Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 11
Nipples - Trabalho Sujo




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Nipples acordou com um tímido raio de sol batendo em seu rosto ao amanhecer. Ele se sentou e olhou em volta, notando que todos ainda estavam dormindo. Com um pequeno sorriso de determinação, o serviçal se levantou e trocou as roupas que usava para dormir, colocando seu traje comum ao dia-a dia. Uma blusa de mangas longas de camurça lilás, por cima da camisa de algodão creme que ele abotoava até a gola, e calças justas e claras acompanhadas de um sapato de couro e um cinto da mesma cor. Arrumou o cabelo deixando-o perfeitamente alinhado com o maxilar e penteou a franja reta. Limpou o rosto com um pano úmido, bochechou uma mistura de água e hortelã e por fim colocou um par de luvas, pois ele precisava aproveitar aquele tempo no qual seus senhores dormiam para eliminar algo que já devia ter sumido há algum tempo. 

O pequeno homem pegou silenciosamente um estojo de dentro de uma das mochilas que carregava então se aproximou vagarosamente de Arlindo. Abaixou ao seu lado e analisou seu rosto para ver se o clérigo ainda dormia e ele o fazia profundamente. Nipples abriu seu estojo e colocou-o no chão, depois abriu dois colchetes de sua blusa de veludo, colocou a mão para dentro da mesma, na altura do peito, e puxou a arma que usaria para acabar com aquela sujeira: Um lenço.

Nipples pegou de seu estojo um pequeno frasco branco e o virou sobre o pano, derrubando um pouco de líquido sobre o mesmo. O cheiro de álcool foi ao ar, mas não era forte o suficiente para acordar ninguém. Então Nipples esticou os braços sobre o clérigo e... Pegou as botas que estavam logo ao seu lado começando a esfregá-las com força eliminando por completo uma grossa camada de lama que cobria a ponta do calçado de Arlindo.

O serviçal sentiu grande contentamento quando terminou sua tarefa, limpar era algo que já fazia parte de seu ser, o acalmava e agradava como ninguém poderia entender, por tanto, vencer a sujeira o deixava muito satisfeito.

Ele se levantou, limpou as mãos com o álcool e começou a preparar o café da manhã, deixando tudo simetricamente organizado e limpo sobre a toalha de mesa que levara. “Muito bem, é o que dá pra fazer nessa imundice de floresta. Espero que meus senhores entendam que a higienização desse local é muito limitada com os recursos que nós temos”, pensou o serviçal com as mãos na cintura que, apesar de gostar da natureza, preferia muito mais a cidade, ou ao menos o castelo de Theolen, onde tudo era organizado, confortável e previsível. Não conseguia lidar com o caos da floresta, pois a todo momento tirava uma folha que caia perto da comida ou espantava um inseto e isso era muito incômodo para o serviçal.

Em menos de meia hora Charly acordou e logo depois dele os outros membros daquela equipe se levantaram. Nipples estava em pé ao lado do café da manhã com a postura ereta, à disposição de qualquer um dos seus senhores. "Não é porque estou fora de um ambiente civilizado que agirei como um bárbaro" pensava "Devo manter a etiqueta e fazer com que todos se sintam confortáveis".

— Bom dia Nipples – disse Dorothy ao avistar.

— Bom dia, minha senhora. A comida está pronta e se quiser posso ajudá-la a se vestir ou pentear seus cabelos – falou da forma mais delicada que conseguia, observando o volume das ondas e cachos do cabelo da paladina.

— Ah, obrigada – ela agradeceu um tanto sem graça. – Mas pode deixar que eu lido com meu cabelo. – Ela passou a mãos pelos fios com nós. – A comida parece boa. Obrigada por arrumar tudo.

— É apenas o meu trabalho, minha senhora – ele assentiu com a cabeça.

Dorothy sorriu e então foi se arrumar. Pouco depois todos sentaram-se sobre a toalha de mesa de Nipples e começaram a comer a comida que estava ali. O serviçal ficou observando se o café da manhã que havia preparado estava no agrado de todos, pois apesar da maioria da comida ser um tipo de ração especial que sustentava bem e durava bastante, ele ainda trouxera alguns pães, broas e  chás para agradar aos seus senhores, mas estavam silenciosos e um tanto apreensivos, provavelmente pensavam pensavam sobre o que havia ocorrido no dia anterior. Nenhum deles havia falado sobre o metamorfo e o que ele dissera de haver outro Campeão da Ninfa, ao menos até aquele momento, quando Charly trouxe o assunto à tona.

