A caminho de casa escrita por Liah


Capítulo 8
Decisões




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Bella

Todo esse tempo estive praticamente mendigando sua atenção e agora, quando decido deixá-lo de vez, ele me beija. E por que eu sinto que esse beijo é diferente dos outros? Levo as mãos aos lábios horrorizada. Oh, meu Deus. O que eu estou fazendo? Ele acabou de passar a noite com a Tanya! Eu era uma adolescente encantada com o primeiro amor e é normal ser estúpido. Mas agora, como pude me deixar levar? Naqueles instantes todo o nosso tempo juntos passou pela minha cabeça, sempre achei que tudo fosse tão perfeito... Deus! Como eu estava enganada. Todo ciúmes e codependência doentia, o controle que ele exercia sobre mim, como eu estava pronta pra fazer qualquer coisa, e quero dizer qualquer coisa, por ele... mas ele nunca abriu mão de muita coisa por mim não é? Não. Ele foi embora no primeiro sinal de problemas, sempre tomando as decisões por mim, sempre me mantendo afastada do seu mundo. O que eu realmente sei sobre Edward Cullen que não cabe em uma biografia? Todo o tempo em que estive tentando mantê-lo vivo dentro de mim, nunca foi real não é? Eu esqueci de me lembrar que nunca soube decifrar seus sorrisos e seus olhares, que nunca deixei de notar suas meias palavras e suas meias verdades, o coloquei num pedestal e ignorei cada uma das vezes em que ele esteve me deixando. Uma semana assim que nos conhecemos, um mês depois que me salvou, disse que isso era o melhor pra mim depois que James me pegou, e de novo no baile, quando finalmente pedi pra ele me transformar. E então ele finalmente me deixou, e obrigou sua família a fazer o mesmo. Ele sempre esteve indo embora. Não, eu não podia ficar aqui decifrando o que esse beijo queria dizer enquanto via Dylan sair como um furacão. Porque o que tenho com Dylan é real. Eu sei exatamente o que ele está sentindo agora. Edward é um deslumbramento, uma ilusão.

Vou atrás de Dylan floresta a dentro e o encontro em nossa árvore. Não sei o que dizer.

– Você o ama. - Não é uma pergunta.

– Não sei. - Ele me olha. Bravo. Muito bravo.

– Como não sabe Bella? Você estava... Vocês estavam... - Ele passa a mão nos cabelos frustrado. - Não é da minha conta não é? Nunca tivemos nada.

– Dylan, não fala assim. Eu estou aqui, não estou?

– E o que isso significa?

– Droga Dylan, não sei. Edward foi meu primeiro amor, e foi tudo tão intenso! Acha que eu gosto de estar aqui assim agora? Eu não sei o que fazer! Na maior parte do tempo estou tentando me conformar com o fato de que ele foi embora, de que não sou boa pra ele, de que, mesmo agora, minha presença é um estorvo. E aí tem você, que gosta de mim e me aceita desse jeito, quebrado e tudo e acha que isso é perfeito. E é perfeito! Eu não sei se o que sinto por Edward é amor ou nostalgia, porque amor não deveria doer não é? E não sei o que esse beijo significa, porque foi ele quem desistiu de nós! A única coisa que sei é que quero estar aqui. Com você.

Minhas palavras saíram desesperadas e atropeladas, e tão altas. Eu estava sufocando. Eu estava chorando. É assim que vampiros choram, um nó impossível de ser desatado da garganta porque não há lágrimas. Dylan me abraça e ficamos assim por muito tempo.

– Sabe o que eu queria agora? - Ele finalmente quebra o silêncio.

– O que?

– Gostar de sorvete.

Nós dois rimos, um riso que já sai meio morto da garganta e não chega aos lábios.

– Em um mês estou partindo Bella.

Eu me afasto um pouco aturdida.

– Como assim? Dylan se é por minha causa...

– Não Bella. Eu quero que você venha comigo. Quero concluir cada um dos nossos planos. Realmente acredito neles. Quero que tenhamos verdadeiramente uma chance. Longe de Edward e do seu passado. Nós dois não pertencemos aqui Bella. Não ainda. Essas pessoas estão paradas no tempo há tanto tempo que não sabem mais o que são. Se recusam a ser vampiros, mas também não conseguem ser humanos. Nós ainda não abandonamos nossa humanidade, e quero aprender o tipo de pessoa que quero ser com você.

