Escape escrita por Miaka


Capítulo 8
Dying with you


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Peço desculpas pela demora neste capítulo! Tive que fazer umas pesquisas - estou tendo, aliás. hahaha! - e sendo um capítulo bem pesado, eu quis trabalhar bastante nele! Aproveitando para lembrar que semana que vem lançarei o último capítulo de Um peso, Duas medidas - quem não lê, ficaria muito feliz que acompanhasse também! Muito obrigada por acompanharem essa história! ^__^



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As portas duplas se abriram em um estrondo. Luzes fortes ofuscavam os olhos escarlate que, por um segundo, saíram de cima daquele que, durante todo aquele trajeto, lutava para sobreviver.

Os paramédicos rapidamente foram retirando aquela maca da ambulância, tudo rápido demais para que Judal, atônito como estava, conseguisse acompanhar.

Aflito, desceu dali ainda segurando o sobretudo de Hakuryuu firmemente, como se fosse um tesouro precioso. Os médicos e enfermeiros chegavam ali mesmo, no estacionamento do hospital, para imediatamente começar a prestar socorro ao rapaz.

Não havia demorado nem 15 minutos de onde estavam até ali, mas cada segundo parecia uma eternidade desde que Hakuryuu desfalecera em seus braços.

E durante todo aquele trajeto, Judal tinha a sensação de estar vivendo um sonho - ou seria um pesadelo?

Completamente desorientado, a sensação que ele tinha era de que estava sendo levado por uma forte correnteza. As coisas aconteciam de forma extremamente rápida e tudo o que conseguia fazer era seguir Hakuryuu, onde quer que o levassem.

Novas portas duplas se abriram e adentravam, então, um longo corredor. Mais luzes, bem mais fortes que as anteriores, preenchiam o caminho.

Branco. Branco por todas as partes.

Aquele lugar… lhe trazia lembranças terríveis.

Vozes que falavam sem parar inúmeras palavras que Judal não saberia dizer o que significavam, mas uma certeza ele poderia ter: Hakuryuu não estava nada bem.

Aquele curativo improvisado para tentar conter a hemorragia em seu peito parecia inútil já tingido de vermelho. A máscara de oxigênio que cobria parcialmente o rosto do rapaz esfumaçava de forma fraca, mostrando que ele respirava com extrema dificuldade.

Apesar de não ter nenhum ferimento em seu rosto, este se encontrava bastante pálido - até mesmo na região que aquela cicatriz dominava.

— Tem algum pertence com ele ainda?

Judal se viu inquirido por aquela enfermeira e, trêmulo, ele apenas balançou a cabeça negativamente. Lembrava-se de estar com o celular e a carteira de Hakuryuu nos bolsos de seu sobretudo, o qual mantinha agarrado ao seu corpo desde que chegara o socorro.

Mas a aproximação daquela mulher era uma boa oportunidade para se certificar de que tudo ficaria bem - não ficaria?

— C-como ele está?! -  ele gaguejou atento ao que os demais profissionais providenciavam os primeiros socorros a Hakuryuu durante aquele trajeto, como se não houvesse tempo a perder - e não havia.

— Reze por ele. - foi tudo o que a moça de longos cabelos ruivos disse em tom de urgência.

O pânico tomou conta de Judal.

Não. Não podia ser verdade!

Afinal, há poucos dias atrás tinha salvo a vida de Hakuryuu. Ele estava bem! E naquela noite, haviam fugido de Koumei e seus capangas e graças ao sacrifício de alguém que ele não tinha ideia de quem fosse.

Estava. tudo. bem. - ele dizia a si mesmo, perplexo. Como, assim que estavam prontos a comemorar aquela vitória, Hakuryuu foi atingido daquele jeito e agora estava ali, lutando para permanecer vivo?

Tomado pela angústia, ele continuou a seguir o caminho junto daquela equipe que acompanhava Hakuryuu quando adentraram, no final daquele corredor, uma sala que era antecedida por mais portas duplas, maleáveis o suficiente para aquela maca passar sem dificuldades.

Judal os seguiu, mas assim que ia adentrar o lugar, aquela mesma enfermeira o segurou pelo braço.

— Por favor, espere aqui fora. Não pode entrar aqui! - ela advertiu.

— Q-quê? - a voz falhou, apertava ainda mais contra si aquele sobretudo que carregava o cheiro dele. - Eu quero saber o que estão fazendo com o Hakuryuu! - protestou.

