Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 24
Solomon - O Resgate




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— Não, não, não. Não é possível! – exclamou Dorothy no topo de uma colina, enquanto varria a Planície Roxa com os olhos. – Eles não podem ter simplesmente sumido! – falou ela para Arlindo, que subia o pequeno morro logo atrás.

— Você tem que ficar calma. Se desesperar não vai adiantar em nada. – aconselhou o clérigo a puxando de volta para a área onde ocorrera a luta contra os drows, a pouco tempo atrás.

— Arlindo, nós temos que achá-lo! – disse ela descendo do morro ao lado dele – Temos que ir atrás do Nipples agora! Eles devem ter levado ele pra floresta, é a única explicação e--

— Calma, você não está pensando direito. – interrompeu colocando a mão sobre o ombro da garota – Nós ainda nem sabemos por onde começar a procurar ou... – falou e se calou por alguns instantes enquanto soltava um suspiro.

— Ou se ele ainda está vivo. – completou Solomon ao vê-los se aproximar.

O guerreiro, que até então estava quieto resolveu se manifestar, pois já estava já há algum tempo ouvindo sobre como deveriam ir atrás do serviçal e resgatá-lo a todo custo, enquanto ninguém havia sequer considerado se ele já não estava morto.

Dorothy, ao ouvir isso, mirou seus olhos azuis na direção do guerreiro, enquanto caminhava em sua direção com uma expressão que ele não pôde desvendar naquele momento.

— Como pode dizer isso? – perguntou a paladina, quase como num sussurro parando à sua frente.

— Não tem porquê terem sequestrado ele. Ele não é rico, não é nenhuma donzela pra pedirem por resgate, não é ninguém importante. É apenas um serviçal. – respondeu Solomon.

Não é que ele não gostasse de Nipples, mas ele simplesmente não via sentido em se arriscar a se perder naquela floresta pela baixíssima chance de encontrá-lo e com ele uma horda de drows junto, já que o guerreiro imaginava que aqueles batedores que os atacaram não eram os únicos elfos no norte.

— Talvez seja isso o que você pensa, mas Nipples é sim importante. Ele é parte dessa equipe tanto quanto qualquer um de nós! – respondeu a paladina emocionalmente alterada. – Nós temos que ir atrás dele! Ele é minha responsabilidade. – continuou ela.

— Bom, sua responsabilidade provavelmente está morta nesse momento. – falou o guerreiro.

— Por Obad-Hai! Vocês não conseguem passar um dia sem brigar?! – interferiu Arlindo, se colocando entre os dois e os afastando pelos ombros. – Me deixa falar com ele, tá bom? – falou ele para Dorothy, que concordou com um sutil movimento de cabeça e se afastou, dando espaço para os dois conversarem.

— Não tem motivo para irmos atrás dele. – falou Solomon cruzando os braços, já se adiantando a qualquer desculpa que o clérigo pudesse inventar para que ele concordasse com a ideia arriscada.

Arlindo suspirou passando a mão da testa até os cabelos e olhou para o chão, apoiando as mãos na cintura enquanto jogava o corpo para o lado.

— Você está certo. – disse ele, fazendo com que Solomon franzisse levemente o cenho. – Não há nenhum motivo sensato para irmos atrás do homenzinho, há não ser é claro ser a coisa certa a se fazer, embora eu não acredite que você se importe muito com esse tipo de moralidade. E para ser sincero, eu cheguei à mesma conclusão que você, sobre ele poder estar... Morto, mas eu não queria dar esse tipo de notícia a ela. – falou o clérigo olhando discretamente na direção de Dorothy.

— Ótimo. Então vamos só seguir com essa maldita viagem. – respondeu o guerreiro.

— Nós poderíamos fazer isso, claro, mas acredito que estaríamos perdendo uma grande oportunidade aqui. – falou o clérigo olhando para as unhas tentando mostrar desinteresse.

— Do que está falando? – perguntou Solomon suspirando, já sabendo que era isso que o clérigo queria ele fizesse.

— Você provavelmente notou o alto número de batedores que nos atacaram, certo?! – supôs Arlindo estreitando os olhos e erguendo uma das sobrancelhas para o guerreiro.

— Hum...

— Bom, eu só consigo imaginar que se estes batedores pertencem a um grupo ainda maior de drows que devem estar nas redondezas. Sei que movimentar um numero grande de pessoas pode ser complicado, então é possível que eles tenham algum tipo de acampamento fixo naquela floresta.

— Vá direto ao ponto. – disse o guerreiro impaciente, já ciente de tudo o que o clérigo falava.