Não sei o que dizer, de novo.

– Não precisa dizer nada agora. Só daqui um mês.

Então ele beija minha testa e se afasta. Volto para casa quando já está quase anoitecendo de novo. A quietude nunca dura.

Edward

Estive a ponto de ir procurar por ela, mas Alice não permitiu. Quando ela finalmente voltou pra casa eu não sabia nem por onde começar. Primeiro precisava acabar com as dúvidas dela sobre os meus sentimentos. A encontro sentada em frente a um tabuleiro de xadrez montado, ela fez o primeiro movimento mas parece estar perdida em pensamentos olhando pela janela. Eu entro e me sento em frente a ela e faço uma jogada. Tenho medo de que ela me mande embora, mas sei que mesmo que ela mande eu não irei. Não sem antes dizer tudo o que precisa ser dito.

Ela me olha e acho que gostaria de poder me incinerar só com aquele olhar.

– Eu não vou a lugar algum Bella.

Por um momento parece estudar o tabuleiro e então joga. Sua forma de dizer que vai me ouvir.

– Me desculpe.

Ela me olha de novo.

– Não pelo beijo.

Ela bufa.

– Não vou me desculpar por ele Bella. Na verdade beijaria você daquele jeito agora mesmo, se não achasse que corro um sério risco de perder um braço.

– Ou os dois.

Eu rio sem humor, disfarçando o que sua rejeição realmente causa em mim.

– Estou me desculpando por tê-la deixado. Por você ter ficado desprotegida. Eu achei que estivesse caçando Victória e que seria melhor mantê-la afastada Bella. Foi estúpido e eu não consigo me perdoar. Mas espero que você possa.

Prendo meu olhar no dela e espero. Por fim Bella suspira cansada.

– Eu não te entendo Edward. Primeiro nós temos um namoro adolescente tão intenso e tão distante ao mesmo tempo. Você não podia me deixar em paz, mas também não podia ficar comigo. Deixou que eu ficasse completamente apaixonada por você e passou quase um ano como se eu fosse a melhor coisa em toda a sua longa existência, mas nunca pretendeu me manter ao seu lado e me deixou me dizendo que eu não era boa o bastante pra você. Eu conheço os vampiros agora, entendo que um sentimento não é mutável para nós. Quando amamos é pra sempre, mas quando sofremos, a dor também é eterna. O que me leva apenas a uma conclusão: você mentiu pra mim o tempo todo enquanto se distraía com o primeiro desafio em quase um século. O que me dá medo, é que nada disso condiz com a personalidade que você me mostrou ou com as suas atitudes agora.

Foi o discurso mais longo que ela já fez pra mim desde que nos encontramos em sua nova vida. Porra, ela entendeu tudo errado, acha que eu sou um completo sociopata.

– Bella, tudo, exatamente tudo, o que vivemos foi verdade. Eu a amei no instante em que a vi. Fui embora te contando a pior de todas as mentiras pra que você tivesse a chance de uma vida normal. Bella, você não sente falta de dormir? De sentir gostos? Das pequenas rotinas? Dos seus amigos? - Continuei sem esperar resposta. Eu preciso que Bella me entenda! - Eu realmente acredito que nossa existência não vale a pena e que estamos todos condenados. É claro que você melhorou tudo pra mim, caramba, foi a primeira vez que fui feliz! Que tive esperanças! Mas como eu poderia tirar tudo de você? Seria tão egoísta, tão vil. A única coisa que não me arrependo em toda a nossa história, Bella, é ter feito tudo o que podia pra que você permanecer humana.

– Qual parte era mentira Edward?

– Não é óbvio Bella? Você não é boa para mim. A maior de todas as blasfêmias. Como se houvesse qualquer possibilidade de dar sentido há uma existência sem você. - Ela piscou, completamente surpresa. Quantas vezes disse que a amo? Como ela pôde realmente, REALMENTE, acreditar que vivemos uma mentira?

– Eu não sei o que dizer, Edward.

– Acha que tem alguma possibilidade de deixar eu te reconquistar?

Ela pareceu pensar. Por favor, só uma chance.

