Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 5
Dorothy - A Primeira Missão




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Dorothy abriu os olhos azuis e brilhantes na manhã do dia seguinte ao que havia ido ao castelo. Ela ouviu o som da madeira sendo batida cinco vezes seguidas e logo se sentou e se espreguiçou enquanto bocejava. Em seguida ela se levantou da grande cama central passando por entre as cortinas semi transparentes que a protegiam de insetos e foi até a penteadeira, sentando-se num banquinho acolchoado e vendo seu reflexo no espelho, enquanto os raios da manhã entravam pela sua janela e atravessavam sua cortina leve e branca iluminando o quarto grande e espaçoso.

— Por Heirôneous... – resmungou a garota ao ver seus cabelos negros e cacheados armados e embolados.

Ela então pegou o pente de madeira e um pouco de água e começou a ajeitar o cabelo enquanto olhava o reflexo de sua estante ao fundo. Vendo a quantidade de livros de histórias e contos, os enfeites e principalmente os retratos pintados, ela sentiu uma nostalgia de sua infância e com isso a saudades de Steve, que estava retratado com seu melhor amigo e companheiro de aventuras Xinomah Nailo, O Novato; um meio-elfo com um olho verde e outro azul, de cabelos louros, longos e presos num rabo de cavalo baixo. Ele também era conhecido pelo apelido "Xino" e por ser o único druida de todo o reino.

Ela gostava daquela pintura, pois os dois apareciam nela felizes e sorrindo. E não é todo mundo que tem um retrato assim de dois integrantes dos Doze de Theolen, felizmente ser uma grande fã desses heróis era muito mais fácil quando se tinha um tio entre eles. Ela podia até ter a chance de conhecer outros, como o próprio Xino.

Dorothy sorriu então terminou de arrumar seus cabelos, definindo as ondas e os cachos negros que lhe caíram pelas costas. Abriu seu grande armário de carvalho e vestiu uma blusa de manga três quartos, clara de ombros caídos, uma calça de algodão escuro e botas que iam até metade de sua panturrilha. Ela então saiu do quarto, passou por um corredor da casa de madeira chegando até a sala e a cozinha que tinham como divisão apenas um balcão com alguns bancos.

A garota avistou os pais sentados à mesa de seis lugares onde estava todo o café da manhã: café, suco, leite, bolo, broa, pão, queijo e muitas outras coisas. Tudo com o delicioso toque de comida caseira de Martha, sua mãe.

— Bom dia querida – disse Martha beijando a testa de Dorothy assim que ela sentou ao seu lado.

— Bom dia mãe – respondeu a garota sorrindo.

Martha Currie Leon era uma mulher muito bonita. Já fora considerada a mais bela de toda a cidade de Theolen. Tinha agora trinta e oito anos, mas isso não lhe prejudicava em nada a beleza. Sua pele era clara, seus olhos verdes como esmeraldas e seus cabelos cacheados e escuros divididos ao meio batiam pouco abaixo de seus ombros. Lábios rosados e grossos estavam em volta de seu sorriso gentil. Muito da aparência de Dorothy havia vindo de sua mãe com exceção, é claro, dos olhos dos Leon que ela havia puxado de seu pai Mark.

Mark Leon tinha quarenta e dois anos e era o irmão mais velho de Steve. Seus cabelos eram louros e curtos, ajeitados para o lado. Tinha o rosto levemente quadrado e as sobrancelhas triangulares sobre os olhos azuis. Possuía um bigode de ponta modelada e uma barba centralizada apenas no queixo numa tira vertical. Era um homem alto e forte, já havia sido um grande guerreiro um dia, mas trocara o campo de batalha para ficar com a família. Agora era um excelente ferreiro.

— Bom dia, meu amor – respondeu Mark – Como foi ontem? Não foi na oficina me contar.

— Desculpa, sei que está cheio de encomendas esse mês, não quis te atrapalhar – respondeu Dorothy.

— Você nunca atrapalha, sabe disso – disse ele sorrindo.

— Bom, eu conheci algumas pessoas lá, vários nobres e senhores de terras. E falei com o rei Hammel pela primeira vez.

— Jura? Conversou com o próprio rei? – questionou Martha que olhou para Mark um tanto preocupada.

— Sobre o que falaram? – perguntou Mark curioso.

