Fallen From The Sky escrita por Tia Ally Valdez


Capítulo 6
Akhlys


Notas iniciais do capítulo

Oláááááááááááá! Sentiram minha falta? :3
Gente, o cap de hoje tá BEM grande! E muito fofo em várias cenas, afinal, Thalico está começando a surgir! :3
Temos muitas tretas, revelações e sentimentos confusos! :3
Nem vou enrolar!
P.O.V da Lia! :3
Bjoks! *3*



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Thalia

— Ah, pelos anjos! – Exaltei-me. – O que aconteceu?

Isabelle estava em desespero, revirando a mochila de Nico, que eu passei para ela, à procura de medicamentos.

— Esse idiota se jogou na minha frente! – Explodiu.

— De nada, pardalzinho rabugento... – Leo gemeu baixo de dor. – Só não podia deixar uma linda chica como você se ferir.

Ela revirou os olhos enquanto tirava, com cuidado, a flecha de seu abdômen e a observava.

— Não está envenenada.

Percy e Annabeth suspiraram de alívio. Soltei o ar que nem sabia que estava segurando.

— Eu não vou morrer?

— Não... – Isabelle deu-lhe um tabefe enquanto enfaixava o ferimento. – Mas bem que podia, estúpido!

— Ai, ok! De nada por ter tentado salvar sua vida!

Ela revirou os olhos, mas tinha um sorriso de canto.

— Obrigada. Só não faça mais isso, ok?

Leo apenas sorriu, apesar de estar coberto de sangue.

— Ele perdeu muito sangue. – Falei quando o silêncio se instalou. – Vamos voltar para o Hotel e amanhã seguimos viagem.

Percy assentiu e foi até o banco da frente. Annabeth foi junto com ele e virou-se.

— E Nico?

Ao me lembrar de Nico, fui depressa até o banco de trás, onde ele estava deitado. Levantei sua camiseta com cuidado e arquejei ao ver as veias negras já alcançando seu peito.

— O que houve? – Izzy me encarou.

— O veneno não era de um demônio inferior. Está se espalhando muito rápido!

— Quanto tempo? – Annabeth nos encarou.

— Se tivermos sorte? Um dia.

Percy freou o carro bruscamente.

— COMO ASSIM UM DIA? NÃO PODEMOS PARAR PARA DESCANSAR!

— LEO ESTÁ FERIDO! – Isabelle argumentou. – TEREMOS QUE ARRISCAR!

— E DEIXAR NICO MORRER?! DE JEITO NENHUM!

— Parem com isso... – Nico só pode ser ouvido devido silêncio que se instalara quando Isabelle respirou fundo, preparando-se para dizer algo. Tanto Percy e Isabelle quanto Annabeth se viraram bruscamente. Nico tossiu um pouco. – Vamos parar para descansar. Eu tomo outro banho frio. Durmo mergulhado numa banheira com gelo se for necessário. Leo precisa descansar.

— Mas, Nico... Há uma grande chance...

— Se eu morrer, que eu morra. Melhor do que mais alguém morrer por minha culpa.

Percy suspirou. Sabia que seria inútil discutir com Nico. Ele dirigiu até o Hotel onde estávamos e entramos. Deixei que Nico se apoiasse em mim e subimos até o quarto em que estávamos, 505.

— Vou tomar outro banho. – Disse. – Mas preciso de ajuda.

Eu o encarei.

— Não precisa ficar nu. Apenas com roupas de baixo.

Entrei no banheiro primeiro e enchi a banheira que havia lá com água fria. Nico entrou um tempo depois. Usava apenas uma boxer preta.

— Está muito fria. – Avisei. Nico assentiu e entrou devagar na banheira, mergulhando até os ombros.

— Meu Deus! Está fria mesmo! – Sua voz saiu trêmula. Nem passaram cinco minutos e ele estava tremendo. Os dentes batiam de um modo que chegava a me deixar com frio também.

— Fria até demais. – Mergulhei a mão na banheira. – Eu vou acabar te deixando doente. – Bufei. – Não consigo fazer nada certo desde que cheguei aqui!

