Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 28
Charly - Terror na Cabana




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/642142/chapter/28

A lua cheia brilhava intensamente na noite recém-chegada. Os lobos saiam de suas tocas e uivavam em conjunto, as corujas piavam em suas árvores e os grilos cantavam enquanto os frios ventos nortenhos balançavam as árvores. A cabana na clareira em meio à floresta escura emitia um fraco brilho amarelado de suas janelas e porta, brilho este observado pelo par de olhos rubis que se aproximava lentamente do local.

Dentro da cabana uma pequena gota translucida de suor frio descia pelo rosto jovem de Charly que observava Nipples fechando a porta apressado enquanto todos encaravam o serviçal com a mesma pergunta em mente.

— O quê?! – gritou Arlindo com as sobrancelhas erguidas.

— Espera um pouco, Nipples, você tem certeza do que está dizendo? Vaalij, um licantropo? – perguntou Dorothy com o cenho franzido se aproximando do serviçal.

— Eu não posso afirmar com toda a certeza, minha senhora, mas é o que eu acredito – respondeu cabisbaixo enquanto colocava uma tábua como tranca na porta – Agora nós precisamos fechar a casa! Com urgência!

— Se o que diz está certo, uma simples porta não irá impedir a criatura de entrar – falou Solomon vendo Nipples ir rapidamente em direção às janelas .

— Ajudou ontem a noite senhor Solomon, eu vi a criatura e ela olhou nessa direção, mas não veio para cá – respondeu o pequeno homem olhando para o guerreiro depois de fechar as janelas.

— Você o viu? – perguntou Charly se aproximando.

— Sim, meu senhor – confirmou Nipples comprimindo os lábios e encarando o chão – Por breves instantes eu o vi.

— E você tem certeza de que é mesmo o Vaalij? – perguntou Dorothy.

— Bem, apesar do corpo ser diferente, coberto de pelos com braços compridos e cascos no lugar dos pés, ele tinha um brinco igual ao de nosso anfitrião. Na mesma orelha... – disse fechando brevemente os olhos em lamento.

— Bem, pode ser apenas uma coincidência... – falou a garota incrédula.

— Nunca é uma coincidência. – Solomon a encarou.

— Faz sentido... – falou Charly em tom mais baixo parando para pensar no assunto – Vaalij disse que os drows não vêm para esses lados. Quando estávamos lutando contra eles, reparei que tinham receio de passar além de certo ponto da floresta, achei que estivessem com medo de algo...  Talvez de Vaalij...

— Por que não nos contou isso antes? – perguntou Solomon encarando o serviçal.

— Sinto muito senhor , eu queria, mas tive medo de que pudessem ter uma reação violenta para com isso – justificou juntando as mãos em aflição.

— Por que acharia isso, Nipples? – perguntou Dorothy visivelmente confusa.

— Bem, minha senhora, eu não quero criticar, mas todas as vezes que encontramos alguma criatura em nossa viagem, ela acabou morta… – Abaixou a cabeça. – Eu temi que talvez isso acontecesse também com o Sr. Momeh. – Olhou para a paladina. – Eu sei que seu tio é um grande herói e veio para eliminar o mal do norte, e sei que você faria o mesmo. Essa coisa dentro do Sr. Vaalij é má, mas ele não é, e ele não merece sofrer por causa disso. Não é culpa dele… Por favor, meus senhores – falou para Dorothy e Solomon – Eu sei que ele é perigoso, mas não tentem lutar contra ele. Não quero que ninguém se machuque!

Dorothy e Solomon se entreolharam e ela logo abaixou a cabeça. Charly notou que a garota estava envergonhada, provavelmente por passar essa imagem de intolerância para Nipples.

— Eu sinto muito – continuou ele – Eu tentei resolver o problema mais cedo dand—

— Mas não resolveu, não é mesmo? – interrompeu o guerreiro de forma rude fazendo o pequeno homem se calar.

— Oh, Obad-Hai por que me colocas nessas situações?! – falou Arlindo olhando para cima e abrindo os braços – Ele me deu cerveja!

Nipples pegou a lamparina sobre a mesa e a levou o mais longe possível da porta e janelas. Todos seguiram o serviçal até perto do quarto e lá se sentaram em silêncio nos sofás e cadeiras da casa, ainda digerindo a informação. Ouviram então o grunhido da criatura novamente, Charly teve impressão de que estava mais alto, mas talvez fosse algo da sua cabeça, já que ele não estava em seus melhores dias.

— Nós deveríamos pegar nossas armas – disse Solomon de pé olhando para a janela fechada.

— Oh não, senhor Solomon, por favor! – implorou Nipples aflito.

— Nós não vamos lutar com ele – disse a paladina olhando para o guerreiro.

— Por que não? Ele é uma besta perigosa, precisamos de nossas coisas para nos defender caso ele ataque – rebateu.

— Não é assim que nós vamos resolver as coisas – falou Dorothy sentada na beirada do sofá velho encarando o chão.

— Não podemos conversar com ele? – perguntou Charly, que estava sentado ao lado da garota.

— Você não sabe nada sobre licantropos não é garoto? – falou Arlindo desencostando-se da parede e se virando para ele.

