Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 12
Novo


Notas iniciais do capítulo

PERDÃO! Demorei, mas voltei, não me abandonem...Tenho novidades, conto lá no final, espero que gostem do capitulo, aceitei uma das sugestões de vocês, espero que tenha ficado bom...



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Eu quase não estou me aguentando de tanta animação, Hazel acabou de me dar uma das melhores notícias. Há um pouco mais de um mês eu enviei a ideia de um projeto que sempre passou pela minha cabeça, porém sempre aparecia outra coisa e isso ficava pra depois, dessa vez Hazel me forçou a levar adiante e o resultado é que o projeto foi aprovado e parabenizado, eu literalmente poderia correr pelo Distrito inteiro de tanta alegria, agora só temos que tirar do papel e realizar, e essa é a melhor parte de todas.
— Eu vou falar com a minha mãe! – aviso pra ela enquanto dou mais um pulo no meio do nosso escritório, ela ri.
— Eu posso ir com você, talvez seja mais fácil de convencer ela!
— Não precisa, eu falo com ela, posso cuidar disso – falo ansiosa, puxo minha bolsa de cima da mesa e mando vários beijos no ar, saio me despedindo das meninas do ateliê e quase corro até a Aldeia, Louise ainda está na escola e isso me dá algumas horas antes de ir busca-la, por isso aproveito e vou direto pra casa dos meus pais, Pietro também está na escola e papai com certeza deve estar na padaria, portanto a mamãe vai estar sozinha, o que pra mim é perfeito agora.
Entro sem bater e a encontro subindo as escadas com algumas roupas nas mãos.
— Visita surpresa?! – ela fala me olhando curiosa.
— Eu preciso muito falar com você – junto minhas mãos tentando manter minha ansiedade controlada, ela parece ainda mais curiosa.
— Só vou guardar essas roupas e já desço! – ela avisa voltando a subir, eu vou pra sala e me jogo no sofá, no móvel ao lado do sofá está um porta retrato com uma foto dela e do papai, eu seguro e olho com um sorriso, eu mesma tirei essa foto, foi uma das primeiras, logo depois que o vovô me deu a minha primeira câmera fotográfica, nesse dia lembro que o papai estava implicando com a mamãe por que ela tinha queimado um bolo que ele pediu pra ela vigiar, mamãe se irritou e já estava a ponto de iniciar uma briga quando ele simplesmente a abraçou beijando seu rosto várias vezes, no começo ela reclamou e tentou afastar ele mas logo depois estava gargalhando e foi quando eu bati essa foto, é uma das minhas preferidas.
— Eu também gosto dessa! – ela fala já dando a volta pelo sofá e vindo para o meu lado, eu sorrio e viro a foto pra ela.
— Seu sorriso tá lindo nessa foto! – eu falo e ela revira os olhos.
— E o que te trouxe aqui essa hora? – ela pergunta mudando de assunto e eu sorrio ainda mais.
— Na verdade tem a ver com isso – aponto pra foto e ela me olha confusa – Eu tinha a ideia de um projeto, mas sempre acabava adiando por conta de todas as outras coisas, só que dessa vez a Hazel praticamente me obrigou a levar isso a sério, então nós montamos o projeto, fizemos uma apresentação formal e estávamos esperando a resposta, até que hoje ela chegou... - E então? – ela pergunta ansiosa.
— Então que eles aceitaram! – falo animada e um pouco eufórica demais – Aliás, eles não só aceitaram como também adoraram a ideia e estão super animados em ver tudo pronto, eles já até mandaram parte do dinheiro pra investimento...
— Isso é incrível! Meus parabéns! – ela me abraça sinceramente – Eu fico muito feliz por você!
— Eu também tô muito feliz!
— Só não entendi o que isso tem a ver com a foto!
— Com a foto não! Com você!
— Comigo? – confirmo com a cabeça enquanto aperto a mão uma na outra e mordo minha boca, ela espera a explicação.
— É um projeto sobre mulheres! – falo dando de ombros – Eu quero mostrar o poder feminino, nossa força... – eu brinco e ela sorri.
— Isso é bem a sua cara, só não entendi como pode ter haver comigo...
— Simples! Eu não quero só mostrar a roupa ou a mulher como apenas um objeto de luxo, eu quero mostrar como nós somos mais do que isso... A ideia é pegar mulheres comuns do Distrito e mostrar a elas o poder que tem, mas sem descaracterizar a mãe, dona de casa, esposa, enfim, eu quero mostrar como podemos ser tudo isso e qualquer outra coisa que queiramos ser...
