Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 6
Drico - O Início


Notas iniciais do capítulo

O texto em itálico ocorre no passado. É um flashback.



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  — Era uma tarde como outra qualquer... – disse Drico iniciando sua narração enquanto caminhava ao lado de Steve, que carregava na mão uma tocha para iluminar o escuro subterrâneo que sempre se fazia presente. — Eu estava trabalhando numa taverna na Cidade Baixa, bem próxima ao portão norte de Theolen chamada Martelo de Moradin, não sei se conhece – continuou o bardo, mas Steve negou com a cabeça - Já tocava lá fazia uns dois meses. Ganhava meu dinheiro nas apresentações, atraia alguns clientes pro lugar, pagava a parte pro Thorbard, o anão que era dono do local e ele me deixava dormir na estalagem que ele tinha em cima da taverna. Não era uma vida luxuosa, mas eu gostava. Tudo ia bem nesse dia, até um sujeito entrar na taverna: Liminha  – falou com raiva.

— Liminha? – perguntou Steve erguendo uma das sobrancelhas – O cantor?

— Sim, o "cantor" – Drico fez aspas com os dedos – Não acredito que até você conhece aquele ele... – indagou olhando para o lado insatisfeito 

— Bem, eu não conheço o trabalho dele, mas já ouvi o nome. Xino me convidou para ir em um concerto dele dias antes de eu sair de Theolen para vir para cá. Parecia que ele estaria tocando na abertura de uma nova taverna ou algo do tipo, mas preferi ficar com a família aquele dia. 

— Melhor assim, você não perdeu nada. Tudo o que ele sabe cantar é o próprio nome em meio há uns três versos e onomatopeias sexuais bem bobas.

— Mesmo? – Steve deu uma risada discreta.  – Não parece muito bom.

— E não é! – exclamou Drico olhando para o paladino.  – Eu não faço ideia de como as pessoas apreciam esse tipo de musica, mas de qualquer jeito o que me irritava não era só o trabalho dele, mas meu chefe estava pensando em contratá-lo por uma noite para "atrair novos clientes" e pagaria a ele o triplo do que eu ganhava! – Mostrou três dedos e em seguida balançou a cabeça em negação baixando a mão – Eu até conversei com o Thorbard pra ele esquecer dessa ideia, mas não consegui convencê-lo. Então lá estava eu, me aquecendo no meu canto de apresentações, quando Liminha adentrou a taverna acompanhado de suas tietes. Ele conversou com Thorbard, nós nos encaramos e então ele pediu uma bebida e meu chefe foi preparar, foi aí que a parede explodiu.

— Explodiu? Como assim? – perguntou o paladino – Magia?

— Não. – Drico negou com a cabeça. – Na hora até pensei que pudesse ser isso, uma bola de fogo ou algo do tipo, mas quando a poeira baixou nós descobrimos que havia sido um cavalo.

Steve olhou confuso para o bardo e aguardou para que ele continuasse a história. O meio-elfo olhou para além do horizonte cinzento e escuro que enxergava e começou a reviver aquele dia, contanto ao paladino Escolhido de Theolen enquanto os dois continuavam avançando...

 

“— Pelas barbas de Moradin! – Thorbard gritou o nome do deus dos anões balançando a mão em frente ao rosto para afastar a poeira do grande nariz — O que está acontecendo aqui?!

Drico olhou em volta. Viu pedaços de madeira jogados no chão da taverna, duas mesas viradas, Liminha levantando do chão com duas meninas atrás dele e a cabeça esmigalhada de um cavalo para dentro da parede da taverna.

O bardo se assustou com a imagem sinistra do animal morto e desviou o olhar. Saiu cambaleando pelo estrondo da batida que havia afetado seus ouvidos sensíveis de elfo e foi para fora do estabelecimento. Lá, junto de seu patrão de um metro e meio e mais uma pequena multidão ele observou uma carroça batida na taverna.

Era um veículo velho, aberto no topo guiado por um cavalo magro, agora morto e um cocheiro humano de pele azulada. O meio-elfo observou o homem caído enquanto algumas pessoas se aproximavam e tiravam-no da carroça. Elas colocaram-no no chão e logo um clérigo pediu espaço para usar suas magias no acidentado. Drico se espremeu na multidão e observou o seguir de Pélor, o deus do sol, usar uma magia no homem, mas logo ele avisou àqueles que estavam em volta que o humano estava falecido e que pela cor de sua pele e o cheiro que exalava, estava assim há alguns dias.

