Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 22
One shot - Especial




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Eu estou adorando o trabalho, de verdade, o lugar é incrível, todos os equipamentos que tem a disposição são novos e bem modernos, além disso, a equipe toda é muito boa de se conviver, eu já agradecia ao Ian pela indicação mas agora agradeço ainda mais, com apenas dois meses aqui eu já superei minhas expectativas e pelo visto os outros também em relação a mim, por que no começo eu sentia um pouco de olhares duvidosos, talvez por ser quem eu sou, ou melhor, por ser filho de quem eu sou, irmão de quem eu sou, cunhado de quem eu sou, mas acho que isso mudou bastante, agora quando eles vem até a mim me sinto mais parte deles e me esforço bastante pra não diminuir isso, mas mesmo adorando tudo isso, ainda comemoro quando o relógio marca cinco horas e o expediente termina.
— Muito apressado pra ir embora, ein novato – Marcel fala fazendo graça, ele tem 26 anos e trabalha aqui há cinco, foi a primeira pessoa com quem eu me dei bem logo de cara aqui e ainda bem por que no dia seguinte eu soube que ele seria meu instrutor.
— É sexta e eu gosto de ter uma vida social – eu devolvo rindo enquanto pego minha mochila do armário.
— Eu lembro de quando eu tinha uma! Era bem legal, tinham... Pessoas... E lugares legais pra onde ir... – ele finge se lembrar de algo muito distante.
— Ainda dá pra recuperar o tempo perdido. Hoje, Delphic, 23horas... – ele ri balançando a cabeça como se não fosse uma boa ideia.
— Acho que tá meio tarde demais pra mim! Tenho uma mulher gravida, incrivelmente ciumenta me esperando em casa – ele fala mas sorri de um jeito bobo, eu acabo sorrindo também.
— A noite vai ser em sua homenagem hoje – falo dando um tapa no ombro dele, que ri.
— Juízo!
— Parece meu pai – faço uma careta, jogo a mochila nas costas e me despeço do resto do pessoal, não vejo Ian por dentro do prédio mas quando chego no estacionamento de onde saem os dois ônibus que nos levam eu o vejo.
— Eu escutei falar sobre um novato do T.I que tá sendo muito bem elogiado por ter resolvido a pane que deu no sistema ontem, ouviu alguma coisa? – ele faz uma cara confusa.
— Olha, acho que escutei algo, disseram que ele é bem gato, do tipo, muito gato mesmo... – ele solta uma gargalhada – É sério, conversa de corredor são sempre verdadeiras.
— Sei! Meus parabéns, parece que você impressionou mesmo – ele coloca a mão no meu ombro em um aperto amigável.
— Eu me esforço! – logo é liberada nossa entrada no ônibus, sentamos logo na frente – E a Pérola ainda pirando com o próximo lançamento?
— Você sabe como sua irmã é, ela pira e ainda leva todo mundo junto com ela. Ela já escolheu quatro vestidos diferentes pra usar no dia... – nós continuamos conversando até chegarmos a praça central, onde é a parada mais próxima da Vila, mais algumas pessoas descem e deixo Ian conversando com um colega dele e vou direto pra casa, assim que entro em casa o cheiro de algo queimado é impossível de não ser percebido, corro até a cozinha e mamãe está no meio de uma fumaça segurando um tabuleiro que parece ter um pedaço de carvão dentro, ela tosse algumas vezes antes de me ver.
— Se você abrir a boca pra fazer uma piada, você vai comer isso assim mesmo – ela avisa e eu seguro uma risada.
— Só ia perguntar se queria ajuda – ela me olha desconfiada e solta o tabuleiro em cima da pia, me aproximo e o que antes seria um bolo agora mal pode ser identificado.
— Eu fui tomar banho e esqueci no forno.
— Pensa pelo lado positivo... – ela me olha duvidando – Pelo menos a gente não vai precisar comer – eu falo já rindo e ela me acerta um tapa.
— Sai daqui! Eu vou tacar isso na sua cabeça...
— Sabe que seria tentativa de assassinato né...
— Pietro, some da minha cozinha – ela avisa puxando uma colher de pau, eu me esquivo rindo e saio da cozinha, já estava subindo as escadas quando a porta abre, é o papai.
— Pode comemorar, esse cheiro de queimado é do bolo da mamãe... – eu falo e antes que ele me responda mamãe aparece e joga a luva que ela estava usando em cima de mim, eu acabo rindo e jogo de volta.
— Você não come mais nada que eu fizer!
— O que eu fiz pra ganhar recompensa?
— Peeta... – ela pede olhando pro papai.
— Pietro, por favor, você sabe que ela se esforça... – papai tenta mas o olhar da mamãe pra ele é ainda pior e ela coloca as mãos na cintura, indicando que ele tá bem encrencado.
— Me esforço? Por que eu sou tão ruim assim?
— Eu não disse isso! Eu só disse que... – ele leva alguns segundos procurando a palavra certa – Eu já queimei muitos bolos também – agora ela cruza os braços e o encara – Você sabe que a culpa disso é sua né? – ele aponta pra mim, eu levanto as mãos e volto a subir as escadas, quando alcanço o topo e olho pra eles, já estão se beijando, entro no meu quarto e jogo a mochila em cima da poltrona e já começo tirar minha roupa antes de entrar no banheiro, tomo um banho e saio enrolado na toalha.
— Meu Deus, quantos anos você tem? – mamãe pergunta enquanto pega minha calça do meio do quarto e me olha com reprovação.
— Eu achei que tínhamos regras sobre bater na porta!
— E você teria escutado se não tivesse cantando no banheiro.
— Era um show particular e eu podia tá pelado!
— E com certeza essa seria a primeira vez que eu te vejo pelado... Eu já te dei muito banho...
— Mãe, eu sou um homem agora, ok? – ela me encara sem acreditar muito.
— Ok, senhor super homem... Uma tal de Vanessa ligou aqui pra casa querendo falar com você e por mais que ela tenha se esforçado bastante, eu realmente não acredito que ela seja professora e quisesse tirar alguma duvida com você... – ela fala claramente desconfiada.
