Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 15
Ninfa - A Guardiã da Floresta




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O sol despertou mais uma vez. Seus raios alimentavam a floresta e a vida das criaturas que ali viviam. O pequeno lago místico refletia a luz, deixando a clareira em que estava totalmente iluminada.

Os pássaros cantavam suas melodias, o vento contava sua história e as árvores a tudo ouviam. A água do lago se movia sutilmente e em suas cores mostrava magicamente o reflexo dos invasores da floresta. Estavam acordando em um acampamento distante dali que fizeram na noite anterior.

A Ninfa os observava atentamente deitada no topo da grande pedra que jazia ao lado do lago.

— Quer que eu vá atrás deles? – perguntou o doppelganger se aproximando silenciosamente em sua forma natural. Agora totalmente recuperado dos ferimentos causados pelo clérigo no dia anterior.

— Não é necessário. Quero que vá para a entrada da trilha e a guarde.

— Sim, senhora. – falou o humanoide acinzentado se curvando e se retirando logo em seguida.

A Ninfa se sentou e então observou seu próprio reflexo na água. Ela era a personificação natural da beleza física. Tinha a altura de um humano não muito alto, sua pele era perfeita, seus olhos grandes e brilhantes e seus cabelos eram compridos e acobreados. Tinha as orelhas longas e pontiagudas, devido ao seu sangue de fada e vestia nada mais do que um tecido branco e translúcido, às vezes, nem isso usava.

Ela então esticou a mão até encontrar um raio de luz vindo do sol, fechou os dedos sobre o raio e sussurrou:

— Traga-os a mim.

Quando abriu a mão novamente uma pequena bolinha branca havia se formado, ela flutuou até o chão da floresta e então ganhou a forma de um lobo feito de pura luz. O pequeno canino olhou para sua criadora, então correu e desapareceu por entre às árvores. “Não resistiram ontem, não resistirão hoje também.”, pensou ao ver sua magia de atração partir.

A Ninfa desceu da pedra e foi até uma árvore próxima, tocou em seu tronco, falou algumas palavras em uma língua silvestre e sua mão emitiu um brilho esverdeado que aumentou gradualmente. Em seguida a Guardiã da Floresta pressionou o braço contra a árvore e atravessou a madeira. Deu alguns passos para frente até entrar por completo no pinheiro, quando saiu do outro lado já não estava mais em sua pequena clareira. E sim aonde havia ocorrido a batalha de seus campeões contra os invasores.

Ela olhou em volta e sentiu uma grande tristeza lhe abater. Aproximou-se do Bugbear, caído ao chão e fechou seus olhos ainda abertos.

— Você lutou bravamente para proteger nossa casa, Campeão. Agora descanse na eternidade e saiba que sua morte será vingada. – disse ela fechando os olhos.

A Ninfa ficou alguns minutos ao lado da criatura, lamentando sua morte. Eram amigos há mais de 10 anos e juntos haviam trabalhado para proteger a floresta contra qualquer um que lhe fizesse mal. Sentia grande dor por sua perda. Ela então se levantou e abriu os braços ainda com os olhos fechados. O vento balançou o tecido que lhe servia como vestido e ela começou a entoar cânticos druídicos. Em questão de instantes um par de raposas e três lobos vieram correndo ao seu dispor.

— Cuidem dele, por favor. – disse ela aos animais, que logo começaram a arrastar o corpo do Bugbear para longe dali. – Enquanto isso, eu cuidarei dos intrusos.

A mais bela criatura de todo o norte então voltou para a árvore da qual havia saído e retornou para sua clareira. Ao chegar lá seus pés descalços tocaram o chão da floresta e caminharam silenciosamente pela terra por alguns minutos, até ela parar próxima ao rio que alimentava seu pequeno lago mágico.

“É um bom lugar para ficar, provavelmente vão querer passar a noite por aqui”, pensou. Então esticou a mão para um raio de luz e fez novamente sua magia para atrair seus inimigos.

— Garanta com que eles cheguem aqui. – falou ela para a raposa iluminada que logo a obedeceu, saindo de sua vista.

