Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 17
Nipples - A Carroça




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— Minha senhora? – falou Nipples para Dorothy, esperando alguma ordem enquanto via a carroça, puxada por quatro lobos (que cada vez pareciam maiores), se aproximar.

— O que quer fazer? – perguntou Arlindo para a garota.

— Nós deveríamos atacar. – sugeriu Solomon.

— Mas e se for o tio da Dorothy? – perguntou Charly.

— Não acho que seja ele... – falou Arlindo.

— Não tem como atacar, pelo que estou vendo só eu tenho uma arma à distância aqui. – disse Dorothy se referindo ao seu arco curto.

— Isso não é verdade. – disse Arlindo.

Todos se voltaram um tanto surpresos para ele enquanto puxava de sua bolsa uma besta leve.

— O que? – perguntou o clérigo.

— Achei que só tinha cerveja aí dentro. – comentou Charly com uma sobrancelha erguida.

— Vocês me subestimam demais... – falou Arlindo guardando a arma de volta.

— De qualquer jeito não deveríamos atacar. – disse Dorothy.

— Por que não? – perguntou Solomon irritado, segurando firme seu martelo na mão direita.

— Porque talvez não sejam inimigos. – explicou a garota.

— E o que mais seriam aqui no Norte?! – indagou o guerreiro.

— Minha senhora... – repetiu Nipples receoso notando que, na velocidade em que estava, em menos de um dois minutos a carroça chegaria até eles.

— Eu... Eu não sei. Talvez tenham alguma informação pra gente!

— Acha que podem saber do seu tio? – perguntou Arlindo.

— É uma possibilidade, não é?! – falou ela.

— Uma bem pequena. – afirmou o clérigo descrente.

— Não tem como você sentir se são pessoas más lá dentro? – perguntou Charly.

Dorothy então esticou sua mão para frente e se concentrou, mas infelizmente eles estavam longe do alcance desse sentido da paladina.

— Não consigo saber ainda, não estão perto o suficiente. – respondeu ela.

— Mas que lobos grandes... – reparou Arlindo, vendo que os animais claramente não eram criaturas comuns.

— O que a gente faz? Estão chegando... – perguntou Charly preocupado, olhando para Dorothy.

A garota ficou quieta, sem saber o que dizer. Então Arlindo desenganchou a maça de seu suporte no cinto, Solomon estalou o pescoço, pronto para um combate e Charly colocou a mão sobre a espada quebrada.

Dorothy respirou fundo e deu um passo a frente, Nipples fechou os olhos preocupado por um momento, olhou para o sol e pediu em silêncio “Pélor, por favor, nos ajude”.

Há três dias o serviçal havia sido preso pela Ninfa da Floresta e com muita sorte havia escapado da morte, agora ele estava na grande Planície Vermelha. Um lugar deserto, cuja poeira e o calor seguiam o chão vermelho e rachado até se perderem no horizonte. A única coisa que o alegrava sobre esse lugar era que estaria longe do perigo da Ninfa, infelizmente, ao ver a carroça se aproximar a sensação de temor voltou ao seu coração.

Os lobos pararam de correr à cerca de nove metros de distância do grupo e trouxeram consigo uma pequena nuvem de poeira. Quando ela baixou todos puderam ver melhor o estava a sua frente. Tratava-se de um veículo grande e comprido de madeira, quase um caixote sobre rodas. Possuía pequenas janelas que estavam fechadas e seis rodas grandes e resistentes do mesmo material. Puxando a carroça, quatro lobos de pelagem cinza escura e negra com algumas cicatrizes em seus corpos tão grandes quanto cavalos.

Nipples olhou por entre Dorothy e Arlindo e observou a porta da carroça se abrir. Então viu uma criatura com mais de 2,5 metros de altura deixando a carroça mais leve ao sair dela. Era um humanoide musculoso de pele marrom, braços compridos e fortes, pelos e verrugas espalhados pelo corpo. Tinha as orelhas largas e pontudas que apareciam por entre o cabelo sujo e desgrenhado. No rosto comprido, que parecia um focinho, tinha olhos pequenos e um nariz achatado. Suas mãos e pés eram grandes e tinham unhas compridas e sujas. Ele carregava na mão uma clava grande revestida por placas de metal e espinhos e vestia um tipo de armadura feita de peles e couro de animais. O mau cheiro da criatura rapidamente alcançou o nariz do serviçal, que ficou levemente enojado.

