— Me desculpe... – Jin falou ao descolar seus lábios dos meus.

— Só aconteceu. – falei toda desnorteada e corada.

Fiquei surpresa com o beijo de Jin, não imaginava que tal coisa fosse acontecer ainda mais em um lugar como esse, que de certa forma era público. No inicio pensei em recuar, mas senti uma conexão que não deixou eu me desvencilhar. Talvez eu esteja ficando louca.

— Tenho um lugar para te levar. – SeokJin falou todo empolgado quando o filme acabou, a luz da sala foi acessa e todos estavam se levantando de seus assentos.

— Que lugar? – perguntei cismada.

— Surpresa! – ele falou sorrindo para mim, e segurando a minha mão, o que fez com que eu me sentisse segura.

Era muito estranha a sensação de andar com SeokJin pelas ruas da cidade, porque eu sabia quem ele era de verdade por trás daquela máscara e daquele boné, e se escondendo daquele jeito ele parecia muito mais verdadeiro do que quando sai nas ruas como o Jin do BTS, mas no fundo eu tinha medo de que as pessoas ao redor notassem ou descobrissem quem ele era, porque eu sentia que se isso acontecesse a felicidade que aquele garoto estava sentindo se transformaria em frustração.

Fui conduzida pelo garoto até um pequeno café em uma rua estreita. O local estava movimentado, apesar de não estar lotado, e por todos os lados era possível ver fotos e mensagens de pessoas que já estiveram ali, onde a maioria era de namorados. Fiquei tão fascinada pelas diversas memórias pregadas nas paredes daquele lugar, que sem perceber “larguei” Jin na entrada e fui ver o conteúdo daquele mural.

— Tudo isso são diferentes histórias de vida... já parou para pensar quantas pessoas que já passaram por aqui morreram? Quantos casais deram certo ou deram errado? Isso é incrivelmente incrível! – falei ao sentir Jin parar bem do meu lado.

— Todo dia estamos construindo uma história, mas não sabemos qual será o desfecho dela. – ele falou também admirando aquelas relíquias – O que você achou daqui?

— Parece ser um lugar tranquilo e bastante acolhedor. – falamos em uníssono, o que fez com que eu me virasse para ele.

— BINGO! Sabia que você ia falar isso. – o garoto disse se voltando para mim com um sorriso no rosto.

— Como? Não me diga que você lê pensamentos. – perguntei intrigada.

— Digamos que é porque eu penso assim também. – Jin respondeu com um sorriso brincalhão – Minha mãe trabalhava aqui quando eu era criança, e todas as sextas e sábados ela me trazia para cá. – ele falou apontando para uma foto bem no centro do mural.

Na foto podíamos ver um casal de jovens, eles aparentavam ter por volta de 22 anos, a mulher tinha o cabelo preto e comprido, e o rapaz estava usando um chapéu de bobo da corte. No colo deles estava um garotinho, e eles tinham expressões felizes e singelas.

— Essa é a sua família? – perguntei curiosa, mas com quase cem por cento de certeza da resposta.

— Sim. Essa foto foi tirada logo após o acidente que eu te contei da última vez. – ele fechou os olhos, suspirou e sorriu – Esse foi o primeiro dia da minha vida em que eu pude ver meu pai sorrir por minha causa.

— Você deve ter se sentido a pessoa mais feliz do mundo. – falei admirando aquela foto, tentando imaginar que tipo de sensação eles tinham vivenciado naquele dia.

— Foi como se a minha existência nesse mundo tivesse uma importância, percebi tudo isso quando ele demonstrou todo amor que sentia por mim e tentava esconder, naquele singelo sorriso.

— Pode ter certeza de que você é importante! Eu acho que se nós estamos aqui hoje é porque deve ter algum propósito por trás disso. – falei isso com o intuito de fazer com que Jin se sentisse bem, mas de certa forma eu realmente penso assim.

— É muito bom ouvir isso! – o garoto falou me abraçando – Você realmente apareceu na minha vida como um anjo da guarda.

Ao ouvir aquilo pude sentir o quanto SeokJin precisava de um ombro amigo, o quanto ele sofria, mas não tinha com quem desabafar. Senti que talvez nossos destinos realmente foram cruzados com um propósito.

Ficamos abraçados por algum tempo, até que eu ouvi o garoto soluçar.

— Kim SeokJin, você está chorando? – perguntei me afastando dele para olhar para o seu rosto.

— Não... – o garoto respondeu passando as mãos nos olhos instantaneamente – Vamos sentar naquela mesa da ponta. – ele disse pegando na minha mão.

E novamente eu pude sentir aquela mesma sensação de segurança, e acho que ele sentia o mesmo.

— Você sempre vem aqui? – questionei Jin quando nos acomodamos na mesa.

— Depois que eu debutei ficou mais complicado vir até aqui, mas sempre que me sinto mal ou quando estou de folga faço de tudo para vir aqui, enquanto as pessoas preferem ir ao Rio Han, visitar os parques ou ir ao shopping, eu apenas me sinto bem vindo até aqui. – ele respondeu enquanto passava os olhos por aquele ambiente.

— Você já pensou na possibilidade desse lugar fechar um dia? – perguntei, e logo em seguida me arrependi, porque aquele lugar era como uma casa para ele.