— Na verdade ela é professora! Eu conheci ela semana passada quando eu fui naquele bar da...
— Por favor... Me poupe dos detalhes, só... Não sai dando o telefone de casa pra suas “amigas” ou na próxima eu deixo seu pai atender... – ela ameaça com um sorriso divertido, ainda me lembro da ultima vez que isso aconteceu, ele atendeu uma ligação de uma garota e assustou tanto a menina que até hoje ela muda de calçada quando me vê e isso é horrível por que ela é bem gata e ainda nem tinha rolado nada entre a gente.
— Em minha defesa, eu nunca dou o telefone de casa, culpe a lista telefônica! – dou de ombros e ela me olha de um jeito meio esquisito, então se aproxima de mim.
— Eu sei que seu pai sempre te fala isso e que as vezes eu concordo que ele fala demais, mas...
— Eu tenho juízo, mãe! – falo antes dela que me força um sorriso e toca meu rosto.
— É, eu sei que tem! – ela concorda e se afasta de novo.
— Ei... – eu seguro sua mão e olho pra ela – Eu te amo! – o sorriso dela aumenta e eu beijo sua bochecha – E você deveria ficar feliz em ser a única pra quem eu digo isso! - ela ri.
— Você diz isso pra Pérola e pra Louise...
— Tá, vocês são as únicas – reviro os olhos mas acabo sorrindo.
— Um dia você vai dizer pra mais uma!
— Um dia. Um dia beeeeem demorado! – ela ri e balança a cabeça se afastando de novo.
— Até lá arrume seu quarto! – ela avisa e fecha a porta quando sai, eu coloco uma roupa e dou uma rápida arrumada na bagunça que estava na minha cama, coloco meu uniforme pra lavar e me jogo no sofá ao lado do papai que está vendo o jornal local, a gente conversa sobre uma das matérias e então a porta abre rápido e a figura que entra é ainda mais rápida.
— Hoje é sexta e você disse que treinava comigo! – Theo fala parado na minha frente me encarando com aqueles olhos azuis que herdamos do meu pai, mas os cabelos extremamente preto e bagunçado que ele herdou do pai dele.
— Adivinha só? Eu menti! – eu falo fingindo sussurrar.
— Você não pode mentir pra mim, você é meu tio, é meu exemplo, se você mentir, eu minto também e se eu mentir vou ficar encrencado com o meu pai e se eu me encrencar com o meu pai, você se encrenca com o seu... – ele dá de ombros e cruza os braços com muito mais postura do que deveria ter com apenas 9 anos.
— Eu achei que você fosse gêmeo do Lucca e não do Pyter – papai fala e ele sorri orgulhoso, do jeito que ele sempre sorri quando alguém o compara ao pai.
— Vamos? – ele pergunta pra mim, faço uma careta e ele agarra meu braço me puxando – Você prometeu! O jogo é semana que vem!
— Tá bom, eu vou! – faço outra careta e me levanto sozinho, ele sorri satisfeito e corre na frente, eu o encontro já do lado de fora da Vila, montado na bicicleta dele, pego a minha na lateral de casa e nós seguimos até a quadra perto da Campina, sempre fica vazia esse horário, ele pula da bicicleta já quicando a bola no chão, ele vai pro meio da quadra e me espera, assim que entro ele joga a bola pra mim.
— Eu preciso melhorar meu arremesso de três!
— Você não precisava nem falar – ele faz uma cara de ofendido e então começamos a jogar basquete, ele acabou de entrar pro time da escola e como nisso eu sou melhor que o Pyter, sou eu quem venho treinar e ele realmente é bom nisso, mesmo ainda tendo metade da minha altura ele consegue fazer bastante cestas e é bem rápido correndo e quicando a bola, coisa que eu só comecei a ficar bom mesmo depois de vários jogos, ficamos um bom tempo na quadra e quando paramos já está começando a escurecer.
— Picolé? – eu pergunto e ele concorda animado já virando a bicicleta na esquina da sorveteria, ele a deixa na porta e corre pra junto do freezer que arranca sorrisos dele.
— Bota na conta do Pyter – eu aviso na hora de pagar e Theo me olha.
— O papai vai te matar!
— Mata nada – eu faço uma careta já mordendo meu picolé.
— Pietro! – a dona da voz é morena, de cabelo longo, está com uma calça jeans e camisa de botão branca, ela me olha sorrindo e já se inclina pra um beijo na bochecha.
— Vanessa – eu devolvo outro beijo e ela sorri ainda mais – Minha mãe disse que você ligou lá pra casa...
— Ah sim, eu... Achei que poderíamos marcar alguma coisa – ela fala e olha pro Theo que nos observa curioso enquanto está encostado na bicicleta.
— Engraçado que eu nem lembrava que tinha te dado o numero – falo de um jeito que pareça meio distraído, ela ri.
— Bom, talvez eu tenha dado uma pesquisada antes... É que hoje tem uma festa do outro lado do Distrito e eu pensei se você não queria ser meu convidado...
— É... – eu olho pro Theo e ele continua nos observando, então faço sinal pra nos afastarmos um pouco, ela me acompanha com um sorriso ansioso – É que eu achei que a gente tinha se entendido naquela vez...
— E nos entendemos, por isso eu pensei que... – ela abre um sorriso e com a ponta dos dedos toca meu braço, o que me mostra claramente que eu estou encrencado, por isso me esquivo um pouco e me apresso em explicar.
— Eu tô falando sobre não ser nada sério, nenhuma promessa, só... Diversão! – o sorriso dela diminui um pouco.
— Eu sei, eu só pensei que como foi bom, nós podíamos repetir.
— E até podemos, mas ir de casal numa festa eu... Acho que não é uma boa ideia!
— É só uma festa!
— E eu acho que não é uma boa ideia! – ela parece surpresa e me encara por alguns segundos.
— Você é um babaca! – ela fala e se vira com raiva.
— Ok, podia ser pior – eu falo pra mim mesmo, quando me viro Theo está me olhando.