— Pérola, é... Incrível! Um projeto realmente muito bom, mas... Eu... Eu não acho que tenho algo a ver com isso!
— Como não? Foi você que me inspirou – eu confesso e ela para parecendo surpresa – Mãe, eu cresci vendo você, vendo o quanto você é incrível e ao mesmo tempo... Normal? Eu não sei, só sei que tudo que você é me inspirou a isso e eu nunca poderia colocar outra pessoa pra destacar o projeto! – falo e sorrio esperando a resposta dela, ela leva alguns segundos como se procurasse o que dizer, então se mexe no sofá e me olha com certo receio.
— Eu... Eu agradeço, mas não posso! Eu não posso fazer isso, eu... Eu sinto muito! – ela segura minha mão e permanece me olhando – É o seu projeto, não o meu! – uma pontada de decepção me atinge tão forte que sinto todos os meus músculos enfraquecendo e aquela euforia parece ter saído voando pela janela.
— Eu pensei que...
— Eu sei, que seria boa ideia e realmente a ideia em si é boa, só não comigo!
— Mas mãe...
— Não tem mas, Pérola, eu não vou fazer! Eu te ajudo no que você quiser, no que precisar, mas não posso ser destaque pra alguma coisa!
— Claro que pode mãe, você é incrível! Você é linda, é forte, decidida, uma ótima mãe, esposa, dona de casa... Você é tudo que eu quero mostrar, não consigo pensar em ninguém melhor! – ela solta uma pequena risada desacreditada.
— Eu consigo pensar em pelo menos umas dez pessoas diferentes... A Delly, A Grace, Marcie...
— Mas eu quero você! – interrompo ela que me olha sem estar disposta a mudar de ideia.
— Eu sinto muito! – ela fala e respira fundo.
— Eu sei o que você pensa, que tem pessoas melhores que você e eu sei que tem! Tem pessoas com mais qualidades que você, talvez mais perfeitas que você, mas não é isso que eu quero, eu quero alguém que mesmo imperfeita consegue despertar tanto amor quanto você desperta, mãe, por favor... Por favor, só me escuta... – eu peço e seguro a mão dela, me aproximando ainda mais.
— Pérola...
— Mãe, eu amo você! Mas não é só por que eu te amo que estou te convidando pra esse papel, eu estou te convidando por que você representa tudo que eu acredito, tudo que eu acho incrível e honroso... Você é a mulher que representa tudo que eu quero mostrar, independente de ser ou não minha mãe, é quem você é como pessoa que me fez escolher você! – ela continua olhando nos meus olhos por mais alguns segundos e por um momento eu tenho certeza que ela irá aceitar, mas então a porta se abre rápido como um trovão e no segundo seguinte Pyter já está se jogando no sofá caindo em cima de nós duas, eu me assusto e o empurro fazendo ele quase cair no chão, mamãe ri e ele consegue se sentar no nosso meio.
— Reunião de família e ninguém me chamou? – ele pergunta olhando pra nós duas de um jeito meio acusador.
— Não é uma reunião quando só se tem um dos filhos e a mãe – mamãe fala e ele faz uma careta.
— Mas então, o que as meninas estavam conversando? – ele insiste enquanto se joga pro lado da mamãe que rapidamente o recebe sem reclamações.
— Não te interessa – eu falo um pouco irritada – E você não deveria estar com a sua esposa grávida já que hoje é sua folga? – ele finge me imitar falando e eu reviro os olhos enquanto mamãe ri.
— Não implica com a sua irmã, parece que você tem cinco anos – ela fala mas nem com muito esforça seria possível reconhecer algum fio de repreensão na voz dela, ele ri e deita a cabeça no colo dela, jogando as pernas em cima de mim, eu empurro e ele coloca as pernas esticadas na parte do apoio no sofá, mamãe passa os dedos pelo cabelo dele.
— A mãe dela e a Hannah estão lá com ela e eu não suportaria mais um segundo com todas elas falando e pedindo alguma coisa – ele reclama fazendo uma cara meio aterrorizado.
— Claro, isso exigiria muito da sua parte madura e responsável – ironizo e ele me faz uma careta enquanto me cutuca com o pé, eu lhe dou um tapa e ele ri.
— Tô guardando a parte responsável pra quando os bebês nascerem!
