Ver aquela foto no Twitter arrasou comigo. Eu nunca imaginava que ela faria isso, mas o que posso fazer se não quero perdê-la?

Eu passei o dia inteiro em casa, para variar, choveu o e eu não tinha nada pra fazer, já que estava de folga. Sinceramente, preferia ter ido trabalhar.

Pego o meu celular sobre a mesa e vejo novamente a foto, estão dizendo que é a revelação do século, mas o título é:

"Quem roubou o coração de Kayla Stark?"

Com certeza não foi eu.

Há uma mensagem nova, do Mitch e ele estava online.

"Pensei que estivesse namorando a Kayla, porque vocês são tipo, perfeito juntos..."

Eu também pensava isso... Mando uma mensagem para ele:

"Kayla e eu somos amigos próximos, nunca namoramos."

A mensagem foi curta e dolorosa, pois me fez pensar no assunto, aí eu fiquei remoendo isso o dia todo...

Um pouco antes das sete, mais ou menos umas seis e meia, Ronnie e Caitlin apareceram, do nada e produzidos como se fossem ao baile de formatura.

-Você ainda não se arrumou?! - perguntou Caitlin.

-Deveria? - questionei e continuei deitado no sofá, olhando pro teto.

-O aniversário da Kayla foi no dia primeiro, mas o Tony organizou a festa hoje!

Mas hoje é dia dez... Pego rapidamente meu celular, vejo as mensagens do Tony -sim, mensagens, porque ele praticamente mandou umas duzentas.

-Tony pediu pra virmos ver se você tava vivo. - disse Ronnie. - Anda, vai se trocar.

Levanto-me contrariado e tento disfarçar a minha cara, se eu disse que não quero ir, irão fazer um interrogatório e serei obrigado a contar, já que nunca consigo mentir pra Cait.

O Ronnie tava de... Terno? Temos que usar terno?

Coloco um cardigan bege, com uma camisa vermelha e calça jeans escura, não vou usar um smoking, não mesmo.

Desço as escadas sem ânimo, mas tento ficar normal.

-Que cara de enterro... - comentou Ronnie.

-Pode voltando e colocando um smoking! - advertiu Caitlin.

-Não mesmo! - briguei.

Ela percebeu que eu não estava muito bem, então me deixou em paz, porém, Ronnie, insistiu em conversar comigo e tive que trocar de roupa.

-O que está acontecendo? - ele perguntou, se sentando na beirada da cama.

-Você viu a foto? - disse, indo em direção ao guarda-roupas e pegando o smoking que usei no casamento do Oliver e Felicity.

-Foto...? - antes que ele pudesse terminar, uso minha velocidade para pegar meu celular e amostrar a foto. - Essa foto. O que ela está pensando da vida?!

Ronnie parecia mais chocado que eu e as coisas só pioraram a partir desse momento.

[...]

A festa da Kayla não era uma festinha em família, é na verdade uma grande recepção, com paparazzis na porta, muita movimentação e luxo.

Agora vejo porque Cait pediu pra mim vestir smoking.

Ignoro os flashes das câmeras, não havia necessidade de atrair mais atenção do que já consegui com a apresentação. Pegamos o elevador até o último andar.

O silêncio era constrangedor.

Ronnie chateado com a Kayla, Caitlin comigo e eu tentando criar alguma coragem para encarar ela com Roy. Bom, eu posso simplesmente fugir se precisar.

O elevador se abriu revelando alguns rostos conhecidos, alguns agentes da S.H.I.E.L.D. - aparentemente Kayla trabalhava com eles -, alguns membros dos Vingadores, o Time Arqueiro e Peter com a Gwen.

Até a Thea está aqui? Ai não...

-Hey Barry! - chamou Oliver, atraindo a atenção de Thea para mim, sinto seu olhar culposo encontrar o meu.

Oliver me cumprimentou com um abraço e Felicity com um beijo na bochecha, Jonh apertou minha mão, Lyla me abraçou e brinquei com a pequena Sarah - que estava se dando muito bem com Lucas, o filho de Clint e Laura.

