Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 27
O castigo


Notas iniciais do capítulo

Oie, espero que continuem gostando, comentando e acompanhando :D



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Perco o sono e não consigo ficar parado na cama, Keyse reclama e me empurra pra que eu fique quieto, então decido me levantar, abro a gaveta, puxo minha calça de moletom e um casaco, vou pro banheiro, me visto e saio do quarto na ponta dos pés, passo pelo quarto dos meninos, eles estão dormindo tranquilamente, fecho a porta deles com cuidado e desço as escadas, ainda são cinco da manhã, o sol mal está nascendo, mesmo assim, calço meu tênis e saio de casa, Boldo começa a latir assim que me escuta saindo, vou até a casinha dele, abro a porta que o prende e ele logo está pulando, latindo e tentando me lamber, tudo ao mesmo tempo, me abaixo e brinco um pouco com ele pra que possa se acalmar e quando ele parece menos agitado, me levanto e o chamo pra me acompanhar, levo a coleira dele na mão pro caso de algum imprevisto mas o deixo livre, faço um rápido aquecimento e depois saio correndo da Aldeia em direção a Campina, Boldo corre um pouco mais a minha frente e se diverte espantando os pássaros, avanço mais um pouco até o outro lado da Campina, próximo a entrada da floresta e não resisto e acabo entrando, alcanço uma grande pedra pra descansar quando o sol finalmente toma o seu lugar, Boldo também se deita ao meu lado recuperando o fôlego e pedindo carinho na barriga, brinco um pouco com ele e ficamos deitados por uns longos minutos, depois passo pela padaria, mas prendo Boldo do lado de fora na calçada, papai não está, mas tio Benny logo toma o lugar dele e implica comigo.
— Deu cupim na cama ou minha filha te expulsou? – ele pergunta já rindo enquanto me aproximo do balcão.
— Perdi o sono e então ela meio que me expulsou depois – admito e nós dois acabamos rindo.
— Igualzinha a mãe! Falando nisso ela já separou umas dez receitas diferentes pra hoje, espero que estejam com fome...
— Nós sempre estamos com fome – ele ri e depois de confirmarmos o horário do almoço, pego algumas coisas pro café da manhã e saio, Boldo virou atração para algumas crianças que brincavam com ele na calçada e que se despedem animadas quando saímos.
Chegamos em casa e deixo que ele entre, vou pra cozinha e começo a preparar as coisas para o café da manhã, embora não seja o meu grande talento, mesmo assim me esforço, estava terminando de fritar alguns bacons quando os braços passam em volta do meu corpo.
— O cheiro está ótimo – ela encosta o rosto nas minhas costas e sinto sua respiração.
— E olha que ainda nem tomei banho – ela ri, de um jeito que faz seu corpo se balançar junto do meu, desligo o fogo, despejo o bacon na travessa e me viro pra ela que está com uma camisa minha e as longas pernas descobertas, o que me faz sorrir imediatamente – Bom dia! – eu falo puxando-a pela cintura e a outra mão deslizando pela sua coxa, um sorriso divertido aparece nela e seus olhos acompanham a trajetória do seu dedo no meu queixo, subindo pela lateral do meu rosto até minha sobrancelha.
— Você parece muito bem disposto hoje – ela fala e morde o lábio lentamente.
— Ah eu estou, bastante... Se você quiser posso te mostrar o quanto...
— Parece bem tentador... – ela sorri então dou impulso e a tiro do chão, ela solta um quase grito e logo tampa a boca com as mãos, ela passa as pernas ao meu redor e eu seguro e aperto suas coxas, então saio da cozinha, passo pela sala, entro no corredor e alcanço o escritório, ela me olha de um jeito malicioso, fecho a porta e a encosto nela, antes que ela fale alguma coisa eu a beijo, com paixão e desejo, coloco a no chão apenas pra tirar a camisa dela e jogar em qualquer canto, ela também tira meu casaco e eu volto a tirar ela do chão, mantendo o mesmo ritmo do beijo de antes, seus dedos se entrelaçam no meu cabelo e ela abre um grande sorriso quando me perco dentro dela.
— Acho que você deveria perder o sono e correr mais vezes! – ela fala enquanto pega a camisa jogada no chão.
— Isso foi uma critica?
— Um elogio na verdade – ela sorri, veste a camisa, vem até a mim e me beija rapidamente – Isso me deu fome! – ela sorri e se vira abrindo a porta do escritório.
— Falando em fome, seu pai disse que sua mãe tá com o livro de receitas em jogo...
— Droga, eu disse pra ela que estava entrando em dieta!
— Por que? Você tá ótima assim – falo e puxo a de costas pra mim, minha boca logo procurando e beijando sua nuca, o que a faz rir e se encolher.
— Eu engordei 3 quilos!
— É por isso que sua bunda parece ainda melhor – eu falo já apertando, ela ri ainda mais.
— Se controla! – mas nem por um segundo seu pedido pareceu verdadeiro, então também rio e beijo mais uma vez sua nuca – Nós deveríamos acordar eles pra tomar café com a gente? – ela pergunta quando finalmente alcançamos a cozinha.
— Hoje é sábado e são... – olho no relógio pendurado na parede – Seis e vinte – ela faz uma cara triste.
— Eu gosto de tomar café com vocês três – eu sorrio e vou até ela, abraçando-a por trás de novo.
