Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 16
Arlindo - Magia




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O céu já estava totalmente iluminado pela manhã, os ventos nortenhos corriam pela floresta e balançavam os longos cabelos louros de Arlindo, que estava agachado em frente a uma tigela com água. Havia voltado, junto dos outros, há uma hora para a Floresta da Ninfa depois de caminhar pela Planície Vermelha. Estavam agora próximos à divisa dos dois territórios...

Depois do terrível encontro com a Ninfa, todos ficaram com grande receio de ficar por mais tempo na floresta e por isso decidiram viajar pelo tempo que conseguissem até saírem de lá. Não arriscavam ficar parados por muito tempo, tinham medo de a fada reaparecer, com exceção de Solomon, que só estava muito irritado com ela.

Caminharam então por duas noites seguidas, com pequenas pausas para descansar, se afastando cada vez mais do rio e do lago da Guardiã da Floresta. Quando finalmente chegaram aos limites da floresta já era manhã e o sol há poucas horas havia despertado. Podiam ver ainda entre as árvores o chão vermelho e rachado da Planície Vermelha e a primeira coisa que repararam ao por os pés no solo seco foi o aumento drástico de temperatura, havia claramente algum tipo de divisão mágica entre a floresta e a planície, já que a mudança de cenário era muito brusca. Andaram por meia-hora no novo ambiente enquanto um calor incomum tomava todo o lugar. Sem sombra ou fonte de água por perto era praticamente impossível continuar a viagem durante o dia, ainda mais porque, como o mapa que Nipples possuía só mostrava até o final da floresta da Ninfa, eles não sabiam por quanto tempo andariam até terem uma nova mudança de ambiente. Resolveram então voltar para a floresta e esperar até a noite cair, contavam com que a temperatura baixasse como é de costume em áreas desérticas.

O clérigo encheu as mãos com a água da tigela e a jogou no rosto algumas vezes refrescando-se. Passou a mão sobre os olhos verdes fechados, ainda se lembrava de como era não poder enxergar. Uma sensação terrível que não havia experimentado até dois dias atrás... Ele nunca havia estado do outro lado daquela magia.

— Oi. – disse Dorothy se aproximando e sentando ao seu lado. – Não vai dormir também? Temos bastante tempo para descansar até anoitecer e seguirmos viagem. – falou e olhou na direção da Planície Vermelha.

— Agora não, quero aproveitar a vista. Essa floresta é muito bonita, apesar de ser o lar de uma Ninfa maluca. – respondeu ele com um simples sorriso no rosto.

— Você não parece muito bem. – disse ela preocupada.

— Eu estou bem. Já fiquei em situações piores com outras mulheres. – gracejou Arlindo e então voltou o olhar para seus companheiros de equipe adormecidos tentando mudar o foco do assunto – E eles? Como estão?

— Bom... – Dorothy levantou os joelhos das pernas cruzadas e os abraçou – Charly parece ter ficado bem assustado com tudo o que aconteceu apesar de me dizer que estava bem. Acho que ele não queria mostrar fraqueza admitindo o medo, mas pude ver em seus olhos que ele temeu muito por sua vida naquele dia. Sei que ele levou um pequeno corte no braço devido a um espinho que tinha nas vinhas que o prenderam, mas ele já se recuperou do ferimento. Nipples ficou me agradecendo e dizendo que eu não deveria ter me arriscado tanto por, nas palavras dele, “um mero serviçal”. A lealdade dele é tamanha que pude ver que ele arriscaria a própria vida por nós por mais medo que sentisse disso... E o Solomon disse que estava bem, mas não falou muito mais do que isso.

— Hum... Eu notei que eles ficaram bem abalados ontem, quase não falaram durante a viagem. Mas e você?

— Eu estou bem, como já disse pro Charly e pro Nipples. Não me sinto diferente.

