Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Mais um capítulo que escrevi com muito carinho. Gostaria da opinião de vocês sobre o tamanho dos capítulos. Está muito grande? Vocês preferem eles menores? Me digam o que vocês gostariam mais. E boa leitura. :)



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“Os grandes homens estão muitas vezes solitários. Mas essa solidão é parte da sua capacidade de criar. O caráter, assim como a fotografia, desenvolve-se no escuro”. (Youssuf Karsh)

  A cabeça de Gil doía. Apesar de todo o constrangimento, não parecia capaz de controlar o desespero. As lágrimas teimavam em lhe cobrir os olhos, deixando pelo seu rosto a trilha salgada da sua vulnerabilidade.

Sara apressou-se em buscar um copo d’água enquanto os outros membros da equipe tentavam acalmar a assistente. No intervalo de cada gole da bebida, Gil suspirava. Queria ter fôlego para dizer que ficaria bem, que não era preciso tanta preocupação e que assumiria as consequências do seu erro. 

Mas não estava em condições.

Gil se sentia tão exposta. O chefe a humilhou de tal maneira, que nem ao menos lhe dera a oportunidade de camuflar as suas emoções, e sabia que seria lembrada como a-assistente-que-Parker-fez-chorar.

E o odiou por isso.

O odiou ainda mais pela sua intolerância. Por não lhe dar um minuto sequer para explicar-se. Gil jamais ousaria tocar no nome de Elaine, mas tentaria convencê-lo de que a sua ausência tivera um motivo nobre, e não apenas uma questão fútil como ele fizera parecer. Mas o Sr. Parker não lhe permitiu. E em nenhum momento considerou os esforços anteriores de Gil.

Demitida.

E sentiu raiva de si mesma quando se deu conta de que já não chorava pelo emprego perdido. Gil chorava pela represália. Chorava porque aquele chefe que a elogiava e admirava o seu trabalho, aquele chefe que confiava em suas ideias e soluções, aquele chefe que, inexplicavelmente, se preocupou com as suas olheiras e lhe comprou suplementos, esse mesmo homem... Nem sequer a olhou nos olhos.

Oliver, que antes havia seguido o líder de equipe, surgiu novamente na sala. E com muita delicadeza, ajoelhou-se à frente de Gil.

— Você não vai a lugar nenhum. — Oliver limpou as lágrimas da assistente com a ponta de seu polegar. — Parker está de cabeça quente. Ele precisa de uma boa noite de sono. Hoje deu tudo errado.

— E o que eu faço? Assino a carta de demissão? — Gil fungou, segurando uma nova onda de choro que estava prestes a se formar.

— Amanhã você explica o que aconteceu e acertam tudo, pode ser? — Oliver encarou Gil com ternura. — E pessoal, vamos trabalhar? O show acabou. — ele se levantou e ajudou a assistente a se recompor. — Eu vou conversar com o Parker, por enquanto, vá para casa.

Gil seguiu até a sua sala e recolheu todos os seus pertences. Por mais que Oliver tentasse apaziguar o temperamento do Sr. Parker, ela já não tinha a menor intenção de continuar naquele lugar. Não se lamentaria por ele. Já havia tolerado muito mais do que a sua personalidade permitia. Deveria ter imaginado que não duraria muito tempo trabalhando ao lado de uma pessoa tão temperamental. Era apenas... coisa demais para ela lidar.

Decidiu consigo mesma que seguiria com a consciência tranquila, sem nenhum arrependimento. Sofrer não mudaria as circunstâncias e ela estava longe de ser a correta dessa situação, tampouco a vítima. 

Nesse momento, a sua única preocupação era com a irmã.

Gil já estava cansada de que somente Kerya assumisse as contas da casa. Pela primeira vez, se via capaz de ajudar expressivamente no orçamento, e obviamente, o seu salário de assistente faria uma grande falta. E sabia muito bem que Kerya se esforçaria ao máximo para que ela não se sentisse mal por causa da demissão, e se fosse necessário, a irmã faria até mesmo o dobro de horas extras para segurar a barra. E isso a chateou. Sentiu-se uma perdedora, estava de novo, na estaca zero.