— E eu gosto de não ouvir tantas reclamações de manhã, então acho que você vai ter que se contentar comigo mesmo – ela ri e vira o rosto pra me beijar rapidamente, eu sorrio, beijo sua testa e pego a travessa com bacon, também tem ovos, os pães, geléia e queijo, nós comemos e ainda estávamos sentados a mesa conversando quando Theo aparece ainda com cara de sono, coçando os olhos e bocejando, sem falar nada ele apenas anda até a Keyse e se senta no colo dela, mesmo já estando grande demais, mas ela não reclama e sim abre um grande sorriso, beija sua bochecha e o aconchega nela.
— Eu posso comer cereal? – ele pergunta levantando um pouco o rosto pra olhar pra Keyse.
— Pode, mas eu tava pensando em fazer umas panquecas... – os olhos dele se arregalam e ele logo se desperta.
— Eu quero 4!
— Quatro? – pergunto fingindo surpresa.
— É, uma eu vou comer com mel, uma com geleia, uma com chocolate e outra pura... – ele fala contando nos dedos.
— O que você faz enquanto dorme? Capina um terreno inteiro? – Keyse pergunta implicando e fazendo cócegas nele que ri e se esquiva dela, passando para o meu colo, ele passa as pernas por cada lado do meu corpo, ficando de frente pra mim, ele segura meu rosto e me olha curioso.
— Vocês comeram bacon! – ele fala e eu arregalo os olhos fingindo espanto – Eu sabia! Eu quero bacon – ele fala e vira pra Keyse – Mãe, eu também quero bacon! Você e o papai comeram, eu também quero!
— Então é uma panqueca só! - ele revira os olhos e coça a cabeça pensando.
— Aí posso comer um pouco do cereal também? – Keyse tenta não rir.
— Só metade do pote! – os olhos dele quase brilham quando ela fala, então Lucca entra na cozinha.
— Eu também quero! – ele fala já passando os braços pelo meu pescoço e encostando a cabeça no meu ombro.
— Você nem sabe o que é – Theo fala empurrando a cabeça dele.
— Não interessa, eu quero! – ele dá de ombros, faz uma careta pro Theo e corre até a Keyse abraçando ela por trás – Você tá muito bonita hoje – ele fala e Keyse o olha desconfiada.
— O que você quer?
— Nada! – ele fala como se realmente não soubesse – Eu só tava com muita vontade de comer bolinho de chuva – ele fala e dá um sorriso pra ela que acaba rindo e óbvio que alguns minutos depois temos uma travessa cheia de bolinhos de chuvas e um prato com algumas panquecas, acabamos tomando café novamente com eles.
Passamos a manhã toda em casa, os meninos dão banho no Boldo enquanto eu arrumo algumas coisas pelo quintal e lavo o carro, Keyse está lavando roupa e quando chega a hora do almoço, nós tomamos banho, nos arrumamos e saímos de casa pra casa dos pais da Keyse, assim que paro o carro, os meninos pulam e correm pelos degraus da escada da varanda, eles entram sem bater e mesmo ainda descendo do carro escuto os gritos e risadas dele com a vó, Keyse sorri também ouvindo o mesmo que eu, tio Benny vem nos receber na porta da casa, ele abre os braços e Keyse praticamente se joga nele, depois ele também me cumprimenta, entramos na casa e tia Grace já está fazendo todas as vontades deles dois, deixando-os experimentar a cobertura do pudim que ela estava terminando de desenformar, Keyse reclama mas ela finge que não ouve, assim como os meninos, o almoço já está pronto então nos sentamos a mesa e almoçamos juntos, os meninos repetiram três vezes cada um e confesso que a carne assada da tia Grace realmente merece ser apreciada, assim como o pudim que está perfeito, quando acabamos de comer, tio Benny libera o vídeo game para os meninos e eu acabo indo junto com eles, Keyse e a mãe ficam pela sala e já estava no meio da tarde quando saímos de lá, a pedido dos meninos e deles, deixamos os meninos por lá, tio Benny garante que leva eles mais tarde sem problema algum, então eu e Keyse vamos embora, ela me faz passar no mercado e depois passamos pela praça, ela compra um sorvete e reclama quando pego um pedaço, mas me dá um beijo quando finjo que me ofendi, assim que ela termina entramos no carro e vamos pra Aldeia, eu estaciono o carro e já estava saindo quando as vozes altas quebram o silêncio que estava, Keyse me olha curiosa então Louise passa pelo portão da Aldeia, batendo o pé e trovejando como uma grande tempestade.
— Eu não acredito que você fez isso? É SÉRIO! VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA. QUER SABER? PARABÉNS, EU VOU ENTRAR NO QUARTO E NUNCA MAIS SAIR – ela fala como se pra todo mundo escutar e realmente todos devem estar escutando, Ian vem logo atrás dela, tentando alcança-la, mas ela corre e passa na minha frente como um raio, a porta bate e então desaparece.
— Problemas no paraíso? – Keyse pergunta apontando pra casa deles, ele revira os olhos parecendo cansado.
— Ela disse que ia encontrar uma amiga na praça e quando passei por lá ela estava com um garoto...
— Passou por lá? – pergunto duvidando.
— Eu tive que ir no mercado... – ele dá de ombros, mas não acredito muito nisso.
— Mas o que eles estavam fazendo? – Keyse pergunta curiosa.
— Estavam naquela casa de jogos, iam jogar algum desses jogos malucos...
— E você a arrastou de lá? – pergunto começando a entender o problema.
— Só a trouxe pra casa
— Imagino...
— Pyter... – Keyse me repreende e eu levanto as mãos em inocência.