— V-você me conheceu. Isso foi a coisa mais certa que já fez! – Nico sorriu um sorriso trêmulo. Contive minha vontade de afogá-lo naquela banheira por fazer piada num momento daqueles.

Sentei-me ao lado da banheira conforme Nico ainda tremia na mesma. Contive um soluço e esfreguei as têmporas com força. Eu precisava fazer algo para ajudá-lo! Ele tinha que ficar por um tempo na água gelada. E iria acabar congelando se não recebesse ajuda.

Mas o que? O que eu posso fazer para ajudar?

— Calor humano! – Lembrei-me.

— O que? – O rosto de Nico tornou-se completamente vermelho quando levantei-me e tirei a jaqueta e a camiseta. – O-o que você está fazendo?

— Quer congelar? – Eu o encarei. – As veias negras já estão recuando. Viu só? Agora você precisa se aquecer!

Apenas de roupas íntimas, entrei na banheira devagar, encaixando-me ao lado de Nico e envolvendo-o da maneira que pude. Obviamente, eu estava tão vermelha quanto ele. Mas era uma necessidade de sobrevivência. Ou eu faria algo, ou Nico morreria congelado. Ele tinha que ficar por, pelo menos, meia hora na banheira para retardar o veneno por tempo suficiente para algumas horas de sono.

— Obrigado... – Nico ainda tremia. Mas os tremores já não tinham a mesma intensidade de antes. O rosto continuava vermelho.

— Não precisa me agradecer... – Nem percebi que estava tremendo, fazendo com que Nico virasse de lado e também me envolvesse. Aquilo era o mais próximo que já estive de um garoto desde Luke. – Agora eu é que agradeço.

Nico riu baixo.

— Não precisa agradecer. – Imitou-me. Sorri. – Quando eu vou poder sair daqui?

— Espere mais alguns minutos.

Nico bufou baixo. Os lábios estavam azulados. Os dentes ainda batiam sem parar. Mas ele conseguiu sorrir apesar de tudo. E eu não pude evitar devolver aquele sorriso conforme o envolvia com mais firmeza enquanto me encolhia em seus braços.

[...]

— Vai ficar de vigia? – Nico me encarou conforme ia para debaixo dos lençóis.

Sorri conforme me sentava perto da janela e me embrulhava no cobertor que ele me entregou.

— Não consigo dormir mesmo.

Nico sorriu de canto e levantou-se, vindo embrulhado no lençol até o outro lado do parapeito da janela, sentando-se de frente para mim.

— Você quer falar sobre aquilo?

Ergui o olhar, tentando lembrar o que Nico queria que eu dissesse.

— Aquilo o que?

Ele se aproximou.

— Os grilhões. Por que se sentiu tão incomodada?

Desviei o olhar para a paisagem metros abaixo. Era bom ver a paisagem de cima. Me fazia imaginar que ainda tinha minhas asas. E voava sobre as nuvens. Ao mesmo tempo, era assustador, por fazer com que eu me imaginasse caindo velozmente em direção ao chão. Sem asas. Sem armas. Sem nada. Por fim, decidi que desviar o olhar era a melhor opção e o encarei.

— Há um ano, fui raptada e mantida em cativeiro por um grupo de Renegados. Eles queriam a posição exata das Tropas de Ártemis.

Nico ainda me encarava.

— É o que vai me deixar saber? – Ele me antecipou antes que eu o respondesse. – Não se preocupe, Lia. Não vou pressionar você. Mas pode contar comigo se precisar de algo.

Solucei baixo. Olhando para o chão.

— Eles... Eles me torturaram, Nico... – Solucei um pouco mais alto. – Eles colocavam ilusões cruéis em minha mente. Ilusões de morte. Mostravam meus piores medos e me causavam dor. De todas as maneiras mais cruéis que podiam imaginar... – Tentei falar mais. Saiu apenas um soluço. Eu estava cansada. Cansada de guardar a dor e as lágrimas para mim. Talvez libertá-las tivesse sido a atitude mais correta que eu já havia tomado. – Eles...