— Essa eu quero ver – mamãe fala achando graça e ele também ri enquanto coloca a mão dela de volta no seu cabelo pra que ela continua acariciando como estava antes.
— Sua vez! O que você tá fazendo aqui ao invés de estar lá no seu quartinho fazendo seus vestidos de contos de fadas? – eu o encaro por alguns segundos mas ele não se intimida.
— É um ateliê e eu não faço só vestidos – ele dá de ombros como se não tivesse importância.
— Ainda não respondeu minha pergunta...
— Por que não te interessa...
— Pérola... Por favor, não comecem com isso, pode ser? – ela fala empurrando a cabeça do Pyter pra fora do seu colo, ele se ajeita sentado no sofá e ela se levanta – As vezes eu acho que vocês dois ainda são duas crianças... Nunca param com essas implicâncias!
— Foi ele que começou...
— Você que é toda delicada!
— Vocês acabaram de confirmar minha teoria! – ela avisa indo pra cozinha, Pyter me faz uma careta e eu me levanto pra ir atrás dela, então ele me puxa e eu acabo caindo no sofá de novo enquanto ele corre até ela, me levanto rápido mas quando chego lá ele já está agarrado nela que ri enquanto ele coloca vários beijos na sua bochecha e por um segundo sinto um certo ciúme, por que o sorriso que ela está é o mesmo que ela estava na foto com o papai e eu não me lembro de alguma vez ela ter sorrido assim comigo.
— A Péla disse que já tava indo, né Péla? – ele fala implicando comigo enquanto me olha com um sorriso idiota.
— Eu cheguei primeiro e estava falando com a mamãe... – rebato quase batendo o pé.
— E o que é tão importante?
— Já te falei, não te interessa... – ele finge me imitar.
— Então agora pode ter segredos na família? – ele pergunta olhando diretamente pra mamãe, que revira os olhos e me olha, eu estava quase pedindo pra que ela não falasse quando ela volta olhar pra ele.
— Sua irmã vai lançar um projeto novo e me queria como destaque... – ela dá de ombros como se não fosse importante e eu afundo no meu lugar, tudo que eu não queria era o Pyter sabendo disso agora, principalmente que ela negou, ele ri como se fosse uma piada.
— Você seria tipo... Uma daquelas modelos?
— Seriam só algumas fotos! – eu tomo a frente ainda tentando convencer ela – Mãe, são só umas fotos, nada de gravação, só fotos! – ela solta o ar sem saber o que dizer e Pyter ri.
— É sério? Você achou mesmo que a mamãe ia topar? Ela não gosta nem de tirar nossa foto de fim de ano – ele fala se divertindo – Quer saber, essa eu queria ver, a mamãe na capa de uma dessas revistas...
— Eu já expliquei pra ela que não vai acontecer – mamãe fala encerrando o assunto.
— É claro que não, parece até que você não conhece a mamãe.
— Eu só achei que fosse uma boa ideia...
— Esse é seu problema irmãzinha, você acha demais – ele fala batendo a ponta do dedo na minha testa, eu empurro e ele ri.
— Pyter, chega! Assunto encerrado – mamãe avisa enquanto guarda algumas louças que estavam secando.
— Eu só queria saber como você achou que isso era uma boa ideia – ele fala me olhando confuso.
— Quer saber? Vai se ferrar – eu falo com raiva e mais algum sentimento forte que não sei explicar.
— OK, Pérola, já acabou! Eu disse assunto encerrado! – mamãe fala me olhando séria.
— Mas mãe, você nem me escutou direito! São só algumas fotos, terão outras mulheres, não vai ser nenhuma campanha grande, é um projeto novo, ainda estamos vendo como será divulgado, nada de gravações, eu prometo, será como a foto de fim de ano só que dessa vez você vai usar a roupa que eu escolher – eu falo numa tentativa mais animada, ela ri, mas balança a cabeça pensativa.
— Por que você não faz com essas outras mulheres? – Pyter pergunta.
— Por que você não cala essa boca e para de se meter? – devolvo encarando ele com raiva.
— Tá na cara que ela não quer e você vai fazer a filha magoada só pra convencer ela... – ele fala me acusando e eu o encaro sem acreditar.
— Cala a boca! – exijo tentando me controlar.
— Os dois! Chega! – mamãe fala mais alto – Esse é um assunto meu e dela! – ela avisa olhando pro Pyter que dá de ombros e vai mexer no pote de biscoito – E nós já conversamos, Pérola! O projeto é ótimo, mas não comigo...
