Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 14
Os gêmeos




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Já faz dois meses desde o nascimento deles e a cada minuto que se passou e continua passando eu tenho a certeza que os amo ainda mais, sim, é verdade que nossa vida deu uma mudada grande, horários incertos no meio da madrugada, pulos da cama assim que ouvimos algum barulho, refeições feitas na correria e algumas olheiras, mas ainda assim eu os amo mais do que a mim mesmo. Assim que eles nasceram eu peguei umas férias da escola, coloquei Ryan no meu lugar no projeto e só vou até lá apenas pra resolver algum problema ou tomar alguma decisão importante, fora isso esses dois meses tem sido exclusivo para eles três... Até hoje.
— Primeiro dia de trabalho, já pode parar de nos usar como desculpa pra acordar meio dia – Keyse fala enquanto entra no quarto, eu faço a maior cara de ofendido que consigo e ela ri enquanto vai até o banheiro, alguns segundos depois ela sai de lá e se aproxima da cama, ainda estou deitado e faço uma careta de preguiça, ela ri e se aproxima ainda mais, então eu a puxo pela cintura e ela cai deitada rindo, rapidamente eu me coloco com o corpo em cima do dela.
— Eu tenho uma ótima ideia de como me despedir desses dias – falo já aproximando minha boca do seu pescoço, ela ri e agarra meu cabelo me puxando pra sua boca, seu beijo é forte e necessitado assim como o meu, com toda essa correria sempre temos que aproveitar qualquer chance por isso quando levanto meu corpo acima do dela, ela se apressa em tirar o vestido enquanto eu me livro da minha calça.
— Isso é muuuito romântico! – ela fala com ironia, mas ri e volta a me beijar com paixão e desejo.
— Eu prometo que te compro flores depois – eu falo enquanto beijo o pescoço e ela solta uma daquelas risadas gostosa que me faz rir junto.
— Vermelhas!
— A cor que você quiser – depois de acertarmos esses detalhes e rirmos mais uma vez, nossos corpos se juntam e se movem como um só, o calor da sua boca na minha, sua respiração acelerada, seu corpo sobre o meu e tudo parece distante quando me perco nela.
Ela adormece nos meus braços, enquanto eu acaricio suas costas, sorrio vendo-a assim colada em mim, com um sorriso bobo no rosto, aproximo meu rosto do seu cabelo e inspiro seu perfume, ela se mexe, mas não abre os olhos, então com muito cuidado escorrego pra fora da cama, olho as horas e vejo que ainda tenho um tempo, então entro no banheiro, vou direto pro chuveiro e tomo um banho rápido, coloco uma calça de moletom, enxugo o cabelo deixando-os bagunçado, escovo o dente e saio do quarto, fechando a porta com cuidado para que ela não acorde, vou até a porta ao lado, apenas de olhar para os dois berços eu já estou sorrindo, me aproximo e entro pelo espaço que fica entre eles dois que dormem tranquilamente, acima de cada berço está gravado o nome de cada um, Theo está com a cor verde, Lucca com um azul da cor do céu, fico olhando pra eles com um sorriso idiota que nunca me abandona quando estou perto deles, então Theo se mexe e abre os olhos, azuis como os meus, ele esfrega as mãozinhas no rosto e faz uma careta ameaçando chorar, por isso me apresso e me inclino sobre o berço.
— Papai tá aqui – como se entendesse ele para a careta e sorri e eu me pego sorrindo mais ainda – Você sabe que eu te amo muito né garotão? – ele segura meu dedo e tenta levar até a boca – Já tá com fome, de novo? Mais você vai ficar com um barrigão grandão! – eu falo com aquela voz de criança que eu sempre falei pro papai ou a Pérola que era idiota, mas agora parece normal é quase como se ela viesse automaticamente com o meu título de pai.
— É quem diria, Pyter Everdeen Mellark bancando o papai com a vozinha irritante – Keyse aparece na porta e quando olho ela está sorrindo, mas não apenas pra implicar comigo, é quase como um sorriso orgulhoso, Theo solta um gritinho e eu o pego antes que acorde o irmão, mas assim que ele se encaixa em mim Lucca começa a chorar, Keyse entra no quarto e o pega, o choro para imediatamente e ele olha pra ela com uma devoção impressionante – Quanto tempo você tem? – ela pergunta me olhando quase como um pedido de ajuda.
— Tempo suficiente pro banho! – eu falo e ela sorri satisfeita – Mesmo eu sendo apenas o cara que acorda meio dia né? – eu falo com ironia e ela ri, se aproxima e beija minha boca rapidamente.
— Você sabe que é o melhor, não sabe? – eu sorrio orgulhoso.
— É, eu sei! – ela ri.
Então assim como fazíamos todos esses dias, cada um fica com um dos bebês e no meio de reclamações, gritos e ameaças de choro conseguimos terminar o banho, colocamos eles na nossa cama enquanto enxugamos e colocamos a fralda, eu já estava levantando as pernas do Theo pra colocar a fralda embaixo quando ele começa a fazer xixi me molhando, a risada da Keyse é tão alta que acaba me fazendo rir enquanto eu tento me afastar.
— Isso não foi legal ein – eu falo pra ele que como se me entendesse solta um sorriso que me faz me apaixonar novamente por ele.
— Não reclama com ele, você que demora uma hora pra colocar uma fralda – Keyse fala ainda achando graça, eu faço uma careta enquanto finjo imitar ela falando, isso só faz ela rir ainda mais, mas depois desse imprevisto consigo terminar de arrumar ele.