Charly se inclinou para trás e balançou a cabeça negativamente.

— Bom, isso sempre é útil – falou o clérigo mexendo os ombros.

— O que? – perguntou o garoto confuso.

— Reunir informações sobre o inimigo.

— Ele não é nosso inimigo. – Dorothy olhou para ele.

— Você vai dizer isso a ele? – perguntou Solomon ironicamente.

Dorothy suspirou passando a mão pelo rosto e em seguida pelos cabelos. Charly então olhou para o clérigo e perguntou:

— O que sabemos sobre licantropos?

— Eles são criaturas amaldiçoadas – respondeu Solomon iluminado de baixo para cima pela pequena chama da lamparina – Pessoas que viram monstros.

— Monstros? – perguntou o garoto ofegante.

— Eles mudam... – disse Arlindo com um brilho sinistro em seus olhos verdes – Se transformam no animal que sua maldição lhe dá. Alguns viram lobos, outros ursos, mas nem todos mudam tão drasticamente. Há aqueles que preferem ficar na forma híbrida. Meio pessoa, meio animal... É uma visão aterrorizante – falou o clérigo.

— Você já viu um?

— Uma vez... – Ergueu o indicador – Um homem-lobo.

— O que aconteceu com ele?

Arlindo não respondeu prontamente como estava fazendo, ao invés disso olhou para o chão com um ar soturno e lambeu o lábio inferior o mordendo logo em seguida.

— Ele morreu – respondeu de forma estranha.

— Como? – perguntou o garoto.

— Magia… – Continuou encarando o chão.

— Você o matou? – perguntou Dorothy com o cenho franzido.

— Não, não eu. – Olhou para a garota sorrindo – Eu não faço esse tipo de magia.

Charly e Dorothy se entreolharam com as sobrancelhas erguidas e então a paladina disse:

— Bem, de qualquer modo nós podemos falar com ele, eles podem controlar suas transformações.

— Não na lua cheia – disse Solomon.

— Nós podemos tentar! Talvez ele con--

— Não vai funcionar, eles agem por puro instinto. Não são racionais – disse Arlindo interrompendo a paladina – Nós precisamos pensar em outra coisa para lidar com ele.

— Meus senhores, por favor, não precisamos fazer nada – falou Nipples adentrando a conversa passando os olhos por cada um deles – Podemos apenas nos esconder! Ele não veio até aqui ontem, talvez não venha hoje também.

— E se ele vier? – questionou Solomon falando em tom mais alto – E se ele derrubar aquela porta e entrar? O que faremos então?

— Se nós apenas ficarmos em silên-- disse Nipples.

— Se ele entrar aqui, estamos todos mortos! – exclamou o guerreiro.

— Não podemos machucá-lo Solomon – disse Dorothy olhando para ele.

— Não acho que conseguiríamos mesmo que quiséssemos – falou o clérigo erguendo os ombros e inclinando a cabeça.

— Por que não? – perguntou Charly juntando as sobrancelhas.

— Eles são fortes – disse Solomon.

— Não só isso – falou Arlindo apontando para Nipples – Ele disse que tinha braços, ao invés de quatro patas ou cascos, então provavelmente estava na forma híbrida – concluiu o clérigo.

— O que isso quer dizer? – perguntou Charly.

— Quer dizer que ele pega o melhor das duas formas – respondeu Solomon olhando para o garoto.

— Exato – concordou Arlindo – Ele pode usar as mãos para segurar objetos, como armas.

— E os pelos e a couraça de javali devem o proteger também – falou o guerreiro.

— Provavelmente, mas há algo ainda pior quando se tenta lutar contra um licantropo.

— O que? – perguntou Charly.

— Somente prata pode os ferir… – disse Dorothy de forma soturna.

— Não necessariamente – disse Arlindo sentando-se na poltrona de Vaalij – Esse boato veio por causa da resistência sobrenatural que eles possuem.

— Como assim? – Charly se ajeitou no sofá.

— Há criaturas que tem essa resistência sobrenatural a ferimentos, eu gosto de dizer que elas possuem uma “barreira”. É como se um ataque a elas não fosse tão efetivo quanto seria numa outra criatura. É difícil explicar. – Passou a mão no belo rosto. – No caso dos licantropos, eles são mais suscetíveis a ataque com armas de prata, se você atacá-los com um material diferente vai ser bem mais difícil de causar algum estrago neles. Claro que, se você for bem forte isso pode mudar, mas ainda assim eu não estava me referindo a isso quando disse que havia algo pior.

— O que então? – perguntou o garoto se curvando para frente.

— Bem, o pior de um licantropo é a licantropia... Ele pode passá-la para você – disse o clérigo se inclinando para frente e apontando para o garoto.

— O que?! – exclamou o jovem assustado – Isso é verdade? – se virou para Dorothy – Nós podemos ficar como ele?

— Não importa – respondeu a garota – Nós não vamos lutar contra ele. Vamos apenas ficar aqui dentro em silêncio e esperar o dia amanhecer – disse acenando positivamente para Nipples.

— Desarmados – falou Solomon.