Quando vejo Thea, tudo o que consigo é fazer é apertar sua mão e dar um "Oi" sem graça. Ótimo, minha ex está na festa da namorada atual do seu ex que a traiu... Ai é muita confusão!

Sinto uma mão cutucar meu ombro, era Tony.

-Caramba, pensei que tivesse morrido!

Que pena que não é verdade...

-Eu dormi. - minto. Não consegui fechar os olhos.

-Desde as sete da manhã?

-Meu celular descarregou. - minto de novo.

Ele riu.

-A Kayla está doida atrás de você.

E saiu.

Agora eu me ferrei.

O elevador se abriu novamente, dessa vez, revelando Kayla sendo acompanhada de Roy. Ela... Estava magnífica. Nenhuma palavra descreve o tamanho de sua beleza. Já o idiota...

Estava bem vestido também. Confesso.

Ela sorria de um modo vibrante e encantador, não havia necessidade de mudar o cabelo, somente realçou seu rosto e trouxe um ar mais sério, afinal, ela tem 23 anos agora.

O olhar dela encontrou o meu, seu sorriso feliz ficou triste, seus olhos me observaram com cuidado, avaliando-me. Não posso conter que um sorriso triste escape dos meus lábios e que meu olhar se desvie do seu facilmente.

Roy também parece ter me visto, sussurrou algo em seu ouvido e ela assentiu. Logo após, ela caminhou até mim, todo sem graça.

Estou prestes a ter meu coração esmagado, de novo. Íris - embora eu tenha superado - e agora ela.

-Oi. - ela diz, sorrindo tristemente. - Eu acho que você viu... - interrompo ela, não podia deixá-la continuar. Apesar de querer ouvir sua voz mais uma vez, não quero lembrar dela como a destruidora do meu coração, não quero ouvir lamentos.

-Kayla, chega, por favor... - peço. - Eu entendo que esteja confusa, mas... Não brinque comigo.

Fecho meus olhos devagar, sentindo o peso sobre as pálpebras. Não quero ver seu olhar culposo e cheio de pena, não quero ver seu rosto com aquela expressão de dor.

-Barry, eu... Sinto muito. Muito mesmo.

Assinto duas vezes, tão rápido que ela deve ter pensado que eu queria me livrar dela. Ela se virou e continuou a caminhar, mas Ronnie passou por mim como um furacão, indo atrás de Kayla.

Caitlin se fez presente ao meu lado.

-Vai ficar tudo bem. - ela me abraçou, mesmo estando chateada comigo, está aqui para me ajudar.

Só não tenho certeza dessa resposta.

Porque eu ainda não desisti dela.

[...]

P.O.V's Kayla.

-O que foi Ronnie? - digo um pouco alterada, já que ele me puxou pelo braço até o escritório do andar, ou seja, a sala de reuniões.

-Dá pra você me explicar que MERDA você está fazendo com sua vida? - ele fez questão de enfatizar. Mas do que ele está... A foto.

-Eu sei que não deveria ter feito aquilo, mas... Ele apareceu lá e eu não pude evitar! - ele me interrompe.

Nunca o vi tão agressivo assim.

-O que você pensou ao postar aquela foto? Se é que você pensou... - ele revirou os olhos.

-Era parte de um plano...

-Agora você também tem vida dupla? Que ótimo!

Ele está exagerando. Como se ele não fosse o Nuclear...

-Chega! Vocês transaram? - ele questionou. Estava inquieto, andando de um lado para o outro.

-O quê?! Minha vida sexual não é da sua conta! - ele me olhou bravo. - Não, mas quase.

-Nunca pensei que ficaria tão decepcionado com você... - ele balançou a cabeça negativamente. - Você se dá conta do que está fazendo? Você está trocando o Barry, o garoto mais legal e respeitoso que eu já conheci, por um cara que dormiu com a metade de Starling City!

-Esse daí é o Oliver... - ele me olhou feio. - É brincadeira! Ron, é brincadeira!

