Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 35
Dorothy - Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito em conjunto com Mateus de Fraga Rodarte ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/642142/chapter/35

Pequenos gravetos e folhas finas e pontiagudas cobriam a terra macia do chão da floresta de pinheiros. Os poucos raios de luz que passavam por entre as copas altas das árvores, criavam linhas de iluminação que ao tocarem o chão, formavam belos mosaicos dançantes. Esse trecho com ar úmido e troncos podres, caídos e cobertos por musgo, era a última faixa densa de vegetação que separava Charly, Nipples, Solomon e Arlindo de seu destino, a Planície Roxa.

O terreno pelo qual os quatro homens passavam era repleto de desníveis, fazendo com que a caminhada exigisse muito da constituição de quem andava por ali. A trilha, quase imperceptível, pela qual caminhavam havia sido criada muito tempo antes deles mesmos a explorarem, e quem não seguia esse caminho corria o risco de se desequilibrar em terra frouxa, ou pior, atravessar o fino solo da floresta e cair nas criptas subterrâneas de Thorrun, com poucas chances de retornar à superfície… A menos que fossem pessoas ou criaturas de pouco peso, como elfos ou halflings.

Para a sorte dos theolinos, Arlindo já havia passado por ambientes parecidos, então pôde oferecer suporte durante a viagem, sempre notando o local mais adequado para se pisar e avisando os companheiros para se manterem na área segura.

Horas haviam se passado desde o encontro com os drows e o homem de cabelos louros liderava a marcha sem pensar muito no ocorrido, levando em mãos uma cuia de barro cheia de água com um graveto dentro. Nipples e Charly o seguiam há poucos passos atrás, carregando a maior parte dos pertences do grupo, e Solomon andava na retaguarda, visto que se algum inimigo tentasse atacá-los pelas costas teria que lidar com ele primeiro. O próprio guerreiro escolheu sua posição, pois considerava sua presença como um desconvite ao confronto e seus companheiros de equipe concordavam com isso.

Sem conversas recorrentes, eles caminharam em silêncio, perdidos em seus próprios pensamentos, preocupações e objetivos, até que Arlindo parou os passos. O clérigo fitou o pedaço de madeira boiando na cuia que segurava, quase alheio ao ambiente a sua volta, e observou um pequeno tremular na água. Sem se virar para trás, levantou o indicador para que todos prestassem atenção aos arredores, mas além dele, apenas Charly percebeu um barulho de algo sendo arrastado no chão.

— O que foi isso? – sussurrou o garoto.

Arlindo fez um gesto para que todos fizessem silêncio deixando a cuia cuidadosamente no chão. Em seguida ajeitou o elmo em sua cabeça e, de forma furtiva, foi ver o que havia na direção em que havia escutado o som.

Seguido de Charly, o clérigo subiu uma última elevação íngreme que separava o grupo de um ambiente mais aberto no qual as árvores estavam mais esparsas. Com a iluminação mais presente naquele local, os dois puderam notar uma pessoa, coberta por um manto longo, arrastando o corpo de uma corça na direção da Planície Roxa.

Charly forçou a vista tentando enxergar por entre a capa negra e então viu que se tratava de uma humana caucasiana. A jovem vestia uma blusa de linho creme de mangas longas, rasgada na altura da barriga expondo uma cintura fina e parte de um hematoma nas costelas. Ela usava também uma calça escura com uma atadura envolvendo a coxa esquerda, mas Charly não conseguiu distinguir os traços de seu rosto, pois eles sumiam na sombra de um capuz.

Intrigado com a visão, o garoto olhou em volta procurando por mais humanos, mas antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, Arlindo desceu do topo do declive em direção à jovem moça, fazendo Charly arregalar os olhos e se inclinar para frente, preocupado com o que isso poderia gerar.

— Olá você! – disse o clérigo com um enorme sorriso no rosto e os braços abertos enquanto se aproximava da pessoa.

No mesmo instante, a garota encapuzada se virou e esticou uma lança em direção ao pescoço do homem, fazendo com que ele levantasse os braços em sinal de rendição.

— Arlindo? – perguntou ela com tom surpreso.

— Pode me chamar de Arty ou pode me cham...

Antes que o clérigo completasse sua clássica apresentação, a garota pulou em seus braços, abraçando-o com força. Charly, que já estava quase chamando os outros companheiros de equipe para resgatar o clérigo, franziu o cenho confuso, então notou alguns cachos negros caindo sobre o rosto da menina e no ombro do clérigo. Naquele instante ele entendeu o que estava acontecendo e com um sorriso aberto, desceu correndo em direção à jovem.

— Dorothy! – exclamou com alegria.