No caminho de volta para a casa, Gil refletiu quais palavras usaria com a irmã. Resolveu ocultar alguns detalhes, sobretudo, a falta de consideração do ex-chefe, Kerya seria capaz de aparecer na empresa e ameaçá-lo com uma tesoura. 

O que não seria uma má ideia.

— E foi isso o que aconteceu. — Gil resumiu todo o ocorrido para Kerya e esperou que a irmã dissesse alguma coisa. 

— Você cometeu um erro. — ponderou Kerya. — Mas é uma funcionária tão dedicada. E se você conversasse com o Sr. Parker mais uma vez? Eu tenho certeza que aquele lunático te aceitaria de volta em dois minu-

— Eu nunca mais quero trabalhar ao lado daquele homem. — Gil interrompeu a irmã.

— Certo. — Kerya percebeu a expressão chateada de Gil. 

— Você me disse que tinha uma novidade, qual é? — Gil quis mudar de assunto.

— Eu estou um pouco sem graça de dizer. — confessou Kerya. — É que justo hoje... Eu fui promovida. — Kerya finalmente revelou, parecendo um tanto tímida.

— Mas isso é uma notícia maravilhosa! — Gil deu o primeiro sorriso desde que havia sido demitida. 

— Eu sei, mas dada as circunstâncias, eu não queria parecer entusiasmada demais justamente hoje.

— Não seja boba, uma coisa não tem nada a ver com a outra. — Gil respondeu sincera. — Aliás, já me sinto melhor, pelo menos terei algum tempo até conseguir um novo emprego.

— Não se preocupe com isso.

— Eu preciso. — Gil bufou exausta. — Eu realmente preciso me preocupar.

— Quer saber? — Kerya levantou-se do sofá com uma expressão determinada. — Hoje eu vou cozinhar a sua comida favorita.

“Ceviche”, as irmãs falaram juntas.

— E não é só isso... — Kerya continuou como se estivesse anunciando em alguma propaganda. — Vamos beber vinho barato e assistir Supernatural¹ até não aguentarmos mais.

E Kerya realmente fizera o melhor que pode juntando todas as coisas que Gil mais gostava numa única noite. E depois de um jantar maravilhoso, a irmã a abraçou com muito carinho enquanto permaneciam no sofá assistindo a TV. Mas ainda assim, Gil não conseguia parar de pensar nele.

Sentiu-se ingrata por isso, mas não podia evitar. As lembranças das palavras do Sr. Parker ecoavam em sua cabeça, e a vontade de chorar começou a rodeá-la novamente.

Estava quase impossível manter o seu foco. Despediu-se da irmã, que mesmo relutante, compreendeu que Gil precisava se retirar, e então, se esforçou para dormir. E mesmo que a sua preocupação pela Sra. Parker a estivesse atormentando, sabia exatamente o que precisava fazer.

Gil precisava desligar-se do ex-chefe e de todas as lembranças relacionadas a ele.

xXx

Vincent observava as luzes da cidade pela janela do hospital. Ao seu lado, Elaine dormia tranquilamente. Ele jamais entenderia a forma despreocupada que a sua mãe levava a vida. Nada parecia abalá-la. Vincent balançou a cabeça negativamente. 

Estava exausto. O seu dia havia sido terrível. As coisas não aconteceram como ele imaginava. Não foi capaz de chegar a tempo na cirurgia da mãe, não conseguiu fechar o contrato com os fornecedores e ainda foi obrigado a lidar com problemas na equipe.

Gilan.

Por que a maldita assistente não saía da sua cabeça? Não havia mais nada para ser dito. E essa não seria a primeira, e nem a última vez, que ele demitiria um funcionário. Mas ainda sim, porque se sentia tão incomodado com isso?

Talvez a culpa fosse de Oliver, que o encheu de dúvidas dizendo que a sua reação havia sido desproporcional. E tudo bem. Ele sabia que não havia dado à assistente a oportunidade de explicar-se. Mas que diferença isso faria? A jovem já o conhecia o suficiente para saber as condições do seu trabalho. Ele não suportava atrasos ou faltas desprogramadas e ainda tinha o agravante de que ela, de fato, havia sido displicente com as suas obrigações.

