TRIM TRIM TRIM.

O despertador tocou tão alto quanto podia. Usei toda minha força para esticar o corpo e expulsar a preguiça – ou pelo menos tentar – enquanto com os olhos fechados tentava pescar o despertador na cômoda. Meu braço acabou tocando-o, no entanto, ele caiu fazendo um barulho estridente quando chegou ao chão. Um gemido frustrante escapou por meus lábios quando lembrei que teria aula dali a algumas horas.

Minha mente foi tomada por fleches de um sonho não esquecido, de repente comecei a me recordar com extrema clareza de tudo o que havia acontecido. Céus! Comecei a agradecer por aquilo ter sido só um sonho, era como se parte de meu cérebro tivesse transformado meu sonho em uma grande bola de neve, e jogado isso na minha cara como um sonho completamente distorcido.

Abro meus olhos com uma sensação de prazer indescritível, pude experimentar mesmo que em um sonho, o que eu quero para minha vida – claro – antes de tudo se distorcer periodicamente. Pisco um pouco atordoada por não reconhecer o teto que obviamente me é familiar á anos, estreito os olhos e os coço certificando-me que estou enxergando perfeitamente bem.

–Oh não. –Murmuro me levantando e correndo imediatamente para frente de meu grande espelho.

O enorme espelho com a moldura dourada me encara com uma única verdade. Lá estava eu, a garota magra que trajava um pijama mais caro que uma cozinha mobiliada. Corri até meu guarda roupa, e lá estava meu CLOSET! MEU CLOSET! Nada havia mudado, tudo estava perfeitamente arrumado e organizado como ontem. Eu respirei profundamente uma, duas, oito vezes. Minha ficha começava a cair aos poucos, eu estava vivendo em uma realidade alternativa? Era isso? Meu sonho estava de cabeça para baixo.

Algo em minha mente aguçou minhas memórias como álcool no fogo.

O diário de aniversário.

Minha última e lastimável lembrança provinha dele, eu havia escrito tantas coisas ruins e tantos desejos nele, era assim uma surpresa tão grande eu acordar em um sonho maluco quando havia desejado isso arduamente toda a minha vida? Sonhos não deveriam ser bons? Quer dizer, finais felizes não deveriam existir? Talvez o tempo que passamos planejando fazer o sonho dar certo, seja justamente aquilo que o faz dar errado.

–Rose?

Me virei para porta onde a garota de pele perfeita e cabelos loiros magníficos me encarava. Sua face parecia meio vacilante quando ela entrou no quarto.

–Bom dia. –Ela cumprimentou.

Estava tudo tão errado, agora o sentimento de deslocamento piorava a cada segundo e eu nada podia fazer, eu queria gritar, fechar os olhos e voltar a minha verdadeira realidade. Isso era o pior engano da face da terra! Algo como isso não poderia passar despercebido por Deus, poderia? Eu imaginada que não, então rezei silenciosamente na minha mente para que tudo se resolvesse.

–Olá. –Eu disse. –Como está? –Perguntei quando me ocorreu que na última noite ela havia sofrido um ataque assim como eu.

Onde eu havia me metido? E por que aquelas pessoas estariam me atacando? Na volta para casa Christian havia me acompanhado, porque Dimitri estava muito ocupado CUIDANDO de Lissa. Foi estranho quando Christian tentou me beijar, eu sempre havia imaginado esse momento, sempre havia planejado cada mínimo detalhe, seus lábios nos meus, suas mãos nos meus cabelos, mas como na última noite não havia sentido nada, nem mesmo as famosas borboletas no estomago. Parte da noite me coloquei a pensar em Dimitri, o que ele estaria fazendo? O que ele estaria pensando? De repente minha mente se tornou um moinho confuso de pensamentos amedrontados e sentimentos negligenciados, pensei que ao fechar os olhos tudo voltaria ao normal, mas me enganei drasticamente.

–Eu estou bem. E você Rose?

“ Na verdade, quero voltar para casa, quero que não sejamos amigas, quero que Dimitri volte a ser só MEU, quero que não haja pessoas escondidas para tirar fotos minhas, quero minha casa e meus ursinhos de pelúcia, quero voltar para casa, não quero mais beijar Christian. Você entendeu? Eu não estou bem. ”

– Estou ótima. –Respondi enquanto voltava a me sentar na cama.

“Apenas respire e seja normal. ” Lembrei a mim mesma.

–Lissa, porque aquelas pessoas nos atacaram?

Lissa me encarou surpresa pela pergunta, ela se aproximou com passos lentos até a cama e se sentou. Percebi que ela usava calças, blusa de mangas compridas e botas mesmo o dia não estando frio, me perguntei se a noite de ontem havia deixado alguma mínima sequela em seu corpo e acabei por me culpar, afinal, eles estavam procurando por mim.

–Quando se é muito famosa como você Rose, as pessoas se interessam pelo dinheiro, e muitas delas fazem loucuras para conseguir.

–Eles eram sequestradores? –Perguntei

Lissa negou com a cabeça, algo me dizia que ela sabia mais do que estava contando.

–Eles eram traficantes. –Disse Lissa com pesar.

Recordando melhor a última noite, pude perceber a familiaridade com que o homem tratou Lissa, mesmo sendo bruto e um completo arrogante ele parecia conhece-la, assim como ela.

–De onde você o conhece Lissa? –Perguntei

Lissa por acaso seria uma usuária? A hipótese não me preocupou, apenas me surpreendeu. O rosto de Lissa mudou repentinamente de cor, a mesma parecia ter sacado o que eu havia pensado e levantou-se abruptamente.

–Você está louca Rose?

Lissa parecia muito irritada e continuava a me encarar.

–Esses são os seus contatos, não os meus. –Ela respondeu de forma ríspida.

Então rapidamente tudo se encaixou e fez sentido. Eu não podia falar, nem mesmo sequer conseguia pronunciar as palavras, então Lissa fez isso por mim:

–Você era uma usuária.

–Impossível. –Murmurei

Ela negou com a cabeça.

– Você começou com isso meses atrás, sua desculpa era que seu trabalho era muito estressante, mas aí veio a bulimia...

–Bulimia?

A situação era mais caótica do que eu pensava. De garota normal, a uma modelo superfamosa bulemica e usuária de drogas. O que havia acontecido comigo? Certamente, eu estava vivendo uma distorcida realidade daquilo que eu havia desejado.

–Mas você parou. –Interrompeu Lissa. – Meses atrás, por isso o ataque na boate.

–Eu estou envolvida com pessoas tão más assim? –Perguntei perplexa

Eu havia parado com as drogas? Porque? Não que isso fosse um fato ruim, só era um fato que me deixou surpresa. Nesse instante de reflexão a porta foi aberta abruptamente e minha mãe entrou esbaforida.

–Rose Hathaway o que significa isso? –Ela questionou me mostrando algo no notebook que estava em suas mãos.

Quando parei para olhar e prestar atenção ao notebook meu queixo foi ao chão, uma foto minha de topless estampava a time line de um famoso site com a legenda.

“Princesa das passarelas ou do pornô? ”