A caminho de casa escrita por Liah


Capítulo 11
Mentiras de nós dois


Notas iniciais do capítulo

Eu não mereço nem um comentariozinho??? Como assim?? buaaaaaá. snif snif. Meu último capítulo não teve nadinha de respostas de vocês, e eu escrevo com tanto amor =( Espero que ainda estejam gostando. Desculpem a quebra de ritmo, eu estou com uns probleminhas de saúde e fiquei mais lentinhas, mas vou com a fic atéo final, prometo. mais um capitulinho pra vocês. beijos ♥



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Bella

"Eu queria poder acreditar em você, e então eu ficaria bem... Mas agora tudo o que você me disse, na real, não se aplica"

– Eu sei como é difícil Bella, ele também é meu amigo.

– Não posso fazer isso Jake, Dylan ficou furioso quando eu apenas perguntei, imagina se sair procurando pelas costas dele.

– Mas Bells, tem que concordar que a reação dele foi estranha... Além do que... Eu preciso saber.

Jake me olhava firme, e eu não podia contestar suas palavras, não quando não tirava da cabeça que o comportamento de Dylan era realmente questionável. Quando saímos da casa dos Cullens há cinco dias, achei que iríamos conversar, mas viemos em um silêncio estranho e incômodo e assim que chegamos e eu perguntei quando Dylan quereria trabalhar em seu poder para treiná-lo, tivemos uma briga colossal. Nunca o vi tão bravo. Ele entendeu tudo errado e gritou comigo como se eu estivesse o colocando contra a parede assim como fez o resto da nossa família... Da nossa ex-família, me lembro com tristeza. Minha ideia era apenas descobrir o que ele realmente pode fazer, para que ele pudesse controlar. Já havia decidido que não o questionaria sobre aquelas acusações absurdas. Eu confio em Dylan completamente. Mas tudo o que ele fez desde então foi negar que tenha qualquer poder e me mandar ficar longe de sua cabeça.

– Jake, eu nem sei se consigo fazer isso, até hoje eu só manipulei o poder de outros vampiros, nada parte de mim realmente.

– Talvez se o seu sanguessuga estivesse aqui...

– Ele não é meu sanguessuga. E trabalhar com Edward está completamente fora dos limites, Dylan não me perdoaria nunca.

– Então só nos resta tentar fazer com que você me comande.

– Jake... eu não sei.

– Você manipula o poder de outros vampiros porque pode controlar a mente deles, se me forçar a lembrar... Talvez eu consiga entender essa sensação estranha que tive no meu primeiro encontro com Dylan.

– Mas se ele realmente bloqueou você, tudo o que você vai ver é uma página em branco... Uma confusão.

– Memórias de lobos também são perfeitas Bella.

Ele não precisava concluir. Se Jake não conseguisse ver nada nós teríamos nossa confirmação. Argh! Seria tão mais fácil se Dylan colaborasse. Eu não me sentiria como se estivesse o traindo.

– Eu não entendo por que Dylan está tão arisco quanto a isso. Eu sou a última pessoa no mundo que poderia julgar um vampiro com poder de manipulação. E nós ficamos ao lado dele o tempo todo.

– Exatamente.

Jake não ia desistir. Quanto mais Dylan se recusava a entender o que aconteceu, menos Jake confiava nele. Precisávamos acabar com isso antes que começássemos a destruir a família que nós três construímos.

– Ok, ok. Vamos tentar. Só fique muito quieto tá.

Jake se transformou em uma estátua e eu fechei os olhos tentando me concentrar.

Nunca fui muito fã da ideia de controlar ninguém, então esse é um treinamento que eu não cumpri. Encontrar meu escudo agora era fácil, mas eu sempre o usava com a intenção de proteger, não de atacar.

Quase sorri quando envolvi a cabeça de Jake. Sua mente era rebelde, mas muito calorosa e fiel, era bom estar ali. Fui o envolvendo, quase como em uma carícia e aos poucos ele foi ficando relaxado... sob o meu comando.

– Jake, me diga o que pensou quando viu Dylan pela primeira vez.

– Que ele não combinava com você. - Uh, isso é novidade.

– E no instante seguinte?

– Eu, eu... acho que superei esse preconceito.

– Você realmente acha isso Jake?

– Não.

– Qual foi o seu real sentimento então?

– Eu... Acho que já o vi antes.

– E você viu?

– Eu... eu não... eu...

