Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 40
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Olá meus leitores queridos e pacientes, eu demorei mas voltei, e dessa vez pra ficar. Agora as atualizações não demorarão tanto, prometo. E como vocês podem ver, eu me empolguei demais e o capítulo ficou ENORME. Pensei em dividir, mas a minha leitora Lari me disse que 29 páginas não seriam sacrifício nenhum de ler, então acreditei nela e postei tudo HAHAHAHAHA... Mas chega de enrolar, né? Vocês já esperaram demais... Bom capítulo. o/

Ps: Quando eu avisar, coloquem essa música para tocar. Escrevi ouvindo ela. E deixem tocar repetidamente...

Música: H.E.R - Lights On
https://www.youtube.com/watch?v=qLsIl566m7s



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"O destino quis que a gente se achasse, na mesma estrofe e na mesma classe, no mesmo verso e na mesma frase". (Paulo Leminski)

— Eu não fiz isso.

— Com certeza você fez. — a jovem se afastou minimamente dos seus braços e o encarou com determinação. — E não foi só uma simples risada, Sr. Parker… Você gargalhou na minha cara.

Vincent franziu o cenho pensativo, enquanto afagava as costas nuas da assistente.

— Eu não estava zombando de você. — ele concluiu por fim. Gilan ergueu uma sobrancelha, duvidando daquilo. — Eu falo sério.

— E como você explica o “eu sei ler, Srta. Robert”. — a assistente falou debochada, fazendo aspas aéreas e tentando imitar o tom de voz dele.

— Nesse caso eu realmente fui um idiota. — confessou Vincent, e o riso da jovem ecoou por todo o quarto.

Então, era isso. Gilan estava apaixonada por ele.

Por ele.

E mesmo agora, a tendo tão confortável entre os lençóis, com os cabelos bagunçados e o seu rosto docemente corado, aquela revelação ainda não fazia o menor sentido. Parecia uma invenção da sua mente desesperada por algo bom. 

E Gilan era tão boa.

Tão bonita e quente.

A pele da jovem tinha uma temperatura estimulante e cada pequeno pedaço dela o deixava fora de si. Vincent simplesmente não conseguia parar de tocá-la. E estarem jogados na antiga cama da assistente, depois de tantas horas, era a prova disso. 

Vincent poderia tê-la mil vezes que ainda assim, não ficaria totalmente satisfeito. Era algo como necessidade. Ou pior, encantamento. Porque a verdade era que Gilan o enfeitiçara. 

Completamente. De maneiras que ele sequer se dera conta. 

Gostava do seu temperamento espontâneo, de suas opiniões honestas, de todos os seus assuntos. Ele gostava da sua respiração suave, de seus gemidos contidos e de todas as vezes que a fazia sorrir. Merda! Ele gostava demais da personalidade dela.

Não. Ele simplesmente a adorava. Adorava tudo aquilo que Gilan era, sem precisar mudar um fio de cabelo sequer.

— E eu quase me levantei e abandonei aquela entrevista. — a jovem se deitou de bruços, apoiando a cabeça em uma de suas mãos.

— Fico feliz que você não tenha feito isso.

— É claro que fica, — Gilan revirou os olhos. — eu sou uma ótima assistente. — retrucou convencida.

— Esse é um grande motivo, sem dúvidas.  — Vincent sorriu e se inclinou um pouco, a fim de fitar os olhos da jovem. — Mas eu fico feliz por estar aqui... Com você.

Gilan desviou o olhar numa rapidez que o incomodou. Vincent observou o rosto da jovem se contrair e mudar de cor, cobrindo a sua pele num tom ainda mais vibrante do que antes.

— Eu não disse nenhuma mentira, Gilan.

— E eu não disse nada. — a jovem tentou desconversar.

— Esse é o problema… — não escapou de Vincent quando a assistente mudou o ritmo de sua respiração assim que ele acariciou o rosado de suas bochechas. — Eu gostaria que tivesse dito. Eu gostaria de saber o que você está pensando.

— Eu não estou pensando em nada. — ela insistiu um tanto nervosa.

Vincent se aproximou encostando os seus corpos. A ausência de roupas fez com que a jovem se arrepiasse, e eram justamente essas  reações tão imediatas de Gilan que o transtornavam. A verdade era que nunca havia se sentido tão lisonjeado antes ao lado de uma mulher. Nunca.

Eu estou apaixonada por você. E Vincent podia sentir isso. Podia sentir cada palavra daquela confissão fluindo do corpo dela.

— Você me pediu intimidade, Gilan. E eu estou disposto a te dar isso. — a assistente se contorceu, e o toque entre eles fervilhou de uma maneira injusta demais para que Vincent conseguisse se concentrar. Ele bufou frustrado e se afastou só um pouco. — Deus! Eu realmente quero te dar tudo isso. Mas não apenas essa intimidade que trocamos nesse apartamento, nessa cama, naquele balcão.

Vincent passeou as mãos pelas laterais do corpo arrepiado de Gilan e precisou juntar todas as suas forças para não apertá-la contra si e recomeçar tudo de novo. Era insano o quanto já estava duro com uma aproximação de poucos minutos, e era tentador saber que a assistente parecia igualmente pronta para ele.

— Eu quero que você também me deixe tentar. — ele segurou o rosto da assistente com as duas mãos e pressionou a sua testa contra a dela. — Eu realmente preciso disso, Gilan… Tentar.

— Eu estava pensando no contrato. — a jovem finalmente revelou.

Vincent a soltou e a olhou com atenção, buscando incentivá-la a prosseguir.

— Eu estava pensando se seria eu aqui… Com você… Se Elaine não estivesse doente. — a confissão saiu dos lábios dela num pequeno e inseguro sussurro. E ele a analisou por um tempo antes de finalmente dizer algo.

