Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 22
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Por favor, perdoem essa autora ausente. Não vou ficar explicando todo o caos que foi esse carnaval porque eu sei que vocês querem mesmo é ler essa atualização atrasadissima! Beijos...



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"Saudade é amar um passado que ainda não passou,  é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida". (Pablo Neruda)

Apesar de Elaine tentar convencê-la a aproveitar a noite e se divertir sem preocupações, Gil simplesmente não conseguia.

Se entregar de cabeça no trabalho era uma forma de controlar a sua ansiedade, por isso, Gil procurou se ocupar na maior parte do tempo e qualquer coisa que acontecia no evento, por menor que fosse, ela corria para tentar resolver.

Arrumou o problema da iluminação do jardim. Checou os itens do leilão. Reforçou a segurança no hall da entrada e verificou se as bebidas estavam circulando com frequência. Sentia-se aliviada com o turbilhão de imprevistos que apareciam, pois era preferível se manter útil em vez de passar a noite toda posando ao lado do noivo. 

Não que ela estivesse se sentindo deslocada. Longe disso.

Na realidade, Vincent parecia sempre procurar uma maneira de tocá-la ou adicioná-la na conversa, o que era adorável, ela tinha que admitir. Entretanto, a ideia de servir apenas como um acessório ao lado do líder de equipe não lhe empolgava em nada, uma vez que a expectativa de encontrar Amelia White praticamente a enlouquecia. 

O melhor que podia fazer era continuar se atarefando, e vez ou outra, admirar os olhos atentos do noivo, que apesar da distância e da multidão, sempre conseguiam encontrá-la.

— Bonito vestido. — uma voz melodiosa chamou a sua atenção, a fazendo virar repentinamente. 

Gil deparou-se com a figura de uma mulher esguia e sorridente. Ela trajava um vestido dourado deslumbrante, que continha um decote tão acentuado que tornava quase impossível não fixar o olhar naquela direção. A mulher usava os cabelos presos em um coque casual, porém, muito sofisticado, e exalava um perfume marcante que impregnou tudo ao seu redor, deixando-a levemente zonza. 

Gil imediatamente a reconheceu. E comprovou que Amelia White era ainda mais bonita pessoalmente do que nas fotos.

— Esse também é emprestado? — Amelia continuou, olhando fixamente para o vestido de Gil.

Olhou para si mesma, analisando a roupa que usava, e a lembrança da noite em que Sara e Gretta surrupiaram algumas peças do acervo da Moda Mulher lhe veio à tona.

Gil se deu conta de que naquela noite que ouvira passos no corredor elas realmente não estavam sozinhas. Tinha alguém as observando . E esse alguém era justamente a mulher à sua frente.

Diante do silêncio de Gil, Amelia simplesmente estendeu a sua mão. — Que deselegância a minha. Creio que não fomos apresentadas formalmente. Sou Amelia White.

— Gilan Robert. — ela respondeu com um sorriso nada honesto.

Gilan… — Amelia soltou uma pequena risada que em qualquer outra circunstância a faria revidar imediatamente. Mas, naquele momento, Gil sentiu-se estranhamente intimidada. — Não é um nome fácil de se esquecer. Admito que já ouvi falar de você, infelizmente, não em uma situação que eu apreciasse muito.

Gil a fitou um tanto surpresa com aquele comentário. Não pensou que ela pudesse ser tão direta.

— Você me tirou algo muito valioso. — Amelia continuou, e Gil parecia ter perdido a voz. — Ainda não superei o fato da produtora de Matthew Green me dispensar. — ela sorriu divertida. — Foi uma manobra inteligente, parabéns.

— Eu apenas li o contrato com atenção. — Gil finalmente conseguiu falar, satisfeita por sua voz sair com firmeza.

— Espero que não tenha se ofendido quando eu resolvi revidar. — Amelia piscou charmosamente. — Eu imagino que a minha ida à Fort Worth atrapalhou um pouco a equipe de vocês.