— Tenho que tomar outro banho! – falo olhando pra mancha de xixi na minha calça, Keyse tenta não rir mas falha, eu coloco Theo na cesta de descanso dele enquanto Keyse coloca Lucca na dele, corro pro banheiro e tomo uma chuveirada rápida, quando saio já estou arrumado pra ir pra escola, ajudo ela a descer com eles e já estávamos começando a tomar o café quando batem na porta, eu me levanto e vou abrir e fico surpreso com o que vejo.
— Cláudio?!? – ele está parado na minha frente, com as mãos pra trás, vestindo o uniforme e com um sorriso meio sem graça.
— Bom dia! – ele fala me olhando meio tímido, o que realmente não é muito típico dele e me preocupo um pouco, já que faz pouco tempo que conseguimos manter ele na escola, pelo que eu soube ele tem se esforçado, mas mesmo assim não sei o que pensar.
— Aconteceu alguma coisa? – ele levanta os ombros como se não soubesse o que dizer.
— Eu vim visitar os bebês! Posso? – ele pergunta e eu abro um sorriso surpreso novamente, mas de um jeito bom, abro ainda mais a porta pra ele e me afasto dando passagem.
— Claro que pode! Na verdade já estava um pouco ofendido que você não veio antes – ele me dá um sorriso meio sem graça e entra, mas para a poucos passos de mim.
— Minha mãe dizia que é muito feio ir visitar alguém sem levar nada, então... – ele dá de ombros e levanta uma sacola marrom com um laço azul e eu preciso dizer que mais uma vez ele me surpreende, Keyse aparece e ele olha na direção dela e fica ainda mais tímido.
— Então você é o famoso Carlos, acertei? – ela pergunta e ele me olha e depois confirma.
— E a senhora é a famosa “Mulher da vida dele” – ele fala meio que revirando os olhos como se tivesse escutado isso um milhão de vezes, mas conseguiu fazer Keyse sorrir.
— Eu espero que sim! – ela fala sorrindo e me olha esperando confirmação.
— Não era não, mas... – falo implicando com ela, que se aproxima e me acerta um tapa na cabeça, fazendo Carlos rir.
— Tá me desmoralizando – eu falo indicando ele com a cabeça, que sorri enquanto nos olha.
— A senhora é muito bonita – ele fala e Keyse sorri ainda mais.
— Bem que você disse que ele era muito inteligente!
— Elogiando minha mulher assim, acabei de ter duvidas – eu falo tentando fazer uma cara ameaçadora.
— Não escuta ele, vem, acho que você veio conhecer os bebês, certo?
— Sim, senhora!
— Ai, por favor, não me chame mais de senhora! – ela pede enquanto conduz ele até a sala, onde as duas cestas entre as almofadas no chão de frente pro sofá, Theo e Lucca estão acordados e fazendo alguns sons engraçados, Carlos se aproxima, ajoelha na frente deles e brinca com a mãozinha de cada um, Keyse e eu paramos logo atrás e ela me olha sorrindo.
— Eu trouxe pra eles! – ele fala se virando pra nos olhar, Keyse pega a sacola.
— Muito obrigada! – ela começa desfazer o laço e abre a sacola, tirando lá de dentro um pequeno cachorro de pelúcia preto com uma mancha branca na barriga e outro branco com uma mancha preta, ela aperta eles e sorri – São lindos e tão, tão fofos! – Carlos sorri vendo a reação dela, logo ela se ajoelha ao lado dele mostrando os bichinhos pra cada um dos meninos que soltam gritinhos animados.
— Acho que você acertou ein – eu falo e ele ri.
— Não é um presente muito chique mas...
— Não tem que ser chique! – eu falo rapidamente.
— Ah não mesmo, na verdade, odiamos frescuras – Keyse fala fazendo uma careta.
— Você lembrou deles e isso já é muito bom, obrigado, de verdade – ele me olha com um sorriso – Mas sem querer ser mal educado ou te expulsar, já estamos quase atrasados – falo apontando pro relógio no meu pulso, ele se levanta e vem pro meu lado.
— Já tomou café? – Keyse pergunta pra ele que fica na duvida se responde – Tem bolo e fruta na cozinha – ela avisa, eu coloco a mão no ombro dele e o levo pra cozinha comigo enquanto Keyse continua brincando com os meninos.
— O bolo foi a Keyse que fez então se eu fosse você pegava o pão e uma maçã! – aviso e ele ri.
— Eu consigo te ouvir, Pyter! – Keyse grita e eu faço sinal de silêncio, pego um dos pães de queijo e entrego a ele, pego duas maçãs e saímos da cozinha, volto até a sala e dou um beijo rápido na Keyse.
— Te amo! – falo piscando um dos olhos pra ela que sorri do mesmo jeito que sorrio quando me apaixonei por ela, pego minha bolsa e saímos de casa.
— Soube que você tem ido bem nas aulas – eu falo enquanto caminhamos juntos, ele dá de ombros.
— Ainda não fui expulso de novo, então acho que sim...
— E você tem gostado?
— É, não é tão ruim! – eu acabo rindo.
— É tão difícil assim admitir que é melhor fazer as coisas do jeito certo? – ele me olha meio pensativo e depois revira os olhos.
— É, tá sendo legal! – eu sorrio.
— Soube que você conseguiu um trabalho...
— É, eu tô ajudando o Seu Trenon na banca de jornal, não é muito dinheiro, mas já é algum dinheiro!
— O importante é começar! – ele concorda enquanto chuta algumas pedrinhas pelo caminho, já estávamos chegando na escola quando ele para e me olha direto nos olhos.