— Eu sinto muito, mas vamos cuidar de tudo. Não se preocupe! - ela tentou ser compreensiva.

— EU QUERO VER O HAKURYUU! - Judal vociferou sem pensar duas vezes.

— P-por favor! - a enfermeira se assustou. - Vou ter que chamar os seguranças se insis...

Tomado pela aflição, Judal empurrou a moça que quase foi ao chão. Mas antes que pudesse atravessar aquelas portas, os seguranças do hospital se aproximaram para tentar conter aquele que só pensava em se certificar de que Hakuryuu estava bem.

Os dois agarraram, cada um, um braço do moreno que se debatia, chutando aquelas portas na tentativa de ver quem tanto estimava e temia em perder.

— Por favor, senhor! - um deles pedia tentando pará-lo.

— EU NÃO QUERO ESTAR LONGE DO HAKURYUU!!!!- Judal gritou ainda na tentativa de se libertar. - VOCÊS… SÃO CAPANGAS DO KOUEN TAMBÉM! QUEREM MATÁ-LO! - ele vociferava sem pensar, simplesmente perturbado com tudo o que estava acontecendo.

— JUDAL!

Aquela voz ecoou por todo o lugar, fazendo Judal imediatamente parar e encarar aquele que chegava com uma expressão bastante preocupada. Ao seu lado, como sempre, estava seu fiel inspetor que também parecia aflito. Pelas olheiras de ambos e pelo fato de estarem usando, sob seus ternos, as mesmas blusas sociais do dia anterior, dava para ver que haviam passado a noite toda na delegacia.

— Soltem ele, por favor. - Sinbad ordenou, rapidamente retirando o distintivo de dentro do bolso do terno e exibindo-o aos demais.

Não precisava de mais nada para que os seguranças cumprissem a ordem dada por alguém que possuía tamanha autoridade.

Ofegante, Judal fitou o delegado que se aproximava com passos apressados. E assim que Sinbad chegou diante de si, o mais jovem o agarrou pelas gola de suas vestes, alarmando aqueles que se prontificaram a separar Judal do recém-chegado, mas o delegado apenas gesticulou para que nada fizessem.

— QUE MERDA DE PROTEÇÃO POLICIAL VOCÊ DEU AO HAKURYUU, SEU FILHO DA PUTA?! - Judal o sacudia, o par de rubis centelhava de raiva.

— Ele estava seguro e a proteção começaria no dia seguinte. - Sinbad explicou. - Saíram da delegacia por volta de uma da manhã, eu não imaginava que haveria perigo algum se ninguém ao menos sabia onde o Hakuryuu-kun estava. - o moreno pausou para suspirar. - Nem mesmo Alibaba sabia que Hakuryuu havia saído no meio da noite. - pausou, suspirando. - Está todo machucado também. - ressaltou ao notar os hematomas que preenchiam o rosto e o inchaço no olho esquerdo do rapaz, o qual tentou tocar. - Precisa cuid…

— Me deixa!

Judal espalmou a mão que tentara lhe tocar. A angústia se misturava com a raiva que sentia do delegado quando deixou as mãos que apertavam com tanta firmeza a roupa de Sinbad deslizarem. Parecia estar sem forças e, de fato, estava.

Os olhos rubros marejaram e aquilo não passou impune aos olhos daquele que, sem cerimônias, puxou-o para perto e o abraçou. Ele, mais do que ninguém, sabia o que se passava na cabeça de Judal. Ah, como sabia…

Sem forças para relutar, Judal nada disse e nada fez contra aquele gesto. Deixou as lágrimas silenciosamente caírem enquanto sentia-se afagado por Sinbad.

Ja’far suspirou, desviando o olhar. Não havia nada que pudesse fazer quanto àquilo. Foi quando sentiu seu celular tocar. Levou a mão rapidamente ao bolso da calça. O nome que viu aparecer na tela lhe trouxe calafrios.

— Sin!

O alvo mostrou o aparelho para o delegado que, assim que viu quem estava ligando, apertou os olhos, angustiado. Na verdade, ele já esperava aquela ligação.

Afagando os fios escuros de Judal, ele se afastou por um instante para ter em mãos o celular que já tocava pela quarta vez. Como não queria atendê-lo! O gaguejar, ao atender, foi inevitável.

— B-boa noite, Yamato-san.

