Survivors escrita por Kaline Bogard


Capítulo 3
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada: obrigada, Akkira, pela recomendação que abalou as estruturas! Alguém chama o SAMU, a autora tá desmaiada! :D E eu vou responder seu review com todo o carinho que ele merece, hoje tá meio corrido, com a volta do site. Não fique ansioso!

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E termina mais uma fic epica xD Corror. O que será que a bondade do Taiga vai causar? Algum palpite?

Boa leitura!



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Survivors

Kaline Bogard

Capítulo 03

— Era um acampamento improvisado. Eles foram pegos de surpresa, porra — Daiki mostrou sua experiência em ler rastros. Apesar da confusão de marcas no chão, era bem fácil de montar a história do que acontecera ali.

Tudo estava destruído, devastado, saqueado.

Contaram cinco corpos no total. Três rapazes mais ou menos da mesma idade de Daiki e Taiga, cujas mortes foram rápidas e misericordiosas. Cada um deles tinha um tiro certeiro na cabeça, execução a sangue frio.

Já as outras duas pessoas...

Daiki aproximou-se do rapaz. Abaixou-se ao lado do corpo e pegou um par de óculos caído perto, todo retorcido e com respingos de sangue seco. Provavelmente tinha ficado assim durante a surra que o pobre infeliz levou antes de ser morto.

Taiga não respondeu. Estava usando o blusão que tirara de um dos rapazes para cobrir a única garota. Concentrava o olhar nos cabelos curtos e castanhos, para evitar olhar seu judiado corpo nu. Quanto sofrimento teria encontrado antes de ser assassinada tão covardemente?

— Oe — Daiki exclamou — Nada disso é culpa nossa.

— Eu sei — o rapaz respondeu triste.

— Animais fizeram isso — Daiki falou com firmeza. Taiga apenas balançou a cabeça. Não tinham nenhuma garantia de que a milícia com quem brigaram causara aquela tragédia. Mas tudo apontava naquela direção.

Irritaram os membros da gangue e foram jurados de vingança. Talvez os bandidos estivessem com raiva o bastante para descontar nos primeiros inocentes que lhe cruzaram o caminho. Parecia uma caravana das que migravam em busca de uma vida melhor. Fácil deduzir que iam para Tokyo.

— Isso é só... terrível. Sinto muito por eles. Se a gente tivesse enfrentado aqueles caras...

— Nem isso garantiria a segurança dessas pessoas, Taiga. Nós poderíamos ter vencido os três, seriamos caçados do mesmo jeito pelo resto do bando. E eles estariam no caminho. Não controlamos o destino de todo mundo.

O ruivo balançou a cabeça, desolado. Estava acostumado com a lógica racional e fria de Daiki, mas não conseguia pensar como ele. Ou agir como ele. Sentia por aquelas vidas perdidas, não conseguia evitar ser diferente.

— Quer voltar para Tokyo e se vingar? — Daiki sugeriu. A oferta era tenebrosa, bem o sabia. Contudo faria qualquer coisa por aquele cara. Até mesmo se jogar sem hesitar em um abismo.

Taiga negou. Era um cabeça-quente e impulsivo, agia no calor do momento. Mas planejar uma vingança desse jeito não fazia parte de seu temperamento. Achava que violência só gerava violência, saíram as pressas de Tokyo. Não por covardia ou medo, apenas para evitar o olho-por-olho.

— Vingança não resolve porra nenhuma — ele falou convicto — Mas vamos dar um enterro decente a essas pessoas.

— Tudo bem — Daiki estava de acordo com o pedido. Não era tão indiferente assim ao sofrimento alheio para virar as costas e deixar aquelas pessoas apodrecerem ao relento enquanto abutres devoram-lhe o corpo lentamente. Era capaz de mostrar piedade pela miséria humana.

Apesar da decisão, não encontraram pá ou qualquer outro instrumento que pudesse ser usado para cavar a terra árida. A única coisa que podiam fazer era cobri-los com um túmulo de pedras. Melhor do que nada.

E foi o que fizeram. Baldearam não apenas pedras, mas pedaços de concreto e o que ajudasse a improvisar o lugar que serviria de descanso para os cinco viajantes desconhecidos. Anoitecia quando deram o trabalho por terminado. E foi justamente nesse instante que Taiga arrepiou-se de um jeito inusitado.

— Ouviu isso, Daiki?

