Escape escrita por Miaka


Capítulo 7
Losing you


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Eu estava muito ansiosa pra postar esse capítulo! Na verdade era algo que eu planejava há muito já!



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Guiando-se apenas pelas luzes dos semáforos das ruas, ele mergulhou na intensa bruma que escondia seu caminho. A forte neblina prejudicava sua visão. Estava indo na direção certa?

Abraçou a si mesmo sentindo que o longo sobretudo não estava sendo o suficiente para protegê-lo do frio da madrugada.

Mas o que estava fazendo indo àquela hora da noite procurar Judal? Por que sentia uma urgência tão grande em ir ao seu encontro? Estava deixando de seguir as instruções que Sinbad havia lhe dado, mas tinha certeza de que não havia perigo se saísse aquela hora.

Em meio ao nevoeiro conseguiu avistar a placa que indicava o nome daquela rua. Pendurada, a placa de metal ficava hasteada em um poste naquela esquina.

Foi quando lhe surgiu uma ideia. Agora que sabia onde estava, seria mais fácil se chamasse um táxi, não?

Apalpou o bolso da veste e encontrou o celular. Passava das 3 da manhã.

Precisava ir até seus contatos e ligar para alguma companhia de taxi, mas antes que prosseguisse, virou-se para trás assustado. A sensação de estar sendo observado o alarmou. Podia jurar ter escutado algum remexer naqueles arbustos.

— Quem está aí? - ele arriscou questionar.

Nenhuma resposta.

Devia estar cismado.

Suspirando e voltando a se tranquilizar, Hakuryuu deu meia-volta e decidiu voltar a tentar chamar um taxi, mas assim que o fez, uma mão forte o puxou para trás.

— O q...

Não conseguiu completar. Os olhos azuis cresceram quando sentiu o nariz e os lábios serem pressionados com uma flanela. O desespero lhe consumiu ao sentir aquele forte aroma e ele só pôde se debater na tentativa de sair dali. Mas quanto mais tentasse se soltar e sentisse aquele forte cheiro, mais sentia enfraquecer.

Não, não, não! - ele repetia mentalmente. Tentava reconhecer seu algoz que estava encapuzado, mas era inútil.

Braços e pernas amoleceram quando finalmente cedeu, sendo incapaz de reagir. Os olhos azuis perderam o foco antes de, finalmente, se fecharem, por mais que Hakuryuu se esforçasse para se manter consciente. O homem que o segurava soltou a flanela que usara para intoxica-lo e o amparou.

— Para um fracote até que deu trabalho! - comentou.

— Se ele continuasse, já estava mirando na cabeça.

Aquela voz surgiu por entre a neblina. O outro encapuzado trazia um rifle consigo.

— Se atira com esse troço me mata também! - ralhou aquele que segurava Hakuryuu.

— Como se eu fosse errar um tiro. Aliás, se o matássemos aqui, Kouen-sama não nos recompensaria melhor? Afinal, o objetivo não é se livrar desse merda? - ele apoiou a ponta do rifle no queixo do rapaz desacordado.

— Sim, mas estamos aqui apenas seguindo ordens.

—------xxxxxx-------

A forte luz do holofote que era direcionado ao seu rosto ofuscava os olhos rubros. Revirava o rosto para os lados na tentativa de escapar da luminosidade que era a única naquele galpão completamente escuro. Estalou a língua, irritado, ainda tentado se soltar das cordas que amarravam seus braços às suas costas e, consequentemente, àquela cadeira.

Ouviu passos e uma sombra se aproximou, como tantas que haviam ao seu redor, mas a ignorando por completo, se surpreendeu com o forte soco que levou na face esquerda.

Gemeu baixo sentindo o sangue quente escorrer por uma de suas narinas, mantendo o rosto abaixado.

— Vê se fica quieto, seu idiota!

Judal reergueu o rosto para cuspir certeiramente no rosto do corpulento homem.

— SEU MISERÁVEL!

Impaciente, o algoz sacou uma das pistolas que estavam na cintura larga e apontou para o jovem que não tirou o sorriso desafiador de seu rosto.

— Atira, vai! - ele o afrontou. - Não tem coragem, não é? Só se o teu dono mandar, né, seu porco!