— Eu não posso responder isso. — Vincent concluiu, e a assistente o olhou parecendo um tanto desapontada. — Eu não posso responder porque essa opção não existe. Tudo aconteceu da forma que aconteceu. E não há outra realidade senão essa. O que eu posso dizer é que agora, nesse lugar em que a minha mãe está doente, em que temos um contrato de casamento, em que decidimos tentar… Não poderia ser ninguém mais além de você, Gilan. Ninguém mais.

A jovem abaixou o olhar, talvez pouco convencida. Havia muito nela que Vincent ainda não conseguia decifrar, mas também havia coisas que as suas expressões escancaravam.

— Apenas me dê uma chance, Gilan. — ele pediu. — Por favor.

Vincent se aproximou devagar, e com as pontas dos dedos, começou a desenhar o contorno dos lábios da jovem enquanto a observava concordar.

— Faremos uma troca… — Vincent desceu os dedos até o queixo de Gilan, tocando o seu maxilar de maneira tão suave que provavelmente causaram formigamento na garota. — Eu te darei toda a intimidade que você quiser… — ele desceu o toque traçando as veias visíveis do pescoço pálido dela. — E você me dará honestidade. 

— Você não me acha honesta? — a jovem o confrontou.

— Eu acho que você se esforça para se esconder de mim. E eu te entendo. Não tenho sido o marido que prometi que seria.

— Você agiu da melhor maneira que pode. — Gilan fechou os olhos, como se assim pudesse aproveitar melhor aquele toque.

— Eu poderia ter feito mais. — ele continuou descendo os seus dedos, acariciando a sua clavícula tão acentuada. Até mais acentuada do que antes. — Você emagreceu. — ele constatou com preocupação, e Gilan saiu do transe, encarando o seu próprio corpo. — Eu não vou mais permitir que você se machuque. — ele alisou a pele dela com um cuidado excessivo, deslizando as mãos pelos ombros até a curvatura de sua cintura, quase tocando em sua bunda. — Você é perfeita. E eu quero que você acredite nisso. Que se sinta segura. Eu não quero mais luzes apagadas, Gilan. Nem no nosso quarto, e nem na nossa relação.

Relação. Porque agora era isso, um relacionamento.

A jovem ofegou um pouco e parecia visivelmente desconcertada com o rumo daquela conversa. Vincent conseguia sentir nas pontas de seus dedos a leve oscilação no corpo dela. Gilan simplesmente tremia, reagindo da maneira mais rendida que ele já havia visto.

— O que você está pensando agora, Gilan? — ela corou forte e Vincent se aproximou um pouco mais. — Intimidade por honestidade, vamos lá, apenas fale comigo.

— Que eu quero te escalar e montar em você até perder as forças nas pernas.

A jovem simplesmente despejou, o deixando momentaneamente sem reação.

— Isso foi… — ele pigarreou. — Isso foi bastante honesto.

Gilan começou a gargalhar e escondeu o seu rosto debaixo do lençol, grunhindo algo como “foi você quem pediu”. Vincent a observou amontoada entre aqueles lençóis e também não conseguiu segurar a gargalhada. Puxou o fino tecido das mãos da jovem e se debruçou sobre ela, prendendo os seus pulsos.

— Eu simplesmente odeio te ver passando vontade. — ele sussurrou de maneira provocativa. — Vamos providenciar que isso aconteça, sim?

Vincent friccionou o seu corpo contra o dela. Estavam tão quentes e prontos que chegava a doer. Mas Gilan gemeu um tanto frustrada.  

— Minha irmã vai chegar… — e como num timing perfeito, ou não tão perfeito assim, um barulho de chave fez o casal se afastar. — … a qualquer momento.

Vincent praguejou, soltando a jovem e pulando da cama numa velocidade impressionante. Gilan fez o mesmo, enquanto sustentava um sorriso travesso nos lábios.

— Você ri porque não tem uma barraca armada no meio das pernas para lidar. — ele reclamou, enquanto tentava se vestir o mais rápido possível.

— Não seja dramático e resolva isso enquanto vou receber a minha irmã. — a assistente não fez questão de disfarçar o quanto se divertia com aquela cena.

Resolva isso. — ele imitou a voz dela. — Você acha que é simples assim, Sra. Gilan Parker? A única maneira de resolver é ter você mais uma vez nua nessa cama. — Vincent se aproximou ameaçadoramente.

— Apenas imagine o presidente Larsson em trajes de banho. — ela esticou o braço, o impedindo de se aproximar.

— Merda! Acho que estou traumatizado. — Vincent fez uma careta de nojo, sentindo a sua excitação realmente desaparecer.

— Ótimo! — Gilan piscou antes de lhe dar um selinho e deixar o quarto. — Te espero na sala.

xXx

Alguns minutos depois, Vincent já estava apresentável o suficiente para se encontrar com a cunhada. Se aproximou devagar e viu Kerya esquentar algo no fogão enquanto Gilan a observava, sentada de frente ao balcão da cozinha. O seu corpo imediatamente correspondeu ao vê-la próxima daquele balcão. Sentia a falta dela, e esse era um pensamento tão absurdo, uma vez que acabara de passar horas e horas com a jovem em seus braços. 

Tudo era absurdo, na verdade. Vincent sabia que não devia, mas ali estava, se propondo a ter mais. Mais do que o seu coração ferrado era capaz de lidar. E que escolha ele tinha? Os últimos dias sem Gilan foram miseráveis e tudo ao seu redor lembrava ela. Cada maldito detalhe, cada cheiro, cada som que ecoava no vazio do seu apartamento. Tudo lembrava e gritava a falta que ela fazia ali. 

O que mais ele poderia propor? Não poderia ser de outra maneira. Mesmo descobrindo que os sentimentos de Gilan eram mais profundos do que ele supunha, não estava certo se conseguiria ficar sem ela. Soube disso quando decidiu esperá-la na frente do apartamento da cunhada. Soube naquele momento, que jamais poderia sair de lá sem levar Gilan de volta.