A Ninfa então resolveu esperar e se escondeu fazendo seu corpo tomar a forma de uma pequena árvore ribeira. Ninfas são criaturas místicas muito raras, uma espécie de fada que, assim como os elfos (seus parentes distantes) possuem uma longevidade magnífica. Por isso ela tinha muita paciência e esperar por oito horas até ouvir vozes humanas se aproximando foi como esperar por um piscar de olhos.

— Como assim nunca foi a uma festa? – perguntou Arlindo indignado.

— Eu nunca fui. Quero dizer, tinha os aniversários da minha família, isso conta? – perguntou Dorothy inocentemente.

— Uau... Sua vida devia ser muito chata antes de me conhecer. – afirmou o clérigo.

— O que? Não era chata! Ela só era... Rotineira. – retrucou a garota.

— Chata – debochou Arlindo.

Charly deu risada enquanto a paladina revirava os olhos em negação. Todos pararam à margem do rio. Ainda era por volta das quatro horas da tarde quando chegaram àquele local e logo notaram que era o lugar perfeito para passar a noite que em breve chegaria.

— Irei arrumar as coisas, meus senhores. – disse Nipples colocando as quatro mochilas que carregava nas costas no chão.

Arlindo se espreguiçou e foi para perto da água límpida do rio.

— Ahh... Eu disse que seria uma boa seguir aquele bichinho. Olha que lugar magnífico! – falou o clérigo.

— Falando nisso, cadê ele? – perguntou Charly olhando em volta.

— Acho que deve ter ido embora, como fez ontem à noite. – respondeu Dorothy.

Eles estavam se referindo, é claro, a magia que a Ninfa tinha feito para atraí-los até lá. Algo muito sutil e bonito, mas perigoso, uma vez que ao olhar para a pequena criatura de luz uma vontade quase incontrolável forçava qualquer um a segui-la. Era como se um sentimento forte de curiosidade, atração e felicidade tomassem conta da mente de suas vítimas e fizesse com que fossem atraídas sem achar estranho. E foi exatamente isso que aconteceu com os aventureiros na noite anterior e na manhã deste dia.

— Hey, Dorothy, nós vamos treinar agora? – perguntou Charly.

— Vamos descansar um pouco e comer primeiro, ta bom? – respondeu a garota dando uma leve risada com a empolgação do menino. – Eu vou ver se está tudo bem na área aqui em volta.

— Vai tentar achar pessoas más com sua magia de paladina?! – perguntou Charly tentando impressioná-la com seu conhecimento sobre guerreiros divinos.

— Aham... Eu volto logo.

Dorothy então saiu pelos arredores de onde iriam acampar com a mão esticada para frente, assim como seu tio lhe ensinara, procurando por auras malignas.

A Ninfa notou a ausência da garota e resolveu que seria uma boa hora de agir. Deixou lentamente sua forma de árvore e caminhou até perto do rio. Arlindo foi o primeiro a notar sua presença e ficou extasiado com tamanha beleza.

— Por Obad-Hai... – balbuciou o clérigo.

Depois Nipples a avistou, seguido de Charly e Solomon. Todos os quatro homens ficaram totalmente fascinados pela beleza cativante da Ninfa, não conseguiam falar ou agir por conta própria. Este era o efeito causado por uma criatura como ela.

— Sigam-me. – ordenou a Guardiã da Floresta e assim eles fizeram sem hesitar.

Caminharam até a clareira da Ninfa quase como se estivessem num estado de transe, a beleza da criatura era tanta que não conseguiam pensar em outra coisa que não admirá-la.

A Ninfa virou-se para seu lago, já sabia o que iria fazer com seus inimigos, mas para isso precisava de algo muito importante.

— Vocês irão me ajudar a defender essa floresta com as suas almas... – disse ela de costas para suas vítimas, então começou a livrar-se do fino tecido que a cobria, parando pouco antes de ficar completamente nua – Vocês não merecem ver isso. – disse virando-se e deslizando a mão no ar da esquerda para a direita.