Arlindo pode notar que a garota estava sendo sincera em suas palavras, mas também estava escondendo sua preocupação. Eles haviam passado por uma situação de quase morte nas mãos da Ninfa e Dorothy agora ainda tinha que lidar com o fato de que sua alma estava amaldiçoada e que a Guardiã da Floresta poderia a qualquer momento decidir matá-la e usar sua alma para o que quisesse. Arlindo sabia que poderia alegrar a garota com algumas palavras, mas naquele momento talvez ela não precisasse tanto de risadas quanto de um bom descanso. Então sugeriu que Dorothy fosse dormir e assim ela o fez. O clérigo a seguiu pouco tempo depois.

Era quase meio-dia quando todos acordaram. Dorothy começou a se exercitar com Charly enquanto Nipples preparava o almoço. Solomon começou a limpar seu martelo e Arlindo, sentado ao seu lado, ficou lendo seu livro de orações enquanto tomava uma deliciosa e gelada cerveja. Foi nesse momento que o clérigo se lembrou de uma magia que há muito não fazia.

— Por Obad-Hai, como eu me esqueci disso? Olhe! – falou Arlindo mostrando o livro aberto em uma página para o guerreiro ao seu lado.

Solomon encarou Arlindo e em seguida seguiu os olhos pelas letras manuscritas do livro. Não entendeu o que clérigo queria lhe mostrar então o encarou de volta.

— O que tem? – perguntou o guerreiro.

— Não está vendo? Essa magia aqui! – apontou para uma frase com alguns desenhos ao lado – Ela pode nos ajudar a atravessar a planície sem morrer por causa do sol! Acredito que eu a tenha feito apenas uma vez, mas ainda assim, não é nada difícil...

— Não preciso de magia pra caminhar no calor. – retrucou Solomon.

— Mas é claro que precisa. Nós tivemos que voltar pra floresta porque o clima era muito extremo às oito da manhã! Imagina agora com o sol a pino.

— Eu não preciso da sua magia. – enfatizou o guerreiro, agora com um olhar mais irritado no rosto.

— Ah! Tudo bem então! – disse Arlindo se levantando. – Vou contar pra alguém que precise e a aprecie minha descoberta... - Empinou o nariz.

Arlindo lembrou de que quando entraram na Planície Vermelha pela primeira vez, algumas horas atrás, Solomon foi quem mostrou maior resistência ao ambiente. “Hum, talvez ele realmente não precise da magia.”, pensou o clérigo sem admitir isso em voz alta. Foi então até Dorothy e a observou com seus belos cabelos cacheados presos num rabo de cavalo dando socos no ar com a espada em mãos enquanto Charly assistia de perto sem sua pequena armadura de couro, apenas com uma camiseta desbotada.

— Assim você se acostuma com o peso... – disse ela, então se voltou para o clérigo e deu sua espada longa nas mãos de Charly.

— Como está indo o treinamento? – perguntou Arlindo.

— Acho que não sou muito boa ensinando as pessoas... – admitiu a paladina.

— É questão de prática... Hey, olhe o que eu encontrei no meu livro de orações – disse ele mostrando a página marcada. – É uma magia simples que pode nos ajudar a atravessar a planície, nos protegendo de temperaturas muito extremas. Em resumo, podemos viajar confortavelmente por aquele inferno seco e vermelho.

— Que ótimo Arlindo! Podemos ir agora então! – falou Dorothy empolgada enxugando a testa com as mãos, das gotículas de suor.

— É... - alongou a fala. -  Na verdade não. – Inclinou a cabeça para o lado enquanto entortava a boca, mostrando os dentes brancos e alinhados.

— Por que não? – perguntou a paladina fechando o sorriso.

— Bom, eu já preparei minhas magias hoje então vamos ter que esperar até amanhã pra eu recuperar a energia que gastei preparando elas. Ou eu posso fazer de madrugada, assim quando estivermos viajando na planície poderemos continuar durante o resto do dia sem nos cansarmos ou precisarmos da noite.