— Tá bem, tá bem. – concordou Arlindo erguendo as mãos e as usando para gesticular em seguida – O que eu to querendo dizer é que independente de terem capturado o serviçal, os drows que fugiram com certeza vão voltar pra sua base. Agora, uma base que suporte sete batedores mais todo o resto da equipe deles deve ser grande, além disso, eles precisam prover para todos esses drows e nós sabemos que ninguém trabalha de graça...

— Então eles têm algum dinheiro protegido por um acampamento de médio porte. – disse Solomon – Não é o suficiente pra me levar até lá.

— Ah, mas é claro que não. Se você fosse se arriscar assim teria que ser pelo menos pelo triplo do dinheiro que eles devem ter... – falou com um sorriso malicioso no rosto.

Solomon então notou aonde o clérigo queria chegar. Ele estava lhe sugerindo que os drows tinham moedas de Thorrun, que atualmente estavam valendo o triplo ou talvez ainda mais do que as moedas de Theolen, o que era uma ideia que agradava o guerreiro, uma vez que, conseguir esse tipo de tesouro havia sido o motivo inicial para Solomon ter concordado em ir nessa viagem.

— Hum... E o que você ganha com isso? – perguntou ele ao clérigo – Quer o dinheiro também?

— Ahh, ouro nunca é demais. – disse sorrindo – Mas eu só estou tentando ser um bom amigo para o serviçal, pobrezinho, deve estar apavorado agora, além disso, é a coisa certa a se fazer. – gesticulou com um sinal positivo.

— Então você se importa com ele? – perguntou Solomon, descrente do que ouvira.

— Mas é claro que sim! – exagerou o clérigo.

— Não me lembro de vocês conversarem por mais do que alguns instantes.

— O que? Nós nos falamos o tempo todo!

— Hum... Então você deve saber qual é o nome do meio dele, certo? - perguntou o guerreiro cerrando os olhos.

— Com certeza! – afirmou Arlindo mexendo a cabeça positivamente.

— E qual é?

— Qual é o nome do meio do... Han, é... É... Tetas, é claro. – mentiu o clérigo.

— Você não está fazendo isso por ele. Diz logo o que ganha com isso – esbravejou Solomon.

— Ahrg... Certo – suspirou Arlindo insatisfeito e começou a cochichar – Eu não ligo tanto assim pro... Qualquer que seja o nome dele, mas um acampamento deve ter muitos recursos que estão em falta pra gente agora.

— Cerveja – concluiu o guerreiro.

— Muita cerveja... – falou fechando os olhos e cerrando os punhos imaginando a quantidade de bebida que poderia encontrar – Mas não me leve a mal... Quero dizer, se formos atrás do baixinho você pode conseguir seu ouro, eu, a minha bebida e se dermos sorte ainda encontramos ele inteiro e deixamos a Dorothy feliz, enquanto o grupo permanece sem mortes. Todos ganham com isso!

Solomon olhou nos olhos do clérigo por alguns instantes e então os desviou para Dorothy. A garota estava parada em frente à árvore em que Nipples havia se escondido. Ela passava a mão sobre os olhos visivelmente preocupada e se culpando pelo ocorrido. Ele se lembrou dela o confortando, ainda naquele mesmo dia, logo após ele lhe contar sobre seu irmão e então olhou para o seu martelo sujo de sangue. Por fim se voltou novamente para Arlindo pensando em tudo que poderia conseguir com o dinheiro de Thorrun e acenou positivamente com a cabeça, dando sua resposta.

— Ótimo! – exclamou o clérigo em voz alta, chamando a atenção de Dorothy e Charly – Vamos todos atrás do serviçal então! – disse sorrindo e caminhando até a pedra onde ele havia encontrado a drow que os estava observando.

Solomon viu Dorothy o encarar por alguns instantes e em seguida ir em direção ao clérigo junto de Charly. O guerreiro fez o mesmo e então logo eles começaram a discutir o que fariam a partir dali.

— E então? Nós vamos agora? – perguntou Dorothy ansiosa.

— Nós deveríamos. – disse Charly – Eu vi que não tem sangue no local, nem perto dele. Então o Nipples provavelmente não está ferido.

— Nós precisamos nos preparar antes – falou o clérigo. – Acredito que esses drows tenham um acampamento ou um vilarejo não muito longe daqui e nós precisamos achá-lo.

— Isso faz sentido, tinham muitos deles. – concordou Charly.

— Mas como acharíamos esse lugar? Nosso mapa estava com Nipples. – questionou Dorothy.