Pressionou ainda mais o gatilho. Não tinha como se conter mais. Mas uma mão pousou em seu braço e o conteve.

— Já chega, Kin Gaku. Não temos permissão para executá-lo… ainda.

— Não tem permissão ou não tem coragem?

— E VOCÊ CALA A BOCA!

O homem que tinha a pele pegajosa, parecia coberta de escamas, puxou o taser e apontou para o rapaz que urrou ao sentir aquela descarga elétrica breve, mas o suficiente para deixá-lo zonzo. Mas um balde de água fria sobre sua cabeça era o suficiente para despertá-lo novamente.

Kin Gaku deu a volta e puxou a longa trança do rapaz para trás para forçar Judal a encará-lo. Ele tremia, os hematomas em seu rosto e no peitoral exposto após tantos golpes refletiam nos respingos, mas aquele sorriso em seu rosto, ah, isso ninguém conseguia tirar...

— Não temos permissão de matá-lo, mas podemos torturá-lo muito ainda!

… ou ao menos era isso que Judal acreditava.

O imenso portão do amplo galpão se abriu e pôde ouvir os passos daqueles que se aproximavam. Abaixou o rosto para encarar os recém-chegados quando teve a pior surpresa possível. Dois homens encapuzados chegavam e um deles trazia consigo um Hakuryuu inconsciente que era pendurado pela cintura pelo braço de seu algoz.

— HAKURYUU!!!!

Tomado por uma fúria incontrolável, Judal quase derrubou a cadeira na qual estava amarrado. Os olhos vermelhos arregalados em pânico ao ver o jovem que foi jogado como um saco de batatas diante de si. Ele tinha os pulsos amarrados à frente do corpo, assim como os tornozelos.

— O QUE FIZERAM COM O HAKURYUU?! - ele vociferava.

— Nada… ainda.

Toda aquela confiança e firmeza de Judal parecia ter ido por água abaixo. Como haviam conseguido trazê-lo até ali? Sinbad havia garantido a segurança dele…

— Devemos começar, Shou En? - Kin Gaku perguntou ao homem ao seu lado.

— Não, ainda faltam convidados.

— POR FAVOR, SOLTEM O HAKURYUU! - Judal exclamou. - Ele não tem nada a ver comigo! Não tem por que…

— É exatamente porque ele não tem nada a ver com você que o trouxemos pra cá. VOCÊ que agora tem a ver com ele, que é quem devemos matar!

Novamente o estrondo que a abertura daquele portão fazia chamava a atenção de todos. Pelo sorriso que os demais abriram, Judal só poderia presumir que as coisas poderiam ficar ainda piores.

Encarava Hakuryuu em pânico ao vê-lo ali amarrado e desacordado. Como o tiraria dali?

— Boa noite, Judal.

Piscou descrente ao ver quem havia chegado.

Trajado em um terno italiano risca-de-giz feito sob medida, Ren Koumei se aproximou da parte iluminada daquele lugar, onde Judal estava no centro, bem como Hakuryuu diante de seus pés.

— Só se for boa pra você, não é?! Estou impressionado que tenha dado as caras!

— Não posso fazer nada se meus capangas são incompetentes. - o ruivo abriu o único botão fechado do terno e mostrou o coldre duplo. - Mas antes vim questionar o que tem acontecido com meus negócios. - ele cruzou os braços e encarou Judal. - Soube que está revendendo minha mercadoria à um preço bem maior do que tem me repassado.

Judal gelou, mas manteve sua expressão impassível. Não podia demonstrar que Koumei estava certo, mais do que certo até.

— Hunf, não sei quem lhe passou essa informação errada!

— A maior consumidora do seu produto.

Não era possível! Kougyoku…

— Infelizmente o destino daquela pobre coitada será uma clínica de reabilitação. É uma idiota que consome o próprio produto que vendemos. - ele comentava com indiferença.

— Ela usaria menos drogas se não tivesse forçado ela a se casar! - Judal foi direto.

— Então é verdade?

Com aquela pergunta, Koumei apoiou um de seus pés sobre o corpo de Hakuryuu, que permaneceu imóvel. Os olhos caídos do vice-presidente das empresas da família Ren encarava seu primo.

— C-claro que não! - Judal gaguejou.