Não consegui falar mais nada. Desabei em lágrimas no segundo seguinte. Nico se aproximou de mim e, assim como eu fiz na noite anterior, me abraçou com força. E eu me permiti desabar ali, naqueles braços frios, porém confortáveis. Nico não disse nada. E eu agradeci por isso. Lembrar-me daqueles momentos horríveis fez com que eu entrasse em colapso. E eu nunca me senti tão feliz por ter alguém ali para me amparar, apesar de nunca ter coragem para dizer isso a ele.

— Eu não durmo... – Solucei. – Porque tenho medo de acordar e ver que nunca saí de lá... Tenho medo de acordar gritando em pesadelos... Eu tenho medo de acordar e ver que meus medos se tornaram realidade bem em frente aos meus olhos...

— Shh... – Sussurrou. – Está tudo bem, Lia... Eu estou aqui, ok? Não precisa ter medo... – Nico me envolveu com mais força.

— Às vezes... Eu acordo sentindo as dores que senti... É tão horrível... Viver com esse fardo, Nico... Eu odeio sentir medo... E odeio mais ainda confessar que estou com medo!

— Não odeie sentir medo, Thalia... Eu me escondia dos meus problemas... Dos meus medos... E me escondo até hoje. – Nico me encarou, secando as lágrimas em meu rosto com os polegares. – Está tudo bem em ter medo. Todos nós temos. O medo é só um desafio para superarmos. Não o veja como um obstáculo entre você e seu objetivo.

Solucei novamente, afundando meu rosto em sua camiseta.

— Nico... Eu ainda tenho medo. Desde criança, eu sempre tive medo de ser ferida... Medo de ser torturada... – Solucei mais uma vez. – E... Eu só queria... Esquecer.

— Shh... Não precisa ter medo... Estou aqui com você, Thalia...

Continuei soluçando, apesar de meus soluços terem perdido a intensidade de antes. O sono me invadia aos poucos. Nico devia ter notado, porque, no segundo seguinte, senti o colchão macio sob minhas costas. Nico estava se afastando quando segurei sua camiseta.

— Fica... – Pedi. Eu nunca confessaria, mas precisava de alguém comigo naquele momento. Não queria ficar sozinha. – Por favor...

Mesmo não o encarando, podia jurar que Nico sorriu, meio corado, como sempre. Ele deitou-se ao meu lado e eu, como nunca mais havia feito desde que Luke virou um Renegado, encolhi-me em seus braços, me odiando profundamente por me sentir protegida neles.

E também nunca diria a Nico que eu o ouvi sussurrar as palavras que me fizeram sentir mais aliviada que nunca:

— Eu nunca vou deixar que algo aconteça com você.

[...]

— Thalia... – Ouvi Nico me chamar. – Acorde.

Mexi-me devagar e abri os olhos. Não devia ter dormido. Era para que eu ficasse de vigia caso algum Renegado invadisse o quarto. Mas eu não pude resistir. Todo o peso que eu tirei de mim ao falar para Nico sobre aquelas lembranças horríveis fez com que eu me sentisse tão aliviada que não contive o sono. E aquela foi a primeira noite dormida na qual eu não tive pesadelos.

— Nico? – Abri os olhos para fitá-lo. Depois os arregalei. Por quanto tempo eu dormira? Quanto tempo de vida Nico perdeu? – Que horas são?

— Dez e meia. – Nico olhou o relógio. Arregalei os olhos novamente. – Problemas?

— Levante-se! Arrume a mochila! Temos que ir o mais rápido possível!

— O que houve?

Eu o encarei enquanto arrumava meu cabelo às pressas.

— As veias negras estão visíveis, Nico! – Terminei de arrumar o cabelo, vesti a jaqueta e o ajudei a levantar. – Dá para vê-las em seu pescoço!

Nico correu até o banheiro e arregalou os olhos. Depois caminhou até mim, quase correndo.

— E agora?

— Me espere no saguão! – Pedi, correndo até o quarto de Isabelle.

— Izzy! – Soquei a porta. – Arrume-se! Estamos atrasados!

Pude puvi-la gritando algo para Leo (talvez um xingamento) antes de sair de lá.

Corri até o quarto de Percy e Annabeth e abri a porta. Os dois estavam acordados, correndo pelo quarto enquanto arrumavam as malas.

— Thalia? – Percy me encarou. – Estamos...

— Atrasados! Eu sei! Não temos muito tempo!