— Mas mãe...
— Não, Pérola! Eu disse não!
— E se ele tivesse te pedido? Você faria? – pergunto olhando pra ela e apontando pro Pyter, ela me olha meio confusa.
— O quê?
— Se o Pyter estivesse te pedindo alguma coisa, você hesitaria? Pensaria duas vezes ou simplesmente faria como você sempre faz e aceitaria? – ela parece surpresa e olha de mim pra ele, eu solto uma risada meio forçada – Quer saber? Foi uma pergunta idiota! – aviso levantando as mãos como quem perdeu – Eu nem sei por que eu vim aqui, esquece, é só uma coisa imbecil que eu pensei mesmo, não tem importância – aviso e saio da cozinha o mais rápido que posso.
— Achei que o ciumento fosse eu – ouço Pyter gritar, puxo minha bolsa do sofá e saio da casa, minha intenção não era bater a porta mas na pressa acabou acontecendo e o barulho foi quase estrondoso, mesmo assim não olhei pra trás, corri até em casa, entrei com as lagrimas rolando pelo meu rosto e odiando o Pyter, na verdade não o odeio de verdade, é óbvio que não, mas odeio como as vezes ele consegue ser tão irritante, idiota e... Realista. Por que estava na cara que mamãe nunca aceitaria isso, ainda mais sendo um pedido meu, se fosse um pedido dele, eu tenho certeza que ela nem pensaria duas vezes. Eu odeio soar como a filha ciumenta, geralmente esse papel fica com o Pyter, mas acontece que ele não é o único que se sente assim, eu sempre vi a relação dele com a mamãe e desde criança eu vejo as diferenças, já perdi a conta de quantas vezes me peguei sonhando em um dia que mamãe me trataria do mesmo jeito que o Pyter, claro que ela não me trata mal, longe disso, eu sei que ela me ama, sei que se preocupa comigo e que sempre se esforçou pra me ver feliz, isso é absolutamente claro pra mim, e pelo amor de Deus, nem sei por que estou chorando tanto, eu já sou uma mulher, sou mãe, esposa, dona de casa, tenho meu próprio negócio, não sou mais aquela menininha empenhada em impressionar a mãe pra que assim ela a visse com os mesmos olhos orgulhosos e satisfeitos que ela olhava pro irmão, eu já deveria ter superado isso, mas o fato é que alguma parte minha ainda não superou e talvez nunca supere, por que a verdade é que ela e Pyter sempre pareceram ter algum tipo de relação sobrenatural, algo que os liga de um jeito que eu nunca consegui me ligar a ela, confesso que talvez seja o mesmo tipo de ligação que eu tenha com o papai, e eu sei que Pyter sempre teve ciúmes disso e eu sempre dizia que não fazia sentido por que ele nos ama igual e eu acredito nisso, mas é que quando se trata de nós mesmos, tudo parece maior, acho que entendo como Pyter se sente, por que por mais que eu grite pra mim mesma que a mamãe me ama do mesmo jeito, é impossível não sentir ciúmes e uma certa inveja deles dois, tudo que eu sempre quis era que ela sentisse orgulho de mim, do mesmo jeito que vejo os olhos dela brilhando de orgulho por ele sempre que o vê dando aulas para as crianças ou quando estamos em um dos eventos na escola onde Pyter está rodeado pelas crianças, só queria que ela me olhasse desse mesmo jeito, mas parece que não importa o que eu faça, ele sempre será o preferido dela e já passou da hora de eu finalmente encarar isso e desistir de tentar me igualar a ele. Eu subo as escadas correndo e me jogo na cama, assim que alcanço o travesseiro começo a chorar, um choro preso que aperta meu peito e minha garganta, eu achei que conseguiria fazê-la entender e talvez, apenas talvez, sentir um pouco de orgulho de mim, mas tudo que ela fez foi negar, acho que nunca me senti tão frustrada, cansada e rejeitada como eu me sinto agora. Eu passei meses e meses pensando nisso, esquematizando cada detalhe, tudo com todo carinho e admiração que eu tenho, desde o primeiro momento que a ideia passou pela minha cabeça eu sempre a vi como o rosto ideal pra isso, não por ser Katniss Everdeen, mas por ser a mulher mais incrível que eu conheço, ela é tudo que eu tento ser todo dia e ouvir um não tão claro dela consegue me desestabilizar completamente, é como se o projeto não fizesse mais sentido e realmente não faz, eu fiz por ela, pensando nela e se ela não quer, não tem por que insistir nisso, eu jamais conseguiria alguém pra substitui-la, e eu nunca colocaria uma dessas modelos pra “vestir um personagem”, essa não é a ideia da campanha e eu não vou admitir que se transforme em algo fútil, por mais que me doa e dói muito, se ela rejeitou, o projeto simplesmente não existe mais e a conclusão desse pensamento me faz chorar ainda mais. Eu já estou cansada de tanto chorar, meus olhos estão inchados e sinto que estou muito perto de secar completamente quando me sento na cama, passo a mão pelo rosto e tento me recompor, já estava de pé quando a vejo entrando pelo quarto, eu volto a me sentar e apenas a observo se aproximando, ela para na minha frente, menos de dois passos de distância.