— Ele não pediu para que não trouxéssemos armas para--

— Mas é claro que ele pediu! – exclamou o guerreiro – Ele sabe o que ele é! Por acaso você já pensou que isso tudo poderia ser o plano dele para o jantar?

— O que? – perguntou ela indignada – Você está sugerindo que ele armou tudo isso para nós?

— Meus senhores, por favor, vocês estão fazendo muito barulho. Vão chamar a atenção dele… – disse Nipples preocupado.

Solomon ergueu uma das sobrancelhas e encarou a garota.

— Olha, eu sei que não o conhecemos direito, – disse Dorothy – mas eu sei que ele não é má pessoa. E mesmo que não confie no que estou dizendo, se o plano dele fosse realmente nos devorar, ele não precisaria ter ido embora, poderia simplesmente ter nos atacado antes, além disso, não haveria motivo nenhum para Nipples continuar vivo. Ele estava sozinho e indefeso ontem, seria uma presa muito mais fácil.

— Hum... – disse a olhando e então caminhou até a parede mais próxima e se virou recostando-se nela – O que faremos então?

— Eu não sei... – disse a paladina desviando o olhar do guerreiro – Eu só não quero entrar nessa briga. Eu sei que ficar aqui dentro não parece uma boa ideia, mas olhe para nós... Ainda não estamos totalmente recuperados do ataque dos drows e você ainda sofre do efeito da Aparição! Se não estamos em nossa melhor forma, tentar ir lá fora e neutralizar um licantropo fora de controle é arriscado demais. Nós simplesmente não vamos conseguir… – disse por fim.

Solomon não respondeu, apenas entrou no quarto de Vaalij e continuou a vestir sua armadura. Charly notou que o guerreiro sabia que não estava realmente em condições de entrar em um combate tão perigoso, ninguém ali estava. O garoto então se levantou e pegou uma cadeira, a colocando na frente da porta enquanto os outros o observavam.

— Acho que isso não vai ajudar muito – falou Arlindo.

— Talvez o segure por um tempo. É isso que nós precisamos, não é? Ganhar tempo até amanhecer e ele voltar ao normal.

— É, isso seria o ideal… – disse o clérigo.

— Eu ajudo, meu senhor – falou Nipples se aproximando do garoto com preocupação em seu semblante.

Os dois então começaram a arrastar a mesa para frente da porta. Nisso, o garoto pode ouvir Arlindo sussurrando algo para Dorothy.

— Sabe, eu não quero lutar com ele mais do que você quer, mas se não tivermos saída, o que pretende fazer? Não da pra voltar pra floresta, ele conhece esse lugar melhor do que a gente, sem contar os drows que não devem ter esquecido o que fizemos no acampamento deles.

— Eu sei… Fugir não seria uma opção. Você não tem nenhuma magia pra neutralizá-lo?

— Não. Se ele estivesse na forma humana eu até poderia tentar, mas com ele transformado não tem muito que eu possa fazer. Tudo o que tenho são algumas magias de proteção caso precise.

— Certo… Se o pior acontecer, a gente tenta prendê-lo ou no máximo desmaiá-lo. É a única coisa que podemos fazer.

— Você quer dizer tentar fazer…

Dorothy entortou a boca e Charly voltou sua atenção para a porta novamente então ouviu um barulho alto de objetos caindo vindo do lado de fora. Todos se entreolharam e Solomon saiu do quarto, agora vestido com sua brunea.

— Isso foi ele? – perguntou Dorothy.

— Provavelmente – disse Arlindo indo em direção à janela da direita da casa – Ele está aqui…

Dorothy rapidamente apagou a lamparina e Charly correu para a janela parando ao lado do clérigo. Através das tiras de madeira que compunham a palheta da janela, o garoto viu o lado de fora da casa, iluminado pela luz da lua. Era possível ver algumas partes do celeiro de Vaalij, e uma grande sombra no chão.

— O que ele esta fazendo? – perguntou a paladina sussurrando.

— Não sei – respondeu Arlindo forçando os olhos – Parece estar apenas andando.

Charly se inclinou um pouco, mudando seu ângulo de visão até conseguir enxergar algo da criatura, seus grandes cascos suínos. O coração do jovem theolino começou a acelerar e quase parou quando notou que o monstro caminhava em sua direção. Charly se afastou da janela e então todos notaram uma grande sombra cobrindo a luz da lua que entrava no ambiente, deixando-os no completo escuro.

O som da respiração pesada do licantropo tomou conta da sala. O focinho da criatura grudou na janela enquanto ela farejava e somente depois de um longo e aterrorizante minuto ela se moveu, caminhando em outra direção.

Charly assustado se afastou rapidamente da janela, porém no escuro e na pressa ele acabou empurrando um barril que servia de mesinha ao seu lado, arrastando-o pelo chão e fazendo um barulho alto.

Todos olharam na direção do som, enquanto o garoto apertava os olhos e comprimia os lábios com os ombros erguidos. Arlindo e Dorothy se voltaram pela janela para ver se a criatura havia escutado, mas não viram nada.

Então um barulho alto de madeira sendo atingida ecoou dentro da cabana. Charly olhou na direção da porta e fechou as mãos. Podia ouvir as batidas fortes e aceleradas de seu coração. “Por favor, não entra, por favor, não entra” repetia o pensamento em sua mente.