— Eu nunca vou esquecer o que você fez por mim e... Eu prometo que vou mostrar que valeu a pena! – ele fala e sinto um nó na garganta, mas me aproximo e coloco a mão no seu ombro.
— Acredite em mim, eu tenho certeza que valeu a pena e eu faria de novo! - ele me dá um balanço de cabeça e segue entrando pelo portão da escola, enquanto eu ainda fico alguns segundos parado absorvendo o que acabou de acontecer, o que eu fiz por ele foi por que realmente acreditava que ele merecia essa chance e agora vendo o quanto ele está tentando me sinto orgulhoso, não pelo que eu fiz mas por que ele realmente valia a pena e está traçando um novo rumo pra vida dele e saber que eu posso ter influenciado a vida de pelo menos um dos meus alunos é o melhor pagamento que eu poderia receber.
O primeiro dia de volta as aulas, foi muito bom, os alunos estavam um pouco agitados e querendo saber como é ter dois bebês ao mesmo tempo e eu tive que matar algumas curiosidades mas conseguimos realizar todo cronograma. Como eu tinha aula no projeto acabei indo direto da escola pra lá, as crianças estavam agitadas com a minha volta e mais uma vez percebo como amo fazer o que eu faço, nosso treino rendeu muito bem, estamos com um campeonato se aproximando e isso deixa todos ansiosos porém muito empenhados também, quando tudo acaba, eu e Ryan fechamos o galpão.
— E como foi o primeiro dia longe deles? – ele pergunta e o sorriso aparece no meu rosto.
— Não vejo a hora de ver eles de novo! – confesso orgulhoso.
— Cara, você tá muito babão! – ele me zoa e eu faço uma careta.
— Quando você tiver os seus aí a gente conversa!
— Ei, eu, coloca isso aí no singular e vamos deixar essa história de gêmeos com você, ok? – nós rimos – Bom, agora com a Nathy vendo os meninos e a filha da Hazel, acho que não vou conseguir fugir por muito tempo – ele fala fingindo está preocupado mas no fundo sei que ele também está querendo isso.
— Acho que nem você quer fugir né? – ele ri e me empurra enquanto vira na esquina da rua dele, eu sigo rindo na direção de casa, mas me lembro de uma promessa que fiz hoje cedo, então dou meio volta e vou pra praça, entro no galpão que agora funciona como uma grande feira e tem o seu nome gravado em letras grandes e pretas logo na entrada “PREGO”, segundo os mais antigos, antigamente aqui era um mercado negro, onde se faziam trocas e vendas de qualquer coisa, e de acordo com todas as histórias um do lugar onde minha mãe mais era vista e respeitada, agora o lugar ainda é cheio de barracas e vozes e pessoas andando, porém não é mais ilegal, todos que trabalham aqui tem autorização pra isso.
Caminho entre algumas barracas, cumprimento algumas pessoas conhecidas e outras que nem me lembro de conhecer, até que vejo o que estava procurando, o garoto na faixa dos seus 11 anos, carrega o balde com uma das mãos e estava distraído fazendo uma venda para um garoto quando me vê, imediatamente ele abre um sorriso e se despede do garoto vindo na minha direção.
— Fala aí, tio! O que vai ser hoje? – ele pergunta já levantando o balde cheio de rosas na minha frente, eu sorrio e olho pra elas, devem ter umas 20.
— Sem espinho né? Quero agradar a patroa e não dormir no sofá – ele ri e me garante que estão absolutamente limpas – Então só passa o laço que eu vou levar todas – ele abre aquele sorriso que sempre me dá quando eu falo isso.
— É por isso que o senhor é o melhor cliente!
— Já avisei que vou descontar 5 pratas cada vez que me chamar de senhor, lembra? – ele levanta as mãos me pedindo calma, eu sorrio, então com toda habilidade, ele coloca o balde no chão, se abaixa, puxa uma tesoura e uma fita branca do bolso de trás, juntas todas as rosas e passa a fita por elas, fazendo um grande laço em um buquê simples, rústico porém com as rosas mais bonitas e perfumadas, puxo a carteira do bolso, puxo algumas notas e entrego a ele, ele já ia puxar o troco quando eu nego e ele abre outro grande sorriso.
— Tomara que a patroa goste – ele fala levando o balde vazio com uma alegria contagiante, ele estuda lá na escola de manhã e a tarde ele ajuda a mãe que tem uma venda de flores aqui, sempre que preciso de flores procuro ele e sempre me sinto mais útil vendo a alegria dele no final da venda.
Vou direto pra Aldeia carregando o buquê de rosas vermelhas, entro em casa e o silêncio é quase uma novidade, subo a escada devagar, deixo a mochila do lado da porta do quarto e sorrio vendo os meninos dormindo ao lado da Keyse, me aproximo e ela abre os olhos, parece um pouco confusa mas logo abre um sorriso, me aproximo dela e beijo sua boca, depois entrego o buquê.
— Você realmente existe? – eu lhe dou outro beijo e ela levanta da cama me pedindo silencio – Vou colocar na agua – ela fala quase sussurrando, sai do quarto e eu me deito devagar na cama, olhando pra esses dois pedacinhos nosso aqui e um amor, orgulho e felicidade quase explodem dentro de mim, alguns segundos e a mão no meu cabelo me distrai, me movo dando espaço pra ela.
— Como foi hoje? Eles deram muito trabalho? - ela ri.
— Eles são seus filhos, está no DNA deles dar muito trabalho – ela fala e eu acabo rindo.
— Como se você tivesse sido muito quieta! – ela faz uma careta.
— Sua mãe me ajudou hoje, ela ficou um tempo aqui!
— E depois fugiu correndo? – ela ri.