O chefe não estava equivocado, afinal, quando acusou a líder de equipe da Moda Mulher de agir de má fé naquela história do acampamento.

— Não se preocupe, tudo saiu conforme o combinado e o resultado nos deixou completamente satisfeitos.

— Eu não duvido que os testes tenham sido um sucesso. Mas eu sei o quanto Vince detesta segundas opções. — a risada sonora de Amelia lhe deu arrepios. Ouvi-la se referir à Vincent de forma tão íntima despertou algo  animalesco em Gil.

— Vincent não só ficou satisfeito, como impressionado.Gil enfatizou o nome do noivo.Tanto, que o novo camping já se tornou a primeira opção nos próximos agendamentos. Amelia murchou o sorriso e Gil continuou. — E respondendo a sua pergunta, não. Esse vestido não é um empréstimo. Foi um presente do meu noivo, que você sabe exatamente quem é.

Gil deu as costas para a líder de equipe, decidida a abandonar a conversa por ali. Não suportava mais olhar para aquela mulher petulante e sentir aquele perfume enjoativo. Porém, a voz de Amelia a obrigou a amansar os passos.

— Agradeça a Sara pelo bom gosto de escolher o seu vestido dessa noite. — a líder de equipe a provocou. 

— O que você quer dizer com isso? — Gil virou-se novamente.

Vince é ocupado demais e sempre precisou da ajuda de suas assistentes para esse tipo de tarefa. — Amelia a fitou da cabeça aos pés, e lhe lançou um fino sorriso. — Mas como a assistente é justamente você, ele deve ter passado essa demanda para outra pessoa, não é mesmo? Sara, com certeza. Afinal, pelo que pude ver, ela já está familiarizada com o número que você veste.

Gil não conseguia responder. Sentiu-se tola ao supor que Vincent perderia o seu tempo procurando a porcaria de um vestido para ela, e quis enterrar a cabeça na terra quando pensou nas mensagens que trocaram mais cedo. Sentia-se ridícula. Estava escrito em sua testa o quanto era insegura em relação ao noivo, e Amelia facilmente havia notado isso.  

— Eu não preciso da ajuda de ninguém para te escolher um vestido. — sentiu o noivo se aproximar devagar e se posicionar ao seu lado, a abraçando em seguida. — Eu conheço o seu corpo. — Vincent a fitou com sinceridade e então, murmurou em seu ouvido enquanto alisava o tecido do vestido. — Verde. É a sua cor favorita. — e aquela observação a fez sorrir.

Vince… —  Amelia os interrompeu. E Gil foi capaz de sentir o corpo do chefe enrijecer quando a voz melodiosa de Amelia o chamou.

—  Não imaginei que viria. — ele a cumprimentou com decoro, sem prolongar o seu olhar no dela.

— Confesso que pensei em recusar o convite. Mas, diante dos últimos acontecimentos… — ela encarou Gil com uma simpatia forçada. — A minha curiosidade foi mais forte. Mal pude acreditar quando li que você estava noivo.

— Agora que conheceu Gilan, imagino que não seja tão difícil assim de acreditar.

— Sim. Claro. — Amelia lançou um sorriso sem muita energia para Gil. — Sua noiva é lindíssima.

A voz de Elaine ecoou pelo recinto, anunciando ao microfone o início do leilão, e Gil agradeceu por se livrar daquela conversa constrangedora. Amelia se despediu educadamente e se juntou a um outro grupo. 

Vincent puxou Gil pelo braço e a guiou até a ponta do palco. Não demorou muito para os lances começarem. Os itens disponíveis para o leilão eram variados, indo de viagens para a Europa, esculturas de cerâmica chinesa, roupas de grifes e peças de joias exclusivas.

