarmos a sala Amanda aparece com um sorriso grande e ansioso.
— Mesmo se eu não soubesse, não precisaria de apresentações... Olhem esses olhos – ela fala apontando pra nós dois, então sorri e abre o abraça – Você tem uma filha incrível! Meio insuportável e mandona as vezes, mas incrível – eu faço uma careta e eles riem.
Eu mostro o apartamento pra ele e nós conversamos, ela conta de algumas das minhas manias, como largar meus sapatos no meio da sala ou sempre deixar o pano de prato no sofá e conta até que eu coloquei nosso lixo junto com os do vizinho por que estava com preguiça de levar lá pra baixo quando o sistema de evacuação estava em manutenção, eu tento parecer ofendida e me defender mas acabamos rindo bastante das histórias, depois nós vamos nos arrumar, eu já estava pronta esperando na sala quando ele aparece.
— E então? – ele pergunta parado virado pra mim – É o melhor que eu posso fazer – eu sorrio, ele está com uma calça beje e uma camisa branca sem botões e de um tecido fino.
— Você está ótimo! – eu afirmo e ele sorri meio nervoso.
— É pra ir toda arrumada? – Amanda pergunta entrando na sala também – Eu ia de short – ela fala me olhando.
— Eu também vou – me levanto do sofá mostrando meu short e regata colorida – Ele que tá tentando impressionar os Everdeen’s
— Ah sim, eu também tentei isso da primeira vez, mas quer uma dica... Relaxa, eles são mais fáceis de agradar do que a sua filha – ela fala e eu faço uma careta.
— É simples, se quiser impressionar a Katniss fale sobre cozido de carneiro, pra impressionar o Peeta, fale sobre cozinhar, você também é bom nisso e no caso de esquecer a ordem, basta elogiar qualquer um dos filhos e pronto, eles estarão na sua mão – eu falo e dou uma piscada, eles riem, então a campainha toca, eu corro pra atender e assim que abro a porta Pietro me puxa pela cintura e me beija.
— Se controla – falo rindo e logo meu pai e Amanda aparecem e nós descemos, entramos no carro e em poucos minutos estamos descendo em frente a casa dele, eu vou pro lado do meu pai e ele parece ansioso, a porta já está aberta e se eu já não tivesse acostumada acharia que todas as vozes são uma briga, mas já sei que é apenas mais um dia típico da família toda reunida, meu pai me olha sorrindo e só depois que Pietro quase grita um atenção que as vozes param como se tivessem ensaiada, os gêmeos que estavam correndo pela sala param e correm até a mim, os dois me abraçam ao mesmo tempo e quase perco o equilíbrio Pietro ri e me deixa apoiar nele, todo mundo acaba rindo, Peeta e Katniss que tentavam colocar ordem agora vem até nós.
— Me desculpa a bagunça, não era assim que eu planejava a recepção e te dar as boas vindas – Peeta fala olhando pra trás onde os outros estão – Mas... O que eu posso dizer? Eles as vezes saem de controle e adoram sua filha... – ele sorri olhando pra mim e pros gêmeos - De qualquer maneira, seja muito bem vindo – ele estica a mão e meu pai aperta sorrindo grandemente.
— Eu fico muito feliz por vocês! – Katniss fala também apertando a mão dele – Você tem uma filha maravilhosa, nós adoramos receber ela na família e será um prazer receber você também...
— Eu... Nem sei como agradecer!
— Ótimo, sem agradecimentos, podemos ir pra parte boa, o almoço, eu tô morrendo de fome – Pyter fala e todos eles olham feio pra ele, Keyse chega a dar um tapa no braço dele.
— Desculpa, nós ainda estamos fazendo alguns exames pra ver o que há de errado com ele – Pérola fala e ele faz uma careta e empurra ela quando ela passa pra vir até nós, então ele recebe outro tapa da Keyse e os gêmeos correm pra defender o pai – Eu sou a Pérola, trabalho com a Luiza e bom, me desculpa, Amanda mas... Somos grandes amigas – Pérola fala implicando com Amanda mas cumprimentando meu pai, que sorri cumprimentando-a de volta, depois um por um vem cumprimentar ele, inclusive os gêmeos que ficam impressionados quando digo que ele tem um barco e já pulam ao redor dele fazendo várias perguntas e pedindo pro Pyter que deixe eles irem conhecer.
— Eu realmente não sei se terei dinheiro pra pagar todo o conserto do barco depois que vocês forem lá – ele fala e meu pai ri.
— Não terá problemas, eu sei algumas coisas sobre reparos de barco e ia adorar que vocês conhecessem o meu...
— LEGAL! – os dois falam juntos.
— A gente vamos né, pai? Vai ser maneiro – Theo fala já todo animado, sei que esse é o Theo por que graças a horas de observação e talvez Pietro tenha me dado algumas dicas.
— Ok, ok! Agora tenho que concordar com o pai de vocês... Vamos almoçar, antes que esfrie – Peeta fala tentando acalmar os meninos, então eles correm pra mesa e nós começamos o almoço e conforme vão se passando os minutos e quanto mais eu olho todos juntos, rindo, conversando e parecendo tão felizes, eu tenho certeza que esse é um dos dias mais felizes da minha vida.
— Um doce pelo seu pensamento – a voz me desperta, ele passa os braços por trás de mim e encosta o queixo no meu ombro, eu tento olhar pro rosto dele e mesmo sem vê-lo frente a frente sinto seu sorriso.
— Vir pro Doze foi a melhor ideia que eu já tive – eu falo e me viro de frente pra ele, toco seu rosto e sorrio – E namorar você está sendo a melhor escolha da minha vida! – ele sorri e também toca o meu rosto, então olha em volta e antes que eu pergunte o que houve, ele sorri e me agarra pela cintura me puxando pro corredor, ele abre a porta do escritório e nós entramos, então ele simplesmente me beija, longa e demoradamente.


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