Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 19
A proposta!


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal...
Esperando o comentário de vocês lá embaixo ein... Não sumam!



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A pequena folga que recebemos já acabou e voltamos a nossa rotina, eu tive uma manhã agitada na escola, mas consegui ir almoçar em casa, Lucca e Theo ficaram com meus pais e eu deixei a Keyse na loja e vim para o galpão, Ryan já estava aqui e depois de me trocar, ajudei ele a organizar as coisas, aos poucos as crianças foram chegando e assim que a turma se completou iniciamos o treino, já estávamos nos minutos finais quando o barulho no portão chamou a atenção, um homem muito bem vestido entra e cumprimenta algumas das mães que já estão esperando o final do treino, ele para na lateral, sem pisar no tatame, olho pro Ryan e ele me faz um sinal perguntando quem é, respondo dando de ombros e então voltamos a atenção para as crianças, alguns minutos depois e Ryan encerra e dispensa as crianças enquanto eu caminho até o homem que continua nos observando, já estava a poucos passos quando o reconheço, Claudio Prado, posso não ser muito bom em guardar nomes, mas esse eu não iria esquecer, estávamos em lua de mel quando ele foi me procurar oferecendo o que ele garantia ser a chance da minha vida, eu neguei e me lembro muito bem de não ter sido simpático, por isso entendo ainda menos o que ele pode ter vindo fazer aqui, assim que me aproximo ele estica a mão pra mim com um daqueles sorrisos superior e falso, ainda assim eu estico a minha mão e aperto a sua.
— Pyter Mellark, quanto tempo – ele fala com a voz ensaiada.
— Cláudio Prado, certo?
— Pelo visto não se esqueceu de mim...
— Se você veio com alguma nova versão daquela proposta, lamento, mas perdeu a viagem e o seu tempo – ele dá uma risada tão ensaiada quanto sua voz.
— Perdão, mas embora seja um prazer... Inenarrável... vê-lo novamente, não vim até aqui pra falar com o senhor – ele sorri e endireita a gravata que já estava certa, então avança um passo e estica a mão pra alguém atrás de mim – Ryan Vianna, eu presumo...
— Sou eu, e o senhor é?
— Alguém que gostaria de alguns minutos da sua atenção – ele fala sorrindo e então olha pra mim.
— Sobre? – Ryan parece desconfiado e também me olha.
— Eu posso garantir que o assunto é importante e um tanto urgente, será que nós podemos conversar? Prometo não roubar muito do seu tempo...
— A gente pode conversar lá dentro – Ryan fala já mostrando o caminho.
— Sem querer parecer muito exigente mas se me permite eu já tenho um lugar mais conveniente e... Confortável!
— OK, eu só... Preciso me trocar...
— Ah não se incomode, eu não vejo problema em irmos assim, como eu disse, é urgente – ele fala e Ryan me olha.
— Você termina? Eu não demoro!
— Ok! – falo e ele me força um sorriso e sai com o homem, eu continuo parado olhando pra eles enquanto saem do galpão, tento entender o que ele pode querer com Ryan, já faz anos desde que ele me procurou e agora, do nada, ele simplesmente aparece aqui e procura pelo Ryan, isso é no mínimo muito estranho, eu deveria ter segurado eles aqui e exigido uma explicação dele, mas depois me lembro que não podia fazer isso, ele veio atrás do Ryan e a decisão de falar com ele não era minha, me lembro ainda que não tinha contado para o Ryan sobre nosso encontro na Capital, é como se eu realmente tivesse me esquecido dessa história, afinal quando cheguei de viagem vovô estava internado e logo depois eu o perdi, então é claro que esse assunto seria a ultima coisa que eu pensaria e de fato nem pensei, até agora.
Uma das mães se aproxima de mim e eu me desligo dos meus pensamentos pra dar atenção pra ela que me faz algumas perguntas, eu respondo a todas as suas duvidas e depois começo a guardar as coisas e deixo tudo arrumado, entro no vestiário, tomo uma chuveirada rápida, troco de roupa, junto minhas coisas e Ryan ainda não voltou, eu o espero e já estava quase desistindo quando ele aparece.