Todos ficaram quietos e logo o barulho oco se repetiu. Eles estavam no escuro, vendo apenas os que os finos feixes de luz que atravessavam as frestas da janela iluminavam, mas ainda assim Charly podia jurar ter visto a porta entortar levemente para dentro.

Ele então olhou para os vultos a sua frente, estavam todos estáticos. O silêncio permaneceu por alguns instantes, até a porta ser atingida novamente. Dessa vez o barulho veio seguido do aterrorizante grunhido do homem-javali.

— Ele sabe que estamos aqui – sussurrou Arlindo e logo em seguida a porta foi atingida mais uma vez – Ele não vai parar.

Uma, duas, três batidas seguidas e a porta começou a ranger. Charly começou a ficar desesperado, o medo tomou conta de seu coração e a vontade de correr e chorar de seus pensamentos.

— Precisamos sair daqui… – disse amedrontado.

— O garoto está certo, ele vai destruir aquela porta em breve – falou Solomon – Temos que pegar nossas armas.

— Não! Já discutimos isso! – exclamou Dorothy.

— Você não quer machucá-lo, ótimo, mas ao menos não morra de forma tão medíocre. Vamos parar aquela coisa.

— O que tem em mente? – perguntou Arlindo.

— O celeiro – disse o guerreiro – Nosso equipamento está lá e tenho quase certeza de que deve haver uma corda também.

— Você quer amarrá-lo? – O clérigo ergueu uma das sobrancelhas – Não sei se isso funcionar.

— Tem um plano melhor? – esbravejou Solomon ouvindo a porta sendo atingida novamente.

Arlindo ergueu os ombros e aceitou a ideia do guerreiro, olhando para Dorothy logo em seguida.

— Podemos tentar isso – disse a paladina – Mas como saímos daqui?

— Que tal a janela? – sugeriu o clérigo e mais uma batida foi ouvida por eles.

— Pode ser, mas se sairmos ele não virá atrás da gente?

— Alguém deve ficar e segurar a porta – respondeu ele.

— Então nós ficamos – disse a garota – Solomon, Charly vão para fora, peguem as coisas e tentem chamar a atenção dele antes que ele destrua tudo, mas não se aproximem!

— E o que eu faço minha senhora? – perguntou Nipples.

— Se esconda, mas se quiser ajudar vá com eles – ela respondeu.

Uma batida forte atingiu a porta novamente, dessa vez quebrando um pequeno pedaço dela, possibilitando a todos ver o pequeno olho rubi os observando do lado de fora.

— Vão! – gritou a paladina virando a mesa e a empurrando contra a porta enquanto a criatura urrava ferozmente.

Solomon abriu a janela e olhou para Charly. O garoto estava completamente paralisado com a situação, não conseguia mover um músculo sequer. O guerreiro gritou com ele, mas somente quando o braço do licantropo atravessou a porta e Dorothy gritou para ele ir, que o garoto conseguiu se  mexer.

Ele pulou a janela atrás de Solomon e correu em direção ao celeiro da maneira mais silenciosa e rápida que conseguia, pedindo pelos deuses, para que o monstro não o visse ali. Os dois pararam na porta do local e logo começaram a destrancá-la, tirando as madeiras que se prendiam umas nas outras.

O lugar estava todo escuro e Solomon não conseguiu encontrar seu martelo de primeira, apenas o escudo de Dorothy, a maça de Arlindo e o arco do garoto ao seu lado.

— Aqui – disse entregando a arma para o jovem – Atire nele, para tirá-lo de lá.

— O-o que? – gaguejou Charly.

— Anda logo! – gritou irritado, ainda sem encontrar o martelo.

Charly pegou no arco e logo começou a se lembrar da noite anterior, de sua luta com a drow e do desfecho do combate. Ele rapidamente largou sua arma no chão e deu um passo para trás assustado.

— E-eu não posso – gaguejou.

— O que?

— Eu não posso! – disse se afastando – Eu não posso ter o sangue dele nas minhas… – Olhou para as próprias mãos.

— Se você não fizer algo agora eles vão acabar mortos! – exclamou – É isso que você quer?

Charly olhou para o guerreiro assustado lembrando-se do que ocorrera com sua mãe e Solomon o encarou por breves instantes, então ouviu o grunhido do homem-javali do lado de fora e foi até o arco do garoto, o entregando novamente, porém mais calmo.

— Você não pode ter medo de fazer o que é necessário. Se você é um guerreiro como aclama ser, não deve relutar em pegar sua arma e entrar em um combate quando precisa. Você acha que ter o sangue de seus inimigos nas mãos é algo ruim? Ter o de seus amigos é ainda pior, e é o que vai acontecer se não fizer nada!

Solomon se distanciou olhando em volta e achou seu martelo, já o guardando nas costas. Então foi até uma corda pendurada e a pegou também.

— E se está com medo de machucá-lo, não tenha. Essas flechas provavelmente não irão nem arranhá-lo… – falou e saiu do local.

