"Mudaram as estações, nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, ta tudo assim, tão diferente"

"Asas pra voar, raízes pra voltar, motivos pra ficar"

Bella

As malas arrumadas, dei um último olhar em tudo. Não era mais tão sofrido estar de volta à Maryland. Hoje posso dizer que não me faz mal, apenas me deixa triste colocar um ponto final em minha vida com Dylan, mas é necessário. Nunca mais olharei pra ele da mesma maneira de antes. Nossa vida foi perfeita, éramos parceiros, confidentes, olho no olho e coração, ao menos da minha parte. Mas não quero pensar que foi tudo baseado em uma mentira, em uma trama sórdida muito bem tecida, na qual eu era o inseto a ser preso. Dylan realizou o meu sonho de ser livre mesmo amando tanto, sou grata por isso, acho até que posso perdoá-lo. Um dia. Espero que ele aprenda a lutar não só pela coisa certa, mas da forma certa também, e encontre felicidade.

Me despedi de Jake e dei a partida na minha caminhonete, uma moderna, já que ser vampiro implica em se habituar à velocidade.

Não que eu tenha corrido pra casa, não mesmo. Na verdade fui até Maryland com a desculpa de colocar um ponto final nessa parte da minha vida, mas também pra me afastar dos Cullens e dos Denali um pouco. Especialmente de um Cullen e uma Denali. Juntos.

Não que eles estejam tendo um relacionamento amoroso, mas estão perto disso. E agora que eu dei espaço não duvido que chegue em casa e encontre um noivado. Tanya iria adorar. E eu não sei como me sinto sobre isso.

Por um lado, eu e Edward nunca estivemos tão próximos, tão em sincronia como estivemos no último ano. Por outro somos somente amigos. Os melhores amigos do mundo. Os mais íntimos. Mas nunca rolou se quer um beijo. Nenhuma declaração. Nenhuma palavra.

Apesar de todas as demonstrações de afeto, as inúmeras vezes em que ficamos abraçados e nos tocamos, nenhum dos dois tomou qualquer iniciativa para que fossemos um casal. É claro que no começo eu não estava pronta. Nem sei se estou agora. Mas sinto um ciúmes corrosivo cada vez que o vejo com Tanya.

Foi há três semanas, estávamos juntos observando a fogueira. Gostamos de ver as chamas e compartilhar histórias de quando estávamos separados, ou o silêncio um do outro. Tinha meu braço entrelaçado no dele enquanto me fazia rir e ela chegou, reivindicando seu posto. Eles estiveram juntos todo o tempo em que estive com Dylan. Como amigos, até onde eu sei, mas também não perguntei diretamente. Não faça perguntas cujas respostas não quer ouvir. Não que eu tenha direito de cobrar nem nada. Mas sei lá. Eu entendo a posse agora. É como se tivéssemos sidos feitos pra ficar juntos, mas aí mudaram toda a nossa história. Fomos o primeiro amor um do outro, o primeiro beijo, era pra ficarmos juntos na nossa pequena bolha de felizes pra sempre. Mas alguém brincou com as nossas entrelinhas, o tempo passou e a gente até se encontrou de novo, mas o mundo ta mudado demais pra nossa história acompanhar.

No começo, depois que descobri sobre Renesmee, foi como se o tempo tivesse parado. Como é possível sentir tanto a perda de alguém que nem existiu? Mas pra mim ela existiu em um universo paralelo onde não consigo alcançá-la. Pra Edward também é assim, e isso nos uniu. A gente juntou a nossa solidão e o nosso pesar pelo futuro que perdemos. É claro que a vida também nos trouxe coisas boas e uma maturidade diferente, mas nós amamos o que teríamos. E quando achei que finalmente estávamos parando de viver nas possibilidades, Tanya chegou e nos afastou de novo.

Pude ver no olhar deles o quanto estavam felizes por se verem novamente. Havia saudade ali. Edward ria fácil com a futilidade de Tanya. Com ela ele encarava a vida menos a sério. Mais ou menos como eu fui com Dylan. Ela estava em toda parte, sempre exigindo sua atenção. Não que ela precisasse se esforçar muito.

Mais de uma vez estávamos conversando quando ela interrompia o convidando para qualquer coisa boba e ele nem hesitava. Ela estendia o convite a mim todas as vezes é claro, mas ficava óbvia sua vontade de estar sozinha com ele. E eu deixo. Tive meu direito de escolher. Ele também tem o dele.

Paro o carro e respiro fundo me dando conta de que talvez esteja prestes a iniciar uma nova busca por uma casa pra chamar de minha.

— Bella! - era Tanya - Alice me disse que você estaria aqui a tempo mas eu estava quase indo te buscar pra contar a novidade - ai meu Deus— adivinha? - não, obrigada. - Eles oferecem um baile para o feriado desse final de semana!!! - uuuffaaa.