— Boa noite?! - questionou o homem. - Já amanheceu, Sinbad! - a voz do outro lado disse aos berros. - Ainda está na cama dormindo com essa secretariazinha travestida de inspetor?

Com a mão livre, Sinbad massageou as têmporas. Depois do ocorrido, não tinha muito o que fazer que não fosse ouvir todos os desaforos que Takeruhiko Yamato poderia lhe tecer.

— Na verdade eu nem dormi, Yamato-san. - ele respondeu. - Saí da delegacia há pouco. Ficamos por lá e agora estou no hospital. Acho que já deve saber do ocorrido com o Ren Hakuryuu.

— Mais um feito da sua incompetência! - ele foi implacável. - Já não bastava minha Nanaumi morrer porque não teve a decência de proteger o que se propõe?!

Aquelas palavras tinham um efeito bem mais pesado do que pareciam a Sinbad. Arregalou os orbes dourados antes de suspirar pesado após notar que Yamato chorava.

— Eu… eu sinto muito, Yamato-san

— Seus sentimentos não vão trazer a Nanaumi de volta! Você sabe como ela morreu?

Sinbad não teve coragem de falar nada, apenas cerrou os olhos e balançou a cabeça negativamente como se Yamato pudesse vê-lo.

— Eles atearam fogo nela! O que sobrou da Nanaumi… é nada, absolutamente nada! - a voz embargada declarou.

— Eu… realmente sinto muito, Yamato-san… O que eu puder faz…

— O melhor que você faz é abandonar de vez a carreira policial! Já não basta sua incompetência ter matado a Serendine, agora matou a Nanaumi também!

Sinbad se manteve em silêncio. Os olhos cerrados e os lábios contorcidos. Precisava se manter forte, ainda mais… - fitou o rapaz que se entregava as lágrimas - por causa dele.

— Eu vou fazer de tudo, Sinbad, absolutamente de TUDO - enfatizou. - para rebaixá-lo!

Aquela foi a derradeira frase pronunciada por Yamato antes de bater o telefone sem deixar tempo para Sinbad sequer se defender. Mas ele não tinha o que dizer mesmo. O chefe da Interpol e aquele que havia ajudado - e muito - a subir em sua carreira tinha total razão.

Ja’far observou a apatia estampada no rosto de seu superior. O que será que ele tinha escutado para ficar assim? Mas foi apenas dar um passo a frente para falar com o moreno que as portas se abriram abruptamente.

— Hakuryuu! - Judal exclamou ao ver o rapaz que era conduzido naquela maca.

— Como ele está? - Sinbad prontamente questionou a um dos médicos.

— Estamos levando ele para a cirurgia. O médico de plantão virá explicar tudo!

Judal arregalou os olhos em pânico. Não era apenas um ferimento superficial? Ele já tinha visto comparsas levando tiros antes, ele mesmo já havia passado por aquilo.

— Quê? Cirurgia? O que… o que aconteceu?

— Com licença, é extremamente urgente e a vida do seu amigo está em risco!

— Não…

Judal praticamente cambaleou até a lateral daquela maca, abrindo espaço entre os médicos  e enfermeiros que se amontoavam ao redor de Hakuryuu. Não podia ser verdade! Ele era até mesmo mais jovem que ele! Não era justo!

— Hakuryuu… - Judal segurou a mão fria que repousava lateralmente ao corpo dele. - Hakuryuu, acorda! - apelou sentindo os joelhos tocarem o chão. - Você já passou por tanta coisa, Hakuryuu! Ei…

— Judal. - Sinbad tocou em seu ombro. - Hakuryuu vai ficar bem. Deixe que os médicos cuidem de tudo. - ele tentou convencê-lo. - É pelo bem dele, Judal!

— ELE TÁ MORRENDO, VOCÊ NÃO VÊ?! - Judal exclamou, as lágrimas caíam.

— Os batimentos estão caindo. - um dos enfermeiros alertou.

— Não temos mais tempo! - disse outro entre os médicos.

Sem forças mais, Judal não teve como relutar quando Sinbad o puxou para trás e os médicos seguiram levando Hakuryuu.

Aos olhos do jovem, ele só podia ver aquele que aprendera a estimar em tão pouco tempo se afastando… para sempre. Ele simplesmente não suportaria perdê-lo.

— Judal-san?

