Paranoia escrita por Yokichan


Capítulo 7
Capítulo 7




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No domingo, eles recebem um amigo de Mark para o almoço. Edgar trabalha com Mark na empresa, é um pouco mais velho — talvez na faixa dos trinta e cinco — e tem uma aparência agradável. De barba bem aparada, olhos amendoados e um suéter cinza claro que o faz parecer um homem muito tranquilo, Edgar aperta a mão de Annie depois de cumprimentar o amigo. Ela se sente confortável para sorrir um “como vai?” e oferecer-lhe o sofá.

Eles conversam enquanto o almoço não fica pronto — Annie preparou salmão assado com batatas e suflê de queijo. Edgar elogia o bom gosto do apartamento e então passam a falar sobre o tempo, sobre a boa localização do bairro e sobre vinhos. Mark comenta que escolheu uma safra especial para acompanhar o almoço e Annie diz que espera que Edgar goste de salmão. Ele se mostra ansioso por experimentar e confessa sua decepção pelo gosto superficial da comida dos restaurantes que costuma frequentar, já que não é casado e mora sozinho.

Annie se sente num ânimo tão descontraído durante o almoço que quem não soubesse nada a seu respeito e a visse naquele momento pela primeira vez jamais imaginaria que ela sonha coisas tão terríveis. Agora, ela é apenas a noiva de Mark conversando com uma pessoa interessante. Como uma mulher comum, ela tira os pratos da mesa quando terminam de comer e serve a sobremesa em taças de vidro. Ela não pensa em nada estranho quando sorri à afirmação de Edgar de que nunca comeu um pudim tão maravilhoso. A Annie que se manifesta em outros momentos se retirou para o fundo da inconsciência, ao que parece.

Eles se acomodam outra vez nos sofás para beber café.

— Você adoraria ver a coleção de livros da Annie, Edgar. — Mark diz.

— Você gosta de ler? — ela pergunta com entusiasmo.

— Sou fascinado por isso. — Edgar sorri.

— Ele está escrevendo um livro, Annie.

— É mesmo? E sobre o que é?

— Digamos que sobre os sonhos. — Edgar bebe outro gole de café.

O brilho de animação desaparece dos olhos de Annie e ela o olha como se não entendesse por que alguém escreveria um livro sobre esse tipo de coisa. Mark comenta que seu café está um tanto amargo e se levanta para buscar o açucareiro. Edgar coloca então a xícara de volta sobre o pires e encontra o olhar confuso de Annie.

— Pelo visto, você não acha que é um assunto sério o bastante para um livro.

— Por que você está fazendo isso?

— Escrevendo sobre os sonhos? Porque eu penso que precisamos entendê-los. Você não acha?

Sem perceber, ela aperta e torce os dedos sobre o colo.

— Você costuma sonhar, Annie?

— Sim.

— E que tipo de sonhos você tem?

— Sonhos ruins. — ela fala como se não estivesse mais ali.

— Como você se sente sobre esses sonhos ruins?

— Eu sinto que eles ainda vão acabar comigo.

— Mas por quê?

— Porque eles não terminam quando eu acordo.

Annie olha para as mãos e ri baixinho, embora todo o bom humor de antes tenha sido esmagado pelo pavor que agora se arrasta sobre a pele e a sufoca. Annie sente que dói falar sobre os sonhos e lembrar-se deles. Abraça a si mesma como se sentisse frio e não olha mais para Edgar, mal percebe que ele ainda está ali. Apesar de seus pedidos para que Annie conte mais sobre o que acontece naqueles sonhos, ela simplesmente o ignora e deixa a sala para fechar-se no quarto.

Mark volta da cozinha e se senta diante de Edgar.

— E então, doutor? O que você acha?

— Ela está doente. E isso não é apenas uma impressão minha. É uma certeza.

— Annie está... — Mark não consegue terminar a frase.

— Leve-a ao meu consultório na segunda-feira. Eu posso ajuda-la.

Depois que o Dr. Edgar vai embora, Mark afunda no sofá. Ele pensa que arranjou toda aquela cena — que pediu a um médico psiquiatra que fingisse ser outra pessoa para poder “analisar” Annie, embora esse médico seja amigo da família e tenha entendido sua aflição — apenas para ter certeza de algo que já sabia. Annie está sofrendo e ele precisa ajuda-la.


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