— Ela foi ver as coisas pro jantar amanhã – ela fala e eu me lembro do jantar de aniversário da Pérola, mas também me lembro de outra coisa, seria também o dia do aniversário do vovô, mesmo já tendo passado alguns anos desde que ele se foi ainda sinto falta dele como senti nos primeiros meses, quer dizer, alguns dias são melhores que outros, mas sempre que paro pra pensar a falta dele me dói, na verdade eu daria qualquer coisa pra saber qual seria a reação dele me vendo onde estou agora, casado, pai de gêmeos e completamente feliz com essa junção.
— Ei... O que foi? – Keyse chama minha atenção enquanto passa o dedo entre minhas sobrancelhas.
— Eu tava lembrando do vovô! – confesso e ela me olha com certa compreensão – O que ele ia achar disso tudo... Deles... – eu olho pros meninos dormindo e Keyse também, então ela se senta rapidamente e me olha.
— Essa é fácil, eu sei exatamente como seria – ela fala e eu a olho curioso, então ela se endireita de um jeito exagerado, finge tossir pra limpar a garganta e então me olha – E aí garoto, tá com essa cara de bobo por que? Parece até teu pai... – ela fala engrossando a voz e eu acabo rindo – E esses dois aí, os moleques são bonitos mesmo, sorte que puxaram você e não puxaram essazinha aí, já imaginou nascendo com essa cara, coitados, quero nem pensar que pode fazer mal pra eles... – ela faz uma cara de desprezo que ele sempre usava pra falar dela, eu acabo soltando uma gargalhada alta demais e a puxo pra junto de mim.
— Eu te amo, garota! – eu falo olhando nos olhos dela, por que eu realmente a amo e amo tudo que ela faz pra me fazer feliz, então eu a beijo novamente, dessa vez demorando um pouco mais, ela sorri e ficamos abraçados ao lado deles na cama até que acabamos cochilando.
Os dias continuam passando e cada dia é uma nova descoberta, não apenas sobre eles, mas sobre nós mesmos e essa nova vida, eu, por exemplo descobri que nunca devo colocar minha calça jeans pra bater com uma camisa social branca, acredite em mim o resultado é horrível, quase tão horrível quanto colocar o vestido verde da Keyse pra bater com um rosa claro, essas duas lições estão muito bem aprendidas, assim como conseguir saber a temperatura exata do leite sem precisar ficar parando a cada dez segundos e examinando, trocar fraldas no meio da madrugada com os olhos quase fechando de sono também já não é nenhum mistério e ainda descobri que tenho quase um talento natural pra conseguir colocar roupas neles dois mais rápido do que a Keyse, mas nunca, jamais eu devo tentar pentear o cabelo do Lucca, ele realmente não gosta que eu faça isso, não sei o motivo mas com certeza é algo pessoal, por que ele adora quando a Keyse faz, mas se me vê com a escova ele começa a chorar, aprendemos também que em dez minutos conseguimos fazer muita coisa, que o horário entre as sonecas é sagrado, que a cólica deles dói em nós também, que por mais que eu ame e deseje a Keyse como sempre desejei, as vezes tudo que nós dois queremos é apenas dormirmos abraçados um ao outro, descobri também que sair de casa e ter que me despedir deles sempre vai ser a pior parte do meu dia, assim como voltar e olhar pra eles é a melhor parte, esse é o motivo que me faz contar os dias pra sempre chegar logo o fim de semana e poder ficar grudado neles três o máximo que eu conseguir, porém, hoje Keyse também contou os dias, mas pra poder sair, ela, Hannah, Nathy, Hazel e Pérola marcaram uma noite das garotas, então assim que cheguei da escola ela já estava com tudo preparado pra começar a se arrumar, ela parece realmente empolgada e eu fico feliz por ela, eles já estão com sete meses e essa é a primeira vez que ela vai sair sozinha. Enquanto ela está no banho, eu levo eles pra sala, os dois falando essas coisas enroladas de sempre e rindo de algo que só eles entendem, mesmo assim acabo rindo junto, coloco no canal do desenho que eles gostam e eles batem palmas e gargalham alto, enquanto alguns bichinhos coloridos cantam uma musica meio irritante mais que eles adoram, então automaticamente também gosto, eu me sento no chão junto com eles, coloco as almofadas protegendo eles caso caiam pra trás e aproveito cada segundo, até que Keyse desce pela escada e rouba minha atenção, ela está com uma calça branca e justa, que marca suas pernas e me faz sorrir, uma camiseta florida com um leve decote e um blazer branco dobrado até o cotovelo, o cabelo está um pouco maior do que o de costume, já que ela não o corta a alguns meses e está absolutamente linda, tanto que não consigo desviar meus olhos dela, enquanto se aproxima.
— Eu tenho uma proposta...
— Não, eu não vou deixar os meninos com a sua mãe e ficar em casa com você – ela fala como se lesse meus pensamentos, faço uma cara decepcionada, ela ri e se inclina pra me beijar rapidamente – Mas eu tenho uma contra proposta... – eu sorrio enquanto subo minha mão pela coxa e pra bunda dela, ela ri mas para minha mão – SE você estiver acordado quando eu chegar, acho que posso precisar de ajuda pra tirar minha roupa e talvez tomar um longo banho de banheira... – ela levanta a sobrancelha com aquele sorriso malicioso, eu sorrio e a beijo mais uma vez.
— Eu estarei na porta do banheiro – ela ri e beija a testa dos meninos, mas eles estão tão distraídos com o desenho que mal a veem.
— Achei que eles fossem se importar um pouco mais – ela fala meio decepcionada.