— Ela saiu com raiva! – ele fala como se eu não tivesse percebido.
— Não tanto quanto seu pai, quando descobrir que você comprou picolé na conta dele...
— Mas foi você! – ele fala na defensiva.
— Será que foi? Não lembro - eu sorrio e monto na minha bicicleta, ele se apressa pra me alcançar.
Quando chegamos a Vila Pyter está com Boldo e Lucca na frente da casa deles.
— Pai, o Pietro comprou picolé e colocou na sua conta – Theo se apressa em contar antes mesmo de parar a bicicleta, Boldo corre latindo pras rodas.
— E ele comeu sozinho né? – Pyter pergunta e ele dá um sorriso divertido, desce da bicicleta e vai brincar com o cachorro.
— Eu ainda sou seu tio, você lembra né? – eu pergunto pro Lucca que tentava fazer Boldo pegar o graveto que ele jogou, mas assim que eu falo, ele corre até a mim e me dá um abraço – E como tá os treinos pra luta?
— Eu quase derrubei meu pai hoje – ele fala orgulhoso.
— Ah esse é meu sobrinho – eu comemoro bagunçando o cabelo dele que ri mas quando Theo chama por ele logo corre pra junto do irmão, ele também é um bom garoto, mas desde quando eram bem menores Theo que sempre foi mais apegado a mim, não que isso interfira no carinho e amor que sinto por ele, é só que Theo gosta de coisas que eu também gosto, enquanto Lucca é mais parecido com o pai, ele é completamente apaixonado por luta e por arco e flecha, o que não são minhas especialidades, ainda assim temos nossos bons momentos juntos.
— Então... Você lembra daquela loirinha que tava com a amiga da Keyse no dia da festa dos meninos? – Pyter pergunta parando ao meu lado como quem não quer nada.
— O que tem?
— Eu dei seu numero pra ela!
— VOCÊ O QUÊ? – não consigo disfarçar o susto e a reprovação, na verdade nem tento.
— Dei seu numero pra ela – ele dá de ombro como se fosse normal – Ela é bonita!
— Cara, você é maluco? Eu não acredito nisso! Você tem noção que nos 5 minutos que eu parei do lado dela, ela já tava falando sobre como o sonho dela é ter um casal de gêmeos e uma casa com jardim nos fundos e talvez um cachorro e sei lá mais o quê? – ele está rindo visivelmente se divertindo enquanto eu falo.
— Ela pensa no futuro, talvez você devesse...
— Eu quero muito te dar um soco na cara!
— Mas como você ainda não é maluco, vai ficar só na vontade...
— Cara, eu não vou ficar com ela e a culpa se ela ficar magoada é sua e não minha!
— Ou você pode dar um chance pra esse coração – ele coloca a mão na direção do meu coração, eu empurro com um tapa e ele ri.
— Me fala que você não fez isso, por favor... – ele revira os olhos.
— Tá, eu não fiz – ele confessa e eu respiro aliviado – A Keyse fez – ele avisa já se afastando e rindo.
— Eu odeio vocês dois!
— Nós escutamos muito isso – ele pisca o olho antes de correr pra junto dos meninos, eu xingo baixo e me viro pra ir pra casa, entro ainda querendo matar eles dois.
— Nossa, que cara é essa? – mamãe pergunta enquanto passa da cozinha pra sala e me olha.
— Eu odeio o seu filho!
— Ele é seu irmão, caso tenha esquecido!
— Eu não tenho mais um irmão – ela revira os olhos sem dar muita importância.
— Seu pai pediu pra ajudar ele com alguma coisa lá na cozinha – ela avisa e eu vou pra cozinha, papai está descascando alguns legumes, assim que me vê ele pega uma faca e me entrega, eu aceito rapidamente, sem precisar de explicação, sempre que ele quer um tempo comigo nós cozinhamos juntos, por que é a única coisa que eu sou quase tão bom quanto ele, então desde criança sempre fazemos isso pelo menos uma vez por semana, eu me junto a ele e ele percebe minha cara, pergunta o que houve e quando conto ele começa a rir, mas diz que vai falar com o Pyter. Depois de jantar, eu subo, me jogo na cama e durmo até que meu telefone toca, é o Chris, meu melhor amigo, ele diz que já vai se arrumar, então vou tomar um banho e me arrumo também, quando saio do quarto papai está subindo as escadas, ele me olha de cima a baixo e para com aquela cara pré-sermão.
— Onde você vai?
— Pro Delphic e não precisa me esperar acordado!
— Como se eu conseguisse ficar acordado até o amanhecer...
— Posso pegar o carro?
— Vai beber?
— Se eu pegar o carro não! – ele me analisa e balança a cabeça como se não adiantasse falar.
— Se tiver um arranhão nele...
— Eu sei, eu sei... – levanto as mãos e me aproximo, dou um beijo na bochecha dele e desço as escadas, mamãe está saindo da cozinha.
— Se cuida!
— Eu sempre me cuido – pisco um dos olhos e também beijo sua bochecha, ela sorri e eu pego a chave do carro e saio de casa.
Em menos de cinco minutos paro na porta da casa do Chris, uma casa grande, com dois pés de maça logo na entrada e algumas rosas em volta da casa, ele é filho do único joelheiro do Distrito então eles se permitem alguns luxos, buzino duas vezes e logo ele está saindo de casa, dá uma corrida e entra no carro.
— Eu não entendo por que sempre eu que tenho que te dar carona?
— Por que você é meu melhor amigo! – ele dá de ombro enquanto coloca o cinto, eu o encaro como se não fosse suficiente – E por que eu posso ter chamado a Vick pra ir hoje...
— Tá me zoando! Sério? – ele ri.
— Talvez eu até tenha comentado algo sobre você e ela tenha se empolgado, não sei, tá difícil lembrar com tanta hostilidade vindo de você – ele fala fazendo uma cara de ofendido, eu dou uma gargalhada.
— Eu pago sua entrada!
