Codinome: Estelar escrita por Ana Clara Medeiros


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

A vida não está nada fácil para os Novos Titãs. Após uma fervorosa batalha contra Trigon, pai de Ravena, e sua prole de filhos demoníacos, uma surpresa abala a equipe: seu ex colega de combate, Jericó, perde a noção de seus poderes e sai causando problemas até para a Liga da Justiça. Em meio a tudo isso, Dick Grayson, o primeiro Robin, agora sob a identidade de Asa Noturna, convoca uma reunião com todos os Novos Titãs para um anúncio importantíssimo.



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- ... Estou saindo da equipe. – Parecia que Dick falara aquilo mais para si do que para nós, mas mesmo assim, todos ouviram claramente e sabiam o que aquilo queria dizer. Uma decisão daquele porte, tomada simplesmente pelo líder dos Novos Titãs não era um blefe, um equívoco vindo de acontecimentos passados. Se ele fosse embora, era para nunca mais voltar.

Minha expressão deve ter revelado o que acontecera dentro de mim quando aquelas palavras abordaram meus ouvidos. Pude sentir todas as partes do meu corpo partindo-se em mil pedacinhos. Nada me parecia ter razão. Nos cantos mais ocultos do meu ser, pude enxergar a tentativa de recomposição de mim mesma, como se uma projeção de um futuro sem Dick Grayson já quisesse ser aceita pelos meus neurônios. Não era apenas no amor que aquele homem interferia, e sim em toda uma vida construída no planeta Terra desde que eu caíra no mesmo.

Ninguém ousou questioná-lo, muito menos perguntar o porquê daquilo. Cyborg foi o primeiro a se levantar. Apertou a mão de Dick como se todos os anos de trabalho e amizade dos dois pudesse ser transmitido com aquele gesto. Ambos sorriram. Em seguida, os outros tomaram coragem e acenaram com a cabeça, despediram-se de maneira simples, porém carregada de emoção. Mal havíamos nos juntado pela segunda vez e já estávamos perdendo o líder, o início de tudo.

Acordei dos meus pensamentos quando Mutano, tocando levemente em meu ombro, indicou o grupo que rodeava o mais novo ex-Titã. Alguns olhares já estavam voltados para mim. Não os culpava por estarem curiosos quanto ao que eu iria fazer, como iria reagir. Afinal, Dick e eu éramos sinônimo de todas as coisas possíveis e impossíveis entre amigos, entre casal. Nossa situação atual não era lá uma das melhores, contudo, não se podia negar o passado e meus sentimentos. Em nossa última conversa, ele não mencionara nada sobre ir embora. Eu estava tão antônita quanto todos. Antônita e devastada.

Suspirei fundo, erguendo o queixo. Jamais iria baixar minha guarda na frente de todos, por mais que me conhecessem por ser sempre muito transparente quanto minhas vontades. Sabia que não era o caso, mas não daria a Dick o gosto de me ver chorar por ele, pelo menos, não com mais de doze olhos sobre nós. Aproximei-me de seu corpo que me era tão familiar e sem encará-lo, o abracei fortemente. O resto do grupo uniu-se ao nosso conforto. Estava feita nossa despedida.

Após aquela reunião que marcaria o duvidoso destino dos titãs, a grande maioria voltou para seus respectivos “lares”. Poucos continuaram na torre: para ser mais exata, apenas eu, Cyborg e Mutano. Dick foi um dos últimos a deixar o lugar, não fazendo mutio alarde. Simplesmente pôs todas as suas coisas em uma mochila e saiu pela porta da frente, pelo início do fim. Evitar ir ao seu encontro estava fora de cogitação. Ele me devia, pelo menos, um adeus descente e íntimo.

A lua estava cheia e brilhante, refletindo nas águas calmas. A areia era lambida pelo mar vez ou outra, deixando as proximidades da torre mais sólidas, com um aspecto duro. Dick seguia a pé pelo caminho trilhado, já estava quase na metade do percuso quando apareci em sua frente, descendo do céu. Seu sorriso de canto de boca relaxou a expressão daquele rosto já sem máscara.

- Achei que aquela fosse mesmo a última vez que eu a veria. – Ele disse.

- Eu não estava muito à vontade com todos ali para me despedir de você do jeito que eu queria. – Admiti, os ombros um tanto caídos pela vergonha de ser tão estúpida e apaixonada por aquele humano. – Senti que deveria vir falar com você em uma ocasião mais reservada.

- Sobre o que quer falar? – Para parecer mais confortável com a situação, pôs as mãos nos bolsos da calça.

- Sobre nós, obviamente. Não vamos fingir surpresa, por favor. – Mordi o lábio, tentando não soar rígida. Respirei fundo para alcançar todas as palavras que eu queria dizer. – Se acha que vou pedir para você ficar, está enganado. Não sei quais são os seus motivos, mas mesmo que esses motivos me sejam desconhecidos, eu os aceito. Eu o apoiarei não importa aonde você esteja. – Engoli a seco. – Também não me sinto traída. No fim das contas, não estamos mais juntos. Você não tinha a obrigação de me contar os seus planos para o futuro. Contudo... De jeito nenhum posso dizer que estou feliz com você indo embora para sempre dos Titãs, principalmente da minha vida.