— Achei que tivesse sido sequestrado – eu falo enquanto ele caminha na minha direção.
— Então você decidiu que ficar sentado na arquibancada de um galpão vazio iria me ajudar? – ele pergunta implicando comigo e rindo.
— Talvez eu quisesse me livrar de você, sem sujar minhas mãos – dou de ombros e ele ri.
— Então seu desejo meio que foi ouvido – ele fala e quando o olho confuso, ele ri novamente, se aproxima e joga uma pasta em cima de mim, fica parado na minha frente de braços cruzados enquanto eu abro a pasta, alguns papéis estão nela, eu dou uma folheada e começo a ler, então olho pra ele esperando uma explicação, ele dá de ombros - É, minha primeira reação também foi essa – ele fala e eu volto a olhar os papéis pro caso de ter entendido errado, mas está tudo bem claro.
— Então é isso? Ele tá te oferecendo um emprego?
— Um emprego? – ele fala meio exagerado – Não, ele tá me oferecendo basicamente uma vida nova... Tá tudo aí! Uma equipe inteira, a modalidade que eu escolher, equipamentos tipo mega modernos, nada de trabalhar final de semana, um salario que... UAU! Eu nunca vi tantos zeros assim na minha vida, eu acho que nem saberia contar – ele ri mas o que me chama atenção é o outro papel, que agora eu seguro e levanto pra ele.
— E morar na Capital – eu falo levantando a folha com uma escritura de uma casa, mas que ainda não está assinada, espero ele dizer que isso é loucura mas ele apenas pega o papel da minha mão.
— 4 suites, sala de estar, sala de jantar, cozinha, varanda, garagem, quintal, cara tem até chaminé, embora eu ache meio brega mas tenho certeza que a Nathy ia pirar com...
— Ei, ei, para tudo! Para e volta só um pouco... – eu o interrompo e ele me olha – Você tá pensando em aceitar? – ele respira fundo e abaixa o papel.
— Sabe quando eu vou conseguir pelo menos metade de todas essas coisas aqui? – ele espera eu responder mas como não faço ele mesmo responde – Exatamente, nunca! Eu não posso simplesmente ignorar como se não fosse nada!
— Claro que pode! – eu falo e ele solta o ar e balança a cabeça de olhos fechados.
— Olha, Pyter...
— Não, você que tem que olhar... Olha o que esse cara tá te oferecendo – eu me levanto e seguro os papéis meio desajeitado.
— Você tá amassando tudo! – ele reclama e pega da minha mão.
— Eu não acredito que você esteja realmente pensando em aceitar – eu falo irritado.
— Eu não sou você, Pyter! – ele fala um pouco menos calmo também – Eu não tenho um sobrenome de efeito, não tenho um projeto inteiro no meu nome, não...
— O quê? – ele para de falar e apenas me olha – É nosso projeto! Nosso! Não meu, nosso!
— Eu sei, mas parece que só nós dois sabemos disso – ele fala e me força um sorriso – Ninguém vem aqui por que eu tô aqui, não é meu nome que vem acompanhado sempre que alguém fala do projeto...
— Você tem tanta autoridade aqui quanto eu!