— Agora estamos na mesma língua! – ele me conta que realmente chamou a Vick, que é uma prima dele, ela é nova no Distrito, morava no seis e chegou a uns dois meses aqui no Doze, nós nos vimos algumas vezes, mas apesar de ser muito linda, ela é ainda mais tímida e meio desconfiada, então pra conseguir me aproximar dela, aceito todas as ajudas possíveis. Nós chegamos no Delphic, mas como já está bastante cheio não consigo encontrar espaço pra estacionar e acabamos dando umas duas voltas pelo lugar.
— Ai pelo amor de Deus, Pietro, coloca em qualquer lugar, desse jeito a gente entra quando todo mundo tiver saindo – Chris reclama já tirando o cinto, eu dou uma olhada em volta e vejo um espaço na calçada atrás do clube e estaciono, nós descemos e vamos direto pra porta principal, pago nossas entradas e quando chegamos do lado de dentro a musica já está bem alta e animando todo mundo que dança e bebe por todo lugar, Chris vai direto pro bar e já pega sua bebida, encontramos alguns colegas nossos e damos uma volta pelo lugar, nós paramos perto do bar de novo e assim que olho pra frente começo a desconfiar que talvez essa seja uma noite longa, na pista de dança que está apenas alguns poucos metros, está Bruna, ela é daqui do Distrito, nós estudamos juntos mas nunca tinha rolado nada entre a gente até o mês passado, ficamos algumas vezes, até que ela me colocou na parede e disse que ou eu ficava apenas com ela ou não ficaria nunca mais, bom, ela saiu com bastante raiva naquele dia e por causa disso sempre que me vê ela tenta me provar que minha escolha foi horrível, acho que por isso ela está dançando tão colada com o cara que está sorrindo a toa, ela é muito bonita, loira, olhos castanho claro, cabelo até os ombros, está com um vestido vermelho e decotado, confesso que olhando ela assim dá uma certa pena das coisas terem acabado assim, mas em todo caso, eu não vou me prender a ninguém agora, então a escolha foi feita, quando olho pra ela de novo, ela está me encarando, ainda dançando mas sem desviar os olhos de mim, eu balanço a cabeça e viro pro bar, apoio o cotovelo no balcão enquanto converso com o barman que já é praticamente um amigo.
— Uma garrafa de vodca, na conta dele – Chris fala já me abraçando meio de lado e encostando a cabeça no meu ombro, Leo, que é o barman ri e espera que eu autorize.
— Quanto você já bebeu? – ele revira os olhos – Cara, a gente chegou a meia hora, se você der vexame eu nem te conheço...
— Tá preocupadinho comigo é?
— Não, só com a minha imagem mesmo – ele ri.
— Relaxa, eu to bem, só tomei duas cervejas – eu o analiso alguns segundos e ele parece bem mesmo, então autorizo, a garrafa é entregue e então sinto alguém quase encostando em mim do outro lado e antes mesmo de olhar já sei quem é, até por que Chris é péssimo pra disfarçar algo.
— Duas doses de tequila, uma pra mim e outra pro meu vigia aqui... – Bruna fala e quando olho, ela abre um sorriso.
— Eu não estou te vigiando! E tô dirigindo – aviso colocando a mão pra que Leo não encha meu copo, ela faz uma cara triste, mas depois sorri, coloca o sal na mão e sem desviar os olhos de mim, ela lambe a mão, bebe a dose e depois chupa um pedaço de limão.
— É uma pena, você fica bem mais divertido quando bebe!
— Ah eu sou sempre divertido – ela ri e então se aproxima de mim, deixando nossas bocas perto demais.
— Pena que é muito burro pra saber se divertir de verdade – ela sorri, beija o canto da minha boca, se vira e sai dançando no ritmo da musica.
— Cara, eu pedia ela em casamento agora! – Chris fala olhando pra ela.
— Ok, você tá bem bêbado – eu falo arrancando a garrafa da mão dele.
— Ah fala sério, ela é muito gata, sério, você não vai achar outra assim... – ele avisa e pega a garrafa da minha mão, então quando olho atrás dele, vejo uma garota dançando, ela está com um cara, mas pela sua cara de tédio, a coisa não tá muito legal, nossos olhares se encontram e ela abre um sorriso, ela tem cabelo longo preto, olhos azuis, está com um vestido curto branco e não desvia os olhos de mim enquanto dança.
— Acho que achei – falo pro Chris que se vira e sorri quando vê a garota – Você tem certeza que a Vick vem?
— Já era pra ela tá aqui, mas ainda não vi ela!
— Bom, eu ia dar a preferencia pra ela, mas... O dever me chama – eu falo e olho na direção da garota, ele ri.
— Não vale porra nenhuma né? – ele fala pra mim, enquanto já estou indo na direção da garota, ela é ainda mais linda de perto, eu começo a dançar próximo a ela, que sorri pra mim enquanto o cara fala algo se inclinando pra perto da orelha dela, eu sorrio e ela sorri ainda mais, então decido que já posso arriscar, eu paro de dançar e vou até eles, toco no ombro do cara que para na hora e me olha confuso.
— Foi mal, mas ela tá comigo agora – ele perde o olhar confuso e assume uma postura mais reta e me encara.
— Como é que é?
— Ela tá comigo! – repito enquanto a garota apenas sorri me olhando.
— Olha só...
— Aí amigo, não precisa disso, você sabe que não tá rolando entre vocês, não sabe? Então, continua sua noite lá e eu cuido daqui – ele olha pra ela, mas como ela não nega ele apenas sai irritado entre as outras pessoas dançando.
— Ele podia ser meu namorado! – ela fala quando me viro pra ela.
— Então hoje seria o fim do namoro por que vocês não pareciam apaixonados, além do mais, eu confio nos meus sentidos...
— E o que eles dizem?
— Que eu deveria te dar uma chance – ela dá uma risada divertida.