Em seguida Nipples avistou saindo da carroça mais duas criaturas, essas pareciam humanos primitivos. Tinham por volta de 1,80 de altura, a pele acinzentada com alguns pelos à mostra e orelhas lupinas. Eram fortes e seus rostos de testa curta portavam um nariz suíno, caninos proeminentes e olhos pequenos e vermelhos. Usavam uma armadura muito mal cuidada de metal que cobria o ombro, parte do peito e as coxas. Um possuía um pequeno machado velho em mãos, o outro uma lâmina enferrujada.

O serviçal já havia visto essas criaturas antes, eram Orcs e o maior deles, um Ogro. Nipples sabia que eram humanoides agressivos e gananciosos, muito comuns em várias partes do mundo. Havia muitos deles em Theolen até o antigo Rei Campbell proibir a entrada dessas criaturas na capital do reino devido ao famoso Cerco de Theolen. Infelizmente para Nipples, eles não estavam mais em sua cidade...

— Então... O que a floresta deu hoje? Duas mulheres, duas crianças e um humano qualquer. – falou o Ogro com uma voz grossa. Ele parecia ter alguma dificuldade em falar a língua comum, suas palavras saíam um tanto rugidas de sua boca enquanto ele se aproximava e parava a cinco metros deles.

— Eu gostei da morena. – disse um dos orcs encarando Dorothy.

— Eu gostei mais da loirinha... – falou o outro mordendo os lábios ao olhar para Arlindo.

O clérigo o olhou de volta com nojo e assim que abriu a boca para retrucar Dorothy o interrompeu:

— Meu nome é Dorothy Leon. E eu estou procurando pelo meu tio, por acaso vocês não o teriam visto, não é?

— Depende... Nós viu algumas pessoas por aqui. – falou o Ogro com tom interesseiro.

— Ele é um humano alto, forte. Vestia uma armadura e carregava uma espada grande consigo – disse Dorothy apreensiva

Os dois Orcs se entreolharam ao ouvir as palavras da paladina e deram uma risada discreta. Dorothy não notou, mas Nipples, que estava ali despercebido, confundido com uma criança (provavelmente por causa de seu tamanho) reparou na reação dos Orcs. Ele então deu alguns passos silenciosos para o lado para tentar ver o que havia dentro da carroça.

— Vocês o viram? – perguntou Dorothy olhando para cima, encarando o Ogro que era muito maior do que ela.

— Talvez eu vi ele – falou o gigante e se virou para Solomon – Talvez esse martelo caro me ajuda a lembrar.

— Não – disse o guerreiro com o olhar furioso para o Ogro, que não gostou nem um pouco da resposta.

— Então não vi nada! E vocês tem que pagar pra passar em nossa área. – esbravejou a criatura.

— O que? – perguntou Dorothy desconfiada.

Enquanto a atenção dos Orcs e do Ogro estavam frente a frente com a garota, Nipples conseguiu uma linha de visão melhor para a carroça, forçou os olhos caramelados e cansados e então pode ver uma mão caucasiana de um homem forte caído no chão da carroça. Observou também que ele tinha uma armadura cobrindo o peito aparentemente ensanguentado.

O serviçal soltou um pequeno ruído de susto ao ver o cadáver, então os lobos rapidamente viraram para ele e rosnaram. “Oh não! Meus senhores precisam saber disso”, pensou, então deu alguns passos para trás.

— Minha senhora! - ele chamou pela paladina.

Todos rapidamente olharam para o serviçal enquanto ele apontava para dentro da carroça. Então viram o corpo jogado no chão do veículo. Dorothy arregalou os olhos, a dúvida sobre aquele poder ser Steve tomou seu coração, seus olhos se encheram de lágrimas e ela mordeu os lábios, segurando ao máximo o choro.

Pega ele! – rosnou o Ogro já irritado.

Os orcs logo se moveram na direção do serviçal que deu alguns passos para trás, virou a cabeça e fechou os olhos com medo, mas logo os abriu novamente quando ouviu a voz de Dorothy.

— Ninguém. Toca. Nele. – falou a garota parada em sua frente com o arco na mão enquanto movia atentamente os olhos avermelhados.