Ele suspirou.

-Saiba que, as suas decisões não estão sendo pensadas. O tempo que você e o Barry ficaram juntos durante os ensaios, ele nunca te faltou com respeito, eu o conheço a anos Kayla... Roy? Você acha que ele te merece? Você fica dias sem ver ele e aí quando se encontram quase...

-Ele me ajudou quando ninguém pode!

-Não confunda amizade e gratidão com amor! Esse é o maior erro que se pode acontecer! - ele parou em um único lugar. - O que você me diz do Peter?

-O quê? Eu nunca dei esperanças ao Peter.

-Nunca? Mas alguma vez você chegou nele e disse a verdade? Que ele não tinha chance? E o Barry? Chegou a realmente gostar dele? As outras pessoas também têm sentimentos!

Eu o olhei indignada.

-Você não sabe dos meus sentimentos! Eu realmente gosto dos dois!

-Você pode gostar deles, mas não os ama. Você não sabe o que é amar e eu nunca pensei que você usaria pessoas para satisfazer seus desejos.

-Que desejos?

-Os que foram plantados na sua mente. O Roy te usa para se satisfazer e esquecer sua ex, e você usa Barry de psicólogo e abrigo. - ele pôs a mão na maçaneta. - Eu realmente sinto muito por você, está sendo usada e nem sabe disso.

E ele saiu pela porta, levando toda a minha moral e dignidade com ele.

[...]

P.O.V's Roy.

Vejo Ronnie passar por mim como se estivesse prestes a explodir, Kayla e ele estavam conversando ali à algum tempo. A música está alta e não me deixou ouvir a conversa, a propósito, está tocando All Time Low de The Wanted.

Como ela não sai, decido ir ao balcão e peço uma tequila, sinto a aproximação de alguém por trás, esta pessoa se senta do meu lado, Thea Queen.

-Como estão as coisas? - ela pergunta.

-Confusas. - responde uma voz atrás de mim. Érika.

O que a Érika está fazendo... Ah, ela é amiga da Kayla.

-Sabe, o meu ex que me traiu com você, agora está namorando a minha melhor amiga e aparentemente o seu ex é um dos caras que a Kayla tá apaixonada... Confuso não?

Traduzindo...

Eu traí a Érika com a Thea, na época o Barry namorava Thea, mas agora, eu tô namorando a Kayla e ela além de gostar de mim, está afim do Barry. Não é tão difícil.

Érika deu as costas e foi para o outro lado do balcão.

Esperei Kayla sair, o que está demorando muito, porém, Tony se aproximou de mim. Bebendo seu whisky como sempre, mas não estava bêbado.

-Vou ser objetivo: Se magoar minha filha ou se eu tiver netos antes dos quarenta anos, eu te trucido e jogo seu corpo junto com uma bomba no Vietnã.

-Pode deixar Tony... - reviro os olhos.

-A fotinha de vocês dois no Twitter rendeu...

-Obrigado. - ele não precisa saber que isso fazia parte de um plano.

Ele me olhou incrédulo.

-Não foi um elogio.

Ótimo, agora o Tony não gosta de mim.

-Se quer saber, era até legal a época em que vocês dois tinham uma amizade colorida e faziam ciúmes no Barry, mas se realmente quer saber, eu não gosto de nenhum de vocês dois como namorados da minha filha.

-Você está dizendo que prefere Barry e eu como amigos da Kayla do que namorados? - questionei confuso.

-Exatamente. - ele virou o copo. - Se quer saber, ela no final acaba ficando com o Peter.

-O quê? - pergunto, mas ele já tinha se levantado e ido embora. - Eu hein...

[...]

P.O.V's Peter.

-Você tem mesmo que ir? - pergunto a Gwen.

Aparentemente, os seus tios que cuidam do irmão mais novo, estão doentes e ela tem que cuidar dele durante um tempo. Ela vai para Nova Jersey.