Sentindo um arrepio na espinha, Drico se afastou e olhou para Thorbard, que passava praguejava na língua anã enquanto passava as mãos pelos cabelos negros desgrenhados. Começou a se aproximar de seu chefe, quando pisou num pergaminho no chão. "O que é isso?" pensou abaixando-se e pegando o que parecia um mapa. O meio-elfo observou atentamente e então leu o nome no topo "Thorrun". Sabia pelo conhecimento comum que este era o nome de um reino ao norte de Theolen, onde por ora, fora o mais rico e poderoso dos reinos, exclusivo de anões, mas que estava completamente abandonado desde sua queda.

— Aqui! Eu achei – exclamou um homem parando ao seu lado  – Olá!  – falou para Drico.   – Eu estava atrás disso. O vento deixou cair  – disse o humano caucasiano de rosto comprido e cabelos curtos que aparentava ter pouco mais de vinte anos de idade.

— Isto é seu? – perguntou o jovem bardo desconfiado.

— Sim, eu achei lá agora mesmo – respondeu o jovem enquanto olhava para um outro homem com mais ou menos a mesma idade se aproximar. –  Meu nome é Richie! –  Estendeu a mão cumprimentado o meio-elfo. –  Este é Lionel, meu amigo  –  falou apresentando o homem ruivo, de cabelos cacheados e corpo mais forte que o dele que parou ao seu lado  —  Eu vi essa carroça vindo descontrolada do portão e batendo na taverna. Achei esse mapa, mas algumas pessoas me empurraram e eu deixei cair  –  justificou e o bardo acreditou em suas palavras.

— Meu nome é Drico, eu trabalho nessa taverna – se apresentou entregando o mapa para Richie   – Essa carroça veio do portão norte?

— Pelo que eu vi sim – concordou com a cabeça – Eu sou um patrulheiro, acabei de voltar de uma missão com o Lionel. Nós passamos pelo portão e pouco depois a carroça passou por nós correndo, aí corremos até aqui para ver o que era.

— Vocês acham que ela veio de Thorrun? – perguntou o meio-elfo curioso.

— Eu não sei – Richie mexeu os ombros  – Mas nós acabamos de decidir que vamos pra lá  – sorriu  para Lionel  – Ouvimos falar de histórias sobre este lugar. Sobre as riquezas e tudo mais. Um mapa era tudo o que precisávamos. Quer vir também? Tenho certeza que há ouro o suficiente para nós três."

 

— Vou supor que você aceitou a oferta – disse Steve.

— Está certo – concordou Drico – Com a destruição do Martelo de Moradin eu sabia que o Thorbard ia economizar no que pudesse para reparar os estragos e eu provavelmente perderia o emprego. Imaginei que sair numa aventura num reino abandonado em busca de tesouros poderia render em algo, fosse dinheiro ou inspiração para criar novas músicas. Talvez eu ficasse famoso falando de Thorrun, já que quase não há canções sobre esse reino. Parecia divertido e promissor.

— Entendo – disse Steve olhando para frente – Acredito que muitos dos que vem para cá pensam o mesmo. Que encontraram uma boa viagem, com uma aventura para contar e tesouros para ganhar, mas não é tão simples como pensam.

— Nem me fale – disse o meio-elfo suspirando – Se eu soubesse o que há nesse lugar ou o que eu passaria para chegar até aqui, nunca teria vindo. Tudo bem que estou compondo novas músicas, mas a que custo?! Eu quase morri em várias situações, me perdi dos meus amigos, meus suprimentos foram, literalmente, água a baixo e eu não vejo tesouro algum por aqui – gesticulou.

— Sinto muito – lamentou Steve.

— Nah... Isso foi culpa da minha ingenuidade. Acho que eu sonho demais, minha mãe sempre dizia isso, mas vou me manter bem realista para sair desse lugar e quem sabe reencontrar o Lionel, Richie e o Hansen.

— Hansen? Não me lembro de tê-lo citado.

— Ah, bem. Não fomos só nós três a vir para Thorrun. Formamos um grupo. Liminha insistiu em nos acompanhar e um cara chamado Regdar também. Tentei impedir o Liminha, mas ninguém se opôs a presença dele, já o Regdar nos ameaçou se não o levássemos e ele era um cara bem grande e forte com uma espada maior que a sua, então não tivemos muita escolha. De qualquer forma não ficamos com ele por muito tempo, porque logo ele roubou nosso mapa e se mandou. Continuamos seguindo mesmo sem as direções corretas, mas isso acabou dando em alguns problemas.