Gil avistou Matt do outro lado do salão e um bem estar se acomodou instantaneamente dentro dela. Apenas ver o rosto de Matt já a deixava mais calma. Gil lançou um aceno animado na direção do produtor e Elaine berrou ao microfone.

“Cinco mil para a jovem na terceira fileira”. E piscou satisfeita para a futura nora. Quando Gil percebeu o descuido, olhou desesperada para Vincent.

— Eu não tenho cinco mil dólares. — ela sussurrou para o noivo, totalmente em choque.

— Tivesse pensado nisso antes de ficar acenando para o produtor. — Vincent retrucou.

 — Por favor, me tira dessa. — Gil precisou implorar.

—  Francamente, Gilan, quem levanta a mão em um leilão se não for para dar um lance? — ele revirou os olhos e bufou impaciente. Em seguida, levantou o braço um tanto contrariado, oferecendo um lance maior.

Gil respirou aliviada e decidiu que não desgrudaria mais os braços do corpo até o final do evento.

— Amelia te ofendeu? — Vincent perguntou subitamente.

— Ela tentou. — o noivo a encarou com dúvida. — Mas não se preocupe, ela não conseguiu. — aquilo era uma mentira. Gil estava mais ofendida do que nunca, e insegura. Porém, Vincent não seria capaz de mudar isso e não adiantaria incomodá-lo com esse assunto.

— Certo. — ele falou simplesmente.

— Amelia é muito bonita. — Gil se arrependeu no mesmo instante daquele comentário, mas precisava encontrar alguma maneira de ler as emoções do noivo. Sua apatia a estava deixando muito mais aflita.

— Eu sei. — Vincent respondeu, enquanto dava mais um lance, dessa vez, para uma pintura do século XVII. 

Nenhuma alteração. Nada. Ele não demonstrava nenhum sinal de como havia se sentido com aquele encontro.

— Você está bem? — Gil torceu um pequeno folheto entre os dedos, tentando canalizar o nervosismo de continuar insistindo no assunto. — Digo… Por reencontrar Amelia, você pareceu um pouco desconfortável.

— Eu a tenho evitado por anos. — ele disse sem olhar para Gil. — É natural que a presença dela não seja um deleite.

Gil pensou que quisesse saber o que se passava na mente do noivo. Desde que soubera que esse encontro poderia acontecer, estava se mordendo de tanta curiosidade, porém, diante daquela confirmação tão franca, preferiu deixar o assunto de lado.

Talvez não estivesse preparada para escutá-lo dizer novamente o quanto ele ainda se importava com aquela mulher.

Não. Definitivamente, ela não queria saber.

O leilão finalmente chegou ao fim e resultou em uma arrecadação impressionante, que seria doada à ala hospitalar de tratamento ao câncer infantil. Elaine não poderia estar mais radiante, e para Gil, isso fez com que a tensão daquela noite tivesse valido à pena. 

Vincent comprou pelo menos cinco obras de arte e uns dias num resort em Monterey. Viagem que Gil tinha certeza que ele não compareceria, já que o noivo não tinha a menor intenção de desperdiçar o seu tempo longe do trabalho.

Um tintilar de taça chamou a atenção de todos para o palco, e a voz de Elaine falou ao microfone novamente.

— Senhoras e senhores, não poderíamos nos despedir desse evento extraordinário sem nos divertimos mais um pouquinho, não é mesmo? — ela disse animada. — Quanto os cavalheiros estão dispostos a pagar para desfrutarem uma dança com uma bela dama? — e todos caíram na risada. — Vamos lá, senhoras e senhoritas, precisamos de voluntárias. Não sejam tímidas.

Algumas mulheres, jovens e mais velhas, subiram ao palco entre risadas e gracejos, e se posicionaram uma ao lado da outra. 

Gil detectou um perfume enjoativo se aproximando e reparou em Amelia passando ao lado deles. Antes de se afastar, a líder de equipe olhou para trás e fitou Vincent como se o desafiasse.

