A Filosofia do Existir de um Imortal escrita por Teffyhart


Capítulo 3
Iii




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Naquela noite ele finalmente conseguira dormir. Depois de muitas, incontáveis, noites temerosas, finalmente as vozes em sua cabeça se silenciaram e ele foi dominado pela exaustão. Naquela noite tranquila, também sonhara, mas seus sonhos cansados não faziam sentido.

Algo o chamava, ele sabia, algo que era nostálgico e que não tinha realmente uma forma. Por todos os lados cores, eram quentes, fortes, porém não vibrantes. Pareciam constantemente se misturar com o branco brilhante que vagava ao redor, este que se misturava com todas elas, as tornando um pouco mais pálidas de cada vez, e que se misturava consigo também. Por mais clara que fosse a luz ou mais ela se unisse à outras coisas ou lhe chamasse, o imortal não conseguiu entender suas palavras ou motivações e, então, descansado, despertou.

Despertou para o dia claro, o vento úmido e quente. Acordou para a mulher que o chamava manso. Piscou sem entender e tudo o que viu foi ela sorrir e sumir por de trás das pilastras do templo, restando, novamente, nada além do vazio.

Quem era? Era óbvio. Ele não esqueceria aquela face nem mesmo depois da eternidade. Mas o que queria? Sieghart se ergueu, deixando os trapos e farrapos que usava para dormir, para trás. Com passos lentos, porém ansiosos, ele se aproximou da estátua que agora era parte de seu dia a dia, parte de seu existir novo.

E o que viu o chocou.

Ele não sabia bem o por quê dela o fazer, mas mesmo as sujeiras que ele, tantas e tantas vezes, lutara para retirar estavam limpas. O objeto estava impecável, em um branco brilhante. Deixou-se cair de joelhos e encostou sua testa nos pés esculpidos dela.

Ernasis, depois de tanto tempo, havia o escutado!

Sua Deusa não o havia esquecido, ela ainda estava satisfeita pelo que fazia por ela, mas…

Mas isso o levava à outra pergunta. Com olhos cansados, olhos de quem fora machucado por tantos anos incansavelmente, quem lutou e, até o momento, estava longe da vitória, ele fitou o rosto da imagem. - O que esperas de mim? - Murmurou, repleto pela dor que o consumia. - Por que me escutas e, ainda assim, se mantém calada?

Quem era ele para contestar sua Deusa? Ele já não sabia. Ele tinha esquecido.

O vento soprou e os galhos mortos balançaram, mas ele não obteve uma resposta. Será que era ele quem já não tinha mais o direito de ouvi-la?

Se era um teste ele estava prestes à falhar. Pela primeira vez em sua existência o imortal já não era mais vívido, já não havia mais força de vontade, nem mesmo havia desejo. Ele estava quebrado e cansado. Sentia que não mais pertencia à aquele tempo. Que ele não pertencia à nada.

Ou talvez pertencesse ao nada.

–Eu estou cansado. - Proferiu. - Eu preciso de respostas, pois não quero falhar com você, que é a única coisa qual me restou. Eu nunca antes o fiz, não quero que aconteça agora.

Soluçou. Ele há muito tempo havia passado de seu limite, mas ainda se impulsionava para frente, tentando encontrar forças para continuar. Tentando esquecer quem era para aplacar a dor, aplacar a solidão. Abaixou a cabeça mais uma vez, escondendo suas lágrimas da grandiosidade dela. Lavando a estátua, já limpa, com seu próprio choro.

Ele era a imagem de um humano consumido, um ser destruído, o fim de um ciclo que nunca acabaria. O significado da imortalidade como um todo.

–Eu que quis esquecer de quem fui, esquecer o que fiz, esquecer tudo senão a minha servidão àquela que me criou. - Outro soluço o tomou desprevenido. - Eu só queria uma resposta, uma redenção.

O silêncio parecia oprimi-lo. - Cansado, tão cansado. - Murmurou. Inspirou então, tentando aplacar seu choro, e o ar que encheu seus pulmões pareceu, finalmente acalmá-lo.

E com esse ar inspirado veio vento. E com ele o sussurro. - Você imortal, que ao esquecer de você esqueceu de mim. Você que é tão parte da divindade quanto eu própria. Que como eu representa a totalidade do existir. - Soprado como o vento, o sussurro balançou seus cabelos. Sieghart olhou em volta, buscando sua origem sem sucesso. - Você merece tão mais que do a redenção somente, é tão mais forte que isso. - E o vento o encheu com calor, acalmando seus desesperos e curando seu choro. - Sua hora ainda não é essa. Sua missão ainda não acabou.

E a voz se foi. Sieghart ficou lá, ajoelhado, sabendo o que tinha escutado. Depois de algum tempo é que se lembrou de respirar, ainda em choque. - Se essa não é a hora, quando será? - Murmurou sua pergunta, mas não teve resposta.

Se ergueu então, fraco, porém ciente de seus deveres, e seguiu com a rotina de tantas outras vezes. Qual era a continuação de sua missão? O que restava para ele fazer naquele mundo deserto e destruído?

O que restara para ele? E o mais importante: Como um ser destruído como estava, sem nenhuma diretriz de quem era, poderia ser responsável por uma missão igualmente misteriosa?

Tomado então pelo súbito cantar de um pássaro, algo que quebrou seu silêncio, percebeu que o ciclo novamente começava. Olhando para o exterior do templo a desolação que ele ignorara por tantos e tantos anos agora já não mais reinava.

Aos poucos a vida surgia e a roda girava.


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