Ele já conhecia Hammel de outros tempos. Anos atrás eles haviam pertencido ao mesmo grupo de amigos e a mesma equipe, já haviam lutado várias vezes lado a lado, mas ele sempre soube que Hammel era um homem perigoso. A história de que ele matou seus companheiros em uma outra missão para acabar com o inimigo não era apenas um boato, por isso Mark sempre manteve certa distância, que apenas aumentou depois que seu melhor amigo, Ryan Campbell, fora usurpado do trono por Hammel.

— Bom, eu perguntei se ele sabia do Steve. Ele não quis me contar a princípio, disse que eu deveria fazer um trabalho para ele primeiro.

— Que tipo de trabalho? – perguntou Martha.

— Nada demais. Só devo recolher algumas informações sobre um acidente numa taverna - explicou e tomou um copo de leite de cabra.

— Ah, que bom, isso realmente não parece perigoso... – disse Martha aliviada e em seguida tomou um gole de café.

— Não é, não precisa se preocupar mãe. O rei Hammel até disse que enviaria um dos homens dele comigo, então já vou fazer isso hoje e se conseguir algo já vou informar ao rei. Assim talvez eu descubra porque o Steve está demorando tanto nessa missão – disse Dorothy pegando um pedaço do pão e colocando no prato.

— Ah, querida, você sabe que seu tio é um homem atarefado. Ele só deve estar atrasado por algum imprevisto em sua missão – disse Martha.

— Mas já faz muito tempo! E ele nem se quer deu notícias!

— Realmente, ele não costuma demorar tantos meses para fazer uma única missão, ao menos que seja fora do reino... – disse Mark notando que o irmão não lhe dissera, dessa vez, para onde viajaria – Mas tenho certeza de que ele ficará bem, filha – sorriu tentando não preocupar a garota — Então, esta é finalmente sua primeira missão oficial. Como está se sentindo?

— Ótima – ela sorriu empolgada – E espero que esta seja apenas a primeira de muitas.

Mark olhou a filha com um brilho de orgulho nos olhos enquanto Martha balançou a cabeça negativamente sorrindo. Dorothy sorriu de volta e a família continuou a tomar seu café da manhã, agora conversando sobre assuntos mais rotineiros. Algum tempo depois a garota saiu de casa levando a espada na cintura e foi até o castelo, procurar pelo homem que deveria ajudá-la na tarefa que o rei lhe incumbiu, mas antes que soubesse como identificá-lo, o homem a encontrou já no jardim de entrada.

— Hey, senhorita, espere um pouco! – ela ouviu uma voz não muito grave a chamar quando passava pelo caminho de pedras por entre a grama verde, pouco antes da entrada do edifício do castelo.

Dorothy se virou. Ela avistou um homem branco, com cabelos longos, louros e surpreendentemente bem cuidados. Seu rosto possuía traços delicados, quase femininos. Tinha queixo, lábios e nariz finos, um sorriso um tanto malicioso e olhos esverdeados. Suas sobrancelhas estreitas e erguidas lhe davam um ar convencido. Era pouco mais alto do que ela, não tinha músculos aparentes, mas também não parecia fraco. Estava vestindo um manto branco aberto dos lados com um pequeno símbolo de Obad-Hai , o Deus da Natureza, bordado do lado esquerdo do peito. Por baixo do manto dava para notar sua armadura, uma cota de malha. Sua calça cinza-escura entrava em suas botas de couro polido e na cintura tinha um cinto que carregava uma maça. Era um homem muito bonito, do tipo que chamava atenção de todos, e ela já ouvira falar sobre ele.

— Sou Arlindo, o clérigo lindo! Pode me chamar de Artie ou pode me chamar de Lindo – disse ele abaixando levemente a cabeça em sinal de educação.

— Dorothy Leon – respondeu ela.

— É um prazer conhecê-la, senhorita Leon – disse Arlindo segurando sua mão e beijando-a – Vai ser um prazer ainda maior trabalhar com você.

Ela sabia que Arlindo era funcionário do castelo, nunca havia sido apresentada ou falado diretamente com ele, mas sabia de sua reputação. Ele era um dos clérigos dali e também um dos maiores bêbados da cidade.

O homem apontou para uma carroça fechada disponibilizada pelo rei para que pudessem se locomover pela cidade e os dois adentraram o veículo indo em direção à Cidade Baixa, um bairro humilde ao norte da cidade onde havia ocorrido o incidente.

— Então... – disse o clérigo acomodado no banco estofado da carruagem simples –Uma cavaleira do rei, não é mesmo?! Muito impressionante.

— Obrigada, mas por enquanto apenas levo um título por ter passado nos testes de cavalaria  - ela agradeceu voltando o olhar da rua para o homem sentado a sua frente – E você é um clérigo...

