O dia estava nublado e Lohana e Alexander estavam a caminho da sorveteria. Os dois caminhavam em silêncio, ninguém tinha coragem de falar e não sabiam exatamente o porquê. Aquilo foi só um beijo, pensou Lohana, mas será que tinha sido “somente um beijo”?

— Ok, esse silêncio é realmente desnecessário. – Indagou Lohana, fazendo Alexander parar de andar.

— E por que? – Ele perguntou confuso.

— Eu não sei o que você está pensando, mas com certeza é sobre o que aconteceu no seu quarto. – Antes de Alexander responder, ela o puxou para um banco na praça. – Desembuche.

— É que... você é muito legal comigo. Acho que você é a primeira amiga que tenho a anos. – Confessou ele cabisbaixo. – E não posso deixar de admitir que tenho receio de afastar minha nova amiga. Você me apresentou como seu namorado para o seu pai. – Ele finalmente olhou Lohana.

— Ah, entendi. Escute, se você quiser parar com isso está tudo bem.

— Não, ao contrário. – Disse Alexander temendo. – Isso tudo está sendo muito divertido.

— Ah, que ótimo! – Lohana disse animada.

Quando decidiram retornar a caminhada até a sorveteria uma forte chuva começou a cair. As pessoas da rua começaram a correr, abrir seus guarda-chuvas, ou fazer qualquer coisa para se esconderem do aguaceiro. Lohana e Alexander mais do que depressa correram até um posto de gasolina e se abrigaram lá.

— Poxa, eu queria tanto sorvete! Mas se formos até a sorveteria vamos ficar ensopados. – Disse Lohana limpando as gotas de chuva do seu rosto.

— Eu tenho uma sugestão... – Alexander fitava o chão. – Podemos comprar sorvete na loja de conveniências e voltar para a sua casa.

Se essa era uma boa ideia Alexander não sabia. Parece que se estivesse no território de Lohana estava mais propenso a se meter em confusão.

— Acho uma boa ideia!

O caminho de volta foi rápido, com alguns tropeços e empurrões entre as pessoas que queriam fugir da tempestade. Logo depois eles estavam subindo as escadas do prédio onde Lohana morava.

— Nossa, finalmente! Estou ensopada. – Reclamou Lohana já abrindo a porta.

— Eu também, talvez seja melhor eu ir.

— Não é preciso, com certeza tem alguma roupa aqui que te sirva.

Alexander não quis contestar e acompanhou Lohana casa a dentro. Ele achou o lugar aconchegante, nada de coisas luxuosas ou caras como na casa dele. Alexander odiava todo aquele luxo, tinha certeza que o dinheiro gasto lá seria mais útil se aplicado em outras coisas.

— Vou conseguir uma toalha e roupas secas para você. – Disse Lohana entrando em seu quarto.

Alexander ficou na sala observando os pequenos detalhes. Havia um sofá verde musgo que parecia um pouco desbotado, uma mesinha com uma tv e dvd do lado oposto do sofá, também havia alguns quadros nas paredes com fotos de Max, Lohana e seu pai.

Alexander teria pensado algumas vezes, como seria sua vida se seus pais não fossem ricos? Será que teria tido mais aventuras, assim como Lohana? Ou será que as coisas terias sidos complicadas? Impossível saber.

— Bom, aqui está! – Disse Lohana tirando Alexander dos seus pensamentos. - Ele agradeceu analisando as roupas. - Pode se trocar no meu quarto. – Ela apontou para uma porta branca próximo a cozinha.

Alexander foi um pouco cauteloso, ele não fazia ideia do que podia encontrar lá. Um quarto todo preto com caveiras nas paredes e camisinhas no chão? Ou totalmente o oposto, quem sabe?