Um homem que, devido às vestes, parecia ser mais um médico, se aproximou trazendo uma prancheta em suas mãos. O rosto era bastante jovem - fazia Sinbad se perguntar se aquele rapaz tinha idade para exercer sua profissão. Dotado de uma beleza exótica, tinha cabelos alvos e a pele morena e, aliás, lembrava muito um dos integrantes da equipe que trabalhava junto ao delegado Sinbad.

— É o responsável pelo Hakuryuu-san, não?

— S-sim. - Judal gaguejou, levantando-se de volta com a ajuda de Sinbad.

— Muito prazer!  - ele estendeu a mão para cumprimentá-lo. - Eu sou o doutor Sphintus Carmen, sou médico residente do hospital e chefe desse plantão, portanto,. estou cuidando do caso do Hakuryuu-san. Parece que… é algo especial, não é? - o rapaz fitou Sinbad.

— Muito prazer, Sphintus-sensei. - Sinbad lhe estendeu uma mão e a outra usou para buscar o distintivo no bolso e mostrá-lo. - Sou o delegado Sinbad e esse é meu inspetor Ja’far. - ele os apresentou enquanto Ja’far se curvava.. - Seu paciente sofreu um atentado e ele está sob nossa proteção. Eu gostaria, desde já, solicitar a permissão da nossa segurança para o Hakuryuu-kun, assim como quero nomes de todos aqueles da junta médica que está lhe atendendo. Assim como a proibição de visitas também deve ser revisada.

— Entendo, é uma medida de segurança. - Sphintus alternou o olhar entre Sinbad e Judal. - Providenciarei tudo. Mas por ora, eu vim tranquilizá-los sobre o estado do Hakuryuu-san. - ele pausou e observou a aflição no rosto de Judal. - Vamos nos sentar para conversar um pouco.

Seguiram, à bastante contragosto de um Judal que era praticamente arrastado por Sinbad, a uma área mais ampla do corredor onde havia algumas cadeiras. Não queria conversar com ninguém. Tudo o que queria era ver Hakuryuu fora de perigo.

O moreno se sentou, depositando aquela prancheta, que trazia consigo, na mesa central de vidro que os separava e cruzou as pernas.

— Ele vai ficar bem?! - Judal, impaciente, questionou de forma direta.

— Depende de como vai correr a cirurgia. O estado dele é bem grave. - ele explicou tentando ser bastante sutil. - O disparo atingiu um dos pulmões e a cirurgia é justamente para remover o projétil e…

— Eu não acredito! - Judal esmurrou a parede próxima.

— Calma, Judal. - Sinbad pediu. - Prossiga, doutor.

— EU VOU MATAR AQUELE FILHO DA PUTA! - o mais jovem rosnava.

— Ele está sendo bem forte. - Sphintus prosseguiu. - De fato é um milagre ainda estar vivo e garanto que vamos fazer de tudo para que ele se recupere. - afirmou de forma convicta.

— Estávamos extremamente distantes! Como conseguiram atingi-lo assim?! - o moreno trincou os dentes. - Koumei… - ele chamou, furioso.

Sinbad, perspicaz, aproveitou aquele momento extremamente oportuno.

— Finalmente temos uma prova contra o Koumei, Judal. - ele encarou o mais jovem. - Se depor contra ele, podemos imediatamente ir à mansão dos Ren com um mandato de pri…

— Cala a boca!

Judal se levantou imediatamente e os deixou ali. O que Sinbad lhe propusera era extremamente absurdo - e sua preocupação agora era apenas Hakuryuu.

Seguiu pela direção onde haviam levado o rapaz. Mais um longo corredor cujas luzes brancas ofuscavam seus olhos que logo encontraram duas portas devidamente fechadas. Um letreiro luminoso sobre ela indicava que estava ocorrendo uma cirurgia.

Suspirou, deixando-se cair sobre uma daquelas cadeiras de uma fileira que ficava rente à parede. Não havia o que fazer.

Reze por ele.

Lembrando-se daquelas palavras, Judal jogou a cabeça para frente, os braços apoiados nos joelhos e as mãos caídas entre suas pernas abertas. Soltou mais um suspiro na tentativa de acalmar seu coração quando voltou a encarar aquelas portas e, então, inclinar a cabeça para trás.

— Deus, sabe que eu sou uma péssima pessoa e não mereço nada… Mas por favor, salva o Hakuryuu! Ele não tem nada a ver com as merdas que eu faço! Ele é uma boa pessoa e eu… gosto tanto dele… Tsc, na verdade eu o amo! - as lágrimas caíram. - E a única chance que vejo pra sair dessa vida de merda que eu levo é com ele… Por favor, não o abandone…

—--xxxxx---

A movimentação na mansão dos Ren havia começado bem cedo, ao nascer do sol.