— Eu sou – afirmou com orgulho.

— Não quero parecer desrespeitosa, mas o que você faz no castelo exatamente? – perguntou.

— Não muito, para ser sincero – olhou para as próprias unhas polidas –Cuido da capela de Obad-Hai, e quando me pedem realizo algumas magias, como bênçãos, curas, previsões do futuro...

— Consegue fazer tudo isso? – perguntou um tanto impressionada.

— Ah, sim! Sou um homem de muitas utilidades como vai perceber. A vida no castelo é boa, com bastante dinheiro, luxo e renome – disse sorrindo e balançando levemente a cabeça para uma jovem do lado de fora que acenara para ele com as bochechas coradas – Ainda assim, eles não usam todo o meu potencial.

— Eu sei como se sente – admitiu Dorothy – Eu treino desde os meus oito anos de idade e sei que posso fazer muito com minha espada e meu escudo, mas meu tio, que também é meu mestre, disse que eu ainda não estou pronta para pegar missões e ajudar as pessoas que precisam.

— Você acha que está pronta?– perguntou o clérigo e a jovem assentiu com a cabeça – Então prove que ele está errado.

—É o que estou tentando fazer – disse com um sorriso determinado.

A carroça então parou e o cocheiro os avisou que havia uma feira ali próxima e ele não conseguiria adentrar a rua com a carruagem. O clérigo e a paladina desceram do veículo. Dorothy pouco visitava a Cidade Baixa, ficando na maior parte do tempo na região central ou na mais nobre de Theolen, onde as ruas eram mais largas, residenciais, limpas, arborizadas e pouco movimentadas. O completo oposto do bairro onde estavam agora.

Decidiram que deveriam ir primeiro aos comércios próximos ao local onde havia ocorrido o acidente para investigar e depois ir até o estabelecimento propriamente dito. Depois de duas horas recolhendo informações separadamente eles se reuniram numa pequena taverna e perguntaram aos clientes e ao dono do estabelecimento o que sabiam sobre o evento.

— Então você viu tudo acontecer? – perguntou Dorothy a um meio-elfo de cabelos escuros e barriga saliente que estava sentado sozinho numa mesa, tomando uma cerveja.

— Vi sim. Como eu já te disse moça, eu tava passando na rua àquela hora.

— Bom, então me diga o que viu – pediu ela com um pouco de pressa.

— É o que? E o que que eu ganho com isso, beldade? – perguntou agora com um sorriso malicioso que deixou Dorothy desconfortável.

— O que ganha com isso? Você vai ajudar o rei com essas informações, então, por favor, diga logo o que o senhor viu – insistiu ela pouco mais agressiva.

— Ah... O rei nunca fez nada por mim e nem você! Eu é que não vou ficar falando coisa sem receber nada em troca – disse o meio-elfo cruzando os braços – Não sou fofoqueiro.

Dorothy respirou fundo e pôs a mão na testa. Arlindo logo viu a garota lamentando e se aproximou da mesa em que ela estava, levando consigo dois copos de cerveja.

— Hey, moça – disse o clérigo – Dá espaço pro meu amigo aqui.

— O que? – perguntou Dorothy confusa.

— É, vá embora. Ele não quer falar mais com você – falou Arlindo dando uma piscadela discreta para Dorothy, que recebeu o sinal e foi se sentar no balcão da taverna.

A garota ficou prestando atenção no que acontecia na mesa e em apenas alguns poucos instantes o meio-elfo com quem ela falara antes já havia virado grande amigo do clérigo. Ela escutou os dois conversando sobre pessoas fofoqueiras, sobre cerveja e por fim sobre os acontecimentos do acidente da outra taverna. Dorothy ficou extremamente surpresa em como Arlindo rapidamente havia pegado a informação. Claro, ele exagerou no tempo da conversa e ela teve que o retirar da mesa repleta de copos vazios meia hora depois, mas ainda assim ele havia conseguido mais em alguns momentos do que ela durante as duas horas que estavam naquele bairro.

Saíram então do local e começaram a se dirigir para a taverna onde havia ocorrido o incidente: o Martelo de Moradin. Antes de chegarem no lugar Dorothy se virou para o clérigo:

— Como você fez aquilo? – perguntou.

— Como é? – perguntou o clérigo sorrindo enquanto a olhava de lado.