— Espero que esteja se sentindo generoso hoje, Vince. — e lançou um olhar de desdém para Gil antes de seguir para o palco.

 Como é que é? 

Gil observou Amelia se afastar e ficou completamente perplexa com a ousadia daquela mulher. Sentiu o sangue ferver em suas veias, e se fosse um pouco mais parecida com Kerya, já teria confrontado Amelia ali mesmo. Entregou a sua taça vazia para o noivo e deu dois passos confiantes antes de Vincent a segurar.

— Aonde você pensa que vai?

— Dançar. — e se soltou dos braços dele, indo em direção ao palco.

xXx

Agora que estava sendo observada por todas aquelas pessoas, Gil se deu conta do tamanho de sua estupidez. 

O que estava pensando quando resolveu se colocar naquela situação? E se Vincent não desse um lance sequer por ela? E se ele preferisse comprar uma dança com Amelia? 

Não. Isso seria a maior humilhação de todos os tempos.

Que ideia brilhante, Gilan. Procurou Matt na multidão e lhe lançou um olhar suplicante, quase desesperador. Ele assentiu com simpatia. O que a fez relaxar os ombros, ao menos poderia contar com o lance do produtor.

— Temos aqui a nossa primeira dama. — Elaine apontou o microfone para uma jovem ruiva e cheia de sardas, usando um elegante vestido lilás. — Qual o seu nome?

 — Mary Trendley. — a mocinha respondeu tímida.

— Vamos começar com um lance generoso, senhores? Cem dólares? 

Os lances foram aumentando e a tímida Srta. Trendley foi “leiloada” para um jovem bastante atraente por mil dólares, o que deixou a moça instantaneamente satisfeita com o resultado. 

E assim os lances seguiram. Algumas jovens conseguiram arrecadar dois mil, outras três mil e teve até mesmo uma garota que conseguiu a façanha de vender a sua dança por cinco mil dólares.

Gil até estava se divertindo com aquela brincadeira, até perceber que finalmente era a vez de Amelia.

— Mil dólares. — Um homem gritou do fundo do salão.

Gil congelou. Se o primeiro lance já havia sido mil dólares, não queria nem imaginar até aonde isso poderia chegar.

— Dois mil dólares. — e Gil suspirou desanimada, quase não querendo olhar na direção daquela voz que ela conhecia tão bem.

Vincent.

O noivo lhe devolveu o olhar com naturalidade, como se aquele lance fosse mais uma questão de educação do que qualquer outra coisa. E de fato, Vincent não tornou a dar outro lance. 

Gil sentiu um prazer intrínseco dentro do peito. O noivo sequer olhava na direção do palco, ficou o tempo todo lendo os folhetos, ou cochichando com algum conhecido. O que deixou Amelia notavelmente contrariada. Mas ainda sim, a líder de equipe sustentou um sorriso irritantemente irônico quando o seu último lance foi dado.

Dez mil dólares. O valor mais alto entre as damas.

— Agora vejamos essa charmosa mocinha aqui... — Elaine apontou para Gil, a fazendo tremer dos pés à cabeça. Porém, a futura sogra mal teve tempo de completar a frase quando a voz grave de Vincent ecoou pelo salão.

— Dez mil dólares. — ele disse, observando Gil com os olhos intensos.

“O que?”. 

“Ele disse dez mil? ”. 

“O primeiro lance foi dez mil? ”.

Gil escutava os sussurros das mulheres ao seu lado. E poderia jurar que ouviu Amelia bufar.

— Vinte mil. — uma voz masculina gritou pelo salão. Uma voz que Gil já havia escutado antes.

Harold Mars a olhava com uma expressão desafiadora e inquestionavelmente atraente, e ela quase perdeu o equilíbrio em cima dos saltos.

— Trinta mil. — Vincent retrucou. Gil acompanhava os lances como se estivesse em uma partida de tênis.

