Alice

– Vai ficar pensando em me chamar até quando?

Bella continuava olhando fixo pela janela do quarto vendo a neve cair, sentada no parapeito abraçando os próprios joelhos. Normalmente eu reclamaria de seu moletom e camiseta larga, mas a única coisa que vejo fazendo com que ela me responda é minhas visões. Seu pequeno milagre. O que ela ouviu de Dylan naquela fatídica confissão era a única coisa capaz de a fazer esboçar reação.

Ser traída pelo próprio companheiro, mesmo que eu ache que não seja o companheiro certo, não foi nada fácil. Principalmente tendo perdido tudo o que perdeu. Bella se vingou aprisionando a mente de Dylan, mas continua destituída de esperanças pela vida. Ver minha amiga assim era doloroso para mim. Eu sabia que ela se achava sem lugar, mas essa busca era dela, e eu não podia fazer mais nada. A princípio ela não se mexeu, como vinha fazendo nos últimos 20 dias e eu suspirei cansada, pensando em bater em retirada.

– Como ela seria Alice?

Ufa, uma frase completa.

– Por que não olha minha mente? Use o poder de Edward... Ele não vai se importar.

Na verdade Edward estava mais que ansioso por qualquer reação que Bella tivesse e qualquer nova informação pelo futuro que agora era impossível para eles.

Bella pareceu pensar por um instante, naquela estranha imobilidade dos últimos dias, e então fechou os olhos. Eu me concentrei em mostrar pra ela exatamente o que tinha visto. Uma linda menininha de cabelos cacheados cor de cobre. As imagens eram borradas, mas eu conseguia vê-la sorrindo. Seria tão obstinada quanto os pais e deixaria todo mundo à sua volta completamente apaixonado.

Bondosa e terna como a mãe, eu sabia que ela seria única no mundo, e seria cobiçada, traria inimigos, mas todos aqueles que a conhecessem estariam dispostos a dar a vida por ela.

Havia uma cena particularmente bonita, dela sorrindo numa atitude infantil tentando pegar os flocos de neve. Uma risada de sinos, delicada como uma fada.

– Isso é tudo o que tenho dela.

Bella manteve os olhos fechados e apenas sussurrou um agradecimento bem baixinho.

Voltei a sala encontrando Edward também de olhos fechados e a cabeça baixa enquanto todos o olhavam com tristeza... Talvez exceto por Jacob que o olhava com raiva.

– Já chega disso!

A voz de Jake retumbou e ele marchou em direção a Edward o chacoalhando pelos ombros.

Os dois se encaravam e a expressão de Edward foi mudando enquanto tinham uma conversa silenciosa. Eu sabia do ciumes que meu irmão tinha do lobo e estava pronta para apartar uma briga, mas Edward apenas acenou e se dirigiu ao quarto de Bella.

Fiquei passada. Nunca na vida consegui convencer Edward de algo tão facilmente, como é que Jake tinha conseguido?

– Você - bati em seu ombro - o que foi que disse a ele?

– Calma anãzinha, só disse que ele não precisou de permissão da primeira vez que a conquistou. Eu to voltando pro bar... Acho que agora a Bella vai ter quem aja normalmente perto dela. Qualquer coisa me liguem.

Todos se despediram de Jake e ele partiu. Eu sinceramente esperava que ele estivesse certo e Edward e Bella parassem de agir como dois estranhos.

Bella

"Ela vai mudar, vai gostar de coisas que ele nunca imaginou, vai ficar feliz de ver que ele também mudou. Pelo jeito não descarta uma nova paixão... Mas espera que ele ligue a qualquer hora para conversar, perguntar se é tarde pra ligar. Dizer que pensou nela e estava com saudades, mesmo sem ter esquecido que é sempre amor mesmo que acabe, com ela aonde quer que esteja, é sempre amor mesmo que mude, é sempre amor mesmo que alguém esqueça o que passou"

Ainda estava de olhos fechados quando senti os braços de Edward me cercarem.

– Você viu como era linda nossa menininha?

Ele me virou de frente para ele me encarando, parecendo não se importar que eu não tivesse me mexido, e manteve seus braços em minha cintura.

– Muito parecida com você. - tocou meu nariz com o seu suavemente.

– Mas a cor dos cabelos era sua - disse passando a mão pelos cabelos dele e depois deslizei para o cantinho de seus lábios. - E o sorriso.

Fui presenteada com um dos seus sorrisos tortos. Voltei a abraçar meus joelhos me sentindo uma menina.

– Renesmee Carlie. Não consigo parar de pensar que esse seria o nome dela. Você teria gostado?

– Um nome único para um ser único. Seria uma bela homenagem.

Só então me dei conta de que toda essa conversa se passava apenas em nossas cabeças. Percebi que não me sentia desprotegida nem desconfortável compartilhando minha mente com ele e não senti necessidade de voltar meu escudo para o lugar. Edward beijou minha testa,com tanta ternura que eu o abracei. Finalmente entendi que ele também perdeu muito, mas ainda estava ali por mim. Eu precisava ser forte, por minha filha.

– O que acha de irmos caçar?

Todo esse tempo sem me alimentar não estava me ajudando também.

Edward me olhou com cara de menino quando vai aprontar e num átimo eu estava em suas costas pulando a janela. Não pude deixar de rir.