— Boa sorte – falo e me viro pra entrar em casa, então a porta da casa deles abre de novo, Louise sai com uma mochila nas costas e vem na minha direção.
— Eu posso ficar com vocês? – ela pede me olhando quase implorando, seus olhos estão vermelhos, um pouco inchados, mas acima de tudo eles estão completamente furiosos, olho pra Keyse e depois pro Ian.
— Nós ainda não conversamos! – ele fala negando.
— E sobre o quê você quer conversar? Sobre como você me fez passar a maior vergonha da minha vida? Ou sobre como você não sabe nada sobre mim se acha que eu menti pra você e pra mamãe? – ela pergunta demostrando toda aquela fúria que ela estava no olhar.
— Deixa ela ir! – Pérola fala saindo da casa também – Se vocês não forem sair... – ela fala me olhando pra confirmar.
— Ela pode ficar!
— Obrigada – Louise fala, passa por mim e entra, respiro fundo e olho pra Pérola.
— Quando ela se acalmar, eu te aviso – ela força um sorriso e murmura um obrigada, Ian vai até ela e Keyse passa por mim e me leva pra dentro de casa junto com ela, nós entramos e Louise está jogada no sofá, a mochila sobre as pernas cruzadas e parece me esperar, Keyse faz sinal que vai subir, eu dou a volta no sofá e me sento ao seu lado, virado pra ela.
— Então?
— Eu passei a maior vergonha da minha vida – ela fala balançando a cabeça.
— Relaxa, você só tem 16 terão muitas vergonhas ainda – ela me olha como se eu não estivesse ajudando.
— Ok, desculpa – levanto as mãos e então puxo ela pra encostar no meu colo – Me conta, o que aconteceu? - ela encosta a cabeça no meu peito e se aconchega em mim.
— Eu disse que ia encontrar a Maya na praça e eu fui mesmo, eu juro que eu fui, a gente se encontrou e fomos pra sorveteria, depois passamos na casa de jogos, aí o Aian apareceu e ele parou do meu lado, falou comigo e puxou assunto, a Maya foi falar com a prima dela do outro lado e meu pai chegou. Ele disse que eu tinha mentido pra ele, que ele não é burro, disse pro Aian não chegar perto de mim e só faltou me jogar por cima do ombro... É sério, não acredito que ele fez isso comigo... Eu... Todo mundo ficou me olhando... Deve tá todo mundo rindo ainda... Foi ridículo – ela fala escondendo o rosto com as mãos.
— Vai ver amanhã ninguém nem lembra mais – eu falo tentando parecer convincente.
— Sério?
— É, provavelmente não – confesso e ela se afunda ainda mais.
— Ele não podia ter feito isso! E eu tenho certeza que ele nem tava indo em mercado coisa nenhuma...
— É, seu pai nunca foi bom em inventar desculpas...
— Você acredita em mim né? Eu não fui encontrar com nenhum garoto, eu juro!
— Eu sei, eu acredito em você – e é verdade, realmente acredito nela, por que se tem algo que ela não é de fazer é mentir, ela tem um gênio forte o suficiente pra assumir tudo que faz sem precisar criar histórias.
— Por que meu pai não pode ser igual você? Sério, tudo ia ser melhor se ele fosse igual você!
— Isso é impossível!
— Eu sei, mas ia ser perfeito. Você sempre me entende e não fica surtando por qualquer coisa, ele nunca vai conseguir ser assim...
— Eu disse que é impossível por que eu só sou o seu tio!
— Só? Fala sério, você é demais...
— Por que eu sou o seu tio... Olha, deixa eu te explicar uma coisa... Eu sou seu tio, ele é seu pai! Isso significa que ele é o policial mau e eu sou o policial bom!
— Ele tá mais pra um carcereiro linha dura – eu acabo rindo do jeito dramático que ela fala – Eu daria qualquer coisa pra ele ser pelo menos metade igual você...
— Você tá falando besteira...
— Não tô não!
— Tá sim, sabe por quê? – ela me encara esperando uma resposta – Por que eu acho que seria como ele...
— AH DUVIDO! – ela fala rindo de forma irônica.
— Escuta só... Eu amo você! Muito, você sabe disso... Toda felicidade que eu quero pro Lucca e pro Theo eu desejo igual pra você. Todo sucesso que quero pra eles, quero igual pra você. Todo amor que quero na vida deles, quero igual pra você... Mas eu continuo sendo seu tio... Não foi meu coração que disparou descontrolado quando sua mãe disse que tava grávida, não foi a minha cabeça que quase explodiu esperando você nascer cada segundo durante nove meses, não foi minha carreira de trabalho que eu tive que analisar pra ver qual seria a melhor opção pra te dar tudo que você merece, não foi meu peito que quase estourou de emoção quando ouvi seu primeiro choro, nem fui eu quem dividiu as madrugadas com a sua mãe por que sua cólica nunca passava, não sou eu que vejo você crescer todo dia e fico me perguntando se fiz o certo, não sou eu que perco noites de sono pensando se algum garoto pode ou não acabar te machucando... Isso, tudo essas coisas, quem passou e quem passa é seu pai. E por mais que eu te ame e eu amo muito, eu sou só seu tio legal, que vai fazer caretas junto com você quando sua mãe reclamar de alguma coisa, eu vou falar mal deles sempre que você vier pra cá, eu não vou gritar e mandar você pro seu quarto, por que eu vou ser o cara legal que te conta histórias e ensina truques, por que esse é meu papel, eu quero que você conte comigo, quero que lembre de mim quando tiver brigado com eles ou quando eles pegarem muito no seu pé e a gente pode até falar mal deles juntos a madrugada toda mas você não pode se esquecer que eles são seus pais e que ninguém, nem mesmo eu, vai te amar tão loucamente e desesperadamente quanto eles. Não quer dizer que eles vão acertar sempre, vish, as vezes eles vão errar feio, seus avós erraram, eu erro todo dia, mas pode ter certeza que mesmo quando a gente erra e faz vocês passarem pela maior vergonha do mundo... – eu falo imitando o drama que ela sempre faz e ela ri – Vai ser pensando no que é melhor pra vocês...
