Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 38
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vocês estão? Dessa vez eu "só" demorei 3 semaninhas, nem foi tanto vai? Hahahahaha Enfim, eu acabei me empolgando em algumas cenas e elas ficaram maiores do que eu imaginava, mas acho que o tamanho do capítulo compensa um pouco a minha demora, não é mesmo? Ah! E vocês sabem como eu amo trilhas sonoras, né? Então, em um determinado momento eu vou avisar para vocês colocarem essa música abaixo. Dica: deixem tocar repetidamente... Boa leitura.

Música: Sinead Harnett - If You Let Me
https://www.youtube.com/watch?v=WX8SFlmHTLo



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" Suas palavras, como elas me partem...
Mas, para dizer a verdade, cada pedaço é seu". (Sinead Harnett)

— Gilan… Acorda.

Gil escutou a voz distante da irmã a chamando. Por um momento, se perguntou se aquilo ainda fazia parte do seu sonho. 

Mas logo sentiu o calor de uma mão a sacudindo levemente e resolveu abrir os olhos, encarando os raios quase cegantes do sol da manhã. Olhou para o relógio em cima da mesa de cabeceira e logo depois fitou a irmã ao pé de sua cama.

— Ele ainda está lá fora.  —  Kerya disse sem cerimônia. 

E todo o seu sono foi arrancado de uma vez só. Se ajeitou na cama e sentiu o barulho do próprio coração espancando em seu peito. Parecia que o ar não alcançava os seus pulmões e ela arfou.

Vincent ainda estava ali. 

Ele realmente estava. Como isso era possível?

Sem conseguir responder a irmã, Gil simplesmente pulou para fora da cama e correu até o banheiro. Precisava lavar o rosto, trocar de roupa, se recompor. Precisava se acalmar.

— Eu só achei que você deveria saber. — ouviu Kerya dizer. — Agora eu realmente preciso ir trabalhar. — e Gil notou um pouco de amargor na voz da irmã enquanto ela se despedia.

Sempre soube do tamanho da obstinação de Vincent, mas isso era ridículo. Ele tinha mesmo dormido na rua? Debaixo da chuva? Gil mal conseguia acreditar. Ela queria checar isso com os próprios olhos. Ela queria, vergonhosamente, vê-lo. 

E assim que saiu correndo para fora do prédio, tudo desapareceu. A sua mágoa, o seu orgulho, a sua raiva. Só o que restou foi uma pontada de tristeza ao encontrá-lo curvado com os cotovelos apoiados sobre as suas coxas. Gil pensou que nunca mais o veria abatido daquela maneira, mas estava enganada. Vincent parecia ainda pior do que antes.

Como se pudesse sentir a presença de Gil, o chefe ergueu a cabeça em sua direção… E os seus olhos negros oscilaram. 

Ele a encarava como se não soubesse se aquela imagem era real ou não. Mas assim que se deu conta de que Gil estava realmente ali, o seu rosto se iluminou num sorriso tão honesto que quase a derrubou.

— Você está aqui. — Vincent se levantou rápido demais e cambaleou.

Gil imediatamente segurou nos seus braços para ajudá-lo a se equilibrar, e no momento em que o tocou pode sentir o quão úmidas e geladas as suas roupas estavam.

— Por que você fez isso, Vincent? Por que? — Gil apertou os braços do chefe e o sacudiu com uma força menor do que gostaria.

Estava com tanta raiva dele. Estava tão preocupada que chegava a doer.

— Eu não pude suportar que você tenha ido embora. — ele respondeu com dificuldade. Os seus lábios estavam secos e roxos, e tremiam. Tremiam a cada palavra que ele tentava sibilar.

Gil sentiu o seu peito se contorcer. O aperto era tão intenso que sequer tinha forças para chorar. Mesmo que quisesse. Ficaram se olhando por alguns segundos, mas encarar aquelas marcas de cansaço abaixo dos olhos do chefe era tão insuportável que Gil rapidamente desviou o seu olhar. Não sabia lidar com toda a fragilidade da aparência de Vincent. 