— Na verdade sim... – Jin olhou para um senhor que estava por trás do balcão e então olhou para suas próprias mãos em cima da mesa – Esse também é um dos motivos que não me deixa desistir do sonho de ser um cantor, e principalmente do Bangtan Boys. Pouco antes do meu debut aquele ahjussi veio falar comigo, disse que as despesas e as dívidas só cresciam a cada dia, e que estava pensando em vender esse café. Foi terrível para mim ouvir aquilo, senti como se fossem tirar a minha própria casa de mim, sem ter nada que eu pudesse fazer. Pedi um tempo a ele, e depois vim até aqui conversar com ele com a proposta de que eu compraria o café, mas que só poderia pagar parceladamente. Ele não quis aceitar de inicio, estava receoso de que o debut do grupo não fosse muito longe, no entanto eu prometi que faria de tudo para conseguir o dinheiro, assim ele acabou aceitando.

— Peraí, você é o dono desse lugar? – falei estarrecida.

— Quase, ainda faltam algumas parcelas.

— Uau! Além de ser o Jin do BTS, ele ainda é um empresário gente. – falei e ele olhou para mim rindo todo bobo – Você é único garoto!

Ficamos sentados por um bom tempo, conversando sobre nossas vidas, e degustando uma maravilhosa xícara de café. Conhecer Jin cada vez mais, era como reencontrar alguém que eu já conhecia há muito tempo. As pessoas pensam que as celebridades tem uma vida fácil, e que elas já nascem predestinadas a ganhar fama, porém para conquistar o sucesso elas são obrigadas a ensaiar e praticar incansavelmente, e muitas vezes nem nos tocamos que elas são pessoas como nós, que podem ter problemas na família, problemas pessoais ou até mesmo problemas financeiros.

— Lis, a senhorita está muito ansiosa para o resultado do teste?

— Não estava, até um garoto chamado Kim SeokJin fazer o favor de me lembrar que eu estou esperando por isso.

— Desculpa! – ele falou rindo da minha cara.

— Não tem graça! – falei corando.

— Eu sei como é, e estou fazendo isso para que você desestresse um pouco, já passei por isso um dia.

— Mas você é o SeokJin!

— E o que isso tem a ver?

— Você tem multitalentos, e pode fazer o que quiser.

— Mas eu tenho uma coisa que você não tem.

— O quê? – perguntei curiosa.

— Autoconfiança e coragem de ser quem você é. – ele respondeu, fazendo com que eu ficasse sem saber o que dizer.

— Autoconfiança não é algo que nós temos, porque herdamos no DNA, mas sim porque conquistamos ao longo da vida. Você está conquistando essa autoconfiança, e acho que se você não a tivesse não teria chegado aonde chegou.

— Às vezes você fala umas coisas, que me faz pensar que você nasceu para ser escritora, ou até mesmo psicóloga. – Jin falou me olhando nos olhos.

— E às vezes você fala umas coisas que me faz ficar constrangida. – falei fazendo ele rir.

Nesse momento meu celular vibrou, e quando olhei para a tela vi que era uma mensagem de Ha Ni: “Não sei se a senhorita lembra, mas você prometeu me ajudar na elaboração do meu projeto para a disciplina de fotojornalismo. Estou te esperando em casa, espero que chegue logo, porque preciso da minha publicitária para me ajudar. PLEASEE!”

— Tenho que ir embora... – falei pegando minha bolsa na cadeira.

— Aconteceu alguma coisa? – Jin perguntou demonstrando preocupação.

— Nada demais, eu só esqueci que tinha prometido a minha prima ajudá-la a fazer um trabalho, e ela está aperreada precisando da minha ajuda. Você me desculpa, certo? – perguntei com medo de que o garoto ficasse com raiva de mim, por ir embora de forma tão grosseira.

— Sem problemas! Fico feliz que tenha aceitado sair comigo hoje. – ele falou se levantando da mesa ao mesmo tempo que eu.

— Muito obrigada pelo convite, fazia um bom tempo que eu não ia ao cinema, e foi muito bom ter um amigo para me fazer companhia. – falei lhe dando um abraço.

— Espero te ver nos próximos dias pelos corredores da BIG HIT, os meninos vão adorar te conhecer.

— Espero que eles sejam legais como você!

— Vamos, que eu te deixo na parada. – ele disse me guiando até a porta do estabelecimento.

— Pode deixar que eu vou até a parada, acho melhor você ficar por aqui e pedir um táxi, acho que já se arriscou muito por hoje, se alguém te pegar comigo, mesmo que digamos que somos apenas amigos, acho que essa pessoa não vai se contentar muito.

— Mas... – ele começou a falar, porém eu o cortei.

— Não se preocupe, assim que chegar em casa te mando uma mensagem. Muito obrigada por hoje, SeokJin é o melhor! – falei deixando o garoto para trás e dando tchau.

Eu realmente não queria que as pessoas na rua o reconhecessem e transformassem aquela felicidade em frustração. Só queria que ele se lembrasse de hoje, como o dia em que pode sair como uma pessoa normal, e não como uma estrela sul-coreana, e como o dia em que pode sorrir como os demais garotos fazem. Um dia de boas lembranças!