— Você é bem convencido né? – nós rimos e quando eu passo o braço pela sua cintura, ela aceita e começa a entrar no ritmo da musica comigo, nós dançamos juntos por alguns minutos, pergunto se ela quer beber alguma coisa e ela aceita, vamos até o bar, o nome dela é Luiza, eu pago a bebida e quando eu digo que não posso beber por que sou o motorista da noite, ela acha “fofo”, não é meu adjetivo preferido mas quando ela “distraidamente” começa a falar tocando meu braço, eu acho até que “fofo” é bem legal, nós ainda dançamos mais um pouco até rolar o beijo, ficamos um tempo juntos, numa parte um pouco longe da bagunça, dançando e nos beijando, até que Chris aparece ele segura meu braço e pede licença pra ela, então se aproxima do meu ouvido.
— A Vick chegou e perguntou de você! – ele avisa e eu seguro o sorriso.
— Eu já vou! – aviso pra ele que sai segurando o sorriso, Luiza está me olhando curiosa – Eu tenho que ir!
— A Vick chegou né?
— Você... Ouviu aquilo?
— Ele quase gritou no seu ouvido... – ela fala mas está sorrindo.
— Ele não sabe ser discreto!
— É sua namorada?
— Não! – respondo tão rápido que ela acaba rindo.
— Você não quer mesmo um namoro – dessa vez também acabo rindo.
— Não tô ansioso pra isso...
— Então somos dois! – ela afirma com um sorriso meio malicioso e então pisca um dos olhos e por mais que eu queira mesmo me adiantar com a Vick, acabo beijando Luiza de novo, sinto ela sorrir e não me afasta, apenas corresponde, o beijo é longo e começa a ficar mais forte quando ela para, passa os dedos tentando limpar o batom da minha boca e quando olho atrás dela Vick está nos olhando e fala algo com Chris.
— Ela é a Vick? – Luiza pergunta me distraindo, confirmo – Eu não conheço ela, mas arrisco dizer que você pode ter perdido sua grande chance, pelo menos hoje – ela fala mas sorri.
— Você parece bem chateada por mim!
— Ahhh e eu estou! Essa sou eu tentando disfarçar – ela sorri ainda mais e eu acabo rindo.
— Você é sempre cruel assim ou eu estou sendo privilegiado? – ela ri.
— Foi você quem me beijou essa ultima vez, você lembra né?
— Lembro, lembro sim – eu sorrio e me aproximo mais ainda dela, passo meu braço em volta da sua cintura e com a outra mão coloco seu cabelo atrás da orelha, ela sorri na expectativa – Talvez não tenha sido a ultima vez... – eu aproximo a boca da dela, então nos beijamos de novo, depois nós vamos para o outro lado onde tem alguns sofás e bancos, alguns casais já estão aqui e eu consigo um lugar pra nós dois.
— Eu nunca tinha te visto por aqui...
— Isso é por que eu não sou daqui – ela esclarece sorrindo – Distrito Quatro!
— E o que tá fazendo por aqui?
— Uma entrevista!
— Entrevista?
— É, mas não deu muito certo! – ela dá de ombros como se não quisesse falar sobre isso.
— Posso perguntar sobre o que era a entrevista? – ela nega.
— Mas você pode me beijar! – ela sorri e então eu a beijo e ficamos assim por um bom tempo juntos, praticamente pela noite toda e tenho que confessar que não estou com nenhum arrependimento, depois ela avisa que tem que encontrar a amiga dela e nós nos despedimos com um outro longo beijo, encontro Chris agarrado em uma garota perto do banheiro, vou até os outros caras e fico com eles, até que Chris volta sorrindo.
— Perto do banheiro? A garota já fez o favor de ficar com você nem pra você levar ela pra um lugar decente? - eu falo e ele me acerta um tapa na nuca.
— E aí valeu a pena? Por que acho que com a Vick não vai rolar mais não...
— Eu tô bem! – eu falo com um sorriso e ele também ri, mas não pergunta mais nada. Nós continuamos até um pouco antes do final da balada, já eram mais de três horas da manhã, saímos antes pra evitar toda agitação de todo mundo querendo sair junto, nos despedimos dos outros e contornamos o lugar até onde parei o carro, quando alcançamos tem um guarda ao lado do carro, eu levo uns segundo pra entender e então vejo a trava nas rodas.
— O que houve? – pergunto quando me aproximo dele.
— O carro é seu? – o guarda sério e de voz grossa pergunta.
— É!
— E você não viu a placa? – ele aponta pra placa um pouco mais a frente, onde está dizendo que é proibido estacionar.
— Ah quê isso?! Eu não vi, tá no meio da madrugada...
— O carro fica apreendido até o pagamento da multa! – ele avisa sem estar disposto a mudar de ideia.
— Multa? Você tá brincando né? – em resposta ele me entrega um pedaço de papel – 300 reais? Tá brincando mesmo né?
— Eu pareço estar brincando?
— Eu não tenho esse dinheiro!
— Então amanhã o carro será levado! – ele avisa e dá de ombros.
— Ei, você sabe quem ele é? – Chris que estava calado até agora, resolve abrir a boca.
— Como é que é? – o guarda se aproxima irritado.
— Nada, nada! Desculpa, ele tá meio bêbado, nem sabe o que tá fazendo, me desculpa! – eu me adianto mas ele ainda encara Chris alguns segundos.
— Ou paga a multa ou o carro continua aqui e amanhã é levado pro depósito! – ele avisa ainda mais decidido.
— Tô ferrado – eu falo sabendo exatamente o quanto papai vai ficar furioso – Até que horas o carro fica por aqui?
— As nove o guincho chega!
— Se eu pagar antes disso?
— O carro é seu!
— Ok! – eu concordo e me viro pro Chris – Eu vou dormir na sua casa hoje! - ele concorda e então começamos a andar pra casa dele, demora uns quinze minutos e então chegamos, ele se joga na cama e eu mesmo que puxo alguns lençóis e travesseiros pra dormir no chão, ele apaga e eu ainda demoro um bom tempo pra conseguir cochilar, já imaginando a bronca que vou receber do papai, quando finalmente consigo dormir acordo assustado, olho pro relógio e já são seis e meia, junto minhas coisas, dobro e deixo no canto, ele ainda está dormindo, então saio do quarto sem fazer barulho, o pai dele, tio Carlos já está acordado, dou um bom dia e saio da casa dele praticamente correndo pra Vila, olho em volta pra ter certeza de não encontrar com o papai e vou direto pra casa do Pyter, bato e em alguns segundos a porta abre, Keyse me olha curiosa e eu entro rápido.