— O quê — o rapaz estava cansado demais pra ficar ouvindo coisas. Queria beber um pouco de água e esquentar algo pra comerem, que não fossem as benditas tirinhas de carne.

— Presta atenção! — Taiga disse quase com desespero, fazendo gestos com as mãos.

Daiki obedeceu, concentrando-se. O silêncio reinava na mesma proporção em que a escuridão da noite chegava. A não ser por aquele barulhinho irritante de...

— É um choro?

— Parece.

A dupla se entreolhou. Sim, a vozinha estava distante e fraca, talvez por isso não escutaram antes. Havia uma criança chorando em algum lugar por ali!

— Temos que achar! — o ruivo decretou sem hesitar em colocar as palavras em prática. Gesto que foi imitado pelo companheiro.

Não foi tão fácil encontrar o esconderijo da criança, colocada em uma vala rasa, coberta com algumas folhas da vegetação ao redor.

— Caralho, Taiga, aqui! — Daiki chamou, sem desviar os olhos daquela coisinha que chorava fraco, enrolada em grossos panos. Um bebê, na verdade.

O rapaz aproximou-se e nem pensou antes de fazer o que Daiki parecia temer: pegar o pequenino nos braços com cuidado e aconchegá-lo, enquanto sentava-se no chão.

— Acha que foi a mãe que o escondeu aqui?

— Saa. É provável que estivesse tentando protegê-lo.

Não era incomum que milícias raptassem crianças com intenção de aumentar o próprio exército. Talvez aquela mãe sequer imaginasse o destino que a esperava, pensando que depois poderia recuperar o filho.

— Minha hipótese é que essas pessoas viram eles se aproximando e tomaram providências para esconder isso.

— “Isso”? Não fale assim — Taiga ralhou, fazendo o outro girar os olhos.

— O que vamos fazer? — Daiki coçou a nuca.

— Não podemos deixar o bebê aqui — o ruivo soou um tanto alarmado.

— Cacete, Taiga. Eu nunca ia sugerir isso, não sou um monstro — Daiki se defendeu com rancor.

— Desculpa. Também não podemos levar de volta para Tokyo.

Estavam em um impasse que nem era tão impasse assim. Daiki podia ler a opção que seu namorado queria, evidente na forma cuidadosa que segurava o bebê, no jeito que já o olhava.

— Não podemos ficar com iss... hum, é menino ou menina? — sentiu-se curioso.

Taiga levantou uma parte da manta, dando uma espiadinha nas roupas puídas.

— Menino.

— Não podemos ficar com ele, Taiga. Você entende alguma coisa de bebês? Eu não.

O outro refletiu na frase por um momento.

— Não, não sei nada também. O que eles comem? — começou a ninar a criança para ver se parava de chorar. Já tinha visto mulheres agindo assim antes, geralmente funcionava — Acho que está chorando de fome.

Daiki coçou o pescoço.

— As mulheres seguram eles assim — imitou usando os braços vazios — Quando vão alimentar.

Taiga fez o mesmo, aconchegando o pequeno bebê ainda mais contra o peito. Não funcionou, pois ele continuou chorando baixinho, como se estivesse sem forças.

— Acho que só dá certo com mulheres — decretou depois de breves instantes — E se a gente der um pouco da comida desidratada.

— Não é muito forte? Pode deixá-lo doente.

— Que tal diluir menos pó em mais água?

Daiki analisou a criança que chorava fraquinho. Parecia desumano não tentar alimentá-lo da forma que fosse, tanto quando abandoná-lo a própria sorte naquela região praticamente desértica.

— Você venceu.

O outro apenas sorriu, ainda ninando o bebê. Já que não parecia disposto a soltá-lo tão cedo, Daiki tomou para si a tarefa de ir buscar as coisas deles e trazer para perto da vala, lugar que aproveitou para improvisar uma pequena fogueira, além de cercá-la com alguns blocos de concreto. Quem olhasse de longe não veria a claridade e o acampamento não seria denunciado. Então pegou uma lata presa na parte de fora da mochila e virou um pouco de água. Depois tirou o lacre de uma das latas de comida desidratada e virou um pouquinho de pó, completando-o com mais água antes de colocar tudo direto sobre o fogo.

Mal começou a fervura e um cheiro agradável se espalhou. As lacticínios eram de primeira qualidade!

— Acho que está pronto — Daiki mexeu a comida rala — Quer tentar?