Quando ele abre a porta a única iluminação vem de luzinhas penduradas na parede, como luzes de natal. Observou mais um pouco e fechou a porta, o quarto não era preto mas era escuro, cinza talvez. Tinha uma cama de casal um pouco bagunçada no canto direito, e no esquerdo um guarda-roupa, na sua frente um computador em uma mini escrivaninha que parecia que não era usado a muito tempo, e o que mais chamou atenção estava atrás dele, uma guitarra e um vilão. Além disso as paredes tinham alguns pôsteres e a janela perto da escrivaninha tinha uma cortina roxa.

Alexander se tocou de que ainda estava com as roupas molhadas e estava com frio. Secou-se e vestiu tudo rapidamente. Uma calça jeans preta e uma blusa de uma banda chamada Mötley Crüe que Alexander não conhecia. Logo pegou suas roupas molhadas e saiu do quarto. Quando Lohana o viu, disse:

— Até que você fica bem com essas roupas. – E deu uma risadinha que deixou Alexander sem jeito. – Vamos, me dê essa roupa molhada.

Lohana também já estava vestida, usava shorts e regata branca. Ela pegou as roupas, colocou em uma sacola e entregou de volta para Alexander.

— Desculpe, não temos secadora. – Ela deu de ombros.

— Está tudo bem.

Alexander não sabia o que fazer, devia ir? Ficar? Sorrir? Ele preferiu deixar sua sacola próximo a porta e sentar-se no sofá. Logo depois Lohana voltou com o sorvete que haviam comprado e colheres, ela sentou ao lado dele e ligou a tv.

— O quer assistir?

— Você escolhe. – Disse Alexander nervoso.

Lohana deu uma pausa e olhou para ele.

— Você está bem? – Perguntou – Você parece desconfortável.

— Talvez um pouco. – Ele admitiu.

— E por que? – Lohana insistiu. – Relaxe.

— Você sabe Lohana, eu não saio muito.

— Você só veio tomar sorvete na casa da sua amiga, ou melhor, namorada.

— Isso me assusta um pouco. Eu sei que a maioria dos namoros não são como o nosso, mas ai eu lembro que é um namoro de fachada.

— E você não quer isso, não é?

— Sempre quis namorar, mas não sabia que seria assim.

— E você está decepcionado consigo mesmo, então vamos ser amigos.

— Se estiver tudo bem para você, não gostaria que ficasse chateada comigo, Lohana.

— Não se preocupe. – Lohana sorriu. – Não estou.

— Acho que seria melhor eu ir. - Alexander levantou-se, mas Lohana o puxou de volta.

— Vamos assistir um fil...

Lohana não terminou a frase, Alexander caiu desajeitado no sofá batendo  a cabeça na parede. Ele grunhiu e pôs a mão onde havia batido.

— Me desculpe! – Lohana gritou.

Ela chegou mais perto para ver como estava sua cabeça. Perto demais, pensou Alexander.

— Acho que você está um pouco...

— Perto demais? – Completou Lohana. – Isso é um problema?

— Acho que sim. – Alexander tirou a mão da cabeça e pôs sobre suas pernas.

— Por que?

Alexander jamais admitiria que queria beijar Lohana, nem para ela e nem para si próprio. Não tendo nenhuma resposta ela começou a se afastar, porém Alexander se aproximou mais fazendo-a parar e ficarem a alguns centímetros de distância um do outro. Não sei o que estou fazendo, mas quero... pensou Alexander confuso, se aproximou mais de Lohana fazendo seus lábios se tocarem. Lohana colocou sua mão na nuca dele fazendo o beijo se aprofundar. Não era como o beijo cheio de fogo de antes, mas também não era um beijo “sem graça”. Era um beijo termo, lento. Alexander estava gostando daquela sensação, não queria parar, e Lohana estava um pouco impressionada com a situação, era diferente para ela. Lohana sempre tinha o controle de tudo, inclusive com rapazes. Era sempre ela que dava a primeira jogada, mas agora ela só estava seguindo o ritmo de Alexander.

— Ah, eu não queria atrapalhar! – Disse Max enquanto entrava na casa.

Alexander e Lohana pararam e, apesar do susto, não tentaram disfarçar o que estavam fazendo, pelo menos Lohana não estava.