— Quem você matou?
— Eu sou o morto! – ela ri balançando a cabeça.
— Ele tá lá na cozinha! – ela avisa e eu corro pra lá, Pyter está sentado a mesa e me olha surpreso.
— Balada foi mesmo até tarde hoje – ele brinca e como não sorrio ele parece preocupado – O que foi? - Prenderam o carro do papai, as rodas estão travadas e o guincho vai levar ele as nove se eu não pagar 300 reais de multa...
— NÃO! – ele fala alto demais e coloca as duas mãos na cabeça – Você não pode me contar essas coisas, que merda! – ele parece um pouco irritado.
— Você perguntou o que era...
— Por que eu achei que você tivesse aceitado algum pedido de casamento, destruído algum coração na madrugada, sei lá... Não isso! Agora eu sou seu cumplice, que merda, Pietro!
— Foi mal, mas eu preciso da sua ajuda! – ele balança a cabeça varias vezes como se tivesse decidindo, eu me aproximo dele – Pyt, o papai vai me matar!
— Não, não, não ... Você não pode fazer isso... – ele avisa fazendo um sinal pra mim.
— O quê?
— Isso! Esse jeitinho, o mesmo que você usava quando era menor, fazia uma cagada e me pedia pra te salvar...
— E você sempre me salvava! As coisas mudaram tanto assim? – ele esfrega o rosto com as duas mãos.
— Quanto você tem?
— Uns 40 reais...
— O que você faz com todo seu salario?
— Isso realmente importa agora?
— Importa quando você vem na minha casa, coloca minha vida e meus ouvidos em perigo, por que você sabe que se o papai descobrir, vai ser um sermão tão grande que nossos ouvidos vão sangrar né?
— Então me ajuda e ele não descobre!
— Eu não vou entrar nessa sozinho! – ele avisa e levanta – Anda logo – ele me chama e eu o sigo, ele pega a carteira dele da sala, tira metade do dinheiro e me entrega, fecha a carteira, joga na mesinha e me sinaliza pra ir com ele, saímos da casa dele e vamos pra do lado, ele entra sem bater, Louise está descendo as escadas ainda de pijama.
— É educado bater na porta – ela avisa mas quando Pyter abre os braços ela praticamente pula nele, beija sua bochecha e ele a aperta.
— Cadê aquela velha da sua mãe?
— Tá descendo! – ela avisa e vem me abraçar – Você tá fedendo! – ela fala fazendo uma careta.
— É o cheiro de cadáver! – Pyter fala e Pérola aparece na escada – Pietro foi pra balada, prenderam o carro do papai, tá travado e vai pro guincho se não pagar multa.
— Droga! Eu odeio vocês! – ela reclama e termina de descer – Vocês não podem contar algo assim sem saber se a pessoa quer guardar segredo!
— Bom agora você já sabe e isso te torna cumplice... – Pyter avisa sorrindo vitorioso.
— Ou eu vou até o papai e conto pra ele!
— Ótimo e quando você terminar eu conto pra mamãe que não foi o Theo que quebrou o vaso da sala e sim você tentando chutar a bola... – ele ameaça e ela faz uma cara de espanto.
— Ele te contou?
— Ele é meu filho! E aliás, achei um absurdo você usar uma criança pra evitar uma bronca da mamãe...
— Você é um idiota! – ela fala e olha pra mim – E tudo isso é culpa sua! – ela aponta pra mim e me dá um tapa na cabeça.
— Vocês podem discutir a relação depois, eu tenho um carro pra resgatar!
— Quanto falta? – ela pergunta já pegando a carteira, pega o dinheiro mas antes de me entregar, ela para e sorri – Mas preciso de um favor...
— Acho que não tenho opção né? – ela sorri e dá de ombros.
— Eu preciso de um modelo pra abrir e encerrar o desfile, o antigo torceu o tornozelo ontem, o desfile é na semana que vem e você tem as medidas parecidas com ele... – ela me olha na expectativa.
— Eu acho bom ficar bem gato, tenho uma reputação a zelar – ela ri e me entrega o dinheiro - Você vai comigo? – pergunto pro Pyter, ele já ia negar – Por favor? – ele revira os olhos e me manda ir com ele, saímos e vamos direto pra lá, assim que viramos pra onde o carro está Pyter solta um xingamento, olho pra frente e olhando pra nós dois está o guarda e ao lado dele, o papai, ele fala algo com o guarda e vem andando na nossa direção, nós ficamos parados.
— Quando ele começar o sermão você cai no chão e fica se debatendo – Pyter fala e eu acabo rindo.
— É engraçado? – papai pergunta e para na nossa frente, eu nego – É claro que você ia ajudar ele né?
— Metade do dinheiro é da Perola! – Pyter fala diretamente e ele parece um pouco surpreso, mas logo se recupera.
— Qual era o plano?
— Pagar e esquecer essa história?! – eu falo dando de ombros e ele me olha.
— Tudo bem já está pago! – ele avisa e dá de ombros, eu e Pyter nos olhamos – Eu tenho que ira pra padaria, levem o carro pra casa – ele fala e passa por nós indo pro caminho da padaria.
— Eu tô acordado? – Pyter pergunta me olhando confuso.
— Sem sermão? Era o papai mesmo?
— A mamãe deve tá sabendo de alguma coisa – Pyter avisa e nós vamos até o carro, o guarda já está saindo com o carro dele, nós entramos e Pyter dirige, chegamos na Vila direto pra casa, entramos e não achamos mamãe em casa. - Assim que você souber de alguma coisa, me avisa – ele pede e sai pra casa dele, levando o dinheiro pra devolver pra Pérola, eu subo, tomo um banho e me jogo na cama.
Acordo com a mamãe me chamando.