— Esfria um pouco antes, caralho — a resposta veio um tanto divertida.

— Eu ia fazer isso...

— Sei! — acabou rindo.

Daiki riu também. Não entendia nada de crianças, mas era óbvio que um bebê não conseguiria comer nada tão quente. Que culpa tinha se não desenvolvera alguma noção de como cuidar de pirralhos? Nunca pensou que um deles cairia na vida deles assim.

Mexeu a sopa por algum tempo, assoprando-a, até que estivesse bem morninha.

— Aqui — estendeu a lata para Taiga, que a pegou com uma mão, enquanto a outra segurava o bebê com cuidado. Seu braço era grande, o que oferecia um abrigo perfeito! Em silencio, equilibrou a lata sobre o joelho e pegou uma pequena porção com a colher, levando-a aos lábios do garotinho. Na mesma hora ele parou de chorar e começou a sugar com avidez — Deu certo!

Taiga riu empolgado. O coração de Daiki falhou uma batida. Ele soube com toda a certeza do mundo que seu companheiro já se afeiçoara à coisinha miúda. Aquele grande coração se abrira e cedera espaço para o bebê que conheciam a cerca de uma hora.

Podia se posicionar contra e insistir que desviassem a rota até uma cidade e o deixassem aos cuidados de alguém. Apenas os dois já tinham dificuldades em se manter vivos. Como seria acrescentar tal responsabilidade? Se ficasse firme, convenceria Taiga a concordar com tal plano.

Mas poderia mesmo obrigá-lo a isso? Arriscar a tirar o brilho daqueles olhos que tanto amava? Desfazer aquela visão agradável: como um cara tão grande, estabanado e desajeitado podia se mostrar tão afável e gentil cuidando de um bebê? Nunca presenciara aquele lado do companheiro. Podia se acostumar com a cena.

Desviou os olhos para o menininho. Não podia negar uma coisa: aquele ser que mal chegara ao mundo já passara por uma grande provação, sozinho no sol escaldante, protegido por tênues galhos de vegetação e pela manta, por horas a fio até que ambos chegassem ali, a tempo providencial de salvá-lo.

Ficou tudo muito claro. O bebê era exatamente como eles: um sobrevivente.

— Como vamos chamá-lo? — Daiki se viu perguntando.

O outro rapaz ergueu a cabeça, sem esconder a surpresa.

— Tem certeza...?

— Nenhuma — ele deixou-se cair para trás, deitando-se no chão de terra — Mas que certeza a gente pode ter nessa porra de vida?

Taiga observou o rostinho redondo que sugava a colher com cada vez menos avidez. A pele estava com um aspecto mais saudável, adquirindo um rosado encantador. Os poucos fios de cabelo eram bem negros, assim como os olhos espertos. A criança era bem cuidada, sem dúvidas. Lamentou pela mãe que perdera a vida recentemente e a chance de ver o rebento crescer. O destino possuía um senso de humor duvidoso, talvez tivessem relação indireta com a fatalidade que acometera a caravana. Agora tinham relação direta com o futuro do menino em seus braços.

— Himuro — Taiga falou baixinho.

Daiki não disse nada. Aquele era o nome do irmão mais velho de Taiga, um menino que morrera de fome aos dez anos, não sem antes provar na pele como aquele mundo podia ser cruel. O episodio doloroso ensinara uma dura lição a Taiga: o jovem nunca desperdiçava comida. Dava valor a cada pequeno farelo, cada prato de gosto duvidoso, mesmo que ninguém mais o fizesse. Apenas que esteve a um passo de padecer a mingua sabia o verdadeiro valor de um alimento. Também fora nessa ocasião que Taiga desenvolvera um medo excruciante de cachorros. Nunca revelera os detalhes para Daiki, algo sombrio e assustador que, eventualmente, o fazia acordar suando no meio da noite, vítima de um pesadelo. Algo que o machucava apenas de lembrar, e por tal motivo Daiki não insistia em saber. Um passado terrível que envolvia seu amado companheiro e o irmão que não chegara a conhecer, mas que sofrera o inimaginável. Prometeu silenciosamente que faria de tudo para que aquele menino tivesse uma sina diferente do que lhe inspirara o novo nome.