O Ogro então gritou de raiva, mostrando seus dentes afiados e levantou sua clava acima da cabeça.

— Matem eles! Agora!!! – urrou o Ogro para os orcs.

Dorothy então puxou o fio do arco e atirou a flecha no orc que se aproximava com o machado, perfurando seu ombro exposto. A criatura rangeu os dentes de dor e arrancou a flecha do corpo com as próprias mãos. A paladina então entregou o arco e a aljava nas mãos de Charly, tirou sua espada da bainha e pegou seu escudo.

— Sabe atirar? – perguntou ela ao garoto que apenas respondeu positivamente com a cabeça. – Ótimo, fique ai atrás e nos de cobertura.

— Eu fico com o maior – falou Solomon entrando na frente de Dorothy e caminhando na direção do Ogro.

— Então a gente cuida dos orcs. – disse Dorothy para Arlindo que concordou com a cabeça suspirando. – Voltamos para te ajudar depois Solomon… – falou ela para o guerreiro enquanto se afastava.

— Eu não preciso de ajuda. – respondeu ele franzindo o cenho.

O Ogro avançou arrastando sua clava no chão enquanto mostrava os dentes para o guerreiro na tentativa de amedrontá-lo, mas Solomon não estava com medo. Ele estava furioso.

— Queria o meu martelo? – disse o guerreiro se aproximando – Você vai ter o meu martelo! – gritou enquanto girava sua arma e acertava em cheio o peito da criatura. Fazendo-a dar um passo para trás sem ar com a mão no peito.

Enquanto isso Charly pegou distância. Dorothy e Arlindo foram em direção aos Orcs que rapidamente ignoraram Nipples, deixando-o livre para correr para debaixo da carroça e se esconder.

— Olha Holg! – disse o orc ferido pela flecha, com o machado velho em mãos – As garotas acham que podem lutar com a gente!

— Vamos ensinar pra elas o seu lugar e brincar com elas mais tarde, Baggi... – falou o Orc segurando uma cimitarra enquanto lambia os lábios maliciosamente.

— Aí seus feiosos, pra começo de conversa eu sou um cara! – disse Arlindo andando à frente – Um cara lindo, gato mesmo... Mas ainda um cara.

Os dois orcs se entreolharam confusos.

— E outra: vocês não vão “brincar” com ninguém hoje, sabe por quê? Porque vocês vão estar quebrados demais pra isso... – falou o clérigo distraindo-os.

Dorothy então saiu de trás dele com sua espada esticada e fez um corte no braço do orc com a cimitarra. Ele arregalou os olhos supreso, mas então levantou sua arma e desferiu um golpe na direção da paladina, que se defendeu com o escudo.

O Ogro avançou sobre Solomon com uma série de ataques pesados que o guerreiro bloqueou com êxito usando o martelo e as partes mais protegidas de sua armadura. O que deixou a criatura furiosa e impaciente, além de suscetível às pancadas do martelo que o feriram sucessivamente no tronco e braços, até que o humanoide monstruoso se deixou descontrolar.

Uma fúria súbita tomou seu corpo, seus olhos ficaram vermelhos, suas veias começaram a pulsar, ele abriu a boca com seus dentes afiados e soltou um rosnado assustador. Solomon não ficou surpreso, já vira aquele efeito antes em bárbaros (era assim que chamava guerreiros selvagens que se valiam mais de sua fúria irracional do que de técnicas de combate). O guerreiro sabia que embora o furor da luta fortalecesse esses tipos combatentes e os deixasse mais resistentes, também os cegava da razão e os deixa mais vulneráveis.

Solomon virou sua arma diagonalmente nas costelas de seu inimigo com uma força majestosa, pode até mesmo sentir os ossos dele se quebrando ao encontrar com o metal maciço do martelo, mas o Ogro não parou, revidou acertando a clava gigante no ombro do guerreiro com uma brutalidade que o fez ajoelhar ao chão. A criatura urrou como uma besta descontrolada, então Solomon virou seu martelo de baixo para cima mirando em seu rosto, mas o gigante segurou o golpe com as próprias mãos. Solomon deu dois passos para trás um tanto surpreso e preparou o martelo para atacar novamente, quando viu uma flecha passar ao seu lado. Olhou para trás e viu Charly tentando acertar o Ogro. O garoto concentrado puxou novamente a corda do arco e disparou outra flecha, dessa vez perfurando o alvo na panturrilha.