Ele assentiu e eu desci as escadas novamente, parando no segundo seguinte.

— Não dê mais nenhum passo... – Luke se encontrava no centro do saguão. E segurava Nico com firmeza. A lâmina de Mordecostas pressionada contra sua garganta. – Ou eu encurto a vida do seu namoradinho.

— Cara, eu não sou o namorado dela. – Nico resmungou. Não faça uma piada agora, pelo amor dos anjos!— Porque se refere assim a mim? Porque eu não fiz uma merda digna de uma linda cicatriz no rosto?

Luke rosnou e pressionou a lâmina com mais força.

— Acha que estou brincando? – Sibilou. Engoli em seco.

— Não faça isso, Luke. É só me dizer o que você quer... – Cada movimento meu era observado atentamente por Luke. – Eu faço o que você pedir. É só soltá-lo.

Luke riu debochadamente.

— E se eu quiser matá-lo? O que você vai fazer?

Fiz minha lança surgir em minha mão.

— Atravesso você com a lança. Depois a retiro e cravo em você de novo. Até que você implore pela morte. – Rosnei. – Então eu te torturarei... Como você ordenou que me torturassem. E só quando você estiver gritando, afogado em loucura, eu vou te matar. Lenta e dolorosamente.

Luke quase não disfarçou seu medo. Ele acreditou em cada palavra minha. E disfarçou seu nervosismo pressionando a lâmina com um pouco mais de força.

— O que será que acontece se eu fizer outro corte nele? Será que eu acelero o veneno? – Ele sorriu de canto. Um sorriso cruel. – Ah, já deve ter notado que seu precioso anjo da Terra tem pouco tempo de vida... Acha mesmo que Akhlys fará um acordo? Acha que ela não o deixará morrer pelo poder?

— Eu vou pagar qualquer coisa. Ela com certeza tem um preço. E o deixará morrer se eu não pagá-lo.

Ele riu novamente.

— Sempre assumindo a responsabilidade por um problema que não é seu. Quando você vai parar de ser tão ingênua?

— Assim que você parar de falar muito e fazer pouco! – Atirei a lança, que atravessou seu ombro direito. Luke gritou de dor e soltou Nico. Corri até ele e o ajudei a levantar. – Ele te feriu?

Nico negou.

— Acho que eu já teria morrido se tivesse. – Ele me encarou. – Obrigado.

Em resposta, dei-lhe um tabefe.

— Onde estava com a cabeça?! Fazendo piada num momento daqueles!

Nico riu baixo.

— Desculpe. Foi mais forte que eu.

Revirei os olhos, apesar de sorrir.

E quase não vi Luke erguer a espada atrás de Nico.

Num movimento rápido demais até para mim, joguei Nico no chão, tirando Umbra de seu bolso naquele meio-tempo e bloqueando o golpe de Luke com o cilindro de metal escuro.

Luke rosnou, resmungando algo sobre meus reflexos, e tentou me atacar. Joguei Umbra para Nico. Depois me lancei no chão, rolei antes que Luke me atingisse e peguei minha lança, coberta com seu sangue.

Bloqueei outro golpe de Luke e o ataquei de volta. Fiz um corte em seu braço. Ele rosnou e tentou me atacar outra vez.

— Desgraçada! Fique parada!

— Olha, rimou! – Nico encolheu-se quando o encarei. – Não aguentei. Desculpe.

Revirei os olhos e voltei-me para a luta.

— Sabe... – Luke sorriu cruelmente, atacando-me com a espada. Bloqueei o golpe com a lança, cruzando as duas armas. Luke aproveitou a oportunidade e aproximou seu rosto, ainda forçando sua espada contra minha lança. – Eu deveria ter deixado que violassem seu corpo naquele dia. Deveria ter deixado que eles chegassem a esse ponto para que você enlouquecesse a ponto de tirar a própria vida.

Disfarcei a dor, o trauma. Segurei as lágrimas com força.

— Não quero saber dos seus arrependimentos!

Eu deveria ter violado você. Deveria ter tomado seu corpo... Mas seu irmãozinho tinha que chegar antes... – Ele rosnou. – Eu vou matá-lo, Thalia. Eu vou matá-lo bem em frente aos seus olhos. Assim como você viu nas ilusões. Eu quero que você grite quando eu atravessar o corpo dele com a espada.