— Será que nós podemos conversar? – sua voz é baixa, calma e meio cautelosa.
— Eu tenho que buscar a Lou na escola! – aviso e me levanto o mais firme que consigo.
— Seu irmão já foi! E ele vai levar ela e o Pietro pra tomar sorvete na praça depois...
— Ela está de castigo, não deveria tomar sorvete! – eu falo tentando não parecer abalada, mas ainda machucada demais pra fingir que nada aconteceu.
— Ela pode voltar pro castigo depois! Agora eu realmente preciso falar com você – ela me olha e eu sei que não irá desistir, por isso dou de ombros e me jogo sentada na cama novamente, ela respira fundo e se senta na cama ao meu lado, porém eu continuo olhando pra frente evitando qualquer contato visual com ela – Você está chateada comigo! – ela afirma e eu fecho os olhos e respiro lentamente – Eu sei que está e sei que tem razão pra estar!
— Eu não estou chateada com você – afirmo e viro meu rosto pra olhar diretamente nos olhos dela – Eu estou magoada! Profundamente magoada – enfatizo cada palavra e posso ver a surpresa nos seus olhos, como se realmente não entendesse o que aconteceu, por isso me sinto obrigada a explicar – Eu passei meses pensando nessa ideia e em cada segundo de todo esse tempo era você quem sempre aparecia nos pensamentos, foi você quem me inspirou! Então você consegue imaginar o tamanho da minha frustração quando você me disse um não sem nem ao menos pensar por alguns minutos? – pergunto e ela me olha com certa dor nos olhos.
— Eu nunca quis te frustrar!
— Eu sei – concordo e desvio os olhos dela – Mas você fez! – falo séria, então sua mão alcança a minha e ela a aperta.
— Eu nunca quis que você se sentisse assim! – sua voz é sincera, parece culpada e arrependida.
— Eu sei que você nunca gostou dessas aparições, de fotos e nem nada disso, eu só pensei que talvez um pedido meu ou algo que fosse importante pra mim, pudesse te fazer pensar melhor – confesso com toda magoa que estou.
— Pérola, eu...
— Sabe o que é pior? – pergunto interrompendo-a e ela me olha esperando que eu fale – Saber que se fosse um pedido dele você aceitaria sem nem pensar duas vezes, com a mesma rapidez com que você me negou, você aceitaria qualquer que fosse o pedido dele...
— Isso não é verdade! – ela nega rapidamente e eu a encaro – Pérola – ela se vira ainda mais pra mim, segura minha mão mais firme e me olha nos olhos – Eu rejeitar fazer essas fotos não tem absolutamente nada a ver com você ou meu sentimento por você!
— Claro que tem, mãe... Eu deixei bem claro o quanto isso era importante pra mim, eu te expliquei antes de fazer o convite e tudo que eu esperava ela pelo menos alguma dúvida talvez... – ela desvia os olhos do meu, respira lentamente e depois passa as mãos no rosto.
— Todas as vezes que eu apareci, que meu rosto foi usado pra algo acabou acontecendo coisas muito ruins, as vezes a única coisa que eu quero é que todos simplesmente esqueçam do meu rosto pra evitar qualquer coisa ruim. Eles apenas usaram meu rosto...
— Chega, mãe! – eu a interrompo um pouco irritada e cansada de sempre ouvir isso, ela me olha um pouco surpresa – Eu não quero ouvir tudo isso de novo! Eu já ouvi centenas e centenas de vezes! EU NÃO SOU ELES - falo mais alto e bem enfatizado – Eu nunca usaria o seu rosto, nunca me aproveitaria disso pra nada. Eu não sou eles! Sou a Pérola, sua filha, você poderia ter confiado mais em mim.
