Codinome: Estelar escrita por Ana Clara Medeiros


Capítulo 7
VII


Notas iniciais do capítulo

"Entristecer-se com a partida, mas dar chance para uma nova chegada"

Estelar está confiante de que esse novo pensamento que invade sua cabeça vai ajudá-la quando sua vontade finalmente for cumprida. É chegado o grande momento: todos os Titãs, inclusive membros da LJA se reúnem para dar adeus a garota dourada. Será que nossa querida princesa tamaraneana realmente deixará a Terra?



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– Uma estátua no hall dos heróis...? – Deixei com que a pergunta saísse mais alta do que deveria.

Uma grande parte dos Antigos Titãs estavam reunidos na torre quando cheguei de Gotham. Aparentemente, Cyborg havia ficado triste porque todos haviam mentido e me magoado, ao ponto de trazer toda a família, até mesmo a sumida Ravena, para me darem um pedido de desculpas solene, demorado e até emocionante. Senti-me melhor depois que ouvir da boca que todos o quanto era grande o arrependimento. Os laços nunca mais voltariam a ser os mesmos, contudo, pelo menos, iria embora sem guardar tanto rancor assim.

Porém, após todo o momento, decidi abrir logo o jogo e contei desde minha conversa com Dick até minha decisão. Resultado: A notícia não foi bem aceita logo de cara. Uma grande maioria pensou que eu tinha tomado aquela decisão somente por remorso da mentira, como se eu quisesse ensinar uma lição para todos deles. Tive de escolher muito bem as palavras e repetí-las mais de, sei lá, dez vezes para que se convencessem de que aquilo era o melhor para mim.

– Ainda vou demorar uns dois dias para partir. Preciso organizar uns últimos detalhes aqui na Terra, então sem despedidas por enquanto. – Pedi, tentando evitar muito choro antes da hora.

Por mais que o clima tivesse ficado bem estranho entre todos, tentei me focar em somente resolver os últimos detalhes da minha partida. Havia um projeto que eu estava a fim de colocar em prática, e com a ajuda da Mulher Maravilha e do Lanterna Verde, vi meu tão sonhado plano bem próximo de se tornar realidade. O olhar da então “mestra” de Donna Troy para mim era um tanto diferente, como se fosse uma mistura de orgulho e pena. No fim das contas, a maior parte das coisas já estavam resolvidas.

Impressionei-me mesmo foi quando voltei da base da LJA para a torre. Um reboliço imenso se instalara ali, com heróis voando para todos os lados. O sol começara a nascer na linha do horizonte, me fazendo sorrir imenso. Eu sentiria muita falta de testemunhar aquele espetáculo.

Mutano foi o primeiro a esbarrar em mim e me levar para uma sala adjacente à sala do hall dos heróis. Ao chegar lá, dei de cara com mais da metade de uma gigante estátua esculpuda ao meu formado. Engoli a seco.

– Enquanto você tava de papinho com os superiores da justiça, todos nós estávamos procurando uma maneira de te homenagear. Sabe, por tudo o que você fez por nós. – Sorrindo largamente, ele apontou com o queixo para o mármore claro. – A ideia foi minha. Todos acharam brilhante! Não sei por qual milagre, mais acharam brilhante.

Não pude evitar minha risada.

– Mas, Gar... Achei que só se ganhava uma estátua no hall dos heróis quem já havia morrido...

– Bom, a tradição é essa. – Concordando com meu raciocínio, Mutano ficou meio sem graça, mas logo expôs o lado brilhante de sua mente: - Mas se tem uma coisa que eu percebi e tenho para mim é de que o hall dos heróis nos faz exaltar aqueles que tiveram um enorme papel em nossa história. Não é preciso necessariamente ter morrido para se tornar uma lenda, e você se tornou estando inteirinha, Estelar! – Gar era o único que me chamava de “Estelar” na grande maioria das vezes. Incomodava-me no início com isso, mas depois que ele me explicou que “Estelar” era um nome especial, o meu nome de “terráquea”, acabei por deixar somente ele usar o mesmo.

– Acha que não voltarei mais para Terra, não é? – Perguntei com certo sorriso de pena no rosto. Aquela ideia havia sido realmente genial e muito linda. Por mais que tivesse certo medo de morrer ao ponto de só ser lembrada por uma estátua, toda a questão da homenagem e do significado que eu tinha para toda a família me emocionou muito por dentro. Porém, havia percebido em certo momento de tudo aquilo que eles não acreditavam mais que eu voltaria a pisar em seu solo, talvez pela mágoa ou por Dick.