— É... – continuou Dorothy com o cenho franzido – Como você convenceu aquele cara tão rápido? Eu expliquei para ele o porquê de estarmos aqui, dei todos os detalhes de onde e como era a taverna do acidente, como isso era importante para o rei e para mim e ainda assim ele não me falou nada! Você sentou ao lado dele com um copo de cerveja e em menos de dois minutos ele te conta tudo?!

Arlindo deu uma leve risada e se olhou tranquilo para frente.

— Quando se é tão belo quanto eu as pessoas costumam ser bem receptivas a um ou dois elogios, então elas retribuem com prazer.

"O que ele quis dizer com isso? Ele está dizendo que eu não bonita o suficiente pra conseguir informações?!" pensou a garota confusa com a resposta do clérigo. Então se pegou o observando enquanto eles adentravam a taverna do incidente. Ele parecia estar entrando lá para se divertir. Na verdade, em todo o tempo que ela passara com ele, ele parecia estar se divertindo e não trabalhando. Além disso, em nenhum momento ele havia mencionado sobre os ensinamentos deus dele ou sobre a natureza, o que era muito curioso já que ele era um clérigo de Obad-Hai, o deus da Natureza!

Dorothy não conhecera muitos clérigos em sua vida, apenas aqueles que ela encontrara nos templos de Heirôneous e Pélor que já havia ido com seus pais. Mas o comportamento de Arlindo era completamente diferente do que se espera de um homem de tanta devoção e fé, o que a fazia pensar que ele era realmente fugia dos padrões de um clérigo.

Eles então foram até o taverneiro, um anão de rosto bem comum chamado Thorbard. Como todos os anões era atarracado, tinha feições rústicas e um nariz avantajado. Possuía também uma barba longa e escura e grandes entradas no cabelo desgrenhado que descia até depois de seus ombros.

Dorothy deixou Arlindo dizer tudo o que precisava e depois das apresentações, o dono da taverna começou a relatar o que havia acontecido:

— É, estava tudo normal e de repente BUM! Metade de um cavalo estava dentro do meu estabelecimento! E olha no que deu essa merda! – disse o anão apontando para sua parede remendada com tábuas de madeira.

— Jura? Parece ter sido uma loucura... – disse Arlindo apoiando o rosto sobre uma das mãos no balcão.

— E foi! Daí todo mundo foi pra fora ver o que tinha acontecido. Aquela porcaria de cavalo estava toda esmagada contra a parede e a carroça estava quebrada. Teve até uns caras que mexeram dentro dela atrás de dinheiro, eu acho. Não vi direito, tinha muita gente na frente e eu estava prestando atenção na minha parede! 

— E eles acharam dinheiro? – perguntou Arlindo.

— Não, só os vi pegando um pedaço de papel. – Negou com a cabeça.  – Se tivessem achado eu teria pego pra mim! Afinal alguém teria que pagar pela destruição que aquele negócio tinha causado! Aliás, você avisa pro rei que minha parede ainda tá quebrada e eu to esperando pra cobrirem meu prejuízo por essa porcaria. Como é que deixaram aquilo entrar na cidade?!

— É o que estamos tentando descobrir... Mas, foi só a parede que danificaram? – perguntou Dorothy.

— A parede, meus clientes e dois bardos!

Dorothy olhou confusa para o taverneiro.

— Achei que não tinham feridos – disse a garota.

— E não teve! Mas alguns clientes acham que é muito perigoso e amaldiçoado vir pra cá e não querem mais voltar e os malditos bardos me deixaram na mão. Eu ia contratar o Liminha aquele dia, já ouviram falar do Liminha, não é? – perguntou Thorbard.

Dorothy e Arlindo se entreolharam e fizeram que sim com a cabeça. Liminha era uma nova celebridade em Theolen, um compositor e cantor muito famoso, todos já tinham ouvido falar dele.

— Sabe quanto dinheiro aquele cara ia me render? Muito! Mas não, ele teve que ir pra sua maldita aventura atrás daquele dinheiro amaldiçoado. Humpf, palhaço!– cruzou os braços.

— Talvez ele volte – disse Dorothy tentando confortá-lo.

— Eu duvido! Todo mundo que vai pro Norte não volta! É um homem morto!

— Ele foi para o Norte? – perguntou o clérigo erguendo as sobrancelhas.

— Foi, junto de um bando de malucos. Acho que inclusive foi de lá que veio a carroça. Mas você me ouviu, né garota? Quero reembolso por isso aqui – disse apontando o dedo grosso para Dorothy.

— Espera, mas quão norte estamos falando?– insistiu Arlindo.