— O dono dessa roupa tem dezenove anos. — Kerya revelou assim que percebeu a presença de Vincent, ainda usando a camiseta emprestada.

— Meu Deus, Kery! — Gilan olhou perplexa para a irmã. — Você tem trinta e dois anos, isso é legalmente permitido?

— Claro que é! — a mais velha retrucou. — E para a sua informação eu o conheci em um bar. E não tenho culpa se os jovens de hoje em dia usam identidades falsas. Achei que ele tivesse pelo menos vinte e um. Quando descobri a idade dele já era tarde demais, a boca do garoto já estava na minha-

— Me poupe dos detalhes, Kery. — Gilan sabiamente a interrompeu. — O que eu vi no outro dia já foi suficiente.

— Estou curioso. — Vincent ergueu a sobrancelha, intrigado com a discussão das irmãs.

— Não foi nada de mais. — a cunhada revirou os olhos. — Gil está surtando só porque me pegou dando uns beijinhos no sofá.

— Kerya, eu realmente acho que você não sabe a diferença entre beijinhos e preliminares. — Gilan retrucou, e a mais velha revirou os olhos novamente e andou até a pia.

Pelo menos você não a flagrou fodendo no balcão. — Vincent sussurrou rente ao ouvido de Gilan, a deixando vermelha.

Não diga isso! — a jovem reclamou baixinho, se certificando de que a irmã não estava os ouvindo.

Kerya terminou de preparar o chá e serviu três xícaras. Vincent se acomodou ao lado da assistente para também fazer companhia a cunhada, e com ares de inocência, começou a tamborilar os dedos no mármore do balcão. Ele definitivamente não valia nada. Mas o que podia fazer se não conseguia resistir em provocar a jovem? E Gilan correspondeu exatamente como Vincent esperava, ofegando alto e se mexendo desconfortavelmente. Ele quase não segurou o riso.

Ficaram um tempo ali, apenas conversando trivialidades, até que Kerya disse que precisava se arrumar se não quisesse chegar muito atrasada em seu encontro. Aparentemente, a cunhada aproveitava bastante a sua vida de solteira.

— Fico feliz que vocês tenham se acertado, suponho que minha irmãzinha não dormirá aqui hoje, certo?

— Eu não fico nem mais um segundo sem ela na nossa casa. — Vincent confirmou, e sentiu o olhar da jovem se acender quando ele disse nossa casa.

Mas era verdade. Aquele apartamento se tornou o lugar deles, e jamais seria o mesmo sem Gilan por ali. Vincent chegou a imaginar o que aconteceria quando o acordo deles acabasse e um incômodo em seu peito fez com que ele afastasse aquela ideia. Pensar no fim do contrato significava lidar com muitas perdas. 

— É melhor eu arrumar as minhas coisas, então. — a jovem disse incerta, e a euforia de ouvir aquilo quase o fez agarrá-la ali mesmo, na frente da irmã.

Finalmente.

— E eu aproveito para conversar com o seu marido daquele assunto. — Kerya olhou para Gilan com uma expressão séria, e a assistente retribuiu o olhar parecendo um tanto chateada. Vincent já podia imaginar sobre o que se tratava o tal assunto. E assim que Gilan os deixou sozinhos, a sua cunhada começou a falar. — Apenas quero te atualizar sobre o caso do golpe que sofremos. Eu não me esqueci do seu generoso empréstimo.

— Gilan é a minha mulher, Kerya. Não é necessário que vocês me devolvam nada. — apesar de ter colocado a devolução desse dinheiro no contrato de casamento, por insistência de Gilan, Vincent jamais tivera a intenção de aceitá-lo.

— De jeito nenhum. Esse dinheiro é seu. E eu repito, não quero esse tipo de coisa entre a relação de vocês. Você nos ajudou e nós devolveremos assim que pudermos. — ela insistiu, e francamente, essas irmãs eram teimosas demais para o bem dele. — A boa notícia é que o Dr. Stan, recebeu algumas denúncias anônimas sobre a tal quadrilha e a polícia já está muito próxima de encontrá-los. E antes que me pergunte, eu não faço ideia de como conseguiram essas informações. De acordo com o Dr. Stan, essas pistas foram um verdadeiro milagre.

Vincent tossiu um pouco e pigarreou antes de falar algo.

— Parece que a sorte está do lado de vocês.

— Eu não vejo a hora desses bandidos estarem atrás das grades, e claro, recuperar todo o dinheiro.

— Eu realmente não quero que vocês se preocupem com esse dinheiro, eu já disse que não-

— Eu sei, Vincent. — Kerya segurou firme em suas mãos, o surpreendendo um pouco. — E eu o agradeço tanto. Por tudo o que você fez por nós, por tudo o que você faz pela Gil. Eu consigo sentir o seu cuidado e a sua dedicação por ela. O que você fez ontem, passar a noite na chuva… — Kerya suspirou e balançou a cabeça negativamente. — Você a ama tanto, Vincent. E meu coração não poderia estar mais tranquilo.

Vincent não conseguiu dizer nada, apenas fitar aqueles olhos azuis luminosos, tão característicos das irmãs Robert.

— Eu quero te pagar porque é o mínimo que você merece. — a cunhada continuou. —  A Gil está tão feliz ao seu lado. Tudo nela se ilumina quando ela fala de você, Vincent. E o tempo que vocês estiveram brigados… — Kerya pareceu ponderar um pouco. — Vocês simplesmente não foram feitos para estarem separados, ok?

— Você acha mesmo que eu a faço feliz? — a pergunta escapou de seus lábios, e foda-se, a verdade era que Vincent queria ouvir que sim, muito mais do que gostaria de admitir.

— Inteiramente.