A paladina sorriu e se desvencilhou de Arlindo, abraçando Charly em seguida. Seu coração batia acelerado com a boa surpresa e seus olhos se molharam de emoção. Quando os abriu novamente, viu Solomon e Nipples descendo a inclinação após ouvirem o grito do mais jovem. Ela tirou o capuz que cobria sua cabeça e revelou o rosto com um arranhão na bochecha e o cabelo preso num rabo de cavalo alto, então se dirigiu até o serviçal e o abraçou calorosamente.

— Oh… Minha senhora… – Nipples falou surpreso e logo Dorothy o soltou – É-é muito bom revê-la – disse sem jeito, não conseguindo pensar em uma recepção mais elaborada devido ao contato físico inesperado.

— Posso dizer o mesmo Nipples – ela sorriu para o homenzinho.

A paladina seguiu empolgada até Solomon, mas o guerreiro a encarou de forma fria. Ao perceber isso a menina abaixou os braços, corando as bochechas logo em seguida. Os dois se encararam parando um em frente ao outro.

— É bom revê-lo Solomon – ela afirmou sorrindo e entrelaçando os dedos atrás das costas.

— Estávamos atrás de você.

— Me encontraram rápido… – ela sorriu.

— É – concordou o guerreiro desviando levemente o olhar.

Dorothy franziu o cenho, estranhando o que parecia ser alívio e talvez até mesmo alguma alegria escondidos no rosto e no tom de voz do homem. Considerando essa leve impressão e a ocasião, ela sorriu e avançou contra ele, o abraçando.

Solomon arregalou os olhos por um instante, mas logo depois tocou o ombro da paladina como resposta. Arlindo observou os dois e levantou uma sobrancelha, caminhando apressado até a paladina e puxando-a de maneira delicada pela mão.

— Você está bem? – Perguntou preocupado. – Como passou a noite? O que aconteceu?

Dorothy olhou para o clérigo e imediatamente sentiu um calafrio lhe correr a espinha ao lembrar-se da noite anterior. Notando o temor no olhar de Nipples e Charly ela espantou as más lembranças de sua mente e respondeu de forma calma, tentando não alarmar seus amigos.

— Eu estou bem – afirmou com um sorriso. – Foi uma noite longa e muita coisa aconteceu, mas é melhor conversarmos sobre isso em outro lugar. Não sabemos quanto da floresta é território dos drows e mesmo que esteja de dia eles ainda podem atacar.

— É, nunca se sabe quando eles vão aparecer – comentou Charly e logo Arlindo o encarou de forma severa.

— Bom, eu montei um acampamento a sudeste daqui, vamos para lá que é mais seguro. Contarei o que houve assim que chegarmos – disse a paladina.

— Ótimo, vamos logo então – concordou o clérigo.

Sem soltar muitas palavras, Dorothy pegou a corça morta e guiou sua equipe pelo terreno. Em pouco tempo já estavam pisando na grama viva e macia da Planície novamente.

O vento acolhedor do campo aberto tocou os rostos cansados e confiantes dos viajantes. Eles haviam se reunido em menos de um dia, um feito e tanto considerando a imensidão do território de Thorrun, e estavam todos muito felizes com isso. Mesmo a preocupação sobre a maldição de Dorothy havia sido deixada de lado a princípio, não sendo mencionado nada do assunto, como num acordo mútuo e silencioso entre o grupo.

— Chegamos – disse a garota depois de uma boa caminhada.

Os quatro homens pararam e observaram a área. Era um vale cercado por restos de estacas, com algumas ruínas e estruturas semelhantes às bases de residências, feitas de pedra e madeira. Algumas plantas invadiam as construções destruídas pelo tempo, mesclando-se às rochas e vigas que delimitavam as edificações já não mais existentes. O que quer que fosse aquele local, já não era utilizado há mais de cem anos.

— O que é esse lugar? – perguntou Charly analisando o ambiente.

— Não tenho certeza – respondeu Dorothy jogando o corpo do animal que carregava próximo a uma fogueira apagada. – Parecem estruturas de casas simples. Lembraram-me bastante as residências da Cidade Baixa em Theolen. Imagino que aqui deva ter sido algum tipo de base ou acampamento feito nos tempos de invasão de Thorrun... Ou talvez seja dos anões, não entendo muito desse tipo de coisa pra falar a verdade.

— Acho que isso não é relevante agora, não é mesmo? – disse Arlindo sentando-se numa pedra e se recostando em uma estrutura de madeira. – Temos assuntos muito mais importantes para conversar. Tudo que precisamos saber sobre este lugar é se ele é seguro ou não.

— É seguro – respondeu Dorothy limpando uma mão na outra. – Quero dizer, tanto quanto possível aqui no norte. Os mortos ainda saem do chão durante a noite, mas poucos aparecem por aqui ao comparar com outros pontos da planície, e é claro, tem um mausoléu de pedra que pode nos abrigar em caso de necessidade. A porta é pesada e dá pra trancar por dentro, então se algo acontecer comigo...

