Quando Lissa falou do diário, por um momento pensei que ela estivesse brincando, ou até mesmo tirando algum sarro da minha cara, mas eu já estava tão desesperada que acabei me agarrando e depositando todas as minhas esperanças no velho diário que parecia haver mudado minha realidade. Com o passar do tempo as coisas pareciam mais irreais e malucas, tudo o que eu que eu queria havia se realizado, mas eu pagará um preço alto demais por algo que não me fez feliz, não me leve a mal, desfilar e posar para fotos é a minha vida, e eu amo com todo o meu coração, mas o que eu sacrifiquei no caminho me destruiu de forma lenta e dolorosa.

A casa de Lissa era bonita. Ela já tinha dinheiro pelo que eu me lembrava, e agora só parecia ter mais, não tanto quanto eu – claro – no entanto foi importante lembrar.

Sentada na cama de Lissa e com o diário em mãos, eu realmente cogitava a hipótese de que esse pequeno bloco cheio de folhas amareladas traria a minha vida de volta.

–Ele está intacto, não escrevi nele, apenas o guardei. –Comentou Lissa vendo eu analisar suas páginas. – Está exatamente do jeito que você me deu.

Minhas palavras não estavam lá. O diário estava realmente intacto, como se eu nunca tivesse escrito absolutamente nada nele, nem uma palavrinha sequer. Passei meus dedos pela textura da capa e suspirei, tudo isso era tão confuso, como se eu estivesse presa em um sonho do qual não pudesse sair e isso estava me sufocando.

–Pode ficar com ele de volta se quiser. –Lissa disse.

Eu assenti enquanto levantava meus olhos em sua direção.

–Muito obrigada. –Eu disse.

Lissa sorriu.

–Vou pegar alguma coisa para a gente comer.

Lissa saiu do quarto rapidamente enquanto eu continuava em sua grande cama com o diário em mãos.

–Aqui está você camarada. –Eu disse. – Como faço para voltar para casa agora?

Silêncio.

Suspirei novamente colocando o diário sobre a cama por alguns instantes. Quando fui levantar acabei sem querer tropeçando e então derrubando uma caixa que estava em cima da escrivaninha de Lissa.

–Draga. –Murmurei vendo que diversos papeis haviam se espalhado pelo chão.

Me abaixei rapidamente para recolhe-los, mas minhas mãos congelaram em apenas um quando comecei e ler:

Vasilisa Dragomir & Dimitri Belikov

Convidam você para seu casamento que será realizado no mês de maio.

Minhas mãos tremeram enquanto eu segurava o delicado e perfeito convite de casamento. Eles vão se casar? Era a pergunta que continuava rondando minha mente como nunca. Dimitri não podia se casar, não com ela, não quando eu ainda estava aqui.

O quarto começou a girar em minha volta e me senti fraca de repente, juntei todos os convites rapidamente e os recoloquei na caixa, alcancei o diário e o abracei sobre o peito enquanto caminhava rapidamente até a porta, mas fui barrada por Lissa e um prato de biscoitos.

–Rose, o que houve? Por que está chorando? –Ela perguntou já preocupada

Deus! Porque ela tinha que ser tão boa e tão legal? Porque ela tinha que ser tão perfeita? Porque ela podia se comportar de uma forma que eu nunca pude? Lissa era bonita, doce, sincera e outros milhões de adjetivos que eu passaria meses falando se tivesse tempo. Só notei que escorriam lágrimas de meus olhos quando a mesma me alertou em tom preocupado. Limpei o rosto com uma das palmas das mãos.

–Lembrei que tenho que ir a um algum lugar. –Disse. –Nos vemos mais tarde.

Sem dar tempo para a mesma me questionar eu sai.

A onde eu havia ido parar? Novamente me vi em uma encruzilhada da vida, sem ter para onde correr, em quem me refugiar já que eu não podia dizer para ninguém que estava em um universo alternativo. As pessoas na rua começaram a me olhar estranho, alguns davam risadinhas por onde eu passava, e então começaram os cochichos.

“É a Rose Hathaway! ”

“Deus, é a Rose! A modelo! ”

“Não é aquela modelo famosa? ”

Acelerei meus passos, no entanto, não adiantou, pois, rapidamente uma pequena multidão se formou ao meu redor e várias pessoas começaram a pedir autógrafos e fotos.

Estava prestes a sair correndo quando me permiti lembrar eu era realmente uma superstar, dar atenção aos meus fãs fazia parte do meu papel, não importava minha tristeza, minha força de vontade sempre tinha que se sobressair.

Então, eu fiz a coisa que eu menos queria fazer nesse momento, eu sorri.

– Rose eu te amo tanto! Pode mandar um beijo para minha irmãzinha? –Uma garota aproximadamente da minha idade pediu com uma câmera em mãos.

Eu sorri.

–Qual o nome dela?

–Bianca. –Ela respondeu.

Eu mirei a câmera sorridente.

–Um beijo para você Bianca! Nunca desista de seus sonhos.

A garota com a câmera me abraçou fortemente e quando me largou tinha lagrimas nos olhos.

–Você é incrível! –Ela disse

E então no meio da multidão, ela sumiu. Novos braços me cercaram, me abraçaram, me puxaram para tirar foto, eu assassinei camisetas, revistas, braços, bochechas e várias outras coisas.

Um carro preto e aparentemente caro parou de nosso lado na calçada e a porta se abriu.

–Acabou por hoje galera. –Disse Dimitri afastando as pessoas de mim com a ajuda de mais dois seguranças. – Vocês poderão vê-la amanhã novamente na estreia do filme “A esperança”.

E então eles me levaram. Eu assinei, enquanto estrava no carro e quando estávamos saindo observei o que defini inicialmente como “pequena multidão” e que havia se tornado rapidamente um mutirão no meio da rua.

–Você está ficando Louca Rose? Sair por assim aí, não é bom. –Começou Dimitri. – Liguei para Lissa e não pude acreditar que ela te deixou sair sozinha.

–Não a culpe. –Eu disse. –Eu sai, a culpa não foi dela.

Ele me ignorou.

–Você não pode fazer isso, temos que zelar sua imagem.

–Foda-se minha imagem. –Murmurei.

–O QUE VOCÊ DISSE ROSEMARIE?

Foi engraçado ver Dimitri ficando vermelho, fazia tempo desde que eu o vira ter tal reação para um palavrão vindo de minha boca. Antigamente, era tão fácil, eu e ele, ele e eu, porque de repente nesse universo alternativo, até mesmo respirar perto dele fazia meu coração doer?