Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Pois é, outro capítulo grande. Pensei em dividir em duas partes, mas fiquei com medo que perdesse o "ritmo". Espero que vocês estejam gostando, logo logo essa história vai chegar no ponto central, não desistam!!! :)



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“A maior distância entre duas pessoas é o mal entendido”. (Desconhecido) 

A noite passada poderia ser confundida com um breve delírio de Gil, já que no dia seguinte a realidade era bastante diferente.

O chefe bateu o seu recorde de mau humor e aparentemente, a sua noite de sono havia sido péssima. Muito diferente de Gil, que graças aos suplementos que ganhara, já se sentia mais disposta do que antes.

— Qual a dificuldade em elaborar essa porcaria de relatório? — o Sr. Parker repreendeu um dos membros da equipe. — Gilan, por favor, mostre para eles como precisam fazer.

Gil sentou-se em volta da mesa e sorriu docemente para o funcionário, que nesse momento já estava completamente apavorado. Mostrou com paciência alguns relatórios, explicando passo a passo o que deveria ser feito. Sempre buscava ser atenciosa com todos. De alguma forma, isso amenizava a falta de delicadeza do chefe. Gil sabia o tanto que o Sr. Parker poderia ser estúpido e que conversar com ele não era exatamente a tarefa favorita da equipe.

— E como nós faremos a modelagem? Essa é a segunda agência que você recusa. — questionou Oliver.

— Me tragam a agência que eu exigi e eu não rejeito mais. — o chefe retrucou.

— Mas Parker, está praticamente impossível conseguir uma reunião com eles e o prazo está quase-- — Oliver foi interrompido por Gil.

— Sr. Luhan, eles acabaram de me responder... — Gil olhava fixamente para o seu notebook. — Dia nove, dez horas da manhã, vinte minutos de reunião.

— Eu não disse? Srta. Missão impossível. — o chefe levantou-se e saiu da sala com um sorriso satisfeito. E Oliver virou-se para Gil, apontou o dedo na direção dela e mexeu a sua boca dizendo “Você. É. Demais”.

Entretanto, Gil não teve sequer um minuto de alívio para desfrutar do seu elogio, pois escutou um grito ensurdecedor vindo da sala do chefe.

O Sr. Parker berrava o seu nome repetidas vezes.

— S-senhor, Par-Parker? — Gil estava ofegante pela corrida até a sala dele. — O que aconteceu, meu Deus?

Gil percebeu na cadeira do chefe a presença de uma elegante senhora, e pelos sorrisos estimulantes que ela distribuía, a mulher parecia muito confortável ao lado do Sr. Parker, não se importando nem um pouco com a expressão furiosa do homem.

A senhora girou 360 graus com a cadeira e soltou um grito agudo e animado. E por fim, com muita simpatia, acenou freneticamente para Gil.

— Você sabe quem é essa senhora? — o chefe perguntou, com as mãos apoiadas na cintura.

— Não, é óbvio que eu não sei. — Gil respondeu sem entender nada.

Como ela poderia conhecer alguém, que além de estar sentada na cadeira do líder de equipe, rodopiava feito um pião?

— Essa magnífica e simpática senhora, é Elaine Parker, mais conhecida como a minha adorável mãe. — o Sr. Parker revelou, apontando para a senhora. — Portanto, decore bem esse rostinho irritante e não a deixe entrar na minha sala...  Nunca mais.

— Ora, minha querida, —  disse Elaine, se levantando e indo em direção ao filho. — não repare os maus modos de Vincent, sabe como é... Eu não o amamentei por tempo suficiente.

Gil colocou uma das mãos na frente da boca tentando abafar a vontade incontrolável de rir, e mesmo encarando fixamente o chão, sentiu o olhar de reprovação do chefe sobre ela. Mas a situação era inegavelmente hilária. Gil jamais imaginaria que o Sr. Parker, justamente ele, fosse filho de uma mulher tão espirituosa.

— O que a senhora faz aqui? Eu estou ocupadíssimo. — ele reclamou com a mãe.

— E desde quando uma mãe precisa de motivos para visitar o seu filho? E me responda, quando é que você não está ocupadíssimo? — Elaine encarou Gil com curiosidade. — E quem é essa beleza? E que olhos incríveis você tem. Diga-me, qual o seu nome? Você é nova por aqui?

Gil corou diante dos elogios e fez menção de responder, mas foi bruscamente interrompida pelo chefe.

— Mãe, chega de tagarelar, por favor. — o Sr. Parker suplicou, colocando uma das mãos na testa. — Eu te ligo mais tarde, eu prometo.

