Isabelle

Sorri levemente ao espiar pela janela e ver Thalia e Nico rindo enquanto dançavam de maneira engraçada. Era muito bom saber que ele a fazia sorrir em momentos difíceis como aquele. A música acabou e foi substituída por uma mais calma. Fazendo com que os dois se abraçassem e dançassem ao ritmo da nova música.

— Espiando? – Ouvi a voz de Leo e tive um sobressalto. – Que feio... – Brincou. – Não se pode espiar as pessoas.

Ri baixo.

— Estou vendo algo que vale à pena espiar. – Indiquei a janela e Leo seguiu meu olhar, sorrindo também.

Durante o mês que passamos na casa de Travis e Connor, Leo começou a me ajudar com o controle dos meus poderes, o que me alegrou. Principalmente pelo fato de eu poder tocá-lo sem precisar de luvas.

— É realmente muito bom vê-los felizes. – Ele disse. – Apesar disso tudo que está acontecendo com a Thalia.

Assenti levemente, concordando. Leo passou um dos braços pelos meus ombros e me abraçou de lado. Já havia feito isso tantas vezes que nem me incomodava mais. Apesar de sempre sentir meu coração se acelerar quando o tocava.

Pelos anjos! O que está acontecendo comigo?!

— Bem... – Comecei, me afastando da janela quando a música acabou e o silêncio reinou, fazendo Thalia e Nico ficarem parados, cercados pelo silêncio e a escuridão da noite. Ambos continuavam abraçados. E tinham sorrisos no rosto, apesar do movimento dos ombros de Thalia, que indicavam que estava chorando. – Está ficando tarde... Eu vou deitar e deixar os dois a sós. Devia fazer o mesmo.

Leo sorriu levemente e olhou uma última vez para a janela antes de subir as escadas logo atrás de mim.

— Boa noite, Izzy. – Disse, ainda atrás de mim.

— Boa noit... – Assim que me virei para vê-lo, Leo inclinou-se e beijou meu rosto, que ficou instantaneamente vermelho. A prova de que eu estava conseguindo controlar meus poderes foi que não assumi a sua aparência. Apenas fiquei ali, mais vermelha que um tomate enquanto Leo ria baixo.

— Está realmente indo bem nesse lance de controle. – Ele disse, acenando levemente e entrando no quarto. Naquele momento, a lembrança do que eu dissera para Thalia me veio à cabeça.

“Os sentimentos de um anjo são muito diferentes dos de um humano. Não traímos aqueles que amamos. Os que traem, tornam-se Renegados. Você o ama. E sabe disso. Bastou um toque. Um beijo... E você percebeu que o queria ao seu lado.”

Sacudi a cabeça ao lembrar. Por que eu havia pensado nisso mesmo?

Respirei fundo e continuei meu caminho até o quarto, mas fui surpreendida por Jason, que fitava a janela. Não tinha raiva no olhar, mas tristeza. Estranhei. Podia jurar que ele odiava ver Thalia e Nico juntos porque Nico não “se encaixa nos padrões da alta sociedade angelical”, como Leo comentara comigo.

Pare de pensar em Leo!

— Podia jurar que você o odiava. – Falei, surpreendendo-o. Jason virou-se, depois relaxou quando me reconheceu. – Podia jurar que odiava vê-los juntos. Não que se sentia triste.

Ele suspirou baixo.

— É muita coisa para te explicar, Izzy. – Ele disse. – Eu não os odeio. De certa forma, fico até feliz por ver que Thalia está feliz, mas sinto tristeza... Porque apenas eu sei o quanto ela vai sofrer.

Como assim?

— Como assim? Do que está falando?

Jason suspirou baixo, fitando a janela uma última vez antes de se afastar

— Eu não posso falar nada, Izzy... Tenho ordens de Zeus para manter isso em segredo. – Ele passou por mim, caminhando até seu quarto. Não sem me encarar uma última vez. – Apenas pense... Cronos precisa do anjo da Terra vivo para poder ressurgir. O que você faria se fosse a líder da Cidade de Cristal e soubesse disso?