D&T

O caminho de volta para casa acabou esticando-se em quase um dia a mais. Embora a presença do pequeno Himuro desse novas cores a cada passo. Taiga abrira mão de puxar o carrinho, apenas para carregar o bebê nos braços, deixando a tarefa a cargo de Daiki.

Aprenderam muito cuidando de Himuro, que afinal, era um humano em miniatura. Tinha necessidades, fazia sujeira! Essa última parte Daiki deixava a cargo de Taiga sem hesitação ou remorso! Principalmente porque cheirava muito mal...

Apesar disso, foi divertido. Aprenderam algumas coisas sobre bebês. A maioria graças ao instinto. E improvisação: roupas que foram rasgadas para proteger a criaturinha. A “fala de bebê” que fazia Daiki se derreter por dentro e implicar com Taiga, ainda que ele também a usasse ocasionalmente.

Tiveram sorte por duas vezes, acolhidos por chuva natural, de água pura. Podendo assim reabastecer os cantis que esvaziavam perigosamente. Quando faltavam poucas milhas para alcançar o esconderijo, pararam. Começaria uma série de procedimentos de rotina que usavam como proteção.

Só se aproximaram do lugar durante a noite, para evitar que qualquer pessoa os visse se esgueirando pela vegetação. Usaram o carrinho com galhos presos as rodas para revolver a terra e apagar qualquer sinal de pegadas.

Sorrateiramente se aproximaram de um amontoado de concreto e tijolos. Algo perdido no meio da paisagem desértica, distante de qualquer ponto civilizado. Cada movimento era cuidadoso, para ter a certeza de não serem flagrados por algum viajante perdido ou alguém a espionar secretamente.

Como Himuro dormia nos braços de Taiga, coube a Daiki arrastar sozinho e com esforço um bloco de cimento específico, que revelou um buraco no chão, pelo qual Taiga deslizou e desapareceu na escuridão. Alguns minutos depois voltou, sem o bebê e pegou o carrinho com as mochilas, arrastando-se até desaparecer debaixo da terra pela segunda vez.

O rapaz que ficara por último escaneou os arredores com um olhar arguto e concentrado. Não notou nada de suspeito, nem um som ou sombra. Seu instinto dizia que estavam seguros. Por isso quebrou um galhinho com haste cumprida de um arbusto perto e também deslizou parte do corpo pela passagem, deitado de costas de modo a poder puxar o bloco de concreto e ocultar totalmente a entrada secreta. Havia ainda uma última providência a se tomar: removeu entulhos menores ao lado do bloco maior, o suficiente para enfiar o galhinho para, com paciência, calma e dificuldade, deslizá-lo pelo chão apagando os traços de que algo acontecera por ali. Só então recolocou tudo no lugar e escorregou de vez para dentro do buraco. Arrastando-se de costas pela terra por um longo e angustiante trajeto, cada vez mais entranhado na terra, cercado de poeira, apertado a ponto de ser quase claustrofóbico, até ser recepcionado por inesperada luz e ar fresco.

Estava em casa.

E que casa. Um paraíso perdido remanescente que herdara toda a tecnologia dos dias precedentes ao Grande Cataclismo. Aquela era uma das estações do metrô que ligava duas grandes cidades. Havia luz graças a grandes placas de captação que se conectavam com o exterior para recolher e armazenar energia que abastecia o lugar. Também tinham água reaproveitada da chuva e de algum lugar das entranhas da Terra. Não entendiam direito como tudo funcionava. Aquele lugar fôra projetado e criado para ser auto-suficiente e sustentável tirando tudo da natureza sem a agredir.

— Coloquei Himuro na cama — Taiga chamou a atenção de Daiki. Começara a guardar as latas em um improvisado armário de madeira. Por “cama” referia-se a um colchão de casal que ficava na extinta bilheteria. Além disso, havia o espaço de banheiros. Usavam o que tinha a placa de uma mulher estilizada, porque o masculino ruíra e estava inacessível.

Essa era a casa deles: um pátio de tamanho razoável, local em que improvisaram um armário onde guardavam mantimentos e outras coisas, banquetas, e até uma mesa com pedaços de madeira velha. A bilheteria vertida em quarto e o banheiro. Apesar disso, tinham água e energia. Os filtros também funcionavam, purificando o ar.