Ele estava ali, mas não estava. O seu olhar eram fragmentos de tons escuros e uma dor que ela não conseguia explicar, mas conseguia entender. Porque Gil, secretamente, se sentia da mesma maneira.

— Você precisa de um médico.

— Eu não preciso de ninguém. Eu só preciso que você me escute. — Vincent grunhiu alto e Gil notou o esforço que ele fazia para se equilibrar e parecer menos debilitado. — E de um pouco de água.

Assim que subiram para o seu antigo apartamento, Gil acomodou Vincent no sofá e buscou um copo d'água como ele havia pedido. Ao tentar beber, o chefe, de forma desajeitada, molhou o chão. Gil observou o quanto Vincent ainda tremia e num reflexo, retirou o copo das mãos dele e o deu de beber, tendo o cuidado de esperar que o chefe engolisse a água pausadamente. 

E conforme ele bebia, a sua aparência ia abandonando um pouco aquele aspecto enfraquecido e pálido.

— Quer mais?

— Não. — Vincent acomodou-se com dificuldade no sofá. Ele ainda parecia sentir dores nas costas e nas pernas, provavelmente, por passar tantas horas seguidas na mesma posição.

— Eu vou buscar algumas roupas secas, você precisa de um banho imediatamente. — Gil estava prestes a se levantar do sofá quando o chefe a impediu.

— Não, Gilan! Eu estou bem, só preciso que você me escute. — a voz dele soou grave e autoritária, e Gil teve vontade de revirar os olhos.

— Não seja teimoso, olhe para você. Quer ficar doente?

— Fique aqui. — ele a puxou para mais perto. — Eu preciso que você pare um minuto e me escute!

— Você não percebe que te ver nesse estado está acabando comigo? — Gil elevou a voz, deixando escapar a irritação que antes tentava controlar.

O chefe parecia contrariado, mas, mesmo assim, amansou o toque até finalmente soltá-la. Gil se afastou sem prolongar aquele contato visual tão intenso entre eles e foi até o quarto de Kerya, separou uma roupa de algum ex-namorado da irmã e entregou nas mãos de Vincent. E para o alívio de Gil, não demorou muito e o chefe saiu do banho com uma aparência bem menos lamentável.

Bem menos.

Porque Vincent estava tão bonito usando uma camiseta velha de universidade e calças de moletom que Gil quase se esqueceu do motivo de ter evitado os seus telefonemas por três dias.

— Eu não sabia se você já havia tomado o seu remédio, então liguei para uma farmácia e pedi que os entregassem aqui, logo devem chegar. — Gil soltou despretensiosamente, enquanto terminava de preparar um chá para aliviar a gastrite do chefe. Sentiu a presença dele se aproximar do balcão da cozinha e tentou não se alterar com o cheiro incrível que invadiu as suas narinas. — E-eu dissolvi um pouco de gengibre no chá, mas se você quiser-

A voz de Gil desapareceu no momento em que o corpo de Vincent a abraçou por trás. As mãos dele envolveram toda a sua cintura, a puxando e a apertando contra o seu tórax. O fato do chefe usar uma camisa um número menor a deixou ainda mais autoconsciente daquela fricção. Ela o sentia contra a sua pele, e não saberia dizer se aquele calor era culpa da atração que fervilhava entre eles ou da possibilidade de Vincent estar realmente com febre.

O chefe apoiou o queixo em seus ombros e Gil estremeceu com a respiração dele perto do seu ouvido. Não era a primeira vez que ele a abraçava assim.

— Volte. — ele murmurou, esfregando a ponta do seu nariz pelo pescoço já arrepiado de Gil. — Volte para a nossa casa.

Ela pretendia se esquivar, mas o chefe a abraçou ainda mais, encostando os lábios em sua pele num carinho que a desarmou e Gil não resistiu em fechar os olhos. Com um movimento brusco, Vincent a virou em sua direção, a resgatando do transe e a obrigando a encará-lo.

— Eu não aguento mais ficar naquele apartamento sem você. — e o chefe aproximou os lábios, respirando contra a sua boca.