Vincent ficou um tanto sem graça ao sentir aquela certeza nas palavras da cunhada. No fundo, sabia que aquilo não era uma verdade. Sabia que Gilan não tinha o que merecia. Ainda.

— Eu posso fazê-la muito mais. — ele retrucou. — Eu sei que posso… E eu prometo que farei.

— Você não precisa me prometer nada, Vincent. — Kerya apertou ainda mais as suas mãos. — Eu confio em você.

Vincent soltou o ar dos pulmões de uma só vez. O peso esmagador da culpa o deixou sem palavras. E para piorar, Kerya o encarava com o mesmo olhar expressivo de Gilan. 

Um olhar tão cheio de verdade. De expectativa. De confiança.

E Vincent se deu conta de que em pouco tempo, Kerya nunca mais o olharia da mesma maneira novamente.

xXx

Assim que Gil colocou os seus pés no apartamento sentiu algo esmagadoramente familiar. Aquele era o seu lar. E havia sentido falta de todos os detalhes que aprendera a gostar. Da vista barulhenta e bagunçada da avenida, do elevador de porta complicada, do cheiro de casa limpa misturado com o perfume de Vincent. Um perfume que ativava tantas lembranças em seu corpo.

— Você deve estar faminta, quer pedir alguma coisa? — o chefe ofereceu.

— Não estou com muita fome, na verdade.

— Eu gostaria que você ao menos tentasse comer algo. — Vincent parecia um pouco preocupado. — Uma sopa? Isso eu posso fazer.

— Por que não vamos visitar Elaine? Eu não estou tão cansada assim, e podemos jantar no caminho. — mentiu. Estava exausta, mas a preocupação com a sogra era muito maior.

— Amanhã bem cedo iremos vê-la. Mas acho melhor descansarmos hoje. 

Gil assentiu um pouco chateada e Vincent se aproximou, acariciando devagar a pele de seu rosto.

— Não fique aborrecida, eu só quero aproveitar mais um pouco com você. — ele disse. — Eu prometo que antes de irmos para a B&B nós a visitaremos.

— Eu não estou aborrecida. Preocupada apenas. É que não vejo Elaine há alguns dias e você me teve o dia inteiro, Vincent.

— Não foi o suficiente. — ele respondeu sério, e Gil sentiu o clima um pouco mais vibrante ao redor. Vincent desviou o olhar, parecendo constrangido, e segurou a mala de Gil enquanto subia as escadas. — Vamos colocar isso no quarto.

Gil o seguiu em silêncio e quando chegaram na porta de seu quarto, o chefe simplesmente passou reto. Vincent estava levando as suas coisas até o quarto dele. Dele.

O chefe colocou a mala no chão e em seguida encarou os olhos confusos de Gil, que ainda não tivera a coragem de colocar os pés dentro do cômodo, e estava ali, ridiculamente parada em frente a porta escancarada.

— Qual o problema? — Vincent perguntou com ares de inocência, mas Gil sabia muito bem que ele estava segurando um maldito sorriso.

Tão irritante.

— Esse não é o meu quarto, Vincent.

— Esse apartamento inteiro é seu, Gilan. — ele andou na direção dela e entrelaçou os seus dedos, a puxando delicadamente para perto dele. — Principalmente esse quarto.

A resistência de Gil foi por água abaixo. A presença de Vincent era tão envolvente que dominava todo o ambiente. As mãos dele entornaram a sua cintura, a trazendo ainda mais para perto, até ter o seu lábio inferior sugado pelo chefe.

— Nós estamos tentando, não estamos? — ele sussurrou rente a sua boca.

— Eu só não quero incomodar. — ela tentou soar firme. — Eu não quero te atrapalhar no seu espaço, Vincent.

— E eu não quero nenhuma distância entre nós. Acho que temos uma divergência por aqui, Sra. Parker. — ele sorriu de forma tão cativante que a fez relaxar um pouco. — A não ser que você se sinta desconfortável, eu realmente gostaria de tê-la aqui. Dormindo comigo.

— Eu não me sinto desconfortável. — Eu só consigo dormir bem quando estou aqui. Ela quis completar. — Tudo bem, eu fico.

— Perfeito! — ele estalou um beijo casto em seus lábios e se afastou. — Tomarei um banho rápido enquanto você arruma as suas coisas no closet. Aproveite e traga tudo o que precisa do seu banheiro, não tem necessidade de você usar o de hóspedes.

— Você quer que eu tome banho aqui também? — ela arregalou os olhos.

— Não foi você quem pediu intimidade?

Gil abriu um sorriso que atravessou o seu rosto todo.

— Isso significa que poderei usar a sua banheira? — ela perguntou com animação.

— Sim, Gilan, é lógico que você poderá usar a nossa banheira. — Vincent revirou os olhos mas parecia se divertir com a empolgação dela. — Eu estou um pouco ofendido que você pareça mais animada com a banheira do que em dividir a cama comigo.

— Você tem uma hidromassagem, Vincent. Não me julgue.

Vincent soltou uma gargalhada e simplesmente arrancou a blusa do corpo, jogando a peça em cima dela. Gil ficou séria de repente.

— A sua sorte é que eu realmente preciso de um banho agora, Sra. Parker. Mas depois eu prometo que te mostrarei algo muito melhor do que aquela hidromassagem.

O chefe lançou um olhar malicioso antes de se trancar no banheiro, e Gil jogou-se na cama, segurando a camisa entre os dedos e estremecendo com a expectativa daquela promessa.

xXx

Talvez Gil tenha demorado um pouco mais no banho do que havia planejado, mas não estava nem um pouco arrependida. Toda a tensão dos últimos dias parecia ter ido embora pelo ralo junto com a água da banheira. Sentia-se renovada e isso não era apenas culpa do longo banho. A verdade era que um dia inteiro ao lado de Vincent a deixava tão exausta quanto relaxada. Vestiu uma camiseta grande o suficiente para cobrir até metade de suas coxas e uma de suas muitas pantufas. Desceu as escadas do apartamento e andou até a cozinha, flagrando Vincent retirando uma porção de comida chinesa dos pacotes e colocando em um prato.