— Seu pai tá te esperando lá embaixo, agora! – ela avisa e sai antes que eu possa perguntar mais alguma coisa, lavo meu rosto, pego uma camiseta, visto e saio do quarto, desço as escadas e escuto outras vozes, é a Pérola e o Pyter, os dois estão sentados no sofá e assim que entro na sala eles vem até a mim, mamãe não está aqui.
— O que o papai falou? – Pyter pergunta primeiro.
— Não sei, eu nem vi ele ainda, a mamãe que subiu pra me chamar!
— E por que ele quer nós três aqui?
— Você é surda ou só é burra mesmo? Ele acabou de dizer que não viu o papai.
— Eu escutei e não sou burra, e alias eu nem sei por que você tá tão estressadinho, vocês dois que me colocaram nessa furada...
— Ele foi me procurar, a culpa é dele! - Eu também já livrei vocês de um monte de coisa...
— Fala uma então...
— Naquela vez que... – eu paro de falar quando papai aparece saindo do corredor do escritório, ele está com uns papéis na mão e para na nossa frente, então se senta calmamente na poltrona, mamãe também aparece e está com uma cara suspeita.
— Eu só dei o dinheiro! – Pérola fala e nós olhamos pra ela, que levanta os ombros se livrando da culpa.
— Podem sentar! – papai fala sério e obedecemos – Eu sei que vocês estão esperando um sermão, mas acho que vocês tem razão, eu sempre faço muitos sermões, então... Nada de sermão hoje! – ele fala e olhamos um pro outro, nenhum dos três ainda está muito convencido disso, então papai se levanta e entrega pra cada um, um dos papeis que estava segurando, eu passo os olhos rapidamente e é um documento da padaria, um contrato na verdade, eu leio e acho que entendi errado até que Pyter fala primeiro.
— Isso é sacanagem né?
— Na verdade não – papai fala naturalmente – Eu devia mesmo umas folgas extras pro pessoal da padaria, eles tem trabalhado duro, então eu pensei e cheguei a essa decisão, eles terão os domingos livres por dois meses e enquanto isso vocês assumem...
— Essa é a hora que a gente rir?
— Eu não entendo por que seria uma piada, Pyter...
— Qual é pai, domingo é o único dia que eu tenho livre, sem aulas, sem treinos, você não pode tá falando sério.
— Eu odeio concordar com o Pyter, pai, mas não é justo, eu tô no ateliê todo dia, domingo é dia de descanso...
— Eu tenho o dinheiro, eu pago o que você gastou com o carro... – eu falo e ele nega.
— Mas eu não gastei nenhum centavo, o carro foi liberado por que esclareci as coisas e garanti que não vai se repetir...
— E não vai mesmo!
— Eu sei que não!
— Então por que fazer isso? – Pyter pergunta.
— Por que eu preciso de ajuda na padaria e já que vocês conseguem trabalhar tão bem juntos...
— Mas pai...
— Não tem mas Pérola, é isso, tá decidido! Já avisei na padaria pra eles, vocês começam amanhã, talvez seja um pouco mais complicado pra você Pyter, mas tenho certeza que pelo menos separar o material, fazer as medições e atender, você se sai muito bem, quanto a Pérola e Pietro, vocês já conhecem praticamente todas as receitas, de qualquer jeito, eu estarei lá também...
— Você pode ajudar quando quiser, tá mãe? – Pyter fala e mamãe sorri.
— Ah mas eu já ajudei! – ela fala e olha pro papai que também sorri.
— A ideia foi dela!
— O que? – dessa vez eu me surpreendo ainda mais.
— Acho que vai fazer bem pra vocês e seu pai precisa de ajuda na padaria! – ela dá de ombros.
— Agora assinem aí embaixo...
— Assinar? Não precisa disso!
— Ahhh eu conheço muito bem vocês três, precisamos sim! – ele entrega uma caneta pro Pyter, que aceita mas ainda parece pensar sobre isso – Caso ainda tenha duvida, é bom lembrar que vocês ainda recebem dinheiro da padaria, então... – Pyter revira os olhos e assina, depois passa a caneta pra mim, assino e passo pra Pérola – Ótimo, saímos amanhã as 4:40!
— O que? Da manhã?
— Por que o espanto? Você chega essa hora das festas – ele fala e dá de ombros.
— Lembra que isso é culpa sua – Pyter fala quando passa por mim.
— Eu queria poder quebrar sua cara! – Pérola avisa e me faz uma careta.
Eu saio da sala e volto pro quarto, me jogo na cama e mal saio do quarto o resto do dia. No domingo as 4:40 estamos saindo de casa, Pyter e Pérola nos encontram em frente de casa, com caras de sono e mau humor, até mesmo Pérola que sempre está sorrindo e puxando saco do papai, vamos de carro pra padaria e pra minha segurança vou na frente com o papai, as ruas ainda vazias e o sol ainda não apareceu, entramos na padaria e ele começa a nos passar todas as instruções, mamãe também veio e fica pela parte da frente arrumando e limpando o espaço, fazemos as massas, enchemos e esvaziamos tabuleiros e quando a padaria finalmente abre parece que já estamos aqui o dia inteiro, Pyter vai atender e fico com Pérola na cozinha, aos poucos o mau humor dela diminui, enquanto abrimos a massa para mais pães ela acaba rindo quando lembra de uma vez quando eu ainda era criança e que escondi uma bala dentro da massa do pão de queijo e depois despedacei quase todos atrás dela, quando papai volta estamos rindo.
— Não parece tão ruim, parece? – ele pergunta se divertindo, então Pyter aparece.
— O que eu ganhar de gorjeta fica pra mim né? – ele pergunta pro papai.
— Se você ganhou é seu!
— Quanto você ganhou? – Pérola pergunta curiosa.
— 5 reais!
— Quem deu cinco reais pra ser atendido por alguém com essa sua cara de mau humor?
— Eu posso ficar atendendo? – pergunto e papai ri.
— Quando terminarem essa fornada!
— É, fiquem aí – Pyter sai balançando os cinco reais que ganhou.