— O que você acha, bonitão? – O anão o encarou– Thorrun, é claro! Aquele lugar maldito. Parece que agora as pessoas daqui estão achando uma boa ideia ir para aquelas terras – negou com a cabeça – Deveriam estudar mais sobre história.

— Por que diz isso? – perguntou a paladina.

— Porque Thorrun é amaldiçoada. Todos sabem disso. Desde a queda do reino muitos tentaram ir até lá atrás dos tesouros que ficaram por lá, mas ninguém nunca voltou e duvido que alguém voltará.

Dorothy olhou para Arlindo com certa preocupação e então coçou a garganta.

— Bem, muito obrigada pelas informações. Vou falar com o rei e ver o que ele pode fazer por você – ela agradeceu e saiu da taverna com Arlindo.

Já estava de tarde e em poucas horas o sol se poria, então Dorothy e o clérigo voltaram para o castelo, dessa vez caminhando. A garota ficou boa parte do tempo em silêncio pensando sobre o incidente, sobre Thorrun e o que ouvira falar daquele lugar, o que não era muita coisa. Até que Arlindo resolveu puxar assunto com ela:

— O que te preocupa? – perguntou o clérigo.

— O que? – perguntou ela balançando a cabeça, saindo de seus pensamentos.

— Seu semblante está sério, não que isso te deixe menos bela, mas você parece preocupada, pensativa.

— Ah, eu só estou pensando em como tudo isso aconteceu. Não consegui descobrir como a carroça com o cavalo conseguiu entrar na cidade, o que já é estranho, mas fica ainda mais se você pensar que o homem que guiava a carroça, segundo os relatos, já estava morto antes de bater na parede da taverna...

— Bom, eu falei com um dos guardas que estava protegendo o portão norte naquela tarde, ele disse que não viu a carroça entrar, mas que se lembra de abrir o portão. E pela minha experiência ou ele estava muito bêbado ou foi enfeitiçado – falou Arlindo como se achasse aquilo algo muito comum.

— Hum... Bom, eu só espero que isso seja informação suficiente para o Rei – disse Dorothy.

— Está brincando? Nós descobrimos o que, como e quando aconteceu. Só não sabemos o porquê, mas isso ele pode descobrir sozinho. Agora... Por que a gente não para numa taverna e bebe uma cerveja bem gelada pra descansar um pouco, hein? – perguntou o clérigo com um sorriso no rosto.

— Não, obrigada. Eu vou entregar o relatório para o rei o quanto antes, além disso, eu não bebo.

— Ah, entendi. Você é do tipo certinha... Mas pra que toda essa pressa? Eu vi que você queria retirar as informações o mais rápido possível das pessoas.

Dorothy olhou para Arlindo então suspirou.

— Quando eu entregar tudo o que conseguimos para o rei, ele vai me dizer onde está o meu tio – ela respondeu.

— Como assim vai dizer onde está seu tio? Ele está brincando de se esconder ou algo do tipo? – brincou o clérigo.

— Não, ele foi para uma missão e nunca mais deu sinal de vida, o que não é do feitio dele.

— Ele é um soldado? Um cavaleiro?

— Não. Ele um é dos Doze.

Arlindo arregalou os olhos então parou de andar por um instante observando atentamente a garota.

— Espera um pouco. Você está falando de Steve Leon? – perguntou ele.

— Sim.

— Ah... Então você é do ramo principal da família Leon! Achei que era uma prima distante e sem importância...

— O que? – perguntou Dorothy franzindo o cenho, confusa.

— É que seu cabelo é preto e tem cachos, não é louro e liso, mas deixa pra lá. Então você é a garota Leon que é a Escolhida, certo?

— É o que dizem –ela desviou o olhar um tanto envergonhada.

— Impressionante... Bom, sei que algumas pessoas podem duvidar que você seja realmente enviada pelos deuses para salvar essa Era, mas pode acreditar que você com certeza você seria a minha Escolhida – disse Arlindo com um tom diferente na voz.

— Han... Obrigada – disse Dorothy sem jeito, perguntando-se se aquilo havia sido um flerte.

Ele sorriu então olhou em volta, notando uma taverna próxima.

— É aqui que eu fico. Tem certeza que não quer tomar nada? – perguntou ele com ar convidativo.

— Tenho. – Ela sorriu.

— Então boa sorte com o rei. Eu vou me divertir um pouco. Espero te encontrar novamente, senhorita Leon – falou Arlindo piscando enquanto tomava uma direção diferente da dela.