Dorothy esticou a espada estocando Holg, o orc da cimitarra, mas sua armadura, meio metálica meio de couro, impediu que a arma da paladina perfurasse seu peito. Então Arlindo segurou sua maça com as duas mãos e acertou nas costas do mesmo orc, que rapidamente gritou com o clérigo e rodou sua lâmina por cima da cabeça dele.

Baggi, se aproximou, ergueu seu machado e o golpeou contra Dorothy, mas ela se defendeu levantando o escudo e empurrando o orc para trás. A garota então avançou sobre ele num movimento em diagonal e cortou a parte desprotegida de seu tronco.

— Onde está o Steve?! – ela esbravejou tomada de raiva.

Nipples escondido viu o orc recuando assustado até a lateral da carroça. Dorothy logo o alcançou e virou um corte de espada em sua direção, mas ele deu um passo para o lado, fazendo-a acertar a parte de madeira que prendia os lobos à carroça. Os animais rosnaram, agitados e agressivos, .

O golpe da paladina deu uma ideia ao orc que sabia que precisava imediatamente de uma vantagem. Baggi então correu para frente do veículo. Dorothy aproveitou o momento em que ele virou as costas e lhe cortou novamente. Tendo feito apenas um sorte superficial,  o golpe não foi o suficiente para derrubar o orc e impedi-lo de cortar as cordas de três dos quatro lobos que guiavam a carroça e deixá-los livres.

Solomon juntou as mãos sobre o cabo de sua arma e virou o martelo num movimento preciso acertando em cheio o queixo do Ogro. Parte da pele da criatura saiu com o impacto, deixando os ossos esmagados à mostra. O guerreiro tinha dado um golpe que derrubaria qualquer inimigo, mas ainda assim o Ogro continuava de pé, ensanguentado, furioso e determinado a ganhar o combate. Segurando sua clava com as duas mãos chocou sua arma contra o peito do guerreiro, fazendo-o ir para trás com o impacto. Solomon deslizou curvado sobre o chão empoeirado então se levantou e, sem notar sua aproximação, foi atacado ferozmente por um dos lobos que puxavam a carroça com uma mordida forte no braço. O Ogro então correu e saltou com a clava erguida, pronta para acertar seu oponente.

O clérigo ergueu a maça e defendeu o golpe de cimitarra do orc à sua frente. Viu os lobos sendo libertados e franziu o cenho. Como havia usado várias vezes uma magia para proteger a equipe do sol forte da Planície Vermelha, o clérigo acabou ficando com apenas mais duas para conjurar. Ambas eram “curas” e não poderiam ajudar ele a se proteger no momento.

— Saco – reclamou da situação.

— Quem é que estava ferrado mesmo, hein?! – falou Holg tirando sarro do clérigo.

— Ah, cale essa boca... – respondeu Arlindo em negação que em seguida acertou com uma forte pancada o braço do orc.

Dorothy avançou sobre Baggi virando sua espada horizontalmente na direção do orc, mas este bloqueou o golpe com o cabo de seu machado. Em resposta ele acertou o queixo da paladina com um soco, rodou sua arma e a virou na direção do braço da garota, que se defendeu com a espada.

O lobo negro gigante pulou com seus dentes afiados para cima da paladina, mas ela se protegeu da mordida tapando a boca do animal com o escudo e em seguida empurrando sua cabeça para o lado. Dorothy então acertou o ombro do lobo com um corte vertical de sua espada. O animal mordeu sua coxa e desferiu uma patada arranhando seu rosto, mas isso não foi o suficiente para parar a garota. Ela pulou e rolou por cima das costas do lobo negro, quando chegou ao outro lado agachou e fincou de baixo para cima sua espada o mais fundo que conseguia no peito da criatura, derrubando-a instantaneamente. Dorothy então olhou para Baggi que assustado deu alguns passos para trás e saiu correndo na direção de onde havia vindo. A garota então olhou para o Ogro lutando contra Solomon e foi em direção ao seu próximo oponente.

