“생일 축하합니다
생일 축하합니다
사랑하는 Lis&Ha Ni
생일 축하합니다”

 Foi desta forma que meus avós e minha mãe, cantando "Parabéns Para Você" em coreano, acordaram eu e minha prima Ha Ni.

— Parabéns! - eu e Ha Ni olhamos uma para outra e falamos ao mesmo tempo, assim como quando éramos pequenas.

— Se arrumem, que eu vou deixar Lis no teste dela e Ha Ni na casa do pai dela. - disse minha mãe, enquanto nos abraçava e nos dava beijinhos.

— Seria muito legal se vocês pudessem ver meu teste... - o nervosismo começava a me atacar.

— Nós te mandamos energias positivas mesmo não estando com você, e a senhorita sabe muito bem disso. - Ha Ni disse apertando minhas bochechas.

— Exatamente! E nós sabemos que você vai dar o seu melhor. - minha mãe disse com os olhos marejados.

— Parem de me tocar com suas palavras. - falei abraçando todos eles.

— Agora cuidem e vão se arrumar para tomar café. - minha avó falou se levantando da cama.

—Ahh, e antes que eu me esqueça, hoje à noite não marquem planos, porque nós vamos jantar juntos. - disse meu avô fechando a porta do quarto.

Sem demorar muito, mas também sem ser muito rápida, tomei banho, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo bem alto e arrumei minha franja, colocando uma presilha verde esmeralda. Eu vesti um short e por cima um moletom preto com detalhes brancos, daqueles estilo "vestido", que fazem as pessoas pensarem que é muito curto, mas mal sabem elas que na verdade você está usando um short por baixo. Para finalizar, coloquei uma meia 7/8 preta e um tênis preto de cano alto.

— Meu Deus! Se eu fosse um menino tinha me apaixonado! – Ha Ni falou ao me ver sair do quarto, com a mão no coração.

— WOW! – minha avó exclamou ao se direcionar para mim.

— Por favor, parem de me deixar mais nervosa do que já estou. – disse esfregando as mãos que suavam frio.

Depois do café, um típico café da manhã coreano com direito a arroz, sopa, vegetais, kimchi, bul go gui, tofu e peixe, que me fez lembrar minha infância nos dirigimos para o carro. Foi nesse momento que eu vi a cidade de Seoul de uma forma que eu nunca tinha visto antes, era primavera e as cerejeiras desabrochando estavam por todos os lugares, por um momento eu pude me sentir leve e acolhida.

— Para quem não gosta da cidade, Lis está bem encantada pela paisagem. – minha mãe falou me tirando do transe.

— Algumas coisas podem nos surpreender... – soltei no ar e Ha Ni e minha mãe se olharam.

Ao chegar ao prédio da Big Hit, vi várias meninas com máquinas fotográficas e cartazes posicionados como se esperassem alguém.

— Mal fiz o teste e já tenho fãs. – brinquei.

— Cuidado com elas, se elas pensarem que você tem qualquer coisa com BTS, podem te odiar do dia para a noite. – apesar de não entender muito bem o que Ha Ni quis me dizer com aquilo, me senti angustiada sem explicação.

— Bom... tchau para vocês que ficam e me desejem sorte. – falei descendo do carro.

— Tchau meu amor, toda sorte do mundo está com você não tenha dúvidas! – minha mãe falou mandando beijinhos.

— Menina tás por fora, você já passou! – minha prima gritou fazendo um coração gigante com os braços.

Parei em frente a porta da empresa, respirei fundo e me certifiquei de entrar com o pé direito.

— Você não pode passar daqui. – um homem de terno me barrou.

— Vim fazer o teste... – falei pegando meu comprovante de inscrição na bolsa.

Ele então olhou o comprovante, sorriu para mim e falou:

— Mil perdões! Tantas pessoas tentam invadir o prédio, que já não sei mais quem não é fã do BTS.

— BTS! BTS! BTS! DANADO É, QUE SÓ FALAM NISSO! – pensei revoltada – Tudo bem! – sorri ternamente para o segurança, apesar dele ter me barrado, pensei em como devia ser estressante a função dele.

— Pode se dirigir até aquela moça, que ela irá lhe encaminhar para o teste. – ele disse apontando para uma moça por trás de um balcão no centro do salão.

Eu logo o reverenciei e segui para o balcão:

— Bom dia! Vim para o teste...

— Bom dia! Você pode me mostrar seu comprovante de inscrição meu bem? – a moça falou demonstrando simpatia.

Entreguei o papel para ela, e instantaneamente ela me deu um crachá.

— Pode seguir por aquele corredor e pegar o elevador para o terceiro piso, lá vai ter uma moça esperando por você.

— Muito obrigada!