Solucei baixo. Lágrimas borraram minha visão e eu quase fui subjugada. Antes que Luke me atingisse, desviei, derrubando sua espada com a lança. Ele riu. Sabia que havia me enfraquecido.

Então não foi difícil para Luke me derrubar com um chute. Solucei baixo quando caí no chão, lembrando-me das ilusões onde eu via Jason morrer bem em frente aos meus olhos.

— Foi mais fácil do que eu esperava... – Luke riu, imobilizando-me ao ficar por cima de mim. Ele deslizou a mão pelo meu rosto, fazendo com que eu sentisse nojo. Estremeci. – Relaxe, Thalia... Prometo me divertir muito com você antes de te matar...

Debati-me, tentando escapar. Luke tocou meu rosto mais uma vez. Solucei baixo.

— Não toque nela! – Nico jogou-se sobre Luke antes que ele me tocasse novamente. Solucei, odiando-me por ter sido fraca. Por quase ter perdido a luta. – Não ouse tocar nela novamente!

Luke rosnou, mas gritou quando Nico atravessou seu ombro esquerdo usando Umbra. Ele o chutou, afastando-o, mas estava ferido demais para lutar.

Luke levantou-se e me encarou. Depois encarou Nico, que se colocou em minha frente.

— Você não perde por esperar Thalia... Assim que seu namoradinho morrer, eu irei atrás de você! E ninguém vai me impedir de te matar!

Ele sumiu num flash prateado no segundo seguinte.

Nico caminhou até mim.

— Você está bem?

Neguei, soluçando baixo.

— Eu não estou bem, Nico... Eu fui fraca. Teria morrido se não fosse por você.

Não pude evitar me lembrar das palavras dele na noite anterior.

“Eu nunca vou deixar que algo aconteça com você.”

— Vem aqui... – Ele me ajudou a levantar. Depois segurou meus ombros. – Você não foi fraca, Thalia. Ele não te enfraqueceu. Apenas trouxe seus medos de volta. Ele é tão covarde que precisou fazer você se lembrar do que te fizeram para conseguir te atacar. – Nico me encarou. – Você foi forte, Thalia. Foi forte porque, se fosse comigo, eu já teria largado a espada. Já teria sido morto. Teria parado de lutar.

Sorri fracamente, abraçando-o com força. Ouvi passos atrás de nós e Percy, Annabeth, Leo e Isabelle chegaram ao saguão.

— Perdi alguma coisa? – Leo sorriu maliciosamente, fazendo Izzy lhe dar um tabefe. – Ai!

— Idiota. – Ela revirou os olhos. Depois me encarou. – Tudo bem, Thalia?

Apenas assenti, sem soltar Nico. Estava tão confortável ali, em seus braços. E, embora detestasse confessar, me sentia segura. Eu nunca mais me senti tão segura nos braços de um garoto que não fosse Jason.

O momento só foi interrompido quando Leo pigarreou, fazendo Nico me soltar, completamente corado e sem jeito. Eu não duvidava de que estava na mesma situação.

— Temos que ir queridos! Depois vocês namoram!

Encarei Leo com meu melhor olhar mortal, fazendo-o ficar quieto e disfarçar a risada com uma tosse.

— Ele tem razão. – Nico levantou-se com certa dificuldade. – Temos que ir. Sinto que não tenho mais muito tempo.

Assenti e fomos todos para a van. Nico não precisou de ajuda para subir, mas insistiu em ficar ao meu lado, o que complicara as coisas, já que eu me sentia confusa em relação a ele, resultando num sentimento estranho de ódio. Não raiva, mas um ódio por não conseguir decifrá-lo. Por não conseguir decifrar meus sentimentos por ele.

Não faça isso Thalia! Sem garotos! Lembre-se de Luke e do que ele fez com você!

Mas Nico é diferente...

Você jurou para si mesma que nunca mais se envolveria amorosamente com um garoto.

Suspirei, calando meus pensamentos, e encarei a janela.