— Aí é que entra aquele bastardo ali – falou Arlindo apontando para um drow caído, mais especificamente o que havia feito a magia na paladina e atirado contra ela. – Ele ainda está vivo, posso curá-lo e então podemos arrancar a informação dele.

— Achei que eles não falavam nossa língua – disse a garota.

— Alguns não falam, mas acho que esses daqui sim. Eu reparei que eles reagiam ao que dizíamos, apesar de se comunicarem apenas em seu próprio idioma – respondeu o clérigo.

— Tudo bem então, vamos fazer isso – disse Dorothy enquanto eles se aproximavam do elfo negro desmaiado e o amarravam antes de acordá-lo.

Enquanto isso Solomon reparou na distância que estavam da floresta e em seguida em que ponto o sol estava no céu. Ele sabia que eles não teriam muito tempo para fazer a missão antes de anoitecer, mas ficou quieto e se voltou para o drow, que aos poucos acordava com a magia de cura de Arlindo.

Ao abrir os olhos puxados diagonalmente, o elfo negro começou a ficar ofegante e logo notou estar fortemente amarrado a uma árvore, enquanto quatro de seus antigos alvos o encaravam impacientes.

— Muito bem, agora que você está acordado, nós queremos saber: onde estão os outros? E pra onde levaram o Nipples? – perguntou Dorothy agressiva.

O drow a olhou de baixo para cima com um olhar provocativo e nada respondeu.

— Fala logo! – exclamou a paladina – Eu sei que você nos entende e fala nossa língua, então responde!

O elfo negro deu uma leve risada silenciosa enquanto olhava a garota e em seguida disse algo na língua subterrânea.

— Fale em comum. – ordenou Arlindo.

— Eu disse... – falou o drow com uma pronuncia enrolada – Por que eu te daria essa informação, sua vadia burra?

— Uou... Calma aí, orelha de pontuda! – falou o clérigo para o elfo – Acho melhor só eu falar com ele a partir daqui. – disse virando-se para Dorothy, que encarava o drow boquiaberta, se sentindo demasiadamente ofendida.

O clérigo então agachou e ficou conversando com o elfo por mais de um quinto de hora, tentando convencê-lo a todo custo a levá-los até seu acampamento. Com o tempo passando depressa Solomon viu a necessidade de conseguir a informação o mais breve possível, então foi até Arlindo pedindo para ele se apressar. O clérigo então se levantou e deu alguns passos para longe do drow com o guerreiro, começando a cochichar.

— Eu estou tentando, mas ele não acredita em nada do que eu falo! Ele é impossível! – confessou frustrado.

— Se perdermos mais tempo aqui há mais chances do serviçal morrer e de nós chegarmos até o local quando já tiver anoitecido, o que quer dizer que...

— Que eles teriam a vantagem por poder enxergar na penumbra. – completou Arlindo passando a mão na nuca, se lembrando da incrível visão das criaturas élficas – Mas eu não sei como fazer esse cara falar...

— Eu sei... – disse Solomon dando um olhar sério para o clérigo.

Arlindo concordou com a cabeça e ficou ali, há alguns metros de distância vendo Solomon se aproximar do prisioneiro. Dorothy então parou ao seu lado e perguntou a ele se havia conseguido algum resultado, mas o clérigo negou.

— Solomon vai tentar convencê-lo. – disse ele à garota.

— Solomon? – perguntou ela confusa.

— Ele pode ser bem persuasivo quando quer. Agora, eu sugiro que você use sua habilidade de cura para se recuperar dessa flechada, é possível que tenhamos que entrar em combate de novo. – disse ele e assim ela o fez.

Solomon caminhou até o drow amarrado e parou em frente a ele com o semblante fechado.

— Suponho que você seja o cara mau que veio tentar me fazer falar. – disse o elfo.

— Não. Eu só vim te dar uma última chance de sobreviver. – respondeu o guerreiro tirando o martelo das costas.

— Ah, é? Duvido que vá fazer algum mal a mim. Vocês precisam de mim. – falou o drow arrogante.

— Não, você é dispensável e já perdemos tempo demais com você. É mais fácil acordar um dos seus colegas e perguntar pra eles, tenho certeza de que eles colaborarão mais do que você.

— O que? – perguntou o elfo confuso – Eles não estão mortos?

Solomon não respondeu, apenas olhou para a perna do drow esticada na grama e balançou o martelo. O elfo negro então se lembrou da dor que sentiu quando foi atingido por aquela arma durante a batalha atrás e olhou preocupado para o guerreiro.