— Minha querida, — Elaine olhou para Gil, e com a voz suave, fez um pedido. — você poderia nos dar um momento?

— Mas é claro. Fiquem à vontade. — respondeu Gil, retirando-se com uma estranha sensação de que apesar do largo sorriso no rosto, a mulher tinha algo muito sério a dizer.

xXx

Os dias que se seguiram após a conversa do chefe com a Sra. Parker foram atípicos. Desde então, Gil observou que ele não ficava mais trabalhando até tarde da noite. E muitas vezes, até saía antes do horário de expediente.

Com isso, as fofocas se espalhavam por toda a equipe e a curiosidade das pessoas começou a preocupá-la. Era óbvio que algo havia acontecido, mas o chefe não tinha nenhuma obrigação de compartilhar as suas informações pessoais com ninguém.

Gil sentia uma enorme inquietação, queria ajudar em algo. Mas não encontrava nenhuma abertura para se aproximar. O humor do chefe não costumava ser dos melhores, tampouco a sua educação, mas antes ele era dinâmico, vivendo em constante estado de criação, sempre atento e muito ativo. E agora, o homem sequer tocava no seu café de todas as manhãs e o mais preocupante de tudo, já não gritava há dias.

— Todas as ligações da minha mãe devem ser transferidas imediatamente para mim. — o chefe reforçou, levantando-se e vestindo o seu casaco. — Você e a Sara já sabem, não importa o que eu esteja fazendo, eu quero ser informado. E caso ela venha até aqui, peço que você mesma me contate. A reunião com os fornecedores será na produtora, com o Matthew, mas o meu celular ficará ligado. 

Gil sentiu-se desanimada com a forma que o seu chefe deixou a sala. E teve uma imensa vontade de perguntar se ele precisava de alguma ajuda, mas se conteve.

Tiveram alguns momentos de estranha proximidade, mas a realidade era que não havia, entre eles, vínculo nenhum. Não eram amigos e nem mesmo colegas. Eram dois completos estranhos que por um acaso do destino, trabalhavam juntos. E a situação dela parecia ainda mais delicada, pois sendo a sua subordinada, não deveria agir de maneira inconveniente.

Porém, Gil não conseguia controlar a sua ansiedade a cada manhã que o via chegar para trabalhar. Durante dias, desejou que o chefe soltasse aquele sorriso arrogante de sempre, que ordenasse as atividades de forma frenética, atormentando os empregados com a sua voz firme e desnecessariamente alta.

Gil balançou a cabeça em negativo. Deveria agradecer por essa calmaria e não reclamar. Aquele clima desconfortável que a presença do Sr. Parker causava já não a incomodava mais. E isso era algo bom.

Pelo menos, era o que Gil tentava se convencer.

A verdade era que em alguns meses, aconteceria a transmissão da Rise&Sun e todos estavam apreensivos com os resultados. Apesar de terem muita segurança na estratégia, e contarem com o apoio de Matthew Green, as outras equipes pareciam tão confiantes quanto eles. E ter um líder visivelmente instável, justamente nesse momento, poderia prejudicar o desempenho de todos.

Durante a organização da mesa do chefe, Gil tirou da gaveta uma pilha de papéis, e de relance, observou um envelope diferente dos outros. Não estava lacrado e parecia ser algum tipo de exame. 

Leu o logotipo no canto inferior do papel: “MD Anderson Cancer Center”. E o seu corpo paralisou.

Não compreendeu exatamente o motivo de cometer a loucura seguinte, mas sem rodeios abriu o envelope e leu o nome do paciente: Elaine Parker. 

As suas mãos tremeram e começaram a suar. Então era isso que tanto atormentava o chefe nesses últimos dias? Sentiu uma pontada de angústia no peito, era um assunto muito familiar para si mesma e queria tanto poder conversar com ele, mas não tinha esse atrevimento. Como diria, que além de mexer nas suas coisas sem autorização, havia descoberto algo tão delicado? 

Não existia nenhuma maneira de conversarem sobre isso a não ser que o chefe a procurasse para desabafar, coisa que o Sr. Parker jamais faria. 

E foi então que o telefone da sala começou a tocar. Gil aguardou alguns momentos esperando que Sara atendesse a ligação, mas como se o destino ainda não estivesse satisfeito em jogar com ela, a secretária do departamento estava ausente.

— B&B Larsson, boa tarde. Em que posso ajudá-lo? —  ela atendeu, se sentindo ainda atordoada.

Por favor, eu gostaria de falar com o Sr. Vincent Parker.

— No momento ele não está, gostaria de deixar algum recado?