No mesmo momento Solomon, Charly e Nipples reviraram os olhos para trás gritando de dor e agonia, seguidos por Arlindo alguns instantes depois. Aos poucos eles puderam sentir sangue escorrendo pelos seus rostos e a luz de seus olhos se esvaindo.

Com a dor e a escuridão o efeito que os deixava hipnotizados pela Ninfa passou, puderam então finalmente reagir ao que estava acontecendo. Solomon já cego e tomado pela fúria de ter sido manipulado magicamente avançou com as mãos na direção de onde imaginava estar a fada, que apenas desviou para o lado.

— Humano estúpido. Acha que pode fazer algo contra A Senhora dessa floresta?! – disse ela ao guerreiro.

— Arh! – esbravejou Solomon tentando acertá-la com um soco, mas apenas golpeando o ar a sua frente.

— Oh, por Pélor! O que está acontecendo?! – falou Nipples em grande desespero, enquanto passava a mão sobre os olhos e ajoelhava-se ao chão.

— Arhg! Eu não consigo ver! – exclamou Charly com uma das mãos sobre os olhos e a outra esticada para frente.

— É uma magia de cegueira. – falou o Arlindo, lembrando-se de já tê-la visto em ação antes. – Mas não se...

— Calado! – ordenou a Ninfa.

E junto de suas palavras vinhas e raízes se ergueram do chão. Enrolaram todo o corpo de Solomon para que ele não atacasse de novo, prenderam Nipples e Charly ao solo pelos braços e pernas e Arlindo a uma árvore, deixando todos imóveis e tapando suas bocas, para que caso pudessem fazer magias, não conseguissem mais.

A Ninfa curvou os lábios num pequeno sorriso de satisfação, os invasores estavam finalmente sendo punidos.

Ela então adentrou o lago e o mergulhou. Ao chegar ao fundo ela moveu uma pedra do lugar e tirou de um buraco escavado na rocha uma adaga curva, feita inteiramente de prata, com inscrições arcanas no centro da lâmina e entalhes de folhas ao redor do cabo. Era uma arma magnífica.

Antes de subir para a superfície ouviu passos apressados e em seguida a voz de Dorothy, turva pela água. “Ela veio mais rápido do que achei que viria, mas não importa. São todos meus agora...”, pensou soltando o ar pelo nariz, ainda submersa.

— Arlindo! Charly! Nipples! Solomon! Onde vocês ... Por Heirôneous! – gritou a garota ao encontrar seus amigos completamente amarrados por plantas. – O que houve?! – perguntou ela se aproximando confusa com o que havia acontecido ali.

Arlindo mexeu a cabeça tentando localizar Dorothy, assim como os outros assim quando ouviram sua voz, mas nada podiam fazer, estavam totalmente imobilizados.

— Ele não pode te responder... – falou a Ninfa, saindo de dentro d’água completamente nua, com apenas sua adaga em mãos e um olhar intimidador no rosto.

Dorothy colocou a mão sobre a espada, mas ao vislumbrar a beleza da Ninfa ficou totalmente fascinada, desistindo de atacá-la. Então levantou a mão na direção da criatura feérica, tentando ao menos descobrir se era uma pessoa má. E para sua surpresa ela não era.

— Você é a Ninfa. A Guardiã da Floresta, não é?! – perguntou Dorothy sem conseguir desgrudar os olhos da bela criatura.

— E você é mais uma invasora que pagará por ter vindo até aqui e por ter matado um dos meus Campeões. – ameaçou a fada.

Ela viu a paladina respirando fundo, tinha entendido que aquilo não era um blefe.

— Eu... Sinto muito pelo que houve com seu Campeão, mas estávamos apenas nos protegendo. – falou Dorothy deslumbrada.

— Se protegendo?! – a Ninfa elevou a voz com raiva no olhar – Não minta para mim! Vocês humanos vem de suas cidades imundas, com seus costumes nojentos e destroem o meu lar. Exploram a natureza, tomando mais do que precisam e matam sem piedade as criaturas que aqui vivem! Tudo pelo que? Pela sua ganância?!

