A primeira vez que o viu sentiu-se como se mil borboleta ocupassem sua pequena barriga. Seus olhos puxados não pareciam mais tão bonitos quanto sempre pareceram, até mesmo seu vestido florido parecera simples demais para a situação.

Sempre havia sido alguém, mas não para você. Nunca fui realmente alguém para você, fui apenas um brinquedo. Uma dentre tantas outras.

Porém, para mim, você sempre será o único.

Ainda se lembrava de suas jaquetas de couro e seu sorriso encantadores, como se escondesse um segredo apenas nosso. Talvez fosse pelo fato de realmente escondê-lo.

Você me estragou, garoto.

Me estragou com seus beijos e suas belas mentiras, não me sinto melhor em dizer que as preferi em relação a suas amargas verdades. Naquele dia, havia pensando em me matar. Apenas uma queda de uma das altas janelas de uma casa de campo. Apenas mais uma garota morta cedo demais.

Quando fecho meus olhos ainda posso sentir sua boca de dezesseis na minha de apenas catorze, posso sentir como se fossemos realmente infinitos. Como se em algum lugar do tempo nós ainda existíssemos.

Nós, você.

Só sobrou eu.

Apodrecida e jogada fora, como um fruta estragada dentre tantas outras frescas. Talvez você encontre esta carta jogada ao mar em um belo dia de sol, talvez seja apenas uma criança lendo palavras duras demais para sua idade, ou talvez a encontre por acaso no meio de uma tempestade, não posso afirmar ao certo.

Essa é a graça da vida.

Contudo, saiba que fiquei esperando até meus últimos segundos, presa dentro de minha própria cabeça. Mergulhada completamente em minha própria loucura, até que finalmente o próprio mar me engoliu. Tudo quando percebi que a verdadeira piada era eu, talvez queira rir de mim.

Eu mesma fiz isso.

Para sempre sua,

Sua única amiga.