— Quarenta mil. — Harold ofertou novamente.

— Cinquenta mil. — Vincent contra lançou no mesmo segundo, fazendo as pessoas soltarem um sonoro suspiro de espanto.

Elaine parecia confusa tentando acompanhar a contagem e todos observavam exasperados a tensão que pairava pelo salão, e se Gil não estivesse tão espantada, provavelmente já teria caído dura ali mesmo. O que estava acontecendo? 

Ela mal conseguia se mexer. Ela mal conseguia acreditar.

— Sessenta mil. — Harold sorriu triunfante quando algumas senhoras o aplaudiram.

Um silêncio aterrorizante se instalou no salão e a expressão de Vincent era uma incógnita. Gil olhou desesperada para a direção de Matt que parecia tão atordoado quanto o restante dos convidados. 

Ela não queria dançar com aquele homem. Qualquer um, menos Harold Mars.

Implorou com os olhos para que o produtor a tirasse daquela situação, uma vez que o chefe parecia ter desistido de cobrir a oferta de Harold. Matt entendeu o recado, mas quando fez menção de levantar a mão para o seu lance, a voz de Vincent o impediu.

— Cem mil dólares.

 “Oh”. Gil escutou um uníssono. Era inacreditável que uma simples dança pudesse chegar a esse valor tão alto.

— Só eu estou suando por aqui? — Elaine se abanou, fazendo os convidados caírem na risada. — Cem mil dólares. Deus santo! Alguém dá mais? — Harold fez uma negativa com a cabeça e lançou um olhar benevolente para Vincent, dando-se finalmente por vencido. — Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Dou-lhe três. Vendida por cem mil dólares. Meu Jesus Cristo!

E o salão se encheu com o barulho de aplausos e assovios animados. Em seguida, as jovens foram de encontro aos seus “compradores”, para iniciarem a dança e Amelia passou por Gil sem sequer olhá-la. Não que isso tivesse a menor importância para ela no momento, uma vez que ainda se encontrava atônita com o que acabara de acontecer.

Gil avistou Vincent se aproximar devagar e ser parado por algumas pessoas que insistiam em cumprimentá-lo pela generosidade na doação. 

Então, escutou uma voz arrastada atrás de si.

— Srta. Robert, é um prazer revê-la. — Harold segurou em sua mão, lhe depositando um casto beijo. Um gesto que Gil queria achar inapropriado, mas não foi assim que se sentiu. Aquele homem era realmente um habilidoso sedutor. 

— Espero que esteja se divertindo, Sr. Mars. — ela sorriu.

— Me chame de Harold, por favor. — ele pediu charmoso. — Estaria me divertindo mais se pudéssemos compartilhar essa dança.

— Sinto em desapontá-lo, — Vincent os alcançou finalmente e abraçou Gil pelos ombros. — mas essa diversão é apenas minha. — ele a encarou. — Vamos?

Gil assentiu e estendeu a mão para se despedir do ex- diretor.

— Espero que não pense que desisti do lance por se tratar de um valor alto. — Harold se explicou. — Como o cavalheiro que sou, achei melhor me retirar, mas acredite, eu ofertaria a noite toda apenas para ter o prazer da sua companhia.

— E eu cobriria qualquer oferta apenas para impedir que isso acontecesse. — Vincent retrucou, puxando Gil pelo braço e a afastando dali.

xXx

Os casais dançavam ao ritmo de uma música lenta e Vincent se aproximou calmamente de Gil, mas antes que ele a tocasse, ela se afastou alguns passos e o encarou. Ainda estava abismada com o valor obsceno que o noivo gastara.

— Eu sei que o dinheiro é seu, e sei também que foi por uma boa causa, mas… Cem mil dólares? — Gil suspirou inconformada.

— Você não acha que vale tudo isso? — Vincent a provocou.

— Não é essa a questão. É só que... Isso foi um exagero, Vincent.

— Eu pagaria mais.