— Eu não estou mentindo! Nós estamos apenas passando pela sua floresta, não matamos nenhum animal, não pegamos nenhum alimento, apenas usamos galhos secos para fazer uma fogueira. E eu não estou aqui por riquezas! – contestou Dorothy destemida.

— Basta! – falou a Ninfa irritada.

Já ouvira dezenas de histórias de humanos que passaram por ali antes e todos, uma hora ou outra, abusavam de sua bondade e mentiam para ela. “Eu não serei enganada novamente”, pensava.

— Já estou farta de sua raça e seu desrespeito pela natureza! – vociferou.

— Mas nós--

— Chega! – gritou a Ninfa esticando a adaga na direção de Dorothy e evocando uma antiga magia sobre a garota.

Dorothy sentiu todos os músculos de seu corpo travarem. Não conseguia se mexer ou até mesmo falar, apenas podia observar o que acontecia. A Ninfa sabia que a magia deixaria a paladina paralisada por algum tempo, o que seria o suficiente para ela usar a adaga em todos os outros. Então se afastou da garota e foi lentamente na direção do guerreiro preso ao chão pelos pés e com o corpo completamente enrolado por vinhas, fazendo dele quase um grande casulo em pé.

— Eu tentei por muito tempo viver em paz com todas as criaturas, mas parece que isso não é possível. Primeiro as tribos de orcs e ogros se mudaram para o Norte, devastando tudo pelo seu caminho, agora... – disse parando ao lado de Solomon – Vocês de Theolen resolveram subir também atrás do maldito tesouro dos anões. Eu não posso tolerar tal comportamento.

A Ninfa então ergueu a adaga e a segurou com a empunhadura invertida, pronta para acertar Solomon indefeso e vingar seu falecido amigo.

— Vocês devem pagar pelo que fizeram! – disse por fim e desceu com velocidade a adaga sobre o peito do guerreiro, mas antes que tocasse em seu tronco...

— Espere! – gritou Dorothy.

A Ninfa parou o movimento e olhou para a garota totalmente surpreendida por ela conseguir falar depois de ter sido afetada por uma magia tão poderosa. “Como ela... Isso não é possível, apenas um humano resistiu a esse feitiço antes!”, pensou assustada.

Dorothy usava toda sua força e vontade para lutar contra os efeitos da magia, conseguindo apenas falar e virar a cabeça alguns centímetros para o lado:

— Nem todos de Theolen são assim... – afirmou a garota com certa dificuldade.

— Quem é você humana? – perguntou a Ninfa abaixando a adaga e olhando perplexa para a paladina.

— Eu...

Dorothy se concentrou para conseguir falar, respirou fundo e lembrou-se dos ensinamentos que Steve lhe dera sobre ter controle sobre seu próprio corpo. “Eu posso lutar contra isso, é o meu corpo e eu posso vencer!”, pensou a paladina, então como se tivesse se soltando de amarras invisíveis ela se libertou da magia e se virou para a Ninfa.

— Eu sou Dorothy Leon, de Theolen. E você não vai machucar meus amigos ou me impedir de seguir em frente! – falou a garota com grande determinação no olhar.

Nesse instante a Ninfa notou um brilho na garota, sua aura. Clara e brilhante como a de nenhum outro humano que já tinha visto em vida. “Ela é diferente...”, pensou curiosa “Mas por quê?”.

— Por que está aqui em meus domínios? – perguntou a Ninfa severamente, agora analisando cada palavra que saía da boca da paladina.

— Eu vim resgatar alguém que eu amo! Alguém muito importante para mim que está sozinho precisando da minha ajuda e que eu não vou desapontar. Não vou abandoná-lo!

A Ninfa pode sentir nas palavras de Dorothy tanta paixão e convicção que era impossível dizer que ela estava mentindo. “Que humana peculiar...”, pensou enquanto ouvia a garota.

— Tudo que eu quero é encontrá-lo, mas para isso preciso passar por sua floresta, pois sei que ele está em algum lugar ao norte. – continuou Dorothy esperançosa.