— Consigo imaginar – disse o paladino observando um mausoléu no meio do nada e seguindo para uma direção adjacente a ele.

— É, nós tivemos alguns problemas na Floresta da Ninfa. Parece que um dos “campeões” dela foi enviado pra nos matar ou algo assim. Nós lutamos contra ele, todos os quatro, mas nessa luta nos perdemos do Liminha. O encontramos depois, mas descobrimos que na verdade era um metamorfo com a forma dele e tivemos que lutar contra ele também. Conseguimos fugir com vida do combate, mas não encontramos mais o Liminha depois disso... – entortou a boca – Espero que ele tenha conseguido voltar para Theolen.

Steve assentiu com a cabeça e colocou a mão sobre o ombro do jovem bardo, que suspirou cabisbaixo e então se voltou para frente.

— Bom, depois disso nós continuamos pela Floresta e passamos por todos os tipos de problemas. Nós ficamos dias andando praticamente sem rumo pela floresta. Fomos atacados por um halfling maluco que fazias magias, orcs, ursos-coruja, lobos, um elfo negro que era mudo! Foi a maior loucura ficar naquele lugar.

— Curioso. Fora os lobos que eu vi e os ursos-coruja que ouvi, não sabia que havia essas outras criaturas por essa região. Até entendo que haja alguns orcs por aqui, depois que foram expulsos da capital de Theolen, devido ao Cerco, imagino que várias tribos devem ter se espalhado pelo reino e para fora dele. Mas halflings e drows, isso não é comum – falou Steve passando a mão pela barba.

A dúvida do paladino era bem fundada. Halflings, que são humanoides muito parecidos com seres humanos, com a diferença de possuírem uma cabeça alongada na parte de trás, orelhas compridas e alcançarem até no máximo 90cm de altura, eram muito mais comuns nos reinos de Brand e de Arul, tendo alguns no reino de Theolen que se concentravam em cidades desenhadas para pessoas de seu tamanho. Os drows, elfos de pele negra ou arroxeada e cabelos brancos, eram ainda mais raros no reino nortenho.

— O halfling realmente parecia só estar interessado nos tesouros, e eu vi os orcs com algumas carcaças de lobos em redes, talvez estivessem caçando por lá. Mas o drow eu não faço ideia, como ele não falava tudo que sei dele é que nós trocamos alguns golpes de sabres e que ele fugiu ao ver que eu não estava sozinho– disse Drico.

— Hum... Tem pessoas demais vindo para cá – disse Steve com uma preocupação evidente em seu semblante.

— Isso é um problema muito grande? – perguntou o meio-elfo.

— Theolen, por ser um reino neutro, é a encarregada de não deixar que nenhum outro reino invada Thorrun com exércitos e se aproveite do território e de seus tesouros. Se mais pessoas começarem a vir para cá e a notícia se espalhar talvez isso gere problemas já que são próprios theolinos que estão subindo.

— Ah... Entendi. Bom, eu não acho que isso vá acontecer, não encontramos tantas pessoas assim pelo caminho, mas eu não sabia dessa história de Theolen proteger Thorrun.

— Essa é velha, de outra Era. Foi quando o primeiro Leon surgiu que isso começou. Após a queda de Thorrun, vários outros reinos vieram clamar sua terra e seus tesouros, mas o Escolhido daquela Era não permitiu que isso acontecesse. E com exércitos de Theolen, o primeiro Leon, montado em seu leão, liderou as defesas de Thorrun, sendo esta sua missão de Escolhido.

— Uau... Espera, você é Escolhido também, né? Então na família Leon já tiveram dois Escolhidos?! – perguntou Drico com os olhos arregalados.

— Três – respondeu Steve olhando para frente.

— Três?!

— Dorothy, minha sobrinha. Eu acredito que ela seja a nova Escolhida.

— Jura? – perguntou Drico impressionado – Eu realmente preciso conhecer essa garota.

— Talvez algum dia – disse Steve com um sorriso sutil – Agora continue sua história, eu acabei o interrompendo.