Não que fosse comum que a assistente errasse, na verdade, a jovem quase sempre agia de maneira impecável.

Vincent bufou. Tinha consciência de que poderia ser mais complacente, porém, antes de qualquer coisa ele precisava ser justo. Uma regra, quando vale para um, deve valer para todos. E Gilan não poderia ser a exceção.

Escutou um suave gemido que o despertou de seus pensamentos.

— Mãe! — A senhora está sentindo alguma dor? — ele se aproximou da cama. 

—  Até que enfim você veio me visitar. — Elaine estava sonolenta e fez força para se sentar.

— Não diga isso. Eu realmente-

— Tudo bem, meu querido. — Elaine interrompeu o filho. — O pior já passou. Mas quando o Arturo te encontrar você ouvirá poucas e boas. Afinal, onde você se meteu?

— Eu fiquei sem sinal no meu celular. Corri para o hospital assim que soube. — Vincent respondeu com a expressão abatida.

— Você está aqui há quanto tempo? — Elaine o encarou com espanto.

— Há algumas horas.

Os olhos de Elaine lacrimejaram um pouco. — Devia ter me acordado. Você já jantou? Eu estou faminta, — Elaine se aproximou e sussurrou para o filho. — estão tentando me matar de fome nesse hospital, sabia?

— Tenho certeza que sim. — Vincent sorriu. — Me diga, o que a madame deseja comer?

— O que temos no menu

Vincent franziu a testa e analisou a bandeja de comida em cima da bancada. — Temos sopa, um suco duvidoso, bolachinhas crocantes, — Vincent mordeu uma e torceu o nariz. — totalmente sem gosto. E uma gelatina que com certeza não tem sabor nenhum.

— Definitivamente, eu odeio hospitais. — reclamou Elaine, revirando os olhos.

— Não seja uma reclamona, Sra. Parker. Apenas coma. — Vincent colocou a bandeja no colo da mãe. 

Elaine devorou as tais bolachinhas sem gosto. — Não se preocupe comigo, querido. Você se lembra de quando eu tirei aquela hérnia horrível? Eu tinha certeza de que iria morrer e ainda fiz a sua tia jurar que cuidaria de você. E veja só, ela se foi primeiro, que Deus a tenha. Aquela bandida, ainda teve a coragem de me dizer: "Você morrer, Elaine? Vaso ruim não quebra". Mas eu admito, sou mesmo osso duro de roer e não vou embora tão fácil assim, não. Ou você acha que toda essa sua teimosia é à toa? Isso é DNA Parker, está no sangue. Um sangue ruim, é claro, mas está ali.

Vincent colocou a mão na testa e não resistiu soltar uma gargalhada. A situação podia ser a pior possível que Elaine, ainda assim, encontraria uma maneira de tagarelar bobagens até deixá-lo tonto.

Por outro lado, sentiu-se aliviado ao vê-la se alimentando e falando de maneira tão disposta. Conversaram por tantas horas que Vincent sequer notou o quão tarde já estava. Ele sentia-se tão cansado que mal prestava a atenção no que a mãe dizia. Na verdade, ele apenas queria ficar ao lado de Elaine, e mesmo que o seu tio fosse passar a noite com ela, estava adiando se despedir e deixá-la naquele hospital.

— ...E a Gil até tentou conversar com a enfermeira sobre esses travesseiros desconfortáveis, mas aquela rabugenta parece que pegou implicância comigo, sabe? Logo eu, que sou tão simpática e quase não dou trabalho.

— O que a senhora disse? — Vincent estalou os olhos. —  A Gil esteve aqui? A Gilan? A minha assistente... Gilan?

— E você conhece mais alguém com esse nome? — Elaine zombou do filho.

— Eu estou falando sério. — Vincent retrucou impaciente. — Quando ela esteve aqui?