– Tudo bem Jake, apenas pense da forma mais lógica. Num caso hipotético, se tivesse conhecido Dylan antes, em quais lugares pode tê-lo visto?

– Em Forks.

Impossível. A primeira coisa que Dylan me perguntou, quando começamos nossa viagem há dois anos, foi se eu gostaria de ir a Forks. Ele me disse que imaginava que seria um belo lugar, mas que entendia os meus motivos pra não ir lá. Falou especificamente que nunca havia ido, e que me esperaria para que eu fosse sua guia, já que Forks fazia parte de mim.

– Bella, você está bem?

Há quanto tempo Jake segurava minhas mãos?

– Jake, isso não... - Eu mal reconhecia essa voz estrangulada.

– Shii, ta tudo bem Bella. Olha, a gente tinha acabado de voltar da casa dos Cullens quando questionamos Dylan, todos estávamos de cabeça quente e ele pode ter entendido tudo errado. Talvez... talvez a gente tenha se precipitado. Agora a gente já deu mais tempo pra ele... Vamos tentar de novo. Com calma... Ele vai esclarecer tudo.

Eu apenas acenei. Queria tanto que Jake estivesse certo. Se Dylan tivesse mentindo o tempo todo ele teria um longo trabalho pra se explicar e eu realmente espero que isso não abale nosso relacionamento.

– De uma forma ou de outra, nós vamos descobrir.

...

Aguardávamos Dylan voltar sentados no balcão do bar. Apesar do clima estranho que se instalou entre nós, Dylan agia como se nada tivesse acontecido e seguia normalmente com sua rotina. Hoje ele foi ao supermercado comprar os suprimentos necessários para o bar.

Quando Dylan entrou eu, que até então estava completamente imóvel, suspirei me esticando, tentando sem sucesso aliviar o peso que estava sentindo pelas possibilidades. Já Jake, que era o oposto e estava irrequieto, finalmente parou de bater os pés no chão. Quando foi que nossa relação se tornou tão estranha? Onde estava a leveza e até certa diversão mesmo nos assuntos sérios que sempre uniu nosso grupo?

Percebendo nossa exitação Dylan imediatamente fechou a cara.

– Eu espero que isso não seja sobre o que eu estou pensando.

– Dylan... entenda, nós não acreditamos em nenhuma das acusações que ouvimos. Caramba! Eu perdi o casamento da minha melhor amiga pra te apoiar.

– Ex melhor amiga. Até onde eu sei ela não fez muita questão da sua presença já que não fez nada para te impedir de ir embora. - Respirei fundo sentindo a facada em meu peito. Dylan trinha razão, até mesmo Alice me abandonou.

– Chega disso Dylan - era Jake - a gente te apoia cara, seja lá o que aconteça com você. A gente só quer evitar que saia de controle. Te ajudar a desco...

Jake não pôde terminar de falar porque o punho de Dylan socou a mesa deixando estilhaços no balcão.

– Eu já disse que não tenho poder nenhum. Isso foi apenas aqueles malditos tentando achar um escape pros erros que cometeram.

Dizendo isso numa voz baixa e mortal ele recolheu sua jaqueta e foi embora.

Vimos Dylan bater a porta e nos olhamos com pesar. Não foram necessárias palavras. Nós estávamos indo para Forks.

Jake

Mesmo feliz em voltar para casa e, apesar de minhas expectativas, eu e Bella termos sido mais que bem recebidos, me sentia dubio pelo que estávamos fazendo. Talvez eu também me sentisse mal em admitir um poder tão potencialmente destrutivo, e Dylan pode se sentir culpado pelo que fez inconscientemente... Passou pela minha cabeça que ele desconfiava de sua habilidade... Mas, na real, eu duvido. Dylan sempre falou o que pensava na lata, acho que é o vampiro mais sem frescuras que já vi. E ele e Bella nunca tiveram nenhum segredo. Se ele desconfiasse acho que falaria com ela. Provavelmente o resultado desse exagero todo é só o choque pelas possibilidades. Ainda assim... Por que eu tenho uma péssima sensação sobre Forks?

– Por onde a gente começa Jake?

– Achei que isso fosse óbvio... Vamos rastrear o cheiro dele.

– Mas ele com certeza não esteve aqui nos últimos dias... Se é que veio um dia, fazem meses.

– Bella, um lobo sempre sabe por onde passou um vampiro... mesmo que se passem anos. Até na cidade mais chuvosa do planeta. Se pedirmos ao bando para nos ajudar será fácil encontrar qualquer rastro nessa cidade.