— Não seja por isso, eu posso beliscar eles, aí eles choram e você fica feliz – ela ri e me dá um tapa na cabeça, depois se afasta, observo ela e então ela alcança minha carteira em cima do móvel, abre e vejo quando ela leva praticamente todo dinheiro.
— Eu vi isso!
— Também te amo - ela grita de volta e sai de casa.
— Agora os homens mandaaaaaam – eu falo levantando o Lucca o mais alto que consigo e ele gargalha tanto que baba na minha cara, depois faço o mesmo com o Theo que quase perde o folego de tanto rir, estávamos nos divertindo pelo chão da sala, com vários brinquedos espalhados, inclusive o cachorro de pelúcia que o Claudio deu e é um dos preferidos do Theo, até que batem na porta, antes que eu pergunte quem é a porta se abre, Ryan entra trazendo uma caixa e balançando no ar, demoro pra identificar mas quando ele se aproxima reconheço a caixa com seis garrafas de cerveja.
— Eu sou um pai responsável hoje, lembra? – eu falo enquanto o Theo tenta escalar minha barriga.
— Uma garrafa só não vai te fazer pior do que já é! – ele fala enquanto vai guardar as garrafas, depois volta e se joga no chão – Elas tem uma noite de mulheres e nós temos uma de homens – ele fala já fazendo cocegas na barriga do Lucca que grita e ri.
Depois de mais algumas musicas animadas, varias gargalhadas e muitas brincadeiras, me levanto pra preparar a papinha deles, que inclui algumas frutas amassadas com aveia, antes que eu tivesse terminado Ryan aparece carregando eles dois, mas com um Theo chorando bem alto.
— Acho que ele não gosta da musica do passarinho verde – ele fala e eu pego Theo no colo, ele diminui o choro e fica me olhando de um jeito engraçado, eu beijo sua testa e depois sua bochecha e mesmo com os olhos cheios de lagrimas ele me dá um sorriso.
— Ele tava com saudade do papai né? – ele encosta a cabeça no meu ombro e isso consegue me fazer quase explodir de amor.
Termino as papinha e voltamos pra sala, coloco eles na cadeirinha e nos dividimos, eu fico com Lucca por que ele é simplesmente incontrolável, sempre tentando colocar a mão dentro do prato ou cuspindo, então como tenho mais pratica deixo Ryan com o Theo, e até que ele se sai bem.
— Nada mal, vou avisar a Nathy que pode agilizar o primeiro da fila – eu falo implicando com ele e então ele me olha de um jeito diferente e imediatamente eu paro o que estava fazendo - Que cara é essa? Vocês... – antes que eu termine ele sorri – Ela tá gravida?
— Soubemos hoje a tarde!
— Eu não acredito! Seu filho da mãe, por que não me contou logo? Vem aqui – eu o puxo pra um abraço mas também acabo lhe dando um tapa na nuca, ele está rindo como bobo.
— Eu ia contar mas eles dois não param!
— Bom, comece a entrar no clima! É assim todo dia – eu falo e ele ri.
— Acho que eu posso lidar com isso! – ele fala e olha pro Theo que está tentando passar o dedo numa mancha de papinha na camiseta dele.
— Eu tenho certeza que sim! – Ryan me olha e sorri – Claro que eu ainda serei o pai mais bonito e tal, mas... O segundo lugar não é tão ruim assim – dessa vez ele que me empurra.
— Você é um idiota! Eu nem sei por que ainda sou seu amigo – ele fala mas está rindo, já ia responder ele quando sinto uma coisa gelada atingir meu rosto, então a risada dele é alta, quando olho Lucca está segurando a colher e batendo no prato espalhando o resto da papinha pra todo lugar, inclusive no meu rosto, ele e Theo começam a rir junto com o Ryan e não me resta opção a não ser rir com eles.
Limpo a bagunça que ficou, passo um pano molhado nas mãos e boca deles, e os deixo com Ryan pela sala, enquanto arrumo as coisas na cozinha também, depois me junto a eles, as horas vão passando e Ryan vai pegar as cervejas, nós ficamos pelo chão brincando com eles e jogando conversa fora, ele fala sobre o encontro que teve outro dia com o George, nosso antigo arqui-inimigo.
— Ele tá na merda e ainda mantem aquela pose de inalcançável – ele fala meio irritado.
— Tem gente que simplesmente não evolui, ele é um exemplo perfeito disso!
— E você soube que ele vai casar? – ele pergunta e eu nego – É, parece que é com alguma garota rica do Distrito 2, parece que só se fala nisso por lá, acho que ele vai ficar por lá mesmo!
— Ótimo, não tem nem um pouco afim de olhar pra aquela cara de bunda dele...
— Bundaaa – o grito alto e perfeitamente audível vem do menino que agora me olha rindo com dois olhos azuis brilhantes, eu fico parado sem reação e Ryan me olhando rindo.
— Por favor, me diz que ele não falou!
— Buuuunda – ele grita mais alto e mais demorado, Ryan solta uma risada alta.
— Ai caraca, não, não, não, por favor, Lucca... Não faz isso com o papai vai!
— Bunda bunda bunda bundaaaaaa – ele repete mais animado que antes, enquanto bate as mãozinhas, Ryan quase rola no chão de tanto rir.
— A Keyse vai me matar, você entende isso? Ela tava treinando ele pra falar mamãe...
— Bunda! – ele repete e me olha inclinando um pouco a cabeça.
— Não! Lucca, olha pro papai, NÃO PODE! – eu falo fazendo sinal com o dedo, ele olha com o máximo de concentração que consegue, então ri e me olha de novo.