— E eu não tô questionando isso! Eu sei que tenho, você sempre fez tudo por mim, Pyter, tudo! Isso... – ele mostra os papéis – É a primeira coisa que eu consigo sem você entregar nas minhas mãos – ele me olha com certo pesar, mas junta os papéis e coloca na pasta de novo – Eu não posso ignorar isso assim. Eu sinto muito! – eu continuo apenas parado no mesmo lugar olhando pra ele – Eu teria que me mudar pra lá sim, mas ainda posso vim pra cá todo fim de semana, não preciso me desfazer da casa e então eu pensei que... – eu simplesmente saio andando e passo por ele deixando-o falando sozinho, pego minha mochila que estava no chão e saio do galpão sem olhar pra trás, entro no carro, jogo a mochila no banco do carona que hoje vai estar vazio, ligo o motor e saio com o carro, vou direto pra Aldeia, para o carro, mas não desço, apenas continuo dentro dele, apertando o volante querendo quebrar a cara daquele desgraçado, então antes de conseguir me controlar, ligo o carro novamente, dou a ré e saio da Aldeia com um pouco mais de pressa que o normal, eu vou direto pro único hotel decente do Distrito, o prédio ainda parece novo e é bem destacado, assim que paro o carro um homem aparece pra estacionar ele, mas não entrego a chave.
— Vou ser rápido – aviso já passando por ele rápido e entro no Hotel, vou até a recepção onde uma mulher sorridente me recebe – Cláudio Prado – exijo evitando as boas maneiras, ela mexe no computador e mantem o mesmo sorriso de antes.
— Ele está no restaurante mas posso cha... – antes que ela continue eu desvio pra lateral e sigo para o restaurante do hotel, conheço o caminho por que algumas das recepções da Pérola foram aqui e eu sempre estou por perto, entro no lugar sem me importar em ser discreto e acabo chamando atenção de algumas pessoas, encontro Cláudio na parte do bar, ele está conversando com uma mulher e ri de um jeito que me dá ainda mais raiva, já estava perto da mesa quando ele se vira e me vê, a risada para mas ele mantem um sorriso vitorioso.
— Alguma coisa me dizia que você iria aparecer – ele fala parecendo se divertir.
— Que merda você pensa que tá fazendo? – o cara que estava servindo o copo dele e a mulher me olham assustados, ele já parecia esperar por isso.
— Serve mais um, acho que ele está precisando – ele fala e o homem se apressa em pegar outro copo, Claudio fala algo no ouvido da mulher, que se levanta e sai me lançando um olhar da cabeça aos pés, o copo é colocado na minha frente com o que eu acredito ser uma dose de uísque.
— Eu vou perguntar só mais uma vez: Que merda você pensa que tá fazendo? – cerro os punhos e apoio uma das mãos na mesa.
— Eu entendo que você esteja... Confuso... Mas esse tipo de comportamento me parece um tanto inadequado – ele fala endireitando o terno azul escuro perfeitamente ajustado nele, eu finjo uma risada e me inclino pra perto dele.
— Eu não estou confuso, estou puto! E sugiro que você enfie todas essas regaras etiquetas no...
— Por favor, não precisamos disso! Somos homens, adultos, civilizados e acredito que todos queremos a mesma coisa – eu finjo outra risada.
— Com certeza não!
— Eu discordo! Ou o senhor não quer o melhor pro seu amigo? – ele me olha e levanta a sobrancelha como um desafio, em seguida dá um gole demorado no seu uísque.
— E o melhor pra ele é se juntar a você?
— E você consegue pensar em algo melhor? Não me diga que isso é o que o senhor acha que ele merece... Ele continuar brincando de professor, ganhando um salariozinho medíocre, vivendo num Distrito mais ou menos, vivendo uma vidinha razoável? – ele fala com desprezo.
— Você não sabe nada das nossas vidas!
— Perdão! – ele levanta as mãos – Acho que você não me entendeu, eu não falo das “suas vidas”, na verdade, não tenho interesse algum “na sua vida”, estou falando do Ryan, mas entendo essa confusão, afinal, sempre são os seus interesses e a sua vida a frente de todos, não é mesmo?
— Se você soubesse a vontade que eu tô de quebrar a sua cara, você calaria essa porra dessa boca – eu o ameaço sem desviar os olhos, ele solta um suspiro de cansaço.
