Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 28
Extra // A descoberta




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Eu jogo o controle do vídeo game para o lado assim que eu perco pela terceira vez seguida.
— É simplesmente impossível você nunca ter jogado esse jogo e me vencer três vezes desse jeito – eu reclamo olhando pra Luiza que já está rindo orgulhosamente.
— Eu nunca joguei! – eu a encaro sem acreditar – Você é ruim, aceita isso...
— Ah, eu sou ruim?
— Péssimo! – ela sorri e também larga o controle – E eu tenho ótimos reflexos – ela dá de ombros, então joga a almofada que estava sobre suas pernas pro lado e vem pra cima de mim, ela senta no meu colo ficando de frente pra mim, seus dedos vão para o meu cabelo e ela os penteia pra trás como sempre faz, depois aproxima o rosto do meu – Mas pelo menos você é bonitinho – ela faz uma careta de desprezo, então dessa vez quem ri sou eu.
— Você mente mal!
— Tá, ok, você me pegou... Nem bonitinho você é, mas... É um pouquinho inteligente – ela fala implicando comigo, então eu começo a fazer cócegas na sua barriga, ela odeia que eu faça isso, mas não consegue segurar as gargalhadas, ela tenta sair do meu colo mas não consegue, apenas fica se debatendo, rindo e me implorando pra parar – TÁ BOM, TÁ BOM. VOCÊ É INCRIVEL! – ela grita entre as gargalhadas, então eu paro.
— É, eu sou mesmo! – concordo e ela pula do meu colo.
— Eu... Odeio você! – ela avisa enquanto endireita a camiseta que ficou toda enrolada, quando conserta, ela se joga deitada no chão, com a barriga virada pra cima e o braço tampando o rosto, então não resisto e vou pra cima dela, deixo meu corpo sobre o seu, apenas apoiado nos joelhos e assim que sente minha presença, ela abre os olhos, tenta fazer uma cara de reprovação, mas quando eu sorrio pra ela, um sorriso tímido aparece no rosto dela e então é como se tudo tivesse paralisado, a musiquinho irritante que vinha do jogo que ainda está ligado desaparece, assim como qualquer outro som ou imagem, tudo que eu vejo é ela e com certeza é a visão mais linda de todas, os olhos tão azuis quanto o céu mais limpo e o sorriso desenhando sua boca é ainda mais perfeito, eu já vi mulheres bonitas, já até fiquei com muitas delas, mas nem de longe, nem por um único segundo eram tão lindas quanto ela e mais uma vez eu sei que jamais encontrarei alguém pra substitui-la – OOOOI! – ela fala balançando a mão a frente do meu rosto – Tem alguém aí? – eu balanço a cabeça me despertando e abro um sorriso.
— Você é a mulher mais linda que eu já vi na minha vida! – eu falo com toda certeza que tenho, ela ri e balança a cabeça como se eu tivesse dito alguma besteira – Eu adoro olhar pra você por que você realmente é a mulher mais linda do mundo!
— Eu não vou deixar você ganhar só por que fica me elogiando – ela fala mas percebo que ficou um pouco sem graça, por isso acabo rindo.
— Mas eu já ganhei! – afirmo e então aproximo minha boca da sua – O melhor prêmio de todos – ela libera um sorriso tímido e então eu a beijo, minhas mãos subindo sua camiseta e logo arrancando, assim como ela faz com a minha e o que era só um beijo acaba avançando muito mais.
— Então, já sabe o que quer fazer no seu aniversário? – eu pergunto quando estamos na cozinha tentando uma receita de pão trançado que peguei do meu pai.
— Tô pensando – ela dá de ombros como se não tivesse importância.
— É semana que vem! Você bem que podia pensar mais rápido ein
— Eu não quero nada demais, sei lá, a gente podia ir no Delphic ou comer qualquer coisa, sei lá – eu paro o que estava fazendo e olho pra ela.
— Qual o problema? – ela também para e me olha, mas seus olhos pela primeira vez se desviam do meu e encaram o chão.
— Eu não gosto dessa coisa de aniversário – ela dá de ombros.
— Fala sério, é festa, você adora festa que eu sei, sem falar que não é todo dia que se faz 21... – eu falo abraçando ela e tentando animá-la, ela ri.
— Toda idade só se faz uma vez!
— Cala a boca – eu também acabo rindo e lhe dou um beijo rápido – Agora, responde... O que você quer fazer?
— Achar minha mãe! – ela fala e eu a solto – Eu sei o que você vai falar, mas eu... Preciso saber
— Sério? – eu me afasto um pouco dela, tentando não me irritar, nós já conversamos sobre isso antes e discordamos bastante desse assunto.
— Eu só quero saber o que aconteceu...
— Ela te abandonou, foi isso que aconteceu! – eu falo diretamente, ela para o que ia falar e apenas me olha – Lu, desculpa, me desculpa, mas a gente já conversou sobre isso, eu achei que você tivesse esquecido essa história...
— Esquecer, Pietro? Como eu vou esquecer quem eu sou?
— Isso não é quem você é! Você é mais do que um bebê abandonado ou uma criança que cresceu no orfanato... Você é a Luiza, você é incrível, inteligente, a maior designer de bolsas do país, minha namorada. Você é foda!
— Mas não sei de onde eu vim, o que aconteceu quando eu nasci, a história por trás de mim...
— Você não precisa saber, só precisa viver sua vida agora, qual é, não é tão difícil, você tem um namorado gato, gostoso e que é louco por você... – falo puxando-a pela cintura, ela ri e passa as mãos pelo meu pescoço.
— E eu sou louca por você, mas eu preciso saber... – eu solto o ar irritado, ela faz o mesmo.
— Eu não entendo você, juro...
— Claro que não, você tem a família perfeita, comercial de margarina, é claro que você não me entende, sua mãe sempre esteve do seu lado, você sabe o que seu pai sente por você, tem dois irmãos que pegam no seu pé, mas que sempre estão ali, então é óbvio que você não me entende, por que nunca passou madrugadas chorando e implorando pra alguém aparecer por você... – as lagrimas escorrem do rosto dela e não tem nada que me machuque mais do que isso, por isso esqueço a irritação e a puxo para os meus braços.
— Eu só não quero que você se machuque
— Eu já estou machucada. Eu só... Só quero saber o que aconteceu, só isso! – eu acaricio o rosto dela e a olho por alguns longos segundos, os olhos com lagrimas presas e assustados – Eu não tô pedindo pra você aceitar e achar uma boa ideia, eu só... Só queria que você tivesse do meu lado, por que sozinha, eu... Eu já tentei e não consegui...
— Você NUNCA MAIS vai estar sozinha, ok? – falo segurando o rosto dela, novamente as lagrimas rolam e ela concorda acenando com a cabeça, eu respiro fundo e beijo sua testa, deixando meus lábios encostados nela por alguns segundos – Se é o que você quer... – ela vira o rosto pra mim.
— Isso é um sim?
— Isso é um “se não tem outro jeito” – dou de ombros e ela ri.
— Obrigada! – ela me dá um beijo rápido.
— Mas ainda acho uma péssima ideia
— É, eu sei! E você tá liberado pra dizer um “eu te avisei” se tudo der errado – ela fala um pouco mais animada.
— Não abriria mão disso – eu sorrio e a beijo, mas a verdade é que estou torcendo com todas as forças pra que eu não tenha motivo pra dizer isso, por que sei o quanto isso é importante pra ela e não quero vê-la magoada ainda mais por causa dessa história.
— Agora anda logo, que eu estou com fome! – ela fala fazendo uma careta com a mão na barriga, então voltamos a atenção pra receita.
— Nada mal – ela fala mordendo um pedaço do pão e fazendo uma cara de impressionada.
— É um dom de família!
— Que sorte a minha então – ela fala já pegando outro pedaço, a porta do apartamento abre e Amanda entra vindo direto ao nosso encontro.