— Então vamos perder outro dia na floresta? – ela perguntou desanimada com a ideia.

— Sim, mas... - ele respondeu vendo-a abaixar os olhos impaciente.

“Está bem, essa garota arriscou a alma pra me salvar das mãos da maluca da floresta, eu tenho que fazer alguma coisa pra animá-la, mas o que? Ela insiste em resistir ao meu charme...”, pensou o clérigo. Então se lembrou de tudo que já havia falado com a paladina. Com certeza se ele a ajudasse a achar o tio ela ficaria muito grata, mas ele já estava fazendo isso. Pensou um pouco além então e lembrou-se que ela pedira para ele lhe ensinar magia há alguns dias, se ele o fizesse, poderia então deixá-la pouco mais feliz.

— ... Não pense como um dia perdido. - Ele continuou, fazendo-a se voltar para seu rosto. - Sabe Dorothy, eu estive pensando e fiquei muito impressionado por você ter resistido à magia da Ninfa. – disse o clérigo.

— Han... Obrigada, mas eu não resisti a todas elas… – disse ela humildemente.

— Ainda assim você conseguiu escapar de uma magia de imobilização. O que não é nada fácil.

Dorothy sorriu e ficou o encarando, esperando pelo que diria em seguida.

— Você tinha pedido pra eu te ensinar algumas coisas, certo? – disse Arlindo.

— Sim... – respondeu a garota com os olhos alegres.

— Acho que você está pronta pra começar a fazer magias.

— Jura? Acha que eu estou pronta?! – perguntou ela empolgada.

— Claro, por que não?! Além disso, acho que dá pra te ensinar alguma coisa até anoitecer.

— Ah, eu não acredito! Finalmente eu vou conseguir conjurar alguma coisa! O que vai me ensinar primeiro?! – perguntou Dorothy se aproximando de Arlindo com um sorriso no rosto enquanto segurava seu braço.

— Calma aí. Vamos sentar um pouco e conversar primeiro – falou o clérigo enquanto secretamente apreciava o contato com corpo feminino que há tanto lhe faltava.

— Ah, me desculpa. – disse ela se soltando do clérigo – Mas, conversar? Sobre o que? – perguntou a paladina se sentando no chão.

Arlindo deu uma leve risada. Dorothy realmente parecia empolgada em tentar aprender magias, então ele se sentou de frente para ela.

— Hey, acabou o meu treinamento? – interrompeu Charly olhando para a paladina.

— Han... – Dorothy parou para pensar por alguns segundos, então se lembrou de quando era bem jovem e o que Steve dizia para ela fazer em seus primeiros treinos. – Segure a espada com o braço reto para frente.

— Tá bom, mas por quanto tempo? – perguntou o garoto.

— Até eu dizer que pode soltar. Assim vai se acostumar com o peso da arma – disse ela então se voltou para o clérigo sorrindo. – Podemos começar.

— Certo... - disse Charly desconfiado, parando próximo a eles de pé, segurando a espada para frente.

— Então vamos começar com o básico – disse Arlindo. – O que você sabe sobre magia?

— Bom, eu sei que há dois tipos de magia. A arcana e a divina - ela começou gesticulando - Uma vem do mundo e da natureza enquanto a outra vem dos deuses. Sei que para conjurar magia arcana você deve ser um mago, que é um estudioso dessa magia, um feiticeiro, que é alguém que tem um dom natural pra conjurá-las ou um bardo que usa a música para canalizar a energia do mundo e transformar em magia. Quanto às magias divinas não importa se você é um clérigo, um paladino, um druida ou patrulheiro super habilidoso, para conjurar magias você deve rezar para seu deus ou foco de fé. Quem nem o Xino e você que oram por Obad-Hai. E o Steve por Theolen.

Arlindo impressionado ergueu as sobrancelhas com o tanto de informação que Dorothy soltou, não esperava que a paladina soubesse tanto de magia.