Era uma sensação suave e um tanto angustiante. E Gil percebeu o quanto Vincent ainda tremia, mas já não tinha tanta certeza assim se aquilo era realmente só por causa da chuva de ontem à noite.

— Foi você quem me deixou sozinha. Mais uma vez. — ela retrucou num fio quase inaudível de voz.

— Nada aconteceu, Gilan. Acredite em mim. — o chefe roçou os lábios junto aos dela, os tocando delicadamente. Gil não conseguiu evitar o prazer que aquilo causou e gemeu em resposta.

— Me faça acreditar. — e foi só o que Gil conseguiu dizer antes de Vincent atacar furiosamente a sua boca.

O que antes parecia apenas provocação, logo se transformou em um beijo real. Vincent a prensou contra o balcão e seus dedos apertaram todos os lugares possíveis e disponíveis em seu corpo. Gil também se sentia incapaz de manter as suas mãos quietas e arranhou as costas dele sem nenhum cuidado. 

Ela o queria tanto. Tanto.

E o gosto dele era tão maravilhoso que não a deixava pensar. Ele tinha sabor de menta e saudade. Uma saudade que fazia tudo dentro dela reagir.

— Precisamos… Conversar… Precisamos resolver… — Gil sibilou entre os lábios dele.

— Eu não quero parar de te beijar. — o chefe a encurralou contra o balcão e deslizou as suas mãos pela carne da coxa dela. Gil até tentou dizer algo, mas os descansos entre os beijos se tornaram cada vez mais curtos. Mal as suas bocas se desprendiam, e Vincent já a tomava novamente, parecendo ainda mais desesperado do que antes. — Eu não consigo parar.

— Mas você precisa… Eu também preciso… — num lapso de sanidade, Gil se afastou um pouco. — Eu preciso de respostas, Vincent. Eu realmente preciso.

O chefe tomou uma lufada de ar e se afastou finalmente, se aproximando de novo apenas para encostar a sua testa na dela.

— Foi o chaveiro. — ele fechou os olhos. — Eu me surpreendi quando percebi o que tinha naquela caixa.

— E por isso você saiu correndo atrás dela? — pensar em Amelia desacelerou um pouco o seu frenesi e deu espaço a um sentimento amargo. Era deprimente admitir o quanto sentia ciúmes dele.

— Eu saí para beber, Gilan. Para pensar. — o chefe a corrigiu, voltando a passear as mãos pelas laterais do seu corpo. — Eu fugi feito um maldito covarde. Eu fugi porque fiquei sem reação.

— Aquele chaveiro nem era para você. Eu te entreguei porque você me deu o seu. Eu só queria retribuir o favor, eu sequer pensei em-

Vincent a interrompeu com outro beijo. A boca dele a esquentava como madeira queimando. Beijá-lo era tão perturbador às vezes. Era tão quente. Quente como sobreviver ao inverno.

— Por favor, Gilan… Volte comigo. — dessa vez ele implorou. 

As palavras embaçadas de Vincent a atingiram por inteira. Gil queria ceder. Entrelaçar as suas pernas ao redor dele e ceder. Mas embora o seu corpo não precisasse de nenhum motivo para estar com Vincent, o seu coração precisava saber.

— Por que passou a noite com Amelia?

— Eu nem ao menos me lembro de como fui parar na casa dela. Eu estava completamente bêbado, Gilan. — Vincent não parecia mentir, Gil conseguia enxergar a honestidade refletida em seus olhos escuros. Mas aquilo não era o suficiente para ela.

— Eu não consigo. — com certa dificuldade, Gil se soltou do aperto do chefe, e uma corrente de ar decepcionantemente gelada surgiu entre eles. — Eu tentei. Mas eu não consigo acreditar.