- Kory... – Pude sentir pena em seu tom de voz, o que me machucou ainda mais.

Interrompi-o com uma pergunta: - Você se lembra de quando íamos nos casar?

Sua típica risada fundiu-se com o som das ondas quebrando, trazendo uma paz serena para o ambiente.

- Como poderia esquecer?

- Pois é. – Abracei os meus próprios braços, tentando afastar de mim as lembranças ruins que me cercaram: Ravena destruindo toda a festa, o caos estampado no rosto de todos... Além da minha partida. – Ver amigos machucados, ter tudo destruído por uma mulher que hoje faz parte da minha equipe, perder a chance de casar com o amor da minha vida, ter de deixar todos... – Percebi que sua cabeça se mexia em concordância, como se pudesse ver tudo aquilo em um filme dentro de sua mente.

- Posso te fazer uma pergunta antes de terminar seu pensamento? – Concordei com a cabeça. – Por onde você andou durante esse tempo? Seu planeta foi destruído...

- Fiquei viajando pelos principais pontos do espaço. Centurion, Nebulosa 92K, entre outros. – Arqueei uma das sobrancelhas. – Por que pergunta?

- Você passou muito tempo fora, Kory. Três anos. Imaginei que...

- Eu tivesse achado outra pessoa? – Concluí por ele. Seu olhar para mim confirmou tudo. – Por acaso, você também se lembra do que me disse quando eu estava prestes a ir embora?

Confirmando com a cabeça, nós dois relembramos juntos: “- Eu te esperarei pelo tempo que for”.

As lágrimas me subiram aos olhos. Tive de manter minha visão concentrada em um único ponto de seu rosto para que eu não me jogasse em seus braços aos prantos.

- Eu honrei essa promessa. Quando eu dei meu coração para você, não foi um empréstimo. Claro que houveram tentativas de aproximação, mas nenhum deles era Dick Grayson. – Um silêncio gigantesco se instalou perante nós. – Passei por muita coisa na minha vida. Vi meu planeta ser destruído, fui expulsa do meu próprio sistema interplanetário, vim parar em um lugar totalmente desconhecido, cheio de coisas novas... Estava tudo uma droga até eu vir para Terra, até eu te conhecer. Por mais que tenhamos tido nossos altos de baixos, por mais que o nosso casamento tenha terminado em confusão, por mais que tudo tenha conspirado contra, eu continuei amando você, minha alma gêmea. Você terá o meu amor até o fim dos meus dias. – Não pude evitar. A água escorria com precisão dos meus olhos. A expressão de Dick era um misto de surpresa, dor e nostalgia. – Me desculpe se fiz você esperar demais. Não quis em nenhum momento que você deixasse de me amar...

De repente, meu corpo ficou envolvido pelo calor sobrenatural de Dick. Suas mãos apertaram minhas costas do jeito que somente ele sabia que eu gostava. Meus braços enlaçaram seu pescoço, e pude derramar toda a dor que eu sentia sobre seu peito. Não me importava mais com que ele poderia achar de mim: fraca ou não, sentimental ou não, aquela era eu.

- Não se culpe pelos acontecimentos. O que tivemos foi lindo e especial, jamais me permitirei esquecer. Imprevistos acontecem, o destino é imutável, Kory. Não demos certo, simplesmente. Vai haver alguém que vai te amar profundamente do jeito que você merece, do jeito que eu nunca fui capaz de lhe retribuir. – Pude perceber que sua atenção estava voltada para os meus lábios. Um último beijo...

Recuei um pouco para trás e selei meus lábios em sua testa.

- Adeus, novamente e para sempre, meu eterno Robin. – Não pude deixar de sorrir entre lágrimas ao dizer aquilo.

- Adeus, Estelar. – Com um aceno de cabeça e a surpresa da minha negação no olhar, Dick continuou a andar rumo ao que a vida preparara para ele.

Não ousei olhar para trás. Bem na minha frente, encontrava-se a grande e majestosa torre dos Novos Titãs, um prédio gigantesco e majestoso em formado de um T maiúsculo, digna moradia dos seres mais poderosos daquele universo particular. Enxuguei meu rosto rapidamente e suspirei.

Eu conhecia bem aquela dor que expremia meu peito. Foi a mesma que senti quando descobri que todos os tamarianos haviam sido destruídos pelos povos da Cidadela. Nunca achei que fosse recobrar aquela sensação horrível para mim mesma.

No entanto, o luxo do sofrimento era algo que eu não podia comprar. Ainda não havíamos detido Jericó, sem falar que, totalmente desfalcados, precisaríamos de novos ajudantes e de um novo líder. Poucos da original união Titã estavam na ativa, e eu iria cuidar para que tudo voltasse a andar na linha do jeito que as coisas eram. Eu iria proteger aquele planeta que tão bem me acolhera com todas as minhas forças.

Ao som do meu próprio sofrimento, voltei para o meu lar, na espera de um amanhecer que pudesse propiciar o melhor para os Novos Titãs.


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Notas finais do capítulo

Com a moral do grupo abalada, todos retomam suas antigas vidas. Estelar, Mutano e Cyborg são os únicos ainda preocupados com a iniciativa Novos Titãs. Começa então uma nova fase, onde recrutar adolescentes com talentos especiais é essencial. O que será que irá acontecer?



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