— Se…? – perguntou o clérigo fitando-a.

Dorothy sentiu os olhares de sua equipe se voltando para ela. Não pareciam temerosos, mas sim esperançosos, provavelmente de uma solução para o grande problema da paladina.

— Sim. Se— ela respondeu. – É possível que… – hesitou um tanto nervosa. – É possível que eu seja imune à maldição – afirmou com o semblante sério.

A garota olhou para seus companheiros esperando uma reação, mas eles apenas a encararam espantados. Não conseguiram dizer nada a princípio, pois aquela informação lhes parecia completamente irreal. E se por um lado, o que a paladina dizia soava como um absurdo ou até mesmo uma piada de mau gosto, por outro, a jovem já havia os surpreendido em diversas ocasiões e resistir a algo considerado impossível, como à maldição de Vaalij, apenas fazia com que aquilo se parecesse com algo que Dorothy Leon realizaria.

— Bem… – ela continuou. – Eu sei que não parece verdade, mas pensei muito sobre isso até aceitar que pode ser real, além disso, não me transformei na noite passada – afirmou notando o alívio aparente nas feições de Nipples e Arlindo.

— Mas… Como? – perguntou Charly pasmo. – Nós vimos a mordida.

— De fato fui atacada pela forma selvagem do Vaalij, mas há uma grande chance da licantropia que ele me passou ser uma doença e não uma maldição efetivamente – disse a jovem.

— E isso é bom? – perguntou Solomon.

— Quer dizer que está curada, minha senhora? – questionou Nipples em seguida.

— Eu não diria curada. É mais como se eu nunca tivesse sido afetada pela licantropia, porque minha aura me protege de doenças.

— Você tem certeza disso? – perguntou Arlindo pronto para mostrar um sorriso.

— Sobre minha aura, sim. Sobre a licantropia, não… – Ela entortou os lábios abaixando o olhar. – Como eu disse, é uma possibilidade. Eu não me transformei ontem, mas também não dormi e não sei quanto a minha consciência pode influenciar na transformação, além disso, a informação sobre a licantropia ser uma doença é apenas um palpite que eu ouvi de uma fonte não muito confiável… – explicou, fazendo Charly e Arlindo se entreolharem desconfiados – Acho que está na hora de vocês saberem sobre ontem a noite...

Nos momentos seguintes, Dorothy narrou à sequência de eventos que se sucederam após a sua despedida de Arlindo. Uma forte tensão passou pela espinha dos viajantes ao ouvirem sobre o encontro com o Necromante, principalmente no momento em que Dorothy contou sobre o destino de sua espada. As horas que ela havia passado correndo e matando inúmeros mortos-vivos também não foram menos agonizantes. Por fim ela lhes disse sobre o momento em que encontrou as estruturas abandonadas e como isso a ajudou a lutar melhor e sobreviver.

— Me tranquei no mausoléu quando consegui espaço e tentei me curar, mas eu estava tão ferida que regenerar todos os meus machucados já estava além das minhas capacidades – Ela contou. – Fiquei vigiando a porta durante toda a noite, mas depois de algumas horas o barulho dos mortos cessou e aproveitei para meditar um pouco. Quando sai do mausoléu já estava claro, então deixei minha armadura aqui pra não chamar atenção e fui caçar. Acabei pegando o manto da drow que o Necromante matou pra tentar me disfarçar e depois segui pela floresta. O resto vocês já sabem.

— Parece ter sido uma noite terrível, minha senhora. Eu sinto muito… Queria que não tivesse passado por isso sozinha – disse Nipples com pesar. – Por favor, me perdoe por não estar presente.

— Não tenho pelo quê perdoá-lo, eu pedi que não viesse comigo e você cumpriu seu dever, além disso, o importante é que agora não estou mais só – ela sorriu para o serviçal.

— É – concordou Arlindo. – Eu só queria poder te ajudar com os ferimentos, mas acabei com todas as minhas magias de hoje – lamentou um tanto frustrado.

— Está tudo bem, eu só preciso descansar e recuperar as energias da minha aura. Aí serei capaz de me curar novamente. Mas e vocês? Como foi a noite no Vaalij? E a viagem até aqui, foi tranquila?

— A noite foi boa, mas a viagem nem perto disso. – O clérigo riu em negação.

— O que aconteceu? – perguntou curiosa enquanto Nipples se levantava e ia preparar a corça para uma refeição.

— Encontramos um troll no caminho – respondeu Charly.

— Um troll? – perguntou Dorothy surpresa. – Tio Steve já lutou contra alguns desses, sempre são histórias espetaculares! Não acredito que derrotaram um sem mim, deve ter sido incrível.