— Achei que tinha escutado você dizer que faria o jantar. — ela o questionou, encostando-se no batente da porta da cozinha.

— Eu digitei os números no telefone, me dê um pouco de crédito. — ele continuou a sua tarefa de repassar a refeição de um recipiente para o outro sem demonstrar constrangimento. — Gostou da hidromassagem? — ele perguntou com deboche.

— Muito. Vai ser difícil você superar isso.

— Não me desafie, Gilan. — ele a fitou da cabeça aos pés. — Aliás, gostei das pantufas. Foi de propósito? Isso é um plano para me seduzir?

— Você tem fetiches estranhos, Sr. Parker.

Gil sentou-se no banco em volta do balcão da cozinha e Vincent se aproximou, se colocando entre as pernas dela.

— Meu fetiche é você. — o chefe a encarou fixamente. Até demais. — Obrigado, Gilan. Obrigado por voltar.

— Obrigada por tentar. É… Você até que está se saindo bem.

— Se a mocinha curiosa não tivesse me flagrado com as embalagens, eu teria me saído melhor ainda.

— E aquele papo todo de honestidade? Não seja um trapaceiro, Sr. Parker.

Touché. — Vincent se virou na direção do balcão, pegou os palitinhos e um dos pratos com a comida chinesa. — Agora é sério, experimente isso aqui. — o chefe ofereceu um pedaço da iguaria levando até a boca dela. Gil achou incomum o fato dele alimentá-la, mas aceitou de bom grado. — Maravilhoso, não é?

Ela gemeu em resposta. — Tá aí algo que superou a hidromassagem. Realmente, foi uma pena flagrá-lo com as embalagens, você me teria nas mãos.

— Eu sabia que deveria ter investido na gastronomia.

— Acho que quero o telefone desse cozinheiro.

— Não me provoque e apenas coma em silêncio. — ele brincou estar ofendido, colocando mais um pedaço da comida na boca de Gil, que segurou o riso enquanto mastigava.

Durante o jantar, Vincent não se afastou dela. Ele comeu em pé, ao seu lado, dividindo a atenção entre alimentá-la e tocá-la. Tocava em suas coxas, em seu rosto, em seus ombros. Mas não de maneira sexual, era um toque espontâneo, íntimo. Um toque familiar. Talvez aquilo fosse de fato a tentativa dele em se aproximar.

Mais tarde, arrumaram a louça, que foi sujada inutilmente como dissera Vincent, em meio a provocações e risadas. Muitas risadas. Porque de repente, sorrir ao lado de Vincent se tornou mais fácil.

— Preciso te contar uma coisa. — a voz de Vincent soou séria, e ele se virou na direção dela, parando de secar a louça. — Não é sobre a minha mãe.

Gil soltou o ar que nem percebeu que estava segurando. O seu coração quase saiu pela boca ao imaginar que pudesse ser algo relacionado a Elaine, mas Vincent pareceu perceber e logo tratou de acalmá-la.

— O que aconteceu então? — ela quis saber.

— Eu quebrei o nariz do produtor.

— Você fez o que? — Gil o olhou incrédula. O chefe havia brigado com Matt? Quando? — Meu Deus, Vincent! E posso saber por qual motivo?

— Ele te beijou, Gilan. — o chefe retrucou mal-humorado.

 

Ah, é claro. Havia acontecido tantas coisas nesses últimos dias que Gil, vergonhosamente, nem se lembrava disso.

— Eu também o beijei, Vincent, e foi bastante mútuo inclusive. — ela o encarou com desaprovação.

— Poderia não me lembrar disso, por favor? — Vincent ficou vermelho. — Eu ainda estou com muita raiva daquele intrometido.

— Pois não deveria. Matt te viu com outra mulher e ainda assim não se aproveitou dessa informação para ficar comigo. Você sabe que ele é uma boa pessoa.

— É por ele ser a porcaria de uma boa pessoa que eu estou irritado. — Vincent elevou um pouco a voz.

Vincent soava como um marido ciumento, e isso era algo novo. Em outras circunstâncias, Gil estaria lisonjeada ao escutá-lo falar daquela maneira. Mas apesar disso, se concentrou em sua indignação. Matt era uma pessoa muito especial e a culpa de tê-lo envolvido nessa história pareceu ficar mil vezes maior com essa atitude estúpida de Vincent.

— Matt não fez nada de errado, e muito menos eu. — Gil se alterou um pouco, apontando o dedo para o chefe. — E eu e você sabemos muito bem que não tínhamos uma relação. — nervosa, Gil deu as costas para o chefe e saiu da cozinha.

Ela subiu as escadas batendo os pés. Estava tão furiosa. Às vezes tinha a sensação de que Vincent jamais deixaria de ser esse lunático egocêntrico e irritante. 

E como estaria Matt? Ela não havia atendido nenhuma ligação nesses três dias, inclusive as do jovem produtor, e agora estava inteiramente arrependida. Todo esse tempo Matt estava ferido fisicamente, ou quem sabe até mais do que isso, e Gil trancada em seu antigo apartamento sendo ridícula e egoísta.

Definitivamente, Gil era a pior amiga do mundo.

Passou pela porta do seu quarto, mas se lembrou que a porcaria das suas coisas estavam todas no quarto de Vincent e foi até lá.

Assim que entrou no cômodo sentiu a presença do chefe atrás de si. Ela o encarou com uma expressão quase mortífera, e ele disfarçou o olhar começando a assobiar de maneira extremamente infantil. Gil bufou sem paciência e foi até o banheiro, infelizmente, o chefe a seguiu. Escovaram os dentes lado a lado, com Vincent acertando o cotovelo nela vez ou outra.