— E então? Algo a dizer? – perguntou Solomon, mas nenhuma resposta recebeu – Sabe, eu ouvi falar que quando se quebra um joelho a dor é quase insuportável e que você nunca se recupera disso.

O drow engoliu saliva e começou então a tremer, enquanto rangia os dentes.

— Mas tudo bem, pelo menos você não desmaia e acho que também não morre disso. O ruim é que quando eu te abandonar aqui, vai demorar alguns dias até você morrer de fome e seu corpo ser devorado por animais e infelizmente eu não vou estar aqui pra ver...– ameaçou o guerreiro.

O elfo negro arregalou os olhos vermelhos olhando para sua perna já perfurada por uma flecha e em seguida olhou para Solomon tentando descobrir se ele estava blefando.

— Bom, pelo menos eu vou me divertir um pouco já que você tem dois joelhos. – disse o guerreiro erguendo o martelo - É, isso vai ser divertido... - falou e em seguida desceu o golpe na perna do elfo.

— Espera! – gritou o drow apertando os olhos.

E Solomon esperou, parando o martelo a apenas alguns centímetros acima do joelho dele e o encarando em seguida.

— Eu digo o que quer saber... – falou contrariado.

— Pra onde levaram o serviçal e por que fizeram isso?

— Eu não sei... – respondeu enquanto uma gota de suor descia por sua testa.

Solomon ergueu novamente o martelo e se preparou para acertar o drow.

— Eu não sei! – gritou desesperado – Não era parte do plano, mas eu posso falar onde é o acampamento, eles provavelmente foram pra lá!

— Você pode mentir sobre isso. – rebateu o guerreiro.

— Não! Então eu vou com vocês! Os guio até lá!

Solomon ficou quieto e pode ver que o drow não estava mentindo pra ele, mas para saber se conseguia mais alguma informação do elfo ele ficou em silêncio o encarando.

— Por favor! Eu levo vocês até lá! Eu levo! Só não quebra o meu joelho...– suplicou o elfo negro.

— Sabe o que acontece se nos levar pra alguma armadilha ou fugir, certo? – perguntou o guerreiro.

— Não! Não! Eu não vou fazer isso! Eu juro! – exclamou ofegante.

— Muito bem. – disse Solomon guardando o martelo nas costas e desamarrando o elfo da árvore, deixando somente suas mãos presas às costas. – Vamos – disse empurrando o drow na direção dos outros.

Arlindo ergueu uma das sobrancelhas e sorriu discretamente, impressionado pela rapidez com que Solomon convenceu o drow a ajudá-los. Dorothy, também impressionada, esperou pelo guerreiro passar ao lado dela para agradecê-lo com um singelo “obrigada”. Solomon acenou positivamente com a cabeça e a garota teve a impressão de ter visto o que poderia ser o esboço de um sorriso do guerreiro. Então, guiados pelo elfo negro ele adentraram a floresta, à procura do acampamento.

Duas horas se passaram enquanto eles caminhavam pelo novo território desconhecido até que o elfo prisioneiro parou de andar e olhou para Solomon, que o segurava pelo braço.

— A partir daqui já temos espiões e batedores. – informou o drow.

— Quão perto estamos? – perguntou Charly.

— Cinquenta passos. – respondeu o elfo.

— Nós devemos ir sorrateiramente então. – sugeriu Dorothy.

— E deveríamos amarrar a boca dele só para o caso dele querer gritar e denunciar nossa posição. – disse Arlindo olhando para o humanoide de orelhas pontudas que o encarou com raiva.

O clérigo tirou um lenço não muito sujo de sua bolsa e amarrou na boca do prisioneiro, em seguida todos avançaram silenciosamente por entre as árvores até vislumbrarem um acampamento suspenso. Cerca de quinze casas se prendiam em plataformas grudadas em árvores, várias redes eram penduradas em galhos e rampas feitas de tábuas de madeira conectavam as grande varandas das construções.

— Há pessoas no solo também? – sussurrou Arlindo para o drow, que concordou com a cabeça e um pequeno sorriso no rosto, pois sabia a dificuldade de atacar um lugar assim. – Droga...

— Quantos são lá dentro? – perguntou Solomon. – Vinte? – e o elfo balançou a cabeça negativamente. – Trinta? – e mais um “não” como resposta – Quarenta? – e finalmente o drow concordou.

— Que seja, isso não importa. Nós temos que achar o Nipples! – falou Dorothy e assim que ela terminou a frase uma flecha zuniu perto de seu ouvido, passando por entre seus cabelos cacheados.

— Ali! – gritou Charly apontando para o atirador que estava sobre o galho de uma árvore a quatro metros de altura.