— Não foi, nem de longe, divertido como você imagina – disse o garoto com um meio sorriso e o cenho franzido – Ele era gigante e teríamos sido devorados se não fossem as magias do Arlindo e o Solomon.

O guerreiro que estava sentado ali ao lado olhou para frente apoiando as mãos nos joelhos e se levantou, saindo de perto da fogueira ao ouvir ser creditada a vitória contra o troll às magias do clérigo. Charly percebeu o efeito do que havia falado, mas era tarde demais. Dorothy se levantou para convencer o homem a voltar, mas Arlindo a alertou para deixá-lo em seu espaço naquele momento e garota o escutou. Ela se sentou ao lado do clérigo ainda olhando para o guerreiro e então suspirou, voltando sua atenção para o assunto e chegando à conclusão que uma informação ainda lhe faltava.

— Bom, tenho uma dúvida… – Ela olhou para Arlindo. – Como me encontraram tão depressa?

O clérigo sorriu.

— Obad-Hai nos guiou… – disse fechando os olhos, confiante.

— Tá bem, sem brincadeiras... – disse a paladina desconfiada. – É um espaço muito grande aqui no norte, achei que talvez nunca mais fosse ver vocês!

— Eu estou falando sério – respondeu o homem de cabelos loiros ainda sorrindo de forma jovial para a paladina. – Vê aquela cuia ali? – disse apontando para a tigela de barro que carregava mais cedo. – Preparei uma magia hoje de manhã. Estava quase sem energia depois da luta contra o troll, mas sabia que tinha o suficiente para isso. Já tinha ouvido falar sobre essa prece embora nunca a tivesse usado e acabou que deu muito certo… Um graveto dentro de uma cuia com água leva um clérigo da natureza até o que o seu coração mais anseia… – disse erguendo o olhar com um sorriso malicioso.

— Obrigado por se importar tanto – ela sorriu feliz e envergonhada para o homem, colocando a mão sobre a dele por um momento, mas sem o ar de flerte do clérigo.

— Então era isso que fazia a tigela? – Perguntou Charly surpreso. – Eu jurava que era alguma loucura de bêbado.

— Loucura de be… – Arlindo se interrompeu e o olhou indignado – Ah, essa gente com quem tenho que me misturar – disse virando o rosto em negação.

Dorothy deu risada então Charly mencionou sobre seu vizinho, considerado maluco, que insistia em dizer que todas suas ações eram guiadas pelo deus sol e por isso ele acabava fazendo coisas que ninguém entendia, assim como Arlindo. A comparação rendeu uma longa discussão entre o garoto e o clérigo sobre “loucuras divinas” que as pessoas faziam. Dorothy e Charly riram muito juntos, e mesmo que se conhecessem há pouco tempo, já pareciam velhos amigos.

Nipples, mesmo sem falar com os demais, parecia estar feliz na companhia de todos enquanto preparava a carne da corça da maneira mais nobre possível com os recursos que tinha a sua disposição. Como Dorothy já conhecia o serviçal, não o forçou a se enturmar, se tudo desse certo ela teria toda a noite para conversar com o colega sem que este se sentisse interrompendo algo que considerasse mais importante.

Depois de um tempo conversando na fogueira, e após uns bons pratos de comida, Dorothy se levantou e foi em direção a Solomon, que observava o entardecer sentado no topo de uma colina. O homem não usava armadura no momento, optando por algo mais leve e confortável, uma camiseta de linho vermelha.

— Olá – disse a paladina parando ao lado dele, recebendo de volta apenas um olhar de soslaio – Estou atrapalhando algo?

— Fique à vontade – ele respondeu e ela logo se sentou.

Os dois olharam o sol se aproximando do horizonte por alguns instantes, ambos sentindo que deveriam falar algo, mas com as palavras morrendo na garganta antes que chegassem à boca. Por fim, a paladina rompeu o silêncio com uma única palavra:

— Obrigada.

Solomon a olhou confuso e disse:

— Não fiz nada para que me agradecesse.

Dorothy o fitou e sorriu, voltando a apreciar o sol poente em seguida. Sabia que discutir não levaria a nada e tudo que gostaria de manifestar perante o guerreiro, naquele momento, já cabia naquele singelo agradecimento. Para ela, não importava os motivos que levaram Solomon a se juntar ao grupo naquela missão, ou se ele lhe desejava bem assim como Charly, Nipples ou Arlindo. Aquele homem havia protegido a ela e a seus amigos durante todo aquele tempo, havia compartilhado histórias e experiências, mesmo com seus modos rudes e bruscos, ela sabia que não teriam chegado tão longe sem ele. Por isso ela sabia que devia a ele um obrigado.