— O cheiro tá ótimo – ela fala já pegando um pedaço do pão da mão da Luiza, que reclama mas já é tarde demais – Hum, espero que tenham deixado pra mim – ela fala depois de sentir o sabor.
— Forno! – aponto pra cozinha logo atrás da gente, ela dá um sorriso de comemoração e corre até lá.
— E então o que vamos fazer semana que vem? Eu tava falando com Léo e... Ele disse que consegue reservar um espaço pra gente lá no Prisma – ela fala animada, Prisma é um bar novo que está fazendo muito sucesso e que o Léo é sócio, fomos lá uma vez e estava bem cheio, mas o espaço é ótimo.
— Eu aprovo! – falo fazendo sinal de positivo, Amanda me dá uma piscada e depois olha pra Luiza.
— Posso confirmar? – Luiza me olha, depois volta a olhar pra Amanda e depois revira os olhos, jogando a cabeça pra trás.
— Confirma!
— Você é demais e vai ser muito legal – Amanda fala já abraçando e beijando Luiza, que tenta não rir mas falha.
— Agora eu preciso tomar um banho e me jogar na cama – ela fala fazendo uma cara de cansada, me manda um beijo no ar e desaparece no corredor.
— Vai ser legal! – eu falo e Luiza me olha duvidando.
— Mal posso esperar...
— Ironia? Que coisa feia – ela ri quando me jogo em cima dela no sofá e então me beija.
Ficamos ainda um pouco pelo sofá, entre beijos e risadas, mas um pouco depois das dez da noite eu saio do apartamento, vou direto pra casa, assim que entro vejo papai, ele está descendo as escadas e com uma cara não muito boa.
— Que cara é essa? – ele revira os olhos e bufa meio irritado, então aponta para um jarro que está em cima da mesinha que fica próxima a escada, as flores amarelas estão praticamente vibrantes.
— Flores bonitas – falo dando de ombros sem entender o problema.
— Sua mãe recebeu hoje! – ele fala e então entendo o motivo da cara feia, mas acabo rindo e ele me encara ainda mais irritado.
— Quem deu pra ela?
— Não sei, entregaram aqui, só tinha um bilhete – ele anda até as flores, puxa um cartão debaixo do vaso e me entrega.
“Belo discurso. O Distrito tem muita sorte de ter você, a eterna garota em chamas”
Ontem teve uma reunião sobre o projeto que ela ainda dirige e eu soube que ela fez um discurso, por mais que ela odeie fazer isso, mas parece que eles tinham perdido um pouco da ajuda, então ela teve que enfrentar e falar.
— Não vejo nada demais, deve ter sido alguém que tava ontem na reunião... Pode até ser uma mulher – ele me olha como se eu tivesse dito a maior besteira do mundo, arranca o cartão da minha mão e sai, indo pro escritório, essa é a minha vez de revirar os olhos, mas logo vou atrás dele, sei como ele pode ser cabeça dura e todo mundo sabe o quanto ele morre de ciúmes da mamãe, normalmente ele consegue ignorar, mas as vezes ele empaca e precisa de um empurrãozinho. Entro no escritório e ele já está sentado na cadeira dele e mexendo em uns papéis como se estivesse ocupado, eu paro e espero ele me olhar.
— Eu tenho que revisar uns documentos da padaria – ele fala sem nem ao menos olhar pra mim, então me aproximo, puxo a cadeira e me sento.
— A Luiza quer procurar os pais dela! – eu falo e ganho a atenção dele – Eu acho isso um erro, eles abandonaram ela, já se passaram 20 anos e eles nem se importam, não é ela quem deveria ir atrás deles...
— Você disse isso a ela?
— Posso ter mudado uma palavra ou outra – dou de ombros e ele parece aliviado – Mas eu acho um erro!
— São os pais dela!
— Não são, não! Eles largaram ela! Ela merece mais do que isso...
— E é por isso que ela tem você. Pietro, é complicado... É a origem dela, talvez ela realmente precise saber!
— E se for pior? E se o motivo ou a realidade fizer ela sofrer mais do que já sofre com essa história? – ele me olha e então libera um sorriso e eu o olho confuso.
— Você realmente a ama, não é? – ele pergunta, eu reviro os olhos – É só disso que ela precisa, que você continue amando ela mesmo sem concordar com ela. Pode não ser importante pra você, mas é pra ela...
— Não é que não seja importante, eu só...
— Não quer ver ela machucada!
— Exatamente. E eu não sei como ela não enxerga isso...
— Ela enxerga sim, só que agora ela tem você e ela sabe que por pior que seja ela ainda vai ter você, ela só precisa disso – ele fala e eu respiro fundo – Você só precisa ficar do lado dela! Você pode fazer isso?
— Posso!
— Então ela vai ficar bem!
— Espero que sim! – concordo torcendo pra que isso aconteça – E quanto as flores...
— Não quero falar disso!
— Deixa de ser cabeça dura – ele me olha assim que falo – É, pode ter sido um admirador secreto, ele pode ser apaixonado pela mamãe e sim, ela é gata pra caraca, deve ter mais uns dez por aí e isso só aqui no Doze... Mas e daí? Você é casado com ela, não eles! Agora deixa de frescura, sobe lá e pede desculpa pela cara feia que você devia tá desde cedo – eu aviso e me levanto, ele continua sentado e apenas me olha – PAI!
— Tá, eu já vou! –eu abro a porta e espero por ele.
— Quando que você se tornou um conselheiro amoroso?
— Não preciso ser um conselheiro amoroso pra saber que você é um turrão cabeça dura...
— Eu ainda sou seu pai – ele fala e me dá um tapa na cabeça, mas ri e passa por mim saindo do escritório, mas antes de subir a escada ele desvia pra cozinha – Nem em sonho eu apareço lá em cima de mãos vazias – ele fala e nós dois rimos, ele vai pra cozinha e eu subo e vou pro quarto deles, dou uma batida na porta e a abro, mamãe está sentada na cama com um livro aberto, ela desvia os olhos pronta pra reclamar mas quando me vê abre um sorriso e fecha o livro, eu sorrio também e me aproximo subo na cama e me arrasto até ela, beijo sua bochecha e ela beija a minha.
— Então você tem um admirador secreto? – pergunto rindo e ela revira os olhos.
— Nem começa, eu não aguento mais essa história. Seu pai passou metade do dia com essa cara emburrada como se eu tivesse saído pra jantar com outro homem... – eu acabo rindo.
— Sabe como o velho é? Todo dramático...
— Ele é um idiota, isso sim!
— Mas tenta entender ele né? – eu falo e ela me olha sem acreditar e pronta pra rebater – Ele tá cheio de ruga, aqueles olhos azuis mal são visto no meio dos pé de galinha, tá cheio de cabelo branco e bom, não queria dizer nada mas acho que ele tem perdido muito cabelo – eu finjo sussurrar e ela ri – Agora olha pra você, toda bonitona, maior gata, gostosona...
— PIETRO – ela me empurra mas ri.
— Se você colocar um vestido curto e for pra Delphic... ahhh vão ter que chamar mais seguranças...
— Cala a boca!
— É sério! Eu também ia ter ciúmes – eu falo e pisco um dos olhos, ela ri se divertindo.
— Você é tão idiota quanto ele!
— Mas você me ama mais... – eu falo e agarro beijando sua bochecha várias vezes, deixando-a gargalhando, então vejo papai parado na porta do quarto com uma bandeja nas mãos e paro de apertar ela – Só não façam muito barulho por que eu acordo cedo amanhã – eu aviso e ela me dá um tapa antes que eu consiga me esquivar, pulo da cama e passo pelo papai dando uma piscada, fecho a porta do quarto deles e entro no meu. Me jogo na cama e digo a mim mesmo que vou tomar banho logo, mas acabo acordando no dia seguinte.