— Não seja ridículo.

 — Acredite. Eu pagaria... — ele a puxou e a prensou contra o seu corpo. — ...Mais.

A presença de Vincent preencheu a pouca concentração que ainda lhe restava. Uma melodia agradável embalava o ambiente enquanto os braços do noivo a guiavam com precisão. Vincent ditava o ritmo e ela correspondia totalmente envolvida. Os movimentos eram lentos e estimulantes. Sentiu a respiração do chefe contra o seu cabelo, aquecendo tudo ao redor. 

Vincent a prensou ainda mais e ela pode perceber os músculos do tórax dele se contraírem.

É apenas uma dança.

Gil precisou se lembrar quando uma vontade incontrolável de cheirá-lo lhe passou pela cabeça. Cravou as unhas nos ombros do noivo, como se tentasse tornar aquela sensação palpável e ele retribuiu alisando o trajeto de sua cintura até o quadril, pousando suas mãos enormes no final da curvatura de sua coluna. 

A expectativa de ter aquelas mãos se abaixando só um pouco mais a estava matando. Gil quis se esconder quando se deu conta do quanto parecia vulnerável. Por Deus! Ela estava realmente tremendo por causa de uma dança? 

Depois de alguns minutos, Vincent retornou as mãos no meio de suas costas a fazendo relaxar os ombros. Essa era, oficialmente, a dança mais longa do universo. 

E provavelmente, a mais cara também.

Gil começou a ficar impaciente. Não queria continuar tão próxima do corpo de Vincent. Era uma grande porcaria confirmar o quão bem eles se encaixavam. E soltou um suspiro longo, fazendo Vincent travar o passo, e a olhar com uma expressão estranha.

— Não se preocupe, Gilan. Já está acabando. — ele disse com rispidez.

Gil enrugou a testa, tentando compreender aquele comentário. Vincent parecia ofendido e quando a música finalmente terminou, o chefe a soltou bruscamente, se afastando.

— Obrigada pela dança. — ela quebrou o silêncio entre eles, tentando soar amável. O que deu nesse homem?

— Não me agradeça. Eu paguei por isso. — ele retrucou, se afastando ainda mais e deixando bastante claro que não voltariam a compartilhar aquela aproximação.

Gil prensou os lábios, ignorando a grosseria. — Obrigada por cumprir o combinado, então.

— Cumprir o combinado é tudo o que importa, não é mesmo? — Vincent soou irônico, conseguindo, enfim, irritá-la.

— Por que está tão irritado? Foi você quem pagou por uma noiva. Ou eu deveria dizer, uma acompanhante? — Gil retrucou com tanta raiva que sequer mediu as consequências de suas palavras.

— Repita isso novamente e eu não respondo por mim. — Vincent a ameaçou, e era oficial, ele estava realmente furioso.

— Me desculpe, senhor. Gostaria de outra dança? 

— Gilan, fique quieta, ou... — a voz dele saiu rouca e a advertia. 

— Ou o que? — ela o desafiou. — Irá pedir o seu dinheiro de volta?

— Seria um alívio para você, não seria? Me pagar esse maldito dinheiro e se livrar de mim. — ele praguejou, um pouco mais alto que o necessário.

— Quer me cobrar o dinheiro do apartamento agora? — Gil continuou, sentindo os olhos a incomodarem. Se odiaria se começasse a chorar justo essa noite.  — Devo procurar outro lugar para morar? — ele tentou se aproximar a tocando no braço, mas Gil se afastou com rispidez. — Você é rude e desagradável, diz tudo o que quer sem se importar com os sentimentos das pessoas, mas não consegue escutar algumas verdades?

— Não existe nenhuma verdade saindo da sua boca. — ele murmurou. — Você despreza o nosso acordo, você tem asco de mim.

— O que? — Gil arregalou os olhos com aquele comentário. Qual o motivo de Vincent pensar assim? Ela era capaz de sentir muitas coisas por ele. Mas com certeza, asco não era uma delas.