— Eu continuo achando esse tipo de linguagem inadequada, mas levando em consideração o lugar que estamos, deve ser normal esse tipo de linguagem... – eu perco minha paciência e o agarro pela gola da camisa, ele se mexe rapidamente e derruba um dos copos, que estala e se quebra em vários pedaços no chão, logo dois homens estão de cada lado meu me segurando, eles agarram meu braço e me puxam até que eu o solto, um deles passa o braço pelo meu pescoço pra me imobilizar e eu já estava pronto pra me defender.
— CHEGA! – Claudio fala alto e forte, os homens ainda me seguram mas com menos força – Ah por favor, soltem-o, não somos animais – ele reclama enquanto ajeita a camisa e a gravata, os homens me soltam mas não recuam, as pessoas em volta nos olham e já tem alguém limpando o chão – Ok, o show acabou! – ele fala fazendo um sinal para as pessoas em volta – Que tal mostrar um pouco de civilização? – ele me pergunta e em resposta eu viro as costas e saio deixando-o falando sozinho – Então isso era tudo? – eu paro e volto alguns passos até ele.
— Deixa o Ryan em paz! – eu exijo e ele sorri.
— Tudo que eu fiz foi oferecer uma oportunidade, apenas isso.
— Uma oportunidade? – eu finjo uma risada – Você quer comprar ele!
— Ah por favor, compra-lo? Acho que você está exagerando e levando isso para o lado pessoal, encare apenas como... Negócios.
— Negócios?
— Sim, eu quero bons profissionais, os melhores! E bom, já que você deixou bem claro sua posição naquela nossa conversa, então estou procurando um substituto para o que eu preciso e o Ryan é um excelente atleta, tem certo reconhecimento, não tanto quanto você é claro, mas eu vejo um futuro promissor pra ele e ao meu lado ele pode ir ainda mais além...
— Ele não vai aceitar isso, você tá perdendo seu tempo
— E isso é você quem está me dizendo ou é o Ryan? Por que quando ele saiu daqui estava bastante inclinado a aceitar... Ah não ser que você já o tenho proibido de aceitar...
— Eu não preciso proibir ele de nada, ele vai ver o quanto isso é ridículo!
— Ridículo? Me perdoe, mas o que você acha ridículo? O fato que ele consiga pensar e decidir algo por ele mesmo ou alguém dar uma oportunidade de verdade a ele e não a você? – ele me encara, então respira fundo, se aproxima de mim e coloca a mão no meu ombro, quando volta a falar seu tom de voz é baixo e calmo – Você veio até aqui, arranjou confusão, me xingou, me ameaçou e garante que tudo isso é pelo seu amigo, pra defende-lo ou protege-lo de mim, mas a verdade, a verdade mesmo é que você veio aqui por você... Por que é isso que você sempre faz! Você não acha que aceitar minha oferta é ruim pro Ryan, você tem certeza que é ruim pra você, então por favor, se quiser me xingar e me bater, faça, mas seja homem pra admitir o por que está fazendo isso... – ele tira a mão do meu ombro, olha fixamente nos meus olhos e então dessa vez é ele quem vira as costas e sai calmamente, eu levo um segundo parado e então me viro e saio do lugar, entro no carro e vou direto pra Aldeia, eu paro o carro mas fico ainda dentro dele e ainda consigo ouvir cada palavra que ele me disse e isso me perturba de um jeito que eu não consigo ignorar.
— Ô pai, ô pai, por que você tá aí dentro? – Theo pergunta batendo na porta do carro, eu tiro a chave e abro a porta, pego ele no colo e beijo sua bochecha – A gente pode ir tomar sorvete?
— Hoje não, outro dia eu te levo – ele faz uma cara triste e eu o beijo de novo, já colocando-o no chão – Cadê seu irmão?
— Tá com a mamãe e o boldo lá atrás – ele fala e já corre para os fundos de casa, eu vou logo atrás dele, Lucca está segurando um brinquedo em formato de osso enquanto tenta fazer Boldo permanecer sentado, mas ele tenta pegar o osso de qualquer jeito e isso faz Keyse rir enquanto está sentada no degrau da porta.