Nipples viu o ex-oponente de Dorothy fugindo, mas sua atenção logo se voltou para Charly. O garoto tentou repetitivamente acertar os lobos com flechas, mas errou todos os tiros por medo de acertar algum aliado que estava perto. O jovem impaciente então largou o arco no chão, correu e pulou nas costas de um lobo que estava indo em direção a Arlindo, cortando-o com sua espada-quebrada. O animal então o derrubou no chão tirando de cima de si e o arranhou consecutivamente com as garras, Charly revidou e o atingiu mais uma vez com a lâmina antes do lobo agarrar seu braço com a boca e o jogar para longe.

O serviçal aflito olhou em volta, procurando alguém que pudesse ajudar o garoto. Arlindo estava ocupado com seu combate, Nipples então olhou para Dorothy, mas rapidamente seus olhos se voltaram para um martelo voando em alta velocidade e esmagando a cabeça do lobo que ameaçava a vida de Charly.

Surpreso, o homenzinho se voltou para Solomon, o guerreiro que lutava contra o Ogro enquanto era apertado pelas mandíbulas poderosas do lobo gigante arranjara espaço para arremessar seu martelo e derrotar um inimigo a seis metros de distância! “Oh, céus...”, pensou Nipples impressionado. Então saiu de baixo da carroça para ajudar Charly com os ferimentos, era a única coisa que podia fazer naquele momento, mas quando estava chegando perto do garoto ouviu o barulho do metal caindo na terra seca. Olhou para os lados e viu Dorothy. Sua espada estava caída no chão enquanto ela era jogada para trás por um golpe poderosíssimo da clava do Ogro no peito.

A garota tentou se aproximar de sua espada, mas o Ogro virou sua clava num arco lateral acertando em cheio as costelas da paladina arremessando-a para longe de sua arma. Ela esticou o braço para tentar novamente alcançar sua lâmina, mas a arma do inimigo a obrigou a se defender. Àquela altura do combate se ela fosse atingida apenas mais uma vez, o golpe seria fatal.

Sem ter como atacar ou alcançar sua arma, Dorothy conseguia apenas se defender com o escudo e recuar dos golpes do Ogro, até o momento em que ficou encurralada contra a carroça. A criatura atacava ferozmente deixando sua guarda muito aberta, mas sem sua espada em mãos, Dorothy podia apenas se proteger, pois sabia que se tentasse chegar até sua arma, seria brutalmente esmagada.

“Oh, não! Minha senhora precisa de ajuda!”, pensou Nipples preocupado. O serviçal então olhou para a equipe, Arlindo continuava duelando com o orc, Solomon lutava desarmado contra o lobo gigante tentando desesperadamente se soltar da fera e Charly não estava em condições nem de andar sozinho.

Nipples tinha que tomar uma decisão. Ele deveria se envolver no combate ou se esconder, como sempre fazia, e lidar com o peso de sua consciência caso algo desse errado. Ele então respirou fundo, lembrou-se de Dorothy arriscando a própria alma para salvá-lo e sentiu que deveria retribuir o sacrifício, um lapso de coragem lhe tomou o peito e ele avançou com passos firmes na direção da carroça.

O Ogro desceu uma pancada com toda sua força na paladina que rolou para o lado, escapando por pouco da arma e da morte certa. Nipples se apressou ao ver o buraco no chão que o ultimo golpe do Ogro fizera, então foi até a espada de Dorothy pegando-a.

Nipples vivera grande parte da vida sendo um serviçal, uma pessoa que muitas vezes não era percebida pelas outras, por isso, sempre conseguia ser muito discreto em tudo o que fazia, e naquele momento sua furtividade poderia salvar não apenas sua vida, mas também a da garota.

Ele se esgueirou dando a volta na carroça e parou poucos metros da paladina, viu o Ogro golpear seu escudo novamente e no momento em que ela abriu os olhos, depois do impacto, ele estendeu a espada para sua dona.

— Minha senhora! – falou baixinho.

Dorothy sorriu para o serviçal e pegou sua arma de volta. O Ogro então desceu novamente sua clava com força, mas ela se defendeu com o escudo. Dorothy estava exausta, extremamente ferida e totalmente abalada emocionalmente. Ela não queria mais lutar, ela queria ver o corpo da carroça, ela queria saber se aquele era mesmo Steve. Então ela se concentrou e enquanto segurava o golpe do Ogro pôde sentir uma forte aura maligna vinda de dentro da criatura.