— Thalia? – Nico me chamou. Virei-me para encará-lo. – Você tem alguma ideia do preço que Akhlys vai exigir?

Neguei devagar.

— Não tenho ideia, mas por que quer saber?

— Talvez, se for um preço alto demais, eu não valha tudo isso.

Apenas sorri de canto, Tantos anjos que foram envenenados diziam à Akhlys que pagariam o que ela pedisse e ele ali, dizendo que morreria sem pensar duas vezes se o preço fosse alto demais.

— Mas talvez, para outra pessoa, você valha. – Sorri, voltando-me para a janela. Nico permaneceu em silêncio.

— Odeio Akhlys. – Isabelle resmungou no banco da frente. – Ela é repugnante.

— Tem o nome da deusa dos venenos e da miséria na mitologia grega. O que esperava?

Isabelle apenas revirou os olhos e voltou a instruir Leo pelo caminho. Percy encostou o rosto no vidro e gritou ao olhar para fora. Nico deu um salto e o encarou.

— O que foi agora?

— Tinha um bicho estranho lá! – Ele apontou para um espaço vazio.

— Diga-me que ele não tinha asas. – Murmurei.

— Ok, eu não digo.

Bufei. Isabelle encarou Leo.

— Acelere, agora!

Leo assentiu e acelerou no mesmo momento em que garras perfuraram o teto da van, arrancando-o.

— EI! – Gritou Leo. – VOCÊ VAI PAGAR O CONSERTO, IDIOTA!

— Aquela é a Sra. Dodds? – Nico arregalou os olhos. – Você não tinha matado ela?

Rosnei ao perceber que Luke estava usando magia negra para trazer monstros mortos de volta.

— É... E o nome dela é Alectó. Não Sra. Dodds.

Nico deu de ombros.

— Continua tendo cara de morcego.

Revirei os olhos, não contendo um sorriso.

— Precisamos chamar a atenção dela! Está apenas circundando a van para atacar quando pararmos.

— EI! – Chamou Percy. – MATEMÁTICA É UMA DROGA E VOCÊ TAMBÉM É!

— É ISSO AÍ! – Leo gritou também. – TÁ RODANDO POR QUÊ?! PARA CALCULAR A EQUAÇÃO DA CIRCUNFERÊNCIA IMAGINÁRIA QUE VOCÊ ESTÁ DESENHANDO?!

— Equação da... – Comecei, confusa. Nico riu baixo.

— Teve sorte de não ter que passar por isso.

Sorri levemente. Alectó inclinou-se e atacou a van, que inclinou-se por um momento, quase caindo. Izzy levantou-se, fazendo com que as sombras ao seu redor formassem um arco negro. Ela pegou uma flecha, mirou e atirou.

Alectó desviou no último segundo, mergulhando em alta velocidade. Arregalei os olhos e pronunciei um encantamento simples e rápido de proteção. Alectó guinchou, quase atacando Izzy e voltando subitamente, conseguindo apenas sua luva direita, Isabelle praguejou.

Alectó atacou a van novamente e o veículo inclinou bruscamente para o lado. Fui parar em cima de Nico, que segurou minha cintura pra que eu não caísse. Percy agarrou-se fortemente à janela e Leo já segurava o volante.

Isabelle inclinou-se para trás, para a janela aberta. E teria batido feio a cabeça se Leo não houvesse estendido a mão e segurado seu pulso.

— Não faça isso! – Tarde demais. A pele de Isabelle ganhou um tom bronzeado. Os cabelos ganharam cachos e as orelhas ficaram levemente pontudas. Era uma cópia feminina de Leo.

— Uou! – Percy fechou os olhos com força quando o segundo ataque de Alectó veio.

— Como...

— Explicações depois! – Isabelle virou-se para cima. – Ela está voando logo... – E gritou alto.

Olhei para cima, vendo uma labareda subir aos céus e atingir em cheio a asa de Alectó, que caiu.

Leo freou a van bruscamente e os óculos de Nico caíram outra vez. Eu teria caído também se o moreno não houvesse agarrado o banco com força e envolvido minha cintura com a mesma força, impedindo-me de cair e bater a cabeça numa estrutura de metal, onde os assentos eram fixados.