— Eu acho que ele não quer ser adestrado – ela fala e me olha rindo, eu tento rir mas tudo que consigo é um sorriso não muito empolgante, ela me olha desconfiada, já enrugando um pouco a testa, daquele jeito preocupado que ela tem, então se levanta e para na minha frente, ela me estende a mão e aponta com a cabeça pra que eu entre dentro de casa, eu aceito sua mão – Se vocês se encherem de terra eu faço vocês lavarem suas roupas – ela avisa para os meninos e então entramos, mas não vamos muito longe, ela me para ainda no corredor, onde conseguimos ouvir os meninos mas afastados o suficiente pra que ela me encoste na parede e cruze os braços – Desembucha! – ela exige e sei que não tenho alternativa, de qualquer jeito, tudo que eu quero é falar com ela, então conto sobre a visita lá na quadra, a oferta que Ryan recebeu e minha visita ao hotel, deixando de fora apenas as ultimas palavras dele, Keyse me ouve atentamente e sei que ela se esforçou bastante pra não me interromper, mas assim que termino ela já está com sua opinião pronta – Ryan não vai aceitar – ela dá de ombros como se isso fosse óbvio – A vida inteira dele está aqui, tudo que ele tem e é óbvio, você – ela revira os olhos mas sorri – Ele nunca te deixaria!
— E por que não?
— Por que vocês são tipo, melhores amigos do mundo? – ela pergunta com ironia e ri – Eu nem consigo imaginar como seria um sem o outro!
— Talvez seja melhor pra ele.
— Ficar longe de você? Duvido muito! – ela ri e então toca meus braços me fazendo descruzar os meus, ela sorri e encosta a boca na minha e pela primeira vez na vida eu apenas a deixo me beijar, ela para e me olha preocupada – Não é só isso, é? – eu dou de ombros e ela me encara.
— Eu amo o Ryan, ele é tipo, meu irmão, meu conselheiro, melhor amigo, sei lá...
— Eu sei, Pyter, todo mundo sabe disso!
— Eu quero que ele tenha tudo, tudo mesmo que ele puder ter, o salario que ele merece, a casa dos sonhos dele, tudo!
— E você acha que ele vai ter tudo isso se aceitar a oferta? – dou de ombros novamente e ficamos em silêncio alguns segundos.
— Eu só quero que ele tenha tudo que ele merece ter, você ouviu ele falar naquele dia na praia, que tudo que falta pra ele é ganhar mais, poder aumentar a casa, ter dinheiro pra tirar férias e viajar... Ele pode ter tudo isso se aceitar a oferta!
— É, ele pode! E o que você acha disso? – ela me pergunta olhando nos meus olhos.
— Eu não quero perder ele! – ela balança a cabeça concordando – Mas eu seria egoísta se o dissesse pra não aceitar...
— E o que você vai fazer?
— Não sei! – dou de ombros realmente sem saber o que fazer.
— Por que essa não é uma decisão sua, é dele! – ela me força um sorriso, segura meu rosto com as duas mãos e olha nos meus olhos – Você é o melhor amigo dele, isso não vai mudar, ele estando aqui ou na Capital ou em outro planeta, é você! Você não precisa ter medo de perder ele!
— Será? – ela ri.
— As vezes você é muito fofo, sabia?
— O que eu fiz? – pergunto mas já estou com um pequeno sorriso.
— Você banca o super cara, que tem toda confiança do mundo, mas esse coração aqui – ela coloca a mão na direção do meu coração – As vezes é mais mole que o meu! – ela sorri e passa os dedos pelo meu cabelo – E eu amo isso em você, sabia?
— Só isso? – pergunto passando meus braços em volta sua cintura, ela ri e me beija.
Eu me junto aos meninos no desastroso adestramento e tudo que conseguimos é que Boldo corra pra dentro de casa e se jogue no meio das almofadas, nós rimos e Keyse quase puxa nossas orelhas, depois enquanto ela prepara o jantar, eu fico responsável pelo banho deles, depois jantamos, colocamos os meninos na cama e eu já estou deitado também quando Keyse sobe na cama e para a cabeça inclinada e apoiada na mão enquanto me observa.