O dia foi agitado e corrido, estamos lançando e testando algumas atualizações do sistema no trabalho e mal consigo parar, passo um pouco do horário de saída e ainda levo algumas coisas pra tentar resolver em casa, por isso vou direto pra Aldeia e não encontro com a Luiza, ligo pra ela um pouco antes das dez e ela conta que já começou a procura pelos pais, mas que o orfanato alega não poder dar nomes e nenhuma informação, mas ela está confiante de que irá conseguir, tento me conter com minha opinião, desejo boa sorte e depois de mais alguns minutos de conversa desligamos, volto ao computador tentando resolver os últimos detalhes pra amanhã e acabo dormindo tarde, mas acordo na hora certa e com tudo resolvido, com o problema solucionado tenho um pouco mais de tempo livre e acabo pensando sobre essa história da Luiza e como ela está empenhada nisso, então decido que realmente devo ajuda-la, por isso assim que saio do trabalho vou pra casa dos pais da Hazel, Gale e Liesel trabalham na parte de segurança, os dois tem alto cargo e acesso a muito mais informação do que qualquer um de nós, por isso são as pessoas perfeitas para o que eu preciso, Gale me recebe bem mas não consegue disfarçar a surpresa e curiosidade, Liesel também está em casa, então aproveito e converso com os dois, eu falo sobre a Luiza e essa busca que ela decidiu levar até o fim, então peço ajuda deles, já que conseguem ter acesso a vários tipos de informações, Liesel é muito simpática como sempre e garante que irá ajudar, talvez demore um ou dois dias mas ela me dá certeza que irá conseguir, eu agradeço e saio de lá torcendo pra ter feito a coisa certa.
Dois dias depois Gale me liga, ele pede pra que eu passe por lá e assim que saio do trabalho vou até eles, Liesel me entrega um envelope branco.
— Isso foi tudo que conseguimos! O orfanato tem um sistema meio atrasado ainda e estão ainda atualizando, por isso a demora, mas tudo que consegui está aí, não é muito. É a ficha dela no orfanato, um nome e um endereço, espero que ajude – ela fala e me força um sorriso.
— Isso já é ótimo, muito obrigado – eu aperto a mão deles e saio com o envelope, vou pra casa, entro no quarto, me sento na cama e encaro o envelope decidindo o que fazer, chego a começar a abrir mas desisto, me levanto coloco dentro da gaveta e entro no banheiro.
A semana passa e não toco mais no envelope, embora ainda pense se fiz ou não a coisa certa, mesmo assim decido que irei entregar a Luiza, é a escolha dela.
O sábado amanhece com o céu limpo, o sol brilhando como não brilhou a semana toda e eu acabo sorrindo satisfeito, hoje é aniversário da Luiza e eu só quero que o dia seja perfeito pra ela, por isso me apresso, tomo um banho, me arrumo, pego a sacola com o presente e desço as escadas correndo, entro na cozinha e papai já está lá, ele me olha sorrindo.
— Ansioso? – ele pergunta se divertindo.
— Já tá pronta? – me aproximo enquanto ele termina de confeitar a torta de nozes com doce de leite, a preferida da Luiza.
— Quase! Só mais uns detalhes e ... – ele joga umas nozes picadas em cima, ajeita um chantilly e então sorri orgulhoso – Pronta! – ele abre os braços e me olha.
— Você é o melhor! – falo e seguro seu rosto e beijo sua testa de forma exagerada, ele ri, depois me ajuda a tampar a torta numa embalagem transparente, me dá as chaves do carro e eu saio animado.
Chego no apartamento e não preciso mais tocar a campainha já que agora eu tenho uma cópia das chaves, ouço as risadas quando alcanço o corredor e sei que Amanda já está com ela, fico um pouco frustrado por que queria ser o primeiro a abraçar ou beijar ela, mesmo que eu tenha ligado a meia noite, mas mesmo assim não desfaço o sorriso, a porta está aberta e as duas estão jogadas na cama rindo, então entro cantando o clássico “Parabéns pra você”, Amanda bate palmas e me acompanha enquanto Luiza ri e esconde o rosto com as mãos, eu entro no quarto, Amanda sai da cama e vem até a mim, ela pega a torta das minhas mãos e sinaliza pra eu ir pra junto da Luiza, então me joga na cama agarrando e beijando seu rosto várias vezes, ela solta risadas altas e pela primeira vez não reclama quando faço cócegas e a mordo.
— Eu já disse isso mas vou repetir, eu quero que você seja muito, muito, muito, muito, feliz! – ela abre um sorriso grande demais.
— Eu sou! – então ela me beija, um beijo um pouco demorado e que faz Amanda reclamar e nos empurrar com o pé – Isso é torta de nozes?
— Com doce de leite!
— Aaaai meu Deus, eu te amo! – ela fala e segura meu rosto e me beija, mas logo pula da cama e pega a torta da mão da Amanda e sai praticamente correndo do quarto.
— Pode ficar tranquilo que hoje eu durmo no Léo... – Amanda fala quando ficamos pra trás sozinhos, eu sorrio e seguro o rosto dela e beijo sua bochecha.
— Você é a melhor amiga do mundo!
— Eu sei! – ela dá de ombros – Por isso que o primeiro pedaço vai ser meu – ela fala e corre pra cozinha.
Luiza come três pedaços grandes e suspira a cada garfada.
— Ela não deveria comer tanto doce logo de manhã... – Amanda fala apontando pra Luiza que continua quase lambendo o prato.
— Eu que não tiro o prato dela
— Não falem de mim como se eu não estivesse aqui – Luiza reclama mas sorri – Eu amo tudo que seu pai faz, mas essa torta... – ela fecha os olhos e morde o lábio.
— Melhor você guardar um espaço por que ele já tava preparando tudo pro almoço – ela vibra animada com a noticia – Você e o Léo vão né?
— Comida de graça? E do seu pai? Com certeza nós vamos!
— Ah que bom que o fato de ser MEU aniversário não influencia em nada – Luiza fala fingindo mágoa, Amanda ri e vai até ela abraçando e beijando seu rosto várias vezes, as duas riem e depois se soltam.
— Eu ainda tenho que arrumar meu quarto então... – ela sorri e nos acena um adeus já saindo da cozinha – Juízo! Mas nem tanto – ela pisca e desaparece no corredor, assim que ela sai eu puxo Luiza pros meus braços, encaixando minha boca no seu pescoço, deixando meus lábios subirem pela sua pele até sua orelha.
— Agora eu realmente gostaria de começar a comemoração – eu falo sorrindo e ela também sorri, então passo meu braço atrás das suas pernas e a pego no colo, ela solta uma risada alta e divertida, que me faz rir junto, ela passa o braço por trás da minha nuca e sorri satisfeita quando lhe dou um beijo rápido, saio da cozinha e vou direto pro quarto dela, chuto a porta que se fecha com um barulho meio exagerado mas ela não reclama, então ando até a cama e a coloco deitada já parando meu corpo acima do dela, meus dedos escorregando pelo seu cabelo e o contorno do seu rosto, seguro seu queixo com dois dedos e apenas olho pra ela por alguns segundos, registrando cada centímetro do seu rosto – Eu sou... Completamente apaixonado por você! – eu confesso com toda onda de sentimentos e sensações que ela me desperta, o sorriso desliza na sua boca aumentando cada vez mais.
— E eu sou totalmente apaixonado por você! – ela fala e também toca meu rosto, seus dedos escorregam até meu queixo e ela sorri antes que eu a beije, demoradamente, minha mão sobe por baixo da sua camiseta e sinto sua pele ainda quente me despertando cada vez mais, ela mesma tira a camiseta e joga pra trás, eu volto a beijar sua boca, descendo pelo seu pescoço e nada mais me faz parar.