— E eu confio!
— É, eu tô vendo – falo com ironia e me levanto da cama – Mãe, eu já entendi, você não vai fazer as fotos, ok, é um direito seu, eu respeito e isso encerra nosso assunto! Eu vou falar com a Hazel, nós vamos cancelar tudo e pronto, ponto final!
— Como assim cancelar tudo? – ela também se levanta confusa.
— Cancelando! Não tem mais sentido continuar com o projeto, então é melhor acabar logo com isso e começar a pensar em outra coisa.
— Mas Pérola, você não precisa cancelar por minha causa...
— Claro que preciso! – afirmo um pouco exaltada – Você ainda não entendeu, não é? Não faz sentido continuar sem você! Você me inspirou, você que fez essa ideia nascer e se não tem como ser assim, então não será de nenhum jeito! – ela parece completamente estagnada, nós ficamos nos encarando por alguns segundos, eu solto o ar e balanço a cabeça – Eu não quero mais falar sobre isso!
— Só uma pergunta... – ela pede com a voz baixa e eu deixo que ela continue – Por que?
— Por que, o que?
— Por que eu? Por que e como eu te inspirei a alguma coisa? – eu acabo soltando um sorriso cansado, mas tomo uma respiração profunda e volto a olhar pra ela.
— Por que você é a mulher mais forte, firme e corajosa que eu conheço!
— Não, eu não sou!
— Sim, mãe, você é! E eu nunca vi ninguém como você e sei que nem verei, não importa quantos anos eu viva e quantas centenas de pessoas eu conheça, você é a mulher mais incrível e fascinante! Eu sei que talvez seja difícil pra você entender ou olhar pra você mesma da mesma forma em que eu te olho, mas você é, eu posso te afirmar isso com toda certeza do mundo... Você perdeu tudo, mãe, tudo! E continuou...
— Por causa do seu pai – a voz dela sai rouca.
— Não! Por causa de você! Sim, meu pai te ama, foi o porto seguro que você precisava, ficou do seu lado, te deu esperança, mas não foi ele, foi você! E você sabe que é verdade! Eu te conheço mãe, e ninguém jamais te convenceu a fazer algo que você não quisesse, e mesmo que meu pai te amasse acima de tudo, você só decidiu continuar por que você acreditou em si mesma, mesmo sem saber disso, alguma parte sua ainda se recusava a perder, ainda lutou, e mesmo quando parecia que você tinha desistido, você continuou! E isso é um mérito seu! E é isso que eu enxergo quando olho pra você, enxergo uma menina que estava assustada, apavorada e mesmo assim salvou a irmã, uma pessoa marcada pela morte e que mesmo assim se recusou a morrer, você nunca desistiu, nunca abaixou a cabeça, não importa quanto doesse, te tiraram tudo, todas as coisas que você amava e você ainda assim não abaixou a cabeça, você deu uma chance verdadeira pra todo mundo mesmo quando estava afogada na mais profunda tristeza, eu vejo até hoje a consequência de tudo isso em você, o quanto te abala, o quanto te apavora, mas você ainda está aqui e se eu pudesse escolher alguém com quem me parecer seria você, e foi por isso que eu pensei no projeto por que eu queria que todas as mulheres no mundo se enxergassem assim, vissem que não são frágeis mas que podem enfrentar tudo, por mais difícil que seja a vida delas, ainda pode valer a pena, eu queria mostrar um exemplo de força, de garra e de recusa a derrota e ninguém seria melhor que você! Então se você me pergunta o que eu vi em você, foi isso, apenas a mulher mais incrível que eu conheço! – termino de falar e quando vejo estou segurando as mãos dela e as lagrimas escorrem pelo seu rosto, eu forço um sorriso e enxugo com a ponta dos meus dedos – Eu acho que é por isso que eu sempre tive tanta inveja do Pyter, por que ele tem todas essas suas qualidades, mesmo não sendo uma mulher no caso...
— Você também tem! – eu solto um pequeno sorriso.
— Eu tento! – ela nega com a cabeça.