— Você ainda tá pensando naquilo né?
— Não tenho como esquecer. O Ryan pode ir embora!
— Ele não vai! Só você não vê isso, ele nunca se separaria de você, Pyter, a vida inteira vocês estiveram juntos, ele não vai trocar isso por dinheiro extra... Bom, pelo menos não sem sua benção – ela sorri e me dá um beijo rápido – Vai ficar tudo bem! – ela garante e escorrega o corpo colado ao meu, ela me abraça e levanta o rosto pra me olhar – Você precisa dormir, tá com uma cara horrível – ela faz uma careta, eu sorrio e beijo sua testa.
— Boa noite! – eu falo, então ela se solta de mim e senta na cama.
— Ok, eu fingi que acreditei mas agora, anda logo, desembucha o que você tá me escondendo... – eu olho pra ela e estava pronto pra dizer que não era nada – Pyter, você não é o único que conhece alguém aqui, então abre a boca e fala... – eu solto o ar e então conto cada palavra do que Cláudio me disse no final – Sério? Jura pra mim que você está considerando essa baboseira toda?
— O Ryan mesmo disse que não se sente reconhecido no projeto, nem em nada, por minha culpa...
— Em primeiro lugar, eu duvido muito que ele tenha dito “sua culpa” e mesmo que tenha dito... Ele já disse um milhão de coisas... Que foi culpa sua ele ter quebrado o braço aquela vez que nós apostamos corrida, que você era um babaca, que não ia mais falar com você, que nunca mais te ajudaria a pregar uma pegadinha, que não pularia daquela pedra no mar... – ela sorri – E você também já disse um milhão de coisas, as vezes coisas ruins, mas isso é amizade, nem tudo são flores, mas o que vale é todo o resto... Eu tenho certeza que o Ryan não se sente excluído por você ou que possa realmente te acusar de qualquer uma dessas coisas, ele só... Tá ansioso, nervoso, é uma oferta incrível, você não pode negar isso, é algo que mudaria a vida dele pra sempre, você não pode exigir que ele negue imediatamente, ele tem uma família agora e mesmo que ele aceite, não quer dizer que ele está rejeitando você, só que ele vai arriscar algo novo, mas agora, nesse exato momento, eu sei que ele está sentindo o mesmo que você...
— O quê? Se sentindo um egoísta? – ela revira os olhos.
— Não, Pyter, ele está com medo! Exatamente como você, por que ele também não sabe o que fazer e eu tenho certeza que tudo que ele precisa nesse momento, é do amigo dele, o que puxa orelha, arruma briga, coloca ele em furadas, mas que sempre, sempre está lá pra ele e é isso que você deve fazer agora mesmo que também esteja com medo... – ela afirma e se aproxima de mim de novo, ela toca meu rosto e beija minha testa – Vai ficar tudo bem! – ela garante e então me abraça – Vai ficar tudo bem – eu a abraço ainda mais apertado e afundo meu rosto em seu cabelo, nós ficamos assim por alguns minutos até que meu corpo finalmente relaxa e eu acabo pegando no sono. Quando acordo no dia seguinte já sei o que devo fazer, tomo um banho, visto uma roupa, dou um beijo na Keyse que ainda está se despertando e saio de casa o mais rápido que posso, em poucos minutos chego ao meu destino, eu respiro fundo e solto o ar lentamente reunindo toda coragem que consigo, então bato na porta, leva alguns poucos segundos e a porta se abre, Ryan sem camisa e não parece nem um pouco surpreso por me ver tão cedo.
— A gente pode conversar? – eu pergunto enfiando as mãos no bolso da calça.
— Aqui dentro ou aí fora?