E assim que ouviu aquela resposta, o ruivo chutou sem dó o corpo do rapaz que jazia aos seus pés. Hakuryuu acordou da pior maneira possível, sem fôlego, os olhos azuis arregalados ao sentir o chute certeiro na altura de seu estômago.

— HAKURYUU!

O jovem tossia sem parar, saliva escorrendo pelos lábios enquanto ele tentava focar o que acontecia ao seu redor. Um par de rubis o encarava preocupado enquanto dizia algo que ele não conseguia ouvir. Só via os lábios dele se mexendo. Judal…

— Responda, Judal. Mas dessa vez com a verdade…

Koumei se preparava para chutá-lo novamente. Hakuryuu ainda tentava recuperar o fôlego quando mais uma vez sentiu a ponta do scarosso do ruivo lhe chutar na mesma região.

— HAKURYUU! PARE AGORA, KOUMEI! - Judal exclamou.

Judal só podia sentir seu coração apertar ao ver o rapaz se revirar no chão. Os olhos azuis tinham perdido completamente o brilho enquanto Hakuryuu lutava para respirar.

— Ainda não vai responder?

Via-se completamente encurralado. Foi quando viu Koumei gesticular para o homem que trouxe Hakuryuu e permanecia encapuzado. Não demorou para que viesse trazendo um pequeno galão consigo.

— Koumei, por que… por que fazem isso com o Hakuryuu?!

— Judal, o Hakuryuu vai morrer hoje. Isso é um fato e você não vai mudar. É o presente de aniversário que estou dando ao meu querido irmão. - Koumei permanecia a explicar calmamente. - Se eu fosse você, tentaria me salvar porque ainda é possível. Não queremos as migalhas que rouba de nós, mas também queremos saber porque agora decidiu proteger meu querido priminho…

— Tsc, eu não entendo porque o odeiam tanto! Hakuryuu é uma boa pessoa! Ele só quer viver em paz! Ele não quer o dinheiro de vocês! Deixem-no em paz!

— Hmmm… Suas palavras para a Kougyoku foram outras, não é? Disse que enfrentaria o Kouen para protegê-lo...

Judal caia num poço de decepção. Como Kougyoku fora capaz de trair sua confiança? Havia dito aquelas palavras que proferira em momentos de fúria para seus irmãos? Era a única a qual considerava de verdade naquela família de mafiosos.

— J… Judal! - Hakuryuu gaguejou. - Por favor, deixem ele ir embora! Ele não… Ah!

Hakuryuu foi interrompido quando sentiu ser puxado pelos cabelos. Mal conseguira estabilizar sua respiração quando foi forçado a ficar de joelhos por aquele homem. E apesar de estar na pior situação de sua vida, ele tentou sorrir para Judal.

— Muito obrigado, Judal, mas… deixe que façam o que quiserem comigo! É um problema da minha família!

— ESTÁ LOUCO?! Sua família está planejando te matar, melhor, tentaram te matar!

— Bem, Judal, - Koumei o interrompeu. - vamos fazer um jogo aqui. Posso matar o Hakuryuu de forma mais digna, mas se não colaborar vou ter que cancelar com a funerária o belíssimo caixão que permitiria vermos o rosto do meu primo morto por algo mais fechado… Se é que vai sobrar algo para enterrarmos.

Judal não compreendeu nada do que o ruivo queria dizer com aquelas palavras até ver o homem encapuzado destampar aquele pequeno galão e ir despejando seu conteúdo ao redor de Hakuryuu. Agora as coisas faziam sentido.

— Não… Não, você não seria capaz! Não faça isso! Não ouse! - Judal balançava a cabeça simplesmente aterrorizado.

— Vamos fingir que o Hakuryuu morreu há 12 anos atrás naquele incêndio… como devia ter sido. - Koumei caminhou lentamente até seu primo, tirando um isqueiro de dentro do bolso. - Ele vai manter boas lembranças da nossa infância naquela época.

O ruivo acendeu o isqueiro e fez menção de jogar sobre aquela pequena trilha envolta de Hakuryuu. O pânico lhe invadiu quando aquela pequena chama refletiu em seus olhos. Mas neles havia fogo, muito fogo. Como vira há 12 anos atrás consumir seus irmãos, marcar seu corpo. Só podia tremer ao se ver cercado por aquelas chamas.