— Você é melhor do que eu! Melhor do que eu jamais serei! – ela toca meu rosto e me olha com algo tão forte que me deixa sem palavras – Sim, minha relação com você é diferente da que eu tenho com seu irmão – ela confessa pela primeira vez e mesmo já sabendo disso sinto um aperto no peito – Seu irmão sempre foi duro, direto, como se não tivesse medo de nada... Mas você não! Você sempre foi doce, suave, delicada e eu jamais arriscaria te machucar de novo, nunca poderia me perdoar se fizesse isso. Cada vez que você sorrir é como se trouxesse cor pra todos os meus dias e pensar que eu pudesse mudar isso me assustava... Quando você tinha 7 anos, seu pai tinha saído com o Pyter, para um passeio de meninos e só ficamos nós duas em casa, você estava toda empolgada, querendo ter um dia de meninas, você achou uma receita e queria que nós duas fizéssemos juntas, me arrastou pra cozinha, pulando e rindo, tão animada, tão... Radiante! Você falava e falava e não parava de me contar todas as coisas, você queria que desse certo, estava feliz e eu só conseguia pensar no quanto eu queria estar deitada na cama, com as luzes apagadas e sozinha... – ela confessa e as lagrimas escorrem, ela rapidamente as seca – Não era culpa sua, claro que não! Você não fez nada errado, o problema era eu! Mas enquanto você estava ali animada eu não sei o que aconteceu, eu simplesmente tinha que sair de lá e quando você tentou me fazer mexer na massa do bolo eu simplesmente joguei tudo no chão, eu disse pra você ficar quieta por um tempo, por que minha cabeça estava doendo e que eu queria ficar sozinha, você não disse nada, seus olhos apenas se arregalaram e ficaram me encarando com tanta dor, tanta tristeza, decepção, que eu só queria sumir dali e esquecer o modo que você me olhou, então eu subi e me tranquei no quarto, quando eu sai do quarto pra te pedir desculpas, pra tentar te explicar algo que eu nem tinha como explicar, eu passei pela porta do seu quarto e eu vi a pior cena da minha vida... Você estava sentada no chão, encolhida entre sua cama e a cômoda, abraçada nas próprias pernas, seu corpo tremia com seu choro e eu nunca senti tanta culpa e dor na minha vida, era culpa minha, toda e completamente minha e não importava todas as outras culpas que eu carregava, era aquela, a que mais me doeu, eu fiz você, minha filha, minha menina, minha pequena, aquela que alegrava cada segundo da minha vida, chorar como se ela fosse um erro, como se você tivesse culpa, mas a culpada era eu, e foi naquele momento que eu vi o que eu podia fazer com você, foi quando eu me odiei, então seu pai chegou, ele e Pyter estavam rindo animados, do jeito que nós duas deveríamos estar, mas eu estreguei tudo e me recusei a continuar estragando, por isso eu pedi seu pai pra ficar com você, ele entrou, te pegou no colo, te acalmou, te tratou como você merecia ser tratada e eu jurei que aquilo nunca mais iria se repetir... Eu achava que se eu conseguisse aproximar você mais do seu pai, você estaria mais segura... Vocês dois sempre foram tão parecidos, a relação de vocês sempre foi linda e eu encarei isso como um sinal. Não importava se eu perdesse a paciência com o Pyter, se eu gritasse com ele, se eu o mandasse sair do quarto, ou surtasse sem motivo, não importava que eu ficasse apenas calada durante horas do lado dele por que simplesmente queria ficar sozinha, por mais que ele se chateasse comigo, ele apenas gritava ou me dizia alguma verdade dura, sairia e depois voltaria como se nada tivesse acontecido, ele é assim, é difícil algo afetar ele, mas você não, você sempre foi tão... Você! Eu não podia arriscar te machucar de novo, te magoar de novo, não podia, você entende? – as lagrimas dela descem cada vez mais rápido e eu também estou chorando – Eu sempre tive orgulho de você! De tudo que você fez, desde aquele desenho da arvore que você fez na parede do seu quarto até o ultimo vestido que você desenhou ontem. Você é a melhor filha do mundo e é impossível você me orgulhar ainda mais, você sim, é a mulher mais fascinante que eu conheço e eu te amo tanto, mas tanto, que eu nunca me permitiria te magoar de novo... Embora eu tenha acabado de fazer isso. Eu quero que você saiba que você sempre foi e sempre será minha menina, meu primeiro amor, quem me despertou pra tanta coisa que eu ainda tinha dentro de mim. Eu te amo, mesmo com todas nossas diferenças, eu sempre te amei do mesmo jeito que amo seu irmão, a única diferença é que eu tentei te proteger demais, esse foi meu erro, não perceber a menina forte que você sempre foi, eu acabei te protegendo demais, eu tinha tanto medo de te machucar que pareceu que eu preferia estar perto do seu irmão, mas não, eu queria estar perto dos dois igual, mas você era tão mais sorridente, leve e solta, ao lado do seu pai, que eu achei que estava tudo bem assim, que era assim que devia ser... Eu só espero que você me perdoe e entenda que eu te amo mais do que eu amo a mim mesma e tudo que eu fiz, tudo, mesmo as coisas mais idiotas, foi tentando ser uma boa mãe, ser o mínimo que você merecia...