Ele não negou. Simplesmente escondeu a expressão de tristeza mantendo o olhar fixo na estátua. Vários guindastes, homens e produtos importantes estavam naquela sala, que olhando por um âmbito mais amplo, era gigantesca!

– Realmente nada mais te prende aqui, Estelar. Sem falar que só formos honestos com você em última instância. Confesso que foi bem difícil pra mim, ainda mais eu com minha boca de arara. – De repente, meu amigo verde se transmutou na tal ave “arara”, pousando em meu ombro. – Querendo ou não, eu sei como você se sente. Isso da pessoa de quem gostamos não gostar de nós. Acredite, ter de encarar Ravena todo dia não é fácil. – Pôs uma das asas esverdeadas sobre o bico, como se estivesse se escondendo. – Mas, sabe como é... Eu sou daqui, e sem os Titãs, me torno apenas um riquinho de pele da cor do dinheiro. Obviamente que curto minha vida fora do serviço de protetor da humanidade, mas estar aqui até que é bem legal. Já você tem uma vida fora daqui, um dever com seu povo... E foda-se se o Dick é meu amigo, você merece alguém bem melhor do que aquele mala sem alça! – Ri alto com aquilo, tirando a ararinha do meu ombro e a abraçando forte.

– Awnnnn, Mutano! – Soltei um gritinho, totalmente feliz com aquilo.

– Cuidado ai, gatinha!! Não esquece que agora eu tô pequenininho!! – Em um piscar de olhos, Mutano voltou a sua aparência humanóide e me deu um abraço de verdade. – Me perdoa por ter mentido, Estelar. Sério.

– Não se preocupe. – Falei tentando engolir as lágrimas que já insistiam em querer nascer. – Tá tudo bem. – Larguei-o um pouco. – E você está muito enganado se acha que não virei visitar vocês!

– Caraca!! – Animou-se como um louco, já caminhando para fora daquela sala. – Garanto a você que da próxima vez que pisar aqui...

Olhei para trás alguns momentos antes de seguir o caminho, encarando o trabalho daqueles homens que em pouco tempo colocariam minha cabeça no topo do corpo... Engoli a seco novamente.

Ninguém estava com fome na hora do almoço. Até porque, ninguém parava quieto. De acordo com Cassie, todos estavam trabalho em uma cerimônia de despedida. Da janela da cozinha dava para ver a frente da torre, a qual estava repleta de cadeiras e mais cadeiras. Ao lado leste, havia um palco improvisado coberto por um pano púrpura, minha cor favorita. Incrível como tinham pensado em tudo.

Fiz minha refeição com sobras de um macarrão do dia anterior sozinha. Lembrei-me então o quanto a comida da Terra me foi estranha ao paladar no início, mas com o tempo o hábito surgiu, apesar de que aquilo que se encontrava em meu prato era realmente uma droga. Optei pedir por uma pizza e fiz com que somente os Antigos Titãs parecem com aquele trabalho todo, juntando-se a mim como nos velhos tempos no QG dos Titãs, juntos ao redor da grande TV de plasma.

– Não pedi para que fizessem tudo isso para mim. – Falei, tirando um pedaço da pizza para mim.

– Você escolheu ir embora, nós escolhemos fazer da sua partida um momento importante, porque realmente é. Não vejo problema. – Cyborg deu de ombros. Ele parecia ser o que mais não tinha gostado da ideia. Seu tom de voz comigo ficara um tanto mais frio.

– Pessoal, vocês são a minha família. Se fosse para haver uma despedida, que fosse somente com vocês, e não com todos os super heróis do planeta Terra!

– Parece até que você esqueceu o que aconteceu com nosso mundo quando a ameaça dos lanternas negros caiu sobre nós, Kory. – Donna, fazendo mais esforço para obter uma fatia devido ao braço direito e pescoço ainda imobilizados, falou. – Você ganhou um grande destaque nas Noites Mais Densas por ter lutado bravamente. Todos os heróis que se envolveram conosco na guerra acabaram por gostar de você.

– Não acha legal parecer uma estrela? – Mutano, transfomado em um rato, comentou enquanto roía a borda de queijo especial da pizza inteira. Ele sempre fazia isso.

Só depois de uns segundos que percebemos a piada do meu amigo verde, o que fez com que todos nós ríssemos um pouco tarde. Mesmo assim, o clima não abandonara seu ar tenso.