— Pode ser aqui... – recuo um passo e então ele sai e fecha a porta, ele se encosta na mureta que cerca a varanda e espera que eu diga, mas ainda não sei por onde começar, então me debruço no pequeno muro e olho na direção do pequeno pé de laranja que tem na lateral da casa dele, nós plantamos a alguns anos - Tá bem carregada – eu aponto e ele sorri e para ao meu lado também se debruçando no muro.
— Então você acorda as seis da manhã pra observar o pé de laranja? – ele está com um sorriso divertido no rosto, eu dou de ombros.
— Nós acordávamos as cinco só pra caçar os grilos que íamos colocar nos armários na escola – ele solta uma risada e eu acabo rindo junto com ele.
— Você me obrigava!
— Também te obriguei a deixar o pote com aqueles camundongos aberto? – ele ri.
— É, isso fui eu! Mas só por que você é uma péssima influência – ele dá de ombros e ri.
— Ok, culpa minha! – levanto as mãos e nós apenas nos olhamos por alguns segundos, sem dizer nada – Você deve aceitar! – mesmo tendo ensaiado a frase por todo o caminho, ela ainda sai amarga e dolorosa e Ryan apenas me encara – É uma oportunidade incrível, você merece e... Você não pode ignorar isso.
— E por que você tá me dizendo isso?
— Por que... As vezes você pode ser bem tapado e... Rejeitar isso seria a maior burrada!
— Pyter, eu...
— Não, Ryan, é sério, me escuta... – eu peço e fico na frente dele pra que ele possa me dar atenção – Você é mais do que meu melhor amigo, é meu irmão, meu amoleto da sorte, eu sei lá o que você é, só sei que... Eu amo você! Muito! E ter que dizer o que eu vou dizer é realmente muito difícil, por isso preciso que você cale a boca e me deixe falar, ok? – ele levanta as mãos como quem perdeu – Ok! Bom, você é o melhor atleta que eu conheço, é sério, você é muito bom e é um ótimo treinador, metade das coisas que eu sei eu aprendi observando você ou junto com você, então acredita em mim, você é bom, muito bom e é por isso que eu nunca teria pensado em outra pessoa pra se juntar a mim no projeto, você poderia ser meu melhor amigo mas se não fosse bom, eu não te chamaria, e eu nunca vou me arrepender disso, tudo que o projeto conseguiu foi por que você estava lá também, sem você eu nem sei se ainda existiria o projeto, você que sempre esteve em todas as reuniões no Edificio da Justiça, que justificava meu atraso e entrega todos os relatórios em dia, que faz o check-list do que precisamos, que pega no meu pé quando eu começo a passar do limite nos treinos, você é completamente e totalmente necessário pro projeto e eu ainda nem sei como te suprir, na verdade nem sei se isso é possível, mas você tem que fazer o que for melhor pra você! Eu me viro, eu dou um jeito, vou tentar sobreviver sem você por aqui, desde que você esteja bem, que esteja recebendo tudo que você merece e que eu não posso te dar, eu nunca quis que você se sentisse excluído ou menos importante, por que você não é, nós somos um time, e mesmo que tenhamos que nos separar agora eu quero que você saiba que sempre será meu melhor amigo e esse lugar nunca vai ser ocupado por outra pessoa... Eu só... Quero que você seja realizado e feliz, você e sua família, eu... Amo vocês e se esse for o melhor pra vocês então terá que ser o melhor pra mim também... Por isso eu digo e repito, você precisa aceitar essa oferta – eu solto o ar e passo a mão no rosto – Pronto, agora pode falar...
— Ok, eu... Não sei como dizer isso... Quer dizer, seu discurso foi lindo e tal mas...
— Mas?
— Meio tarde!
— Como assim?
— Bom, ontem eu vim em casa, conversei com a Nathy, pensei, avaliei algumas coisas e a noite fui até o hotel...
— E?
— E eu rejeitei!
— Rejeitou? O quê? Por que você fez isso?