— Peguem cobertura! – exclamou a paladina se jogando para trás de uma árvore com o garoto.

Solomon desmaiou o drow que estava com eles com um soco, para que ele não os pudesse atacar,  e então foi para trás de uma árvore que logo o protegeu contra um tiro de besta e um raio mágico que congelou uma pequena área do tronco da planta.

— Hey! Psiu! – chamou Arlindo agitado – O elemento surpresa já se foi, nós temos que agir rápido!

Solomon concordou com a cabeça e olhou novamente para o acampamento, reparando que novos arqueiros e besteiros apareciam sobre as varandas.

— Eles têm a vantagem enquanto estivermos longe, mas se pararmos debaixo de uma daquelas varandas boa parte deles não vai conseguir atirar. – disse o guerreiro.

— Eu iria pra lá de qualquer jeito, o estoque deve ficar no alto pra evitar ataque de animais. – respondeu o clérigo.

— Arlindo! Temos que ir todos juntos! – gritou Dorothy do outro lado, sem ouvir a conversa dos dois.

— Isso é uma péssima ideia. – disse Solomon para o clérigo. – É melhor nos espalharmos. É mais difícil de nos acertarem assim.

— Faz sentido, além disso, isso evita que aqueles conjuradores lancem uma bola de fogo pra derrubar todo mundo de uma vez, o que eu duvido que eles façam já que estão lançando esses ridículos raios de gelo. – falou Arlindo em tom de deboche.

Solomon então puxou o martelo das costas e partiu em investida contra os inimigos. Dorothy gritou para que ele esperasse, mas o guerreiro não o fez. Ele avançou rapidamente até o centro do acampamento, desviando de virotes e flechas se escondendo atrás das árvores em seu caminho. Viu então as barracas montadas no solo e perto delas um grupo de cinco drows com lanças e sabres.

Correndo para trás de uma barraca, ele conseguiu impedir que os atiradores drows pudessem ter uma visão clara de sua posição e se preparou para o ataque dos cinco que estavam no solo. Uma lança logo veio voando em sua direção, acertando a grama ao seu lado. Em seguida um drow segurando um sabre que parecia pingar algum tipo de líquido esverdeado avançou, tentando acertar o braço de Solomon, que rapidamente esquivou do ataque.

O guerreiro balançou seu martelo com a mão direita e deu uma pancada no peito do elfo negro. O drow gritou algo em subterrâneo e novamente virou seu sabre na direção de Solomon, que dessa vez interceptou o golpe usando o martelo e notou um cheiro forte vindo da lâmina do adversário. “Veneno”, pensou consigo, lembrando-se de já ter ouvido falar de combatentes que passavam isso em suas armas, para que seus oponentes sucumbissem mais rápido aos seus golpes.

— Covarde – pensou alto.

Solomon então chutou o peito do elfo o empurrando para trás e afastando o veneno de perto de si. Neste instante mais dois drows apareceram por suas costas, um lançou um raio azulado contra ele, fazendo-o sentir frio e queimando levemente a pele que entrara em contato com a magia, o outro o tentou acertar com uma lança, mas errou o golpe. Como revide, Solomon foi até o conjurador, uma vez que sabia que não era muito resistente, e lhe acertou um poderosíssimo golpe de martelo no peito, derrubando-o num único golpe. Em seguida, olhou para o drow com a lança e rodou o martelo em sua direção, acertando sua arma e a partindo no meio.

O elfo negro com a arma envenenada se aproximou novamente, agora acompanhado de mais dois aliados que logo cercaram Solomon, mas antes que pudessem atacar o guerreiro eles ouviram um grito de guerra, sendo este um dos mais estranhos que eles já haviam escutado:

— Ceeeeerveeejaaa! – gritou o clérigo correndo com uma poderosa investida e acertando um golpe de maça no rosto de um dos drows, que desmaiou instantaneamente.

Ao ver a cena Solomon deu uma leve risada que passou despercebida por todos e então se voltou para seus adversários distraídos. Ele bateu com o martelo nas costelas de um dos drows que havia acabado de entrar em combate e em seguida lhe deu um soco no mesmo lugar, fazendo o elfo cair no chão de tanta dor.

Logo flechas e virotes voaram na direção do combate, mas felizmente os drows não conseguiram acertar Solomon ou Arlindo, uma vez que nenhum dos atiradores tinha uma linha visão direta para eles, mas nem todos os tiros lançados foram perdidos. Dorothy e Charly, que se aproximavam vagarosamente por entre as árvores, acertaram e derrubaram o drow com o sabre envenenado com três flechas.