— Muito bom. Estou vendo que você sabe praticamente tudo da teoria.

— Eu estudei bastante isso - informou.

— E ainda assim, não consegue fazer um mísero truque? – perguntou o clérigo.

— Não... – respondeu ela olhando para baixo frustrada.

— Hey, tudo bem. Isso pode ser bem difícil no começo.

— Foi difícil pra você também? – perguntou ela levantando o olhar.

Então o clérigo se lembrou da primeira vez que havia conjurado uma magia. Ele tinha por volta dos sete anos de idade e fez algo simples, apenas havia conseguido iluminar uma maça que colocaram à sua frente. Arlindo se lembrou de ser aplaudido pelas pessoas ali presentes. Era uma memória vaga, não se lembrava de rostos ou nomes, apenas do vermelho rubro do local e das roupas cor de sangue.

— Sim... Foi difícil para mim também. – mentiu o clérigo.

— Quando eu terminar posso sentar e ouvir também? – perguntou Charly.

— Tá, tanto faz garoto. – respondeu Arlindo então se voltou para a paladina. – Dorothy, ao julgar pelo seu comportamento você é... Seguidora de Heirôneous, certo?

Ela fez que sim com a cabeça.

— Heirôneous? Ele é deus do que? – perguntou Charly curioso.

— Heirôneous, o Invencível é o deus da coragem e do heroísmo. Ele defende a honra, a justiça, a cavalaria, a guerra. É um deus bondoso. – falou Dorothy sorrindo.

— Eu não conhecia esse. – disse Charly sorrindo ainda com o braço esticado.

— É que em Theolen a maioria das pessoas cultuam Pélor, o Radiante! O grande deus do sol! Minha mãe é devota a ele – comentou a garota.

— Por que você fica falando as intitulações dos deuses? – perguntou Arlindo, achando muito esquisito o modo como Dorothy falava.

— Bom, eles fizeram algo pra ganhar esses títulos, acho que é válido usá-os, além disso dá um tom de importância tão maior... Quero dizer, se eu tivesse uma intitulação ficaria muito lisonjeada quando me chamassem por ela. – respondeu ela.

— Mas você tem uma, não tem? A Escolhida? – falou o clérigo.

— Espera. O que? – perguntou Charly abaixando a espada e encarando a moça – Achei que seu tio que fosse o Escolhido dessa Era...

— E ele é. Steve Leon, O Escolhido. É como o chamam nos Doze. – ela respondeu.

— Se você gosta tanto de falar as intitulações, por que não fica me chamando de “Arlindo, O Clérigo Lindo”? – perguntou Arlindo. “Soa tão bem...”, pensou em seguida.

— Isso não é uma intitulação, você mesmo se chama assim... – respondeu a garota.

— Ah, posso te garantir que já ouvi muitas garotas me chamando desse jeito. – falou com um sorriso malicioso no rosto.

Dorothy ergueu uma das sobrancelhas com expressão de desprezo e negação, Arlindo apenas deu risada.

— Eu ainda não entendi... – falou Charly erguendo o braço novamente.

— Ah, é que você é jovem demais pra essas coisas... – afirmou Arlindo.

— Hey, eu tenho quase quinze anos! E eu não estava falando disso... – respondeu o garoto e se voltou para Dorothy – Como é que tem dois Escolhidos? Achei que só devia ter um de cada vez. Ou todo paladino é escolhido? – perguntou Charly confuso.

— Não, não. – negou Dorothy – Paladinos são guerreiros divinos que em algum momento escutam O Chamado e decidem dedicar suas vidas às suas divindades, trabalhando por suas crenças. São bem poucos os que temos no mundo, afinal nem todos que escutam O Chamado acabam por seguir esse caminho de devoção e sacrifício.