– Ok. Parece que eu sou inútil então. Vou tentar pensar.

– Mantenha-se longe da floresta, é onde estaremos procurando.

Bella apenas acenou murmurando um ok e saiu. Eu via o quanto a desestabilizava estar de volta a Forks, mas agora minha preocupação era outra.

Corri para um ponto não muito afastado na floresta e me transformei chamando o bando. Em menos de 15 minutos todos já tinham sido avisados e se transformavam entrando na floresta para me encontrar. Enquanto vinham eu deixava os acontecimentos recentes passarem pela minha cabeça para que estivéssemos na mesma página. Esperava que todos eles estivessem prontos para a caça, mas suas mentes apenas estavam em choque quando eles chegaram até mim. Por um momento tudo se misturou e eu não conseguia ouvir nem meus próprios pensamentos, até que me foquei em Sam e, bem, talvez não tenha visto Dylan antes, mas senti seu cheiro. Inconfundivelmente na cabeça dos meus irmãos, presente numa parte muito próxima de onde Charlie morreu. Eu me lembro muito bem do cheiro agora. Não havia duvidas que Charlie tinha caído e que isso causou sua morte, mas o cheiro de um vampiro tão próximo nos chamou atenção, no final acabamos deixando isso de lado para nos preocupar com Laurent e Victória. Não que soubessemos quem eles eram então.

Espera, Sam também tem uma falha de memória?

Ah droga, isso só afundava mais e mais.

Bella

Voltar a Forks com certeza não era o que eu esperava. Era pior. Achei que apesar da saudade que sentiria, minha nova vida me traria algum alívio por saber que essa pode não ser mais a minha casa, mas eu encontrei um novo lar pra mim. Doce ilusão... Eu me sentia a beira de um precipício, mas não tinha nenhuma adrenalina pra amortecer a sensação de perigo.

A casa em que vivi com Charlie estava empoeirada e vazia. Havia uma ou outra caixa espalhada aqui e ali, mas ainda parecia a mesma casa. E já que eu não conseguia resolver o que fazer com o restante da minha vida, decidi começar por limpar essa casa. Talvez estivesse na hora de colocá-la a venda.

Entre poeira e saudade, fui relembrando a melhor e a pior fase da minha existência humana, e também a última. Arrumei umas caixas e comecei a guardar as fotografias que encontrava pelo caminho, no final das contas minhas memórias eram as únicas coisas que realmente importavam. No meu quarto encontrei sorrisos enquanto perambulava pelos meus antigos pertences, aquela não parecia eu. Em que momento me perdi de mim? Se tivesse lágrimas, choraria com saudades da garota que fui. Por fim fui ao cômodo que mais evitei. O quarto de Charlie. Mesmo pouco tempo após sua morte, enquanto ainda era humana, eu não vinha muito aqui. Era esquisito imaginar que estava invadindo a privacidade do meu pai, mas era exatamente assim que me sentia.

Eu mal havia começado a embalar as coisas dele e não tive forças para continuar, e foi aí que decidi dar aquela fatídica caminhada de despedida pela floresta, sem saber que me despedia também da minha humanidade. Seu cheiro estava fraco mas ainda presente naquele canto. Também havia algo de diferente, algo que minha atenção humana jamais captaria... Não era o cheiro... Apenas Charlie havia estado ali além de mim mesma... Era quase como se o quarto estivesse arrumado demais. A cama sem dobras, os portas retratos todos alinhados, não havia sequer um objeto em cima da cômoda. O dia em que saí daqui com a intenção de me despedir dessa cidade foi também a primeira vez que entrei ali depois que meu pai partiu, e eu apenas abri o guarda-roupas e passei as mãos pelo uniforme de xerife de Charlie, mas Charlie não era de manter as coisas assim tão arrumadas. Então quem foi que colocou tudo exatamente no lugar, tão no lugar que pareceria fora dele? Pense Bella, pense. Quantas vezes Charlie não disse para ficar atenta aos detalhes? Como era mesmo que ele dizia? "As vezes é preciso mudar o ponto de vista". Tentei fazer o que Charlie tentara me ensinar tantas vezes, pensar com a mente da outra pessoa. Claro que era muito mais fácil agora. Se apenas eu e Charlie estivemos ali, e sei que sim porque não havia um terceiro cheiro, e não fora eu quem arrumara o quarto, então só pode ter sido Charlie antes de... Bem, antes.