— E sentir? Você consegue sentir? — Vincent segurou em uma das mãos de Gil e a levou até o meio de suas pernas. O chefe fez com que ela apertasse aquele volume de maneira obscena. — Isso é o que um beijo seu me causa. — ele a liberou do toque, mas não se afastou. Pelo contrário, a apertou ainda mais contra si, cravando os dedos na carne de suas coxas. — Como eu poderia querer outra mulher? Céus, Gilan! Eu estou aqui para conversar e sequer consigo manter a porcaria das minhas mãos longe de você.

— Eu realmente não posso. — ela disse sem a menor credibilidade. Suas palavras perdiam o valor enquanto o seu corpo se contorcia sob o dele.

Aquela cozinha tornou-se menor do que nunca. Mas com o pouco de bom senso que ainda lhe restava, Gil conseguiu novamente se afastar. O chefe não contestou a distância dela, mas passou as mãos pelos cabelos com brutalidade. Ele parecia… Transtornado.

— Que merda, Gilan! O que você quer de mim? — a voz dele se alterou. — O que você quer que eu diga? Que eu estou louco por você? — Gil o encarou surpreendida. — É isso que você quer escutar de mim, não é? Então, sim! Eu estou completamente maluco por você. Eu não consigo me concentrar, eu não consigo comer, eu não consigo dormir.

Ele bateu as mãos contra o balcão e um barulho ensurdecedor ecoou pela cozinha. 

— Olhe para o meu estado. — o chefe apontou para si mesmo. Ele exibia os cabelos bagunçados, o rosto vermelho e aquele volume, que parecia ainda maior, apontando em suas calças. — Eu preciso tanto te tocar, Gilan. Não existe nada que eu deseje mais do que estar dentro de você novamente.

— Você não entende, Vincent. — ela fez uma pausa. — O que eu sinto por você não é desejo.

— Não é desejo? — Vincent riu com deboche. E como se quisesse desafiá-la, o chefe a cercou contra o balcão.

Assim que seus corpos se encostaram, Gil percebeu o quão duro Vincent estava, e como qualquer contato com ele a deixava estupidamente exaltada. E por mais que tentasse disfarçar a sua respiração desregulada, Gil tinha certeza que o chefe era capaz de sentir os seus seios se arrepiarem contra o tórax dele.

Não é desejo. — ele repetiu entredentes. — Como você tem coragem de negar isso? — Vincent sussurrou em seu ouvido, arrastando a boca pela pele exposta do pescoço dela. — Nós estamos a ponto de explodir, Gilan.

Gil se esforçou para reprimir um gemido quando Vincent simplesmente mordeu a curva entre o seu pescoço e o seu ombro. 

— Eu… Eu não posso fazer isso.

— Por Deus, Gilan! — ele se afastou inconformado. — Eu entrei em um bar qualquer e bebi além da conta. Eu não sei explicar como tudo aconteceu, mas eu liguei para Amelia. Liguei porque estava bêbado e perturbado. Liguei porque queria acabar com esses assuntos mal resolvidos. Porque queria encerrar as minhas pendências com ela, para sempre. — ele inspirou o ar profundamente. — Eu escolhi a forma e o momento errados. Eu admito. E eu vou corrigir isso, eu quero corrigir. Me deixe tentar ao menos. Volte para casa. Volte para mim.

— Eu estou apaixonada por você, Vincent. — Gil simplesmente despejou.

Um silêncio devastador se instalou naquele cômodo pequeno, fazendo com que aquelas palavras ecoassem perdidas pelo ar. E o chefe franziu o cenho, a encarando com confusão. Gil se segurou para não desviar o olhar ou simplesmente sair correndo dali.

Não haja feito uma pessoa que você não é. 

Não seja uma covarde.

Era isso. Kerya estava certa. E agora não havia mais como voltar atrás. Gil não queria voltar atrás.

— O que você disse? — Vincent se afastou alguns passos.

— Você me escutou. Eu me apaixonei. Ainda quer que eu volte para casa? — Gil retrucou com passividade, mas por dentro o seu coração continuava vociferando.

— Por que? — Vincent a olhava como se aquilo sequer fizesse sentido. — Por que você se apaixonaria por mim?