— HAKURYUU!!!! - Judal urrou. - SOLTE ELE! SOLTE ELE AGORA! POR FAVOR! - as lágrimas surgiam nos cantos dos olhos de Judal - EU FAÇO O QUE QUISER, MAS NÃO FAÇA IS...

O moreno foi interrompido com os gritos de pavor de Hakuryuu. Era nítido que ele estava desesperado, provavelmente revendo momentos terríveis de sua vida. Koumei era um ser asqueroso. Judal perguntava-se como havia passado anos servindo a eles, lidando normalmente. Eram pessoas capazes de tudo, absolutamente tudo e sem o menor escrúpulo.

Enquanto ouvia aqueles gritos, Judal mordeu o lábio inferior e se resignou, vendo-se incapaz de fazer algo para salvar Hakuryuu. Parecia uma maldição. Finalmente havia encontrado alguém que havia lhe dado a vontade de ter uma vida íntegra, de se afastar do crime, de viver…

Eu realmente estou querendo me tornar uma pessoa melhor pelo Alibaba-chan… Ele é uma pessoa tão boa que faz com que nós queiramos melhorar também

Aquelas palavras ecoaram em sua mente. Parecia que compreendia elas muito melhor naquele momento. Mas como o destino sempre fora cruel consigo, Judal estava para perder a pessoa que seria capaz de arrancá-lo daquele caminho tão errado, tão ruim, tão podre.

Uma lágrima caiu sem que ele percebesse quando as cordas em suas mãos e pés afrouxaram. Piscou desentendido e viu mais um capanga encapuzado ao seu lado.

Pára de choramingar e vai ajudar o Hakuryuu! - uma voz feminina sussurrou.

— Q… qu...

Sua cabeça foi subitamente abaixada com força quando aquela pessoa misteriosa empunhou uma metralhadora e disparou sem parar em todas as direções. Gritos e correria acompanhavam o som ensurdecedor dos disparos que eram feitos a poucos centímetros de Judal. Esse erguia apenas os olhos a procurar Hakuryuu e se certificar de que ele estava bem, ainda sentindo o pé daquela mulher apoiado em suas costas para mantê-la numa posição favorável para manejar aquela arma com tamanha precisão. Mas onde ele estava? Para onde haviam o levado?

Deslizou as costas pela sola da bota daquela que havia lhe ajudado e correu, ainda que curvado, tentando se desviar de inúmeras balas que alguns dos capangas ainda disparavam antes de serem mortos por aquela mulher.

Foi até um dos corpos caídos ao chão e recolheu uma pistola. Era o suficiente.

— Chega de brincar com você.

Os olhos azuis encaravam seu primo. Koumei agora empunhava as duas semiautomáticas em sua direção. Assim que percebera o motim, havia lhe arrastado até ali.

— Não adianta trazer amiguinhos infiltrados, nem nada. Eu já disse: você morre hoje, Hakuryuu.

— Até quando vai ser cachorro do Kouen?! - ele questionou com um tom desafiador. Vermelho faiscava nas safiras. - Ele não tem coragem de fazer o trabalhinho sujo e manda você?

— Você vai ser grato pelo o que estamos fazendo. Queremos poupar que sua vida piore ainda mais.

— Eu estava saindo do país para nunca mais ver a cara de vocês e mesmo assim foram me matar! FAÇA ISSO LOGO! - vociferou o moreno. - Parece que não tem coragem! Já chega! Me mate de uma vez!

Koumei suspirou, destravando uma das armas e posicionando o dedo no gatilho. Estava feliz, afinal, presentearia seu amado irmão com a cabeça de seu odioso primo. Aquele que era o único empecilho para que Kouen herdasse todas as posses e bens da família Ren. Aquela última pedra no sapato.

— Adeus.

Hakuryuu fechou os olhos pronto para o que viria a seguir. Ouviu um disparo que ecoou por todo aquele galpão, conseguindo se sobressair no meio de tantos outros. Parecia até mesmo que tinha ouvido um segundo disparo.

Mas… por que ainda estava vivo?

Abriu um dos olhos, um tanto quanto receoso para ver a fumaça ainda saindo do cano da pistola de Koumei, que ia ao chão, a perna direita tingida pelo escarlate vívido.