— Huum, que ótimo Tanya.

— Meu Deus, garota! Quanta empolgação hein?!

— Bella nunca foi muito de bailes - Alice me defendendo de ir a um baile? Oi?

— Ah mas isso já mudou, eu consertei ela - Tanya piscava e ria em sua tagarelice completamente alheia a minha troca de olhares com Alice.

Será que Alice previu que era melhor eu não ir a esse baile? Será que é nele que tudo vai acontecer entre Edward e Tanya?

— Eu vou convidar o Edward é claro.

Já chega, isso tudo é demais pra mim. Eu vagamente registro a pergunta se eu vou ligar para Jake ir comigo.

— Huum, na verdade Tanya, bailes não tem mesmo nada a ver comigo, ou com Jake. Eu acho que vou aproveitar o feriado pra colocar umas coisas em ordem, em Forks.

E fugi pro meu quarto, mal controlando a minha respiração. Claro que Tanya ficou confusa sobre o fato de eu 'precisar' de um feriado pra resolver qualquer coisa na vida. Mas foi a primeira desculpa que eu consegui pensar. Eu não posso ir a um baile se nem Alice, de todas as pessoas Alice, acha que não devo.

Fico aqui curtindo o meu coração partido imaginando Edward aceitando o convite de Tanya, e antes que a minha mente viaje muito no baile, começo a traçar destinos que ainda não conheço pra enfrentar minha nova busca pela vida. Acho que já fiz isso tantas vezes que está começando a virar fuga.

Edward

Esse tempo com Tanya me fez perceber o quanto eu amo estar com Bella. Não que Tanya não seja legal, não é isso. Ela é ótima na verdade. Mas nós sempre fomos muito mais amigos de bar do que qualquer outra coisa. Com Bella... Bem, eu sei que tipo de vida quero ter. E todo esse tempo esperando valeu a pena, ela finalmente está pronta. Finalmente colocou um ponto final em sua vida com Dylan e o assunto já não é mais um tabu. Mesmo entre a gente.

O baile seria perfeito se ela não adorasse complicar as coisas. Claro que a visão de Alice foi muito mais animadora que o baile, mas eu estou ansioso.

Vi Tanya fingindo vir me convidar, ela não desiste de tentar provocar ciumes em Bella para que fiquemos juntos logo. O problema é que Bella não é mais uma menina, e ser uma mulher adulta e auto confiante trouxe também senso de respeito no pacote. Ao invés de agir como uma ciumenta, como Tanya queria, ela simplesmente me deu espaço. Visivelmente chateada, constatei alegremente.

Fiquei feliz sim, porque é sinal que eu sou importante pra ela tanto quanto ela é pra mim, mesmo que depois da vinda da Tanya nosso laço de intimidade tenha se afrouxado. Mas nossa conexão é tão intensa agora que sei que ela já não suporta ter dúvidas a meu respeito, e causar-lhe um ciúmes quase adolescente é uma coisa, causar-lhe a dor da insegurança e da perda é outra completamente diferente.

Empolgado com o que nos aguarda, entro timidamente em seu quarto.

— Bella?

— Ah, oi. - Deus do céu, como eu gostaria de poder ler os pensamentos dela. Opto por dizer exatamente o que estou pensando, foi assim, espontaneamente, que quebramos nossas barreiras.

— To sentindo falta de estar na sua cabeça.

— Oh, bem. Eu até que estou gostando da privacidade. - Ela disse num meio sorriso.

— Eu ouvi você dizer que já tem planos pro feriado desse final de semana.

— Sim, eu espero que as pessoas não fiquem chateadas, mas eu gostaria de visitar Forks. Resolver algumas pendencias de Charlie e talvez depois ir ver a minha mãe.

— Huum.. o que acha de me incluir nesses planos?

— O que? Você não vai passar o feriado com a sua família?

— Ai! E eu aqui pensando que você era minha família.

— Não! Não é isso, bobo. É só que todos estão empolgados para o baile. Tanya não te convidou?

Quando é que ela vai entender?

— Na verdade, convidou sim. Mas eu queria ficar com você. Incluir uma coisa ou duas nesse seu roteiro. - Disse enquanto olhava sua estante de livros, fingindo uma casualidade que não sentia. Se ao menos pudesse ver sua mente pra saber se ela estava me rejeitando.

— Ok.. - ok? Isso é um sim? AH, por favor, diz que é um sim!— e o que mais pretende fazer?

— A gente tinha combinado de ver Frankenstein juntos, lembra?

— Aham. - Ela parecia mesmo chocada?

— Bom, estreou essa semana. Aí eu pensei da gente ir assistir, depois ir naquele lado da montanha onde tem leões pra caçar. E aí tem um lugar em Forks que eu queria te mostrar.