Sou do hospital MD Anderson e temos o nome do senhor Parker como o responsável de uma de nossas pacientes. Precisamos que ele autorize uma cirurgia de emergência.

— C-claro. — respondeu Gil, tremendo de nervoso. — Eu vou tentar localizá-lo e pedir para que ele se dirija ao hospital imediatamente.

Gil tentou inúmeras vezes ligar para o chefe e para o Sr. Green, mas não foi capaz de encontrar ninguém. Nessa altura, ela começou a desesperar-se e a questionar a gravidade da saúde da Sra. Parker. Teve medo que pudesse ser um assunto de vida ou morte.

O recado era claro, a cirurgia precisava ser autorizada com urgência. Gil pegou o telefone e retornou a ligação para o hospital. E para a sua surpresa, Elaine já havia entrado na cirurgia. 

Seria possível que o Sr. Parker recebera alguma ligação do MD Anderson? Num impulso, Gil anotou o endereço do hospital, pegou a sua bolsa e saiu em disparada. Sabia que era uma insensatez ir ao encontro do Sr. Parker, mas precisava saber se o chefe estava bem. 

Não estava disposta a deixá-lo sozinho num momento desses, e depois, poderia pensar em alguma desculpa convincente.

Chegando ao hospital, conversou com algumas enfermeiras, e infelizmente, a Sra. Parker não receberia visitas que não fossem da família. Gil limitou-se a aguardar sozinha na sala de espera e alguns momentos depois, um homem idoso se aproximou dela com a expressão receosa.

— A senhorita é amiga da minha irmã? Elaine Parker?

— Sim. — Gil levantou-se e cumprimentou o homem. — Eu trabalho com o Vinc-... Digo, com o Sr. Parker.

— E por que aquele idiota não está aqui do lado da mãe? — reclamou o velho.

Gil não sabia o que dizer. — Sinceramente, eu pensei que o Sr. Parker já estivesse por aqui, eu tentei contatá-lo mas-

— Tudo bem, jovem. — o homem a interrompeu. — Ele é assim mesmo, sempre foi desse jeito. Logo aparece. Vou autorizar a sua visita, fará bem a Elaine.

A Sra. Parker saiu da cirurgia de emergência há pouco e estava ainda muito sonolenta. Gil não tinha muitos detalhes do que havia acontecido, mas a enfermeira garantiu que tudo havia corrido muito bem. Porém, quando avistou a Sra. Parker pálida e fraca, resmungando de dor, o seu coração ficou pesado.

Gil sentou-se ao lado da cama e segurou firmemente nas mãos macias de Elaine, tentando acalmá-la. Sentiu uma grande empatia pela mãe do chefe, assim que a conheceu.

— Tente descansar, Sra. Parker. — Gil alisou as mãos de Elaine.

— Ah, Gilan. — Elaine fixou o seu olhar em Gil. — Eu... Oh meu Deus...

— Sra. Parker? — Gil se desesperou com os gemidos de Elaine e temeu que ela estivesse à beira de um ataque. 

Verificou os batimentos dela que apontavam nas aparelhagens e estava prestes a chamar uma enfermeira quando a Sra. Parker a apertou com muita força. Elaine fechou os olhos numa expressão de profunda dor e inclinou o seu corpo para frente, e então, sem hesitar... Soltou um pum. Um pum bastante barulhento, inclusive.

— Ah! Que alívio. Odeio esses gases pós-cirúrgicos, que desconforto, não é mesmo?

— Ga-gases? — Gil ficou boquiaberta, a mulher parecia maravilhosamente bem.

— E o meu filho? — Elaine quis saber, enquanto se ajeitava na cama. — A enfermeira me disse que não conseguiram falar com Vincent. Mas nem mesmo com a mãe morrendo ele atende as ligações? Pedi que chamassem o meu irmão. Arturo é o tio de Vincent, sabe? Ele tem uma fazenda no interior, mas está sempre por aqui na cidade. Só que nunca tem tempo de almoçar comigo. — Elaine revirou os olhos. — Todos os homens dessa família são uns ordinários. Cuidado com eles. Eu sei que são bonitos, porém, são péssimos cumpridores de promessas. Veja o meu filho, sempre diz que vai me ligar. E quando liga? Nunca. Mas ele vai ver só, Arturo já está preparando o sermão e quando o meu irmão começa a falar, minha querida, ele consegue ser pior do que eu.

xXx

— Que porcaria de celular. — reclamou Vincent.

— O sinal dessa sala é ruim. — Matthew explicou. — É algo muito urgente?

Câncer.