Sua confiança oscilou um pouco, e dessa vez, Gil teve que desviar o olhar. Por que você se apaixonaria por mim? Ela tinha tantas respostas para aquela pergunta. Mas não as diria. Pelo menos, não agora. Não naquele momento. Já era terrificante demais admitir que estava tão envolvida por ele enquanto Vincent ainda amava outra mulher.

Lembrar disso a corroeu. O seu olhar despencou e Gil não pode disfarçar a decepção de ver o chefe atordoado e na defensiva. Isso a deixava até mesmo um pouco ofendida. Gil só queria que Vincent a correspondesse. E ela jamais havia percebido o quanto desejava isso até aquele momento. Até vê-lo encará-la com pena. Não era jamais a reação que esperava receber. 

— Eu não posso dar o que você quer, Gilan. — Vincent quebrou o silêncio. 

Gil suspirou cansada. Não valia a pena prolongar aquela situação. Não importava a reação dele. Ela já havia dado a sua palavra de qualquer maneira e precisava seguir com aquele casamento até o final.

— Mas eu também não quero me afastar de você. — ele continuou, a olhando daquela maneira perturbada que só piorava a situação.

Vincent não a correspondia. E agora estava muito claro que o sentimento dele não se estendia além do desejo.

— Eu vou arrumar as minhas coisas. — Gil se rendeu. 

— Você realmente vai voltar? — Vincent pareceu surpreso.

— Eu tenho um contrato para cumprir. — ela retrucou séria.

— Que merda, Gilan! — ele rosnou furioso. — O que eu tenho que fazer para você voltar porque quer? 

Me ame. Me ame só um pouco. Ela quis gritar, mas ao invés disso continuou em silêncio e fechou os olhos, respirando num ritmo angustiado. Deixando o seu corpo dizer o que ela mesma não podia.

E o chefe entendeu. Claro que sim. 

Estava escancarado no rosto de Gil. 

— Eu não sei se consigo. — Vincent confessou, e Gil abriu os olhos, se dando conta de que já estava sendo observada há algum tempo. — Eu nem sei por onde começar. — ele a tocou em seu rosto.

— Me deixe entrar. — ela murmurou, e o chefe a fitou sem compreender muito bem o que aquele pedido significava. — Me deixe entrar na sua vida, Vincent.

— Você já está na minha vida. — ele bufou exasperado. — O seu cheiro está em todos os cômodos da minha casa, nos meus lençóis. — Vincent fixou os seus olhos brilhantes nos dela. — Você já está em tudo o que me rodeia, Gilan.

— Eu quero entrar aqui, Vincent. — e ela apontou o dedo no peito dele, próximo ao seu coração. — Aqui.

— Eu não sei se sou capaz. — e a resposta tão honesta do chefe a comoveu.

Gil quase conseguia enxergar a hesitação que o envolvia. Mas também podia sentir um fio de esperança, uma vontade real que vinha da voz dele, da respiração, do seu olhar.

— Eu quero tentar mesmo assim. — ela enfim se decidiu. E até podia ser uma ideia estúpida, mas era a única verdade que possuía.

Gil o amava. Demais. 

Cada parte dele. Cada uma. Por pior que pareça ser.

E todas as horas, minutos e segundos que ficou sem ele naqueles três dias, eram a confirmação dolorosa do quanto ela o queria. De qualquer jeito, mesmo que pela metade, mesmo que ele jamais a amasse como ela esperava, mesmo que tudo acabasse no momento seguinte. Gil só precisava tentar.  Porque ela não era uma covarde.

Vincent continuava em silêncio. E o eco de suas respirações ficou tão profundo, que o apartamento inteiro parecia vazio.

— Você também quer tentar, Vincent? — Gil perguntou nervosamente, abaixando o olhar e mordendo discretamente o lábio inferior.

O chefe a beijou com certa afobação, entrelaçando os dedos entre os cabelos dela.

— Quero. — ele disse, e Gil quase perdeu o fôlego. — Deus! É claro que eu quero. — ele a beijou novamente, sem se importar o quanto ainda estavam ofegantes e quase sem ar. — Eu te quero tanto. Tanto.