— Então tudo bem ele não acreditar em mim e me fez passar vergonha na frente de metade da escola? – ela pergunta com ironia.
— Não tô dizendo que ele tá certo, só estou dizendo que entendo por que ele errou... Se eu tivesse uma filha tão linda e temperamental quanto você talvez bancasse o louco de vez em quando... – ela ri, mas balança a cabeça tentando disfarçar.
— Você só tá defendendo ele!
— Não, o que ele fez foi errado! Ele devia ter acreditado em você e não devia ter te arrastado de lá, mas olha só pra você... – eu falo fazendo um sinal da cabeça aos pés dela – Ontem você tava engatinhando por aí, hoje você é a garota mais gata do Distrito todo... – ela revira os olhos um pouco sem graça, mas é a verdade, ela está cada dia mais linda, o cabelo loiro como o da Pérola, junto com os olhos cor de mel iguais do Ian, combinam com a pele levemente bronzeada e o sorriso que ela sempre leva no rosto, além disso toda a coleção de mini saias, shorts e vestidos, realmente destacam ainda mais o fato dela não ser mais uma menininha de cinco anos – É sério! Eu entendo de garotas bonitas – falo e viro meu telefone com a foto da Keyse na frente – Então se eu tivesse uma filha como você, eu também iria ao “mercado” – faço as aspas com os dedos e ela ri, mas empurra minha mão.
 - Eu só queria que ele tivesse acreditado em mim – ela confessa um pouco menos irritada e mais frustrada.
— Eu tenho certeza que ele acreditou em você, só... É complicado ser pai! – eu falo e ela joga a cabeça pra trás encarando o teto.
— Mas eu não vou lá falar com ele, eu disse a verdade, ele que não acreditou em mim!
— Tudo bem, pode ficar aqui, a Keyse tava querendo mesmo ajuda pra lavar os banheiros – ela me olha no mesmo segundo, eu acabo rindo – Relaxa, pode ficar, sem exploração... – levanto as mãos e ela sorri e me abraça.
— Loui... – Pérola chama por ela enquanto entra pela sala, ela levanta o rosto do meu peito e olha pra mãe.
— Eu não menti, mãe. Eu juro que fui encontrar a Maya, o Aian só apareceu por lá, ele veio falar comigo e o papai já chegou surtando... – ela logo se defende.
— Relaxa, eu sei disso! – Pérola fala realmente tranquila, sem parecer desconfiar da palavra dela nem nada, Louise me olha meio confusa e depois olha pra mãe.
— Sério? Você acredita em mim? – Pérola revira os olhos e meio que solta uma risada.
— Você é minha filha! Eu conheço você... – assim que ela fala isso, Louise abre um sorriso orgulhoso – Sem falar que você não ficaria com um garoto chamado Aian...
— Eu acho um nome legal... – ela fala dando de ombros e rindo.
— Fala sério, Aian?
— Parece que ele tá com dor em algum lugar... “Ai...an” – eu implico com ela também que ri um pouco alto demais.
— Eu com certeza iria correr com ele pra emergência assim que ele falasse o nome dele, com medo dele ter se machucado, sei lá...
— MÃE! – ela repreende mas ri ainda mais.
— Imagina se ele se machuca de verdade? Nunca vão saber se ele está com dor ou dizendo o nome dele... – Pérola fala e nós rimos.
— Vocês são ridículos e nem tem graça – Louise fala mas tenta esconder o riso – Além do mais, ele é muito gato, todas as garotas são loucas por ele...
— Se controla e não me faça mudar de lado – Pérola avisa e Louise tampa a boca com as mãos, mas nós rimos – Agora, anda... Vamos pra casa, você e seu pai precisam ter uma conversinha... – ela avisa e estica a mão pra ela que aceita rapidamente, puxa a mochila que estava no chão e se levanta.
— Você ainda coloca alguma roupa na mochila ou é só pra fazer a cena dramática mesmo? – pergunto fazendo uma cara de curioso.
— É a mochila da fuga, ela já fica pronta – ela fala rindo e dando de ombros, então as duas vão embora, eu acabo rindo e me jogo deitado no sofá, acabo de fechar os olhos quando o grito alto e assustado vem de lá de cima, eu dou um pulo do sofá, subo as escadas correndo como nunca fiz antes, entro no quarto e como não a encontro vou pro banheiro, abro a porta e então a cena me faz parar, Keyse está parada nua em frente ao espelho, segurando uma toalha até aí nada demais, o problema é que seu cabelo está cor de laranja, não muito forte mas com certeza cor de laranja, a toalha antes branca também está toda alaranjada, ela se vira pra mim com os olhos arregalados.
— EU VOU MATAR AQUELES DOIS – ela grita mudando de assustada pra furiosa, então eu faço a única coisa que poderia fazer agora, eu simplesmente começo a rir, eu caio na gargalhada, quanto mais ela grita, manda eu parar e tenta me acertar com a toalha mas eu rio, eu preciso me apoiar na cama de tanto que ri, quando finalmente consigo parar ela ainda está planejando todas as formas de castigos que eles irão receber.