— Então... Vocês acham que aquele era o Liminha mesmo? – perguntou o garoto comendo o pão que Nipples trouxera para a viagem.

— Você diz o cantor? – perguntou Dorothy.

— Imagina só – disse Arlindo inclinando o corpo para trás apoiando-se sobre uma das mãos – Um dos mais famosos cantores do momento em Theolen é na verdade um metamorfo à trabalho da Ninfa. Eu nunca pensaria nisso só pelas apresentações dele.

— Você já foi em uma apresentação do Liminha? – perguntou Charly com um meio sorriso no rosto.

— Já – admitiu o clérigo. – Eu estava acompanhando uma... Amiga – Piscou para o garoto e depois olhou para Dorothy que acabou não notando a piscadela – Ela gostava muito das músicas dele, então a levei pra vê-lo, mas eu não lembro muito desse espetáculo. Talvez seja por que eu estava muito bêbado aquele dia – riu consigo.

— Se o Liminha realmente for um metamofo, será que ele tinha outras identidades em Theolen? – perguntou o garoto.

— Talvez... Já pensou se ele tomou o lugar do Hammel? – sugeriu Arlindo inclinando-se para frente e pegando uma garrafa de sua bolsa.

Charly deu uma leve risada e Nipples negou com a cabeça. "Que falta de respeito" pensou consigo ao ouvir o clérigo falar o nome do rei tão levianamente.

— Certo, acho que vocês já estão indo longe demais nessas teorias malucas – disse Dorothy.

— Será? Nunca se sabe... Aquele cara é cheio de segredos. Eu mesmo sei de um que é bem esquisito – disse o clérigo erguendo as sobrancelhas  e tomando um pouco de sua cerveja enquanto Dorothy negava com a cabeça.

— O que você sabe? – perguntou Charly curioso.

— Não posso dizer, é um segredo! – falou o clérigo fazendo o jovem revirar os olhos.

— Ele só está brincando com você – disse Dorothy para o garoto – E eu não acho que o cantor Liminha era um Doppelganger, muito menos o rei. Esse metamorfo deve ter apenas tomado a forma do Liminha – disse Dorothy.

— Por que alguém faria isso? – questionou Arlindo erguendo uma das sobrancelhas – Ele nem é bonito. Faria mais sentido pegar a forma de alguém como eu.

— Será que ele é fã do Liminha? – Charly perguntou com um sorriso no rosto.

— Isso seria engraçado – admitiu a paladina rindo.

— É – concordou o garoto dando risada –  De qualquer jeito, você disse que ele era o que mesmo? Douple... Doupe...

— Doppelganger – respondeu Dorothy tomando um pouco do chá que Nipples preparou – É a raça das criaturas que podem mudar de forma como ele. Steve me disse que eles são perigosos porque além de poderem se transformar em qualquer um, são ótimos mentirosos.

— Mentiroso ou não ele não parecia estar blefando ontem – disse Arlindo um pouco mais sério.

— É, eu também acho que ele não estava mentindo... – concordou Dorothy olhando para baixo.

— Então tem mesmo um bicho gigante atrás da gente? – perguntou Charly um tanto preocupado.

Arlindo ergueu os ombros e entortou a cabeça como se dissesse que aquilo pudesse ser uma possibilidade. Nipples olhou para o chão pensativo. Suas tarefas como pajem e serviçal haviam lhe ocupado a mente durante todo aquele início de viagem e ele não havia parado para pensar o quão perigoso era o ambiente em que estava. Na verdade apenas naquele momento ele notou que estava fora do reino de Theolen, fora da segurança com a qual estava acostumado. Só ali ele começou a considerar os perigos que poderia encontrar no Norte.

— Independente dele ter falado a verdade, nós devemos avançar logo – disse Drothy. – Aquele metamorfo escapou da gente, mas aposto que vai querer voltar para tentar nos impedir de seguir em frente de novo - concluiu.

— Acha que se ele aparecer de novo você dá conta de derrubá-lo? – perguntou Arlindo para a garota.