A notícia caiu feito uma bomba naquele dia em sua sala e Vincent não tinha a confiança de que saberia lidar com tudo o que aquilo significava. Sua vontade era bater na porta de todos os hospitais do país, de tentar todos os tipos de tratamentos disponíveis. De ir até o fim do mundo para encontrar uma cura que a salvasse. Mas a mãe não o permitiu.

Elaine, com uma calma surpreendente, informou com detalhes tudo o que já planejava fazer. Não buscava uma cura. Mas havia formas de amenizar a dor e otimizar o restante da sua vida, e assim faria. Vincent sentia vontade de gritar. Como a mãe poderia se conformar com isso? Ela poderia morrer, droga! E isso o enlouquecia.

Não teve muitos momentos com a mãe. Era duro admitir para si mesmo, mas a sua paciência com Elaine sempre foi muito curta. Ela falava demais, ria demais, perguntava demais. Era sempre espaçosa e inconveniente, tudo o que a personalidade de Vincent não suportava. Mas era a sua mãe. E apesar de todas as suas diferenças, a amava. Deus, como ele amava aquela mulher irritante. E não conseguia imaginar um mundo em que ela não existisse.

Com todas essas preocupações, o seu foco no trabalho estava comprometido. Já não era capaz de se concentrar. Por vezes, deixava assuntos pendentes e perguntas sem respostas. Precisava tanto desabafar e dividir com alguém tudo isso. Mas com o passar do tempo, Vincent percebeu que a sua vida se tornou muito solitária desde o dia em que ela foi embora.

Ela.

Pensou em procurá-la, contar que Elaine estava doente. Contar que não sabia quais palavras usar com a mãe, que precisava de apoio, de um bom conselho, ou qualquer coisa que ela pudesse oferecer. Há quanto tempo não se viam? O que ela diria para ele nesse momento?

A sua solidão beirava o desespero. Que humilhante seria, depois de tanto tempo sem vê-la, aparecer assim, completamente destruído. 

Era irônico que Vincent se sentisse exatamente igual, ou até mesmo pior, que no dia em que ela o deixou. Apesar das suas grandes conquistas, a sua vida não parecia ter avançado em absolutamente nada.

Ele continuava ali, de mãos amarradas e sem controle da situação.

Talvez aquele não fosse o momento mais adequado para procurá-la. Você só quer reencontrar um ex-amor quando as coisas estão indo muito bem. Mas para Vincent, evitar a presença dela era mais do que uma questão de orgulho. Era porque doía. Ainda doía.

Ele imaginou que tudo isso acabaria rápido. A mágoa, as lembranças, a raiva. Que tudo ficaria no passado. Mas nunca acontecia. Não parecia ter um fim. E ele continuava ali, parado no tempo. Não tinha para onde ir e não havia para quem voltar. E o presente, que era o único lugar seguro, acabava de se tornar o mais apavorante de todos.

— Impossível! Esse não foi o esboço que combinamos. Está faltando muitos dados aqui. — Matthew encarou Vincent, que permanecia estático. — Vincent?

— Exato. — Vincent respondeu com desânimo. — Nós queremos exatamente como foi combinado, se não for dessa forma, não existe a menor possibilidade de renovarmos o contrato com vocês.

— Mas isso está errado. — disse um dos fornecedores, apontando para o pedido. — A relação enviada por vocês não consta todos esses materiais, os números não batem. Vamos cumprir o que consta aqui.

— Eles estão certos, Vincent. — admitiu Matthew. — Você não havia dito que a Gilan mandaria a lista de todos os itens? Está faltando adicionar pelo menos dois meses aqui.

— Vou ligar para a Gilan. — Vincent pegou o celular com a expressão irritada. — Mas que porcaria, será que alguém tem sinal nesse lugar?

xXx

— Está mais confortável assim? — Gil ajeitou o travesseiro de Elaine.

— Está maravilhoso. Ah! Minha querida, você ficou a tarde inteira comigo, deve estar cansada do tanto que eu falei, veja bem, até eu mesma cansei de falar. — Elaine segurou as mãos de Gil e os seus olhos lacrimejaram. — É bom ter alguém ouvindo as minhas bobagens. Vincent é um filho amoroso, mas ele é tão reservado. Sabia que ele demorou três anos para começar a falar? Vincent já poupava o seu vocabulário comigo desde muito cedo. — Elaine sussurrou a última parte e soltou uma risadinha. 

— Eu que agradeço pela companhia. — Gil devolveu o sorriso. — Na verdade, eu cresci em uma casa bastante silenciosa e também não costumava falar muito. É bom ter alguém diferente para conversar. — Gil deu um pulo quando sentiu o celular vibrar em sua bolsa.