— Como eles fizeram isso? – pergunto me recompondo e voltando ao banheiro, ela pega o vidro com o creme de cabelo e despeja na pia, o creme que era branco sai levemente laranja – Você não percebeu?
— Eu tava na banheira, Pyter, eu só joguei o creme na cabeça de olho fechado e fiquei deitada lá dentro... – ela fala irritada.
— Ok, isso deve ser alguma tintura barata ou só um corante, sei lá, já tentou lavar de novo com outro creme?
— Nossa, Pyter, como você é genial, eu realmente não pensei em enfiar minha cabeça debaixo da agua e tentar tirar essa porcaria... Muito obrigado pela sua brilhante ideia – ela quase grita com o sarcasmo.
— Não fui eu que coloquei a  tinha aí não, tá? – falo levantando as mãos em minha defesa.
— Eu quero pegar eles e pendurar de cabeça pra baixo – ela fala apertando as mãos forte como se pra diminuir a raiva, mas pelo visto não funciona muito bem – Como que eu vou sair na rua assim, Pyter? COMO? – ela pergunta batendo os pés e quase chorando.
— Quer saber? Eu achei que combinou com você! – ela me olha furiosa – É uma cor alegre... Pra cima... Viva... Combina com seus olhos – ela continua me encarando – E com aquele seu vestido novo, o branco com aqueles detalhes laranja, nossa, vai ficar linda...
— Se você não sair da minha frente em 10 segundos, sua cara vai ficar completamente desfigurada – ela avisa quase me fulminando com os olhos.
— Agora sério... Lembra aquela vez que nós tínhamos fugido do meu pai e nos escondemos naquela casinha abandonada que tinha do outro lado da Campina? A gente ficou lá umas 3 horas, por que começou a chover e eu lembro que a gente tava falando sobre ideias idiotas e você disse que uma vez quando você tinha 12 anos queria pintar seu cabelo todo colorido e sua mãe não deixou, aí você chorou e tentou fazer  greve de fome, mas acabou comendo o frango da janta...
— Eu não acredito que você lembra disso...
— Claro que eu lembro
— A gente tinha uns 16 anos, eu acho...
— Eu lembro tudo que você já me disse
— Menos que você precisava limpar o porão no fim de semana...
— Só as coisas legais – eu completo e ela ri, eu me aproximo dela e passo meus braços pela sua cintura – Agora você já sabe pelo menos como fica de cabelo laranja... – ela ri e me acerta um tapa na cabeça – Bem... E agora aproveitando que você ainda tá sem roupa e acabou molhando a minha... Então... Pra não deixar a oportunidade passar... – eu dou um sorriso malicioso e a aperto ainda mais em mim, ela solta uma daquelas risadas que eu adoro.
— Você realmente não tem jeito!
— Nem um pouco – concordo e então a beijo, pego a no colo e levo pra cama.
Ela está deitada com a perna entrelaçada a minha, a cabeça apoiada no meu ombro, os dedos subindo e descendo a minha barriga e meus dedos subindo pelas suas costas nua, passando pela sua nuca, até alcançar seu cabelo.
— Sabe, essa foi a minha primeira vez com uma mulher de cabelo laranja... – ela solta uma gargalhada mas me acerta um tapa.
— Eles ainda vão ficar de castigo! – ela avisa e me olha como se tivesse tido uma ideia – E eu já sei qual vai ser, então... Levanta e me ajuda... – ela fala já se levantando, ela ainda está nua e a visão do corpo dela me faz sorrir – Nem pensa nisso, já recebeu sua diária! Anda, levanta – ela joga o travesseiro em cima de mim e corre pro banheiro, pega e veste o roupão e sai do nosso quarto, eu visto uma cueca e uma calça de moletom, encontro-a no quarto dos meninos esfregando as mãos e olhando em volta – Ok! Vamos começar! – ela sorri de um jeito divertido e então levamos quase uma hora pra conseguir deixar como ela quer.
Nós estamos na cozinha, ela mexe uma panela enquanto eu corto alguns legumes, então batem na porta, eu vou atender mas ela vem logo atrás de mim, abro a porta e tio Benny está com os meninos que estavam falando de alguma coisa animados, até que Keyse aparece e eles começam a rir enquanto tio Benny parece levar um susto.
— O que houve com seu cabelo?
— Ah, um presente dos seus netos... – ela fala com um sorriso perigosamente divertido.
— Esses garotos – ele ri e passa a mão no cabelo deles.
— A gente pode dormir lá hoje? – Lucca pergunta olhando pro avô.
— Claro que...
— Não, hoje não! Hoje vocês ficam em casa – Keyse fala mantendo o sorriso.
— Mas o vovô disse...
— Sua mãe disse não, Lucca... – eu falo e ele desiste de tentar e entra.
— Manda um beijo pra mamãe! – Keyse fala, tio Benny se despede e então fecho a porta.
— Era só uma brincadeira...
— Eu acho que ficou bonita – Theo completa fazendo uma cara de impressionado.
— Você acha? – Keyse pergunta passando a mão no cabelo que parece ainda mais laranja agora que está seco.
— Você é linda de qualquer jeito, ainda bem que não foi o papai que usou – Lucca fala tentando amenizar a encrenca que eles sabem que se meteram.
— Ontem na aula a professora de artes tava falando que os adultos tem que deixar as crianças liberar a criatividade por que aí elas crescem mais felizes – Theo fala e eu tenho que me controlar pra não rir.