— Eu dou – respondeu Solomon antes mesmo que a paladina pudesse dizer algo.

Todos se viraram para ele um tanto surpresos por ouvirem sua voz grossa que se fazia tão ausente durante a viagem. Nipples sentiu até certo medo, afinal já havia escutado diversos rumores sobre o Guerreiro Renegado quando trabalhava no castelo e havia visto o estrago que ele havia feito lá.

— Ótimo! Então não temos nada a temer! – disse o clérigo se levantando com um sorriso no rosto e batendo as mãos, limpando-as das migalhas da broa que comera – Agora se me dão licença, irei me preparar pra continuarmos nosso caminho... Hey, psiu. – Se virou para Nipples – Me ajude aqui.

O serviçal concordou com a cabeça e prontamente seguiu Arlindo. O homem abaixou perto de suas coisas e então tirou de sua bolsa tira-colo uma ânfora e um espelho.

— Segure para mim – disse o clérigo entregando pequeno espelho com cabo na mão do serviçal.

Nipples obedeceu e ficou por algum tempo observando Arlindo gastar a preciosa e limitada água que tinham para lavar o rosto e limpar os poros. Quando o clérigo terminou, o serviçal saiu transtornado com a situação e juntou as coisas do café da manhã preparando as mochilas. Apesar de incomodado, Nipples não disse uma palavra sequer sobre o ocorrido, afinal isso seria indelicado e completamente inadequado para um serviçal.

Logo a equipe voltou a caminhar pela floresta a fim de sair de lá o mais breve possível. Durante as primeiras horas do dia a viagem seguiu tranquila, mas por não estarem andando por trilha alguma, com o tempo o terreno começou a se mostrar um grande obstáculo.

Várias pedras grandes e pontiagudas no chão, junto de raízes grandes e do solo acidentado faziam com que tivessem de reduzir o passo para evitar acidentes , e para piorar a situação, em certo momento, eles encontraram um lamaçal que cruzava seu caminho.

— Nós devemos estar perto de algum rio ou algo do tipo – supôs Dorothy – De qualquer jeito devemos atravessar pela lama, não vamos gastar tempo dando a volta – falou.

Nipples olhou ao redor a procura de uma outra alternativa de rota, mas não conseguia ver o final daquele lamaçal ou qualquer objeto que pudessem usar como ponte para atravessá-lo. Dorothy então avançou na frente, não parecia ter nojo ou sentir qualquer aversão a toda lama e água suja, mesmo que essa cobrisse até pouco acima de seu quadril. Charly a seguiu e a lama bateu até a metade de sua barriga.

— Uhrg! Isso é mais fundo do que parece – disse o garoto erguendo os braços com sua mochila no alto enquanto afundava para atravessar o atoleiro.

— Não se preocupe, lama faz bem para a pele – informou Arlindo indo atrás, fazendo Charly se virar para ele com uma expressão confusa – É verdade – confirmou sorrindo.

Solomon seguiu atrás dos dois, ele sentiu certa dificuldade de se movimentar com sua armadura pesada dentro daquele ambiente, mas felizmente, por ser muito alto, a lama acabava no topo de suas coxas, o que o possibilitou sair mais limpo do que os outros, que ao ver de Nipples era uma grande vantagem.

O serviçal olhou para a lama com muita apreensão, não apenas era um lugar imundo como também era fundo o suficiente para lhe cobrir até quase o pescoço. "Oh, Pélor, por quê?" lamentou para seu deus em silêncio.

— Nipples! Pode vir, é seguro! – exclamou Dorothy do outro lado enquanto passava a mão sobre a calça e armadura tirando o excesso da sujeira.

“Oh, céus. Vou precisar de muito mais água do que temos para limpar tudo isso, sem contar nossos pertences e as roupas da senhorita Leon. Mas que pesadelo!”, pensou ele hesitante, mas Nipples estava ali para obedecer e servir, ele devia avançar. Juntou as mãos olhando para o sol rapidamente, fazendo uma pequena prece de proteção ao seu deus, e então deu os primeiros passos para atravessar o lamaçal, afundando cada vez mais na sujeira enquanto erguia a carga que levava consigo para protegê-la. 