O corredor era cheio de pôsters com artistas da empresa. Solicitei o elevador e esse não demorou muito para chegar, entrei e selecionei o botão do terceiro piso, nesse momento uma coisa me chamou atenção, era um pôster de sete meninos e entre eles estava aquele mesmo menino que esbarrou comigo logo quando cheguei na Coreia, então saquei que aquele era o tal do Bangtan Boys. SeokJin, sim eu ainda lembro o nome dele, tinha uma expressão singela, mas ao mesmo tempo marcante.

— Você é a Jung? – falou uma mulher quando a porta do elevador se abriu, desviando a minha atenção.

— Sim! – falei sorrindo.

— Prazer! Me chamo Soon Deok e tomarei conta de você hoje. – sorri gentilmente e sem delongas a segui.

O prédio era muito moderno e inimaginavelmente acolhedor. Fui conduzida para uma sala de dança, e obviamente me deparei com uma mesa de cinco jurados, onde uma cadeira estava vazia, aí vocês já podem imaginar que meu coração já estava na mão. Vocês devem estar se perguntado sobre os demais candidatos... essa audição não foi tão divulgada, minha prima ficou sabendo através de um amigo dela da faculdade, porque o pai dele trabalha na Big Hit e todos os candidatos tem um horário marcado, para que não aja divergências desde já.

Soon Deok me passou todas as instruções, na verdade ela me revisou tudo, porque quando me inscrevi fui avisada das regras e tal. Primeiro eu terei que apresentar um solo de dança, e em seguida cantar uma música de minha preferência. Foi bem difícil escolher, mas decidi fazer um solo de uma música de BoA, e cantar uma música dela também, simplesmente porque era alguém que me inspirava muito e uma solista. Entreguei o pendrive com as faixas para Soon Deok e ela disse que quando tudo estivesse pronto me daria um sinal, eu então me posicionei no meio da sala esperando por ela, mas aí algo inusitado aconteceu, SeokJin abriu a porta da sala.

— Desculpa pelo atraso! – ele disse reverenciando a mesa de jurados e sentando em sua cadeira que até pouco se encontrava vazia.

Fiquei pasma, não sei porque tal reação da minha parte, mas apenas mantive minha concentração tentando conter o nervosismo.

— Lis, tudo pronto! – Soon Deok disse fazendo um sinal de ok, apenas assenti nervosa, mas ela sorriu para mim como se quisesse dizer “vai dar tudo certo”, isso sem dúvidas me reconfortou.

— Olá, eu me chamo Lis Jung, sou brasileira, descendente de coreanos, tenho 20 anos (vocês não estão loucos, eu estou fazendo 18 anos, mas para os coreanos eu tenho 20) e hoje vou apresentar um solo para vocês da música “The Shadow” da solista BoA. – reverenciei a mesa e me posicionei esperando a música.

Todos pareceram surpresos com o fato de eu ser brasileira, mas tinha uma pessoa que parecia mais surpresa que todos, o Jin me olhava com uma cara incrédula, como se estivesse vendo um fantasma, eu juro que quase ri da situação, mas mantive meu foco. Assim que ouvi a música comecei a executar meus passos com determinação, e para que eu relaxasse tomei a decisão de pensar no meu pai, pensar que naquela sala eram apenas eu e ele.

Minha ideia foi uma boa, e quando terminei o solo me senti como se tivesse acabado de flutuar. Os jurados sorriram para mim e eu pensei que estava vendo coisas, porque achava que eles não demonstravam qualquer reação em relação a apresentação até que o resultado fosse anunciado.

— Vamos dar um tempo para que você beba uma água, e na volta você canta a música que escolheu. – assenti meio tímida.

Sai da sala, e logo Soon Deok foi ao meu encontro:

— Faz exatamente cinco anos que eu trabalho aqui e eu nunca vi os jurados sorrirem após uma audição, e ainda mais após a primeira etapa. Você realmente tem potencial! – ela disse animadamente.

— Não sei nem o que dizer, ainda estou sem reação. Muito obrigada pelo apoio!

Soon Deok me levou até o banheiro, me deu água e me dirigiu novamente até a sala de dança. Os jurados estavam discutindo entre si, mas assim que me viram se organizaram e me deram sinal para que eu iniciasse.

— Bom, a música que eu escolhi para cantar também é de BoA e se chama “Disturbance”. – falei, e em seguida fechei meus olhos segurando com firmeza o microfone.

Aquela audição realmente era muito importante para mim, porque eu estava novamente correndo atrás de um sonho, que desde a morte do meu pai eu havia deixado para trás, acho que me ver feliz como eu estava nesse momento, cantando essa música, era a realização do meu pai não importando onde ele estivesse.