Passamos a manhã toda no quarto dela, na cama, nós rimos, nos beijamos, as coisas esquentam sempre que um beijo avança um pouco mais e nenhum dos dois nunca recua o que acaba nos fazendo perder a hora, só quando Amanda bate na porta do quarto e avisa que já são meio dia que nós pulamos da cama pra nos vestirmos, ela toma um banho mas quando vou entrar no banheiro ela diz que eu vou acabar atrasando elas ainda mais e me barra de tomar banho no apartamento, por isso quando chegamos aqui em casa, deixo ela sendo recebida e parabenizada no andar debaixo e subo correndo pro meu quarto, entro no banheiro e tomo um banho, saio enrolado na toalha e levo um susto quando vejo Louise dentro do quarto.
— Eu podia tá pelado!
— Mas não tá! – ela dá de ombros.
— Mas podia tá, sua mãe não ensinou a bater na porta não? – ela revira os olhos como se tivesse muita razão.
— Lembra do Dylan, que é irmão daquele seu colega o David? Ele tava comigo e com a Maya num dia que você deu carona pra gente até a praça? Então, ele me chamou pra sair...
— E o que isso tem a ver comigo?
— Meu pai é da era dos dinossauros e o Pyt disse que não vai se meter dessa vez...
— Azar seu, eu já tenho namorada! – dou de ombros e puxo minha cueca e calça que estavam em cima da cama, entro no banheiro, encosto a porta e começo me vestir.
— Você podia falar com Pyt, aí ele fala com meu pai e eu vou no encontro! – ela fala e deve estar colada na porta pra que eu a ouça.
— Não vou falar com ele, isso é problema seu!
— Acho que é problema seu também – ela fala enquanto termino de vestir a calça – Ou o vovô pode acabar descobrindo que não fui eu quem quebrou a vitrine da padaria semana passada tentando equilibrar a vassoura na mão... – eu abro a porta do banheiro.
— Você tá me chantageando?
— Não, claro que não! Tô só pedindo sua ajuda, igual você pediu a minha quando quebrou a vitrine e ficou com medo do vovô comer seu fígado ou te colocar pra trabalhar lá de novo – ela fala e dá de ombros me encarando.
— Você tá mexendo com fogo...
— Qual é, tio? Por favor? – ela junta as mãos implorando – Eu só quero ir num encontro! Eu te ajudei, você me ajuda...
— Não se ajuda ninguém pensando em ser ajudado depois
— Bom, eu não tinha uma bola de cristal que mostrava que o Pyt ia virar um homem das cavernas como meu pai, então eu te ajudei só por ajudar, por que eu sou muito legal e você é o melhor tio do mundo – ela fala com um sorriso forçado.
— E você a sobrinha mais mentirosa e chantagista...
— Não é chantagem! – ela rebate revirando os olhos.
— Quem tá sendo chantageado aqui? – Pyter pergunta entrando no meu quarto.
— Virou bagunça é? Esse é o meu quarto e isso bem grande aí na frente é uma porta
— Você veio chantagear ele pra te ajudar a sair com um garoto que você conheceu ontem?
— Eu conheço ele desde o começo do ano! – ela revira os olhos.
— Não interessa, eu não gosto da cara dele e seu pai tá certo!
— Vocês dividiam a caverna no tempo das selvas? – ela pergunta com ironia.
— Agora eu faço questão de falar com o Ian e parabenizar a decisão dele...
— Pyt, não, por favor – ela corre até ele e agarra seu braço.
— OK! CHEGA! – eu falo mais alto e os dois param e me olham.
— Você para com drama, é irritante! – aviso apontando pra Louise – E você vai falar pro Ian que o garoto é legal...
— E por que eu faria isso?
— Por que ele realmente é legal, é irmão do David, eu conheço o moleque, ele é tranquilo, aposto que quando essa aqui começar com o drama dela ele corre...
— Cala a boca – ela reclama fazendo uma careta.
— E por que se você não ajudar, eu conto pro papai que você que quebrou o vaso com a planta da varanda...
— Sério? Você vai mesmo me ameaçar? – ele pergunta sem acreditar.
— Ah qual é, deixa a garota sair, ter um encontro, beijar na boca, assustar uns garotos, sei lá... Ela não é um bebê – olho pra ela que sorri orgulhosa – Pelo que eu sei na idade dela você e a Keyse já andavam se pegando por aí, então você sabe muito bem que ela poderia fazer o que quisesse sem pedir nossa ajuda ou permissão...
— Mas eu nunca faria isso por que eu prefiro ser sincera e pedir ajuda aos meus dois tios maravilhosos – eu e Pyter olhamos pra ela que sorri dando de ombros, depois Pyter olha pra mim.
— Não me faça me arrepender – ele avisa apontando pra ela que dá saltinhos comemorando e pula nele o abraçando.
— Você é demais! – ele revira os olhos mas sorri e a abraça de volta, depois ela se solta e pula em mim – Você também! – ela beija minha bochecha e depois sai pulando animada do quarto.
— É por isso que eu não quero ter filha – Pyter fala e faz uma careta – E tá todo mundo só esperando você e eu to com fome!
— Você sempre tá com fome!
— Cala essa boca e desce – ele avisa já saindo do quarto.
Quando desço logo todos começam a se servir. O almoço é incrível, Luiza parece em um mundo diferente, ela ri e parece encantada com tudo, os meninos toda hora puxam ela pra alguma coisa, Louise e ela também trocaram vários cochichos escondidos, Pérola deu mais de cinco abraços apertados, esses só os que eu vi, papai levantou uns três brindes pelo aniversário dela e o sorriso que ela estava só aumentou até o final da tarde, nós nos despedimos e ela vai pro apartamento com a Amanda e o Léo, eu fico em casa até a noite.
Já passa um pouco das nove horas da noite quando eu chego no apartamento, dessa vez não uso minhas chaves e toco a campainha, assim que a porta abre eu sou premiado com a melhor visão de todas, Luiza está com um sorriso deslumbrante, tão animado e ansioso que me faz sorris imediatamente, além disso ela está com um vestido vinho que parece ter sido costurado no corpo dela de tão perfeito, ele se prende ao seu pescoço, o cabelo ela deixou todo de um lado só e pequenos pontos de luz estão destacados do lado oposto, ela está com um salto alto então estamos da mesma altura, os olhos estão destacados e parecem ainda mais azuis do que qualquer outra vez,  a boca vermelha é praticamente um convite mas antes que eu o aceite, ela sorri e dá uma volta lentamente, mostrando as costas nuas.
— Você está... Perfeita! – eu falo sem conseguir desviar os olhos dela.
— E você está... Impressionante – ela fala e imitando ela eu também dou uma volta, estou com uma calça preta, uma camisa rosa com alguns botões abertos e um blazer também preto por cima, ela ri.
— Vamos? – Amanda aparece logo atrás dela sorrindo ansiosa.
Eu levo elas duas, já que Léo já está no bar, assim que chegamos encontramos Chris e Penny saindo do carro, nós entramos juntos e logo Léo vem nos receber e nos leva até nossa mesa, ele resolve algumas coisas e se junta a nós, a noite é incrível, nós rimos muito, nos divertirmos como se a noite não fosse acabar, as meninas tomam algumas rodadas de tequila e quando começam a rir demais nós cortamos o estoque, elas reclamam um pouco mas logo se esquecem e entramos em outros papos e já passa de uma da manhã quando nós saímos de lá, Amanda fica com Léo, nos despedimos do Chris e da Penny e então eu e Luiza vamos para o apartamento, ela se enrola um pouco com o cinto de segurança do carro, provavelmente culpa da tequila, mas acaba sendo divertido, levamos poucos minutos até pararmos na garagem do prédio, pego a mochila que estava no carro e levo junto comigo, quando chegamos ao apartamento, assim que abro a porta e entramos ela me encosta na porta e me beija, não apenas um beijo calmo ou apaixonado, mas um beijo cheio de tesão e desejo, eu correspondo por que sinto exatamente a mesma coisa, eu a pego nos meus braços e a levo pro quarto, assim que entramos a coloco no chão e ela me olha sorrindo, então segura minha mãos e me leva até a cama, ela me empurra me fazendo cair sentado e então dá um passo pra trás sorrindo de um jeito malicioso, então ela começa a descer o zíper da lateral do vestido, me olhando e sorrindo e então a visão que já era perfeita fica ainda melhor e tudo que eu faço é admirar cada pedaço dela, quando ela já está apenas de calcinha, ela anda até a mim novamente e me beija e tudo que importa somos nós dois.