Um tique apareceu no olho de Nipples a partir daquele ponto, fazendo-o contrair o olho esquerdo pelo resto daquela tarde, não conseguia aceitar estar em um modo tão deplorável. Quase em estado de choque, o serviçal seguiu silencioso por entre as arvores, coberto até o peito por lama, e assim ele se manteve por duas longas e torturantes horas. Apesar se deu comportamento errático, nenhum dos membros da equipe notou a aflição de Nipples, apenas seguiram seu rumo até finalmente encontrar um braço de rio onde pararam para se limpar.

Dorothy tirou a armadura, ficando apenas com uma blusa de linho que usava por baixo para proteger a pele do atrito com o metal e atrás de uma pedra, muito bem protegida do clérigo curioso, ela trocou as calças imundas. Charly fez o mesmo, mas Arlindo foi um pouco além. Sem vergonha ou pudor algum, o clérigo achou extremamente agradável a temperatura da água do riacho em que se banhou usando apenas suas roupas de baixo.

Nipples, diferente de Arlindo tinha muita insegurança quanto ao seu corpo, então se afastou de todos sem ser notado e trocou rapidamente de roupas atrás de uma árvore, vestindo peças extremamente parecidas com as anteriores, mudando apenas a cor da blusa. Logo em seguida começou a lavar seus trajes sujos deixando tudo o mais limpo possível. Quando retornou para a companhia dos outros, viu que haviam se instalado ali e logo foi ajudar a preparar o local para que comessem algo enquanto descansavam.

Dorothy reparou que o serviçal havia trocado de roupa, embora em nenhum momento houvesse notado sua ausência do grupo. Ela considerou que talvez estivesse muito desatenta, mas sem pensar muito sobre o assunto ela se aproximou de Arlindo que estava observando a água corrente, já vestido, enquanto secava os cabelos com um pano.

— Está ocupado? – perguntou a jovem.

No momento em que o clérigo se virou para ela, a luz do sol bateu na água do riacho e refletiu em seus olhos esverdeados, algumas gotas escaparam de seu cabelo úmido dando um efeito de brilho em volta do homem.

— Nunca para você – respondeu ele de forma galante.

— Certo... – respondeu a garota de forma arrastada com as bochechas coradas, tentando entender como aquilo tinha acontecido.

— O que precisa? – perguntou Arlindo com um sorriso brilhante.

— Eu estava pensando, já que vamos fazer essa pausa, acha que pode me ensinar alguma magia? – perguntou ela com entusiasmo.

— Hum... Dominar a magia é algo que requer mais tempo do que uma simples pausa, e já que estamos correndo para sair logo daqui e fugir dos monstros desse lugar, acho melhor treinarmos isso quando sairmos da floresta – respondeu o clérigo.

— Ah... Tudo bem – disse ela baixando o olhar – Vou comer algo então.

Nipples observou Arlindo assentir com a cabeça e observar a jovem enquanto ela se afastava de costas. Ele apoiou os pratos de madeira sobre o tecido que forrava o chão e se virou para charly quando ouviu o garoto falando alto:

— Hey, alguém sabe se podemos comer esses daqui? – perguntou o garoto apontando para alguns cogumelos vermelhos com pequenas manchas brancas, escondidos atrás de uma pedra.

Nipples observou rapidamente os cogumelos e arregalou os olhos, preocupado.

— Oh não, não, não, não, não meu senhor! Por favor, não coma estes! – falou se levantando e indo em direção ao garoto.

— Por que não? Seria bom ter algo com gosto diferente no almoço.

— Esses cogumelos não são comestíveis! – negou com a cabeça.

— Eles são venenosos? – perguntou o jovem.

— De certa forma, meu senhor. Este é o Agário das Moscas. Ele é altamente alucinógeno e ingerir muitos desses cogumelos pode causar a morte! – alertou.

Nipples sabia que se desintoxicassem exatas onze vezes, o cogumelo se tornaria comestível, mas já que não tinham recursos suficientes para garantir isso, achou melhor não sugerir tal coisa.

— Não aconselho que o coma, meu senhor – finalizou o serviçal.

— Está bem... – concordou o jovem – Hum, eu não sabia que você conhecia cogumelos. Onde aprendeu a diferenciá-los? – perguntou Charly.

— Isso... Não vem ao caso, meu senhor. Com licença – respondeu o homenzinho abaixando levemente a cabeça envergonhado e indo de volta para a “mesa” de almoço.