— Ora, e quem você acha que atendeu a ligação do hospital? — respondeu Elaine. — Gil passou toda a tarde me fazendo companhia, é claro. Ah! Como eu gostaria que ela viesse todos os dias, mas provavelmente eu a mataria de tédio. Uma moça tão jovem e bonita trancada num quarto de hospital? Nem pensar!

xXx

Gil levantou-se mais cedo do que havia planejado. Não que a sua pressa de chegar à empresa fosse grande, longe disso. Se pudesse, adiaria ainda mais esse momento. A última coisa que queria era encarar o Sr. Parker novamente. Porém, não foi capaz de pregar os olhos durante toda a noite e seria inútil ficar se debatendo na cama. 

Ela sabia que deveria enfrentar essa situação cedo ou tarde, e faria isso da maneira mais digna que conseguisse.

Porém, por vezes, pegava-se numa discussão imaginária com o ex-chefe. Tinha tanto o que dizer. Mas pensando bem, não valia mais a pena. Tentou pensar em outras coisas enquanto caminhava devagar pela rua. Chegou à frente da pequena cafeteria, que ela, todas as manhãs, comprava café para o ex-chefe. 

Viu-se então, automaticamente pedindo um Americano sem açúcar e com creme de avelã. Teve vontade de rir. Era uma cena ridícula para alguém que nem ao menos gostava de avelã.

Apoiou-se no canto do balcão e observou distraidamente os atendentes trabalharem. Não sabia dizer se o seu desânimo era apenas pelo pedido errado ou pelo Sr. Parker. Ter que vê-lo novamente a estava torturando e o frio na barriga aumentava conforme os minutos iam passando. Sentiu-se idiota quando se viu planejando entregar o tal café para o ex-chefe, Gil imaginou que essa seria uma forma de se despedir cordialmente. 

Ou ela apenas poderia cuspir no copo. 

Então, Gil escutou uma respiração ritmada atrás de si e deparou-se com a presença de um homem alto, cabelos desalinhados e olhos verdes amigáveis: Matthew. Green.

— Pensei que detestasse creme de avelã. — o produtor observou.

— E eu detesto. É a força do hábito. — Gil respondeu gentilmente.

— Oliver me ligou ontem à noite. — o produtor revelou. — Não existe a menor possibilidade de Parker te tirar do projeto. Ele não encontraria nem as próprias meias sem a sua ajuda.

— Eu não acredito em funcionários insubstituíveis, Sr. Green. — retrucou Gil. — Logo ele contrata outra pessoa.

— Você está certa. — o produtor assentiu. — E sim, provavelmente ele contrate.

Gil ficou em silêncio. A última coisa que ela precisava nesse momento era de alguém que a obrigasse a interagir.

— Mas mesmo que ele encontre alguém… — ele continuou. — Eu duvido que seja um por cento do que você é. — Gil o encarou sem piscar os olhos. — Toda a sua paciência e dedicação, não são qualidades fáceis de encontrar. E Vincent sabe disso. Nesses poucos meses, ele te deu liberdade para decidir assuntos que nenhuma outra assistente teve.

— E eu, ainda sim, fui capaz de decepcioná-lo. — murmurou Gil, se sentindo pior do que antes.

— Acha mesmo que foi demitida só porque esqueceu aqueles canhotos? — o produtor balançou a cabeça e sorriu.

— Bom, passar a tarde inteira ausente também contribuiu.

— Vincent tentou falar com você ontem, e ele tentou isso desesperadamente. Enquanto voltávamos para a B&B Larsson, ele dirigia igual um maluco, olhava o relógio de cinco em cinco segundos. Parecia muito ansioso. — o produtor revelou enquanto pegavam os seus pedidos e seguiam em direção a uma mesa no fundo da cafeteria. — Quando nós finalmente chegamos e ele não te encontrou... Ele enlouqueceu. Ele simplesmente enlouqueceu. Acho que Vincent se esqueceu de como trabalhar sem a sua presença e teve um surto.

— Sr. Green, existem alguns assuntos que o senhor desconhece, essa ansiedade dele não era por causa da minha ausência, eu lhe garanto. — retrucou Gil, sentindo-se deprimida ao imaginar o chefe sofrendo por notícias da mãe.

— Entendo. — o produtor respondeu simplesmente.