Pouco antes de a noite cair, Dorothy se levantou e pediu aos companheiros que entrassem no mausoléu, dizendo que pernoitaria do lado de fora. As ruínas lhe forneceriam o ambiente tático com o qual ela era acostumada a combater e eles estariam seguros dentro da cripta. Seus colegas, é claro, se negaram. Nipples afirmou que a garota deveria ficar dentro do local sozinha, pois ele havia preparado o chá do sono para ela. Arlindo concordou, pois mesmo que o Necromante houvesse mentido e ela realmente estivesse amaldiçoada, pouco poderia fazer se estivesse desmaiada.

Ainda insegura com a ideia, mas convencida de que era o mais sábio a se fazer, Dorothy seguiu o plano, tomando o chá e se recostando no canto da cripta. Em menos de meia hora a garota estava em sono profundo.

A noite que se seguiu não foi tranquila. Como esporadicamente alguns esqueletos vagavam naquela direção, os quatro homens tiveram que fazer turnos de vigia para poderem dormir.

Em seu turno, Nipples se encarregou de checar Dorothy, sendo o mais silencioso e respeitoso dentre os cavalheiros presentes, julgou que seria adequado que ele a conferisse, de tempos e tempos, para ver se alguma mudança afligia a jovem Leon.

Já Arlindo, Solomon e Charly tiveram que lidar com algumas ossadas vivas durante a noite e demoraram bastante para cair no sono quando encontraram tempo para descansar. Estavam agitados tanto com os desmortos que poderiam aparecer a qualquer momento, quanto com a possibilidade de Dorothy se transformar, já que para isso não acontecer o Necromante teria que ter dito a verdade, algo que duvidavam muito.

Arlindo particularmente ficou muito intrigado com isso, pois já havia ouvido falar sobre a capacidade de Steve Leon de resistir a doenças, mas isso o fazia o questionar se a maldição realmente era uma patologia como o Necromante havia afirmado, e o porquê dele ter dado tal informação à paladina.

Dorothy não teve uma noite muito melhor do que seus companheiros, embora não tenha acordado nenhuma vez em razão do chá de Nipples, suas 11 horas de sono foram cheias de pesadelos. Neles, hordas de zumbis caminhavam em sua direção, cercando-a e impedindo–a de chegar aos seus objetivos. Por mais que ela lutasse, eles não paravam de aparecer e em certo momento matavam seus amigos, fazendo-a caminhar sozinha por uma noite sem fim, onde até a mais radiante das luzes tinha seu brilho apagado.

Quando ela finalmente acordou dentro de uma tumba úmida e mal cheirosa, sentiu alívio, pois ainda tinha uma chance de lutar e seguir em frente em busca de seu tio junto de sua equipe.

Depois de trocar sua blusa rasgada e suja por uma camisa de manga três-quartos azulada, Dorothy usou seu dom de cura para se regenerar dos ferimentos restantes em seu corpo. Em seguida, ela foi para fora da cripta, onde encontrou Nipples sentado ao lado da porta. Ele arrumava algumas coisas na mochila quando a viu sair.

— Bom dia, minha senhora – ele sorriu.

— Bom dia Nipples – respondeu a paladina coçando os olhos e acostumando-se com a luz do sol – Parece que dormi muito… – comentou.

— A senhora estava cansada – justificou o serviçal.

— Estava… – Ela concordou olhando para o chão – E aconteceu algo? Comigo? – o encarou esperançosa.

— Não, minha senhora. Foi tudo bem – ele disse muito alegre.

Dorothy relaxou e fechou os olhos por um instante soltando o ar de seus pulmões. Sentia um enorme alívio após passar a segunda noite seguida sem se transformar, era como se ela fosse dona de seu próprio corpo novamente.

— Isso é ótimo… – ela sorriu – Onde estão os outros? – perguntou.

— Do outro lado – Nipples apontou para a parte detrás do mausoléu.

Com suas energias e seu espírito renovados, a paladina caminhou pela planície e então viu Charly, Arlindo e Solomon. O mais jovem estava mais próximo a ela, enquanto os mais velhos estavam sentados há alguma distância dali, tomando cerveja e observando o sol da manhã. Ao notar aquela relação inusitada, Dorothy franziu o cenho e caminhou até o garoto que praticava os movimentos da empunhadura dupla na base de uma colina.

— Charly, sabe o que aconteceu ali? – perguntou a garota para o jovem, se divertindo com o clérigo e o guerreiro interagindo daquela maneira, talvez pela primeira vez desde o início da viagem.

—Ah, oi Dorothy – ele sorriu parando seus movimentos e então olhou em seguida para os outros companheiros – Hum… Solomon estava olhando o sol, Arlindo foi fazer também e levou uma cerveja para beber. Não sei ao certo como aconteceu, mas pelo visto o Arlindo ofereceu uma bebida para ele… Acho que o álcool tem o poder de unir as pessoas – disse o garoto erguendo os ombros.