— Eu vou derrotar o mal. – sussurrou a paladina – Eu vou destruí-lo! – gritou com um brilho nos olhos.

Dorothy deixou a energia de sua aura fluir pelo corpo até chegar à sua espada fazendo com que um brilho branco iluminasse sua lâmina. O Ogro olhou confuso e puxou sua clava para perto de si levantando-a para mais um golpe. Aproveitando a guarda aberta da criatura enfurecida, a paladina esticou sua espada longa e com um grito de esperança ela se levantou e atravessou o peito do gigante tal qual um raio atravessando o céu.

Os olhos e a boca do Ogro brilharam brancos enquanto a energia benigna passava por dentro de seu corpo. Todos pararam de lutar por alguns instantes para observar o efeito, nunca tinham visto algo do tipo.

Solomon aproveitou o momento para subjugar o lobo, deixando ainda mais difícil para ele respirar enquanto o guerreiro o esganava com as próprias mãos até a morte. Arlindo olhou para o orc que se virou de costas para fugir e então acertou sua cabeça com a maça, deixando-o inconsciente.

Dorothy então retirou a espada do corpo do Ogro, que caiu morto no chão logo em seguida. Nipples preocupado correu rapidamente até ela.

— Minha senhora! Você está bem?! – perguntou.

— Obrigada Nipples... – disse ela sorrindo – Se não fosse por você, eu... Você me salvou. Obrigada – agradeceu a paladina por fim.

— Oh, minha senhora, por favor. Não me agradeça. Eu só estou aqui para servi-la.

— Você é muito corajoso Nipples, não há no mundo um serviçal como você – disse Dorothy.

O serviçal sorriu sentindo-se privilegiado por ouvir tais palavras de quem ele acreditava ser A Escolhida e por finalmente sentir ter sido realmente útil para a equipe. Ele sentia orgulho de si, mas logo seu sentimento alegre deu lugar a apreensão.

— Está pronta? – perguntou Arlindo ofegante parando ao lado de Dorothy que encarava a carroça.

A garota fez que sim com a cabeça então o clérigo conjurou uma pequena prece que fez sua maça se iluminar. Ele esticou o braço e então todos puderam ver quem estava dentro da carroça. Havia ali dentro o corpo de um homem caído, seu braço esquerdo estava esmagado e seu tronco perfurado. Ele usava uma armadura metálica cobrindo o peito, os ombros e as pernas. Tinha os braços fortes e os cabelos compridos. Carregava na cintura a bainha de uma espada grande, que eles logo viram jogada na carroça.

— É ele? – perguntou Arlindo olhando para a paladina.

Dorothy soltou um longo suspiro então negou com a cabeça. Aquele não era Steve. Nipples entregou uma ânfora para que a garota bebesse um pouco de água e ficasse melhor enquanto os outros se sentiam aliviados pela descoberta.

Arlindo colocou a mão no nariz com o fedor que saía de dentro da carroça então se esticou e pegou o broche que segurava a capa cinzenta do morto. Não havia nada desenhado na frente, mas atrás havia algo gravado.

— Redgar... Acho que era o nome do sujeito. – falou o clérigo.

Dorothy pegou o broche e ficou o analisando, enquanto isso Arlindo olhou para dentro de novo e notou que havia um pedaço de papel escondido por debaixo do peitoral da armadura do cadáver. Ele pegou papel com algumas gotas de sangue e o abriu, então deu uma risada irônica quando viu o que havia escrito.

— O que foi? – perguntou Dorothy.

— Nada demais... - disse como quem não quer nada - Só achei algo que estávamos precisando desesperadamente – disse o clérigo abrindo o papel para que todos pudessem ver.

Então eles observaram: Um mapa que mostrava desde a estrada principal de Theolen até a ponta da Escarpa de Thorrun. Nipples olhou para cima, encarando o sol brilhante sobre suas cabeças no céu límpido, então sorriu e pensou consigo “Obrigado, meu Senhor”.


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Notas finais do capítulo

Olá leitores queridos!
Espero que tenham gostado do segundo capítulo do Nipples!
Digam-me o que estão achando da história até aqui, vamos conversar! Hahahhaa
Vejo vocês próximo capítulo ;)