— Esse surto, como o senhor disse, não tem a ver comigo. — Gil insistiu.

O produtor a encarou. — Eu tenho a impressão de que Vincent precisa muito de você.

Gil soltou uma risada sarcástica.

— O Sr. Parker é a pessoa mais egocêntrica que eu já conheci. A única pessoa de quem ele precisa, é dele mesmo.

— Eu conheço ele há um bom tempo, e garanto que Vincent te elogia além do comum.

— É porque eu sou muito competente. — brincou Gil, sorrindo e empinando o nariz.

— Eu sei. E essa é só uma das suas notáveis qualidades. — o produtor não desviou o seu olhar de Gil e a assistente encarou o teto, fazendo o jovem soltar um sorriso caloroso.

— O quê é tão engraçado? — Gil ergueu uma das sobrancelhas.

— Você sempre foi tímida assim? — ele perguntou. 

— Eu tenho dificuldade em aceitar elogios. — ela murmurou.

— Deve ser difícil conviver com isso, você provavelmente deve ouvir muitos.

— O senhor não vai beber o seu café, não? — Gil desconversou.

— E você? Não vai beber o seu? — ele retrucou.

— Não é para mim, lembra? — ela respondeu desanimada.

— Nem o meu. Comprei para você. Esse tem canela.

— Mas como o senhor sabe que eu gos-

— Eu sou um bom observador, Gil. — o produtor a interrompeu. — E não me chame de senhor, soa estranho.

Gil sorriu um pouco sem graça, era resistente em criar intimidade com as pessoas. 

— Não precisa ser formal comigo. — o produtor pareceu tentar tranquilizá-la. Matthew Green realmente era um bom observador.

— E o que mais o se–- Digo, você... Observou de mim? — perguntou Gil, com uma genuína curiosidade.

— O que mais eu observei de você? — o jovem produtor hesitou, e em seguida, abaixou os olhos. — Quando algo te irrita você contrai os lábios e respira um pouco mais alto. Você ajeita as mangas da sua blusa sempre que tem uma boa ideia. Só usa os óculos quando precisa ler letras muito minúsculas e sempre esquece que ele está pendurado na sua blusa. Tem algo intrigante no contorno dos seus olhos também. Eles são de um tom mais escuro que o restante, e quando chove surge uma cor esverdeada que me faz lembrar do oceano. O alto dele. O alto mar. — Matt parou de falar e a encarou novamente, a expressão de Gil oscilava entre o espanto e o embaraço. — Ótimo. Agora você está me olhando como se eu fosse um stalker obcecado.

— Não, não é isso. —  Gil piscou repetidas vezes. — Eu só estou impressionada.

— Eu tenho que ir. — Matt levantou-se de repente e trocou o seu café pelo dela. — Se me permite, eu ficarei com o café de Vincent, ele não está merecendo muito.

— Claro. E obrigada, eu realmente... Eu adoro canela.

— Eu sei. — o produtor disse, antes de se afastar definitivamente da mesa de Gil.

Ela relaxou os ombros e soltou a respiração. Entre um gole e outro, permaneceu estática. Será que tinha perdido completamente a noção da realidade ou Matthew Green parecia interessado nela?

xXx

Os colegas da equipe cumprimentaram Gil afetuosamente, porém, o clima era de constante curiosidade. Todos pareciam aflitos pelas próximas notícias e disfarçavam com perguntas triviais, como se nada estivesse acontecendo. Gil sentiu uma vontade sincera de desaparecer. A sua tentativa de conversar com Sara resultou num fio de voz, rouco e quase inaudível. Estava muito nervosa para sustentar qualquer assunto.

Estranhamente, foi Oliver quem surgiu primeiro no décimo quarto andar. Quando avistou Gil, se aproximou e lhe entregou o relatório diário, sorriu de forma agradável e saiu.

Enquanto lia distraidamente algumas informações, ela ouviu passos. A voz grossa do Sr. Parker quebrou o silêncio quando ele pediu que Sara fosse até a sua sala. O coração de Gil acelerou ridiculamente, e sem tirar os olhos dos documentos, ela continuou escutando os movimentos do ex-chefe. Ouviu-o abrir a porta, falar alguma coisa no celular e entrar acompanhado da colega.