Dorothy sorriu e acenou com a cabeça. Foi em direção ao castelo e ao chegar lá percorreu todo o caminho até a sala do rei. Ela logo ganhou permissão para entrar e relatou tudo o que havia descoberto sobre o incidente, incluindo a exigência de manutenção da taverna do anão.

— Hum... Um caso muito curioso esse – disse Hammel com sua expressão séria de costume após ouvir toda a história. – Muito bem, poderei trabalhar melhor agora com essas informações. Já está dispensada.

— Obrigada majestade – disse Dorothy assentindo com a cabeça – Mas o senhor ainda não me disse onde está meu tio.

Hammel franziu o cenho com a pergunta, levantou a cabeça analisando Dorothy e respondeu a garota friamente.

— Seu tio está em uma missão ao norte. Nos territórios abandonados de Thorrun.

"Norte?" pensou Dorothy se lembrando do que o taverneiro lhe dissera mais cedo sobre aquele local.

— O que ele está fazendo lá? – ela perguntou preocupada.

— Ele deve eliminar todo o mal que há na região.

— Xino foi com ele?

— Não. Ele foi sozinho.

— O que?! Por quê? – perguntou ela se exaltando enquanto apoiava as mãos na escrivaninha a sua frente, mas Hammel não a respondeu.

Dorothy ficou surpresa, era difícil acreditar que Steve e Xino não estavam numa missão juntos. Eles eram um time, deveriam sempre trabalhar juntos, como todas as outras duplas dos Doze de Theolen. Além disso, Dorothy sabia o quanto os dois eram amigos, Steve até dizia que Xino era como um irmão para ele. Então lhe era muito estranho os dois estarem separados.

— Ele não tem como cuidar daquele lugar sozinho! Todo o reino é amaldiçoado!–continuou a garota –Precisa mandar alguém ajudá-lo! Ele pode estar em perigo agora mesmo, por isso não voltou ainda.

— Não irei mandar meus homens para lá. Não tenho tempo ou recursos para cuidar disso no momento.

— Mas se ele ficar lá sozinho pode acabar morrendo!

Hammel ficou em silêncio olhando para ela, como quem quisesse saber o que a garota estava pensando, enquanto Dorothy o encarava esperando que desse uma solução para o problema, mas ele não o fez.

— Bom, e se eu for atrás dele? Se eu for tirá-lo de lá? – perguntou a garota.

O rei a observou por alguns instantes, levou a mão ao queixo e começou a olhar para além dela e da sala. Parou para considerar a situação e por fim juntou as mãos em frente à boca. Dorothy o olhava fixamente, tensa por esperar um "não" como resposta, conseguia até mesmo sentir as batidas de seu coração acelerado. Mas por fim, ele respondeu:

— Isso seria producente – disse de forma severa – Mas não gastarei muitos recursos com isso, Steve consegue se cuidar sozinho. O máximo que posso fazer é separar um clérigo para que cuide das feridas que você possa vir a ter durante a viagem, um pajem para cuidar dos mantimentos e uma escolta até os limites de nosso território. Se quiser mais pessoas, terá de contratar sua própria equipe.

Dorothy suspirou um tanto aliviada e Hammel pode ver em seus olhos a felicidade da conquista.

— Muito bem então! – disse ela determinada enquanto se levantava da cadeira – Arranjarei minha equipe e irei buscar Steve.

— Ótimo. Boa sorte com isso e avise-me quando for partir – disse o rei.

Dorothy fez um sinal positivo com a cabeça e saiu da sala, agora pensando em como arranjar uma equipe. Ela se lembrara de todas as aventuras que ouvira sobre Steve e de como dentre combates épicos, golpes lendários e soluções criativas para os problemas, uma coisa era fundamental: a equipe.

Algumas equipes como a formada por Xinomah Nailo, sua dupla dos Doze; Tayto a coruja sapiente e Angus Incus, um halfling herdeiro da família Incus do reino de Arul, foram excelentes e auxiliaram imensamente Steve em suas façanhas. Entretanto algumas outras equipes se mostraram um grande problema.

Dorothy sentindo um frio na barriga ficou apreensiva, quem quer que fossem as pessoas que a acompanhariam nessa busca, poderiam definir o sucesso ou o fracasso dessa missão, colocando não só sua vida em risco, mas também a de seu tio. 


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Notas finais do capítulo

E mais personagens vão aparecendo assim como informações sobre o mundo... Estão gostando? Falem pra mim ^^