Charly ficou sem entender direito o que havia acontecido então voltou para o grupo decepcionado por ter de comer a mesma coisa novamente. Todos, com exceção de Solomon, se reuniram sobre a toalha azul e comeram suas porções de ração. Nipples estava preocupado, começou a contar quanto de comida haviam consumido até então para calcular quanto gastavam por dia e quanto precisavam para a viagem inteira, embora não soubesse a duração dela. Quando se deu por si, já estava de volta a caminhar pela floresta. "Oh, céus, vamos ficar sem comida! Vamos todos morrer de fome!", pensava o serviçal preocupadíssimo com as condições em que a viagem seguia.

Ele andava logo atrás de Dorothy, tentava acompanhar os passos rápidos da paladina e, apesar das pernas curtas que ele possuía, o fazia com êxito. Com o tempo Nipples adquiriu certa resistência física por não parar quieto enquanto trabalhava limpando o castelo, o que era algo muito surpreendente para quem apenas o via por sua aparência peculiar.

O serviçal andava distraído com suas preocupações quando seu pé se prendeu em um objeto fazendo-o tropeçar e perder o equilíbrio. Dorothy rapidamente se virou e o segurou para não cair.

— Nipples? Você está bem? – perguntou a garota.

— Sim, minha senhora. Por favor, não se preocupe comigo, sou apenas um serviçal – respondeu Nipples se endireitando um tanto constrangido, tanto pelo contato físico quanto por estar sendo ajudado por quem ele deveria servir.

— Não seja bobo, é claro que me preocupo com você... – disse Dorothy sorrindo. Ele a achava muito gentil.

— O que é isso? – perguntou Arlindo se aproximando do objeto havia feito o serviçal tropeçar.

Dorothy, Nipples e Charly se aproximaram, Solomon apenas observou à distância enquanto o clérigo puxava um pequeno machado com cabo quebrado do chão. Ele estava sujo de sangue.

— Mas o que... – Arlindo perdeu as palavras largando o objeto sujo.

A partir daquela arma, eles conseguiram ver um rastro de sangue que levava até uma bota. Nipples levou às mãos à boca assustado e viu Dorothy seguir o rastro com o clérigo. O serviçal olhou em volta preocupado e logo sentiu um cheiro forte no ar. Arlindo também notou o odor que vinha de não muito longe dali. Decidiram verificar o que era e vagarosamente a equipe se aproximou da fonte do cheiro.

Logo o serviçal avistou uma mochila aberta caída no chão com algumas coisas espalhadas e notou que Charly também parecia assustado com a situação. Arlindo e Dorothy continuaram seguindo até encontrarem o que parecia ter sido um acampamento em algum momento.

— Eu vou ver o que tem ali – disse a garota puxando o escudo das costas.

Nipples a acompanhou há alguns metros de distância e os dois entraram em uma clareira artificial, um espaço onde árvores foram derrubas para fazer um acampamento maior. Havia uma barraca rasgada, algumas roupas espalhadas, um monte de peles de animais amarradas num pacote com cordas.  O serviçal ainda pôde ver uma fogueira destruída.

O pequeno homem de Theolen sentiu seu coração apertar, estava ficando com muito medo de imaginar o que poderia ter acontecido ali, deu alguns passos na direção oposta do local e bateu de costas em uma árvore. Virou-se e então viu um braço humano caído no chão ensanguentado saindo de uma pilha de troncos. Levou uma mão à boca e outra ao coração, tentando não gritar e se acalmar.

— Minha senhora... – disse por fim, com a voz trêmula, visivelmente abalado.

Solomon, que estava seguindo logo atrás do serviçal, se aproximou e mexeu na pilha de madeira observando o que estava ali. Charly tentou o acompanhar, mas o guerreiro o barrou colocando a mão em seu peito.

— Eu quero ver também – disse o garoto.

— Não, você não quer – respondeu Solomon sério enquanto olhava para o cadáver de um homem com o peito totalmente esmagado.

As costelas do falecido estavam quebradas saindo de seu tronco com o sangue seco e partes de órgãos internos estavam presas a elas. Seu rosto estava desfigurado e muitas marcas de furos cobriam seu corpo.

Nipples sentiu seu estômago revirar com aquela imagem e virou o rosto. Charly olhou para o serviçal com preocupação e logo o pequeno homem olhou para o jovem.