— De onde você tirou fogo, mulher? – Leo encarou Izzy, que, aos poucos, voltava à sua forma original. E eu nunca imaginei que a veria assustada daquela maneira.

— De... Você.

Leo apenas ficou em silêncio, chocado demais para falar algo. Ele virou as costas e desceu da van.

— Aquela coisa rasgou os pneus. Teremos que seguir a pé.

— Quanto tempo? – Percy encarou Isabelle.

— Não muito... – Ela apontou para a reserva florestal em nossa frente. – Ela mora ali.

Nico olhou para a reserva e riu baixo.

— Ela gosta de fazer piqueniques com as famílias que vêm aqui no feriado de 4 de Julho?

— Na verdade, ela gosta de envenenar a comida dessas famílias. – Isabelle o encarou severamente. – Tente não fazer piadas com ela. Akhlys não é flor que se cheire.

— Claro que não... Flor venenosa não se cheira. – Leo riu baixo. – Entenderam? Venenosa... Akhlys... – Ele percebeu nossas expressões. – Que chatos vocês são.

— Não somos chatos. – Nico cambaleou. Cheguei ao seu lado e deixei que se apoiasse em mim. – Você é que não tem graça.

Leo deu a língua. Isabelle fez suas asas surgirem e levantou voo.

— Achei a cabana! Está numa parte do bosque protegida por um feitiço de ocultação!

Assenti e Isabelle pousou ao meu lado. Juntas, nós duas guiamos o restante do grupo pela reserva. Leo cantarolava uma música qualquer. Percy e Annabeth iam de mãos dadas, conversando baixo. Nico quase não respirava ou falava. Parecia imerso em seus próprios pensamentos. Preferi não incomodá-lo, afinal, eu estava imersa em meus próprios pensamentos sobre ele. Ia chamá-lo para que? Para perguntar se seria em mim que ele estava pensando?

Senti o feitiço logo que atravessamos parte do bosque. Isabelle me encarou e eu me aproximei, falando na língua dos anjos.

Meu nome é Thalia Grace, herdeira de Zeus. E eu e aqueles que me acompanham desejamos ver Akhlys.

Ouvi um som parecido com o de metal rangendo e passei pelo feitiço, logo sentindo a diferença no ar, que parecia tóxico. Ervas venenosas enfeitavam o caminho, agora escuro, da floresta onde estávamos. A única coisa que nos impedia de se perder era a pequena trilha de pedras que seguíamos.

— Não encostem em nenhuma planta. Algumas são de seu conhecimento e outras não. Algumas causam queimaduras e outras uma coceira insuportável. Tão insuportável que pode ser capaz de te fazer arrancar a própria pele.

Leo arregalou os olhos.

— Que horror!

Continuamos o caminho pela trilha, que parou em frente a uma cabana com uma aparência bem conservada para uma cabana onde uma feiticeira mora há eras.

— Que gracinha... – Leo estremeceu ao ver a estrutura. Aquele lugar tinha uma aura horrível e assustadora. – Já me sinto convidado a esperar do lado de fora.

Revirei os olhos. Depois encarei Isabelle.

— Isabelle, espere aqui com os outros. Eu e Nico vamos entrar.

Ela tentou protestar, mas viu em meus olhos que aquela era uma tarefa minha. Eu me sentia responsável por Nico. Meu pai estava prestes a me dar a missão de encontrar o anjo da Terra quando fomos atacados. Então Nico ainda era meu dever. Minha responsabilidade.

Que triste ironia fora o fato de ele ter me encontrado. E não eu a ele.

— Thalia... – Nico murmurou muito baixo quando entramos. A porta se fechou bruscamente atrás de nós e Nico tombou para frente.

— Nico! – Tentei segurá-lo, mas ele caiu tão subitamente que acabou por me pegar desprevenida. Ergui sua camiseta e arquejei alto.

As marcas alcançaram seu peito.

Nico estava muito perto da morte.

— Não... Nico... – Segurei seu rosto. – Olha pra mim! Não desista agora! Estamos aqui, Nico! Vamos conseguir! Não desiste, por favor! – Olhei para o interior da cabana, iluminado por velas. Prateleiras e mais prateleiras de frascos de plantas, ervas e poções enfeitavam a entrada. – AKHLYS! APAREÇA! AGORA!