Estamos na saída dos fundos, para que nenhum paparazzi nos veja. Ela recebeu a ligação a uns minutos atrás, por mais que eu me ofereça para ajudar, ela nega.

Gwen estamos num tipo de... Amizade estranha ou Friendzone como diz Clint. Pode crer, eu passo praticamente o dia inteiro com eles e esses dias foram estranhos, ainda mais quando eu contei que beijei ela na virada do ano.

Tony pareceu não gostar muito, já que fez uma cara estranha, afinal, ele é todo estranho. Já Steve e Bruce vieram com aqueles conselhos do século passado e Clint foi o único que me zoou.

-Eu preciso ir... - ela sinaliza para um táxi, que para na hora.

Enfio minhas mãos nos bolsos, está frio do lado de fora. Gwen ainda vai passar em casa para fazer as malas, mas é aqui que nos despedimos.

-Então, tchau. - ela beija minha bochecha, mas não evito puxá-la para um beijo.

Ela se despede mais uma vez sorrindo, mas o que eu já suspeitava, aconteceu.

Eu não senti nada ao beijá-la, de novo.

Parece que, eu ainda não esqueci Kayla, mesmo tentando e saindo com outra pessoa. O pior de tudo, é que ela sempre me verá como um amigo, e nada além disso.

[...]

Volto para o andar de cima, dessa vez, está tocando Animals de Maroon 5, algumas pessoas estão dançando, outras conversam ou simplesmente bebem, mas tudo que consigo fazer é observar.

Barry está sentado com uma cara péssima, ele não bebe ou come, afinal, ele nem consegue ficar bêbado, isso sim é ruim. Ver aquela foto machucou mais ele do que eu, talvez seja só a confirmação de que não nascemos para ficarmos juntos.

Roy está bebendo a um bom tempo, não vejo Kayla em lugar algum. Será que eles brigaram? Já que Tony parece ter conversado com ele e não saiu muito bem, talvez tenha rolado algo, que eu obviamente perdi. Mas ao julgar o resto dos convidados, não vejo nenhum traço de discussão ou briga.

-Parker. - diz o Diretor Fury ao meu lado.

Nem senti ele chegar.

-Diretor. - devolvo a cordialidade.

-Deveria procurar a senhorita Stark. - e assim saiu.

Por que aparentemente todos querem que eu me aproxime dela? Ela tem um namorado pra isso, tem o Barry também, então por que eu? Parece que o universo conspira contra - talvez a favor - de mim.

Ah, ótimo!

Procurar ela nesse lugar será uma verdadeira...

Começo a aguçar meus sentidos, procurando o seu cheiro ou o som da sua voz, acho que tenho uma ideia de onde ela possa estar.

Me direciono a sala de reuniões, ninguém me vê entrar, já que estão tão bêbados para notar alguma coisa. Ao entrar, vejo uma figura encolhida no canto da sala, os sons eram de soluço e choro.

-Kayla? - chamo seu nome, ela somente levanta a cabeça e continua a chorar.

-Peter, eu sou... uma... péssima pessoa... - ela diz com a voz embargada. Me aproximo dela, mas ela se exalta. - Não, por favor...

Ignoro seu pedido e me sento ao seu lado, abraçando-a com cuidado, como se ela fosse um vidro tão frágil que pudesse quebrar na minha mão. Ela continua chorando um rio, consigo ouvir as batidas do seu coração.

Para piorar, começou a tocar Mirrors River de Justin Timberlake, essa música pode ser bonita, nas também é a definição de tristeza. Somente aumentou a vontade dela chorar.

[...]

P.O.V's Barry.

Estou cansado de ver as pessoas fazendo a mesma coisa, Cait tenta acalmar Ronnie, obviamente, ela está tendo uma péssima noite, tudo por minha culpa.

Levanto-me assustando Caitlin, que me olhou surpresa.

-Eu não fico bêbado, mas isso não me impede de beber.

Começo a caminhar para perto do balcão, evito Roy e Thea, então vou para o outro lado, onde há uma garota, mais ou menos de minha idade. Me sento ao seu lado, mas não lhe dirijo a palavra.