– Por mais que não consiga aceitar isso, cara Kory, a Terra também deve muito a você, tanto o quanto você um dia achou que devia a mesma. – Ravena flutuava sobre sua posição de meditação. Nunca comia pizza com todo mundo, mas amava estar no meio mesmo assim.

– Nós sabemos bem como é toda essa coisa de “laço” para os tamaraneanos. Sabemos que confiança foi algo pelo qual você sempre teve por todos nós. Não me sentiria diferente se soubesse que algum de vocês mentisse para mim, ainda mais se fosse algo tão importante quanto o Dick é para você... – Arqueiro Vermelho, ausente de metade do braço esquerdo, concordou. Estava cada vez mais magro, logo logo já estaria fora do campo de batalha. Apesar dessa evidente consequência, ele parecia feliz, como se a tragédia que lhe houvesse acontecido nas Noites Mais Densas tivesse lhe dado chance de enxergar coisas antes invisíveis. Percebi também os longos olhares que ele dava para Donna. Os dois, apesar de tudo, sempre se gostaram. Se tivesse a oportunidade de conversar à sós com ela, aconselharia-a a investir naquele romance.

– Tá bom... Sem falar desse cara de novo. – Pedi, levantando-me do sofá. Fiquei de frente para eles, para todos eles.

Por um milésimo de segundo, enxerguei a todos nós jovens como nos velhos tempos, assistindo a algum filme de terror estúpido que o Cyborg e o Mutano haviam encontrado na internet, tudo isso enquanto Ravena reclamava dos efeitos ruins, Donna e seu senso de mãe nos avisando de que não devíamos sujar nada, Roy e aquele jeito ridículo de jogar sujo, Kid Flash sem conseguir parar quieto no canto, eu e Robin... Mordi o lábio.

– Kory, você já tomou sua decisão. Por mais que a gente não tenha aceitado bem no início, agora estamos a apoiar você para o que precisar. – Em um piscar de olhos, Wally apareceu ao meu lado segurando meu ombro de maneira doce.

– A questão, princesa, é que todos aqui nos arrependemos do que fizemos, tá legal? – Cyborg também levantou, vindo em minha direção com sua expressão dura, porém totalmente maquiada. – Nós sempre formos uma família, independente de tudo o que tenha acontecido. Você se tornou parte dessa coração desde o momento em que Ravena disse que uma menina dourada entraria na equipe. Vamos sentir saudades e lembrar de você por tudo o que nos aconteceu, além de que aposto contigo o quanto todos nós nos arrependeremos de termos mentido para ti, por mais que você diga que estamos perdoados.

Todos tiraram a bunda do sofá e me rodearam.

– Você merece bem mais daquilo que estamos preparando, Estelar. Essa é só nossa maneira de pedir desculpas e obrigado ao mesmo tempo. Como o mais novo morcegão diria: Titãs, juntos!

Aquele abraço foi a melhor coisa que me aconteceu na Terra, sem sombra de dúvidas.

Eu havia lutado ao lado de várias pessoas nas Noites Mais Densas. Quando digo “várias”, insinuo que realmente o número não me vem na cabeça. Só naquele pátio eu contabilizei umas cento e trinta cadeiras, fora os super heróis voadores que preferiam ficar sobre as alturas, ou até mesmo os dos mares que assistiam tudo por um camarote feito das ondas do rio que banhava a torre Titã.

Engoli a seco mais uma vez, não sei se por nervosismo, pela sensação de achar estranho uma estátua minha em um hall destinado aos mortos, ou até mesmo por toda aquela gente me olhando. Talvez, ninguém dali me quisesse longe, mas a partir do mesmo em que eu realmente deixasse aquele sistema solar, eu seria somente o mármore nos confins da torre Titã. Uma parte de mim estava ciente disso. A outra parte estava tremendo ao ter de subir no palco para falar alguma coisa. Por sorte, a Mulher Maravilha assumiu o comando do microfone primeiro. Detalhe que toda a Liga da Justiça também estava lá, menos...