—Xino concordaria com isso – disse Dorothy se lembrando de Xinomãh Nailo, a dupla dos Doze de Theolen de seu tio – Já eu, tenho minhas dúvidas.

—Por quê? – perguntou o jovem theolino.

—O gosto é péssimo. – Ela justificou mostrando a língua.

—Eu tomei uma vez, mas não lembro o sabor. Sei que eles parecem estar gostando… – falou Charly entortando a boca, interessado.

—Você não é muito novo para beber, não? – A paladina ergueu uma das sobrancelhas com um sorriso.

—O que? Claro que não, eu sou um aventureiro agora! Aventureiros bebem! – exclamou o garoto de cabeça erguida.

—Nem todos… – disse ela sorrindo e logo ele retribuiu o gesto – Agora, me mostre o que tem treinado.

—Ah, eu estive pensando em usar as duas lâminas juntas, me sinto mais seguro assim… O que acha? – perguntou movimentando a espada curta e em seguida a quebrada.

—Hum, isso requer muita coordenação – comentou a paladina. – Não sou uma especialista nisso, afinal optei por usar um escudo e uma espada, mas algo que sempre ajuda é tentar enxergar sua arma como parte de você, ou uma extensão do seu corpo.

— Já ouvi essa história antes, mas isso não é muito explicativo… – disse o jovem encarando a paladina.

— É difícil explicar algo assim – falou passando a mão no queixo. – Mas tenho um exemplo: Solomon – Ela disse olhando para o guerreiro à distância. – Ele tem um ótimo martelo, mas é uma arma que deve pesar bastante. Ainda assim, quando ele luta, parece que ele não faz esforço algum para dar seus golpes. Seus movimentos são fortes e pesados, mas precisos e fluidos de certa forma. É incrível vê-lo combatendo… – falou divagando por um instante. – Ele mal deve notar quando segura o martelo, já deve achar algo natural – continuou voltando sua atenção à Charly.

— Mas é fácil quando se é grande e forte que nem ele – disse ele olhando para o lado.

— Não – Dorothy negou com a cabeça – Não estou falando de tamanho ou músculos. Estou falando de identidade. Pense em Nipples agora. Ele pode não parecer um combatente como nós, mas está diariamente lutando contra a sujeira. E pode parecer bobo, mas note como ele é preciso e minucioso nisso. Ou Arlindo então, ele é um clérigo da água, um dos elementos associados à cura e mudança. Ele é bastante versátil em combate, usando o apoio de suas magias e sua maça, além disso, pode ser bem forte quando necessário, e sei que é mais esperto do que aparenta ser – sorriu lembrando–se das inúmeras vezes em que o homem loiro havia lhe dado conselhos.

— Hum… Acho que entendi o que quer dizer. Seria algo como: você usa um escudo porque sempre quer proteger as pessoas, não é? – falou o jovem com um brilho nos olhos castanhos.

— Acho que dá pra ver assim – ela sorriu feliz ao ouvir o que Charly lhe dissera.

— Bom, eu não sou forte e resistente pra ter uma arma grande e uma armadura pesada, mas eu consigo me esquivar das coisas e duas armas ajudariam a me defender melhor, além disso, acho que eu consigo fazer mais coisas com um par de lâminas do que apenas uma. Não é o caminho normal de um guerreiro, mas… – ele olhou para as mãos segurando as espadas.

— É o seu caminho – completou Dorothy orgulhosa do amigo. – Não será fácil dominar uma dupla empunhadura, mas comece procurando pela melhor maneira de segurar essas duas espadas, um jeito que não te incomode, que seja prático e que deixe seu movimento fluido e natural. Quando estiver em sincronia com o que estiver empunhando, será muito mais fácil combater e vai notar isso.

— Tá bem, vou fazer isso – concordou o garoto. – Obrigado, Dorothy.

A paladina sorriu fazendo um aceno positivo com a cabeça e então viu Solomon e Arlindo descendo o morro para comer depois de terminarem suas bebidas. Ela chamou Charly e os dois se dirigiram à fogueira, reunindo–se à equipe para a refeição com a carne salgada da corça.  

Arlindo secou uma nova garrafa de cerveja, oferecendo outra para o guerreiro, que dessa vez negou o favor. Charly comentou com Dorothy sobre alguns guerreiros lendários, enquanto os dois pensavam em alguém cujo estilo de luta pudesse inspirá-lo. Já Nipples, comeu e depois ficou em silêncio agitado. Ele frequentemente olhava para Dorothy e para os outros, além de observar o ambiente em que estavam. A paladina notou a inquietação do serviçal, mas sem querer constrange-lo perguntando diretamente o que o preocupada, quando terminou de comer, ela foi para dentro do mausoléu, esperando que se Nipples quisesse lhe dizer algo, ele o fizesse em particular.