Charly abaixou a cabeça olhando para o arco trêmulo em sua mão e então pegou a aljava encostada numa viga de madeira. “Eu não posso falhar com eles… Eu consigo fazer isso. Eu sou um guerreiro.” pensou acalmando-se e olhando em volta. Ele viu seu cinto com suas espadas penduradas e o colou rapidamente indo para fora enquanto passava por Nipples que discretamente adentrava o celeiro.

Enquanto isso Dorothy e Arlindo seguravam a porta o quanto podiam, mas ela não resistiu muito tempo à força sobre-humana do licantropo, que a cada segundo a quebrava mais com seus socos violentos.

— Heirôneous! – exclamou a paladina encostada na mesa virada que a separada da porta – Isso não vai aguentar muito tempo! Nós precisamos sair daqui!

— Não dá pra ir os dois ao mesmo tempo, se soltarmos a mesa ele entra e pega quem ficar para trás – disse Arlindo ao seu lado.

— O que a gente faz?

— Eu tenho uma ideia! – disse o clérigo desencostando da mesa e correndo até o armário onde vira Vaalij tirar suas cervejas.

— O que diabos você está fazendo?! – gritou ela fechando os olhos ao sentir o impacto da pancada do licantropo na porta.

— Me energizando – falou virando uma garrafa de seu sagrado líquido na boca.

— Uhrg! – Ela rangeu os dentes com outro impacto. – Eu juro pelos deuses que se não vier aqui agora me ajudar eu vou quebrar uma dessas garrafas na sua cabeça!

Arlindo se aproximou apoiando uma das mãos na porta enquanto a outra segurava a garrafa. Quando terminou sua bebida o clérigo soltou o vidro e levou a mão até a testa com o indicador e o dedão erguidos e a desceu verticalmente até o meio do peito, onde um brilho surgiu por baixo de sua roupa. Ele pôs a mão sobre o pingente de madeira gravado com o desenho de uma noz presa a um fino galho com folha única e fechou os olhos, conjurando uma magia que liberou uma energia avermelhada de seu símbolo sagrado que percorreu por todo seu corpo.

— Não se preocupe – disse ele à garota – A força de Obad-Hai há de nos ajudar!

Charly respirou fundo e puxou uma flecha de sua aljava. Ele ergueu a cabeça, parando de encarar o chão e finalmente viu a criatura. Ele tinha uma blusa regata com alguns furos e uma calça de cor escura, além do brinco na orelha. “Então realmente é ele” pensou ao ver o monstro de costas batendo com os braços fortes e peludos no que restava da porta da casa. Solomon, alguns metros a frente do garoto olhou para ele e fez um sinal positivo com a cabeça, preparando-se para tentar amarrar o homem-javali.

Charly posicionou a flecha e puxou a corda erguendo o arco na altura dos olhos. Ele fechou o olho direito para mirar e o abriu novamente, disparando assim a flecha que acertou o ombro do oponente.

A criatura bufou ao sentir a flecha, mas isso não a impediu de continuar quebrando a casa. Charly olhou para Solomon preocupado, o guerreiro comprimiu os lábios então avançou na direção do licantropo. O garoto então pegou outra flecha, mas assim que a posicionou e começou a mirar em seu alvo ele viu uma das cenas mais impressionantes que presenciara até o momento.

Arlindo, o clérigo bêbado, saía lentamente da casa empurrando o poderoso homem-javali com as próprias mãos. Havia algo diferente no seguidor de Obad-Hai, uma aura mística o envolvia e ele certamente estava mais forte do que era, uma vez que conseguia empurrar aquele monstro a cada passo que dava, segurando-o pelos grandes antebraços.

Dorothy esgueirou-se para fora da casa indo de encontro a Nipples, que só agora Charly notara estar ao seu lado com o equipamento de Arlindo e Dorothy aos seus pés.

— Minha senhora, o que vão fazer? – perguntou o serviçal nervoso.

— O que pudermos... – disse ela pegando o escudo e a espada e voltando para perto dos outros.

Solomon enrolou as pontas da corda nas mãos e correu de encontro ao monstro. Ele esticou os braços sobre o licantropo e puxou a corda firmemente, parando atrás dele e prendendo seus braços ao corpo. A criatura grunhiu e se inclinou para frente violentamente, afrouxando a corda.

— Derrube-o – falou Solomon para Arlindo.

— Não preciso – disse o clérigo puxando seu símbolo sagrado e estendendo a mão na direção da criatura – Em nome de Obad-Hai, ouça meu comando! Eu ordeno que pare! – gritou.

Um onda de energia mística não-visível passou então pelos ouvidos do licantropo. As palavras do clérigo não eram uma mera sugestão e sim uma ordem direta que o monstro não conseguiu contrariar, por mais que quisesse, parando de se mover imediatamente.

— Prenda-o! Rápido! – gritou para Solomon.

O guerreiro então amarrou a corda em volta da criatura o mais rápido que pode, mas o encantamento mental do clérigo não durou muito tempo e logo o homem-javali retomou seus movimentos estourando a corda apenas com seus músculos e sua força bestial. Ele olhou para o guerreiro e o clérigo, e Dorothy correu até Solomon erguendo seu escudo o protegendo do soco que vinha em sua direção.