— Esse, com certeza, foi o melhor aniversário da minha vida – ela confessa enquanto deixa os dedos escorregarem pelo meu peito, sua voz é alegre, nostálgica e ao mesmo tempo relaxada, eu a aperto ainda mais em mim e afundo meu rosto no seu cabelo.
— Ainda é pouco! – ela levanta o rosto pra me olhar e ri negando.
— É muito! É tão mais do que eu já sonhei um dia que... Eu nem sei, só... Obrigada!
— Você não tem que me agradecer por nada!
— Tenho sim! Você me faz feliz – ela dá de ombros e sorri de um jeito tímido, eu também sorrio e aperto a ponta do seu nariz, ela odeia isso mas não reclama apenas ri e balança a cabeça.
— Eu faço qualquer coisa pra te ver assim... – confesso sorrindo e olhando pra ela, então ela aproxima nossas bocas e me beija, lentamente, como se o mundo tivesse congelado e eu realmente queria que tivesse, eu seguro o rosto dela com as mãos e sorrio antes de lhe dar outro beijo porém mais rápido – Espera um minuto! – eu aviso e pulo da cama, visto a minha cueca mesmo que estejamos sozinhos no apartamento e corro até a porta de entrada do apartamento, pego a mochila que deixei jogada lá e volto pro quarto, ela está sentada na cama me esperando ansiosa, eu me sento de frente pra ela, abro a mochila e pego o estojo que preto com um laço vermelho em cima, ela tampa a boca com as mãos e me olha animada, eu entrego pra ela que rapidamente arranca o laço e abre o estojo, dentro tem uma pulseira prata, ela já tinha comentado que queria uma dessas então comprei sem precisar ficar muito na duvida, ela é uma pulseira simples, mas que você pode (e deve) adicionar pingentes de acordo com seu gosto, então eu comprei quatro pingentes que tem a ver com nossa história, ela pega a pulseira nas mãos e levanta olhando cada um deles, ela sorri quando olha pra garrafa de cerveja, ela foi a primeira mulher que eu vi virar uma garrafa de cerveja sem nenhuma frescura e sem tentar me impressionar, mesmo que tenha acabado fazendo isso, o segundo pingente é um controle de vídeo game, ela ri, ao lado dele tem uma arvore, por que uma vez estávamos conversando sobre coisas bobas de adolescentes e suas paixões e ela ficou surpresa de eu nunca ter me apaixonado quando mais novo ao ponto de escrever as iniciais numa arvore, então um dia nós estávamos andando pela Campina e eu acabei colocando nossas iniciais na arvores de lá, o ultimo pingente arranca uma gargalhada alta dela e foi o que me deu mais trabalho, é uma costelinha, o prato preferido dela e a arma secreta que usei quando pedi ela em namoro.
— Eu não acredito nisso – ela fala rindo e já me abraçando – É perfeito, é sério, eu amei, é o melhor presente que eu já ganhei na minha vida – ela fala sem me soltar, ela me dá vários beijos pelo rosto e ainda admira a pulseira – É incrível – ela garante e morde o lábio tentando se controlar, eu pego a pulseira da mão dela e coloco no seu pulso, ela balança olhando e rindo como se fosse o maior e melhor presente do mundo.
— Que bom que você gostou!
— Eu amei! – ela fala e me dá um beijo rápido.
— Mas ainda tem mais uma coisa – eu sorrio e puxo a mochila de novo, dessa vez não estou ansioso, mas ela sorri a bate palmas nervosa, eu pego o envelope ainda fechado e ela me olha confusa – Eu pensei muito, muito mesmo sobre isso, mas independente da minha opinião eu quero que você saiba que eu tô com você, sempre, pra qualquer coisa... – seu olhar ansioso muda pra nervoso, ela muda a postura e me olha confusa – Como eu disse, por você eu faço qualquer coisa, inclusive, isso... – eu entrego o envelope, ela pega com cuidado.
— O que é isso?
— O que você tanto quer – seus olhos se arregalam e ela parece não acreditar, então praticamente rasga o envelope, posso ver sua respiração forte e seus olhos passam pelo papel como se ele fosse dissolver nas suas mãos, depois de ler ela me olha.
— É o nome da minha mãe! – eu concordo com a cabeça – E o endereço! – ela volta a olhar pro papel.
— Eu mexi alguns pauzinhos e se é o que você quer... – ela meio que abraça o papel e ri, não um riso feliz mas algo parecido com alivio ou nervosismo.
— Eu achei que você achasse uma péssima ideia!
— E eu acho! Mas é uma péssima ideia que eu faço questão de tomar com você – eu falo e ela se joga nos meus braços, o abraço é apertado e demorado, ela não diz nada e eu mantenho assim, depois de alguns longos segundos ela afrouxa os braços e para com o rosto na minha frente.
— Obrigada – seus olhos estão lacrimejando e eu apenas a abraço mais uma vez, torcendo pra que eu tenha feito a escolha certa.
— Pronto pra uma visita no Distrito Dois?
— Ela mora no Dois?
— Você não abriu? – ela pergunta curiosa e eu nego – Por que não?
— Você tinha que abrir e... Eu não sabia o que poderia fazer depois de abrir, então pra não fazer nenhuma besteira... – dou de ombros.
— Foi melhor assim – ela sorri e volta a olhar o papel – Já tem planos pro domingo?
— Sou todo seu! – dou de ombros e ela ri e se joga nos meus braços de novo.
Acordamos cedo no domingo, na verdade, ela me acorda cedo, já está arrumada e com uma bolsa pronta, ela me faz tomar um banho rápido e me vestir, passo pela casa dos meus pais apenas pra avisar da viagem rápida, ela deixa uma recado pra Amanda onde promete explicar mais na volta e assim, como um raio na tempestade estamos dentro do trem indo para o Distrito Dois, ela passa a viagem bastante falante e sorridente mas depois desse tempo juntos já aprendi a desvendar o que ela realmente está sentindo e eu sei o quanto ela está nervosa e apavorada com isso e eu gostaria de estar seguro e confiante, mas é que tudo que eu consigo fazer é implorar pra qualquer milagre para que ela não termine machucada,  quando anuncia que estamos no Distrito Três, toda falação  dela desparece e ela fica tensa sem conseguir disfarçar.
— É burrice né? EU... Eu não devia ter vindo – ela fala quando eu me sento ao lado dela que observava a janela, eu seguro sua mão e coloco um beijo.
— Você tinha que vir! – ela balança a cabeça concordando e ficamos apenas assim sentados de mãos dadas até ser anunciada nossa chegada. Descemos do trem e consigo um motorista pra nos guiar pelo Distrito, mostro o endereço e ele garante que não é longe.
— Fica logo no Centro, é um ótimo lugar pra se morar – ele fala simpático e sorridente e quanto mais avançamos mais o aperto da Luiza na minha mão se intensifica, mas nem por um segundo penso em soltar sua mão, quando o motorista entra no que parece ser uma Vila porém bem mais luxuosa que a que estamos acostumado, os olhos dela encontram os meus, avançamos até uma casa de dois andares, toda branca e com um jardim na frente – Chegamos! Numero 18 – ela fala e vejo Luiza respirando fundo antes de descer, eu pago e agradeço a ele, nós ficamos alguns segundos parados na frente da casa e ela parece perdida em pensamentos.