Piscou os olhos azuis simplesmente atônito ao ver Judal empunhando uma outra arma. Encarava com frieza o ruivo que gemia, extremamente irritado. Koumei havia sido atingido segundos antes de disparar, o que o fizera errar o tiro que tinha como alvo a cabeça de Hakuryuu.

— Eu já disse… - Judal preparava a arma novamente. - ninguém vai matar o Hakuryuu enquanto eu estiver vivo!

— Ju… Judal?

Foi impossível não corar após ouvir aquela declaração. Uma sensação tão calorosa o invadiu, sendo capaz de esboçar um sincero sorriso para Judal. Sentia-se tão só, tão desamparado e odiado assim por sua própria família. E ali estava aquele que parecia um herói de ficção ao seu resgate. Os olhos rubros encaravam Koumei com asco, mas se derretiam ao encontrar Hakuryuu.

— Filho da...

Mas não havia tempo para delongas. Enquanto Koumei se revirava no chão, Judal fez questão de se aproximar, chutando a pistola do ruivo para longe antes de ter como alvo o corpo do primo de Hakuryuu. Chutou uma, duas vezes, o mais forte que podia.

— Isso é pela covardia que fez com o Hakuryuu! E filho da puta é você que se diz filho daquela chocadeira da Gyokuen!

Vendo que ele não teria mais como reagir, Judal foi até Hakuryuu e tratou de desamarrá-lo sem a menor dificuldade.

— Como conseguiu se soltar? - Hakuryuu questionava ao se por de pé. - Quem é que…

— Vamos embora! Temos que fugir!

Judal o segurou pelo pulso e o puxou. Correu o máximo que pôde para fora dali. Era a única chance que tinham de escapar.

Não queria saber quem era aquela mulher, o que fazia ali ou porque os ajudava. A única certeza que Judal gostaria de ter era a de que era extremamente grato a ela, em especial por estar agora ali ao lado de Hakuryuu, que o seguia para fora daquele galpão.

Ao se verem fora daquele lugar, descobriram estar em um terreno baldio completamente afastado do centro da cidade. Não havia tempo de pensar onde estavam e se situarem, portanto apenas continuaram a correr o máximo que podiam. Porém, assim que iam se afastando do lugar, ouviram o grito de uma mulher seguido de novos disparos que cessaram junto com a voz feminina.

— JUDAL! - Hakuryuu chamou, assustado.

CONTINUA CORRENDO!

Ele ordenou, apertando os olhos tendo a certeza de que a salvadora de ambos havia sido morta. Era assim que Kouen lidava com traidores, como faria com ele. Tivera muita sorte, refletia enquanto corria sem parar. Haviam passado de uma cerca e seguiam em direção a uma área arborizada.

— Mas você não ouviu?

— Eu mandei continuar corr...

Ouviu novos disparos, vendo uma, duas balas passarem por ele em uma velocidade muito maior. Estalou a língua, virando-se rapidamente para trás para confirmar que estavam sendo seguidos. Droga! Não era possível…

— Não olha pra trás! - Judal ordenou.

Hakuryuu se esforçava para seguir o passo apertado de Judal que era muito mais ágil que ele. Ficou alguns passos para trás e aquilo desesperou o mais velho.

OE, RÁPIDO!

Ele apenas assentiu continuando a segui-lo. O chão daquela região era repleto de folhas e galhos secos, difícil de se locomover, porém sabia porque seu parceiro havia escolhido aquele caminho. Seria bem mais difícil que os encontrassem ali.

— Eu conheço essa região! Estamos chegando próximo da entrada da cidade! Não se afaste!

— Pode deix...

Hakuryuu sabia que conseguiriam fugir. Uma felicidade sem par estava estampada em seu rosto. Judal havia lhe salvado novamente e haviam saído com vida de uma situação que ele tinha certeza de não haver saída. Podia ouvir cada vez menos disparos que iam ficando cada vez mais distantes. Foi quando sentiu um intenso arder em seu braço, a ponto de entrecortar sua voz. Desviou o olhar por um segundo até o local e respirou fundo ao confirmar que havia sido atingido.

— O QUE ACONTECEU? - Judal questionou notando a quietude repentina de Hakuryuu.

— N-nada! Vamos continuar! Estou bem atrás de você!