Charly balançou a cabeça negativamente, respirou fundo e atirou novamente no monstro, que o encarou rapidamente. Arlindo avançou sobre o licantropo, agarrando seus braços para trás, mas poucos segundos depois de prendê-lo levou uma cabeçada que acertou sua testa fazendo com que o soltasse.

— De novo não! – gritou o clérigo com a mão sobre o pequeno corte – Só porque eu não estou com aquele maldito elmo! – exclamou.

— Arlindo! Foco! – gritou a paladina abaixando o escudo e chamando a atenção do licantropo que rosnou para ela.

— Saia da frente – disse Solomon com a mão em seu ombro – Eu cuido dele.

— Não, espera – disse ela colocando a mão sobre o peito do guerreiro – Eu quero convers—

— Sem tempo pra isso – interrompeu já vendo a criatura agitada passos à sua frente.

O homem-javali piscou algumas vezes então passou seu casco no chão e balançou a cabeça bufando, Solomon avançou já posicionando o lado mais protegido de sua armadura para o oponente, mas antes que engajasse em um combate, Dorothy correu entre os dois e puxou sua espada da bainha. A criatura a encarou enraivecida, mas logo sua expressão mudou ao ver a paladina jogar sua espada no chão.

— Parem! – Ela gritou. – Vaalij! Me escute, por favor! Nós não queremos lutar com você! – exclamou baixando o escudo e mostrando a palma da mão direita.

Charly preparou já outra flecha para que o monstro não avançasse sobre seus amigos, mas então notou que ele não estava mais atacando. Então deu alguns passos para frente e observou a criatura que encarava Dorothy. Ele viu os pequenos olhos vermelhos do monstro com as pupilas dilatadas, sua respiração parecia mais calma e havia um estranho brilho de inteligência em seu olhar.

— Sou eu, Dorothy – disse a paladina parada na frente dele – Lembra-se de mim?

As narinas suínas abriram-se soltando o ar quente por entre si enquanto Vaalij encarava a garota. Dorothy então estendeu a mão vagarosamente na direção do braço do licantropo que começou respirar de modo acelerado e ofegante.

— Eu sei que eu que estou bêbado, mas não acho que seja uma boa ideia… – disse Arlindo com os olhos arregalados há alguns passos dos dois.

— Está tudo bem, ele sabe que sou eu – falou a garota.

Os dedos da paladina sentiram a pelagem curta de cor marrom avermelhado e também os fortes batimentos do coração do homem em conflito.

— Você pode lutar contra isso Vaalij – disse Dorothy encarando-o – Eu sei que pode. Eu sei que há bondade em você.

Charly caminhou para o lado, para ter uma visão melhor de seu oponente e o viu balançar a cabeça de javali bruscamente, quase como quem tenta tirar pensamentos de uma mente perturbada.

— Por favor, eu sei que vo-

— Co- – disse Vaalij interrompendo Dorothy e proferindo as primeiras palavras em sua forma híbrida.

— Vaalij? – ela sorriu enquanto todos observavam surpresos.

— Corh… Corr… – ele balbuciava movendo as mãos violentamente em volta de si.

— O que? O que está tentando dizer? – perguntou ela.

Charly viu então as pupilas de Vaalij diminuírem rapidamente, até ficarem tão pequenas a ponto de parecer não existirem mais.

— Corre! – gritou o garoto.

Dorothy se virou assustada para Charly e quando se voltou para frente o homem-javali avançou ferozmente sobre ela, marcando seu ombro com as garras negras que saiam das pontas de seus dedos monstruosos.

Ele então urrou furioso, movendo-se como uma besta descontrolada. Charly, assustadíssimo, se moveu para trás e preparou uma flecha para atirar nele, enquanto o clérigo começava a conjurar uma magia.

— Não! – gritou Dorothy para seus companheiros – Não ataquem!

Charly abaixou levemente o arco confuso e olhou para o licantropo. A criatura não havia voltado a si, ao contrário disso, agora atacava a paladina ferozmente com socos poderosos.

— Você está louca?! – gritou Solomon já avançando na direção dela.

— Não se mexa! – ela gritou enquanto erguia o escudo e defendia-se de Vaalij.

— Dorothy… – falou Alindo preocupado.

— Não! Se o atacarem nós o perdemos! – ela justificou aguentando o impacto de mais um soco.

Charly, Solomon, Arlindo e Nipples se entreolharam agitados, e apesar de contrariados, esperaram para ver se a garota conseguia trazer seu anfitrião de volta ao normal.

— Vaalij! Pare! Por favor! – implorou ela – Me escute por um instante!

Mas o monstro não a ouviu e avançou violentamente sobre a garota que recuou para perto da ferraria, tentando evitar o confronto.

— Eu sei que você está aí, eu sei que consegue me ouvir! – disse ela olhando rapidamente para trás, notando estar encurralada – Eu não vou desistir de você então, por favor, se acalme! Nós podemos resolver isso, junt-

O punho monstruoso do licantropo investiu contra a paladina enquanto ela ainda falava. Dorothy ergueu seu escudo como ato reflexo para se proteger, mas ele entortou para dentro ao receber o impacto do soco, que continuou com tanta força que estourou as ligas do aço, quebrando o metal e atravessando o escudo da garota, acertando sua barriga. Sem ar, a paladina se curvou para frente e foi nesse momento que o monstro a agarrou com a boca.