— Ah sua professora disse? E vocês estão felizes agora então?
— Agora que a gente tá perto de vocês sim! – Lucca abre um sorriso.
— Quer saber? Não vou me estressar com vocês! Subam, tomem banho e desçam pra jantar – ela fala já se virando e indo pra cozinha, eu aponto as escadas e eles sobem, paro na passagem pra cozinha olhando pra Keyse e esperamos até que...
— Ô mãe! Quê isso? O que houve no quarto? – Lucca aparece na escada primeiro.
— Por que só tem uma cama?
— E a tv e o vídeo game? Não tem nada lá – eles reclamam já descendo e vindo pra cozinha.
— Ah é, esqueci de falar... Vocês estão de castigo! – Keyse fala com um sorriso vitorioso – Nada de jogos, nada de televisão, nada de celular!
— E estão em quartos separados! – completo.
— SEPARADOS?! – os dois reclamam ao mesmo tempo.
— Qual é mãe, foi brincadeira, desculpa!
— A gente nunca mais faz nada assim, eu juro!
— Ah e não vão mesmo – ela fala concordando.
— Pai, por favor... – Theo pede juntando as mãos.
— Vocês não deviam ter mexido com cabelo da sua mãe...
— Mãe, por favor, desculpa, deixa pelo menos a gente ficar no mesmo quarto – Lucca pede também juntando as mãos e usando todo seu charme pra convencer ela.
— Não!
— Mãe...
— Eu disse não, Lucca!
— Você sabe que a gente é gêmeo né? A gente não pode ficar separado – Theo apela com as ultimas cartadas.
— É verdade! Se a gente fica separado faz mal até pra saúde...
— Vocês vão estar do outro lado do corredor, não é tão longe assim – ela fala e dá de ombros.
— Mãe, isso é muito longe! Já pensou o papai dormindo no outro quarto? Você ia ficar triste né?
— Se ele pintasse meu cabelo de laranja, ele dormiria do outro lado do Distrito.
— A gente também não pintou, foi você que usou o creme – Lucca dá de ombros e ri.
— 1 semana em quartos separados e não quero mais ouvir nada.
— 1 SEMANA???? – os dois quase gritam.
— Ou posso aumentar pra 2!
— Isso é cruel, nós somos irmãos, somos gêmeos, não podemos ser separados!
— Cruel? Cruel? Sabe o que é cruel? Você carrega duas criaturas por meses dentro de você, cuidar quando são bebês, perder noites de sono, pra quando crescerem colocarem tinta no seu creme e fazer você ficar com cabelo laranja. ISSO é cruel! – ela fala e os dois perdem qualquer tentativa de se redimir – Agora vão tomar banho! – ela fala e aponta na direção da escada, os dois fazem aquela cara triste de quando recebem bronca, abaixam a cabeça e saem da cozinha.
— Em pensar que meu castigo e da Pérola foi ficarmos no mesmo quarto – eu falo rindo, mas achando realmente bonito eles não quererem se separar, mesmo assim não me atrevo a retirar o castigo.
Nós terminamos de preparar o jantar, Keyse chama por eles e nós jantamos juntos, Lucca lava a louça e Theo ajuda enxugando e guardando, enquanto eu e Keyse vemos um pouco de televisão, então eles entram na sala e se jogam no sofá, Keyse me olha mas deixa que eles fiquem, assistimos a um programa de música e quando acaba ela desliga a tv.
— A gente pode ver um filme? – Theo pergunta e Keyse apenas o encara, então ele solta o ar e se levanta do sofá, nós também levantamos, apagamos tudo e subimos logo atrás deles, mas os dois param no topo da escada impedindo nossa passagem.
— Boa noite irmão, dorme bem nessa primeira noite que vamos passar longe... – Theo começa abrindo os braços pro Lucca.
— Não sei se vou conseguir dormir, você sabe que a gente nunca ficou longe...
— Vai ser difícil, eu devo ficar acordado também!
— Eu tava pensando e a gente nunca ficou longe assim, vai ser difícil...
— Mas se a mamãe falou ela deve ter razão, vai ver é pra ser assim, a gente separado – Theo finaliza e abraça o Lucca.
— E se a gente perceber que não precisamos mais ficar juntos? – Lucca fala como se tivesse pensado nisso agora, Keyse me olha e tenta não rir.
— Acho que eles estão andando muito com a Louise – eu sussurro e ela acaba rindo, mas logo disfarça.
— Esse pode ser o fim da nossa união... – Theo fala ainda abraçando ele.
— Ok, já chega, vão para os quartos – Keyse fala empurrando eles que se soltam e vão cada um para um quarto, acenam um adeus dramático e fecham as portas, Keyse vai pro quarto e vou logo atrás dela.
— Eles sabem fazer um drama – eu falo e ela se joga na cama.
— Nem pense em tirar eles do castigo!
— Não passou pelo minha cabeça – ela me olha desconfiada.
— Acho bom – eu subo na cama, me aproximo dela e a beijo rapidamente.
Acordo um pouco mais tarde do que o normal, a cama está vazia, quando saio do quarto passo pelo quarto ao lado e está vazio assim como o quarto onde Theo deveria estar, desço as escadas e encontro os dois jogados no sofá, vendo desenho e rindo.
— Bom dia!
— BOM DIA! – os dois respondem juntos.
— Já tomaram café?
— Já, mas a mamãe disse que você tem que fazer seu café por que ela tomou suco...
— E onde ela tá?
