O sorriso maligno que Tasha continha em seus lábios fez um arrepio subir sob minha espinha. Sua face demonstrava impaciência enquanto ela voltava a me encarar. Eu me aproximei ainda animada por vê-la e sustentando um sorriso nos lábios.

–Tasha! Onde você estava todo esse tempo? –Perguntei enquanto me esticava para abraça-la.

Eu tinha tantas perguntas para fazer! Como por exemplo o porquê de ela estar de cadeira de rodas, mas minha querida amiga recusou o meu abraço jogando meus braços para o lado.

–Não preciso de sua falsidade Rosemarie, me dê o que eu quero e vou embora. –Tasha atacou-me rudemente.

Confusa por sua rispidez olhei para Lissa que me encarava assombrada e de volta para Tasha respondi:

–O que lhe devo?

Tasha riu com escarnio.

–Não se faça de besta, preciso do dinheiro. –Ela disse. –Ou então amanhã de manhã pode ser que a queridinha das passarelas se torne a mais odiada no mundo.

–Do que você está falando?

Lissa segurou o meu braço como em um aviso mudo de cuidado, mas eu não entendia o porquê, fitei-a ainda encabulada por sua atitude.

–Vá embora Tasha, o dinheiro será depositado ainda hoje. –Lissa disse.

Tasha não disse mais nada, encarou-me uma última vez e virou sua cadeira de rodas prestes a abandonar o local.

–Tasha?

A garota na cadeira de rodas paralisou instantaneamente, meu coração se acelerou de imediato pela surpresa, mas ao contrário de mim Lissa parecia apavorada.

–Dimitri. –Tasha cumprimentou com um sorriso. –Há quanto tempo!

Dimitri se aproximou sorrindo da garota e se abaixou para abraça-la.

–Como você está garota? Há quanto tempo não te vejo! Fazem o que... oito meses?

Tasha sorriu de lado parecendo constrangida.

–A faculdade toma parte de meu tempo. –Ela respondeu. –Quase não tenho tempo para nada.

–E o que está fazendo aqui hoje?

Os olhos de Tasha se voltaram para mim.

–Li as notícias sobre Rose, e tive que vir vê-la.

Algo em mim me disse que ela estava mentindo, realmente mentindo na cara de pau. Dimitri se voltou para mim e Lissa com um sorriso contente, o mesmo parecia alheio a tudo o que acontecia, de forma que parecia saber ainda menos do que eu.

–Porque não vamos todos almoçar? –Dimitri sugere. –Já faz algum tempo desde que fizemos isso.

–Rose tem uma cessão de fotos em meia hora, tenho que a acompanhas. –Lissa disse.

O rosto de Dimitri murchou.

–É uma pena.

–Ainda podemos ir nós dois. –Interrompeu Tasha, seguidamente olhando para Lissa. –Se não tiver problema?

–Claro que não. –Respondeu Dimitri antes eu Lissa pudesse se manifestar.

Tasha sorriu e Dimitri seguiu para trás de sua cadeira para ajudá-la.

–Nos vemos depois.

–Hey espere. –Tasha disse antes que Dimitri pudesse começar a afasta-la.

A mesma pegou um envelope embaixo de sua cadeira e o estendeu para mim.

–Um presente. –Ela disse sorrindo em minha direção.

Eu peguei o envelope meio duvidosa e rapidamente observei os dois se afastarem.

–Não abra, não faz bem reviver isso. – Lissa disse.

Eu a encarei com as sobrancelhas arqueadas.

–Você sabe o que tem aqui?

Lissa rolou os olhos me puxando pelo braço.

– É irrelevante você ficar se torturando.

Me torturando? Mas afinal, do que ela estava falando? O envelope começou a ficar pesado em minhas mãos, meu coração acelerou em antecipação e pude escuta-lo em meus ouvidos bombeando meu sangue rapidamente, de repente a situação se tornou tensa e cansativa, e tudo o que eu queria era descobrir o que se escondia atrás do papel pardo. E assim o fiz.

Eram fotos, várias delas, que sucediam segundos rapidamente mostrando um fato que parecia ter ocorrido há décadas. Não precisei delas para expressivamente lembrar, porque as lembranças me inundaram, e eu pude ver, era eu, não inteiramente, mas lá estava eu e Tasha. As fotos mostravam nossa discussão, minha lembrança me lembrava o porquê, nós estávamos brigando porque ela havia conseguido o contrato com a agencia e eu não, discutíamos porque ela havia me ocultado isso, e então ela me empurrou, eu estava irritada e completamente magoada com ela, então a empurrei de volta, ela estava na ponta da escada, e caiu.

As lembranças de que eu vivi sem nem mesmo notar estavam lá, Tasha perdera os movimentos nas pernas por cair da escada, a agencia dela me ligou para uma nova chance, eu aceitei, e tomei o lugar dela na agencia enquanto ela descobria no hospital que nunca mais poderia voltar a andar.

A culpa me abateu de forma avassaladora.

Como eu pude ser tão fria e tão má? Eu finalmente havia visto o que eu havia me tornado, e não era algo bom, na realidade, eu havia me tornado o tipo de pessoa que eu sempre repudiei.

–Foi um acidente. –Disse Lissa parecendo perceber minha cara de espanto. – Você não teve culpa de nada disso.

Eu a olhei com lágrimas ameaçando cair.

–E tomar seu lugar em uma agencia de modelos, também foi um acidente? –Questionei irritada.

Lissa segurou o meu braço de forma carinhosa.

–Nada disso foi culpa sua Rose, acidentes acontecem todo o tempo, você apenas não deixou de viver por isso e seguiu seu sonho.

–Como pode acreditar nisso? Como pode ter tanta fé em mim?

–Porque sou sua amiga, e amigos acreditam nos amigos.

Sua justificativa me fez questionar sobre tudo o que já pensei sobre Lissa, ela era completamente o oposto de tudo que um dia eu sequer imaginei sobre ela.

–Você lhe enviar dinheiro. –Ela disse. –Todos os meses, você banca as consultas dela, a faculdade, a cadeira de rodas.

–Deve ser remorso. –Digo. –Não sei onde eu estava com a cabeça quando fui escrever naquele maldito diário. – Me incriminei

–Diário? –Perguntou Lissa curiosa.

–Deixa para lá. –Digo – Não tem mais tanta importância.

–Há está, pensei que você o quisesse, eu ainda o guardo.

Virei minha cabeça rapidamente na direção de Lissa.

–O que você disse? –Minha voz ficando mais aguda ao fim da frase.

–O diário que você ganhou de aniversário, lembra? Está comigo.

Minhas pernas fraquejaram, no momento, eu podia ver a solução caindo no céu bem em minhas mãos, ou nas mãos de Lissa.

–Você pode me devolver? –Perguntei um pouco afobada. –Quando eu lhe dei?

Lissa deu de ombros.

–Há um tempo atrás, disse que estava tentando diminuir o lixo em seu quarto. –Ela disse. –Vamos a minha casa, ele está no meu quarto.