Ainda parecia um sonho que conseguissem ter encontrado algo assim. Mais surpreendente era o fato de ter esbarrado com a passagem por puro acaso. Ou melhor, desespero pela fome. A dupla caminhava há quase dois dias, sem comida e com um mínimo de água. Daiki chegara a acreditar que ali estaria o fim para eles, até ter a impressão de ver um roedor desaparecer nos entulhos. A fome era tanta que mesmo a idéia de devorar um rato era melhor do que padecer de fome, ameaça que Taiga experimentava pela segunda vez em sua vida.

Ao invés do rato, encontraram uma família de raposas cinzentas. O desfecho da história era fácil de se deduzir. Quando os bichinhos sumiram por trás de um dos blocos, os dois rapazes arrastaram o obstáculo e foram atrás, perseguindo unicamente a promessa de comida. E encontraram o paraíso, além da refeição farta.

— Não vai caber tudo aqui, guarda essas revistas em outro lugar — Taiga pegou uma pilha de pornografia velha que Daiki colecionara e colocou no chão.

— Oe, cuidado com os meus peitões!

— Os seus peitões?! — Taiga riu.

— Você entendeu, caralho — Daiki foi pegar seu tesouro, pensando onde podia guardá-lo — Agora que a gente voltou vou continuar cavando na nossa horta.

Acabou colocando no chão, encostado a parede em duas pilhas menores. Aproveitou para deitar, usando as revistas como travesseiro e puxando uma para folhear de modo descompromissado. Gostava de estar em casa, a salvo, com a guarda baixa; sem precisar viver em alerta a cada segundo ou temer cada passo dado. Ali eram apenas Daiki e Taiga. E nenhuma daquelas pessoas de fora, perigos em potencial, riscos ao qual não tinham controle. E agora o pequeno Himuro, claro. Naquela familiar segurança Daiki 'desligava' as precauções, se entregava a paz, sabia que nada de ruim os poderia alcançar. Estavam a salvo. Egoistas, por esconder um lugar tão incrivel de outras pessoas? Talvez sim. Mas o mundo hostil os moldara e os ensinara que bondade demais nem sempre trazia bons resultados.

— Te ajudo com a horta — Taiga prometeu.

Tinham explorado as duas direções em que os trilhos seguiam, ambas bloqueadas por um desabamento, encerradas por uma barreira intransponível de concreto, tijolos e ferraria. Era impossível entrar por ali. Ou sair.

Em um dos lados, pacientemente, trabalhavam com afinco até conseguir tirar um dos moirões de sustentação dos trilhos, serrando-o com ferramentas improvisadas. O plano de Daiki era conseguir remover pelo menos mais um nos próximos dois anos, para ter espaço suficiente para plantar sementes geneticamente modificadas para sobreviver à ausência do sol. Teriam uma bela horta para ajudar na alimentação. Conheciam técnicas de tratamento de carne, de modo a fazê-la durar mais tempo.

Assim iam sobrevivendo como uma geração que nunca foi apresentada a um mundo diferente daquele que dançava a beira do abismo e total aniquilação de qualquer ser existente. Aniquilação que ainda não viera, pois a vida insistia em se renovar.

Até quando? Pergunta assustadora que ninguém sabia responder. Talvez o fim viesse mais cedo do que o esperado. Talvez quebrassem todas as expectativas e conseguissem passar da meia idade, fato raro na amarga realidade. E, pra dizer a verdade, nenhum daqueles dois jovens queria saber ou se preocupar com o futuro distante. Cada dia era precioso demais para ser desperdiçado. Ensinariam essa visão a Himuro, dariam-lhe ferramentas para vencer dia a dia.

Eram sobreviventes no mundo atual. E, por enquanto, sobreviver era o bastante.

Fim


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Notas finais do capítulo

E foi isso! Algo assim passou pela cabeça de vocês? Espero que faça sentido. O mundo devastado que eu criei é muito hostil. Depois fiquei pensando que o Taiga ia querer levar algum amigo pra 'casa', mas será que eles tem algum amigo ainda vivo? Talvez não. É complicado. Usei e abusei da licensa literária nesse caso.

Obrigada a todo mundo que passou por aqui. Sei que Universo Alternativo não é o genero preferido de geral, mas eu gosto bastante. Acho um desafio brincar com os elementos do original e tentar desenvolver de modo que convença. Aprontar com as personalidades desses dois e ver no que dá. As vezes funciona, haha!

É isso! Essa semana não teve Marcado, não é culpa minha. O Nyah! ficou off. Então sexta feira que vem a gente se vê /foge