— Ah, sem problema – sorriu o bardo – Bom, depois de tudo isso nós vimos a Planície Vermelha. Lionel disse para seguirmos por ela, mas Richie preferiu ficar na floresta para tentar chegar até um ponto menor já que a Planície é praticamente um grande deserto. Acabamos nos separando para nos encontrar depois, sabíamos pelo que lembrávamos do mapa que haveria uma fenda com uma ponte para atravessarmos, então nos encontraríamos do outro lado. Fiquei com o Richie e na floresta e pouco depois do Lionel ir embora encontramos mais orcs. Nós nos machucamos feio naquela batalha, afinal era só eu e o Richie contra três e nenhum de nós é muito bom com a espada. Felizmente um cara acabou nos ajudando. Esse era o Hansen.

— Hum...

— Ele chegou fazendo umas magias e derrubou os três com uma bola de fogo gigante. Fiquei até assustado. Era um feiticeiro muito poderoso. Por ele ter nos ajudado resolvemos andar juntos. Então atravessamos a parte mais estreita da Planície Vermelha e em um dia e chegamos até a fenda. Começamos a atravessar a ponte para chegar ao outro lado, mas foi aí que um negócio apareceu no nosso caminho.

— Na ponte? – perguntou Steve.

— Sim, você encontrou aquilo também?

— Não, mas sei o que é. É Guardião da Ponte.

— Ah, sim... Ele mencionou algo sobre isso... –  balançou o dedo indicador – Que não iriamos atravessar a ponte sob sua vigília.

— Sim. Ele aparece quando o sol se põe. É uma Aparição, um tipo de fantasma, pode se dizer, mas não é como todos de sua espécie. Essa em especial é uma criatura de grande poder, não me atrevi a tentar enfrentá-lo, por isso atravessei a ponte durante o dia, quando ele não está lá.

— Queria saber dessas coisas antes de tentar seguir pela ponte.

— Vocês lutaram contra a Aparição?

— Nós tentamos, mas não conseguimos fazer nada contra ela já que era intangível. Eu e o Hansen tentamos usar algumas magias também, mas não deu efeito.

— Imagino. Esse tipo de criatura tem grande resistência à magia. A melhor escolha teria sido fugir e sair da ponte. Onde ela não poderia os alcançar.

— Hum, não sabia disso, mas nós fugimos do mesmo jeito. O problema foi que eu fiquei por ultimo e isso me deixou exposto àquele monstro. Ele tocou em mim e eu senti um frio tão grande que parecia que ele tinha tocado minha alma. Achei que ia morrer – disse sentindo um calafrio.

— O toque de uma criatura como essa pode sugar a energia de uma pessoa. Você realmente poderia morrer se tivesse muito contato, mas pelo visto você chegou ao outro lado da ponte e o Guardião parou de perseguir vocês, certo?

— Na verdade não. Eu acho que o Richie e o Hansen devem ter chegado, mas eu fiquei muito fraco com o toque do bicho e perdi a consciência por uns instantes. Quando abri os olhos eu estava caindo da ponte e mergulhando num lago subterrâneo.

— Então você caiu na fenda? – Steve o encarou com os olhos mais abertos.

— Sim. Tive sorte de ter água para amortecer minha queda, mas ainda quebrei uns ossos com o impacto. 

— Isso tudo é realmente impressionante – admitiu Steve – Eu vi a fenda quando vinha para cá e não consegui enxergar seu final. As possibilidades de ter água para amortecer a queda e você cair sem nem ao menos bater a cabeça ou se afogar... É quase um milagre – disse o paladino muito impressionado. – Você tem muita sorte de estar vivo garoto.

— É, acho que sim – concordou Drico – Sabe, talvez isso seja um sinal dos deuses. Eu nunca fui muito chegado em religião, como minha mãe, mas ela sempre disse que sabia que eu era especial e que um dia Pélor iria iluminar meu caminho e me mostrar meu destino. Tudo bem que aqui em baixo é bem escuro e eu não vejo um raio de sol sequer... – disse gracejando e Steve sorriu. – Mas se eu não morri com aquela queda, não tem nada que vai conseguir me impedir de sair desse buraco!

— É assim que se fala – disse Steve enquanto dava um toque no ombro do garoto.

Drico sorriu para o paladino assentindo com a cabeça e então os dois caminharam, mais motivados do que nunca, sem desistir e sem medo de seguir em frente.


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Notas finais do capítulo

Estão gostando do Drico e do Steve? Comentem.