-Um whisky com soda. - peço ao barman, que logo trouxe minha bebida.

-Você é o amigo da Kayla, do show, Barry Allen, não é? - ela disse, puxando assunto.

-Ah, sou... - coço a nuca sem graça, deparo com o tamanho de sua beleza e... Cara, ela é bonita. Não tanto quanto a Kayla, mas é.

-Érika Wayne. - ela estende a mão, dando um sorriso. Devolvo o gesto e dou um gole em minha bebida.

Wayne... Eu já ouvi esse nome.

-Espera, você é a ex do Roy? - perguntei.

-E você é o ex da Thea! - ela diz como se fosse óbvio. Ela levantou seu copo, propondo um brinde. - Aos perdedores!

-Seja bem-vinda ao grupo. - pisco e deixo que a bebida queime minha garganta.

E começamos uma conversa meio incomum, até que incomum demais pra quem acaba de se encontrar pela a primeira vez, mas eu sinto como se não fosse.

Não porque fomos traídos, mas sim porque eu a conheço, de algum lugar que não me lembro agora, mas conheço.

[...]

P.O.V's Roy.

-Roy. - sinto uma mão pesar sobre meu ombro. Oliver. - Precisamos ir.

-O que? Por quê? - questiono, Thea também o olhou confusa.

-É a festa da namorada dele, Ollie! - protesta Thea.

-Sarah está em Gotham. - diz John, já com Lyla ao seu lado.

-Ela está fora do controle, depois que foi ressuscitada nunca foi mais a mesma, Laurel está pedindo nossa ajuda. - informou Felicity.

Sinto muito Kayla, mas eu preciso ir.

Tento achar Érika, se Sarah está em Gotham, ela seria uma ótima ajuda, confesso. Logo a avisto, junto com Barry no canto do bar.

Me dirijo até ela, ambos conversam animadamente. De certa forma, isto desperta um pouco de ciúmes em ver ela com ele.

-Érika, precisamos de você em Gotham. - digo sem enrolar, ela me olhou com as sombrancelhas arqueadas.

-O que é dessa vez?

-A Canário voltou, mais forte e fora de si.

Ela olhou para baixo, provavelmente pensando, mas logo chega a sua decisão final:

-Okay, eu vou.

Oliver se aproxima.

-Prontos?

-Oliver, se precisar de mim... - comenta Barry.

-Seria um grande prazer.

Ótimo, uma missão com esses dois, não podia ficar melhor.

[...]

P.O.V's Kayla.

Acho que chorei por um século, meus olhos se pesam tão facilmente e sinto como se já não houvesse motivos para me manter viva. O gosto amargo das lágrimas, meus lábios estão rachados e feridos, meu nariz escorrendo.

Nunca me senti tão horrível, mas é só o reflexo da minha alma. Ronnie tem razão, eu vivo a vida como se fosse uma brincadeira.

Onde está aquela Kayla que queria fazer algo importante?

Que se importava com o que os outros pensam?

Que respeitava os outros mais do que a si mesma?

Ela ainda existe em mim? Nem que seja no fundo, mas existe? Eu já não me reconheço, não sei quem sou.

Quer saber?

Danem-se meus sentimentos.

Me levanto e limpo o rosto com as mãos, vejo meu reflexo no vidro e sim, estou horrível. Mas eu mereço isso.

-Merda. - digo e vejo Peter se levantar.

-Posso te levar para seu quarto, pela janela, mas não vai ser fácil.

-Obrigada Peter. - sorrio.

Não é um sorriso triste, falso ou simpático, é simplesmente um sorriso. Não quero mais pensar em relacionamentos agora, não quero pensar em mais nada, a não ser curtir minha festa.

Mas preciso limpar o rosto.

Ele se aproxima devagar, pede minha permissão e eu concedo. Ele me segura pela cintura, vejo em seu pulso um bracelete, de onde obviamente tira as teias.