– Apesar da partida da heroína Estelar ser algo ruim, tenho muito orgulho de poder dizer que a mesma tomou uma iniciativa genial. Como todos vocês sabem, o Lanterna Verde criou uma aliança entre a Terra e o planeta dos Lanternas Verdes, como se houvesse uma espécie de consulado deles aqui e nosso lá. Sempre que precisamos de uma ajuda maior, os guerreiros do espaço estão a nossa disposição, como foi no caso das Noites Mais Densas. – Houve uma certa pausa, como se os dizeres da Mulher Maravilha tivessem, de algum modo, retirado a culpa do Lanterna Verde pela trágica guerra que nos assolou. – Do mesmo jeito seria se eles precisassem de nós, heróis terráqueos. Estelar veio até mim e Lanterna Verde com a proposta de criar um consulado terrestre em Tamaran, consequentemente, criando um consulado tamaraneano aqui na Terra. – A expressão dos Titãs foi de total espanto e alegria. Minha antiga família estava sentada na primeira fileira de cadeiras. Nós nos entreolhamos e sorrimos. – Isso significa que por mais que Kory precise ir embora para reconstruir seu lar, ela sempre estará disposta a batalhar ao nosso lado, e se uma tamaraneana é forte assim ao nosso lado, imaginem milhares? – A multidão de super poderosos uivou de alegria batendo palmas enquanto a Mulher Maravilha e o Lanterna Verde apertavam minha mão, demonstrando tanto orgulho quanto todos ali.

Assim que resolvi voltar para meu planeta, a ideia do consulado foi a primeira coisa que me veio na mente. Obviamente que minha dívida com a Terra era enorme por mais que dissessem o contrário, e eu faria de tudo para quitá-la. Além do mais, com dívida ou sem, eu jamais iria deixar de visitar o lugar que tão bem me aceitara, lar da minha família.

Caminhei com um sorriso no rosto a passos largos para o centro do palco. Pus as duas mãos para trás, tentando não deixar tão na cara o meu pequeno pânico. Nunca gostei de falar em público, nem quando meu pai me obrigava a fazer pequenos discursos para meu povo quando eu era mais nova. À contragosto, teria de aprender. Aquele era o ponto de partida para meu reinado.

– Eu agradeço demais a todos os aqui presentes. É muito bom saber que tantas pessoas me consideram aqui, no planeta que me acolheu da melhor forma possível. Vocês são só provas disso. Foi uma honra servir aos Jovens Titãs durante tanto tempo, e maior honraria ainda foi ter tido a oportunidade de proteger nosso lar ao lado de todo mundo. – Suspirei fundo para que pelo menos minha fala ficasse limpa em meio às várias lágrimas. Já não me importava mais se estava chorando. – Por mais que eu diga que irei voltar, terei de passar um bom tempo em Tamaran para poder deixar tudo nos eixos. Sentirei tanta saudade... Espero sempre ser lembrada como a Estelar emocional – Escutei algumas risadinhas marotas. – que de certa maneira criou laços com todos aqui. Eu terei de ser uma princesa em Tamaran, e aposto que reinar um planeta inteiro jogado na ruína será uma tarefa bem difícil, mas se tem algo que aprendi aqui é que não devemos duvidar de nós mesmos. Tenho certeza que serei uma boa governante, porque vocês, acima de tudo, me ensinaram como ser humana, e por mais que toda raça tenha seus problemas, vocês são incríveis. Obrigada de verdade.

Os aplausos estouraram. Todos ficaram de pé, até mesmo os que voaram e estavam para fora da terra firme se juntaram para que todo mundo ficasse em um único plano. Curvei-me umas quatro vezes, tentando agradecer da melhor maneira que podia. Soprei beijos para todos os Antigos Titãs antes de me preparar para voar.

– Kory!! – A voz do Flash soou alto mesmo estando lá em baixo. – Passe na base da Liga da Justiça antes de tomar rumo para Vega!!

Mesmo estranhando o seu pedido, fiz o que me pediu.

Ao estar acima da atmosfera terrestre, já vislumbrando todo o planeta de longe, inclusive o pôr do sol, percebi o quanto havia deixado metade do meu coração com todos. Bem pertinho dos satélites que transitavam na órbita, a gigantesca base da Liga da Justiça em forma de nave espacial mantinha-se firme. Adentrei na mesma, achando o pedido do Flash ainda mais estranho. Se todos os integrantes estavam na minha despedida, quem diabos...

– Olá, Kory. – Dick apareceu no andar de cima, descendo as escadas lentamente. Não vestia mais os trajes do Batman, e sim sua antiguíssima roupa de Robin, que ao meu olhar, parecia estar um pouco mais apertada. Se eu não estivesse tão chocada, teria rido. – Desculpe pela intrometimento no seu caminho. Sei que daqui até o Sistema Vega é uma distância considerável até para você.

– O que... – Tentei falar.

– Sei que estou ridículo nessas roupas. – Um ar de riso adentrou em seu ser. Sem máscara, o verdadeiro e limpo Dick Grayson. – Agora, olhando para elas de outro modo, fico me perguntando se Bruce não me fazia vestir isso somente para gozar com minha cara.