[Iniciem a música ]

— Então… Me deixe fazer isso com você. — Gil sibilou aquelas palavras em pequenos gemidos. 

Vincent rosnou contra a boca dela e deslizou as mãos até as dobras de sua perna, a erguendo bruscamente e a colocando em cima do balcão.

— Eu quero fazer tudo com você, Gilan.

O corpo de Gil disparou a tremer. Primeiro pelas palavras decididas de Vincent e segundo pela adrenalina de ter sido erguida naquele balcão. Se sentiu irresistivelmente poderosa o olhando de cima. Observando a expressão ansiosa de Vincent enquanto ele sugava, mordia e devorava o seu pescoço. Era um belo ângulo. Um momento perfeito para admirá-lo. A boca de Vincent estava inchada e molhada, e era linda. Tão linda. O formato, o gosto, a trilha que ele deixava em sua pele. 

Gil nunca mais queria que o chefe parasse de beijá-la.

E ele parecia pensar o mesmo. Pois a intensidade do seu toque aumentou, assim como a sua respiração. Vincent beijou o pescoço dela até alcançar a abertura de sua blusa, e simplesmente sugou a pele de sua clavícula, deixando um chupão em seguida.

Aparentemente, o contraste da marca avermelhada contra a palidez de Gil deixou o chefe um pouco focado demais, e ela aproveitou aquela pausa para puxar a barra de sua própria blusa até a altura da cabeça e se livrar de uma vez por todas da peça.

Vincent a encarou com surpresa, e Gil odiou ficar tímida por causa disso. Afinal, eles já haviam feito coisas piores antes.

Mas com as luzes apagadas. Sua mente decidiu lembrá-la.

— Eu mal consigo acreditar na minha sorte. — Vincent murmurou beijando o hematoma que ele mesmo fizera, percorrendo com os lábios o tecido do sutiã de Gil, e descendo devagar, até alcançar a barriga descoberta dela.

Gil prendeu a respiração quando ele trilhou a sua cintura com beijos, sugando o local em seguida, deixando outra pequena marca por ali.

Se sentiu uma tela em branco, sendo desenhada pela boca de Vincent. Marcada pelas cores que ele espalhava em seu corpo. 

Suspirou enfraquecida, o admirando mais uma vez. A curvatura dos cílios dele tocando em suas bochechas, denunciando a entrega do chefe naquele gesto. De olhos fechados, Vincent parecia inteiramente seu. 

E então, ele os abriu e a encarou. Determinado. Com algo perigoso em cada linha de seu rosto. Vincent se ergueu, ajeitando a sua postura e se colocando entre as pernas de Gil, sem deixar – nem mesmo por um segundo – os olhos negros desgrudarem dos azuis. 

Agora eles pareciam ter a mesma altura, talvez Gil ainda estivesse um pouco mais alta.

O chefe aproximou os seus lábios a centímetros do dela, Gil chegou a fechar os olhos esperando um beijo, mas ele não veio. Ao invés disso, ela sentiu as mãos quentes de Vincent em suas costas, manuseando o fecho de seu sutiã. Gil sorriu debochada para a dificuldade dele em abri-lo e o chefe retribuiu com um olhar de malícia… E um puxão. Um puxão tão forte que estraçalhou por completo o fecho de seu sutiã. 

— Qual é o seu problema com as minhas peças íntimas? — ela reclamou , mas estava impressionada.

— Eu compro uma nova. — ele retrucou com mais um sorriso, enquanto deslizava as alças da lingerie pelos ombros de Gil, descartando-a totalmente em seguida.

— Eu realmente gostava desse sutiã. — ela disse num murmúrio.

— Você vai gostar ainda mais da minha boca. — e ele mordeu suavemente a ponta de seu seio, deslizando a língua sobre ele, e em seguida, o assoprando.

Gil inclinou o seu corpo para trás, suas mãos apertando a borda do balcão.

— Você sabe o que eu quero ouvir, Gilan. — ele sorriu contra a pele dela, fazendo os seus seios se arrepiarem ainda mais.