— Esperem-nos! – gritou a paladina, mas não a tempo de fazer com que Arlindo parasse de correr na direção das escadas que levavam para nível superior do acampamento.

Solomon viu o clérigo avançar e pensou em fazer o mesmo, mas antes que pudesse se mover o lanceiro desarmado avançou para cima do guerreiro com as próprias mãos. O guerreiro deteve os socos do adversário segurando seus braços e como estava com as mãos ocupadas, deu uma forte cabeça no elfo e o largou inconsciente no chão.

Foi então que um destacamento de dez drows desceu do nível superior do acampamento através de cordas, árvores e escadas. Solomon viu eles se aproximarem e três pegarem armas a distância, o guerreiro avançou para debaixo de uma varanda e se preparou para subir a escada que levava para cima. Viu o clérigo já no alto, usando sua maça contra os inimigos que encontrava pelo caminho e misticamente desviando de tiros que obviamente o acertariam, resultado de alguma magia de proteção desconhecida pelo guerreiro.

— Vai com ele e acha o Nipples. – disse Dorothy parando ao seu lado enquanto atirava no joelho de um dos drows que se aproximava.

— E aqueles ali? – perguntou o guerreiro olhando para os novos adversários enquanto atiravam contra eles.

— Eu e Charly os seguramos o quanto conseguirmos. – disse ela colocando o arco no ombro e puxando o escudo das costas.

— Consegue fazer isso? – perguntou o guerreiro desconfiado.

— Eu lutei contra você, não lutei? Acho que posso lidar com alguns deles. – disse Dorothy correndo na direção dos inimigos enquanto sacava rapidamente sua espada longa.

Solomon não respondeu, apenas observou um tanto impressionado a paladina se distanciar e rapidamente acertar um dos oponentes com um corte na perna. Um virote então fez um corte de raspão no pescoço do guerreiro, fazendo com que ele voltasse sua atenção para a batalha e começasse a subir os degraus que compunham a escada embutida na árvore.

Ao chegar no topo Solomon levou um tiro de besta no ombro da armadura e foi perfurado por um sabre no antebraço, mas logo conseguiu revidar os ataques derrubando um de seus oponentes de lá de cima e levando o outro a nocaute com dois golpes de martelo.

Mais tiros começaram a voar em sua direção e agora sem cobertura, o guerreiro era um alvo fácil. Solomon então procurou um abrigo e logo encontrou uma porta que dava para um cômodo de madeira. Ele abriu a porta e entrou numa sala de tamanho mediano com uma mesa, três cadeiras e uma pequena cômoda com um altar religioso em cima. Além disso, havia na sala uma drow com longos cabelos brancos com mechas presas em tranças finas que amarravam metade do cabelo num coque.

— O que pensa que está fazendo aqui, humano? – perguntou ela com indignação enquanto se levantava rapidamente da cadeira e puxava a calda de seu longo robe negro com tiras de couro.

— Não se preocupe, não ficarei muito tempo. – respondeu Solomon fechando a porta atrás de si, se protegendo contra os tiros que vinham do lado de fora.

— É claro que não vai, meus homens vão acabar com seus amiguinhos lá embaixo, assim como eu farei com você aqui em cima. Além disso, reforços estão chegando. O que está fazendo aqui, é um ataque suicida.

— Nós já derrotamos parte dos seus homens e não são grande coisa.

— Típico comportamento humano. Arrogantes o suficiente para serem machistas e subestimarem uma oponente como eu.

— Acho que você entendeu errado. Não estou a subestimando por ser mulher, eu só realmente não tenho tempo para perder ficando aqui ou discutindo com você. – disse o guerreiro segurando firmemente o martelo ao notar a agressividade da drow.

— Oh, não terá discussão nenhuma entre nós dois. Eu sou uma das líderes desse batalhão, uma sacerdotisa de Lolth e agora você vai aprender algumas coisas sobre respeito e consequências. – respondeu ela sacando lentamente um belíssimo sabre com pedras vermelhas encravadas na empunhadura.

Solomon deu um passo para frente, mas decidiu esperar. A elfa negra ainda estava atrás da escrivaninha, o que ele sabia que o atrapalharia caso ele fosse atacá-la, por isso a melhor opção era esperar até que ela fosse até ele. Infelizmente ela não cometeu tal erro, ao invés disso a drow passou a mão sobre a lâmina do sabre enquanto falava em subterrâneo, conjurando alguma magia que fez com que uma aura quase invisível aparecesse sobre ela.