A minha então “despedida” com Dick havia me feito, de certo modo, não esperar mais nada dele. Eu estava tão triste pela mentira e por tudo que a mesma havia causado que não me toquei que no fim de tudo havia algo bom: ele havia escondido o fato de ainda me amar, e tinha feito tudo aquilo pensando na minha proteção. Nas duas últimas noites antes de me organizar para partir, pensei ter levado aquilo em consideração, contudo, em todos os encontros que tive com toda a Liga da Justiça, ele não estava lá, muito menos havia dado sinal de vida. Meu coração aceitou o que parecia ser impossível, mesmo contra uma vontade avaçaladora de ainda amá-lo do mesmo jeito.

– Achei que você ignoraria o pedido do Wally e simplesmente iria embora. Tive que apostar na sua curiosidade aguçada, se não, teria vestido isso aqui para lada. – Riu um pouco, mostrando a capa que mais agora parecia parte da camisa.

– E por que está vestido assim? – Arqueei uma das sobrancelhas, finalmente recobrando a consciência.

Depois de um breve suspiro, Dick falou: - Porque eu queria que sua última lembrança minha fosse uma coisa boa, e nada melhor do que eu vestindo isso na primeira vez em que nos encontramos, quando você simplesmente caiu do céu e eu te segurei nos braços.

Afastei-me dele, segurando meus próprios braços.

– O que quer de mim, Dick? Que eu me arrependa de ir embora? Acha que todo esse seu joguinho vai funcionar comigo de novo? – Perguntei com a voz já embargada.

Olhando-me com uma expressão que certamente aprendera ao tornar-se o Batman, ele apenas pronunciou as seguintes duas palavras: - Sem joguinhos.

Sua seriedade promoveu-me uma espécie de medo, como se duvidar dos sentimentos de Dick fosse um pecado. Apenas pedi desculpa com o olhar e fiquei frente a frente com ele.

– Você sempre foi uma guerreira muito habilidosa e forte, Kory, e o mais incrível de tudo é que, mesmo tendo os sentimentos muito opostos, isso nunca te enfraqueceu. É normal que os heróis terráqueos abandonem suas esposas e família após entrar para o ramo ou chegue até a evitar relacionamentos pelo bem dos mesmos. Arriscamos quem amamos todos os dias, e é mil vezes melhor sair ferido de uma batalha do que ver outros se machucando por você. Essa foi uma das primeiras lições do Bruce. O problema é que eu e você sempre formos partes do mesmo time, ambos somos super heróis. Mesmo que nosso relacionamento tenha passado por vários problemas, mesmo com um casamento que nem chegou a acontecer, etc, eu sempre estive disposto a salvar você, Kory, como você também estaria. – Apesar do pânico iminente, ele não se abateu ao tentar segurar minha mão. – Nenhum dos perigos que enfrentamos se comparou a este.

– E de qual perigo você está falando?

– De nós dois. Eu quis te salvar de mim e de você, Kory. – Mais uma vez ignorou meu evidente espanto. – Era notória a situação dos Jovens Titãs quanto ao afastamento e evidente separação no futuro. Eu conheço você e sei o quanto sofreria com isso. No fim das contas, eu iria querer ser o seu refúgio da mesma maneira que você gostaria de se proteger no meu peito. Mas eu já havia aceitado a proposta de substituir o Bruce, e assim como você, coloquei minhas obrigações em cima de mim mesmo, em cima do meu amor por você. Devo isso ao Bruce, Kory. – E eu o entendia. Sua dívida com o ex-Batman recordava-me da dívida que eu tinha com a Terra e com Tamaran. Apenas confirmei com a cabeça, sentindo-me culpada por não perceber tudo aquilo antes, deixando somente minha ignorância falar mais alto. – As responsabilidades que o Batman carrega nas costas são imensas, porque além de Gotham, como um dos principais membros da Liga da Justiça, preciso estar atento ao mundo todo. Se queria ser um bom Batman, teria de fazer direito, sem distrações. Você me vira a cabeça, Kory. Não tem noção do que eu faria por ti.

Foi então que percebi porque tanto eu estava engolindo a seco. Aquela era uma mania velha do Dick sempre que eu o provocava quando estávamos juntos. Acabei adquirindo o estranho hábito após um tempo, achando aquilo uma linha tênue entre o estranho e o fofo. Nós dois, mesmo sem perceber, havíamos nos tornado um só ser, como nos amores em Tamaran. Eu finalmente havia achado o que tanto procurei, mesmo que já soubesse daquilo antes.