Charly mal podia ver o que estava acontecendo, o homem-javali era largo e o impedia de enxergar a paladina, mas no momento em que ela foi arremessada numa árvore e não se levantou depois disso, ele sabia que eles não podiam ficar mais sem fazer nada, afinal, haviam perdido Vaalij.

— Dorothy! – urrou Solomon como ninguém havia visto antes.

O guerreiro puxou seu grande martelo das costas e investiu furiosamente contra o licantropo, acertando seu peito com a ponta do cabo da arma e em seguida seu queixo segurando o cabo horizontalmente. O monstro rosnou para o oponente e tentou abocanhá-lo em seguida, mas Solomon virou o ombro esquerdo da armadura para se defender e os dentes do homem-javali não puderam atravessar sua proteção metálica. O que deu a oportunidade do guerreiro acertar uma cotovelada no focinho da criatura e se mover para trás dela, já preparando seu martelo para um ataque.

Arlindo, um pouco desnorteado, correu na direção da paladina que não havia caído muito longe dele. Ele tocou nela fazendo uma pequena prece curativa sem checar exatamente qual era seu estado, mas assim que ouviu o rosnar do homem-javali ele se voltou para o combate. Conjurando outra magia, o clérigo fez com que um círculo azulado com inscrições dentro de si aparecesse no chão depois dele derramar a água de seu cantil no solo.

Charly atirou uma flecha, duas, três e elas começaram a se acumular nas costas da besta suína, que não reagia aos ataques do garoto como fazia com os de Solomon.

O licantropo voltou sua atenção para o guerreiro e se virou para trás parando o movimento do martelo que seguia em sua direção , fechando o punho em seguida e acertando-o no peito de Solomon que deslizou para trás com o impacto.

Charly então notou manchas de sangue aparecendo na armadura do guerreiro, provavelmente causadas pelos antigos ferimentos que tinha, agora reabertos. Ainda assim, ele avançou sobre seu oponente, acertando o martelo em seu braço e arrancando parte da pele do ombro da criatura. O licantropo grunhiu de dor e agarrou Solomon pelo pescoço e pelo peito, o erguendo alguns centímetros do chão e o arremessando, fazendo-o rolar pela terra.  

Então um vulto disforme apareceu ao lado do homem-javali, acertando suas costas com o que parecia um soco. Charly arregalou os olhos, confuso, tentando entender o que era a criatura translucida que refletia a luz da lua.

Ele nunca havia visto algo parecido em toda sua vida, um redemoinho central com forma humanoide e apêndices líquidos que se assemelhavam a braços formava um ser feito inteiramente de água. Um Elemental.

— Derrube-o! – gritou o clérigo para sua invocação.

No mesmo instante o Elemental ergueu seus dois braços largos e os bateu contra a cabeça do monstro que deu um passo para o lado levando as mãos à cabeça zonzo e urrou para o ser de água. O Elemental então atacou novamente, usando seus apêndices como poderosos chicotes, mas eles não eram fortes o suficiente para derrotar o monstro que começou a socar a invocação numa sequência de golpes fortíssimos, espalhando água para todos os lados enquanto ele gradualmente a desfazia.

Charly assustado puxou mais um flecha, preparando-se para atirar no inimigo, mas desistiu de fazê-lo logo em seguida. “Não adianta, as flechas não causam efeito…” pensou largando o arco no chão e tirando suas laminas das bainhas.

— Meu senhor? – disse Nipples o olhando preocupado – O que vai fazer?

Charly olhou em volta. Dorothy estava caída, com o rosto coberto pelos cabelos negros e encaracolados, Solomon tentava levantar, se arrastando em estado crítico de volta para a batalha, Arlindo parecia perdido e assustado, com seu raciocínio afetado pelo álcool. O garoto olhou então para a invocação do clérigo e viu o licantropo colocar suas garras dentro do redemoinho do elemental, rasgando a criatura no meio e a desmanchando por completo enquanto soltava um grunhido feroz.“Só há uma coisa a fazer” pensou o jovem olhando para baixo.

— Senhor Charly? – repetiu Nipples.

— Vou fazer o que é necessário para proteger meus amigos – disse sacando as espadas e as cruzando pelo centro – Se esconda.

O garoto olhou para o homem-javali e o viu encarar o clérigo, que estava agora agachado ao lado da paladina, sem a aura da magia que antes possuía.

— Hey! – gritou para o monstro passando uma lâmina na outra, fazendo barulho e faíscas saírem de suas armas – Aqui! Venha me pegar!

Os olhos vermelhos do licantropo se voltaram para o jovem guerreiro que deu um passo a frente e esticou as espadas corajosamente. Arlindo então pegou Dorothy no colo e esticou a mão na direção de Solomon, fechando os ferimentos do guerreiro à distancia com uma magia.

— Anda! Vem lutar comigo! – gritou o garoto mais uma vez para o monstro, dessa vez chutando uma pedra na direção dele.