Com o tempo passando, a chance de sua oponente ficar mais forte e ainda atacá-lo à distância usando magias, Solomon decidiu avançar. O guerreiro correu na direção da elfa, dando a volta na escrivaninha e parando ao seu lado já com um golpe preparado para acertá-la, mas antes que o fizesse ela brandiu o sabre e lhe fez um fino corte na bochecha. Ele revidou com uma martelada, mas quando sua arma chegou perto o suficiente para acertá-la ele sentiu o martelo deslizar levemente para o lado, como se tivesse sido defletido por alguma força invisível que o fez errar o golpe.

A drow então esticou o sabre e com uma precisão que ele não vira em algum tempo ela estocou seu tronco, perfurando a armadura e cortando sua pele. Solomon então segurou o martelo com as duas mãos e o desceu num golpe poderoso sobre a elfa, mas ela novamente esquivou do ataque, fazendo com que a arma do guerreiro acertasse e destruísse parte da escrivaninha a sua frente.

A drow arregalou os olhos surpresa com tamanha força. Ela sabia que se um golpe como aquele a acertasse ela rapidamente ficaria inconsciente, então deu alguns passos para trás e defensivamente começou a conjurar outra magia para testar a resistência do humano contra esse tipo de poder.

— Largue. – disse ela na língua comum.

Solomon escutou o comando e subitamente sua mão se abriu e largou o martelo no chão, enquanto ele ouvia a palavra “largue” repetidas vezes em sua cabeça.

— Que previsível – disse a drow mostrando o sorriso por entre os lábios pintados de branco – Apenas mais um brutamontes com o corpo é forte e mente é fraca. Devo admitir... Eu sempre gosto de encontrar em meus oponentes. – disse iniciando outra conjuração.

Ao tentar pegar o martelo no chão, o guerreiro viu-se incapaz de fazê-lo. Tendo que improvisar, Solomon avançou para cima da conjuradora com as próprias mãos, pronto para prendê-la e deixá-la incapaz de fazer magias. Como reflexo a drow ergueu o sabre, fazendo um corte na palma da mão do guerreiro, que ainda assim conseguiu prendê-la no braços, colocando-a cara com a parede.

— Não me subestime e pense que isso acabou, criatura da superfície. – disse ela tentando se soltar – Você ainda não é forte o suficiente para lidar comigo. Agora fique parado para eu acabar com você.

Solomon a ouviu as palavras e sentiu todos os músculos de seu corpo travarem simultaneamente, sendo incapacitado de se mexer ou até mesmo falar. A drow então se soltou dos braços do guerreiro e parou ao seu lado.

— É assim que eu gosto. – disse ela e em seguida conjurou mais outra magia, que concentrava energia negativa na mão, fazendo um fraco brilho arroxeado aparecer em volta dela.

Solomon viu a mão, com unhas compridas, se aproximar de seu rosto e ao toque da sacerdotisa o guerreiro sentiu vários pontos de dor aparecendo em seu corpo. Cortes rasgaram sua pele abrindo ferimentos no rosto, braços, tronco e pernas enquanto ele gritava de dor por dentro.

A elfa sorriu ao ver os ferimentos aparecerem no rosto do guerreiro, então o soltou e começou a conjurar a mesma magia novamente. Solomon estava furioso, não podia acreditar nos danos que uma magia poderia lhe causar, era inaceitável e ele não podia ser tão vulnerável àquilo.

Recusando a se render a tal poder , ele sentiu a magia de imobilização se dissipar e o controle voltar ao seu corpo, podendo se mexer novamente. Olhou brevemente para o martelo caído perto de si e pensou em pegá-lo, mas isso implicaria em ele ser atacado novamente pela elfa, então decidiu continuar parado, fingindo ainda estar sob o efeito de paralisia da drow.

— Espero que isso esteja te causando muita dor. – disse ela esticando a mão com energia negativa na direção dele.

Solomon continuou parado até poder sentir o frio que exalava dos dedos da elfa e quando ela estava quase o tocando ele empurrou seu braço para cima e com a mão direita acertou-lhe um golpe no cotovelo, virando-o ao contrário.

A elfa arregalou os olhos e gritou com a dor aguda de seu braço sendo quebrado, enquanto o guerreiro ia até sua arma e a pegava do chão.

— Causou um pouco de dor. – disse ele – Mas aposto que isso doeu mais. – falou apoiando a cabeça do martelo na mão enquanto o segurava com a outra.

— Seu ogro imbecil! Você vai pagar por isso! – gritou ela esticando o outro braço com o sabre na direção dele.