— Me chupa direito! — ela disse entredentes, num misto de irritação e prazer.

O chefe deixou escapar uma risada e Gil fez uma careta, sem achar a menor graça naquilo. Odiava a sua arrogância, mesmo quando a deixava louca.

— Você é tão ridículo, eu juro que-

Vincent cobriu um dos seus seios com a boca, o chupando num ritmo enfurecido. Língua e saliva que a deixaram trêmula. Gil abriu a boca, mas só conseguia gemer fraco. Os lábios dele eram um alívio para o seu corpo tão necessitado. Gil se inclinou ainda mais, jogando a cabeça para trás e tentando controlar a sua vontade de gritar. Era tão bom sentir a boca do chefe alternando entre os seus seios, a lambendo, a marcando, com o mesmo desespero – ou até mais – que ela o recebia.

Então, Vincent aproveitou o fato de Gil estar com a boca entreaberta e colocou dois dedos dentro dela.

— Chupa. — ele ordenou, e ela o obedeceu, lambuzando os dedos dele com saliva enquanto Vincent fazia o mesmo com os seus seios.

Mas então, o chefe parou e se ergueu, ficando novamente na mesma altura que ela. Gil agora rodeava os dedos dele com a língua, ciente que Vincent observava os seus movimentos. Levantou o seu olhar e se atreveu a encará-lo. O chefe a fitava com uma expressão tão fissurada que a fez tremer de expectativa.

— Eu poderia te olhar fazer isso por horas. — Vincent mexeu os seus dedos devagar, os tirando e os colocando repetidas vezes na boca de Gil.

Mas para a decepção de Gil, que estava hipnotizada com aquilo, ele os retirou completamente, deixando visível um fio de saliva que separava a sua boca molhada dos dedos dele. Sem dizer nada, o chefe deslizou a mão por debaixo da saia de Gil, procurando a borda de sua calcinha, e colocando os dedos úmidos ali dentro.

O choque térmico entre a pele em chamas de Gil e o toque gelado de saliva a fez se afastar um pouco. Aquele contato era intenso demais. Ela estava tão sensível que mal conseguia aguentar.

Quando o sentiu mexer os dedos, Gil não pode evitar envolver o pescoço dele com os seus braços e o apertar contra si, buscando alguma forma de alívio. Ela queria tanto que ele acelerasse, mas sabia que o chefe não faria isso da maneira mais fácil. Vincent era um convencido até na hora do sexo. E Gil teria que pedir. Que implorar.

— Mais rápido. — ela disse rendida, murmurando contra o pescoço dele.

— Tudo o que você quiser. — Vincent rosnou ofegante e aumentou o ritmo do seu toque.

Gil se remexia em cima do balcão e o agarrava como se fosse cair a qualquer momento. Ela se friccionava contra a mão dele sem sequer se importar o quão insensata aquela cena poderia parecer. 

Ela só queria mais, ela só precisava de mais. Mais um pouco e ela ficaria tão bem. Tão satisfeita. 

Mas Vincent parou. Ele simplesmente parou e se afastou, e Gil abriu os olhos se sentindo atordoada demais para entender o que acontecia ao seu redor. Vincent tateou os seus bolsos e tirou a sua carteira de lá, jogando todos os documentos no chão até encontrar o que tanto queria. Gil entendeu o que aquilo significava e respirou ansiosa. Sentia uma falta imensa do toque dele, precisava acabar com aquela agonia que não a deixava raciocinar. O chefe finalmente abaixou as calças junto com a sua boxer, e Gil sentiu todos os seus pelos se arrepiarem. 

Se Vincent olhasse para a pele dela agora, saberia exatamente o quanto ele a afetava. 

O chefe abriu o pequeno pacote com os dentes e ela se concentrou em puxar para fora a blusa que o chefe ainda usava. Se atrapalharam um pouco com o tecido da camisa dele, mas logo Vincent estava pronto. O chefe colocou as mãos por dentro da saia de Gil novamente, e tocou nas laterais de sua calcinha.