— Lu? – eu a chamo e ela se desperta.
— Vamos? – ela fala com uma confiança fingida, mas apenas concordo, ela vai na frente e toca a campainha, logo uma mulher atende, ela está com uniforme branco.
— Eu gostaria de falar com a Senhora Vitória Glimório...
— Quem gostaria?
— Luiza... Eu... É um assunto particular!
— Claro só um minuto! – a mulher avisa e sai, logo a porta é aberta de novo, dessa vez uma mulher muito bem vestida e maquiada que aparece, ela é morena, cabelo preso em um rabo de cavalo perfeitamente desenhado, ela é parece bem mais nova do que eu esperava e tem uma postura firme e superior, mesmo assim tenta sorrir simpática.
— Vitória? – Luiza pergunta tentando se manter firme.
— Sim, e você é? Me desculpa é que não me lembro...
— Eu sou a Luiza, nós ainda não nos conhecemos – ela fala e estica a mão, a mulher aperta sorrindo.
— Por favor,  entrem... – ela fala e abre a porta nos dando passagem.
— Pietro – eu me apresento e aperto a mão dela também.
— Perdoe-me mas do que se trata?
— É... é um assunto pessoal e... Muito importante!
— Claro, vamos até o escritório – ela fala e avançamos por um salão grande muito bem mobiliado, ela abre uma porta de vidro e nos deixa passar primeiro, uma mesa está logo a frente, com uma cadeira grande destacada e outras duas logo a frente, ela vai até a cadeira dela e nos sinaliza pra sentarmos – Agora já temos privacidade, então... – Luiza olha pra mim como se estivesse tomando coragem, eu lhe incentivo com um gesto de cabeça e ela respira fundo.
— Meu nome é Luiza, eu... Eu não sei como dizer isso... Eu... Eu ensaiei mais de mil vezes isso e agora...
— Bem, comece do começo – ela fala sorrindo – Que tal ir direto ao assunto, me diz sobre o que se trata e então nós conversamos melhor...
— Eu sou sua filha! – Luiza solta a frase quase como se estivesse cuspindo, leva alguns segundos até que Vitória consiga esboçar alguma reação, seus olhos se espreitam pra ela e sua postura que antes era inofensiva agora está mais firme.
— Como assim, minha filha? Que palhaçada é essa?
— Não é palhaçada, eu... Eu fui deixada num Orfanato, no Distrito 7, já faz um tempo que eu queria saber sobre meus pais e agora eu finalmente consegui seu nome e o endereço...
— Isso não é possível! O orfanato garantiu que ninguém teria acesso a essa informação – ela fala realmente irritada – Olha só, o que você quer? Isso é algum tipo de ameaça ou você é só uma jornalista querendo uma matéria, seja lá o que for, fale logo...
— Não, eu... Eu não sou jornalista e nem quero te ameaçar, eu só... Queria te conhecer, eu...
— Isso não devia acontecer – ela repete sem demonstrar nenhum tipo de emoção boa ou simpatia, ela passa a mão pela testa e fecha os olhos como se estivesse em um pesadelo – Como você descobriu sobre mim?
— Isso não importa!
— Importa sim, por que se você descobriu, qualquer um pode descobrir também... Eu não acredito que isso esteja acontecendo... – ela levanta da cadeira e esfregando a mão na testa e andando de um lado pro outro.
— Eu não quero causar nenhum mal, eu só... Queria saber da história, do que aconteceu, por que você me deixou lá? – Luiza fala sinceramente e apenas de olhar pra ela sei o quanto ela está controlando suas emoções, Vitória para de andar e fica de costas pra nós, Luiza se levanta e se aproxima dela – Eu preciso saber! Eu mereço saber... – Vitória se vira pra ela.
— E o que você quer saber? Que eu deixei você lá? Sim, eu deixei! O que você quer que eu diga? Que me arrependo? Que penso nisso todos os dias? Que também queria te conhecer? Bom, eu sinto muito, mas não posso! – assim que as palavras saem consigo ver o impacto de cada uma delas na Luiza, ela recua um passo e é como se ela acabasse de ser atingida e isso era tudo que eu queria evitar, por isso me levanto e me aproximo dela.
— Ok, vamos! Você não vai continuar aqui... – seguro o braço dela, mas ela puxa e se esquiva de mim.
— Eu só saio daqui quando você me contar a História toda! – ela exige e para encarando a mãe – Por que você me deixou lá?
— Por que eu não ia estragar a minha vida por um erro idiota!
— Qual o seu problema? Você é tão imbecil assim? – eu pergunto tomando a frente e indo até ela, Vitória recua um passo parecendo assustada, mas Luiza segura meu braço.
— Pietro, não! – ela fala firme, eu a olho e por mais que ela esteja magoada, está decidida, então desisto e recuo também.
— O que aconteceu?
— Eu tinha 18 anos, tinha uma vida inteira pela frente, de presente de aniversário eu fiz uma viagem com alguns amigos pra Capital, foi quando eu conheci um garoto, numa boate, nós dançamos, bebemos e passamos o fim de semana juntos, foi isso só isso, até que 3 semanas depois eu descobri que estava grávida, eu... Eu não ia acabar com a minha vida por causa de dois dias que foram apenas diversão...
— E você escondeu uma gravidez de todo mundo?
— Contei pra minha mãe, então ela inventou um curso fora do Distrito, eu fui pro Distrito 7, ela vai algumas semanas antes do parto, eu tive o bebê e nós deixamos no orfanato, tudo deveria ser anônimo pra não acontecer o que está acontecendo agora, mas eles disseram que eu teria que assinar um documento me ausentando de qualquer responsabilidade ou de direito de ter a guarda novamente... – ela explica com uma frieza quase assustadora – Isso não era pra ter acontecido, você aparecer aqui pode acabar com a minha vida, ninguém mais sabe disso, eu segui em frente, eu continuei minha vida do jeito que ela tinha que ser e você não tem o direito de estragar isso...
— Mas você teve o direito de me largar lá, como se eu fosse uma roupa velha...
— Aí por favor, olha pra você, já é uma adulta, parece muito bem, é bonita, deve ter sido criada por pessoas decentes, pra quê mexer nisso?
— Por que é a minha história!
— Não! Não é, eu não tenho nada a ver com você, quando eu te deixei lá, eu deixei essa história lá também...
— Chega! Chega, acabou Luiza, eu não vou deixar você aqui com essa mulher, você queria saber quem ela era, e tá aí, ela é uma pessoa desprezível, agora vamos embora – eu falo olhando pra Luiza, mas ela continua encarando essa mulher.
— Eu finalmente me sinto sortuda por ter sido deixada lá – Luiza fala sem desviar os olhos dela – Eu só exijo mais uma coisa... O nome dele! O nome do meu pai!
— Não! Eu não vou fazer isso! Você não pode entrar na minha casa, remexer na minha vida e arriscar tudo por causa de uma história de 20 anos atrás
— Se você não quer um escândalo você vai me dar o nome, ou eu garanto que não vai sobrar nada dessa sua vidinha perfeita... – Luiza ameaça de um jeito firme e decidido.
— Ele não sabe! Não sabe sobre a gravidez, ele nem sabe que você existe – ela fala visivelmente tentando atingir Luiza, mas ela se mantem firme, anda até mais próxima dela.
— O nome!
— Acho que eu te julguei mal, você não foi tão bem criada assim já que se tornou tão mimada...
— Você tem 3 segundos pra me dar o nome ou pode começar a se preparar pra uma grande confusão... – Vitória respira fundo e tenta se manter firme.
— Isac Silva! Ele estava na Capital mas era do Distrito 4! Agora você tem que ir embora – antes que ela fale mais alguma coisa, a porta se abre.