A chegada de Koumei, que havia sido trazido ali por seus comparsas, aquela hora da manhã, despertara toda a família e alarmava os serviçais. Ainda mais quando eles se viam obrigados a ouvir os gritos e desaforos do ruivo que estava sentado sobre o sofá, a perna estendida sobre uma toalha que já estava encharcada de sangue e homem aflito tentava fazer um curativo decente.

— AAAAH! Seu filho da puta! Está doendo! - Koumei urrava.

— K-Koumei-sama! - parecendo ter desistido, o homem que tinha uma tatuagem no rosto se levantou. - Creio que o mais indicado é ir a um hospital! Não é um ferimento simples que eu…

— Ka Koubun!

Aquela voz trouxe arrepios a um dos mais antigos serviçais daquela geração da família.

Virou-se para trás para ver aquela que sorria abertamente, mas sempre de forma sedutora, trajando apenas um roupão branco rendado, transparente para possibilitar a visão do conjunto de lingerie preto que modelava aquele corpo escultural.

Apoiada no corrimão da escada que fazia uma belíssima curva antes de desembocar no centro daquele amplo salão, ela vinha acompanhada daquele que vestia um discreto roupão de seda vermelho.

— Se não puder fazer seu trabalho, podemos contratar outro. Mas só temos uma vaga aqui para o que você faz. - a mulher sorria abertamente.

— N-não, senhora!

E voltando a se agachar para se concentrar em tentar suturar aquele enorme ferimento, Ka Koubun lamentava o fato de que, assim que Kougyoku se casasse, teria de ficar na casa daqueles loucos sem sua querida ama, que nunca ousara lhe maltratar.

— Mei-nii!

Um aflito Kouha descia as escadas, passando por seu irmão e por sua tia e madrasta. Rapidamente chegou até Koumei para segurar sua mão.

— Quem fez isso? Foi aquele miserável do Hakuryuu?! - ele indagou furioso.

— Na verdade...

A fala de Koumei foi interrompida quando viu sua prima surgir pelo mezanino.

— Sim. - ele prosseguiu. - Foi o Hakuryuu! - era o momento ideal. - Ele está completamente louco!

— O quê?!

A morena que usava uma camisola discreta desceu as escadas com a expressão atônita. Hakuryuu havia usado uma arma de fogo contra seu primo? Sua mãe prontamente a seguiu, descendo aqueles degraus.

Sem pestanejar, Hakuei foi rapidamente até Koumei e se curvou, as bochechas alvas ruborizando tamanha vergonha.

— Eu peço imensas desculpas pelo meu irmão, Koumei-sama!

— Acalme-se, querida. - Gyokuen se aproximou e tocou nos ombros da filha, tão parecida com ela. - Seu primo não vai te odiar por causa do que o Hakuryuu fez. - ela sorria para Koumei, como se quisesse dizer que havia entendido suas intenções.

— C-claro que não. - Koumei teve de esconder o sorriso de satisfação. - Vocês não tem culpa da insanidade do Hakuryuu!

Gyokuen deu meia-volta e segurou as mãos da moça, enquanto que com a mão livre secava as lágrimas que Hakuei derramava. Sentia tanta vergonha.

— Entende, querida? Entende por que temos que internar o Hakuryuu o mais rápido o possível? - sua mãe sussurrou. - Não vai lhe faltar nada na clínica que o colocaremos e ele pode se recuperar, voltar a viver com a gente! Mas do jeito que ele está, só está pondo em risco todos nós… - ela a abraçou firmemente para sussurrar em seu ouvido. - e seu casamento com Kouen.

Os olhos azuis cresceram ao ouvir aquilo.

Por mais que odiasse admitir, sua mãe estava certa.

Hakuryuu havia se tornado um risco para sua família. Sua loucura havia chegado a um nível extremamente perigoso e ela sabia que devia ajudá-lo. O que Hakuyuu e Hakuren gostaria que fizesse para ajudá-lo?

— Se não internarmos o Hakuryuu, ele vai acabar na cadeia! - os olhos de sua mãe marejavam. - Meu querido Hakuryuu não merece isso! - ela soluçava de forma teatral.

— Hahaue-sama… - Hakuei tentava confortar a mulher.