— Suas intenções parecem sinceras. No entanto, eu venho observando você e seus amigos desde que chegaram aqui e eles tem muitos pecados dentro de si... Ira. – disse passando a mão pelas costas de Solomon e seguindo em frente – Luxúria. – passou a mão delicadamente sobre o ombro de Arlindo – Rancor... – disse e forçou a cabeça de Charly para baixo, fazendo-o deitar-se no chão. – Covardia. – Concluiu olhando de soslaio para Nipples. – Todos são corruptos. Não são confiáveis.

A Ninfa então fechou a mão e Dorothy pode ouvir os gemidos de dor de seus amigos enquanto as vinhas e raízes os enrolavam ainda mais e os esmagavam lentamente.

— Talvez eles tenham seus defeitos, mas ainda assim não te da o direito de machucá-los! – exaltou-se Dorothy colocando a mão na espada novamente. – Não é justo o que está fazendo!

— Não me venha falar sobre justiça humana! – disse a Ninfa se aproximando da paladina violentamente. – Pois você só a aplica a pessoas não é mesmo?!

Dorothy deu um passo para trás assustada e sacou a espada, mas assim que o fez a Ninfa estendeu a mão e tirou a visão da paladina. Dorothy deixou a espada cair no chão de tanta dor que sentia e curvou-se para baixo, levando as mãos aos olhos que escorriam sangue.

— Você diz ser de Theolen. A cidade que deveria ser o escudo do Norte, que não deveria deixar ninguém subir para essas terras abandonadas, mas que ainda assim permitiu que minha floresta fosse explorada, incendiada e invadida por criaturas de outros lugares e por seus próprios cidadãos! – esbravejou a Ninfa com os olhos arregalados.

Então se calou ofegante e observou a garota. Dorothy estava quieta curvada para baixo, como se olhasse para o chão e após alguns instantes ela ficou reta novamente e ergueu a cabeça para frente, encarando a Ninfa.

— Eu sinto muito. – disse.

A Guardiã da floresta sentiu a sinceridade e a culpa nas palavras da paladina, o que a deixou muito surpresa uma vez que considerava os humanos a raça mais egoísta que existia, e achava que não podiam sentir remorso por algo que nem ao menos fizeram.

— Eu vou consertar isso. Vou te ajudar. – continuou a garota cega. – Se eu encontrar alguém de Theolen por aqui farei imediatamente com que vá embora e se eu vir alguma das criaturas que você disse que destroem esse lugar, irei impedi-las a qualquer custo.

— Por que faria isso? – perguntou a Ninfa confusa com as palavras que ouvira.

— Porque é a coisa certa a se fazer. – respondeu Dorothy com uma simplicidade sem igual.

A Ninfa ficou a observando por um minuto em silêncio. Podia sentir que Dorothy tinha um bom coração, o que a lembrou brevemente do outro humano que havia conhecido há alguns anos...

— Você está certa de suas escolhas? – perguntou a fada.

— Sim. – respondeu Dorothy com convicção.

— Eu ainda não confio em você...

— O que quer que eu faça para provar que estou falando a verdade? – perguntou a paladina.

— Eu tenho uma oferta... – disse a Ninfa enquanto andava sinuosamente ao redor de Dorothy. – Você parece muito disposta a se arriscar por sua palavra e seus amigos, entretanto, sacrificaria sua própria alma por eles?

A paladina arregalou os olhos e sentiu seu coração acelerar ao ouvir tal proposta.

— Minha alma?! Por que gostaria de ter a alma de alguém? Tirar essa parte de uma pessoa é algo horrível de se fazer! – perguntou preocupada com as intenções da Ninfa.

— Oh, eu não iria tirar sua alma de você... – respondeu a Ninfa sorrindo pelo efeito que havia causado na garota. – Você viu minha adaga, não viu? Ela é muito especial, basta somente um toque para que ela amaldiçoe a vítima. Fazendo com que depois de sua morte a alma seja guardada aqui, para que eu a use depois...

Dorothy engoliu um pouco de saliva, tentando digerir toda a informação. Aparentemente a Ninfa não estava mentindo, mas ela não tinha como ter certeza já que não conseguia vê-la. Então fechou os olhos e pensou em Steve e em seus novos amigos, que agora dependiam dela e eram sua responsabilidade.

