Quando se é uma modelo famosa, todos falam de você. Falam do seu cabelo, das suas roupas, das suas joias, do seu jeito de andar, e até mesmo sobre o que você come. Minhas roupas caríssimas não abriam espaço para calça jeans, leggins, ou até mesmo blusinhas mais simples, de jeito nenhum, tudo o que eu tinha inspirava dinheiro de longe.

Minha foto foi finalmente retirada do site de fofocas, mas infelizmente, era tarde demais. Eu já estampava capas de revista, sites e blogs amadores, e quem sabe, até mesmo computadores pessoais. Para sair de casa foi uma guerra, no meu portão impedido pelos seguranças que rondavam a casa estava diversos fotógrafos, eles pareciam afobados em busca de qualquer mínima notícia que pudessem divulgar sobre mim, e algo me dizia que a novidade que eles procuravam não era algo bom.

–Você andou comendo muito essa semana?

Meus pensamentos se tornaram poeira quando a jovem Marlee deu um pequeno beliscão em meu braço tentando chamar minha atenção com suas palavras.

–O que? –Perguntei confusa enquanto me virava em frente ao espelho.

As sobrancelhas de Marlee se enrugaram, seus cachos presos em um rígido e alto rabo de cavalo chacoalharam à medida que sua cabeça balançou negativamente em minha direção de forma desaprovadora. Eu havia conhecido Marlee há quase exatos 30 minutos, mas claro, ela já me conhecia há tempos. Sua mão tomou a minha rapidamente enquanto ela me arrastava para longe dali.

–Seu vestido está apertado, pensei que tivesse parado de comer besteiras. –Ela murmurou. –O que houve com você? Suas medidas estão maiores, em que a funcionaria de ontem me avisou enquanto te vestia, já pensou se as pessoas ficam sabendo disso? Será um escândalo!

Eu estava meramente confusa, suas palavras não pareciam fazer um completo sentido para mim, mas eu as encaixava bem tentando compreender. Estava prestes a questionar Marlee para onde estávamos indo quando a mesma empurrou a porta que dava acesso ao banheiro.

–O que estamos fazendo aqui? - Perguntei

Marlee passou a tranca na porta e cruzou os braços a frente de seu corpo, seus olhos me encararam pacientes por alguns segundos antes de falar:

–Vamos lá Rose, não é a primeira vez que faz isso.

Sua cabeça apontou um dos cubículos do banheiro com extrema certeza, eu fraquejei imaginando a que ela se referia, mas permaneci imóvel perante sua ideia. Meus olhos passaram por todo o banheiro branco, algumas peças belíssimas em tom de verde e dourado me fizeram questionar o quanto chique aquilo tudo soava, me recompus, meu reflexo diante do espelho parecia melhor do que há dias atrás, soava quase como se eu estivesse mais saudável, o que de nada eu duvidava, um leve rosa coloria as minhas bochechas. Respirei profundamente pensando em algo muito bom para fornecer com desculpa a Marlee, e no final, a sinceridade prevaleceu.

–Não vou fazer mais isso.

A mulher me encarou surpresa, talvez pelo confronto ou talvez por não esperar tal reação vinda de mim, eu me virei para o espelho, minha aparência agora despertava certa angustia dentro de mim, saudade, sim! Realmente eu não me reconhecia.

–Você sempre fez isso, qual o problema em colocar tudo para fora agora?

Eu neguei com a cabeça.

–Não é saudável para mim.

Marlee deu de ombros.

–Nunca nos importamos com isso. –Ela rebateu. –Não sei porque se preocupar agora, você está gorda! Uma dieta demora muito tempo, vomitar é a solução.

Essa mulher era louca! Me permiti imaginar fazendo tal ato de provocar o próprio vomito, não consegui, aquilo tudo parecia uma incrível besteira para mim. Estava tão ultrajada com suas palavras que não medi as minhas em resposta:

–Você está demitida.

Seu queixo caiu no chão e seus olhos se dilataram, ela parecia perplexa enquanto assimilava minhas palavras com cuidado. Me senti receosa imediatamente, e se eu não tivesse o poder para demiti-la? “Tarde demais” –Lembrou o meu subconsciente.

–Você não pode fazer isso. –Ela murmurou furiosa.

Estufei o peito e fingi um sorriso, o meu nome era marca e tendência, mesmo que parte dessa louca realidade não me agradasse ainda sim era minha “vida”.

–Eu sou Rose Hathaway, eu posso o que eu quiser.

Fiquei com medo dela me atacar, pular em cima de mim e me descabelar, mas me manti firme em andar até a porta, abri-la e sair sem olhar para trás.

Não consegui dar dois passos antes que alguém me puxasse pelo braço e me fizesse parar.

–Finalmente te achei, onde você estava?

As bochechas de Lissa estavam coradas, não de felicidade ou de vergonhar, muito pelo contrário, sua face mostrava pura irritação e talvez algo mais.

–O que aconteceu? –Perguntei

Lissa respirou fundo algumas vezes, seu nervosismo também se tornara obvio juntamente com a tensão que emanava por seus poros. Seus olhos jades me encararam preocupados.

–Ela está aqui.

Essas pequenas palavras pareciam um tipo diferente de pavor para Lissa, no entanto, eu não conseguia compreender o porquê.

–Quem está aqui? –Perguntei me sentindo meio idiota por não saber.

Mas como falar para Lissa que eu estava vivendo em uma realidade alternativa? Provavelmente eu seria tachada de louca.

–Tasha. –Ela respondeu em um sussurro.

Meu coração acelerou de felicidade, Tasha estava aqui? Minha melhor amiga em todo o mundo estava aqui? De repente não me senti mais sozinha, um enorme sentimento de afeto transbordou de meu coração e eu quis vê-la imediatamente.

–Onde ela está?

Lissa me encarou de forma estranha, talvez pelo enorme sorriso que eu sustentava feliz em eu meu rosto, ou talvez pela imensa vontade que eu estava de vê-la, mas Lissa pelo contrário, não estava feliz.

–Você está bem Rose? –Ela questionou preocupada. –Tentei fazer ela ir embora, mas ela se recusa.

–Ir embora por que?

–Você sabe muito bem o porquê. –Lissa respondeu aos sussurros.

–Onde ela está? –Perguntei novamente.

Lissa congelou ao som de uma doce voz sarcástica que vinha atrás de mim.

–Olá Rose.

Me virei animada esperando encontrar minha belíssima melhor amiga, e na verdade ela estava lá, no entanto, usando uma cadeira de rodas.