Uma rajada para o outro prédio ao lado. Estou pronta. Permito-me realizar essa loucura. É uma chance. Eu só estou concertando um problema. Não há nada demais nisso.

Meu corpo é puxado em uma velocidade quase surreal, é como se eu estivesse sendo carregada pelo Barry, só que, voando. Outra teia, o meu quarto.

Eu gosto da sensação do vento em meu cabelo, em meu rosto, é como se levasse as coisas ruins. O problema é que foi rápido demais, a maioria dos meus dilemas ficaram.

-Lava esse rosto, há muito o que aproveitar ainda. - disse ele, já caminhando para a porta.

-Espera! - peço e me aproximo dele. - Obrigado por estar sempre do meu lado, literalmente.

Por um certo momento ele me abraça e deixo-me levar por seu perfume, retribuo o abraço com força. Eu não posso perder as pessoas que me amam, não deveria decepcioná-las.

Conheço Ronnie, ele nunca brigaria comigo se eu não estivesse errada. Não mesmo.

-Estou te esperando do lado de fora. - ele diz e beija minha testa, já indo para fora.

Eu tenho me afastado de Peter, mas só há uma verdade: Roy pode me magoar mil vezes, ainda consigo perdoá-lo, Barry sempre estará de braços abertos e Peter sempre me aconselhará sem questionar.

Eu tenho ótimos amigos... E todos apaixonados por mim.

Vou para o banheiro, prometi a mim mesma que não iria pensar em nenhum relacionamento hoje.

Lavo o rosto e faço uma maquiagem mais simples do que a outra. Tento não pensar em nada, dá certo se eu me distrair com algo a toa.

Saio do quarto e acompanho Peter até o elevador.

Minha festa continuou bem, confesso. Roy e o Time Arqueiro sumiram, junto com o Barry e Érika, me desculpei com Ronnie e aproveitei a festa. Como Gwen não estava, Peter ficou sozinho, por isso o puxei para todos os lados.

Íris até apareceu e me tratou bem, tomamos um drink juntas. Mas ela logo foi embora, acho que sem o Barry ela ficou meio perdida.

Passar uma noite inteira e totalmente normal com o Peter mudou meu ponto de vista de muitas coisas, que claramente não vêm ao caso agora. Mas foi bom tê-lo por uma noite, só ele, sem confusões, assassinatos, brigas e alienígenas invadindo a Terra.

Foi bom ser normal por uma noite.

[...]

Deixei para abrir os presentes antes de dormir, ganhei uns muito legais, admito. Tony novamente extrapolou e resolveu me dar uma moto - cara, é uma moto muito linda! -, mas deixei três por último.

Do Barry, Roy e Peter.

Todos me deram uma corrente com um pingente especial e muito lindos.

Do Barry tinha um raio dourado, do Roy um Coração e Flecha e do Peter uma estrela cheia de pontas. Juntei os três pingentes em uma única corrente, todos são importantes pra mim, não podia escolher qual usaria.

Adormeci sem prestar atenção.

[...]

Acordo me sentindo asfixiada.

É como se meu pulmão estivesse sendo comprimido, minhas costelas esmagadas, meu coração se partindo. Vejo que horas são, 03:42 da manhã, mal fechei os olhos.

Minha visão dobra do nada, já não sinto meus dedos da mão, minha cabeça dói mil vezes pior do que qualquer coisa, é como se meu cérebro estivesse sendo derretido e já não consigo pronunciar uma palavra.

Tudo que penso é ignorar minhas dores e clamar por ajuda.

Saio as pressas, tento esquecer cada dor nova que surge, as antigas só pioram. Meus pés descalços falham no meio do corredor, rastejo até a porta de Peter e bato como pude, se foi fraco ou forte, não sei dizer.

Bato mais duas vezes, Peter tem sono pesado, tinha esquecido.

Saio batendo com tudo o que eu pude, toda a força para sobreviver. Ele finalmente aparece na porta assustado e ao me ver, fica desesperado.

-Me... Ajuda. - são as minhas últimas palavras.