— KOUMEI-SAMA!

Dois homens subitamente adentraram aquela sala, vindo do lado de fora. Assim que viram a matriarca da familia, brevemente se curvaram em respeito àquela que sorria, entre lágrimas, mexendo no decote da veste rendada, como se quisesse - e queria - exibir a curva dos fartos seios.

— O que houve?! - Koumei rangia os dentes sentindo a dor que pulsava daquele ferimento.

— Recebemos notícias do paradeiro de Judal e Hakuryuu!

Todos se alarmaram. Eles haviam escapado, não? Será que de vez? Aquilo preocupava Gyokuen que logo deu um passo a frente.

— Onde está meu querido Hakuryuu? - ela juntou as mãos trêmulas na altura do peito, fingindo aflição.

— Ele está nesse momento no primeiro hospital próximo a uma das saídas da cidade! - o homem explicou.

— Hospital?! - Hakuei se assustou. - O que aconteceu com meu irmão?!

— Parece que ele foi atingido por dois disparos e está passando por uma cirurgia agora.

— Ah, meu Deus! - a moça se desesperava, os joelhos enfraquecidos tocando o chão. - Meu irmão!

— Está entre a vida e a morte! - explicou com um sorriso. - Parece que nossos atir…

— Cale a boca! - a voz de Kouen ecoou no momento certo. - Não vê que minha noiva está abalada! - ele se aproximou. - Hakuei, pode deixar que vamos verificar onde o Hakuryuu está para providenciar auxilio.

— Meu Hakuryuu! Eu pedi tanto que não se envolvesse com pessoas erradas… - Gyokuen chorava.

— Kouen-sama, - Hakuei se virou para o ruivo. - eu preciso ver meu irmão!

Gyokuen então abraçou as costas de sua filha e abriu um largo sorriso quando seu olhar cruzou com o de seu filho adotivo e amante.

— Nós vamos! Vamos visitar o Hakuryuu e, com certeza… tudo ficará muito melhor! Será a oportunidade perfeita de nos reconciliarmos com ele, não é? Nunca mais… - ela deslizava os dedos pelo rosto bonito de sua filha, colhendo com as pontas dos dedos suas lágrimas. - Nunca mais teremos problemas com o Hakuryuu!

— Estou tão preocupada, hahaue-sama! - Hakuei chorava.

— Não fique! Não fique! Vá se trocar! Quero ir visita-lo o mais breve possível!

— S-Sim!

Todos assistiram quando Hakuei assentiu, chorosa, e seguiu para seus aposentos.

Gyokuen a conduziu até metade daquele caminho, parando ao lado de um Kouen que balançava a cabeça, um sorriso cínico em seu rosto. Esperou a moça desaparecer de sua visão antes de falar.

— Você não vale nada mesmo… - Kouen sussurrou em meio a um risinho.

— Eu?! - ela apontou a si mesma fingindo desentendimento. - Ora, meu querido Kouen… Disse alguma mentira? - a mulher se esgueirou pelo peitoral do ruivo, uma das mãos deslizando por aquela região e ousando adentrar aquela seda. - Não disse que lhe daria um presente?

Os demais irmãos e outros servos observavam com asco aquela situação. A forma como Gyokuen agia era descarada e não era escondido de ninguém seu caso com seu próprio sobrinho e filho adotivo. Apenas Hakuei parecia completamente alheia àquela situação.

— Está falando de um moleque que sobreviveu a um incêndio que matou centenas de pessoas! Acha mesmo que um tiro vai matá-lo? - Kouen cruzou os braços.

— Se um tiro não matá-lo… uma visita de sua mãe pode, não?

E, ao declarar aquilo, Gyokuen não deu tempo para que o ruivo dissesse nada. Surpreso, só sentiu os lábios serem abocanhados por aquela que transbordava felicidade. Afastou-se para segurar as laterais do rosto masculino e abrir um largo sorriso.

— Feliz aniversário, Kouen!


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Notas finais do capítulo

O lado mais divertido do AU para mim é colocar os personagens em papéis "parecidos" com os que eles exercem. Eu realmente pensei em colocar um figurante para ser o médico, mas me lembrei que o Sphintus é especializado em magia do tipo vida e bom em curar - acabou ganhando o papel de médico bonitão. Não imaginaram ele de jaleco? - Isso me fez adicionar novos personagens que não pensava em trabalhar até então. Aguardem!



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