— Não se atreva a rasgá-la. — ela o advertiu séria.

Vincent sorriu travesso e se abaixou, deslizando a peça devagar pelas coxas dela e jogando em algum lugar qualquer.

Quando o chefe voltou à posição anterior, Gil abriu um pouco mais as pernas e o seu corpo tremeu involuntariamente, sofrendo com a expectativa de tê-lo mais uma vez. E Vincent não prolongou aquela espera. Um gemido alto reverberou sem pudor dos lábios de Gil. Ele estava dentro dela. Inteiro e quente. 

Tão quente que parecia febre. Que pareciam doentes.

— Eu senti tanto a sua falta. — ele rosnou enquanto a preenchia ainda mais fundo.

Gil fez aquilo que tanto queria e entrelaçou as suas pernas em volta da cintura de Vincent, o apertando contra ela. Cada pedaço de sua pele encostada na dele. Se não fosse a sua necessidade animalesca para que ele se movesse, Gil desejaria ficar assim para sempre. Vincent pareceu entendê-la, pois imediatamente começou a se mexer, estocando de maneira lenta e precisa, estimulando todas as sensações do seu corpo.

— Você é tão deliciosa. — ele grunhiu fraco, ainda a penetrando devagar. — Céus! Eu preciso te foder de verdade.

— Então faça. — Gil falou simplesmente. Ela também precisava daquilo, desesperadamente.

Vincent cravou os dedos na carne da bunda de Gil e a ergueu no ar. Suas estocadas se intensificaram alucinadamente, fazendo um barulho obsceno ecoar pelo apartamento. Gil sentia tudo aquilo como se um raio atravessasse o seu corpo. Explodindo faíscas em cada lugar que Vincent tocava. Apoiou as suas pequenas mãos nos ombros dele e se entregou àquele ritmo desregulado. Ela suava e sua pele escorregava contra a dele, tornando o momento ainda mais passional.

— Eu nunca mais vou te perder. — as palavras de Vincent saíram falhas, mas arrasadoramente sinceras. — Você é minha mulher… Minha.

— E você? Você também é meu? — aquilo não deveria parecer uma pergunta.

Vincent acelerou ainda mais, agarrando a sua cintura com uma vontade quase destrutiva, a erguendo para cima e para baixo até os seus corpos se chocarem com violência. Gil não pode mais suportar a pressão que aquilo causava dentro dela e gozou com um prazer tão excessivo que o seu corpo se desprendeu de si mesma, se distanciando, flutuando para dentro daquela sensação. Era uma força tão potente que no segundo seguinte ela quase desmaiou, totalmente anestesiada pelo seu orgasmo, desejando apenas se deitar na cama mais próxima, ou até mesmo no sofá.

— Eu quero gozar em você. — Vincent a encarou, e Gil apenas concordou, esperando ansiosamente que ele fizesse isso.

Vincent a colocou novamente no balcão, e Gil sentiu instantaneamente o alívio de se apoiar em algum lugar. Estava tão sobrecarregada e apesar do seu corpo já ter esgotado os limites, assim que viu Vincent sair de dentro dela e se livrar do preservativo, a sua excitação retornou com uma intensidade desproporcional considerando a sua exaustão. Ela o observava hipnotizada. O chefe bombeou com a sua mão algumas vezes, antes de finalmente gozar com um grunhido gutural. O gozo dele espirrou em sua barriga, em seus seios e um pouco perto de sua boca. Gil instintivamente passou a língua por ali, limpando o líquido de seu rosto.

Vincent a olhou com um toque visível de admiração e se esfregou em sua barriga, dando leve batidas até não sobrar nenhuma gota nele e ficarem todas na pele dela.

— Sim. — o chefe acariciou o seu rosto e afastou alguns fios de cabelo suados dali. — Sim, Gilan. Eu também sou seu. — e então, a beijou.

 


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Notas finais do capítulo

UFA! Eu sempre fico nervosa quando posto algo desse tipo, essas cenas são complicadas demaaaaais de escrever!!! xD Espero que vocês tenham gostado. Até mais... o/



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