— Então você e o Sr. Steve ouviram esse Chamado e o seguiram? – perguntou o garoto com o braço tremendo pelo peso da arma que segurava.

— Sim. Na verdade não só nós. Quando eu era pequena visitei com meu pai uma cidade no reino de Arruna chamada Paládia. Não é um lugar muito grande, mas lá tem a maior concentração de paladinos do mundo! A maioria é devota de Heirôneous, Saint Cubbert ou Pélor.

— St. Cubbert é o cara da maça, né? – disse Charly.

— Maça, justiça e principalmente retribuição. – informou Arlindo se apoiando para trás com uma das mãos enquanto apoiava a outra sobre o joelho dobrado.

— Tá, mas você e o Steve são paladinos. Então pra ser Escolhido tem que ser paladino?

— Não é bem assim - falou Dorothy - É que tivemos essa coincidência na nossa família, mas o Escolhido , em poucas palavras, é uma pessoa enviada pelos deuses em tempos sombrios para completar uma missão. Ele ganha poderes como os de um paladino sem mesmo ter treinamento para usá-los, por isso é mais “fácil” seguir esse caminho. Mas o Escolhido pode ser qualquer um.

— E como você sabe qual é a missão que tem que fazer? – perguntou o garoto.

— Já ouvi falar que os Escolhidos sempre aparecem em alguma profecia, então... – falou Arlindo.

— Sim, as profecias ajudam a descobrir isso. O Steve, por exemplo, claramente é o Escolhido porque já vimos que ele completou a missão dele quando ele salvou o mundo da besta terrível que era o Satã dos Mil Olhos. – disse Dorothy – E tem também o primeiro Leon que impediu que todos os exércitos do mundo invadissem Thorrun e pegassem suas riquezas na Era passada.

— Ahh... Eu já ouvi falar da história do Satã dos Mil Olhos e do primeiro Leon. É verdade que ele montava um leão? – perguntou Charly empolgado, porém ofegante. Seu braço estava começando a doer.

— É sim! – confirmou Dorothy.

— Tá bom seus esquisitos, chega de fofocas. – disse Arlindo, mas Charly o impediu de continuar.

— Espera um pouco. Mas se o Steve já fez a missão dele e sabemos que ele é o Escolhido, como você também pode ser?

— Isso eu não sei... – disse Dorothy suspirando – Na verdade ninguém sabe. Já consideraram que eu não era a Escolhida, mas não tinham respostas pra explicar como eu adquiri minhas habilidades tão cedo. Então acho que tenho que esperar para descobrir qual é minha missão e o que eu vou fazer que vai mudar o mundo... Se nada acontecer, bom, ao menos saberemos que não sou a Escolhida. – falou abaixando a cabeça.

— Uou... – disse o garoto pensativo.

— Será que podemos continuar aqui? - perguntou Arlindo - Você precisa aprender a lidar com a magia logo. Já está com o que? 17 anos? – perguntou para a paladina.

— Eu tenho 20 – ela o corrigiu.

— Jura? Que... Pele boa... – disse analisando o corpo da garota, que rapidamente olhou para o lado constrangida – Continuando, vamos tentar algo que não é muito complicado de fazer, mas é muito útil. Cura.

— Vai me ensinar a curar? – perguntou ela duvidosa.

— Sim, mas é diferente dessa sua habilidade de paladina, não vem da sua aura. Você precisa rezar, preparar a magia, depois canalizar a energia mágica ao seu redor através do seu símbolo sagrado e só então poderá realmente curar fazendo a magia. Aliás, onde está o seu símbolo?

— Aqui. – falou ela puxando de dentro da cota de malha um colar com um pingente grande e redondo de madeira com o desenho de uma mão segurando um raio no centro.

— Ótimo, então vamos lá. – disse Arlindo mexendo em sua bolsa.

Ele tirou de lá de dentro seu livro de orações. A capa era feita do que pareciam ser vários tipos de folhas de árvores que formavam um rosto quase humano que parecia bem velho e tinha bigode e barba.