— Ô mãe, eu... Desculpa, não sabia que tinha visita em casa – um garoto que parece apenas alguns poucos anos mais novo do que eu, para assim que nos vê, ele deve ter no máximo uns 18 anos, é alto, cabelo preto penteado perfeitamente pra trás, olhos escuros, pele branca e uma pinta bem no meio da bochecha, ele olha pra Luiza de um jeito meio demorado demais.
— Você é aquela garota das bolsas não é? Eu vi alguma coisa sobre o desfile, você é muito mais bonita pessoalmente – ele fala sorrindo.
— Obrigada! – ela agradece e ele estica a mão pra ela.
— Veio oferecer alguma bolsa pra minha mãe? Por que ela já tem todas... – ele fala rindo, Luiza olha pra Vitória que tenta se manter indiferente.
— Na verdade não, eu só vim dar uma noticia mesmo...
— Que noticia?
— Fred, por favor... – Vitória fala tentando encerrar o assunto.
— É que ela era amiga da minha mãe e... – Luiza respira fundo e olha pra Vitória – Eu vim avisar que ela está morta!
— Eu sinto muito! – ele fala mostrando um pouco mais de simpatia do que a mãe durante todo esse tempo.
— Tá tudo bem, ela não tinha muitas qualidades mesmo – Luiza dá de ombros – Agora eu tenho que ir! – ela avisa e Vitória apenas concorda com um balançar de cabeça, Luiza me olha e eu também concordo, seguro sua mão e saímos do escritório, nós saímos da casa em silêncio e só quando já estamos fora da luxuosa Vila que ela solta o ar como se durante todo esse tempo ela estivesse prendendo a respiração, seu peito arfa como se ela tivesse acabado de correr por dezenas de quilômetros e então ela chora, um choro engasgado, angustiado ferido, seus ombros sacodem com certo desespero, ela tenta esconder o rosto com as mãos mas os soluços logo aparecem, eu a abraço e ela se aperta em mim como se eu fosse fugir ou desaparecer a qualquer momento, seu rosto de pressiona no meu peito e o tremor de seu corpo aumenta cada vez mais, como estamos muito expostos, eu caminho levando-a ainda abraçada a mim, até uma praça do outro lado da rua, eu sento em um banco e deixo que ela apenas chore, por alguns minutos ficamos assim.
— Eu sou uma idiota! Você tava certo... Eu ... Nunca devia ter vindo, nunca – as lagrimas ainda rolam mas ela parece um pouco mais controlada, eu seguro seu rosto e limpo suas lagrimas – Pode falar... Fala que você me avisou
— Eu nunca faria isso! – eu afirmo olhando nos olhos dela – Ela não merece uma lagrima sua! – ela concorda tentando se controlar, respirando fundo e soltando o ar.
— Obrigada! – eu nego.
— Não tem nada pra agradecer! – eu a puxo pro meu abraço de novo – Agora nós precisamos de um carro pra voltarmos pra Estação – eu falo já pegando meu telefone e procurando pelo numero que eu tinha anotado do motorista, ligo pra ele e em pouco menos de 15 minutos ele para na praça onde estamos, entramos no carro e ele vai direto pra Estação de Trem, temos que aguardar um pouco até a chegada do Trem, nós entramos em uma cabine vazia que tem um grande sofá circular ao lado da janela, Luiza se encaixa nele, olhando fixamente pro lado de fora.
— Eu já volto! – aviso e saio da cabine, pego meu telefone e faço algumas ligações, anoto o que preciso e com tudo resolvido volto pra cabine, eu vou pro sofá e me encaixo logo ao lado dela, assim que sente minha presença ela se encosta no meu peito e deixa a cabeça apoiar no meu ombro, ela se encolhe e eu a abraço apertado, querendo arrancar qualquer coisa que a esteja machucando mesmo sabendo que isso é impossível – Você precisa comer alguma coisa – eu falo e ela nega – Não foi uma pergunta! – dou de ombros e ela me olha com a sombra de um sorriso, eu puxo o comunicador da cabine e peço dois pratos de macarrão com queijo, sucos de laranja e dois pedações de pudim, nós terminamos no momento exato quando o trem para no Distrito Quatro – Nós temos que descer – falo já pegando a bolsa dela e me levantando, ela me olha confusa – Anda, vamos! – seguro sua mão e saio da cabine com ela me olhando sem entender nada, descemos do trem e ela para e me encara.
— Por que a gente desceu aqui? – em resposta eu tiro o papel do bolso e entrego pra ela, o endereço está escrito com uma letra meio corrida mas legível – Isso é...
— O endereço do seu pai! – ela parece surpresa e me olha sem saber o que dizer – Nós só precisamos achar um carro e motorista disponível – falo já olhando ao redor.
— Eu não quero ir! – ela fala se recusando a andar.
— Claro que quer!
— Não quero! Eu... Isso tudo foi um grande erro! Você tava certo, eu nunca deveria ter mexido nessa história, foi burrice...
— Olha só... – eu volto e paro de frente pra ela, segurando seu rosto – Você quer isso, só está com medo e eu te entendo, sua mãe é uma bruxa, mas Lu, eu ouvi todos os seus motivos pra querer saber sua história, eu ouvi seus pedidos e eu não entendia e mesmo sem entender eu topei, eu tô aqui, eu sei que não foi como você queria e eu sinto muito por isso, mas agora eu vejo o quanto isso é importante pra você, também sei que se você não terminar isso hoje, sempre vai ficar pensando no “e se” e isso vai te assombrar pelo resto da vida e eu não quero isso, eu quero que você seja feliz, por que ninguém no mundo merece isso mais do que você, então sim, nós vamos conhecer seu pai – assim que eu termino ela me beija, eu fico surpreso mas a beijo de volta.
— Eu nunca vou conseguir te agradecer o suficiente pelo que você tá fazendo e por... Tudo!
— Então nem tente agradecer – eu falo e lhe dou um beijo rápido, dessa vez ela me acompanha pra procurarmos um carro, achamos um senhor muito simpático, passo o endereço pra ele e ele diz que deve demorar uns trinta minutos, Luiza segura minha mão e eu sorrio pra ela, beijo sua mão e ela apoia a cabeça no meu ombro.
— Ele nem sabe que eu existo – ela fala parecendo realmente nervosa.
— Vai saber hoje! – ela me olha e todo medo está bem claro em seus olhos – Pensa pelo lado positivo...
— E tem um lado positivo? – ela pergunta se permitindo fazer uma careta.
— Ele vai ter que se esforçar bastante pra ser pior que a sua mãe – eu também faço uma careta e então ela ri, uma risada divertida que me faz me sentir um pouco melhor em vê-la assim.
— Você é cruel e um idiota – ela fala mas volta a encostar a cabeça no meu ombro, eu beijo sua cabeça e afundo meu rosto no seu cabelo.
Chegamos no endereço marcado, é uma vila de pescadores, as casinhas são simples mas com um toque aconchegante, daquele que te faz sentir bem apenas de olhar, além disso o mar logo a frente está levemente agitado, as aguais azuis trazem uma certa calmaria mesmo com algumas ondas rebeldes, o céu está limpo e o sol não está tão forte, alguns barcos estão próximos a costa e outros são apenas um pontinho distante, eu olho o endereço e vejo o numero da casa, nós andamos por algumas pessoas e crianças correm pela areia, jogando bola e rindo, a casa tem a frente azul clara, é de um andar só, simples, com janelas de madeira abertas assim como a porta, nós paramos a alguns passos, Luiza me olha tomando coragem e então um homem sai de dentro da casa, ele é bem alto, a pele bronzeada como se passasse o dia inteiro no sol, ele tem o cabelo cortado a maquina, está com uma camiseta branca e uma calça dobrada na canela, assim que ele nos olha vejo a perfeita semelhança, os olhos absolutamente azuis, que parecem um complemento do mar, o sorriso é sincero, simpático e contagiante, e eu só vi um sorriso e um olhar assim em uma única pessoa até hoje e ela está parada ao meu lado.
