P.O.V’s Tony.

Se arrependimento matasse, eu já teria morrido e ressuscitado dez vezes.

Sei que estou errado, totalmente errado, mas meu orgulho me impede, minha mente me sufoca e eu me sinto o pior pai do mundo. Eu sou o pior pai do mundo.

O que devo fazer? Eu não sei, minha cabeça diz algo, já meu coração, e ilude. Que droga!

Meus pés se direcionam a sala, onde pego mais um copo de minha famosa bebida e os sons de rock alto sempre estão à minha espera. Pepper está na sala – isso quer dizer que o rock não vai rolar -, junto a ela, estão também os meus parceiros de equipe, todos calados, isso quer dizer que ouviram minha conversa, melhor, discussão com Kayla. A cara de decepção de Pepper me mostra o quão idiota fui, estou sendo e ainda vou ser. Suspiro e bagunço os cabelos, sei que não deveria nem ter aberto a boca direito, mas todos têm o direito de errar, não é?

De repente, barulhos de paredes sendo quebradas me despertam de pensamentos profundos. Só espero que ela não tenha aprontado nada, por favor, não faça nada estúpido.

Todos se entreolham, já Pepper, olha somente para mim, como se soubesse que a culpa, independente do que fosse, era minha, mas minha do que da própria autora que se fez de vítima. Sei que bomba vem por aí.

Que droga! Ela fez algo estúpido! Completamente idiota!

“Senhor, a senhorita Kayla acaba de fugir com a Mark 45, aconselho que vá atrás dela, pois a armadura está programada para se auto-destruir, não consigo entrar em contato porque os sistemas que me ligam à armadura foram reiniciados.”

Corro para o laboratório, precisava ver por mim mesmo, para provar a mim mesmo. A culpa é minha. Tranco a porta, por ela ser de vidro, consigo ver as inúmeras lágrimas de Pepper, cada grito seu, tão agudo, tão culposo, dramático, desesperador...

A culpa é sua Tony, a culpa é toda sua! – digo a mim mesmo.

É incrível como o sentimento de remorso é tão desesperador, agonizante, sofrido... Por qual motivo não impedi ela? Não consigo arranjar sentido nisso tudo. O que fazer agora? Ir atrás dela? Não, ela não vai querer voltar, nem se eu pedir desculpas, não, não mesmo. Que droga!

Não importa, eu vou assim mesmo.

Está tentando aliviar a culpa de ser um péssimo pai? Não, você não conseguirá mudar isso, não é possível mudar o passado, você é o pior pai do mundo Tony.

Entro em uma luta interna, comigo mesmo, não sei, é como se minha mente entrasse em uma conspiração contra mim mesmo. Eu não posso evitar já que é verdade. A mais pura e límpida verdade. Não posso mudar o passado, trazer aquele tempo de volta, não, eu não posso, não posso reviver os tempos que desperdicei, essa é minha vida, minha história, meus erros mais profundos estão aqui, como se fosse em um papel. Eu não posso mudar o passado.

Mas posso mudar o futuro.

–J.A.R.V.I.S., quero a Mark 43 agora.

“Senhor, devo lembrá-lo que a senhorita Kayla arranhou toda Mark 43, e com isso, o visor foi danificado, aconselho que utilize a Mark 42.”

–Me obedece J.A.R.V.I.S., anda logo. – digo impaciente. Espero que não seja tarde demais.

“Como quiser, senhor Stark.”

Dentro de alguns segundos, a Mark 43 já estava pronta para meu uso. Antes de “vesti-la”, vejo claramente o K.S., de sua assinatura. Com certeza, ela é a minha filha.

Não me despeço de ninguém, saio em disparada em busca de Kayla. Não é difícil adivinhar por onde ela passou, porque por todos os lugares, vejo um vidro quebrado, uma parede destruída, ela é tão óbvia e nem sabe disso. Isso me lembra... Por qual motivo ela desativou o J.A.R.V.I.S. de se comunicar com ela?

“Senhor, encontrei a Mark 45, está indo em direção à praia, mas ainda não consigo me comunicar. Achei o motivo de não poder me comunicar, a armadura foi hackeada pela H.I.D.R.A.”

–H.I.D.R.A.? O que a H.I.D.R.A. quer com a Kayla?

“Não sei senhor, mas peço que se apresse, a armadura começou a perder altitude.”

Por que isso está acontecendo? Não faz sentido. Com certeza a H.I.D.R.A. está controlando a armadura, mas... Se eles planejam afundar a Kayla, por que não explodiram a armadura logo? Do que estou falando?! Tenho que salvá-la, não pensar em hipóteses!

–Aumente a velocidade J.A.R.V.I.S., vamos acabar logo com isso.

Ao chegar perto da praia, consigo ver que ela vai mais longe, começo a persegui-la, mas já é tarde, a armadura desce tão rápido, na medida em que me aproximo, vejo por fim, a armadura explodir.

Entro na água mais rápido que posso, mas o rápido que eu conheço não parece fazer sentido. Com o visor danificado, a água começa a entrar e eu já nem sei para onde ela foi. Estou ficando às cegas, não enxergo e J.A.R.V.I.S. já não me responde. É somente Kayla, eu e o oceano. Estou ficado sem ar, essa armadura não foi projetada para entrar na água, preciso encontrá-la antes que seja tarde, tarde demais para fazer alguma coisa.

Uma coisa, alguém, Kayla. Ela bate em mim sem querer, não está acordada, não está respirando, está morrendo. Seu corpo pálido e franzino, ela está branca, tão branca que poderia nomeá-la de Branca de Neve, porque, de fato, ela parece. Como sua pureza transparece no mar aberto, não faço a mínima idéia do que estou falando, se é poesia, se é Shakespeare ou se estou inventando. Mas aí está ela, nos meus braços, a um passo da morte.

Tudo que consigo fazer é pensar. Nada de agir, somente pensar. Preciso do Fury, e já.

Nunca pensei que iria fazer isso em minha vida, pedir ajuda ou depender do Fury. Mas tomo impulso e subo para cima, me direciono a base da S.H.I.E.L.D., sei que ele nunca deixaria Kayla morrer.

Invado os portões da S.H.I.E.L.D., a confusão e arruaça já foram tomadas, estou a um passo de Fury. Na verdade, estou de frente para ele, ao ver Kayla, ele grita para um monte de agentes, para que eles a tomem de meus braços. Para tentar salvá-la.

Sei, que a partir de agora, nada será igual.