— Não precisa gritar, alteza... – Uma voz feminina fez com que eu olhasse naquela direção.

Akhlys era linda!

Ela parecia ter 18 anos. Tinha a pele clara. Tão clara quanto a minha. Os longos cabelos louros caíam em cachos até a metade de suas costas, dando um lindo contraste aos olhos verdes. Usava um longo vestido preto, com apenas uma alça. Joias de esmeralda a enfeitavam. Ela carregava consigo um véu negro.

O véu da morte...

— Akhlys... Eu...

— Quer que eu salve o anjo da Terra. – Akhlys sentou-se no sofá, se deliciando com a cena: eu, chorando em desespero, fazendo o máximo para manter Nico acordado. – E o que eu ganho com isso, se me permite perguntar?

— Qualquer coisa que pedir! – Eu estava em desespero. E nunca havia me sentido tão fraca em toda minha vida.

— Thalia... – Nico murmurou muito baixo. – Não...

— Qualquer coisa, Thalia? – Akhlys se aproximou. O véu negro ondulou quando chegou perto de Nico, aumentando um pouco seu tamanho. – Mesmo que seja um preço alto?

— Apenas... Salve ele... – Sussurrei. – Por favor...

Akhlys sentou-se no sofá que havia ali e riu alto, divertindo-se com aquilo.

— Não faça isso, Thalia... – Nico sussurrou, perdendo a consciência aos poucos. Estava frio. Levei uma das mãos ao seu peito. O coração quase não batia.

— NICO! – Sacudi-o em desespero. – Nico, acorda! Por favor! – Solucei. Ele não se movia. – Por... Favor. – Encarei Akhlys, coberta de fúria. – O QUE VOCÊ QUER?! POR QUE NÃO FALA LOGO?!

— Não sei... Estou cogitando deixá-lo morrer. Sinto tanto poder fluir para o véu...

— Akhlys... Eu imploro!

Ela riu novamente.

— Não me diga que o anjo da Terra amoleceu seu coração, alteza! – Akhlys se aproximou. – Sabe que tanto o meu preço quanto o preço desse seu sentimento por ele serão altos, não?

— DIGA LOGO A DROGA DO PREÇO!

Akhlys riu. Depois se aproximou devagar.

— Seu sangue, Thalia Grace... Eu quero uma gota do seu sangue.

Arregalei os olhos.

— Mas... Pra quê?

— É assim, Thalia... Se você fizer qualquer coisa que possa me prejudicar ou se eu quiser aumentar o véu... Eu enveneno você, querida!

Encarei Nico, imóvel e inconsciente. Depois solucei e encarei Akhlys.

— Quero sua palavra... – Sequei as lágrimas. – De que vai curá-lo.

Akhlys caminhou até mim e abaixou-se perto de Nico. Com um movimento, a camiseta do moreno sumiu. A ponta da unha escarlate de Akhlys tocou seu peito.

— EU poderia curá-lo exatamente agora, querida... Porque sei que você vai me dar o que eu pedir. Porque de mim você não pode esconder o que sente.

Estremeci ao ouvir aquelas palavras. Daquele momento em diante, eu odiaria Akhlys pelo resto da minha vida. Solucei um última vez ao olhar para Nico e a encarei.

— Eu aceito.

Akhlys sorriu, tirando das vestes uma pequena agulha.

— Então... – Ela furou meu indicador com a pequena agulha. – Temos um acordo.


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Notas finais do capítulo

"Eu nunca vou deixar que algo aconteça com você". MEU DEUSSSSSSSSSSSS! COMO EU AMEI ESCREVER ESSE TRECHOOOO! CHOREI LITROS! VOMITEI ARCO-ÍRISSS!
Gente, meu deus... Daqui a pouco vou ser processada por excesso de fofura em fics. Nico é uma graça! :3
O que estão achando de Thalico? Não está lindo?
Vou postar assim que puder!
Digam o que acharam! E a Akhlys? Linda, não é? Eu acho que talvez ela apareça novamente! E vai diva na purpurina porque eu adorei ela! :3
Até o próximo! o/
Bjoks! *3*