— Desculpa moça, mas eu te disse... – falou o guerreiro se aproximando enquanto segurava o martelo com as duas mãos. – Não tenho tempo para isso.

Com um urro feroz Solomon saltou para cima de sua oponente e com um poderoso golpe de baixo para cima ele ultrapassou suas defesas mágicas e a acertou no peito, esmagando seus ossos da costela e fazendo com que ela fosse empurrada com força para trás, batendo a cabeça na parede e desmaiando logo em seguida.

Após alguns instantes ele saiu de dentro da sala, guardando no bolso da calça um saco de couro cheio de moedas dentro. Ele rapidamente olhou em volta procurando por seus aliados e então viu um corpo de drow cair na sua frente. Confuso o guerreiro olhou para o alto e viu de relance os cabelos louros passando e Charly adentrando uma sala. Ele então se virou para o tronco da árvore e começou a subir as escadas indo para o mesmo lugar.

Ao chegar lá cima ele viu uma quantidade de aproximadamente oito corpos caídos no chão e o som de batalha do outro lado da árvore. Ele se direcionou para a fonte do barulho, mas antes de entrar em combate junto do clérigo e da paladina, Dorothy, que estava lutando contra três drows, pediu para ele descobrir o que havia acontecido com Nipples na sala ao lado.

Solomon concordou com a cabeça ao ver Arlindo lutando ferozmente e notar que eles não precisavam de ajuda ali e entrou na sala, onde encontrou Charly com o arco apontado para um drow cego de um olho. O garoto estava ofegante, com alguns arranhões no rosto e manchas de sangue na roupa, enquanto o drow estava sentado num banquinho ao lado de duas celas feitas de madeira.

— Ele não quer falar nada. – disse Charly ao ver o guerreiro adentrar a sala.

— Deixa que eu faço ele falar. – disse Solomon puxando o martelo das costas novamente.

Após apenas alguns instantes na sala, utilizando dos mesmos métodos que ele havia usado em outro drow naquele mesmo dia, ele convenceu o elfo caolho a finalmente colaborar e dizer o que sabia sobre Nipples.

— Ah! Não chega perto! – gritou o drow em desespero – Eu falo! Eu falo pra você! E-eu... Só quero garantir algumas coisas antes. – falou encolhendo os ombros.

— Ahrg... Eu não tenho tempo pra isso! – esbravejou o guerreiro levantando o elfo da cadeira pelo pescoço.

— Tá bem, eu falo! E-eu falo! – gaguejou o caolho.

Solomon o soltou fazendo-o cair no chão e então se aproximou já muito impaciente e, apesar de não demonstrar, preocupado, já que sabia que logo um reforço chegaria ao acampamento.

— Não chega perto! Por favor, não me machuca de novo! – implorou o elfo negro se encolhendo no chão.

— Diz logo onde está o serviçal! – exclamou o guerreiro.

— Certo, eu falo! Só não me mata! Eu só quero a garantia de que eu ficarei vivo, por favor! – suplicou soluçando em algumas palavras.

— E então você para de me enrolar? – perguntou de forma rude.

— Sim! Por favor! Tudo o que quero é ficar vivo, com você e aquele diabo louro longe de mim!

— Certo. – disse Solomon se afastando do drow e cruzando os braços em seguida – Agora responde a pergunta.

— Sim, claro, sim, senhor. – falou se sentando no chão – Escute, e-eu não sei onde está o seu amigo. – disse temeroso, erguendo as mãos com as palmas para frente.

— Você está me testando? – perguntou o guerreiro enfurecido, pronto para avançar no drow.

— Não! Estou falando a verdade! E-eu não sei! – falou o elfo tremendo – Os ba-batedores que voltaram da patrulha da manhã, vieram de mãos vazias! Eu não sei o que aconteceu, mas eles v-voltaram sem nada!

Charly olhou para Solomon preocupado enquanto o guerreiro tentava entender a situação.

— Veja. – continuou o drow – Se fôssemos ter prisioneiros eu seria informado, ma-mas isso não era para acontecer. Se eles pegaram alguém, isso foi algum tipo de... de improviso, pois não estava na missão!

— Então o que está dizendo é que... - disse Solomon.

— Eu sinto muito, mas... O seu amigo nunca chegou ao acampamento.


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Notas finais do capítulo

Olá filhos de Theolen! Tudo bem com vocês?
Ainda estou me acostumando ao ritmo de postagem, então me perdoem pela demora rsrs :3
De qualquer modo, espero que tenham gostado desse capítulo!
Se sim ou se não, me falem sobre isso comentando ^^
Obrigada por acompanharem a história e até a próxima!