Aquele papo de intimidade pareceu uma péssima ideia agora. 

Vincent arrumou a cama e Gil sequer esperou por ele para se enfiar debaixo das cobertas, dando as costas para o chefe. Amanhã falaria com Matt e imploraria pelas suas desculpas. 

Sentiu a cama afundar do seu lado e aquele cheiro tão confortável invadir as suas narinas. 

Não! 

Não era o momento de pensar no quanto Vincent cheirava bem. 

Aquele lunático quebrou o nariz do Matt. Quebrou! Maldito homem das cavernas.

— Eu sabia que você ficaria irritada, mas não imaginei que seria para tanto. — o chefe tentou puxar conversa, mas Gil continuou de costas para ele, sem respondê-lo. — Vamos lá, Gilan, lembre-se da honestidade. — ele insistiu. — Fale comigo.

— Você não vai querer a minha honestidade agora. — ela praticamente rosnou.

Gil sentiu Vincent se aproximando um pouco do corpo dela, e num reflexo se afastou mais, impedindo que se tocassem.

— Mas que droga, Gilan! Você gosta mesmo desse produtor, não é mesmo? — Vincent praguejou, a sua voz carregada de deboche.

— Matt está apaixonado por mim, Vincent. — ela retrucou, se virando bruscamente na direção do chefe e ficando de frente para ele. Vincent abriu e fechou a boca, parecendo petrificado. — Eu não devia ter o beijado, embora eu realmente quisesse fazê-lo. — o chefe torceu o nariz, mas ela o ignorou. — Eu não devia ter feito isso quando eu já sabia dos meus sentimentos, eu fui tão egoísta e agora... — ela hesitou, sentindo a culpa rodeá-la novamente. — Agora ele está machucado. De muitas maneiras. E ele não merecia nenhuma delas.

Ficaram se encarando por alguns momentos em total silêncio.

— Me desculpe. — Vincent murmurou simplesmente. E Gil se desarmou um pouco. — Eu realmente sinto muito, Gilan.

Gil queria dizer mais coisas, prolongar a discussão e deixar bem claro o quanto aquela atitude de Vincent havia ultrapassado todos os limites, mas se calou. E apenas observou os olhos ansiosos do chefe a encarando. Aguardando que ela o desculpasse.

Ela bufou, se rendendo. — Tudo bem, Vincent. Eu falarei com o Matt amanhã e espero que ele me perdoe por colocá-lo no meio dessa confusão.

O chefe assentiu, parecendo estranhamente tranquilo com o fato de Gil se encontrar com o jovem produtor. 

— Será que eu posso te tocar agora? — ele se aproximou e puxou todo o corpo de Gil na direção dele. — Eu realmente preciso te beijar.

Gil mal teve tempo de responder e sentiu o gosto refrescante da boca de Vincent a preencher num beijo um tanto desordenado, o toque dele era um paradoxo que a deixava tensa e relaxada ao mesmo tempo. Não se conteve quando sentiu as mãos do chefe entrarem por baixo de sua camiseta larga. Ele acariciou a lateral do corpo dela até alcançar o contorno de seus seios, tocando delicadamente o local, a deixando arrepiada.

— Isso não faz sentido. — ele respirou com dificuldade enquanto tentava formular a frase. — O quanto eu quero você. Toda. Maldita. Hora.

Num movimento afobado, Vincent arrancou a blusa que era a única peça que Gil usava além de sua calcinha branca, e ela se viu exposta, com as luzes do quarto escancarando os traços do seu corpo emagrecido pelos dias que se alimentara mal. Sentiu um rubor aquecer as suas bochechas e instintivamente ergueu o braço, tateando a parede à procura do interruptor, mas então, se lembrou das palavras de Vincent e desistiu. Ela também não queria mais luzes apagadas naquela relação.

No mesmo instante, o chefe cessou com as carícias em seu corpo e a encarou com uma espécie de hesitação. Talvez ele estivesse frustrado com ela, ou chateado. Gil não saberia dizer. Então, o chefe simplesmente se afastou e saiu da cama, a deixando sozinha e seminua, enquanto ele se enfiava dentro do closet. Gil estava prestes a questionar que porcaria de brincadeira Vincent estava fazendo quando ele surgiu novamente no seu campo de visão, segurando algo que parecia ser uma faixa.

— Você vai me amarrar de novo? — ela perguntou num misto de pânico e excitação.

— Vendar. — ele respondeu apenas, se aproximando e ajoelhando na cama.

— V-você vai me vendar? — Gil odiou o fato de parecer tão ansiosa.

— O contrário. — Gil não entendeu imediatamente o que ele dizia. — Você irá me vendar, Gilan.

Gil deixou um suspiro de surpresa escapar de seus lábios. Não era algo que ela esperava escutar. Vincent sempre tinha o comando.

— Eu quero que você relaxe todos os seus pensamentos enquanto eu estiver te tocando. — Vincent se aproximou e segurou em suas mãos, fazendo com que ela apertasse a faixa entre os dedos, e então, ele a guiou para que Gil amarrasse o tecido em volta dos seus olhos, o vendando como havia pedido. — Eu quero que a sua mente e o seu corpo confiem em mim, Gilan. Mas para isso, eu preciso te provar que posso fazer o mesmo.

— Você não precisa me provar nada, eu confio-

— Mas eu quero. — ele a interrompeu. — Eu quero te mostrar o quanto você me tem. Porque você me tem, Gilan. Mesmo quando parece que eu estou no comando, nunca sou eu. É sempre você. — e mesmo vendado, Vincent se inclinou e acertou um beijo suave em sua boca. — Faça o que quiser comigo, Gilan. Eu sou seu.