Ao entrar na cripta a paladina foi até sua mochila, e lá encontrou algo do qual há algum tempo havia esquecido que tinha; uma caixinha de madeira. A jovem se sentou e mexeu no objeto, ainda se perguntava o porquê daquele pequeno baú ter lhe chamado tanta atenção quando o encontrou na sala do rei. “Talvez o Mago quisesse que eu a encontrasse” considerou lembrando–se que foi o velho homem quem lhe dissera para adentrar no local onde encontrou o objeto.

Dorothy observou intrigada a pequena caixa de madeira. Apesar de sentir que ela tinha algo de especial, não entendia o motivo de sua importância, afinal ninguém havia lhe explicado e de todos os objetos para ela levar numa viagem, este lhe parecia o menos útil. “Eu deveria ter pego uma espada ou um escudo no lugar disso” pensou consigo.

A paladina suspirou então viu seu arco encostado em um canto. Ela o analisou por alguns instantes, considerando como ficaria seu combate a partir dali, já que passaria lutar com a lança que roubara de um morto–vivo duas noites atrás e seu arco. Sabia usar bem a lança, mas a versatilidade de uma espada longa, para Dorothy, era incomparável. O escudo também lhe fazia falta, seu estilo de combate tinha que mudar muito sem o equipamento de defesa, e de todas as formas de luta que seu tio havia lhe ensinado, nenhuma parecia mais eficaz do que uma espada comprida e um escudo na mão inábil.

No final das contas percebeu que não era a espada ou o escudo o que lhe fazia mais falta, era aquela figura, seu tio, mentor e melhor amigo. Ela sentia falta de Steve Leon.

Fazia meses desde que seu tio havia lhe visitado em uma noite chuvosa na residência dos Leon. Ele parecia agitado no dia e havia passado horas falando com seu pai na oficina. A princípio ela pensou que seu antigo mestre estava nervoso pelos testes que ela faria para tentar o título de cavaleira. Agora já não tinha mais certeza. Fazia tanto tempo… Ao menos ainda podia sentir o abraço forte de quando se despediram.

“Onde você está tio Steve?” perguntou em silêncio e logo as palavras do Necromante ecoaram em sua mente: “Não existem finais felizes”, “Você não vai encontrar Steve Leon”, “É fraca de mais e vai estragar tudo”, “... o Norte só abriga os fortes e não há lugar aqui para você paladina. Vá embora e talvez não acabe como seu tio”.

Dorothy olhou para a caixa em sua mão e então sentiu um aperto em seu coração. O frio da cripta a envolveu e ela sentiu como se a energia daquele lugar fluísse por ela, a rodeando, se misturando com sua aura, drenando–a. Uma tontura lhe abateu e seu corpo fraquejou. Ela apoiou uma das mãos na parede mais próxima e tentou se levantar, perdendo o equilíbrio em seguida e mantendo–se no chão.

Foi então que ouviu uma risada do lado de fora. Ela olhou para o descampado iluminado fortemente pelo sol da tarde e viu Arlindo zombando de Charly que tentava treinar uma empunhadura invertida na espada curta. O garoto animado com a possibilidade de novas formas de combate explicou que deveria testar todas as alternativas como guerreiro. Solomon então, fingindo desinteresse, apontou falhas na postura do menino. Percebendo a tentativa de mascarar o interesse em ajudar o jovem, o clérigo da natureza brincou com o guerreiro, que, perdendo a calma, esbravejou e saiu de perto. Nipples carregando uma sacola na direção de Dorothy pediu para Arlindo se comportar e ter modos perante o “Sr. Solomon”. A prerrogativa de algum apoio na situação fez homem careca se acalmar e se sentar novamente, observando Charly agora com uma postura mais próxima da correta para um guerreiro.

Ver seus companheiros, mesmo que com aquelas relações completamente problemáticas, fez com que a paladina voltasse a sua atenção para frente. Talvez não soubesse onde Steve estava, mas os cinco haviam chegado até ali unidos. Não havia porque perder as esperanças ainda, ela tinha a impressão que se houvesse alguma forma de encontrar Steve, ela poderia fazê-lo. A nova magia de localização de Arlindo talvez pudesse ajudar; se houvessem perigos Solomon poderia dar um jeito; enigmas e desafios eram solucionados muito mais facilmente com a ajuda de Charly e Nipples era o único que conseguia fazer aquele terror infindável parecer agradável.

Com todas as dificuldades do norte, Dorothy achava que não conseguiria encontrar seu tio sozinha, mas felizmente, ela não precisava, pois não estava só. Tinha os melhores parceiros que poderia imaginar e naquele momento, ela sabia que eles poderiam vencer como um.