– Acho - Disse mordendo os lábios e fazendo uma pausa, tão parecida com a minha Bella absurda e humana. - que preciso de tempo. Tudo está confuso Edward, eu não consigo lidar com os meus sentimentos agora. Passei por muita coisa enquanto estávamos afastados e fui transformada quando finalmente decidi seguir com a minha vida. Sabe o que isso significa, não sabe?

Eu sabia. Bella se convenceu de que estava sozinha e percebeu que podia lidar com isso. Esses foram os sentimentos mais fortes após a transformação. Rejeição, solidão, independência. Não é fácil mudar algo que nos focamos enquanto estávamos em meio ao fogo. Eu assenti e Bella se retirou.

Não seria fácil convencê-la a ser minha parceira, mas ela não me disse não.

Bella

O problema dos erros, é que alguns beijam bem pra caralho.

Dylan me deu um mês pra me decidir se iria com ele ou não, mas depois disso nosso relacionamento voltou a amizade platônica que era. Sempre brincalhona, nunca séria, sempre na borda sem que nenhum dos dois tentasse desequilibrar pra cair. Enquanto que Edward mudou absolutamente tudo.

Nas últimas três semanas passamos tanto tempo juntos, foram tantos momentos descontraídos e tantas indiretas que me diziam que ele queria que voltássemos ao que éramos. Mas será que isso era possível? O jogo de xadrez continuava montado, e as vezes eu ia até aquela sala e mexia uma peça. Depois de um tempo eu voltava e ele tinha feito a jogada dele. Era assim que dizia que ainda precisava de tempo, e ele me respondia que estava esperando.

Para minha surpresa e, confesso, total satisfação, Edward começou a participar ativamente do meu treinamento. Forçar minha bolha era difícil, então eu sempre fazia de má vontade. Mas com Edward, ah, eu queria impressioná-lo, então comecei a me esforçar de verdade. E, realmente, as coisas começaram a ficar mais fáceis.

Pela enésima vez tentava forçar meu escudo para fora da minha cabeça. Aconteceu somente uma vez, quando perdi o controle e, apenas por um segundo, o efeito estilingue deixou minha cabeça desprotegida, mas foi o suficiente para Edward ficar enlouquecido querendo que eu tentasse fazer de novo.

Isso é uma droga e me dá dor de cabeça.

– Eu ouvi isso! - Oh céus, ele ia surtar! Tentei novamente

Não sei se me sinto confortável em abrir mão da minha privacidade.

– Eu amo estar na sua cabeça. - Percebe-se.

No meio da madrugada todos os casais estavam recolhidos em seus quartos e eu tentava não ouvir o que faziam. Geralmente eu passaria meu tempo com Dylan mas hoje ele não estava muito disposto a assistir nossas séries, e eu não sabia se podia cobrar. Ou se podia ser cobrada. Foi quando começou uma música suave. E não era qualquer música. Era a que Edward cantava para eu dormir. Sem parar para pensar no que estava fazendo fui até ele e me sentei ao seu lado no piano. Ele sorriu e continuou até o fim. Eu estava emocionada.

– É tão linda.

– Quer aprender a tocá-la? - E perder o privilégio de você tocar pra mim? Não, obrigada.

– Quero, claro.

E assim varamos a madrugada. Eu senti falta desse música.

De manhã era sexta-feira.

Estava dançando pela cozinha quando senti sua presença. A música nos fones era Everything do Michael Bublé e ele simplesmente as colocou no auto falante e me tirou pra dançar.

E você é a coisa perfeita pra se dizer, e você banca a desinteressada, mas isso é uma graça. Oh quando você sorri pra mim, você sabe exatamente o que faz. Querida não finja que não sabe que é verdade, porque você pode ver quando eu olho pra você.

E eu não sabia se era a música ou Edward cantando aquilo em meu ouvido, mas meu coração estava de volta a vida.

E nessa vida louca, nesses tempos malucos, é você. É você! Você me faz cantar, você é cada frase, você é cada palavra, você é tudo. Você é um carrossel, você é um poço dos desejos e você me ilumina.

E nós rodopiávamos e ríamos. Então Edward mudou o tom, me encarando sério. E eu sabia que ele queria dizer cada palavra que cantava.

– Vem aqui. - Ele levantou o dedo e passou por minha bochecha. - Tem um pouco de chocolate - E riu torto, aquele sorriso que desarmava qualquer mulher. A dança ficou mais tranquila e eu encaixei a cabeça no vão de seu pescoço. Quando estávamos assim, era fácil imaginar que eu era só uma humana e nada havia mudado.