— Vamos pra lá, meu senhor. O que há ali não é nada agradável e ninguém deveria ver.

— Nipples, eu preciso ver – pediu o garoto em sussurros.

— Meu senhor, por que...

— Por favor, Nipples. Por favor! Pode ser o... – o garoto gaguejou – Pode ser o meu pai!

Nipples arregalou os olhos caramelados sem saber o que dizer enquanto Charly o encarava esperando por uma resposta. O pequeno homem não sabia o que fazer, não estava preparado para lidar com esse tipo de situação. Tudo o que ele pôde fazer foi concordar com a cabeça e juntar as mãos em nervosismo.

Charly assentiu com a cabeça e esperou. Solomon olhou para Dorothy e ela rapidamente se aproximou e viu a cena. Observou os ferimentos do cadáver, e por ser filha de um ferreiro e ter muito interesse em combate, ela já imaginava que tipo de arma havia causado aquele estrago.

— Tem outro ali – disse o guerreiro apontando para trás de uma árvore.

— E ali... – continuou Arlindo se aproximando com a mão cobrindo a boca e o nariz, apontando para a parte de trás da barraca do acampamento. – Urhg... O que aconteceu com eles? – perguntou em tom sério.

— Este aqui foi esmagado, pelos furos e tipos de ferimentos dá pra ver que ele foi atingido por uma arma concussiva com pontas. Eu diria uma maça estrela... – respondeu a garota um tanto impressionada, nunca vira alguém naquele estado antes.

— Uma maça pode fazer isso? – perguntou o clérigo.

— Uma bem grande pode... – ela confirmou.

Preocupado com o que ouvira e com a reação de Charly sobre isso, Nipples olhou para o garoto e logo viu o jovem se afastar furtivamente, se movendo atrás das árvores, enquanto os outros três discutiam o que poderiam ter causado aquilo. Nipples o seguiu, também sem ser notado. Os dois avistaram de longe o corpo da pessoa caída atrás da barraca, era um homem de pele negra e Charly logo soltou o ar dos pulmões olhando para Nipples e fazendo sinal de negação.

Em seguida olharam o corpo atrás da árvore, mas notaram ser uma mulher sem um dos braços e logo se dirigiram para o próximo. Tentando não chamar atenção eles apenas observaram de longe o corpo mais danificado dali.

“Por favor, Grande Sol, não faça o senhor Charles sofrer. Poupe o menino.” pediu ele ao seu deus. Os dois olharam para o cadáver esmagado e após alguns instantes o encarando, Charly se virou abalado para o homenzinho. Nipples rapidamente segurou as mãos do jovem em preocupação, mas o garoto negou com a cabeça ao ver a cor do cabelo do morto.

— Não é ele... – sussurrou ainda chocado com a imagem horrível daquela morte.

— Graças ao deus sol... – disse Nipples soltando um suspiro e as mãos do jovem.

Com isso, os dois voltaram às suas posições iniciais. Nipples olhou para o menino e perguntou se ele estava bem. Charly fez que sim com a cabeça e então sussurrou:

— Obrigado Nipples. Você pode, por favor, não falar sobre isso a ninguém? – pediu o jovem.

— Claro meu senhor. – concordou olhando para o chão –Não vou comentar com ninguém.

Charly mostrou um sorriso forçado ao serviçal então começou a olhar para além daquele local. Nipples não disse mais nada. Ele deveria servir àquelas pessoas e se a melhor maneira de ajudar Charly era ficando em silêncio, era o que faria. Foi então que prestou atenção no que Arlindo, Solomon e Dorothy falavam, sentindo seu coração acelerar ao ouvir as palavras da paladina:

— Sim... Acho que isso significa que tudo isso foi feito pelo Campeão da Ninfa – concluiu a garota enquanto o clérigo e o guerreiro concordavam, fazendo o coração do serviçal bater mais forte, tomado pelo medo e o receio de seguir em frente.


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Notas finais do capítulo

Oi gente! Desculpa a demora pra postar rsrsrs me esforçarei mais pra continuar no prazo de um capítulo por semana!
Mas e então? Gostaram?
O que acharam do Nipples? O que esperam para o próximo capítulo?
Comentem aqui! Seus reviews são minha alegria!