O que Charlie estaria tentando me dizer? A possibilidade do meu pai saber que corria algum risco e estar tentando me avisar era absurda, mas e se ele sempre fez isso, apenas por prevenção. Sendo um policial e praticante de caça, talvez fosse natural para ele se preparar quando sabia que poderia ter problemas. Se tudo estava tão arrumado, então eu precisava procurar aquilo que não estava, mas o que seria?

Fui escaneando os móveis sem achar nada que pudesse me dar uma dica até que parei em uma gaveta da cômoda. Estava minimamente aberta. Menos de meio centímetro, mas era a única coisa fora do lugar. Me sentindo ridícula por bancar a Sherlock, abri a gaveta e achei um papel minuciosamente dobrado. Olhei para a letra de Charlie e não acreditei no que li.

Hei Bells, eu não sei porque, mas sei o que devo fazer. Sei que será o melhor. Estou tentando achar motivos para isso mas não tenho. Você já sentiu uma paz tão grande sobre uma decisão que, mesmo que não fizesse sentido, sabia sem sombra de dúvidas que era a decisão certa? Eu me sinto assim agora. Também sei que não devo te contar e que você ficará bem com isso. Louco né?! Mas eu apenas sei que isso é o certo.

Te amo minha Bells.

Papai

Jake

Mas que merda Dylan andou fazendo? Qual era o problema dele afinal? Mal vi meu caminho enquanto fui para a garagem para encontrar Bella o mais rápido possível. E ela não atendia o celular. Que ótimo.

Olhava o capô da velha Chevy dela tentando segurar minha impaciencia, mas tenho que admitir, ela até que voltou bem rápido. E num puta desespero.

– Jake, você precisa ler isso.

Senti meu sangue gelar enquanto lia o bilhete que ela me entregava. Mas que porra é essa?

– A gente precisa falar com o Sam.

– O que tem Sam com isso? Jake, você acha que Charlie se matou?

– Acho. Mas não acho que a vontade partiu dele.

Bella ia começar a perguntar alguma coisa e então ofegou. O olhar perdido e o corpo imóvel, o rosto passou de uma dor profunda para confusão e então uma máscara pétrea enquanto processava a nova informação.

Foi triste de ver na verdade. Até então Bella nenhuma vez realmente desconfiou de Dylan. Acho até que se eu não tivesse ficado puto com a possibilidade de alguém ter mexido com a minha cabeça, ela teria deixado pra lá.

– Sam também tem uma falha de memória... - Eu parei de falar quando Bella me olhou. Eu parei porque outros diriam que ela não deixava transparecer nada, mas eu a conheço bem demais. Bella é muito... humana. Sua imobilidade apenas me mostra uma dor tão profunda que ela enterra dentro dela mesma para não perder o controle. Eu estava pronto para distraí-la com qualquer idiotice e polpá-la um pouco de tudo isso, mas seu olhar ficou em chamas de repente.

– Me conte tudo.

Sua voz era assombrosa. Essa era a primeira vez que a via com ódio realmente, não brava, ou com raiva, não senhor. Apenas o mais puro ódio emanava de todos os seus poros.

– Nós sentimos um cheiro perto de onde encontramos Charlie... Um cheiro de vampiro desconhecido. Estávamos buscando por ele mas aí... Aí paramos.

– E vocês não fariam isso. - Não era uma pergunta.

– Não. Sam está... confuso... sobre o que aconteceu no dia da sua transformação.

Ela apenas acenou e eu acho que deveria para por aí mas... Ah que merda, ela vai saber de todo jeito.

– E o cheiro esquisito era de Dylan.

– Não era de Laurent ou Victória?

Dessa vez havia surpresa. Ela ainda queria se agarrar ao que viveu com Dylan. Eu apenas neguei com a cabeça.

– Vamos falar com Sam.

Bella

Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Simplesmente não encaixava. Como Dylan, de todas as pessoas, pôde ter feito isso comigo? Meu Deus! Dylan, que estava lá por mim, mantendo minha humanidade por perto, que me segurou quando o achei que tudo estava acabado para mim. Dylan que me fez ver o mundo e viver. O homem pra quem entreguei meu corpo e minha lealdade. Não é possível que ele tivesse feito isso comigo. Por quê? Por quê? Deus, por quê?

Conversar com Sam não revelou nada que já não sabíamos. Em algum momento enquanto eu estava na clareira com Laurent e o bando rastreava seu cheiro, Dylan se pôs entre eles e de repente eles sabiam onde me encontrar e para que direção perseguir Laurent e Victória. Atribuiram isso ao faro de lobo, e nunca pararam pra prestar atenção na situação novamente.