– Tenho que te dizer uma coisa.

– Hum? - Eu não queria quebrar o momento.

– 14 vampiros em uma casa está chamando muita atenção. - Eu parei. O que isso significava? Os Cullens estavam indo embora? - Quero que você venha comigo. Conversei com Eleazar e ele também acha que é o melhor já que somos eu e Jasper que mais ajudamos em seu treinamento. E claro que minha família está no céu com a decisão.

– Decisão?

– Claro, Bella! Por que ficaria aqui? Somos sua família. Você nem terminou o colegial e nós vamos te acompanhar. Tenho certeza que você estará pronta até o início das aulas. Depois virá a faculdade. Podemos ir pra Dartmouth.

Aquilo me irritou. Edward já tinha tomado todas as decisões por mim, de novo.

– Você não aprendeu nada Edward?

– O que?

– Por acaso passou pela sua cabeça me perguntar se é isso o que quero?

– Mas claro que isso é o melhor pra você Bella. - Ele me olhou como se eu estivesse sendo completamente incompreensível. Ele realmente não entendia.

– Eu acho que eu sei o que é melhor pra mim. - Minha voz saiu muito mais ressentida do que eu pretendia.

– Bella, seja razoável - E foi o fim.

– Não! É a MINHA vida Edward! MINHA. Você não tem que vivê-la, eu tenho! Então me desculpe se eu acho que devo participar das decisões sobre ela! - Ele me olhou estupefato.

– Eu achei que esse tempo que pediu era pra se ajustar...

– Me ajustar, Edward?. ME ajustar? Oh meu Deus, cale a boca. Quanto mais você fala, mais estúpido isso fica. Não percebe? Você não mudou absolutamente nada! Está cometendo exatamente os mesmos erros. Agindo como se soubesse o que é melhor pra mim, como se eu não tivesse vontades próprias. Você idealizou uma Bella aí na sua cabeça e tenta me guiar para sê-la. Mas eu não sou a idiota submissa que fazia todas as suas vontades. Chega!

Eu estava furiosa. Percebi que passei todo esse mês me enganando. Eu queria que Edward tivesse mudado, que me ajudasse com as minhas mudanças, que aceitasse minha personalidade. Ai meu Deus, eu queria que Edward fosse Dylan.

– Bella, espera. Se não é isso o que quer...

– Não! Não é isso o que EU quero. Não tenho a menor vontade de desperdiçar anos e anos da minha vida voltando ao colegial de novo e de novo e de novo infinitamente com o pretexto de conviver com humanos sem nunca me misturar com ninguém. Não tenho a menor vontade de ir para Dartmouth, ou para qualquer outra faculdade, e ficar presa em uma sala com pessoas com um cérebro infinitamente mais lento que o meu para aprender coisas que aprenderia muito mais rápido sozinha. E não! Definitivamente não quero me mudar e passar a eternidade com alguém que me trata como se tivesse 4 anos. Porque essa, Edward, foi a última vez que meus pais decidiram qualquer coisa sem absolutamente me consultar.

O silêncio que caiu foi abrasador. Finalmente me dei conta de que todos os vampiros da casa estavam a nossa volta. Fui voando para o meu quarto jogando de qualquer jeito uma mala em cima da cama. Era de couro marrom e tinha alças a tiracolo. Fácil de carregar e discreta. Ótimo. Fui pegando minhas roupas, não precisava de muito. Por fim coloquei minha cópia já gasta de orgulho e preconceito, um porta retrato de uma foto recente que tiramos de todos juntos. Isso seria tudo. Vi Dylan na porta.

– Está pronto pra ir? - Um sorriso brincou em seus lábios e ele ofegou.

– Tem certeza sobre isso?

– Nunca tive tanta certeza na vida. - Dessa vez Dylan riu de verdade.

– Me espere no carro - E correu, provavelmente para pegar suas coisas também. Me despedi de quase todos, menos de Edward. Ele ficou apenas me olhando partir, e seu rosto transmitia tanta dor que era quase insuportável.

Virei o rosto e ouvi Dylan entrar no lado do motorista e bater a porta.

Minha decisão estava tomada.


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