— Bunda – ele bate a mão nas pernas e ri, fazendo Theo rir junto.
— Cara, tu tá muito ferrado, eu não queria ser você hoje! – Ryan fala e jogo a cabeça pra trás no sofá tampando meu rosto com as mãos.
— Ela vai me matar!
— BUNDAAAAA – Lucca grita de novo e dessa vez eu acabo rindo.
— A Keyse repete pelo menos umas cem vezes “mamãe” pra ele repetir e ele nunca repetiu, eu só falei bunda uma vez e...
— Bunda – ele completa e eu acabo rindo de novo.
— Tá ferrado!
— Lucca, fala MA MÃE! Fala, filho, MAMÃE, por favor, por favor, eu te dou qualquer coisa – eu peço implorando com mãos juntas, ele agarra minha mão tentando ficar em pé, eu o ajudo e ele se joga em cima de mim – Mamãe? Fala, mamãe!
— Bunda! - eu finjo que estou chorando, mas a verdade é que deveria estar mesmo, por que quando a Keyse ouvir ele falando isso ela vai querer me matar e talvez uma semana no sofá seja pouco pra mim, a medica tinha dito que ele está na fase de aprender palavras então ela repetia mil vezes cada palavra pra ele tentar e filtrava cada coisa que dizia perto deles e agora a primeira palavra dele é “bunda”, não, ela não vai apenas me matar, ela vai acabar comigo.
— Já sei! Tive uma ideia – eu falo já tentando me salvar – Você pode assumir a culpa, fala que a gente tava conversando e sem querer você falou e pronto ele repetiu! – Ryan ri.
— Você tá maluco né? Eu assumir, na frente da Keyse que fiz a primeira palavra do filho dela ser ... Você sabe qual! – ele me olha como se fosse loucura – Não mesmo, de jeito nenhum, nem no pensamento!
— Ah qual é, Ryan, você acha o quê? Que ela vai te matar?
— Acho! Aliás, só acho não, tenho certeza! Ela vai arrancar minha língua e dar pros porcos! Sem chance, eu não vou fazer isso! – ele nega firmemente.
— Ela não vai fazer isso, talvez reclamar um pouco só!
— Ah é? Então por que você mesmo não assume!
— Por que eu sou o marido, é diferente! – ele ri.
— Eu não vou assumir!
— Mas a culpa É SUA! – eu falo e ele me olha duvidando – Você começou a falar do George, o que nos trouxe até aqui!
— Bundaaaa – Lucca grita mais uma vez e Ryan ri.
— Foi mal cara, mas é muito engraçado! Tinha que ser seu filho mesmo, a primeira palavra dele é bunda!
— Buuuunda! – Lucca repete.
— Não tá ajudando! – aviso e ele tenta não rir.
— Meu amor, repete com papai, repete... MA MÃE! – ele me olha como se não entendesse nada e quando eu acho que ele pode arriscar falar, a voz vem do outro lado.
— Pápa!
— Ouviu? Ouviu isso? – Ryan dá um pulo olhando pro Theo que está rindo enquanto me olha – Papai? – ele pergunta e Theo gargalha.
— Papaaai! – ele repete e aponta pra mim e parece que todas as outras vozes que já ouvi na vida perdem a importância – PÁPAAAAA! – ele se joga nas minhas pernas e eu começo a rir enquanto pego ele no colo.
— Sou eu, meu amor, o papai!
— PÁPAI!
— Isso, papai!
— PÁPAAAA – eu começo a rir.
— Ele falou papai, sou eu, ele falou! – eu repito como se o Ryan não estivesse ouvindo, mas então me dou conta de outra coisa, eu estraguei a primeira palavra do Lucca e agora Theo fala papai primeiro, acho que estou mais ferrado do que pensei – Será que tem como você trocar o papai, por mamãe? – pergunto levantando o Theo que me olha rindo e repete mais um “papai”.
— Espero que você esteja preparado pra viver sem mim, por que a Keyse me mata hoje – eu aviso e ele ri.
— Não exagera, ela no máximo vai reclamar um pouco – ele avisa querendo me tranquilizar.
— Bundaaaa!
— Papai!
Ele me olha e então nós dois rimos enquanto eles entram uma disputa cada vez mais alta entre “bunda” e “papai”.
— Tá, agora eu tenho um plano! – aviso – Eles precisam dormir antes dela chegar – Ryan concorda que essa é uma boa saída, pelo menos por hoje, então subimos e ele me ajuda a dar banho neles, mas uma tarefa que eu e Keyse já conseguimos fazer facilmente acaba sendo um pouco maior e mais trabalhosa, já que Ryan não consegue controlar o Lucca, por isso tenho que fazer a maior parte, mas conseguimos, eles estão limpos, cheirosos, de pijama e prontos pra dormir, quer dizer, se eles estivessem com sono, ao invés disso estão rindo animados pulando dentro de cada berço, coloco os brinquedos mas com esperança que eles durmam, o que não acontece, na verdade eles começam chorar pra sair do berço e levamos eles lá pra baixo, assim que sentamos no chão, a porta abre, Ryan me olha e fica entre rir ou sair correndo, Keyse e Nathy entram animadas e rindo.
— Ai que saudade dos meus amores, coisas lindas da mamãe – Keyse vem direto neles, pega Lucca no colo, cheirando o pescoço dele e espalhando vários beijos – Tá tão cheiroso! Que saudadeeee – ela aperta ele enquanto eu e Ryan ficamos nos encarando torcendo pra ele não falar, ela já estava indo pegar o Theo quando Lucca me olha e como se soubesse o que ia fazer ele ri e grita o mais alto que consegue.