— Você é mais! Você é a melhor mãe do mundo! E eu sempre tive certeza que você me amava, isso nunca foi uma duvida pra mim... – ela volta a chorar e me abraça apertado, eu choro junto com ela, e ficamos assim por alguns minutos, apenas abraçadas e chorando, até que conseguimos nos recuperar, ela segura meu rosto entre suas mãos e me olha com carinho.
— Eu só preciso fazer mais uma pergunta – ela fala e eu concordo – As fotos podem ser no sábado?
— Mãe, não, você não precisa fazer isso, está tudo bem!
— Eu sei que não preciso! Mas eu quero! – ela afirma e me olha com um sorriso – Seria na verdade um grande privilegio fazer parte de um projeto seu! – ela sorri ainda mais e eu a abraço forte – Sem falar que eu ainda terei uma desculpa pra não ir no almoço da sua tia Grace – ela fala e nós acabamos rindo ainda abraçadas.
— Obrigada, mãe, muito obrigada! – ela beija minha bochecha e nos separa um pouco.
— Eu que tenho que te agradecer por ser exatamente assim como você é! E por me amar assim, do jeito que eu sou! – eu sorrio e beijo sua bochecha.
— Acho que não existi nenhuma maneira de eu não te amar – nós sorrimos uma pra outra e então as vozes e o barulho no andar de baixo nos desperta, nós saímos do quarto e encontramos Lou, Pietro e Pyter subindo as escadas correndo como três e não apenas duas crianças, Lou e Pietro contam animados como Pyter pagou sorvete pra eles e ainda brincou com eles no parquinho, mamãe dá atenção a eles e escuta com o máximo de animação que consegue, então Pyter se aproxima de mim, ele apenas para na minha frente e me olha nos olhos.
— Você sabe que eu te odeio né? – pergunto e ele abre um sorriso tão grande que me faz revirar os olhos, então ele me abraça apertado e tira meus pés do chão.
— Eu também te odeio, muito e pra sempre – ele fala e eu acabo rindo, ele me coloca no chão mas ainda me aperta me balançando pros lados e me fazendo rir ainda mais, quando já estou quase sem ar ele para mas permanece me dando apoio por que eu fico um pouco tonta, quando já estou bem, ele passa os dedos pelo meu cabelo e me dá um sorriso, depois um beijo na testa, eu também sorrio e o abraço, minha cabeça encostada no peito dele e seus braços em volta de mim, enquanto olhamos pra mamãe que continua com Lou e Pietro, até que eles começam a discutir quando Pietro diz que Lou ficou com medo quando Pyter balançou ela forte e ela nega, mamãe tenta fazer eles pararem de discutir e quando eu olho pro Pyter ele está me olhando e sorrindo.
— Isso te lembra alguma coisa? – ele ri.
— Mas era sempre você que começava – ele fala dando de ombro.
— Eu? Aham – ele ri e me aperta um pouco mais nele.
— Pelo menos a gente sabe que eles vão se amar pra sempre! – eu o olho de novo.
— Então você me ama? – pergunto com ironia e ele revira os olhos e me empurra.
— Eu te odeio, lembra? Fala sério – ele dá de ombros e se afasta, ele pega Lou que já estava batendo os pés irritada e a surpreende levantando ela o mais alto que consegue, imediatamente ela começa a rir e se esquece da briga e olhando eles eu me lembro da sorte que nós temos, não importa nossas diferenças, brigas e desentendimentos... Os momentos bons, nossa cumplicidade e nosso amor sempre serão mais fortes que qualquer coisa e usando a logica do Pyter tenho que concordar que os Everdeen Mellark sempre sobrevivem, não importa o quanto a vida ou destino nos teste.
Nós simplesmente nos recusamos a cair!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, andei bem ocupada, com alguns projetos novos, mas espero que tudo der certo, estou tralhando na montagem de um blog e do meu livro (eu sei, nem acredito kkkk) mas me desejem sorte, logo logo, conto mais sobre isso, beijos, obrigada por tudo! Vocês me inspiram!



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