— Estão procurando alguém? – ele pergunta mantendo o sorriso.
— Isac Silva? – pergunto e ele estica a mão pra mim.
— Sou eu mesmo, se vieram pro passeio de barco vieram no melhor lugar, mas infelizmente hoje o barco já está alugado...
— Não viemos pelo passeio, é... Um assunto pessoal! – eu falo já que Luiza apenas olha pra ele sem dizer nada – Eu nem apresentei... Eu sou o Pietro e essa é a Luiza! – aperto a mão dele e ele me dá um aperto seguro e amigável, depois aperta a da Luiza...
— Recém-casados? – ele aponta pra nós dois.
— Ah não, ainda não! Namorados – o sorriso no meu rosto é natural e ele percebe e sorri também.
— Com todo respeito, você tem muita sorte, ela é uma bela garota! E olha que eu já vi muitas mulheres bonitas – ele fala sorrindo.
— Obrigada – Luiza fala com um sorriso tímido e ansioso.
— Bom, entrem, eu estava de saída mas isso pode esperar – ele fala e entra na casa nos chamando para segui-lo e a casa dele é o contraste exato da casa da Vitória, é simples, aconchegante, alegre e com alguma coisa que me faz me sentir em casa, olho pra Luiza e o sorriso no rosto dela mostra que ela sente o mesmo, ela anda até um móvel na lateral da sala e seus dedos deslizam sobre um grande barco que está enfeitando o lugar – Eu demorei quase três meses pra conseguir terminar essa beleza, então achei que ele merecia um destaque – ele fala sorrindo e parando ao lado dela.
— É lindo! – ela sorri e o olha por alguns segundos.
— É sim, mas não é o meu preferido... Espera um pouquinho – ele fala levantando um dedo e sai da sala entrando num corredor ao lado, Luiza me olha e eu me aproximo dela.
— Ele é... – a palavra não sai mas os olhos dela já dizem tudo.
— É, ele é! – confirmo e ela sorri, ele volta trazendo uma garrada transparente nas mãos.
— Esse é o meu xodó – ele mostra a garrada e dentro dela um barco colorido impressiona Luiza.
— Como que você fez isso?
— Ah não posso contar meus truques, é um segredo de família – ele fala e sorri, Luiza fecha um pouco o sorriso mas tenta disfarçar.
— E você tem família? Filhos?
— Não tive essa sorte ainda, mas ainda não perdi as esperanças de encontrar minha metade da concha... – ele brinca rindo – Claro que não penso tão alto como ter a mesma sorte que você – ele aponta pra mim e sorri – Mas é como dizem por aqui... Sempre tem um chinelo velho pro pé cansado! – eu acabo rindo junto com ele.
— Tenho certeza que o senhor vai encontrar alguém!
— Deus te ouça, menino, Deus te ouça! – ele fala levantando as mãos pro céu – Mas então, vocês aceitam alguma coisa? Uma agua, um suco...
— Uma agua! – Luiza fala e ele sorri já saindo pra buscar, ela me olha e eu passo a mão no ombro dela pra lhe passar alguma força, ele volta com uma jarra e dois copos, nós aceitamos a agua e ele nos oferece o sofá pra sentarmos, ele se senta numa cadeira de balanço a nossa frente.
— Então no que posso ajudar, eu só falei e falei, é que me empolgo um pouco as vezes – ele fala e nós sorrimos.
— Não tem problema! – eu garanto e olho pra Luiza.
— Bom, meu nome é Luiza... eu... Tenho 21 anos e eu fui criada num orfanato, no Distrito 7... – ele está atendo a história e parece realmente interessado – Eu fiquei lá até meus 18 anos e depois saí, agora eu moro no Distrito 12, eu desenho bolsas...
— Ah isso mesmo! Eu sabia que já tinha visto esse rosto – ele fala e então remexe em umas revistas e jornais que estavam sobre a mesinha do centro, ele puxa uma folha do jornal onde tem uma foto da Pérola e da Luiza lado a lado em um dos coquetéis de lançamento da coleção.
— É, sou eu! – ela sorri um pouco sem graça.
— Garoto, você tem muita sorte mesmo! – ele sorri e me dá uma piscada, eu também sorrio – E meus parabéns! Tenho certeza que você merece tudo isso – ele aponta pro jornal.
— Obrigada... Como eu disse, agora eu moro no 12, eu trabalho com a coisa que eu mais amo fazer, tô realizando meu sonho, conheci pessoas incríveis – ela fala e me olha, sua mão encontra a minha e ela entrelaça nossos dedos, eu sorrio e ela volta a olhar pra ele – Tudo está ótimo na minha vida e mesmo assim eu... Não consigo ignorar essa parte que eu não conhecia, eu precisava saber o que tinha acontecido, como eu tinha parado num orfanato e aí eu tive uma ajuda e consegui... – pela primeira vez ele parece confuso, os olhos se espreitam um pouco e sua testa enruga exatamente igual a Luiza quando eu falo algo que ela não consegue entender – Eu encontrei a minha ... A mulher que me teve... – ela fala e tenta segurar a emoção – O nome dela é Vitória Glimório...
— Vitória Glimório? Eu conheci uma Vitória Glimório, mas isso já faz bastante tempo, uns vint... – ele para a frase e seus olhos se arregalam, ele olha pra Luiza e depois pra mim, eu faço um sinal discreto com a cabeça confirmando o que ele mesmo deve estar concluindo agora, ele volta a olhar pra ela – Oh meu Deus! – ele parece realmente em choque, ele se levanta da cadeira sem desviar os olhos dela – Você é... Você é minha filha? – ele pergunta e Luiza se levanta, ela engole em seco e respira fundo.
— Ela disse que vocês passaram um fim de semana na Capital, ela descobriu três semanas depois...
— Oh meu Deus! Você é minha filha! Eu... Eu tenho uma filha... Eu...
— Eu sei que é muita coisa pra digerir, é só que eu precisava fazer isso, mas eu não espe... – antes que ela conclua a frase e ele avança um passo largo e a abraça, forte, emocionado e sincero.
— Um filha! Eu tenho uma filha! – ele segura o rosto dela e a olha.
— Eu não tenho nenhum documento provando, eu só...
— O quê? É claro que você é minha filha, olha esse olhos... São iguais aos meus, não são? – ele pergunta pra mim me olhando com o sorriso orgulhoso, Luiza também sorri mesmo com lagrimas descendo do rosto dela.
— E o sorriso também! – ele ri e volta abraçar ela, que também o abraça de volta.
— Eu não sabia de nada, eu... Eu sinto muito – ele fala sem soltar ela – Eu não fazia ideia...
— Eu sei!
— Ela não podia ter me escondido isso todos esses anos, eu...
— Eu não quero falar dela – Luiza fala e ele concorda, segura ela pelos ombros e a olha sorrindo.
— Eu quero saber tudo sobre você! Tudo! Eu... Eu tenho uma filha! – ele parece animado e ansioso, Luiza ri quando ele abraça balançando ela para os lados e eu acabo rindo vendo os dois juntos – Eu espero que vocês fiquem por aqui hoje, eu... A casa é pequena mas eu realmente não posso deixar vocês irem agora... – ele fala e volta abraçar ela.
— Eu só preciso fazer uma ligação ou duas – eu falo me levantando pra ir telefonar.
— E eu preciso de uma ficha completa sua e uma declaração assinada dos seus pais, não é qualquer cara que namora minha filha – ele fala tentando fazer uma cara séria, mas Luiza acaba rindo e os dois se abraçam de novo, eu sorrio e saio da casa, paro na frente dela, olhando pro mar e pro céu e agradecendo que ela tenha encontrado o pai, por mais que eu tenha ido contra isso, agora eu tenho certeza que ela precisava disso e que ela vai ficar bem.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando, comentem o que acharam e se tiverem alguma ideia, agradeço rs... Beijos, até a próxima



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