– Ficaria preocupado em ter você por perto, ainda mais se a separação dos Titãs realmente viesse a acontecer. Por isso preferi induzir um futuro diferente para você. Te perder, tudo por causa de uma mentira minha, foi a pior coisa que já me aconteceu, e todos os dias em que vivi um dia a mais foi apenas mais um dia em que não iria poder te ter como sempre te tive. – Abaixou a cabeça. – Foi dolorido guardar isso para mim. Pior ainda foi convencer todos os nossos amigos. Porém, todos nós concordamos que sua segurança e instabilidade emocional era mais importante.

– Dick... – Havia chorando muito na minha cerimônia de despedida. Não sabia como ainda podia ter tantas lágrimas guardadas.

– Quando você foi me procurar, eu sabia que todo o meu plano havia ido por água abaixo, e que provavelmente eu havia te magoado mais do que qualquer um. Não encontrei palavras que pudessem expressar o que senti naquele momento, tanto que somente deixei o básico me sair. Ainda é árduo me deixar tão exposto para alguém, por mais que seja você, Kory. Já podia imaginar que sua descoberta me renderia muitas coisas ruins, mas nunca nem se passou pela minha cabeça que você iria deixar a Terra...

– Não estou indo embora por sua causa, Dick. Não somente por isso. – Admiti. – Entenda que não foi somente a desfragmentação dos Titãs e minha decepção com você. Eu visitei Tamaran depois do nosso desastre matrimonial, e lá eu pude enxergar a realidade que deixei para trás. Eu sou a princesa Koriand’r de Tamaran e preciso salvar o meu povo, povo esse que acredita na família real mesmo depois de tudo! Eu só precisava me desprender um pouco da Terra e você, com toda essa história, ajudou. No fim das contas, seu plano de me fazer seguir em frente deu certo. – Tentei fazê-lo olhar para mim. Não estava mais zangada agora que sabia da verdade. Querendo ou não, todas aquelas coisas haviam me levado para ali, para onde eu realmente tinha de ir. Males que vieram para um bem maior, supus.

– Não queria te ver partir, Kory.

Suas palavras me pesaram tanto que pude jurar ter diminuído ao tamanho de uma formiga. Contanto, eu era mais forte que o arrependimento.

– Sabe que não vou desistir de ir. – Dick apenas confirmou com a cabeça.

– Assisti toda a sua cerimônia daqui. – Apontou com o queixo para o gigantesco computador (conseguia ser maior que aquele trambolho do Cyborg!) que se encontrava na sala. – Acho que acabaria me exponto demais aos outros, sem falar que gosto dessa ideia de que o que tivemos foi único e nos deve permanecer somente aos nossos olhos.

– Eu entendo. – Tentei sorrir de canto, abraçando sua mão com a minha.

– Mas eu obviamente não irei deixar que meu orgulho nos prive de uma despedida somente nossa. – Sem que eu pudesse esperar, Dick puxou-me para seu corpo, me mantendo confortável em seus braços. – Você vai ser a melhor princesa que Tamaran já viu, Kory. Não se esqueça de que para qualquer problema, não só eu como os outros também estarão aqui para ajudar. – Senti seu nariz roçar meu pescoço. – Sei que na última despedida nossa, eu te prometi algo e não fiz por onde. Também peço desculpas por isso. Acredite pelo menos agora, por favor, quando digo que eu amo você de maneira imensurável, meu amor, para além das estrelas, e esse tipo de sentimento meu sempre será seu.

E após todas as suas lindas palavras, selei nosso adeus com o beijo mais apaixonado que eu e Dick Grayson já havíamos trocado.

Entre o sistema Vega, divisa entre a via láctea e mais de 20 planetas, lá está Tamaran, lar do povo cor de estrela, lar da princesa guerreira que amarrou para sempre seu destino nos braços de seu amor, Dick Grayson, além da sua forte aliança com os Jovens/Antigos Titãs. Seu legado, assim como seus poderosos raios cor de folha, jamais serão esquecidos enquanto o nome da justiça, dos sentimentos e dos super herórios prevalecerem. Aquela que antes recusava o título, agora só se permite ser chamada pelo seu codinome. Afinal, é a família que lhe batiza. Princesa Estelar de Tamaran, a eterna.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos os leitores que acompanharam a fic. Foi realmente incrível essa minha primeira experiência. Espero que tenham gostado tanto quanto eu!!



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