— Cada vez que eu me aproximo você se afasta de mim.

Gil continuou olhando para o homem à sua frente tentando entender como ele chegara a essa conclusão. 

— Você não deu um único sorriso enquanto dançávamos. — ele murmurou. — E eu sei que te convenci a aceitar uma situação insuportável para você. 

Gil não soube o que responder. Se convenceu que deveria manter uma distância segura entre eles, mas jamais imaginou que as suas atitudes fossem vistas dessa maneira. Ela não sentia asco dele e muito menos havia sido forçada a nada. Quis esclarecer aquele mal entendido mas avistou Amelia White se aproximando.

Deus! Mais essa?

Parabéns pela generosidade, foi uma disputa vibrante. — e sorriu para Vincent com simpatia.

Dissimulada. Gil revirou os olhos, sem a menor paciência. Tinha um assunto muito mais importante para tratar agora. Será que essa mulher não percebia que estava atrapalhando?

— Desculpe interromper essa dança tão valiosa de vocês... — Amelia fez uma piada que não arrancou nenhum sorriso. — Mas, eu gostaria de um minuto a sós com você, Vince. — e finalmente olhou para Gil, que se sentia deixada de lado até então. — Claro, se você não se importar, Gilan.

— Na verdade, eu me importo. — Gil despejou, sem disfarçar o mau humor. Seu desejo era de que o chão se abrisse e engolisse Amelia. — Nós estávamos no meio de uma conversa importante.

— Por favor, Vince, prometo que não tomarei muito do seu tempo. — Amelia suplicou, ignorando o comentário de Gil.

— Não vejo qual assunto nós ainda possamos ter, Amelia. — Vincent retrucou calmamente, e Gil respirou aliviada.

— Me dê apenas cinco minutos. — Amelia implorou, franzindo a testa feito um cachorro faminto.

Vincent suspirou alto como se travasse uma batalha interna, e por fim, assentiu, se aproximando devagar da líder de equipe.

Não. 

Não. 

Não. 

Gil segurou o seu braço.

— Não. — ela falou simplesmente. Não queria que o chefe ficasse a sós com Amelia.

Queria explicar que não sentia asco dele, queria resolver a discussão idiota que tiveram. Não queria ficar sozinha naquele salão enquanto ele estaria em um canto qualquer se lembrando o quanto ainda amava aquela mulher.

Vince... — Amelia insistiu. — É importante.

Vincent encarou a líder de equipe com uma expressão severa, como se exigisse que ela ficasse em silêncio. Ele deu as costas para Amelia e se aproximou da noiva.

— Eu voltarei logo. — ele sussurrou em seu ouvido.

— Não vá. — Gil se odiou por implorar.

Sentiu os dedos quentes de Vincent tocarem a sua bochecha e percebeu que ele limpava uma lágrima que caia em seu rosto. Seus olhares se chocaram, e por um momento, Vincent pareceu tão diferente. Ele pareceu tão… próximo.

— Por favor, Vince. — a voz de Amelia resgatou Gil do transe. 

— Me espere no jardim, Amelia. — Vincent cessou o toque no rosto de Gil.

— Mas... Você irá? — Amelia insistiu.

— Já disse para me esperar no jardim. — sua voz rouca soou autoritária.

E Amelia assentiu. Deixando os noivos finalmente sozinhos.

— Fique com a minha mãe, eu não demorarei. — Vincent deu dois passos para trás.

— Não pode me deixar aqui. — Gil soluçou, sem conseguir controlar o desespero de vê-lo se afastar. — Eu sou a sua noiva.

Ele a fitou com os olhos tristes.

— Por contrato, Gilan. Apenas por contrato.

E a deixou ali. Sozinha. Com os olhos embaçados enquanto o observava desaparecer no jardim.

 


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem o/



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