— Aqui tem alguns preceitos de Obad-Hai, mas a maioria das coisas escritas são magias. Como fazer, o que usar, essas coisas... – continuou.

— Nossa, que lindo! – disse Dorothy admirada.

— Obrigado por finalmente admitir isso... – falou o clérigo sorrindo.

— Eu não estava falando de você! – Ela negou rindo com a brincadeira. – E eu achava que só magos tinham grimórios... 

— Ah, não. Isso não é um grimório é um livro de orações, é diferente. Eu não fico pesquisando magias que nem magos – falou o clérigo – Apesar de ter várias escritas aqui, não quer dizer que eu consiga fazer todas. É mais para consultas, orações e rituais... Você pode dar uma olhada, se quiser. – disse ele estendendo o livro.

Dorothy começou a folheá-lo, mas não entendeu muita coisa. Enquanto isso Arlindo puxou sua bolsa tira-colo para perto e tirou uma cerveja dela junto de um par de velas e uma pequena estatueta de madeira de um homem idoso, coberto por um manto segurando um bastão em uma mão e uma flauta na outra.

— Quando você costuma fazer suas orações? – perguntou o clérigo.

— De noite. Antes de dormir. – ela respondeu.

— Hum, bom eu sugiro que mude o horário para assim que acordar.

— Por quê? –perguntou a garota achando estranho.

— Porque além de rezar você pode preparar as magias para esse dia também. – disse Arlindo abrindo sua cerveja e tomando um gole.

— Tudo bem... Han, isso não é inadequado? – perguntou a paladina se referindo à bebida.

— Nem um pouco – respondeu colocando a cerveja no chão – Agora vamos lá. Leia a magia de cura que está no meu livro e eu vou te explicar como fazê-la.

E assim ficaram por cerca de cinco horas, estudando uma única magia até o crepúsculo chegar e todos seguirem viagem pela Planície Vermelha.

Caminharam durante noite com a iluminação da tocha que Nipples havia levado e acendido com fósforos. O lugar desértico antes insuportavelmente quente, agora carregava em seus ares ventos gelados. Acamparam durante a noite, fazendo turnos de vigia. Arlindo ficou acordado primeiro e aproveitou o tempo para preparar as magias que usaria no próximo dia.

Algumas boas horas depois, a manhã veio e junto dela o calor intenso. Felizmente o clérigo já estava preparado para aquilo, tocou em seus colegas de equipe e conjurou a magia sobre eles, com exceção de Solomon que insistia em dizer que não precisava de magia. Enquanto todos comiam, Dorothy, com ajuda do clérigo, tentou preparar uma magia de cura, sem saber ao certo se funcionaria ou não. Então logo após se prepararem, continuaram a caminhar pelo cenário seco e desértico.

Horas se passaram e Arlindo olhou para trás, já não conseguia mais ver a Floresta da Ninfa, em seguida olhou para o céu com o sol a pino. Estava cansado de caminhar, então abriu sua mochila e pegou uma garrafa de cerveja, já ia abri-la para se refrescar pelo esforço que fazia, mas antes que o conseguisse notou algo estranho: uma pequena nuvem de poeira que se aproximava ao longe causada por uma carroça puxada por quatro lobos grandes e negros.

Arlindo olhou para Dorothy preocupado e ela retribuiu o olhar com o mesmo sentimento. Então o clérigo se voltou para Solomon e viu o guerreiro enxugando o suor da testa e puxando seu martelo das costas. Arlindo suspirou e guardou sua cerveja de volta na mochila.

Eles estavam agora na grande Planície Vermelha. E algo se aproximava.


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Notas finais do capítulo

Oi gente! Atrasei um pouquinho esse capítulo, mas aqui está!
Espero que gostem e que tenham entendido tudo! Qualquer dúvida é só perguntar :3
Até a próxima!