— Você mesmo acabou de dizer... Eu fiz o que faria minha família feliz! – ele dá de ombro e abre um sorriso – Você também é minha família! Eu nunca seria realmente feliz sem olhar pra essa sua cara feia todo dia e a Nathy, bom, ela com certeza não seria totalmente realizada sem poder sair do trabalho e encontrar a Keyse ou a Hannah ou a Pérola e então falarem mal de nós até não conseguirem mais e ainda tem a Bella, esse ainda é um ponto bem delicado e que nós precisamos conversar mas eu duvido muito que ela faça uma amizade como a que ela já tem com o Lucca, então... Acho que eu nunca tive outra alternativa a não ser ficar no bom e velho Distrito Doze! – ele sorri e abre os braços pra mim – Vem cá meu chorão – ele me abraça e ri.
— Eu não chorei!
— Mas ia se eu entrasse naquele trem! – ele implica comigo e continua me abraçando.
— Só se fosse de alegria – ele ri.
— É nós sabemos! – ele me solta, mas eu ainda seguro seu rosto e procuro o que dizer, ele abre um sorriso divertido – É, eu sei, você não duraria um dia sem mim! Provavelmente não suportaria nem até a hora do almoço...
— Não vamos exagerar... – ele ri e eu o abraço de novo – Eu sou um desgraçado egoísta mas ainda bem que você não aceitou!
— Eu não poderia! Minha vida inteira está aqui! – ele respira fundo e olha em volta – Eu sei que reclamo mas não me vejo morando em nenhum outro lugar que não seja aqui!
— Nem eu!
— Que bom que concordamos, agora por favor, me diz que você não esqueceu que temos uma reunião as oito na prefeitura...
— Merda! – ele ri e balança a cabeça.
— É, eu realmente não posso te deixar cuidar das coisas sozinho!
— Vai se ferrar! – ele ri e vai até a porta, ele abre e olha pra trás.
— A Nathy fez bolinho de chuva – ele avisa e sorri já sabendo o que vem a seguir, eu corro e passo por ele pra chegar primeiro na cozinha, ele ri e pula por cima do sofá e chega primeiro.
— Eu juro que se um dia vocês quebrarem uma perna com essa palhaçada, eu ainda quebro a outra que sobrar – Nathy fala enquanto se aproxima mas como ela está sorrindo não ganha muito crédito.
— O Pyter veio aqui chorar e implorar pra que eu não fosse embora – ele finge sussurrar e eu acerto um tapa na cabeça dele.
— Eu vim me certificar que ele ia, mas não dei muita sorte...
— Aham, sei! – ela finge que acredita e ri pegando o bolinho da minha mão.
— Tio Pyt... O Lucca tá aqui? – Bella pergunta enquanto segura sua boneca e ainda está vestida com seu pijama rosa.
— Ele ficou em casa, ainda tava dormindo!
— Eu posso ir lá ver ele? – ela pergunta me olhando.
— Depois que tomar café, nós vamos lá! – Nathy fala e ela sorri animada – Vocês vão direto pra reunião?
— Como ela sabia da reunião e eu não?
— Por que ela presta atenção e você não! – Ryan fala como se fosse óbvio.
— Você não me disse que tínhamos uma reunião hoje!
— Claro que eu disse!
— Não disse! – rebato e o encaro.
— Vocês estavam jogados no chão da sua casa, jogando aquele jogo idiota e disse que deveríamos ir pro lago hoje, aí o Ryan disse que só poderia se fosse depois da reunião que seria as oito horas da manhã, na prefeitura... – Nathy fala enquanto Ryan sorri orgulhoso.
— É, ela é incrível – ele fala e pisca pra mim, depois dá um beijo rápido nela.
— Bom, eu não me lembro e... Já que temos uma reunião você deveria ser arrumar – ele ri.
— E tudo volta ao normal... – ela fala enquanto ele se levanta e vai se vestir, e eu continuo comendo os bolinhos de chuva e agradeço mentalmente por ele não ter aceitado a oferta por que realmente não faço ideia de como as coisas seriam sem eles por aqui.


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