Cerca de alguns minutos depois – provavelmente os minutos mais longos de sua vida – a secretária a chamou.

— O Sr. Parker quer falar com você, Gil.

Gil esperou alguns minutos, em seguida, bateu levemente na porta e entrou.

Tentou não fazer muito barulho com a sua presença, mas provavelmente qualquer um conseguiria escutar os seus ossos tremerem. Entretanto, o ex-chefe apenas manteve a sua expressão séria e continuava não a encarando nos olhos.

Aparentemente, uma noite de sono não resolveu o humor do Sr. Parker como Oliver havia apostado. E esse fato a deprimiu tão dolorosamente que desejou não ter que encará-lo nunca mais. Por que ela não poderia simplesmente assinar a demissão na sala de RH?

O que ele ainda tinha a dizer? 

Mas de repente, o ex-chefe levantou-se da cadeira e seguiu em sua direção, e ela reparou que os seus olhos tinham um aspecto úmido e avermelhado. E tudo aconteceu tão rápido que Gil sequer teve a oportunidade de dizer uma só palavra. 

O ex-chefe a olhava fixamente e poucos segundos depois, Gil sentiu a sua pele se aproximar do corpo dele.  E o Sr. Parker a puxou subitamente para um abraço.

Gil arregalou os olhos. O tórax dele pressionava contra o seu pequeno rosto. Ela o sentia muito quente e estava completamente envolvida pelo grande corpo dele. Gil conseguia escutar nitidamente as batidas do coração do Sr. Parker.

Os braços que a apertavam eram fortes e continham uma firmeza diferente de qualquer outro abraço que ela já havia recebido. Gil não sabia como deveria reagir. Parecia um gesto arrasadoramente honesto. O Sr. Parker parecia tão... Quebrado.

Gil simplesmente se deixou abraçar, e o ex-chefe a apertou ainda mais. Ela foi erguida pela força dos músculos dele e ficou apoiada nas pontas dos pés, como se flutuasse. E a sensação era exatamente essa, como um sonho improvável.

Mas não era um sonho. O que acontecia era real. E era o Sr. Parker quem estava ali, e era o corpo dele que suplicava para ser abraçado também.

Transtornada e cheia de receios, Gil deslizou os seus braços em volta das costas tensas dele e o tocou levemente, apenas com as pontas dos dedos. O ex-chefe se contorceu e afogou o rosto nos cabelos de Gil. Ele tremia tanto que ela não conseguiu mais reprimir a vontade de tocá-lo, e o agarrou finalmente, devolvendo a ele a mesma intensidade no abraço.

— Obrigado, Gilan. Por não deixá-la sozinha. Obrigado. — o Sr. Parker sussurrou, apertando ainda mais o corpo de Gil. — Você sabe o que ela tem, não sabe?

Quando Gil murmurou um "sim", o ex-chefe perdeu as forças de suas pernas e simplesmente ajoelhou-se diante dela. Ela o fitou por alguns segundos e uma tristeza insuportável invadiu o seu peito. 

O ex-chefe entrelaçou os dedos em uma de suas mãos e a puxou suavemente. Gil não demonstrou resistência e juntou-se a ele no chão. Ele segurou a cintura dela com força, não permitindo que ela se movesse. O calor do corpo dele lhe deu uma sensação mista de sufoco e prazer. Tê-lo tão perto era algo quase irreal e ela não queria, de maneira alguma, afastá-lo. E então, como se tudo já não estivesse angustiante o suficiente — sozinhos e ajoelhados no meio da sala — o Sr. Parker encostou a testa nos ombros de Gil, e chorou.

Chorou desesperadamente, como se não houvesse entre eles, nenhum constrangimento.

 


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Notas finais do capítulo

Não consegui revisar. Se encontrarem algum erro, por favor me avisem? Obrigada por lerem até aqui. Até a próxima. o/


¹ Supernatural é uma série de televisão norte-americana criada por Eric Kripke e produzida pela Warner Bros. Television.



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