Hesitou por alguns segundos antes de atender. Havia perdido completamente a noção do tempo. O chefe, com certeza, já deveria estar no escritório e conhecendo-o bem, não ficaria nem um pouco satisfeito com a ausência de sua assistente.

— Onde você está? — o chefe berrou do outro lado da linha.

— Sr. Parker, eu saí para-

— E desde quando você tem autorização para sair? — o Sr. Parker gritou ainda mais alto. — Era só o que me faltava, uma assistente que faz o que quer na hora que bem entende. Volte para a empresa imediatamente! — e desligou o telefone, sem lhe dar a chance de falar.

xXx

Quando Gil finalmente chegou à sala de reunião, o clima estava desconfortável como de costume, mas dessa vez, todos os olhares apontavam em sua direção.

Sabia que havia cometido um grande equívoco ao abandonar o seu trabalho no meio do expediente. Mas tinha tanta certeza de que encontraria o chefe no hospital que não pensou muito nas consequências. Estava desesperada demais naquele momento para agir de forma racional.

O Sr. Parker bufava de raiva e a veia saltada em sua testa parecia que iria explodir a qualquer momento. Ela pode ouvir o chefe respirar fundo, como se tentasse controlar o tom de sua voz.

— Gilan... — ele falou com uma calma assustadora. — Cadê os canhotos dos pedidos, aqueles que você revisou?

— Eu os enviei para a produtora. — Gil respondeu rapidamente.

— Sim, Srta. Robert, — disse um dos funcionários da equipe. — porém, os meses de março, abril e maio não estão anexados.

— Você escutou isso, Gilan? Os meses de março, abril e maio, não estão anexados. Cadê essas porcarias? — o chefe berrou de novo, ficando ainda mais vermelho.

— Mas eu mesma os verifiquei e-- — Gil hesitou e prensou os lábios. Lembrou-se que na correria, não havia enviado os últimos canhotos. A preocupação com o chefe durante a semana foi tanta, que não conferiu todos devidamente. — Realmente. Esses não foram revisados.

— Como assim não foram revisados? Você sabe que horas são, Gilan? Seis da tarde. E você sabe qual o prazo para enviarmos esses canhotos? SEIS DA TARDE! — a voz do chefe se escutava até dos corredores. — Me responda apenas uma coisa, por que a minha assistente estava passeando pela cidade em vez de ficar na empresa fazendo o seu trabalho?

— Sr. Parker, eu não estava passeando. — Gil retrucou, tentando segurar a sua irritação. — Essa semana foi sobrecarregada, eu precisei levar muito trabalho para casa. Por conta do cansaço, eu acabei-

— Você disse que está cansada, Srta. Robert? — o chefe a interrompeu. — Não gostaria de um cafezinho? Sara, traga um cafezinho para essa senhorita, ela precisa relaxar. — ele ironizou.

— Sr. Parker, se me deixar explicar eu-- 

— Você me garantiu que eu poderia confiar. — ele a interrompeu, murmurando com a voz sombria e assustadoramente baixa. — Você me prometeu que o seu foco permaneceria nesse projeto.

— Sr. Parker, mas acontece-

— Eu não terminei de falar. — ele retrucou sem a menor delicadeza. Gil abaixou os olhos e ouviu o chefe continuar. — Se fosse para agir dessa maneira, não tivesse feito com que eu perdesse o meu tempo com você. Essa equipe trabalha duro demais para aceitar menos que a dedicação total. E eu não tenho tempo para lidar com perdedores e com as suas desculpas esfarrapadas. — ele suspirou exausto. — Luhan, tente postergar o prazo com os fornecedores e preciso que a equipe de field refaça os meses e inclua os materiais que faltaram. Nós iremos consertar essa bagunça juntos.

O Sr. Parker apoiou as duas mãos na mesa e fixou o seu olhar para baixo. 

— E Gilan, — ele continuou. — quero que você esteja na minha sala em vinte minutos… Para assinar a porcaria da sua demissão.

Ao terminar de falar, o Sr. Parker saiu apressado da sala de reunião e bateu a porta com agressividade, deixando para trás os membros da equipe completamente perplexos. Deixando também, a sua assistente, que por maior esforço que fizesse já não tinha força suficiente para impedir que as lágrimas lavassem o seu rosto.

E pela primeira vez em toda a sua vida, Gilan Robert experimentava a humilhante sensação de chorar na frente de estranhos.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem até aqui. Vejo vocês na próxima!!!



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