Assim que Sam me disse tudo o que podia, eu apenas corri para casa. As imagens de nós dois, do nosso relacionamento sempre tão transparente, tão leve, tão sem joguinhos, vinham e vinham e eu não conseguia deixar de me perguntar o que foi que eu deixei passar. A dor de ser traída de maneira tão baixa e por tanto tempo eram dilaceradoras. Eu queria olhar nos olhos dele e ver por mim mesma que era tudo verdade. Chega de ser enganada.

Finalmente chegamos ao nosso bar, ainda era de dia. Dylan não estava e não havíamos nos falados nos últimos dias. Até onde sei ele entendia que eu e Jake estávamos caçando e esfriando a cabeça. Ele não fazia ideia do frio que corria por minhas veias. Fui boazinha por tempo demais. Fui idiota por tempo demais.

Decidi o esperar sozinha, Jake estaria ouvindo é claro, mas essa briga era minha. Estava imóvel com as mãos apoiadas no balcão à minha frente. Talvez me segurando ao balcão à minha frente seria mais adequado de se dizer. Eu me apoiava em qualquer coisa que me impedisse de não jogá-lo longe antes de tirar a verdade dele.

Eu tinha a cabeça baixa, ainda não preparada para encará-lo sem perder o controle. Finalmente chegou a hora, ele entrou alegre e veio caminhando em minha direção. Levantei minha cabeça em uma estalada e deixei transparecer o ódio que sentia.

– Fique onde você está. - sibilei. Dylan estacou. Sim, meu poder havia se intensificado com o meu ódio. Acho que tudo o que eu precisava era de um bom motivo para descobrir o real potencial dele, e agora eu queria muito usá-lo.

O monstro a minha frente me olhou em pânico.

– Bella.. o que...

– Chega de joguinhos. Você teve a sua chance de me contar por si mesmo. Tudo o que quero saber é por que?

– Por James.

– James?

– Ele foi criado por Vladmir, era meu irmão.

– Você veio se vingar então. Minha família pela sua. - Ergui as sombrancelhas, o rosto de Dylan estava consternado. Eu podia entender o motivo pela morte de Charlie, entendia bem demais a natureza vingativa de um vampiro, não estou aqui agora mesmo querendo desmembrar esse homem que amei por ter ferido Charlie? Mas eu não podia entender todo o resto. - E tudo o que veio depois? Todo o tempo que nos conhecemos? Por que toda essa farsa?

– Não foi uma farsa. Eu gostaria de contar por mim mesmo, por favor. Você me deve isso.

– Eu não te devo nada.

– Tem razão... Mas você já descobriu o pior... Eu gostaria de não ser forçado a mais nada, eu vou te dizer tudo, por favor.

Eu virei minha cabeça o analisando, ele parecia sincero. Mas já parecera antes.

– Não.

– Tudo bem... eu fiquei na cidade mais uns dias, acompanhando o seu sofrimento. A ideia era te matar, mas percebi que queria que você sofresse o que eu sofri. Tendo as habilidades que tenho, não foi difícil descobrir tudo sobre você e Edward. Eu ouvi muitas conversas entre você e Jacob, sabia que Edward também era responsável pela morte do meu irmão. Tentei arrancar tudo de você mesma, mas você ja deve ter imaginado que com você meu poder não funciona... Nunca funcionou. E eu me vi... interessado. A princípio era um desafio, como conseguir sua obediencia? E depois me vi curioso por cada detalhesinho sobre a sua vida. 'Treinei' os lobos e vampiros por perto para que ignorassem meu cheiro, e comecei a te vigiar. Descobri que você era boa. Juro que todo o resto que vivemos foi verdade... Exceto talvez uma parte.

– O que você fez aos Cullens, sua forma de me manipular.

– Não veja assim. Mas sim, eu cuidei para que Edward pagasse o preço.

– Como?

– Um pequeno incentivo. Uma sugestão. É assim que meu poder funciona. Eu implanto uma ideia, e aquilo cresce, como uma vontade, que começa pequenininha, e vira um desejo enorme. E de repente a pessoa tem certeza que é o que deve fazer, como uma necessidade, como se nunca mais fosse ser feliz sem cumprir o que eu pedi. Ela ignora a lógica, instinto, memória. Ignora até o que estiver bem a sua frente. Eu fiz com que Edward achasse que era uma boa ideia força-la daquele jeito.