— Isso mudaria alguma coisa em mim? – perguntou receosa.

— Não... Mas caso você morra sua alma vira direto para minha faca, impossibilitando qualquer tentativa de ressurreição.

A Ninfa viu Dorothy virando os olhos para baixo por alguns instantes, com uma expressão de apreensão no rosto. “Ela vai desistir... Vai embora.”, pensou a fada. Mas ela não poderia estar mais enganada. Dorothy estava disposta a fazer qualquer coisa por Steve.

— Esta bem então. – afirmou a garota surpreendendo sua oponente novamente.

— Você é corajosa... – disse a Ninfa fechando o sorriso.

— Coragem, Honra e Justiça. Esse é o lema dos Leon.

A Ninfa a olhou com os olhos semicerrados, não conseguia compreender como um humano poderia ser capaz de tal ato. Seria isso uma demonstração genuína de altruísmo ou apenas estupidez? Apesar de saber da sinceridade da paladina, ainda não conseguia decidir. Ainda assim, o acordo das duas era de extrema vantagem para a Guardiã. Caso a garota cumprisse sua palavra, ajudaria a proteger a floresta enquanto estivesse ali. Mas independente disso ela abriria mão de sua alma, que àquela altura a Ninfa já considerava de grande valor.

— Muito bem então... – falou a bela criatura feérica.

Então girou sua adaga na mão e cravou na barriga de Dorothy, que apenas apertou levemente os lábios com o golpe. Uma energia azulada passou pela lâmina, ligando a faca e algo dentro da paladina, amaldiçoando-a. Ao retirar a lâmina não havia sangue na adaga ou no corpo de sua vítima, embora Dorothy pudesse sentir a dor da apunhalada.

A Ninfa olhou para a arma que brilhou brevemente após ser usada. E estranhamente não se sentia completamente feliz por ter feito aquilo. Algo na paladina fazia com que ela ficasse em dúvida sobre que atitudes deveria tomar. Não sabia exatamente o que era, mas talvez e só talvez a garota fosse tão boa quanto aparentava. Por isso ela decidiu lhe dar uma chance para provar isso...

— Se fizer tudo o que diz que irá fazer e voltarmos a nos encontrar, quebrarei sua maldição Dorothy Leon, de Theolen. – disse a Ninfa.

— Então conte que irei retornar para pegar minha alma de volta! - respondeu a paladina com um pequeno sorriso de determinação no rosto.

— Eu não estaria tão feliz se fosse você, já que se eu sentir que você irá quebrar nosso acordo ou se fizer algo de ruim à minha floresta eu mesma cuidarei para que sua morte ocorra e sua alma e de seus amigos venha para minha adaga... – disse a Guardiã da Floresta se afastando enquanto a madeira tomava o lugar de sua pele e folhas cresciam em seu cabelo.

Dorothy então pode sentir sua visão voltando aos poucos e em seguida as vinhas e raízes soltaram seus amigos e todas as magias que a Ninfa havia usado neles desapareceu.

— Vocês estão bem? – perguntou a garota correndo para perto de seus companheiros de equipe.

— Ahrg… A cegueira doeu um pouco, mas eu estou bem. – respondeu Arlindo.

— Eu também… – disse Charly se levantando do chão.

— Minha senhora, nós ouvimos tudo o que aconteceu. A senhora está bem? – perguntou Nipples se aproximando.

— Eu estou bem Nipples. Não se preocupe. – disse Dorothy olhando em volta à procura da Ninfa, mas encontrando nada mais do que árvores ao seu redor. – Vamos apenas sair daqui.

Todos concordaram e logo saíram da pequena clareira. A Ninfa acabou ficando por ali, na forma de uma bela árvore observando os invasores de sua floresta indo embora e ponderando se havia tomado à decisão correta ao deixá-los partir.

“Irei manter meus olhos bem abertos para você, Dorothy Leon.”, pensou a poderosa Ninfa em meio às plantas e animais da grande floresta nortenha.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal! Hey, mais um capítulo, e agora um da Ninfa!
O que acharam? Gostaram de ver a história através dela?
Comentem :3