Continuaram seguindo floresta adentro. Já podia ver a saída logo em frente, a avenida pouco movimentada pela alta hora da madrugada, poucos raios de sol iluminavam aquele caminho tortuoso no qual seu parceiro se distanciava cada vez mais dele.

— Vamos conseguir sinal no celular e ligamos para o Sinbad assim que chegarmos na avenida!

Hakuryuu dava seu máximo para alcançar Judal, mas por que ele parecia seguir cada vez mais rápido? Ou era ele que estava lento demais? Seu braço latejava. Precisava encontrar Judal. Foi quando ouviu um único novo disparo e sentiu a dor lancinante lhe atravessar.

Não havia mais forças para prosseguir. Continuou com um, dois, três passos, mas as pernas já iam fraquejando a medida que a dor aumentava. Sentia a camisa grudar em seu corpo a medida em que o sangue encharcava suas vestes.

Estendeu a mão tentando alcançar Judal, sua visão parcialmente bloqueada pela vertigem.

Judal apenas ouviu o barulho de algo cair com muita força nas folhas secas. Seguia correndo quando olhou para trás. Os olhos rubros arregalaram ao ver Hakuryuu no chão.

— HAKURYUU!

Voltou o caminho tão desesperado que não se importava se havia alguém mais os seguindo.

Oe, Hakuryuu! - ele se agachou para sacudir de leve o rapaz. - O que ac...

Sentiu os dedos serem manchados pelo líquido rubro.

Não, não, não! - ele repetia mentalmente ao virar o rapaz que estava de bruços e capturá-lo em seus braços. Seu mundo parou ao perceber os ferimentos no braço e no peito do rapaz.

— Meu Deus… Hakuryuu! Oe!

Os olhos de azuis desiguais se abriram lentamente. Dava para notar o quanto ele estava lutando para se manter consciente. Mas se teve algo que ele fez sem o menor esforço foi abrir um sorriso sincero para Judal. Esse que encarava apreensivo o jovem que parecia tão… em paz.

— Judal… - a voz enfraquecida chamou num sussurro.

— Fique quietinho! - Judal tentava, com a mão livre, caçar o celular. Será que havia ficado na jaqueta que deixara no galpão? - Vou chamar uma ambulância! Fique tranqui…

— Judal. - ele o interrompeu. - Muito obrigado…

— Tsc, do que está falando?

Tentando não encará-lo, Judal queria ter a certeza de que talvez aquilo fosse um sonho. Não queria de forma alguma ver Hakuryuu naquele estado.

— Você… fez minha vida valer a pena… de alguma forma…

— Pa-pare de falar como se fosse morrer, seu idiota! - ele já não conseguia esconder as lágrimas. - Mas que merda! Cadê o celular?!

— Eu sempre me questionei porque… porque não morri naquele incêndio para viver… sofrendo tanto… - Hakuryuu sussurrava. - E agora eu sei que… valeu a pena… Me perdoe por não ter tempo para… te retribuir...

Por mais que o escutasse, Judal tentava ignorá-lo. Do que ele estava falando? Não. Não iria perdê-lo. De forma alguma permitiria que aquilo acontecesse!

Foi quando mexeu nos bolsos do sobretudo de Hakuryuu e encontrou o celular dele.

— Judal… - ele chamou.

— Eu estou ligando para a emergência, fique tranquilo! Eu juro que… que vai ficar tudo bem, ok? Já está tudo bem!  

Não. Ele sabia que não estava nada bem. Os braços de Judal, que sustentavam as costas do jovem, estavam encharcadas de sangue. Estava tão trêmulo que mal conseguia digitar algo no celular quando sentiu a mão de Hakuryuu tocar seu rosto.

— Obrigada por gostar de mim…

Judal engoliu a seco, rubros e safiras se encarando. Mal conseguia enxergá-lo devido às lágrimas. Não, ele não queria se despedir de Hakuryuu. Não agora. Na verdade… nunca. Foi quando aqueles dedos trêmulos deslizaram por seu rosto e ele foi privado daquela beleza única do par de azuis.

— HAKURYUU!


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Notas finais do capítulo

[1] Scarosso - É uma marca italiana de calçados masculinos de luxo que são feitos a mão.

Imaginam se eu terminasse a fic aí? Não, não me batam! Hahaha! Enfim, será que adivinham quem era a mocinha que ajudou juhaku?



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