— BUUUUNDA! – ela para no meio do caminho pra pegar o Theo e me olha.
— O que ele disse? – ela pergunta olhando diretamente pra mim.
— Então amor, já tá na hora né? – Ryan fala tentando sair.
— Ninguém sai dessa sala, principalmente você Ryan! – Keyse avisa, coloca a mão na cintura e olha pra nós dois – Quem vai me explicar!
— Bundaaa – Lucca repete e Ryan ri e recebe um olhar mortal da Keyse.
— Foi ele! Ele disse, o Lucca repetiu, eu só estava presente!
— Ótimo amigo ein! Obrigadão!
— Cara, eu avisei – ele levanta as mãos em inocência e Keyse me olha.
— Eu juro que só disse uma vez, uma única vez, foi sem querer, eles nem tavam prestando atenção – eu tento me defender enquanto ela apenas me encara.
— Bom, então acho que nós já vamos! Beijo, boa noite – Ryan fala e sai depois de dar um beijo na testa de cada um deles e receber um “bunda” como despedida, ele sai rindo e eu tenho que encarar Keyse.
— Você pode falar alguma coisa, por favor? – peço e ela solta o ar.
— Você sabia que eu estava com cuidado em falar as coisas perto deles, eu pedi pra você presar mais atenção e na primeira vez que eu resolvo sair um pouco dessa responsabilidade e me divertir como apenas uma mulher e deixo você em casa com eles por algumas horas é isso que eu encontro! – ela e pega o Theo que ainda estava brincando no chão, passa por mim e vai subindo as escadas, realmente irritada.
— Bunda – Lucca fala enquanto tenta agarrar meu nariz.
— É, o papai vai ficar sem ver uma bunda por um tempão – eu falo e ele solta um risada que acaba me fazendo rir junto com ele, eu pego alguns dos brinquedos do chão e subo atrás dela, ela está no quarto deles colocando o Theo no berço, entro e coloco Lucca no berço dele, deixando dois bichinhos de pelúcia com ele e me viro pra colocar o cachorro que Claudio deu no berço do Theo, ele agarra rindo e então me olha com um sorriso muito fofo que me faz sorrir também. - Papai – ele fala e sinto Keyse quase de queixo caído, ela olha pra ele depois pra mim e volta a olhar ele.
— Ele disse “papai”? – ela pergunta me olhando, eu dou de ombros.
— PAPAAAAI! – ele grita animado batendo as mãos no ar, Keyse parece engolir o choro e se afasta.
— Você pode colocar eles pra dormir, por favor? – ela pede e sai do quarto antes da resposta.
— Eu prometo que vocês vão poder me visitar lá no porão, tá? – eu falo já sabendo o quanto estou ferrado – Agora vamos dormir que eu ainda tenho um sermão pra escutar! – aviso eles que riem e balbuciam algumas palavras confusas e claro “bunda” e “papai”, eu diminuo a luz, ligo o brinquedo que tem pendurado em cima de cada berço, onde tem luzinhas piscando, com pequenos brinquedinhos pendurados nela e uma musiquinha calma de ninar, eles sempre ficam hipnotizados olhando, primeiro tentam alcançar, riem e logo em seguida estão com os olhinhos fechando e caem no mais doce sono. Então eu saio do quarto, encosto a porta e deixo apenas o abajur ligado, o andar de baixo está escuro e silencioso, por isso vou direto pro nosso quarto, entro e encontro Keyse sentada na cama, de costas pra mim, ando até ela e quando me aproximo vejo ela chorando, quando percebe minha presença ela enxuga o rosto rapidamente, eu me ajoelho na frente dela e seguro suas mãos.
— Meu amor, me perdoa, eu juro que não fiz por mal, eu sei que não tem desculpas, eu vi o trabalho que você estava tendo pra ajudar eles a falarem as primeiras palavras e eu devia ter prestado mais atenção, eu não queria estragar esse momento, me desculpa – peço sinceramente e ela volta a chorar enquanto nega com a cabeça.
— Não é isso! – ela fala e chora novamente, eu seguro seu rosto com as minhas mãos enquanto ela tenta se controlar, leva alguns segundos e então ela consegue parar o choro – Era pra eu estar aqui, entende? Eu queria estar aqui, queria ter visto, ter ouvido, ter participado desse momento... Era pra ser nosso – outra lagrima escorre e ela olha pra cima tentando parar – Nosso momento, do Lucca, do Theo, seu, meu! E eu não tava aqui Pyter, eu perdi isso e nunca mais vai se repetir! Não me importa se a primeira palavra dele foi bunda, ou coco, ou xixi ou qual tenha sido, mas foi a primeira e eu... Eu não ouvi! Por que eu não estava em casa, estava na rua agindo como se não tivesse filhos...
— Ei, ei... – eu a faço olhar pra mim – Foi só a primeira palavra, você tem noção de quantas outras milhares de palavras você ainda vai ouvir? Isso não é nada comparado com tudo que você ainda vai vê e perder isso não te faz menos mãe, você ainda é a mãe mais incrível e a melhor mãe que nossos filhos poderiam ter! Eu tenho certeza disso e você sabe que eu sempre tenho razão... – ela solta uma rápida risada mas logo em seguida esconde o rosto entre as mãos.
— Não tenta me fazer sentir melhor, eu estou me sentindo horrível e mereço isso! – ela avisa sem querer me olhar.
— Então tá, vou dormir na sala – falo já me levantando e puxando um travesseiro.
— Se você sair desse quarto... – ela avisa mas eu já estou rindo e voltando, eu empurro ela na cama e me apoio nos joelhos por cima dela.