Continuamos na cozinha por mais um bom tempo, até que começa a dar muito movimento e Pyter pede ajuda, já que mamãe se enrola com os pedidos, eu vou pra junto dele e estávamos indo muito bem, eu pegava um pedaço de torta pra uma menininha sorridente quando batem no balcão algumas vezes bem insistente, me levanto pronto pra reclamar e pedir paciência quando dou de caras com os mesmos olhos azuis de ontem.
— Bem que me disseram que eu iria encontrar o melhor do Distrito aqui – ela fala e sorri, eu também sorrio.
— Espera até provar os biscoitos amanteigados que vão sair daqui a pouco! – eu falo e ela ri, termino de atender a menina e volto a atenção pra ela.
— Não sabia que você trabalhava aqui!
— Negócios de família, sabe como é? – falo dando de ombros e atendo mais uma moça.
— De família? Então você é... Aí meu Deus... Você é irmão da Pérola? – isso chama minha atenção e olho pra ela.
— É, sou!
— Não acredito! – ela ri meio confusa.
— O que houve? – eu pergunto curioso.
— Eu não vou ficar lá atrás o dia todo, um dos dois vai trocar comigo ou eu vou falar com o papai – Pérola aparece reclamando.
— Oh meu Deus! É você, você é a Pérola! – Luiza fala como se tivesse visto a pessoa mais importante do mundo, Pérola fica um pouco sem graça, mas sorri e se aproxima – Eu não acredito nisso! Eu vim até aqui por sua causa...
— Por mim?
— Agora eu fiquei ofendido! – eu falo e Luiza ri.
— Lembra que eu te disse que vim aqui por causa de uma entrevista?
— Lembro!
— Era com ela! Eu soube que você estava procurando alguém que desenhasse sapatos e bolsas, pra você fazer uma espécie de parceria, e eu desenho essas coisas...
— Não lembro de você na entrevista!
— Eu sei, eu fiquei tão nervosa que passei mal, aí depois deixei cair café nos desenhos que tinha preparado pra te mostrar e acabei perdendo o horário e desistindo...
— Bom, eu ainda não encontrei ninguém.
— Sério?
— Sério! Se você ainda tiver algum desenho perdido sobrando, podemos conversar...
— Mas depois que a padaria fechar... – Pyter se intromete – Foi mal, sei que é o seu futuro e tal, mas ela precisa mesmo ir lá pra trás e misturar farinha com sei lá o que e me trazer mais pães por que esses estão acabando...
— Esse é o Pyter, também conhecido como o irmão estragar prazer! – eu falo e Pyter me dá um tapa.
— Ele tá certo, eu não quero atrapalhar...
— Faz assim, deixa o seu numero e quando a gente fechar eu ligo pra te avisar... – Pérola fala já pegando um pedaço de papel e uma caneta, Luiza sorri agradecida e se apressa em anotar o numero.
— Muito obrigada, você é tipo... Muito mais linda pessoalmente! – ela fala e Pérola fica levemente corada, mas agradece e diz que precisa voltar ao trabalho.
— Sabe, a Pérola não é a única mais bonita pessoalmente... – eu falo e ela ri.
— Tem razão... Seu irmão ali também é bem mais bonitão – ela fala e Pyter solta uma risada alta e eu faço uma cara de ofendido pra ela, que apenas ri ainda mais, então puxa minha mão e começa a anotar algo, quando termina vejo que é o numero do telefone dela – Caso você termine mais cedo que sua irmã! – ela fala, sorri e se afastando saindo da padaria, me viro pro Pyter e ele está rindo.
— Cara, eu preciso sair mais cedo...
— Ah nem vem! Você meteu a gente nessa, não vai sair mais cedo!
— Mas Pyt...
— Não vem com essa de Pyt não, você só sai quando eu sair...
— Achei que você quisesse que eu encontrasse alguém especial – dou de ombros forçando uma cara triste.
— Se ela for mesmo seu alguém especial, ela consegue esperar até a padaria fechar! – ele fala e me joga um pano de prato, eu o agarro e faço uma careta.
— Eu odeio você!
— Não tanto quanto eu odeio você por me fazer perder meu único dia de folga!
— Vô, o papai e o tio Pietro tão brigando – Lucca fala enquanto passa por baixo do balcão pro nosso lado.
— O que você tá fazendo aqui? – Pyter pergunta e logo em seguida Theo passa correndo por debaixo do balcão também.
— Já tem biscoito chocolate? – ele nem espera a resposta e corre pra dentro da cozinha, Keyse entra pela padaria ao lado da Louise que está com uma mini saia bem mini pra minha opinião.
— Esqueceu a outra parte da saia em casa? – Pyter que pergunta e ela revira os olhos pra ele.
— Ou a outra parte ficou secando? – entro na brincadeira e ela revira ainda mais os olhos, levanta a parte do balcão e passa pro nosso lado.
— Eu não falo com machistas – ela fala irritada como sempre fica quando reclamamos de sua roupa ou apenas como ela geralmente está desde que entrou na fase adolescentes.
Eu não falo com machistas— eu e Pyter imitamos a voz dela de um jeito fino e que ela odeia.
— Ô vó, olha eles implicando comigo! – ela grita indo atrás da minha mãe na cozinha.
ô vó, olha eles...— imitamos de novo e Keyse começa a rir.
— Vocês tem que parar de pegar no pé dela!
— Mas é nosso passatempo preferido! – eu falo e Keyse ri balançando a cabeça, ela se inclina e dá um beijo rápido no Pyter.
— Pyter e Pietro, se eu ouvir vocês implicando com a Loui de novo, os dois estarão encrencados – mamãe avisa parando com as mãos na cintura, Louise para ao lado dela com um sorriso vitorioso, mas assim que a mamãe vira, eu e Pyter fazemos caretas e ficamos imitando o jeito dela falar e ela sai reclamando e indo atrás do papai dessa vez, nós ficamos rindo e quando ele aparece tentando nos dar uma bronca, eu tenho que confessar que esse castigo não está sendo tão horrível assim, na verdade, tudo que deixa todos nós juntos acaba sendo de alguma maneira muito divertido.


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