O homem-javali sacudiu a cabeça e deu alguns passos lentos na direção de Charly, fazendo Nipples recuar no mesmo instante.

— Meu senhor, por favor, não faça isso! – pediu o serviçal se afastando.

— Não! Continue garoto, eu já vou te ajudar! – gritou Arlindo entregando Dorothy para Solomon – Tire-a daqui, minhas curas acabaram – falou olhando para o guerreiro que já ia recusar a proposta, até receber a garota nos braços.

Charly fez um sinal positivo com a cabeça e caminhou para o lado gritando pelo licantropo, que havia parado para observar o que estava acontecendo atrás de si, mas a criatura ignorou o menino e se voltou para o clérigo que estava prestes ao passa ao seu lado.

Foi então que a maça de Arlindo acertou a cabeça do homem-javali e caiu para o lado. Charly olhou para o lado e viu que Nipples havia a arremessado para o clérigo, que logo correu até a arma tendo enfim algo para se proteger. Não que ele realmente precisasse, já que o licantropo desistiu de atacá-lo e avançou na direção do serviçal.

Nipples virou o tronco para trás e fechou os olhos já preparando-se para o pior, mas Charly não deixou isso acontecer, ele entrou na frente do serviçal e estendeu suas armas de forma cruzadas para cima, segurando no ar a pancada que descia para acertar seu amigo.

Charly viu Arlindo correndo em sua direção para socorrê-lo e sentiu o peso do braço de seu oponente. “Eu preciso de espaço” pensou, então empurrou o homem-javali para trás, afastando-o três passos de si.

Arlindo foi para trás do monstro e ergueu sua maça a segurando com as duas mãos, mas no momento em que ia descer um golpe em suas costas a criatura cambaleou para o lado e caiu inconsciente.

O clérigo arregalou os olhos e ergueu uma das sobrancelhas para o jovem a sua frente confuso e em seguida os mirou na besta desmaiada.

— Pelos deuses garoto! Não sabia que era forte assim!

Charly, boquiaberto, abaixou as lâminas e encarou o corpo à sua frente. Ele ainda respirava, mesmo que de forma bem mais lenta e visível do que antes, mas o jovem theolino não conseguia entender o que havia acontecido, olhando para as próprias mãos cogitando a descoberta de algum potencial que ele não sabia que tinha.

— Oh céus! Deu certo! – disse Nipples tirando a mão da frente do rosto – Graças a Pélor! – suspirou aliviado.

— O que? – perguntou Charly virando-se ainda surpreso para o serviçal.

— O chá, meu senhor! O chá funcionou! – respondeu com visível felicidade – Para ser sincero eu achei que talvez não fosse o suficiente ou que eu tivesse dado tarde demais, eu não sabia o quão resiste e grande era o...

— Espera, Nipples – falou passando a mão na lateral da cabeça – Do que você está falando?

— Oh, meu senhor, eu tentei dizer a vocês mais cedo que eu havia feito algo para impedir a transformação do senhor Momeh. Eu lhe dei um chá com uma combinação de ervas que é capaz de derrubar até mesmo um cavalo! É claro que eu não podia garantir que iria funcionar, mas graças aos deuses ele fez efeito!

Charly olhou então para o homem-javali enquanto Arlindo o cutucava com a maça. Ele forçou sua memória e lembrou-se que antes de anoitecer Nipples havia deixado ele e Dorothy estudando o Livro dos Monstros sozinhos no quarto de Vaalij, pois dissera que tinha de fazer alguns preparativos para a noite, provavelmente foi nesse momento que o serviçal agiu.

— Eu acho que ele está morto – disse o clérigo olhando para os dois.

— Não, não, senhor Arlindo, ele só está inconsciente e assim permanecerá por mais 12 horas, se tivermos sorte.

— Então... – Charly engoliu um pouco de saliva – Você fez isso? Você nos salvou?

— Bem, meu senhor, eu...

— Ah! Muito obrigado Nipples! – ele exclamou largando as espadas – Eu achei que iríamos todos morr— Oh, não... – arregalou os olhos – E a Dorothy? – perguntou para o clérigo.

— Não deu tempo de eu checá-la – respondeu encarando-o.

Os três se entreolharam e rapidamente seguiram para trás da casa de Vaalij, onde Solomon havia ido. Lá eles encontraram o guerreiro com a paladina ainda em seus braços enquanto ele subia o olhar soturno para eles.

— Ela está bem? – perguntou Charly.

— Ela está viva – respondeu Solomon – Mas tem um problema – disse movendo a mão do ombro da garota, revelando marcas de dentes e dois grandes furos de presas dos quais o sangue escorria.

Charly não sabia exatamente o que aquilo significava, mas ao ver ao ver Arlindo piscando com força e em seguida virando-se para outro lado passando a mão no rosto e Nipples levando a mão a boca enquanto aclamava bem baixinho pelo nome de seu deus, ele já sabia quais palavras sairiam da boca do guerreiro:

— Ela está amaldiçoada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá olá pessoas lindas ♥
Voltei com este capítulo pra vocês :DD
E aí, o que acharam? O que esperam para os próximos?
Comentem aí :3