— Foi no mercado!
— Muito tempo?
— Mais ou menos – Lucca fala depois de analisar alguns segundos.
— Vocês estão de castigo, não deveriam ver tv – os dois me olham no mesmo tempo prontos para rebater – Vão trocar a agua do Boldo e soltem ele – Theo desliga a tv e os dois pulam pra fora do sofá e vão fazer o que mandei.
Eu tomo café na cozinha enquanto ouço as risadas e os latidos pelo quintal, acabo sorrindo apenas com esse som, já estava lavando a pequena louça quando Keyse entra na cozinha, ela está com um short curto, camiseta preta e meu boné preto, o cabelo tentando parecer o mais escondido possível mas os fios laranjas não são nada discretos.
— Todo mundo ficava olhando pra minha cara, ou melhor, pro meu cabelo – ela reclama colocando uma sacola em cima da mesa, então tira de dentro uma caixinha de tinta pra cabelo.
— Ah não... – eu faço uma cara triste e pego a caixinha da mão dela, me aproximo, deixo meus dedos escorregarem pelo seu rosto, depois tiro o boné – Eu gostei! – eu falo enrolando uma mecha do cabelo no meu dedo, ela me olha reprovando e duvidando – É sério, é divertido... – ela afasta minha mão.
— Eu não vou andar por aí com cabelo laranja só por que você acha divertido.
— Ótimo, você pode ficar trancada dentro de casa, eu peço umas férias prolongadas, que tal? – pergunto aproximando minha boca da sua, ela sorri e morde o lábio.
— Parece muito tentador, mas... Não vou ficar com cabelo laranja – ela me dá um beijinho rápido, pega a caixinha da minha mão e vira as costas, mas antes que ela saia eu a puxo de volta pra mim.
— Eu insisto! – eu falo com a boca na orelha dela.
— Pyter, é verdade que... – Pérola para a frase assim que nos vê, ela está com a boca aberta num som de surpresa mudo – Seu cabelo tá mesmo laranja!
— Viu? Por isso que eu vou pintar – Keyse fala e me olha com a decisão já tomada.
— Valeu ein, Pérola
— O quê? O cabelo dela tá mesmo laranja! A Hazel disse que tinha visto mas achei que ela tinha visto demais...
— Ah que maravilha, a Hazel viu. Agora o Distrito inteiro já vai saber – Keyse fala jogando as mãos pra cima como se já não adiantasse mais nada.
— Ela não é uma fofoqueira – Pérola fala dando de ombros.
— Mas você tá aqui né? – Keyse rebate, revira os olhos e sai da cozinha.
— Ela não tá no melhor dia – eu falo quando ela sai.
— É, imagino, não também não ia ficar no meu melhor dia se tivesse com cabelo laranja – ela fala e acaba rindo e eu junto com ela, mas faço som de silêncio.
— Eu tenho planos de continuar dormindo na cama...
— Isso é com você – ela dá de ombros e volta a rir.
— E a Louise? Como ficaram as coisas por lá? – pergunto mudando de assunto.
— Ela e o Ian conversaram... Você sabe como eles são... Foram até assistir o jogo no campo municipal hoje...
— Que bom!
— Eu sei que eu já disse isso antes, mas você realmente deveria pensar em ter uma menina... Você leva muito jeito, o que você faz com a Loui é... Algum tipo de dom especial – eu acabo rindo.
— Não é nenhuma mágica, ela só precisa de alguém pra falar mal de vocês – dou de ombros.
— Eu ia adorar falar mal de você com mais alguém – dou uma risada.
— Tenho certeza que sim!
— É sério, você deveria ter uma menina...
— Você viu o cabelo da Keyse? Tá laranja! Laranja! E isso foi só esses dois, não quero que ela acorde, sei lá, com a sobrancelha verde – dessa vez é ela quem solta uma risada.
— Ia ser engraçado!
— Ia e ia ser bem louco também
— Bom, você dizia que não queria filho, agora tem os meninos e você nunca foi tão feliz antes, certo?
— Muito certo! Mas eles são tudo que eu preciso e que meu psicológico suporta
— Eu ia gostar de ver você correndo atrás dos meninos que batem na sua porta
— E você acabou de me dar o terceiro motivo pra não querer uma filha – ela ri e balança a cabeça.
— Não cospe pra cima, que volta ein!
— Por que você não vai lavar uma roupa? Varrer um quintal? Ariar umas panelas...
— Por que eu tenho uma coleção inteira pra terminar, um coquetel hoje a noite e ah um premio pra receber no próximo fim de semana – ela me dá uma piscada e sorri orgulhosa e mesmo querendo implicar com ela, acabo sorrindo orgulhoso também e a puxo pra um abraço.
— Em pensar que no dia que nós mandamos seus desenhos pro concurso você ainda brigou com a gente – relembro e ela ri me abraçando mais forte.
— Eu nunca vou agradecer vocês o suficiente.
— Posso te ajudar com isso... – ela me olha desconfiada.
— Consegue uma entrada no coquetel de hoje – dou uma piscada e ela ri.
— Começa as dez! – ela sorri e me dá um beijo na bochecha – Mas tem que ir de terno e gravata...
— Esquece, fico em casa de bermuda e sem camisa – ela ri, então Theo entra correndo pela cozinha.
— Pai, a gente pode ir na praça com o tio e a tia Lu?
— Vocês estão de castigo!
— É só meia hora!
— Oi? Tô invisível? – Pérola fala acenando na frente do rosto dele, que ri e abraça – E como tá os treinos? Preparado pra luta?  – ela pergunta e ele a olha já se divertindo.