[Iniciem a música]

Ouvir aquilo fez Gil prender o ar em seus pulmões e soltá-lo devagar. Apertou um pouco mais a faixa e deslizou os seus dedos até os ombros de Vincent, que correspondeu ao toque tensionando quase imperceptivelmente os seus músculos. Gil desceu um pouco mais as suas mãos até alcançar as ondulações do abdômen do chefe, acariciando o local com as pontas dos dedos, num ritmo torturantemente suave. Vincent suspirou, e Gil pode sentir o corpo dele tremer um pouco.

— Alguém está ansioso por aqui. — ela o provocou, enquanto descia ainda mais a sua mão, até atingir a borda da calça do moletom que ele usava.

Vincent soltou uma risada que desapareceu imediatamente de seu rosto quando Gil afastou o elástico de sua calça. Se ela descesse a mão só mais alguns centímetros tocaria no volume que apertava o tecido da boxer do chefe. Gil sorriu para o nada, já que Vincent não podia vê-la, e apenas soltou o elástico, subindo a sua mão novamente até o ombro dele.

— Você só pode estar de brincadeira. — ele disse, frustração pingando em sua voz.

Gil se aproximou de Vincent e sussurrou em seu ouvido.

— Você sabe o que eu quero ouvir. — ela fez questão de imitá-lo com deboche, se segurando para não gargalhar e quebrar o clima.

O chefe prensou o maxilar e o seu rosto ficou vermelho. Gil não saberia dizer se aquilo era irritação ou desejo. Talvez ambos.

— Cuidado, Gilan. — ele rosnou.

Gil brincou novamente, dedilhando suave e devagar em torno dos músculos do braço de Vincent, raspando as suas unhas na pele dele, mal o tocando.

— Por Deus! Coloque a porra das suas mãos direito em mim, Gilan! — o chefe rosnou novamente. Gil gostou do desespero. Já esteve nesse lugar algumas vezes.

Ela se aproximou um pouco mais e friccionou os lábios por todo o pescoço do chefe, sentindo a textura da pele dele se arrepiar.

— Só as mãos? — ela perguntou enquanto esfregava a sua boca pela linha do maxilar dele.

— As mãos, a boca. O que quiser.

Gil sorriu rente a pele dele.

— Então, peça. — e o chefe resmungou raivoso, pronto para argumentar, quando Gil mordeu de leve os lábios dele. — Gentilmente.

Vincent soltou pequenas lufadas de ar, sua respiração visivelmente descompassada e então, murmurou. Tão baixo que Gil quase não escutou.

Por favor…

— Eu acho que não foi alto o suficiente, Sr. Parker. — ela não resistiu em perturbá-lo mais um pouquinho.

— Por favor, me toque. Me beije. Qualquer coisa! — o chefe soou como se fosse perder o controle a qualquer momento.

Gil decidiu acabar com aquilo e atacou a boca de Vincent, que correspondeu ao beijo parecendo alucinado. O chefe tentou tocá-la, mas recebeu um belo tapa na mão o impedindo.

— Ainda não. — ela o repreendeu, e Vincent grunhiu em resposta, continuando a beijá-la com brutalidade, até mais do que antes. Gil o mordeu, não muito forte, mas o suficiente para lhe dar uma lição e fazê-lo se afastar. — Senta na cama. — ela ordenou antes que ele pudesse reclamar da mordida.

Vincent parecia atordoado, mas obedeceu, tateando o ar até encontrar a cabeceira da cama e encostar as suas costas na superfície acolchoada. Logo em seguida, Gil sentou-se no colo dele, colocando uma perna de cada lado e tendo um déjà vu da primeira noite que passaram juntos. Mas dessa vez, ela se sentia muito mais confiante. A visão de Vincent vendado a excitava de uma maneira libertadora. Por alguns segundos, apenas aproveitou a oportunidade que tinha de observá-lo. Ofegante, com o corpo trêmulo e impaciente, apenas aguardando o que Gil decidisse fazer com ele. 

Era realmente uma cena apaixonante. Vincent inteiramente dela, confiando e cedendo as suas vontades. Gil acabou com a tensão da espera e o beijou novamente, chupando a língua de Vincent sem se importar com os sons obscenos que ecoavam pelo quarto. Abaixo dela, o chefe agarrava o lençol com os dedos. Era nítido o esforço que ele fazia para se comportar.

Aquele domínio a arrepiou, e Gil deslizou a boca até o maxilar do chefe, o mordendo suavemente e alcançando o seu pescoço, no qual se certificou de deixar uma marca bastante evidente de suas carícias.

Eu sou seu. Bem, Gil deixaria que soubessem disso.

Desceu mais a boca e beijou o peito tenso dele, tocando a ponta da língua suavemente em seus mamilos. Vincent soltou um grunhido grave e Gil cessou o toque apenas para observá-lo. Tão bonito.

Não espantava o fato de Vincent se entregar sem o menor receio, tudo nele era harmonioso. O cheiro, a pele, as suas expressões. Gil se perguntava se seria capaz de desejar outro homem com a mesma intensidade que necessitava de Vincent.

A resposta era evidente: Não. Jamais desejaria alguém assim novamente.

O chefe suspirou pesado e Gil se deu conta de que havia ficado sem o tocar por longos segundos. Ele parecia ansioso, mas ainda sim, obediente. E ela decidiu encurtar o jogo. Sua vontade já estava à flor da pele e ela precisava desesperadamente de qualquer coisa dele, por isso, desceu o seu corpo e finalmente chegou até a boxer do chefe, a abaixando completamente. A visão de Vincent exposto e tão pronto para ela a entorpeceu tanto que a fez salivar, ansiosa por tocá-lo, e assim fez. Se inclinou entre as pernas do chefe e o chupou forte, o cobrindo totalmente com a boca, subindo e descendo num ritmo quase torturante. Vincent não segurou o gemido e o som alto que veio do fundo de sua garganta refletiu em cada expressão do seu rosto. O chefe não podia vê-la, mas ela tinha o privilégio de não perder nenhum detalhe dele. Gil observou os nós dos dedos do chefe se tornarem esbranquiçados enquanto se agarravam ao lençol, e os espasmos do corpo dele abaixo do seu mostrava o quanto ele estava perto de perder o controle. Vincent fodia repetidamente a boca dela, erguendo o quadril com um pouco de brutalidade.