– E ai me tirou dele.

Eu sou apenas um bichinho previsível nessa história toda.

– Mas eu me apaixonei por você Bella, me apaixonei de verdade por você.

– Você é a pior pessoa que já entrou em minha vida.

– Mas Bella...

– Cale-se! Nada do que disser agora muda o fato de que você matou meu pai, de que você me manipulou de todas as formas possíveis e imagináveis. De que me fez viver todo esse tempo com o assassino de Charlie. Por que fez com que ele se matasse, por que não simplesmente fez o serviço sujo você mesmo?

– Porque meu poder não é exato, eu tenho que trabalhar com margens de erros, com viradas. Você e Jacob são a prova de que as pessoas podem ir atrás das estranhezas e se livrar do meu... feitiço. Não podia arriscar deixar ainda mais pistas com tantos lobisomens e vampiros por perto.

– Sempre maquinando. Parabéns, você fez seu joguinho direitinho, tirou tudo o que eu tinha.

– Incluindo eu mesmo. Eu sinto tanto Bella. Quis te contar tantas vezes. Mas se houver qualquer chance de me redimir, vou contar tudo agora. Até a parte que você não sabe.

– Qual parte?

– Eu impedi que os lobos chegassem a tempo.

– Você o quê?

– Eu distraí Sam, me infiltrei na cabeça dos lobos, pra que eles te achassem somente depois da mordida. Era um risco que eu corria, mas se conhecia bem sua relação com Jake, e eu conhecia, ele não deixaria nada acontecer a você. Eu... eu vi Alice antes disso.

– Alice?

– Sim. Fiz com que ela me contasse suas previsões. Você teria uma vida humana com Edward. Casamento, eternidade, talvez até um pequeno milagre. Eu não podia deixar isso acontecer. Eu estive em toda parte. Implantando pistas para que Edward estivesse o mais longe possível atrás de Victória e não voltasse antes, fazendo com que Alice parasse de querer vê-la. Conhecendo os Denalli e os convencendo a me aceitar, porque Alice viu a possibilidade de você ir pra lá muito antes de qualquer mudança acontecer, ela viu apenas com a minha sugestão. Eu estava atrás de tudo.

Eu não conseguia raciocinar. Era muito pior do que eu e Jake previmos. Dylan foi muito, muito mais baixo.

– Se posso dizer algo a meu favor, mantive os Volturi longe de você e dos Cullens.

Eu nem queria saber o que isso significava.

– Nada de bom pode ser dito a seu favor.

Dessa vez não era ódio, era dor, uma dor que me consumia. Minha vida estava acabada, tudo o que eu acreditei, tudo o que eu mais confiava, ruiu sob os meus pés e eu estava caindo sem ter onde segurar.

– Eu fiz tudo pra recompensar você!

– Você tirou a minha vida! - Respondi aos gritos. - Eu confiei em você! Eu me entreguei de corpo e alma ao nosso relacionamento! Deus do céu, eu amei você e fui o tempo todo uma peça de sua vingança! Eu preferia ter morrido. Seria menor que essa morte em vida que você vê agora.

– Bella, não... Não diz isso.

Eu me acalmei novamente. Não, eu não ia matá-lo. Estive o tempo todo no controle de sua cabeça. Ele não estava mentindo, eu sentia sua dor. E ele merecia cada pedacinho dela.

– Você nunca mais vai usar seus poderes novamente, nunca mais vai se aproximar de mim, dos Cullen, dos Denalli, dos lobos ou de qualquer outra pessoa que não mereça a sua presença. Você vai se recolher à sua insignificancia e viver a eternidade nela.

– Vo-você não pode fazer isso.

Sorri cruel.

– Eu já fiz. Você Dylan, é um assassino. E assassinos não devem conviver em sociedade.

Vi pela sua expressão que isso o feriu mais que qualquer coisa. Essa seria a minha vingança.

Depois disso apenas corri. Corri o mais rápido que pude. Corri com todas as minhas forças. Minhas feridas estavam todas em carne viva, cada corte em exposição. Eu me vinguei de Dylan sim, mas eu também estava acabada.

Mais senti do que vi braços ao meu redor. Alice. E Rosalie logo em seguida. E então toda a minha família.

Algo em mim estava partido e eu me permiti chorar como os vampiros fazem, sufocando-me com lágrimas que não corriam. Eles entendiam.


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