A garota sorriu e então sentiu a caixinha em suas mãos se aquecer aos poucos. Por um breve instante as inscrições em volta dela brilharam em dourado e em seguida se apagaram novamente. Dorothy arregalou os olhos e começou a analisar o objeto. Ela tentou abri-lo, mas continuava trancado. Apesar do efeito estranho, o baú não parecia ter se alterado de forma alguma.

— Minha senhora? – disse Nipples parando em frente à entrada da cripta.

— Nipples... – ela se voltou ainda um tanto confusa para o serviçal – Está tudo bem? Precisa de algo? – perguntou guardando a pequena caixa e se levantando em seguida.

— Está tudo bem sim, minha senhora, apenas gostaria de um momento seu, se possível – disse – Pode me acompanhar?

— Claro – ela concordou seguindo-o.

O serviçal a levou para o lado de fora do mausoléu, até o topo de uma colina com uma árvore em cima. Dorothy não havia notado antes, mas a planta estava cheia de folhas verdes e tinha algumas flores desabrochando, uma visão muito bela de um lugar tão terrível como a Planície Roxa.

— Bem, minha senhora – disse Nipples parando ao lado da jovem – Antes de partirmos da casa do Senhor Momeh ele me pediu por um favor.

Dorothy olhou para o homenzinho enquanto ele respirava fundo e ajeitava uma mecha de cabelo colocando–a de volta no lugar para que o corte na altura da mandíbula ficasse perfeitamente simétrico. Ele parecia estar se preparando para um grande momento então Nipples tirou uma sacola de pano do ombro, e a paladina pode notar pelo jeito que ele a segurava, que a bolsa estava ligeiramente pesada para o serviçal.

— O senhor Vaalij me pediu para que lhe entregasse isso – falou tirando um objeto da sacola – Ele sente muito pelo que aconteceu e que espera que ao menos isso possa te ajudar em sua jornada.

Os olhos de Dorothy reluziram ao vislumbrarem o escudo que Nipples a entregou. Ela pegou o equipamento de metal e passou os dedos pelo desenho de javali prateado estampado no fundo vermelho. Sentindo o peso, a textura do metal e como ele encaixava em seu braço, a paladina pôde notar que era um escudo de altíssima qualidade, tão bom, ou talvez até melhor do que os que seu próprio pai fazia.

— Obrigada Nipples – ela sorriu para o serviçal.

— Por favor, minha senhora, não me agradeça, apenas fiz o meu dever trazendo-lhe este escudo – falou humildemente o homem de cabelos e olhos caramelados.

— De qualquer forma, foi você quem confiou em Vaalij em primeiro lugar e seu julgamento sobre ele estava correto. Ele é um bom homem – ela disse e Nipples concordou com a cabeça – Por isso mesmo não posso permitir que ele continue sofrendo – falou olhando para os olhos do javali no escudo.

— Minha senhora? – Nipples ergueu a cabeça, confuso.

— Vaalij Momeh nos deu abrigo, comida e o mais importante, sua confiança. Ele nos permitiu em sua casa, desconhecidos que poderiam tê-lo atacado como muitos já o fizeram. Esse tipo de ação só prova que apesar de ser um homem desafortunado, Vaalij é muito gentil e com certeza merece nossa ajuda. Se minha aura me protegeu do mal que ele sofre, então isso não deve ter sido em vão, mas sim um aviso do destino dizendo que posso salvar a vida deste homem. E assim eu o farei. Eu encontrarei a cura para Vaalij Momeh e assim ele finalmente será um homem livre! Faço disso uma promessa.

— Estou certo de que conseguirá cumpri-la, minha senhora, e de que o senhor Momeh ficará muito grato – disse o serviçal, sorrindo de forma sincera.

Dorothy sorriu de volta e observou sua equipe do topo da colina enquanto o escudo reluzia com o brilho do sol. Sentia que finalmente tinha tudo que precisava para seguir com a busca por seu tio, não temia mais falhar.

— Vamos Nipples – ela falou por fim – Vamos nos juntar aos outros. Temos muito que fazer para encontrar Steve.

— Tem mesmo? – ela ouviu como resposta, mas não era a voz do serviçal que lhe chegou aos ouvidos.

Dorothy imediatamente se virou para trás, reconhecendo o timbre miado e rugido da voz rouca. Ela se interpôs na frente de Nipples e então avistou há alguns metros a criatura com cabeça de tigre, parada com o cajado na mão enquanto o vento balançava seu robe verde-escuro e dourado.

— Achei que tinha sido claro em nosso último encontro, paladina – disse o Necromante a fitando com os olhos felinos riscados – Eu não serei mais piedoso…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi gente!
Perdão pela demora hahaha Tive um baita de um bloqueio com esse capítulo, então tive que contar com a ajuda do Mateus, meu salvador de sempre ♥

Espero que gostem do capítulo >