Da pra parecer mais patético? Quantos anos eu tenho? 12? Até parece que é a primeira vez que a convido pra sair, falando tudo meio atropelado. Nem na primeira vez de verdade foi tão ruim.

— Ta... Parece bom.

Ela mordeu os lábios. Ainda confusa, mas também... Esperançosa? Bem parecida com a Bella menina que eu namorei. Me aproximei e toquei seu rosto, vendo feliz quando ela fechou os olhos e relaxou na minha mão, assim como fez muitas vezes nos últimos meses. Eu tinha que ser mais claro.

— Bella?

— Sim?

— É um encontro.

Ela abriu os olhos mas eu não dei tempo de responder. Apenas saí esperando que ainda parecesse bom.

Bella

É claro que é um encontro. Cinema, jantar e um lugar especial. Quem nunca viu esse filme? Os dias passaram numa tortura lenta. A quarta feira veio e se foi, o dia seguinte seria deifinitivo. Eu e Edward mais ou menos voltamos a rotina. Mais afastados que nos últimos meses, mas mais juntos que nos últimos dias. Nada mais foi dito sobre o nosso encontro. Mas eu sentia sua ansiedade, tão desvelada quanto a minha. Finalmente sairíamos de cima do muro. Eu sou sim sua família, mas como seus irmãos? Como uma prima? Como sua companheira?

Surpreendentemente Tanya não reclamou a recusa de Edward em acompanhá-la, e logo arrumou outro parceiro. Bem, se tratando de Tanya talvez eu não devesse estar surpresa.

Assim que todos saíram para o baile, Edward praticamente se materializou na minha frente, parecendo muito formal ao me dar o braço.

Me senti uma menina pela primeira vez em muito tempo andando de mãos dadas com Edward. Conversávamos sobre o filme e amenidades, sem realmente dizer nada que importasse. Mas eu estava gostando.

A vista era linda e demoramos um dia inteiro caçando. Edward não tinha pressa. Eu era um poço de ansiedade. Até que finalmente avistamos uma pequena choupana que parecia mágica à luz do Crepúsculo, bem no meio da floresta de Forks.

Bella e Edward

Bella finalmente se deu conta de que estava parada olhando maravilhada enquanto Edward esperava silencioso e sério, medindo sua reação. Ele pegou sua mão e a conduziu para dentro de uma pequena sala cheias de livros. A Iluminação fazia parecer que o sol batia ali dentro, embora já anoitecesse. Ela olhou sem respirar todos os cantinhos, a decoração familiar e aconchegante. Reconheceu pequenos objetos seus ali e olhou espantada para ele.

— Essa seria a nossa casa se tivéssemos nos casado. Um presente da minha família para termos um pouquinho de privacidade.

— Oh Edward, é linda!

— É pra cá que eu venho quando preciso me afastar.

Bella o olhou emocionada e deixou que ele a levasse para conhecer o quarto, um lindo pedacinho do céu.

— É perfeito - sussurrou baixinho dando um passo para dentro.

Edward estava nervoso, não tinha planejado aquele momento, mas de repente nada parecia mais certo do que os dois ali.

Se aproximou por trás dela e afastou seu cabelo da nuca, depositando um beijo terno e cheio de desejo. A virou pra ele com cuidado.

— Quero que esse lugar seja um refúgio pra você também. Ainda quero que essa seja a nossa casa.

— Mas eu pensei que...

Ele não deixou que ela terminasse, colocando um dedo em seus lábios e sussurrando um shiii bem baixinho.

— Acho que está na hora de tomarmos nossas decisões por nós mesmos, e confiarmos que estamos juntos.

Disse isso enquanto enrolava seus cabelos com uma das mãos e a trazia para mais perto com a outra. Pousou um beijo terno em seus lábios, pedindo sua aprovação. Bella derreteu deixando-se levar. Há quanto tempo desejava senti-lo assim? Seu corpo tinha fome pelo dele, e ela achava que morreria se não intensificasse o momento. Edward o fez exigindo passagem com a língua para dentro de sua boca e lentamente removeu a roupa de ambos deitando-a sob os lençóis. Deslizou as mãos pelo seu corpo e os lábios por toda a extensão de seu pescoço, ombros, braços e dedos, querendo unir cada fibra de sua pele a dela.

Tomaram posse um do outro por horas, experimentando cada minuto e cada toque que podiam finalmente compartilhar, sem medo, sem enganos, sem mal entendidos. Mergulharam juntos em ondas de prazer uma após a outra, reconhecendo todo o amor que sentiam e o árduo caminho que percorreram até ali.

Jamais saberiam dizer quanto tempo ficaram assim, mas foi ali, nus nos braços um do outro olhando a neve cair, que finalmente encontraram o caminho de casa.