Com essa última frase, Jason entrou em seu quarto, fechando a porta em seguida e deixando-me ali, completamente atônita e pensativa. Minha mente funcionava como uma máquina humana. Talvez porque eu soubesse a resposta, mas não quisesse admiti-la para mim mesma, eu estava procurando outra resposta. Outra possibilidade. Outra maneira de entender as palavras de Jason. Mas, realmente, só havia uma maneira. Uma resposta.

Suspirei alto e entrei em meu quarto. Foram necessários dez minutos para que eu trocasse minha roupa por um pijama confortável. E foi nesse momento que alguém bateu na porta e, em seguida, abriu uma pequena fresta. Era Leo.

— Posso entrar? – Perguntou. Assenti e Leo adentrou o quarto. Estava usando apenas uma bermuda vermelha. – Bem, eu queria falar com você... Sobre o que aconteceu lá no corredor...

— Sobre você ter beijado meu rosto e ter me deixado completamente sem reação? – Ergui uma sobrancelha. – Claro, o que quer falar?

Leo suspirou.

— Eu gosto de você, Izzy... Eu gosto muito de você. Acho que desde que te vi pela primeira vez e te chamei de pardal eu já gostava de você. – Ele riu baixo. – Eu gosto dos seus olhos, porque são completamente diferentes. Gosto do seu cabelo, tão liso que nem parece existir. Gosto do seu riso, quando você cede às minhas piadas sem a menor graça e tira essa carranca do rosto. – Ele riu novamente. – Eu acho que estou apaixonado, Izzy. Estou apaixonado por você.

Arregalei os olhos, fitando Leo sem conseguir demonstrar qualquer reação.

— Leo, eu... – Comecei. Sem saber o que falar.

E nem foi preciso. Leo chegou até mim tão de repente que pulei de surpresa. Meu coração falhou uma batida para logo depois se acelerar.

— Nunca pensei que veria você corar. - Próximo demais... Próximo demais...

Não tive tempo de falar nada. Leo inclinou-se em minha direção, unindo nossos lábios num beijo casto, porém bom demais. Droga! Ele beija bem!

Lógico que senti minha aparência mudar no mesmo instante em que seus lábios tocaram os meus, já que fui pega de surpresa e meus sentimentos viraram uma bagunça total. Não tive forças para empurrá-lo. Principalmente quando minha vontade era de jogá-lo na cama. Ele se afastou devagar, sorrindo ao me ver.

— Você fica muito linda assim, Izzy.

Latino maldito!

Definitivamente, eu amava Leo Valdez, sem sombra de dúvida. E eu não podia deixá-lo ir. Eu tinha que ceder, pelo menos uma mísera vez, ao meu coração.

— O q... – Comecei. Leo sorriu e se afastou. – Valdez...

Ele virou-se. Agora parecia assustado.

— Sim? – Perguntou, disfarçando seu nervosismo.

— Volte aqui... – Comecei. – E me beije direito!

Leo sorriu

— Com todo prazer, Isabelle Nightshade.

E me beijou. Acho que todos nós sabemos como essa história acaba: como muitas histórias de amor acabam. Como, eu confesso, Thalia e Nico deveriam ter feito desde o seu primeiro beijo. E eu, em nenhum momento, dei espaço para a razão. Não havia mais como negar. Não havia como esconder. Eu o amava. E ele me amava também.

— Isso foi ótimo... – Comentei, encarando-o ao meu lado, com um dos braços ao meu redor, a porta trancada e as cobertas sobre nós dois. – Saiba que, mesmo que eu volte a ser a Izzy Carrancuda que você conhece... – Dei-lhe um selinho. – Eu te amo, Leo Valdez.

Leo sorriu e me beijou, deixando que eu me aconchegasse em seus braços.

— Eu também te amo, Isabelle Nightshade. – Ele me deu um selinho. – Durma bem.

Sorri levemente e fechei os olhos, deixando que o sono me invadisse.