— Eu jogo basquete, tia! O Lucca que luta! – nós dois acabamos rindo – Você não acerta nunca
— Não é culpa minha que vocês tem a cara igual!
— Nada a ver, eu sou mais bonito – ele fala como se fosse óbvio e ela ri.
— Tá, mas vamos deixar isso em segredo – ela fala e faz sinal de silêncio, ele ri e concorda.
— A gente pode ir?
— Meia hora! – falo e ele sai correndo pra avisar.
— Você realmente não sabe o significado de castigo né? – Pérola pergunta quando ele sai e eu faço uma careta.
— Eu tenho que ir – ela joga um beijo no ar e também sai, eu subo as escadas e encontro Keyse no banheiro, terminando de passar a tinta no cabelo.
— Cadê eles?
— Foram na praça com Pietro e a Luiza – ela para assim que eu falo e se vira pra mim.
— CASTIGO, Pyter! Castigo! A gente chama assim por um motivo...
— Falta de criatividade pra outra palavra? – ela me encara como se eu tivesse falado besteira.
— Ok! Eu confesso, não sei deixar eles de castigo! Eu sou um péssimo pai – levanto as mãos em derrota.
— Nem tenta começar seu joguinho de pai carente e decepcionado – ela avisa apontando pra mim.
— Não é joguinho, você tá certa, eu faço tudo errado – falo enquanto me aproximo dela, fazendo uma cara triste, encosto a na pia e deixo nossos corpos quase encostados um ao outro – Eu não consigo pensar em uma única coisa que eu faça certo – falo e faço beicinho, ela ri, uma risada alta e gostosa.
— Eu oficialmente desisto de você – ela fala jogando as mãos pra cima, eu sorrio e então a pego no colo, tirando seus pés do chão.
— Pyter meu cabelo tá com tinta, vai sujar tudo...
— Relaxa, faço todo o trabalho em pé e nem encostamos nos lençóis – ela ri novamente.
— Você é ridículo! Me coloca no chão...
— Mas por que? É cinco minutos...
— Nunca são cinco minutos – ela ergue a sobrancelha pra mim.
— Eu gosto de aproveitar – dou de ombros e ela ri, me dá um beijo rápido na boca e segura meu braço.
— Me coloca no chão! – faço uma careta e a coloco no chão.
— Você acaba de perder uma oportunidade única – eu aviso e ela faz uma cara de impressionada.
— Acho que sobrevivo!
— Mesmo sem você merecer... Consegui nossas entradas pro coquetel hoje... – ela abre um sorriso satisfeito.
— Acho que você acabou de ganhar uma oportunidade única – ela sorri e me beija, depois me empurra e fecha a porta do banheiro, eu sorrio e desço.
A noite, nós deixamos os meninos com Pietro e Luiza, aqui em casa mesmo, avisamos do castigo, Keyse tranca o quarto onde estão os jogos, filmes e os celulares e leva a chave. Chegamos ao coquetel e logo somos parados para fotos, mas no geral foi bem legal, Keyse conseguiu alguns contatos que estava querendo, eu falei com o secretário de esportes do Distrito e consegui uma reunião pra falar do Projeto e de umas ideias novas que eu tive, então na verdade foi realmente muito bom, saímos e vamos direto para casa, paro o carro e Keyse logo desce.
— Eu juro que se eles transaram no meu sofá, eu mato seu irmão – ela avisa antes de entrarmos em casa.
Só ouvimos o som da televisão então vamos para a sala, Pietro tá vendo um jogo jogado no sofá e é o único acordado, ele faz sinal de silencio, jogados no chão estão Theo e Lucca, lado a lado e Luiza com a cabeça apoiada na barriga do Theo, os três dormindo tranquilamente.
— Eu acordo ela – Pietro fala e escorrega do sofá pra chamar Luiza, que no segundo chamado abre os olhos meio confusa, ela se desperta e pede desculpa, nós agradecemos e eles saem quase que na ponta dos pés, Keyse fica olhando pra eles com um sorrriso bobo e eu a entendo perfeitamente, por que é o mesmo sorriso que eu tenho, mas ela me sinaliza e então acordamos eles.
— Cama – eu falo apontando pra cima, eles se espreguiçam um pouco e se levantam, nós subimos logo atrás deles e eles param no corredor dos quartos.
— Mãe, por favor? – Lucca junta as mãos já implorando – Eu odeio dormir sozinho!
— Eu também – Theo completa com a mesma cara de choro que o irmão, Keyse me olha e eu dou de ombros dando a decisão pra ela, leva alguns segundos, então ela solta o ar como se não tivesse outra escolha.
— Mas todo o resto ainda está barrado! – ao invés de ficarem triste ou reclamarem, os dois a abraçam ao mesmo tempo.
— Valeu, mãe – eles falam com dois sorrisos, dão as costas, correm pro quarto onde Lucca estava e saem arrastando o colchão e o travesseiro pro quarto deles, nós vamos até a porta do quarto e olhamos enquanto Theo arruma o colchão pra ele.
— Amanhã eu trago a cama – eles sorriem como se não fosse um problema, damos nossos beijos de boa noite e saímos do quarto.
— Ok, eu também não entendo nada de castigos – ela fala dando de ombros e eu acabo rindo.
— É oficial, somos pais horríveis! – eu falo e ela ri e me abraça.
— Os piores do mundo! – ela fala e eu a pego no colo, ela solta uma gargalhada que me faz rir junto com ela.


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