— Eu preciso te tocar, Gilan, por favor…— ele balbuciou entre os gemidos.

Gil o tirou de sua boca, deixando um fio de saliva entre os seus lábios e a pele dele. Ela o lambeu mais delicadamente e devagar, sem se comover com o pedido necessitado do chefe. Deslizou os dedos pelo abdômen de Vincent, e mais uma vez arranhou a pele quente dele com as suas unhas. Imediatamente, as marcas vermelhas desenharam os músculos do chefe e Gil não hesitou em lambê-las depois, desceu novamente a boca e sem pensar, mordeu a parte interna de suas coxas, deixando outras marcas ainda mais fortes por ali. Era tão delicioso e excitante ter acesso a ele. 

Eu sou seu. Agora ele era. Inteiramente.

— Gilan, eu não vou mais aguentar…

Com muito esforço, Gil desgrudou a boca dele e se ergueu. A visão que teve foi além do que poderia imaginar. Vincent parecia perdido, totalmente dependente dela. Se ela pudesse ver os seus olhos, apostaria que estavam dilatados, como se fossem drogas.

— Deite-se. — ela exigiu, e se surpreendeu com o quanto a sua voz soou segura.

E Gil se sentia exatamente assim. Inquebrável e no comando de tudo. Vincent tinha razão, ela precisava sentir que ele confiava nela, e ela precisava entender que poderia confiar nele também.

— Eu confio em você. Você confia em mim? — ela precisou dizer.

— Sim. Sempre. — ele respondeu imediatamente, a fazendo sorrir.

— Eu quero montar em você agora. — sussurrou no ouvido de Vincent, e o chefe praguejou em resposta, mal se controlando.

— Na gaveta… Tem preservativos na gaveta. — ele balbuciou.

— Eu quero te sentir inteiro, Vincent. — Gil percebeu o exato momento que Vincent a compreendeu, pois os músculos dele enrijeceram e tremeram levemente.

— Porra! — ele rosnou, a puxando em seguida contra ele e a atacando com lábios, dentes e língua. — Eu também quero te sentir inteira.

E ela se posicionou sobre ele, sentando devagar e o sentindo quente dentro dela. Sentindo as suas peles se friccionando, ardentes, febris. Queimando.

— Me abrace. — ela o ordenou, insistindo em se manter no comando.

Vincent rodeou os braços em volta da cintura pequena de Gil e a apertou com uma necessidade que quase tirou o seu fôlego. Agora estavam tão pressionados um contra o outro que mal podiam respirar. E ainda sim, se soltar daquele aperto era uma opção impensável. Gil o montava num ritmo furioso. O barulho de seus corpos batendo e se esfregando. O ar-condicionado insuficiente para lidar com o suor, com o calor que emanava daquele quarto. Os gemidos altos que atingiam todos os cômodos. Gil só queria uma explicação para tudo aquilo. Queria conseguir não sentir tanta angústia. Tanto frio na barriga ou nó na garganta. Gil queria encontrar alguma palavra que justificasse a necessidade que dominava cada parte dela. 

Isso não podia ser só sexo. Era tão diferente dos que já tinha feito antes. Tão maior do que tudo que havia vivido.

— Eu te amo. — ela disse simplesmente, a confissão reverberando por todo o seu corpo.

O chefe travou os seus movimentos. Gil não parecia diferente, com os seus músculos tensos e a sua respiração acelerada.

— E-eu não quis dizer isso. — era uma sorte que Vincent continuasse de olhos vendados, Gil estava petrificada com o tamanho da sua idiotice. Ela apenas não podia acreditar no que tinha acabado de dizer.

Há poucas horas havia revelado que estava apaixonada, o que já era informação demais, e agora, despejava as três temíveis palavras em cima dele. Seria cômico se não fosse a maior tragédia de todas, e se Gil já parecia apavorada com isso não queria nem imaginar o que se passava na cabeça de Vincent.

Silêncio. Um silêncio maior do que ela podia suportar.

— Eu gosto de você, é claro. — ela resolveu falar algo, qualquer coisa. — Mas eu… Eu não quis dizer... Eu só--

— Não pare agora. — Vincent a cortou bruscamente e começou a impulsionar o seu quadril, praticamente implorando para que Gil continuasse. — Eu quero sentir você.

E Gil não precisava de uma venda para se sentir vulnerável. Fechou os seus olhos e o montou com desespero, e um pouco de constrangimento, que arrepiava a sua pele quando se lembrava do que tinha acabado de dizer.

Eu te amo.

Vincent a surpreendeu quando acelerou o ritmo, estocando com ainda mais força. Gil não pode evitar se contrair, prendendo ele entre as suas coxas. Não adiantava mais retirar aquelas palavras quando era o seu próprio corpo que soletrava cada maldita letra. 

Eu te amo.

Gil grudou os dentes na carne do pescoço de Vincent, abafando um grito que saiu quase que ao mesmo tempo em que escutou o chefe praguejar, gozaram juntos. E não poderia ter sido mais perfeito. Ainda ofegantes, permaneceram assim por alguns minutos antes de se abraçarem, nus, suados e sem que Vincent saísse de dentro dela. Gil fechou os olhos devagar, sentindo o sono a levar para longe dali.

Eu te amo.

E se Vincent notou o quanto o corpo dela ainda tremia sobre o dele, não comentou.

 


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem... o/



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