— Sabe quando eu iria deixar você sozinha? – pergunto e ela me olha com um sorriso – NUNCA! – o sorriso dela aumenta e o meu também – Agora, se não me falha a memória, você disse algo sobre precisar de ajuda com a roupa e o banho quando chegasse!
— Disse? Tem certeza? Não lembro!
— Ah, mas eu lembro, perfeitamente – aproximo minha boca do seu pescoço e ela me dá espaço, meus lábios tocam sua pele e ela se remexe por baixo de mim, seus dedos sobem pelo meu ombro e minha nuca, então beijo seu pescoço, subindo até sua boca com um beijo cheio de desejo e paixão, então acabamos adiando o banho na banheira.
2MESES DEPOIS
O domingo amanheceu com Keyse agarrada a mim, suas costas nua, sua perna sobre mim e o cabelo cobrindo seu rosto, mais uma vez me sinto um cara incrivelmente sortudo e já amanheço sorrindo, estava começando a tentar sair sem me mexer quando ouço o grito no quarto ao lado.
— PAPAI! MAMÃE! – o sorriso aumenta, Keyse se mexe e se vira pro outro lado, o lençol escorrega do seu corpo me dando uma bela visão do seu corpo nu.
— Uau! Bom dia pra você também – eu falo e ela ri mas puxa o lençol se cobrindo, novamente os gritos, eu me inclino dando um beijo nela e saio do quarto, quando chego lá Lucca já está em pé apoiado na grade do berço e fica abaixando e levantando quando me vê, tão animado que me sinto o cara mais incrível do mundo, Theo está sentado no berço dele enquanto joga o lençol e o travesseiro dele pro lado de fora.
— Bom dia pra vocês também! – eu falo e pego Lucca no colo, beijando e cheirando o pescoço dele, depois pego Theo, os dois já estão pesados e ainda ficam tentando empurrar um ao outro o que acaba dificultando minha posição, por isso me apresso e volto pro nosso quarto, Keyse colocou uma camisa minha mas ainda está na cama, eu coloco eles perto dela e os dois se jogam e pulam em cima dela, beijando, babando e dizendo tantos “mamães” que eu fico confuso, mas eles três são só risos e gargalhadas, ela morde e beija eles e eles se jogam ainda mais em cima dela, também entro na brincadeira e ficamos os quatro rindo, até que Lucca levanta a blusa da Keyse procurando o peito e seu café da manhã, mesmo já comendo papinha, frutas e outras coisas, eles ainda mamam e Lucca principalmente não abre mão disso toda manhã, enquanto ele está sendo amamentado, eu e Theo brincamos de cavalinho, eu coloco ele nas minhas pernas e balanço fazendo sons que faz ele rir, até que ele vê um brinquedo no chão e aponta querendo pegar, então paro e o coloco no chão, como ele já engatinha espero ele ir pegar, ele se arrasta até o guarda roupa ao lado da cama, se apoia e então fica em pé, ele olha pra gente e depois por brinquedo como se analisasse alto.
— Oh meu Deus, Pyter, ele vai... – Keyse se empolga e depois diminui a voz com uma expectativa gigante, não desgrudamos os olhos dele, então mesmo tremendo bastante e um pouco desengonçado ele dá o primeiro passo, Keyse precisa tampar a boca pra não soltar um grito e ele permanece com um passo seguido do outro, a qualquer momento parece que ele vai cair mas consegue e dá seus primeiros 4 passos até que cai de bumbum no chão, mas não se abala, apenas pega o brinquedo e levanta me mostrando – Ele andou! Oh meu Deus, ele andou! – Keyse agora já está descontrolada, eu sorrio e me levanto pra pegar ele, trago-o pra cama, e quase o amasso de tanto beijo e abraço, Keyse também o beija e ele ri mesmo sem entender nada – Ah meu Deus, eles estão crescendo muito rápido! – ela fala com a voz chorosa, Lucca para de mamar e nos olha meio confuso, depois abaixa a blusa da Keyse, segura seu rosto com as mãozinhas e exige.
— Pão! – ele fala e ela ri.
Nós nos levantamos e vamos tomar café juntos, deixamos eles no chão e logo Lucca arrisca uns passos também, o que faz Keyse quase ir a loucura de tanta emoção, ela me abraça e esconde o rosto no meu peito, sinto as lagrimas escorrendo.
— Eu não quero que eles cresçam tão rápido, faz alguma coisa – ela pede mesmo sabendo ser impossível.
— Bom, nós sempre temos a opção de congelar eles – eu falo e ela ri e me dá um tapa fraco no braço, eu a abraço apertado enquanto olhamos eles dois cambaleando pelo corredor pra sala, e eu sei exatamente o que ela sente, é uma mistura de ansiedade com medo, ver eles crescendo tão rápido parece assustador e saber que quanto mais eles crescem mais estarão tomando o rumo das próprias vidas é quase enlouquecedor, queria que eles fossem sempre essas duas coisinhas pequenas, com pernas gordinhas, cabelos bagunçados e andar desengonçado, mas eu sei que isso não é possível, eles vão crescer e temos que estar prontos pra isso, por mais difícil que pareça, nunca amei tanto minha vida quanto amo agora, cada segundo dela ao lado das pessoas mais importantes pra mim, é inacreditável como um dia eu tive medo e quis adiar isso, hoje eu sei que nada poderia ser mais perfeito.
Eu posso afirmar com toda certeza que sou totalmente e absolutamente feliz!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentem, por favor... rs'
Foi rapidinho esse, mas logo, logo, tem mais! Beijos



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